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Marcelo José Ferlin D'Ambroso

DIREITOS HUMANOS E
DIREITO DO TRABALHO
Uma Conexão para a Dignidade

Educacional
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

DIREITOS HUMANOS E
DIREITO DO TRABALHO:
Uma Conexão para a Dignidade

Belo Horizonte
2019
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D’Ambroso, Marcelo José Ferlin.


D156d Direitos humanos e direito do trabalho : uma conexão para a
dignidade. – Belo Horizonte: RTM, 2019.
132 p.

1. Direitos humanos 2. Direito do Trabalho I. Título

CDU(1976) 342.7+331

ISBN: 978-85-9471-093-2
Belo Horizonte
Ficha catalográfica elaborada - 2019 Juliana Moreira Pinto – CRB 6/1178
pela bibliotecária
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Rosemary de Oliveira Pires
Rúbia Zanotelli de Alvarenga
Valdete Souto Severo
Vitor Salino de Moura Eça
BIOGRAFIA

Marcelo José Ferlin D’Ambroso é Desembargador no


Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região em Porto Alegre,
Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, atuando desde 2013. Foi
Procurador do Trabalho (Ministério Público do Trabalho - Bra-
sil) por quatorze anos (1998-2013), quando atuou nos Estados de
Rondônia, Acre e Santa Catarina. No Ministério Público, exerceu
as funções de Coordenador da Escola Superior do Ministério Pú-
blico da União (ESMPU), na Procuradoria Regional do Traba-
lho da 14ª Região (Rondônia, Acre, 2000-2002) e da 12ª Região
(Santa Catarina, 2006-2010). Com graduação em Direito pela
Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil, 1995), Mestrado
em Direito Penal Econômico (Universidad Internacional de La
Rioja - Espanha) e Mestrado em Questões Contemporâneas de
Direitos Humanos na Universidad Pablo de Olavide (Espanha),
estudou no curso de preparação à Magistratura na Escola Supe-
rior da Magistratura do Estado de Santa Catarina (1996), possuir
várias especializações no âmbito jurídico, em Direitos Humanos
(também pela Universidad Pablo de Olavide - Espanha), Rela-
ções Laborais (OIT, Università di Bologna, Itália, e Universidad
Castilla-La Mancha, Espanha), e Jurisdição Social (Consejo Ge-
neral del Poder Judicial de España, Aula Iberoamericana). É
doutorando em Ciências Jurídicas na UMSA - Universidad del
Museo Social Argentino (Buenos Aires) e doutorando em Estu-
dos Avançados em Direitos Humanos na Universidad Carlos III
de Madrid (Espanha). É autor de diversos artigos científicos pu-
blicados em obras jurídicas, autor do livro “La imputación pe-
nal objetiva en los delitos de siniestralidad laboral” e coautor
de diversos livros jurídicos, sendo o mais recente “Democracia e
neoliberalismo: o legado da Constituição de 1988 em tempos de
crise”. É membro-fundador e primeiro Presidente do IPEATRA -
Instituto de Pesquisas e Estudos Avançados da Magistratura e do
Ministério Público do Trabalho (Brasil), seguindo como atual Di-
retor Legislativo. É Vice-presidente de Finanças da União Ibero
-americana de Juízes (UIJ). Membro da Associação Juízes para a
Democracia (AJD, Brasil). É membro do Conselho Consultivo da
Escola Judicial do TRT4 e Presidente do Conselho Deliberativo
da FEMARGS - Fundação Escola da Magistratura do Rio Grande
do Sul. Coordenador do Grupo de Estudos de Filosofia do Direito
da Escola Judicial (TRT4). Professor convidado de Direito Cole-
tivo do Trabalho e Sindicalismo, Direito e Processo do Trabalho
nos cursos de pós graduação da UNISC - Universidade de Santa
Cruz do Sul (Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil), UCS
- Universidade de Caxias do Sul (Caxias do Sul, Rio Grande do
Sul, Brasil), UNISINOS - Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil), FEEVALE - Federa-
ção de Estabelecimentos de Ensino Superior (Novo Hamburgo,
Rio Grande do Sul, Brasil) e FEMARGS – Fundação Escola Su-
perior da Magistratura do Trabalho do Rio Grande do Sul.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO....................................................................7

PRÓLOGO...............................................................................13
María José Fariñas Dulce

PRÓLOGO ..............................................................................17
Edileny Tomé da Mata

I. INTRODUÇÃO....................................................................27

II. TEORIA CRÍTICA DOS DIREITOS HUMANOS.........35


II.1. As gerações de direitos humanos: breve cronologia.........36
II.2. Direito ao desenvolvimento: a ideologia do
subdesenvolvimento...................................................................44
II.3. Globalização, capitalismo, desenvolvimento e Direitos
Humanos....................................................................................54
II.4. Em busca da teoria crítica.................................................61

