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AÇÕES
hoje
1. P R I N C Í P I O G E R A L D A A C I O N A B I L I D A D E DAS P R E T E N S Õ E S . - É
princípio fundamental do direito privado que a tôda pretensão correspon-
da ação que a assegure (cf. Código Civil, art. 75: "A todo direito corres-
ponde uma ação que o assegura"). Onde há pretensão há, se ocorre óbice,
a ação respectiva ( O . F I S C H E R , Recht und Rechtsschutz, 6 5 s.; P . E L T Z B A -
C H E R , Die Unterlassungsklage, 8 1 ; O . G E I B , Rechtsschutzbegehren und
Anspruchsbestãtigung, 29). De modo que as espécies ou os casos, em
que isso não se dá, são excepcionais; e podemos, com tôda a exatidão,
falar de direitos mutilados ou pretensões mutiladas. A mutilação pode
ser na exigibilidade extrajudicial, ou na exigibilidade judicial (não se
falando aqui no que não interessa ao direito material: no corte do rito
sumário, por exemplo), ou em tôda a exigibilidade. Temos caso de corte
de parte da exigibilidade extrajudicial no pactum de non compensando. E
corte de tôda a exigibilidade judicial qualquer um que atinja a ação tôda.
Discutiu-se se podem ser amputadas a exigibilidade por ação e a exigi-
bilidade fora da ação. Naturalmente, tal pretensão não é mais pretensão.
O que se amputou, mutilando-se o direito, foi a própria pretensão. Para
que reste algo de pretensão, é preciso que, de todos os seus elementos
constitutivos, pelo menos u m não haja sido eliminado. Sempre que a
pretensão só se pode exercer em ação, há pretensão sem exigibilidade
extrajudicial e há ação (judicial). Pode dar-se que ela não tenha aquela e
a ação ainda não tenha nascido; então a pretensão existe: é pretensão sem
exigibilidade extrajudicial e de exigibilidade judicial futura. A exigibili-
dade potencial basta ao conceito de pretensão.
Porém há um ponto que ainda merece referência. A exigibilidade atra-
vés de órgãos do Estado ou de corpo que tutele o direito (e. g., juízo arbi-
trai, obrigatório ou não) não se limita à justiça. Quando se fala de aciona-
bilidade e de exigibilidade judicial como sinônimos, parte-se do quodple-
rumque fit. Sòmente com essa advertência é possível usar-se a sinonímia.
Os órgãos estatais não-judiciais e os corpos não-estatais (se o monopólio
estatal da tutela jurídica o permite) apresentam espécies de exigibilidade
que não é a auto-satisfativa. Também ocorre, por vêzes, que a pretensão
perde apenas essa via (administrativa, arbitrai, insertiva no orçamento) e
conserva a ação perante a justiça. Essa é, portanto, espécie (ou uma das
direções) da ação e leva à "ação" processual.
Não se pode excluir, ainda nos casos que não são de ações de presta-
ção (ações condenatórias), a pretensão do autor; nem mesmo, quando não
é êle que tem a ação, se poderia eliminar a pretensão, que aí se separa da
"acionabilidade" processual, por ser de outra pessoa. Inclusive nos casos
de ação declaratória e de ações constitutivas positivas ou negativas (O.
G E I B , Rechtsschutzbegehren und Anspruchsbestãtigung, 1 1 s.).
4. P R E T E N S Ã O S E M A Ç Ã O E F A L S A A B L A Ç Ã O D A A Ç Ã O . - A preten-
são sem ação é pretensão que não pode ser forçadamente executada,
embora exeqüível por outros meios que o direito admita: a pretensão a
executar está à base da "ação executiva", porém essa não a enche tôda.
Há ações acionáveis, porém não acionáveis executivamente (e. g., a
ação de restabelecimento da vida conjugai, a ação de locação de servi-
ços contra o locador).
(a) Pretendeu-se que a pretensão a que outrem não faça seria despro-
vida de ação. As obligationes in nonfaciendo não corresponderiam ação
de abstenção. A ciência pôs fora essas dúvidas e a existência de ações
como as do Código de Processo Civil, arts. 302, XII, 998, 999 e 1.007, é
significativa.
Também não é desprovida dê ação a pretensão, à qual ainda não nas-
ceu a ação; ainda que o nascimento da ação dependa de fato não-humano,
e não de fato humano, ou dependa de denúncia (a denúncia é exercício de
pretensão; sem razão, M. L E S S E R , Der Inhalt der Leistungspflicht, 73; com
razão, H A N S R E I C H E L , Unklagbare Ansprüche, Jherings Jahrbücher. 5 9 ,
419), não é ser desprovida de ação a pretensão a que ainda não surgiu a
ação de condenação.
(b) Pretendeu-se também que as obligationes naturales fossem cor-
relatas dos direitos obrigacionais sem ação: seriam pretensões pagáveis,
porém não acionáveis. A equivalência é falsa; tanto mais quanto as pre-
tensões inacionáveis quase sempre podem ser declaradas: são "pretensões
- (ação - ação de declaração)". A tentativa de explicar as pretensões sem
ação pela obligatio naturalis já de início é condenável, porque ainda hoje
(e provavelmente sempre) não há acordo entre os romanistas sôbre a teoria
romana das obrigações naturais; e a razão está em que o direito romano
não teve a teoria. O que A. D. W E B E R , em 1784, escrevera, no prefácio da
sua obra sôbre "a evolução sistemática da teoria da obrigação natural e
de sua eficácia judicial", ainda perdura na ciência: a teoria, qualquer que
se
ja, falha. Ainda se lhe inserimos a distinção de H. A. S C H W A N E R T entre
°bligatio naturalis e naturale debitum. Explicar o fácil pelo difícil seria
desaconselhado; se não há conceito unitário de obrigação natural, todo
esforço de explicação seria e é inútil. A literatura inteira, que se avolumou
em séculos, não chegou a solução; nem podia.
(c) Utilizando-se os conceitos de dívida (Schuld) e de responsabili-
dade (Haftung), tentou-se explicar o direito sem ação como dívida sem
responsabilidade (Schuld ohne Haftung). Ora, o têrmo Haftung é susce-
tível de mais de um sentido, quantitativamente; de modo que, para al-
guns juristas, nessa dívida sem ação ainda estaria responsabilidade (= ser
exigível a dívida, por ação ou sem ela): e haveria responsabilidade na
dívida compensável (e. g., E. DÜMCHEN, Schuld und Haftung, Jherings
Jahrbücher, 5 4 , 4 0 6 ; C. VON SCHWERIN, Schuld und Haftung, 15). Com
o conceito de responsabilidade, dar-se-ia o mesmo que com o conceito de
obrigação natural: explicar-se-ia o que é unidade pelo que é suscetível de
mais de um sentido.
§ 622. A - Legislação
O art. 75 do CC/1916 não tem correspondente no Código Civil de 2002. Já o
art. 502 do CC/1916 corresponde atualmente ao art. 1.210 do CC/2002.
§ 623. p r e c i s õ e s s ô b r e o c o n c e i t o d e a ç ã o • 565
§ 623. P R E C I S Õ E S S Ô B R E O C O N C E I T O D E A Ç Ã O
3. " A Ç Ã O " SEM HAVER PRETENSÃO. - Pode ser que a "ação" seja o
único elemento que se refira ao direito; e os casos, que não são raros, pro-
vam, por si sós, que a "ação" pode existir sem a pretensão (ou sem o resto
da pretensão). Tal o que ocorre com os direitos formativos, ou sejam Ge-
radores, ou modificadores, ou extintivos, se exercíveis por "ação" (aliter
se apenas há pretensão ou se há direito e pretensão à constituição positiva
modificativa, ou negativa). Quanto às ações declarativas positivas, há pre-
tensão à declaração, e há ação; quanto às declarativas negativas, a reação
do autor à afirmação do réu apresenta-se como pretensão e ação e já antes
o estudamos. A ação de arresto e outras medidas de segurança, em casos de
direitos futuros ou incertos e outros semelhantes, são ligadas a pretensões
de segurança.