III. DIREITOS HUMANOS E DIREITO DO TRABALHO.... 75


III.1. Visão contratualista do Direito do Trabalho....................83
III.2. O anticontratualismo de Alain Supiot...............................86
III.3. Visão humanista do Direito do Trabalho: visibilidade,
efetividade e dignidade..............................................................91
IV. CONCLUSÃO....................................................................95

V – Bibliografia..............................................................105
V.1 Referentes...........................................................................105
V.2 Bibliografia geral de consulta............................................127
V.3 Fontes................................................................................128
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

APRESENTAÇÃO

“Já não é a crueldade da vida, nem o terror de


uma vida contra outra, mas um despotismo post-
-mortem, o déspota devindo ânus e vampiro: ‘O
capital é trabalho morto que, de maneira seme-
lhante ao vampiro, só se anima ao sugar o tra-
balho vivo, e sua vida é tanto mais alegre quanto
mais trabalho vivo ele sorve’”.
(O Anti-Édipo - Gilles Deleuze; Félix Guattari1).

Nesta caminhada de luta pelos direitos sociais, alegra encon-


trar pessoas Amigas, como Dr. Edileny Tomé da Mata, orientador
deste trabalho, e Dra. María José Faríñas Dulce, minha orientadora
de Doutorado, prefaciadores desta obra, que animam aprofundar os
estudos em busca de uma sociedade mais justa, enquanto ativamen-
te labutam nesse sentido, compartilhando seu conhecimento.
Assim, acompanhado destes Mestres e Amigos, Edileny e Ma-
ría, é com muita alegria que publicamos este livro que corresponde à
tese do curso de Mestrado em Questões Contemporâneas em Direitos
Humanos da Universidad Pablo de Olavide (Sevilha, Espanha), no
qual obteve nota máxima e qualificação sobresaliente (excelente).
Fruto de um trabalho de pesquisa de dois anos, que come-
çou ainda antes do curso, o tema de fundo, seu objetivo, é buscar

1
  DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-Édipo (capitalismo e esqui-
zofrenia 1). Trad. De Luiz B. L. Orlandi, São Paulo: Editora 34, 2010, p. 303.

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

a efetividade dos direitos sociais e a preservação da dignidade


das pessoas nas relações de trabalho. Num mundo cada vez mais
precarizado, de intensa e contínua acumulação de capital e acen-
tuação de desigualdade social, com milhares de pessoas lança-
das diariamente aos bolsões de miséria e de fome, não é possí-
vel continuar aplicando o Direito em manutenção desse sistema
excludente. Algo deve mudar e a correção sistêmica passa pela
percepção e compreensão das rupturas para recriar a aplicação
do Direito. Para tanto, se propõe uma perspectiva de abertura das
normas trabalhistas para a referência humana, ou seja, a supera-
ção da visão contratualista iuspositivista e dogmática na interpre-
tação e aplicação do Direito do Trabalho, para a visibilização dos
direitos laborais como Direitos Humanos que são.
Uma proposta simples mas de efeitos gigantescos: através
do uso da Teoria Crítica dos Direitos Humanos como ponto de
partida para o enfrentamento à globalização, capitalismo e neoli-
beralismo que assolam as democracias mundo afora, assediando a
classe trabalhadora e os direitos sociais, se busca demonstrar que
a redução hegemônica do “contrato de trabalho” nada mais é do
que um artifício utilizado para invisibilizar os Direitos Humanos
do Trabalho e o processo de lutas sociais na sua conquista.
A verdade é que, no aprendizado jurídico, desde a Universi-
dade até a prática processual trabalhista, seguimos conformando
o Direito do Trabalho a uma espécie de Direito das Obrigações
- as obrigações do empregador e as obrigações da pessoa que tra-
balha -, até chegar na mais completa naturalização do chamado