§ 623. B - Doutrina
A ação material é parte do próprio conteúdo da relação jurídica que se formou
com a incidência da norma; não se confunde com a pretensão à tutela jurídica.
Cumpre aqui transcrever lição de Pontes de Miranda sobre o tema: "Direito sub-
§ 623. p r e c i s õ e s s ô b r e o c o n c e i t o d e a ç ã o • 567
§ 624. A - Legislação !
A correspondência dos principais artigos do Código Civil revogado que foram !
citados no texto, em relação ao Código Civil de 2002 é a seguinte: o art. 251 do j
CC/1916 corresponde aos arts. 1.570 e 1.651 do CC/2002; os arts. 246 a 248 |
do CC/1916 correspondem aos arts. 1.642 e 1.643 do CC/2002; os arts. 308 e i
309 do CC/1916 não têm correspondente no Código Civil de 2002, em face da j
revogação do regime dotal de bens.
§ 624. C - Jurisprudência !
"Mandado de injunção. Natureza jurídica. Exegese. Mandado de injunção. Na-
tureza. Conforme disposto no inc. LXXI do art. 5.° da CF/1988, conceder-se-á
mandado de injunção quando necessário ao exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania. Há ação mandamental e não simplesmente declaratória de omissão. j
A carga de declaração não é objeto da impetração, mas premissa da ordem a i
ser formalizada. Mandado de injunção. Decisão. Balizas. Tratando-se de processo ;
subjetivo, a decisão possui eficácia considerada a relação jurídica nele revelada.
Aposentadoria. Trabalho em condições especiais. Prejuízo à saúde do servidor. ^
Inexistência de lei complementar. Art. 40, § 4.°, da CF/1988. Inexistente a disci-
plina específica da aposentadoria especial do servidor, impõe-se a adoção, via I
pronunciamento judicial, daquela própria aos trabalhadores em geral - art. 57, §
1.°, da Lei 8.213/1991" (STF, RMS 721/DF, Pleno, j. 30.08.2007, rei. Min. Marco
Aurélio, DJe 30.11.2007)
§ 625. C - Jurisprudência
"Previdenciário. Ação concessória de benefício. Processo civil. Condições da
ação. Interesse de agir (arts. 3.° e 267, VI, do CPC). Prévio requerimento admi-
nistrativo. Necessidade, em regra. 1. Trata-se, na origem, de ação, cujo objeti-
vo é a concessão de benefício previdenciário, na qual o segurado postulou sua
pretensão diretamente no Poder Judiciário, sem requerer administrativamente o
objeto da ação. 2. A presente controvérsia soluciona-se na via infraconstitucional,
pois não s e trata de análise do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5.°,
XXXV, da CF). Precedentes do STF. 3. O interesse de agir ou processual confi- j
gura-se com a existência do binômio necessidade-utilidade da pretensão sub-
metida ao Juiz. A necessidade da prestação jurisdicional exige a demonstração I
de resistência por parte do devedor da obrigação, já que o Poder Judiciário é via !
destinada à resolução de conflitos. 4. Em regra, não se materializa a resistência |
do INSS à pretensão de concessão de benefício previdenciário não requerido j
previamente na esfera administrativa. 5. O interesse processual do segurado e a j
utilidade da prestação jurisdicional concretizam-se nas hipóteses de a) recusa de I
recebimento do requerimento ou b) negativa de concessão do benefício previden- |
ciário, seja pelo concreto indeferimento do pedido, seja pela notória resistência j
da autarquia à tese jurídica esposada. 6. A aplicação dos critérios acima deve !
observar a prescindibilidade do exaurimento da via administrativa para ingresso
com ação previdenciária, conforme Súmulas 89 do STJ e 213/ex-TFR. 7. Recurso
Especial não provido" (STJ, REsp 1,310.042/PR, 2. a T., j. 15.05.2012, rei. Min.