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

“contrato de trabalho”, individual ou coletivo, que absolutamen-


te dessensibiliza para as questões sociais por trás do conflito, ou
seja, além do descumprimento das normas, e do processo históri-
co de lutas para a conquista de direitos que nunca são efetivados
como deveriam para alcançar às pessoas que trabalham, no míni-
mo, condições de uma vida digna e decente.
Ora, a desigualdade entre as partes, a assimetria de poder nas
relações de trabalho jamais será equilibrada no “contrato”, seja ele
individual ou coletivo, e a palavra dada como argumento de quem
detém o poder econômico para empenho do “cumprimento” do
“contrato”, é a máscara, o verniz de “legitimidade” para a impo-
sição da vontade do “contratante”, que prende a pessoa trabalha-
dora e captura seu corpo, sua força de trabalho, para a produção,
renovando a vassalagem do feudalismo como bem lembra Supiot.
Esta perversão da legitimidade, expressa na forma jurídica de um
contrato, a serviço do capital, ainda assim não é o bastante para o
poder econômico: ao cúmulo do absurdo, além da imposição de
vontade e da submissão do outro (trabalhador), nessa relação assi-
métrica quem sempre descumpre o “contrato” é o empregador. Ou
seja, o trabalhador perde a sua personalidade (se considerarmos o
conjunto de Direitos Humanos da dignidade, os direitos sociais,
como estruturantes do sujeito) e ainda sofre a violência do “des-
cumprimento contratual” que, nada mais é do que o desrespeito
aos direitos estruturantes de suas condições de vida em sociedade.
E, neste ponto, quando retiradas as condições de vida do trabalha-
dor em sociedade, quando duplamente violentado (pela venda da

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

força de trabalho e pela sonegação dos mínimos direitos devidos


dessa operação), e já despojado de recursos necessários para so-
breviver sem apelar ao furto, opera o Estado neoliberal repressor,
encarcerando mais e mais as pessoas pobres, como se percebe da
realidade brasileira, hoje o 3º país no mundo que mais encarcera
(atrás apenas de Estados Unidos e China). Antonio Negri e Mi-
chael Hardt, resumem a desmistificação da troca de trabalho por

salário e a aparição do trabalhador “endividado”2:


Outrora, havia uma massa de trabalhadores assa-
lariados; hoje, há uma multidão de trabalhadores
precarizados. Os primeiros eram explorados pelo
capital, mas a exploração era mascarada pelo mito
de uma troca livre e igual entre os proprietários
dos bens. Os segundos continuam a ser explora-
dos, mas a imagem dominante de sua relação com
o capital configura-se não mais como uma relação
igual de troca, e sim como uma relação hierárquica
entre devedor e credor. De acordo com o mito mer-
cantil da produção capitalista, o dono do capital en-
contra o dono da força de trabalho no mercado, e os
dois fazem uma troca justa e livre: eu lhe dou meu
trabalho e você me dá um salário. Era o Éden, Karl
Marx escreve com ironia, da “liberdade, igualdade,
propriedade e Bentham”. Não temos necessidade
de lembrar de quão falsas e mistificadoras são es-
sas supostas liberdade e igualdade.

Portanto, o contratualismo também traduz uma perversão da


alteridade, a invisibilidade do contratado como sujeito de Direitos
2
  Negri, Antonio; HARDT, Michael. Declaração: isto não é um manifesto.
2ª.ed., São Paulo: N-1 Edições, 2016, p. 23-4.

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

Humanos de primeira grandeza, que usa a sua força de trabalho


para produzir bens e riquezas para a humanidade, como se nessa
relação apenas o contratante empregador fosse sujeito útil e ne-
cessário para a sociedade, na tradicional fórmula de geração de
empregos e renda e pagamento de impostos. Porém, há de chegar o
tempo em que o trabalho seja o valor maior a ser prestigiado e não
o capital, pois, na realidade, o capital sem o trabalho nada produz
além do ócio de quem o possui às custas da exploração alheia (o
vampirismo descrito por Deleuze e Guattari no Anti-Édipo).
Nestes termos, a conexão com os Direitos Humanos é apre-
sentada como instrumento para o reequilíbrio das relações entre
capital e trabalho, indispensável para preservação da dignidade
humana na interpretação e aplicação do Direito do Trabalho e,
especialmente, superação do contratualismo.
O lançamento deste livro coincide com o centenário da fun-
dação da Organização Internacional do Trabalho, merecendo des-
taque o tema ora proposto, pois, se na Declaração de Filadélfia
a OIT pontuou, em 1944, que o trabalho não é uma mercadoria,
agora é necessário dizer que o trabalho é um Direito Humano e
não um “contrato”. Direitos sociais são Direitos Humanos e não
direitos das obrigações.
Boa leitura !
Porto Alegre, outono de 2019.

Marcelo J. Ferlin D’Ambroso

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

PRÓLOGO
María José Fariñas Dulce

Em Direitos Humanos e Direito de Trabalho: Una conexão


para a dignidade, o Desembargador e ex Procurador do Trabalho,
Marcelo José Ferlin D’Ambroso, aborda, desde a perspectiva da
teoria crítica do direito e dos direitos humanos, um dos temas
mais profundos do Estado democrático de Direito que se refere
ao processo de conquista do trabalho como um direito humano. O
trabalho como categoria política, quer dizer, como direito huma-
no fundamental que serve, por sua vez, para garantir as reivindi-
cações sociais e econômicas dos trabalhadores no acesso aos bens
materiais e imateriais.
O autor demarca o reconhecimento do trabalho como di-
reito humano na tradição da luta pela emancipação social e pela
dignidade humana, desligando-se das tradições positivistas e for-
malistas do Direito. Além das importantes aportações teóricas e
doutrinais, este é um livro para o debate, mas também um convite
à ação. Posto que D’Ambroso não contempla o trabalho só desde
a perspectiva iuspositivista de um contrato, senão que o analisa
como um direito fundamental. Este fundamento lhe serve também
para denunciar a hegemonia do capital sobre o trabalho e desmas-
carar suas estruturas de dominação. O autor põe de manifesto as
aporias do sistema capitalista, seus antagonismos internos, suas
lutas, suas estruturas de poder frente ao trabalho humano e seus

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

relatos hegemônicos. D’Ambroso reflete, desta maneira, seu forte


compromisso intelectual, junto com sua luta pessoal e constante
por uma sociedade mais justa.
Se trata de um livro oportuno - que coincide com o cen-
tenário da criação da OIT - em um contexto mundial, no qual o
trabalho está perdendo a centralidade que até agora havia tido
na estruturação das sociedades modernas, enquanto mecanismo
de integração social. Muitas das conquistas históricas obtidas em
torno do trabalho e dos direitos de emancipação social a ele as-
sociados estão se perdendo no começo do século XXI. Passaram
vários anos em que o capitalismo transitou desde a produção à
financeirização da economia, do capitalismo produtivo ao capi-
talismo da especulação, do capitalismo regulado ao capitalismo
desregulado, sem controle.
O equilíbrio societário da Modernidade alcançado entre o
capital e o trabalho (a propriedade privada e o trabalho como di-
reitos fundamentais), ou entre a economia e a sociedade, ou in-
clusive entre a democracia e o capitalismo, está se rompendo pela
força compulsiva de um capitalismo neoliberal que gera cada vez
mais desigualdades e assimetrias e que encontra cada vez menos
controles normativos em sua expansão global. Creio que vive-
mos tempos de trabalho precário e desregulação de direitos, de
trânsito do cidadão ao cliente, da radicalização do individualismo
possessivo até o isolamento mais ansiógeno do individualismo da
despossessão, de conversão do público em negócio, da volta às

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

políticas assistencialistas de “pobres” em detrimento dos direitos


universais, da ruptura da solidariedade social substituída agora
pela caridade privada e tempos, enfim, de xeque mate à democra-
cia e a seus vínculos da integração social. Não deveríamos olvidar
que, quando se perdem direitos, se vê afetada a correta estrutura-
ção democrática da sociedade. Muito especialmente, quando é o
trabalho o que se desregula e vai perdendo sua categoria de direito
em favor do capital, é a democracia a que perde um de seus ve-
tores mais importantes da integração social. E sem integração ou
vinculação social, não é possível a democracia, porque - como
assinalou Castoriadis - a democracia é a participação de todos.
Uma mirada crítica, diversa, desconstrutiva e emancipado-
ra é a que nos propõe Marcelo D’Ambroso, precisamente num
momento no qual estamos assistindo em muitos países ocidentais
a graves retrocessos do Estado democrático de Direito e a uma
alarmante regressão dos direitos sociais vinculados ao trabalho. O
Estado de Direito está sendo cooptado por uma contrarrevolução:
a do neoliberalismo econômico e do neoconservadorismo político
autoritário, em que predomina o exercício do poder sem a política,
prima o interesse privado sobre o interesse geral e está se instalan-
do a opulência do privado sobre a pobreza do público.
Este é um livro necessário para seguir aprofundando nas
questões essenciais e fundacionais da luta pelos direitos, entendida
esta como uma luta pela dignidade e a autonomia do ser humano,
assim como uma luta contra qualquer tipo de dominação ou de

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

opressão. Que se abra o telão, pois, e que o leitor interatue com


esta mirada lúcida de um consolidado profissional do direito e de
um infatigável lutador pelos direitos humanos, como tem sido e o
é meu colega e amigo Marcelo D’Ambroso.

Majadahonda (Madrid), 1 de abril de 2019.