Herman Benjamin, DJe 28.05.2012)
"Processual civil. Recurso especial. Contrato de abertura de crédito em conta-
-corrente. Cabimento da ação de prestação de contas (Súmula 259). Interesse
de agir. (...) 1. O titular de conta-corrente bancária tem interesse processual para
exigir contas do banco (Súmula 259). Isso porque a abertura de conta-corrente
tem por pressuposto a entrega de recursos do correntista ao banco (depósito
inicial e eventual abertura de limite de crédito), seguindo-se relação duradoura de
sucessivos créditos e débitos. Por meio da prestação de contas, o banco deverá
demonstrar os créditos (depósitos em favor do correntista) e os débitos efetivados
em s u a conta-corrente (cheques pagos, débitos de contas, tarifas e encargos,
s a q u e s etc.) ao longo da relação contratual, para que, ao final, se apure se o
saldo da conta corrente é positivo ou negativo, vale dizer, se o correntista tem
crédito ou, ao contrário, s e está em débito. 2. A entrega de extratos periódicos aos
correntistas não implica, por si só, falta de interesse de agir para o ajuizamento
de prestação de contas, uma vez que podem não ser suficientes para o esclare-
cimento de todos os lançamentos efetuados na conta-corrente. (...)" (STJ, REsp
1.150.089/PR, 4. a T.,j. 16.10.2012, rei. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 23.10.2012).
"Ação de prestação de contas. Contrato de mútuo ou financiamento. Interesse
de agir. Processual civil. Agravo regimental em recurso especial. Ação de pres-
tação de contas. Contrato de mútuo ou financiamento. Interesse de agir. Art. 557
do CPC. Acórdão recorrido em contradição com entendimento do STJ. Aplicação.
Possibilidade. 1. 'O STJ pacificou o entendimento de que, nos contratos de em-
préstimo, o interesse de agir do mutuário decorre da necessidade de obter escla-
recimentos a respeito da evolução do débito, da certificação quanto à correção
dos valores lançados e da apuração de eventual crédito a seu favor' (AgRg em
í REsp 1.188.402/PR, 4. a T., rei. Min. João Otávio de Noronha, DJe 03.05.2011). 2.
Encontrando respaldo na uníssona jurisprudência do STJ, deve ser confirmada a
decisão agravada que, ao modificar o aresto hostilizado em relação a esse tema, I
foi proferida com esteio no art. 557 do CPG. 3. Agravo regimental a que se nega !
provimento" (STJ, AgRg em REsp 1.170.717, 4. a T„ j. 19.06.2012, rei. Min. Raul j
Araújo, DJe 29.06.2012).
§ 626. C O N C O R R Ê N C I A D E A Ç Õ E S
* *
Até aqui a eficácia jurídica foi objeto do nosso estudo como eficácia
em si-mesma, em relação ao tempo, no tocante a determinações inexas e
anexas e quanto aos direitos, pretensões e ações. O Tomo V não foi alem
disso. O Tomo VI versará o problema das exceções, o problema dos direi-
tos mutilados, o problema do exercício dos direitos, das pretensões, das
ações e das exceções; finalmente, o da prescrição e o da extinção dos direi-
tos e mais efeitos dos fatos jurídicos.
Teremos, após isso. uMmaáo o uaio sisie~iánco e prático ce tôda a
p£ite Geral do Direito Privado. pocenco ver-se. ao longo ca exposição, a
coe altura chegaram, ãnavés das. suas fontes portuguesas amigas íromano-
-seiinãmcas} e da lécnica tíos seus juristas dos séculos XIX e XX. a_ cons-
ciência iurfdíc2 e a inteireza. lógica do pensamento brasileiro.
P a n o r a m a atuaf p s l o s A t u a l i z a c o r s s
§ 627. A - Legislação
As referências ao C G C ! Ç C C S Processo Civf: ce 1935 =r>cc:rr=.:IES an : 2 . - Ç O cc
tsco {arís.302, 304 a 305 co CPC/1S3S) atis:—en:£ cc.TsspGr.csn ao cjspcsco
nos arís. 451 e 4S1-A oo CPC de-.973.