María José Fariñas Dulce
Catedrática Acreditada de Filosofia do Direito
Universidad Carlos III de Madrid
Investigadora do Instituto de Estudios de Género de la Uni-
versidad Carlos III de Madrid
Investigadora do Instituto Joaquín Herrera Flores/Brasil
Investigadora do Instituto de Derechos Humanos “Bartolo-
mé de las Casas”

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

PRÓLOGO
Edileny Tomé da Mata

Quando Marcelo encomendou-me a escrita do prólogo do


seu livro, mal pude conter a alegria e a emoção ante a responsa-
bilidade de estar à altura de escrever as primeiras páginas do seu
magnífico trabalho e o fato de ter sido escolhido dentre várias
companheiras e companheiros de luta no seu processo profissio-
nal, acadêmico e pessoal.
A conexão com a obra de Marcelo iniciou no âmbito de um
programa que serve de antessala para o debate sobre a teoria crí-
tica dos Direitos Humanos, desde a chamada Escuela de Sevilla,
uma escola que mesmo sendo mais modesta e ainda em processo
de construção - e que não se pode comparar a de Frankfurt ou a de
Budapeste - foi criada por um discípulo desta última.
O mestrado em Cuestiones Contemporáneas en Derechos
Humanos, um Título Próprio da Universidad Pablo de Olavide,
criado pelo mestre Joaquín Herrera Flores e que me aproximou
de Marcelo, tem por objetivos, dentre outros: a aquisição de co-
nhecimentos avançados e especializados sobre Direitos Humanos,
Interculturalidade e Desenvolvimento desde o viés de uma teoria
crítica dos Direitos Humanos; o fomento nas competências de pes-
quisa crítica e desenvolvimento de atitudes e aptidões profissionais
e sociais críticos, além da capacidade de formar o próprio critério
sobre a realidade contemporânea.

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

Nesta ótica, sabemos, todas e todos, que o funcionamento


do sistema capitalista neoliberal se assenta na exploração dos in-
teresses e força de trabalho de alguns que garantem os benefícios
de outros. Contemplamos como norma natural aquela premissa
do Smith e Ricardo da vantagem comparativa, assim como o con-
ceito linear do desenvolvimento cultural, pessoal e profissional e,
assim, justificamos situações de exploração, desigualdade e discri-
minação que acontecem ao nosso ao redor.
Nesse contexto, considero que, hoje em dia, precisamos de-
senvolver um viés crítico e a formação de critérios próprios tanto
pessoal como profissional, pois vivemos numa época repleta de
informações onde a biopolítica e a necropolítica tomam conta de
nós. Assim, devemos ser capazes de construir e consolidar âmbi-
tos de pensamento críticos e próprios que nos permitam analisar a
realidade social, política, econômica e cultural sem sucumbir ante
o imaginário e a opinião pública majoritária e conservadora. Essa
construção do pensamento crítico pessoal e profissional deve ser
capaz de superar igualmente o conceito do âmbito jurídico como
único e supremo sistema de garantias de direito, ou como dizia o
mestre Herrera, sem cair na falácia jurídica (2008). E para que isso
aconteça, impõe-se a superação da suposta neutralidade do âmbito
jurídico e daqueles e daquelas que interpretam as normas de acordo
com os aspectos político, cultural, classista, de gênero e racial da
sociedade onde vivemos e convivemos. Tudo isso passa, pois, pela
superação dos convencionalismos e tradicionalismos das nossas
práticas cotidianas pessoais e profissionais e pela crítica à legitimi-

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

dade que se confere às decisões e sentenças jurídicas que possam


ser injustas, desiguais e discriminatórias.
A obra de Marcelo cumpre com essa pretensão de superação
de um conceito arraigado na nossa doutrina, o contratualismo social
e jurídico, ao propor a revisão do conceito contratualista no âmbito
trabalhista - que se supõe igualitária a priori, e pela consideração do
Direito do Trabalho como um Direito Humano que tenha em conta a
dignidade humana material dos agentes que intervêm neste processo.
Por dignidade humana material entendemos contemplar o desenvol-
vimento da aptidão e atitude dos participantes em iguais condições
e sem hierarquizações a priori. Por isso a visão acadêmica e profis-
sional do Marcelo, que se alinha à crítica produzida pela Escuela
de Sevilla, trata de abordar uma transformação social, ou seja, não
se restringe à crítica à realidade social, política e econômica no âm-
bito do capitalismo neoliberal, mas também propõe uma revisão do
conceito do contrato trabalhista e a concepção do direito do trabalho
como Direitos Humanos (Baylos, 2015; Trillo, 2014; Castelli, 2012).
Marcelo, ao criticar o conceito contratualista rousseauniano
em diálogo com o âmbito trabalhista, percebe de modo diferente
o conceito dos Direitos Humanos, isto é, partir de uma crítica ao
direito positivista e jusnaturalista, enxergando-os como processo
de luta pela aquisição de bens materiais e imateriais que viabilizem
a dignidade humana material.
Espero que a leitura de mais uma valiosa obra do Marce-
lo seja tão prazerosa quanto a oportunidade que eu tive de tê-lo

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

orientado durante o processo do Máster em Cuestiones Contem-


poráneas en Derechos Humanos e que possamos consolidar es-
paços de luta materiais que permitam que a vida seja digna de ser
vivida por todas e todos.

Sevilha, 1º de abril de 2019.

Edileny Tomé da Mata


Doctor CUM LAUDE com menção européia pela Universi-
dad Pablo de Olavide, Sevilha, Espanha.
Docente e pesquisador na Universidad Pablo de Olavide,
Sevilha, Espanha.
Experto e consultor em Migrações, Transculturalidade e
Direitos Humanos.

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

Agradecimento:

Ao querido Professor Doutor Edileny Tomé da Mata,


por suas maravilhosas aulas e orientações para a conclusão
deste trabalho.
Muito obrigado !

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

Los esclavos de la sociedad industrial desarrollada son esclavos


sublimados, pero son esclavos, porque la esclavitud está
determinada no por la obediencia, ni por la rudeza de las tareas,
sino por el status de instrumento y la reducción del hombre al
estado de cosa. (2018, p. 68-9).

Herbert Marcuse3

3
  Marcuse (2018, p. 68-9).

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

ABREVIATURAS

DH Direito Humano.
DDHH Direitos Humanos.
DESC Direitos econômicos, sociais e culturais.
EUA Estados Unidos da América.
FMI Fundo Monetário Internacional.
FSM Fórum Social Mundial.
OMC Organização Mundial do Comércio.
OMPI Organização Mundial da Propriedade Industrial.
OIT Organização Internacional do Trabalho.
ONU Organización de las Naciones Unidas.
PIDCP Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
(ONU, 1966).
PI- Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais
DESC e Culturais (ONU, 1966).
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

I. INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho é de fundamental importância para a


concretude e efetividade dos direitos sociais.

A Teoria Crítica dos Direitos Humanos, que busca a con-


cretude dos direitos humanos, é um referencial básico na matéria,
vale dizer, a perspectiva de interpretação e aplicação do Direito do
Trabalho a partir dos Direitos Humanos (doravante DDHH) e não
do direito das obrigações contratuais implica mudança significativa
para o modo de entender e aplicar o Direito Laboral, com vistas à
dignidade das pessoas que trabalham.

Significa propor a reinterpretação e aplicação do Direito do


Trabalho conforme os direitos humanos, ou seja, a partir da visi-
bilização dos direitos trabalhistas como Direitos Humanos.

Assumir uma posição humanística e libertária, de viés


orientado por direitos universalmente consagrados, permite ao
intérprete pautar-se pela dignidade da pessoa e pelo valor social
do trabalho como elementos fundantes da análise das relações de
trabalho.

Assim, a libertação da visão contratual das relações de tra-


balho, que orienta, atualmente, a aplicação dos direitos sociais,
permite alcançar maior equilíbrio nas relações entre capital e tra-

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Marcelo José Ferlin D’Ambroso

balho, prestigiando o valor humano sobre o vínculo estabelecido


entre quem presta serviços e quem os remunera.

Por outro lado, a visão humanística e libertária, além de crí-


tica, propicia mecanismo de enfrentamento aos males da globaliza-
ção e à precarização dos trabalhadores, reequilibrando as relações
entre capital e trabalho para preservação da dignidade da pessoa e
do valor social do trabalho como referentes máximos da sociedade.

Neste sentido, a pesquisa proposta busca acoplar a teoria crítica


dos direitos humanos ao Direito do Trabalho, em busca da superação
do contratualismo trabalhista, ou seja, abandono da visão do trabalho
humano como campo de direito de obrigações e da coisificação do
trabalhador pretendida pelo neoliberalismo, que insiste no livre uso
e descarte das pessoas.

Do ponto de vista criminológico, está assentado que as de-


sigualdades econômicas aumentam a criminalidade violenta e, se
não existe uma proteção estatal suficiente, constituem um fator de
risco que pode potencializá-la.

Ora, a promessa capitalista de igualdade de oportunidades


em um sistema democrático e em uma economia de mercado se
choca com as escassas possibilidades reais da grande maioria das
pessoas de obter acesso à sociedade de consumo ou de melhorar
sua posição social (mobilidade social cada vez menor). A falta de
oportunidades de formação, a desigualdade na repartição de bens

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Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

e rendas e a própria inacessibilidade ao mercado de capitais, são


exemplos de violência sistêmica às pessoas, lançadas numa socie-
dade de contraste extremo entre a riqueza das elites e a situação
deficitária vivenciada pela maioria da população, alijada das possi-
bilidades que o sistema oferece a pouquíssimos indivíduos.

A lógica econômica e a racionalidade da economia que


penetram a vida contemporânea impondo o critério econômico
como único para avaliação das coisas, são produtoras de amplas
sequelas sociais, que partem da desvalia da educação (inutilida-
de do conhecimento não prático), mobilidade e precarização do
trabalho, até desaguar no aumento da criminalidade, marginali-
zação, pobreza e violência. A falta de políticas de assistência so-
cial e educação públicas adequadas somente agravam o problema
que, quando desagua no Judiciário, costuma ser analisado sob
viés contratualista e não humanista.

Há necessidade de compensação das desigualdades sociais e


econômicas pelo Estado, sendo de suma importância o cumprimento
deste papel pelas suas instituições, havendo indispensável necessi-
dade de compreender os Direitos do Trabalho como Direitos Huma-
nos que são, como forma de equilibrar as assimetrias de poder na
sociedade provocadas pela globalização e pelo capitalismo, espe-
cialmente pela nova faceta do capitalismo corporativo denominada
neoliberalismo, que acentua a precarização e a desigualdade.

31
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

Destarte, a construção de um mundo diferente, que se paute


em comportamentos inclusivos, tolerantes e de acolhimento de
todas as pessoas nas suas mais variadas diversidades, impõe mu-
dança na forma como o Estado, seus agentes, bem assim os cida-
dãos e cidadãs e a própria sociedade civil organizada enxergam a
dinâmica de pauta, elaboração e prestação de serviços públicos.

Por outro lado, partindo de uma história recente, com o mo-


vimento codificador do início do Século XIX se pretendeu limitar
o poder despótico dos soberanos e pautar as decisões dos juízes
pela lei positiva, como forma de garantia dos direitos fundamen-
tais das pessoas, mas certo é que, na era pós grandes guerras, os
limites iuspositivistas dogmáticos já não mais atendem à dinâ-
mica de mutação social, especialmente na área de Direitos Hu-
manos, na qual mais se fazem sentir os efeitos da globalização e
de sucessivas e cíclicas crises econômicas mundiais geradas pelo
regime capitalista. Portanto, vale dizer, a dogmática tradicional
não responde minimamente às demandas contemporâneas de de-
senvolvimento social.

Herrera Flores (2007, p. 18-29) propõe a questão: de que


falamos quando falamos de Direitos Humanos, dizendo que a dete-
rioração do meio ambiente, as injustiças propiciadas por um comér-
cio e por um consumo indiscriminado e desigual, a continuidade de
uma cultura de violência e guerras, a realidade das relações trans-

32
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

culturais e as deficiências em matérias de saúde e de convivência


individual e social, nos obrigam a pensar e, por conseguinte, a en-
sinar os direitos desde uma perspectiva nova, integradora, crítica e
contextualizada em práticas sociais emancipadoras.

Ademais, a falta de educação do povo global, a deficiência


dos mecanismos internacionais de proteção dos Direitos Huma-
nos e a inexistência de um Tribunal Penal internacional dotado
de jurisdição planetária e irrestrita, dentre outros fatores, também
geram o alijamento de grande parte da população mundial do
exercício dos mesmos e, por conseguinte, da dignidade humana.

O recente processo de formação dos Direitos Humanos,


ainda permeado pela influência de países ricos, especialmente na
ONU, impede a implementação de um modelo global de desenvol-
vimento sustentável, capaz de reduzir os níveis excessivos de con-
sumo, evitar o neocolonialismo e reduzir as desigualdades sociais.

A saída para escapar do círculo vicioso imposto no sistema


atual reside na reconstrução teórica dos Direitos Humanos e do
próprio conceito de paz, como propõe Muñoz (2004, p. 444-470),
pois, a partir da visão realista e holística do mundo, admitindo-se
as imperfeições humanas e de nossas criações, e estudando exem-
plos concretos, é possível a busca de alternativas para o advento
de um futuro diferente das deficiências do presente. Nesta recons-
trução teórica dos Direitos Humanos se pretende a releitura do

33
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

Direito do Trabalho, por conter os chamados DDHH de segunda


geração, os direitos sociais.

Fato é que nenhuma teoria política e jurídica sobre o Estado


e seu papel fará sentido se não tiver como cerne, como destinatá-
rio da organização social, o próprio ser humano, concebido na sua
individualidade, na sociabilidade e na projeção de sua personali-
dade junto ao grupo e diante do ente político gestor na qualidade
de sujeito de direitos universalmente reconhecidos e que devem
ser concretizados e defendidos.

Como diz Herrera Flores (2004, p. 68) nem a justiça, nem


a dignidade e nem os Direitos Humanos procedem de essências
imutáveis ou metafísicas que fiquem além da ação humana para
construir espaços de desenvolvimento das lutas pela dignidade.

Observadas novas necessidades, novos tempos e falhas no


sistema jurídico contemporâneo que comprometem a concretude
e eficácia dos Direitos Humanos, sobretudo dos direitos trabalhis-
tas, em severo ataque do neoliberalismo, se faz urgente uma nova
visão de libertação dogmática e centrada numa leitura holística da
dignidade humana, que contemple, prioritariamente, a efetivação
concreta de todos os DDHH, mas com um destaque especial aos
direitos sociais, que contemplam a possibilidade material de rea-
lização de uma vida digna.

34
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

Assim, para ocorrer a libertação da dogmática tradicional


do Direito do Trabalho se necessita da ótica crítica dos Direitos
Humanos, ligada à história da conformação atual dos DDHH, à
política, à democracia, ao processo mundial de desenvolvimento, à
globalização, ao capitalismo.

35
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

36
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

II. TEORIA CRÍTICA


DOS DIREITOS HUMANOS

A mera positivação dos Direitos Humanos não tem sido ca-


paz de garantir o seu pleno gozo e efetividade por todas as pesso-
as, especialmente pela ótica juspositivista dogmática.

Trazendo uma crítica à Declaração Universal de Direitos


Humanos de 1948, Herrera Flores (2007, p. 18-29) lembra que
a mesma estabelece os Direitos Humanos como um “ideal a con-
seguir”, enquanto a situação real do ser humano de ter direitos é
bem diferente de poder exercê-los. Segue trabalhando a proble-
mática em três planos: no primeiro, estabelece que DDHH são
processos ou práticas sociais dirigidas à obtenção de bens mate-
riais e imateriais no processo de humanização; no segundo, que
lutamos por DDHH porque necessitamos de condições materiais
que permitam obter os bens necessários à existência; e no tercei-
ro, que os objetivos das lutas e dinâmicas sociais em matéria de
Direitos Humanos devem ser vistos pelo acesso e distribuição ge-
ral e justa da dignidade humana. Conclui dizendo que o conteúdo
básico dos DDHH não é o direito a ter direitos, mas o conjunto
de lutas pela dignidade e que um Direito Humano fundamental
se constitui nos meios e condições necessárias para pôr em prá-
tica os processos de luta pela dignidade humana. Ainda, que a

37
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

dignidade humana é a obtenção igualitária de bens materiais e


imateriais que se vão conseguindo no constante processo de hu-
manização do ser humano.

Deste modo, a marcha de processos de luta pela dignidade hu-


mana pressupõe uma conquista de direitos e não sua “outorga mila-
grosa”, muito menos dissociada das tramas sociais e culturais que
naturalmente se estabelecem pela natureza gregária do ser humano.
Não seriam diferentes os processos de luta por dignidade no trabalho.

Necessário, pois, estabelecer a classificação dos direitos hu-


manos, suas características, abordar o desenvolvimento e a sus-
tentabilidade, a globalização e os problemas atuais, para alcançar
a compreensão de uma teoria crítica apta a estruturar a releitura
do Direito do Trabalho.

II.1. As gerações de direitos humanos: breve cronologia

Direitos Humanos são direitos especiais e inerentes a esta con-


dição humana e dos quais todas as pessoas são titulares. Todavia,
além disso, já se pensa em DDHH em acepção mais abrangente, con-
templando os direitos dos animais, dos seres vivos, enfim, da vida em
todas as suas formas.

Não se trata de direitos consolidados de forma pacífica, na


verdade, seu reconhecimento e afirmação é fruto de um processo

38
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

de lutas contra as injustiças sociais e as desigualdades que vêm se


desenvolvendo ao longo da história da humanidade.

Karel Vasak, ex-Diretor da Divisão de Direitos Humanos e


Paz da UNESCO é o criador do tema das gerações de Direitos Hu-
manos, introduzindo o conceito em 1979, durante sua conferência
para o Instituto Internacional de Direitos Humanos, em Estrasbur-
go1, com inspiração no ideário da Revolução Francesa - liberdade,
igualdade e fraternidade, identificando as gerações de direitos par-
tindo dos individuais (liberdade) aos solidários (fraternidade).

Assim, inicialmente, em contraposição ao despotismo, ao


feudalismo, se afirmam os direitos civis e políticos como marco
de respeito às liberdades individuais (revoluções liberais, Decla-
ração dos Direitos da Inglaterra, de 1689; Declaração da Inde-
pendência dos Estados Unidos, de 1776; Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa, de 1789). Cor-
respondem ao direito à vida, à liberdade, intimidade, integridade
física e psíquica, à honra, à crença, expressão, segurança, de votar
e ser votado etc. A este primeiro grupo de Direitos Humanos se
convencionou chamar de primeira geração, cuja nota caracterís-
tica é individualista, ou seja, o respeito da pessoa por todas as
demais e pelos Estados. São direitos vinculados à liberdade cujo
1
  Apud ÁLVAREZ, Roberto González. Aproximaciones a los Derechos Hu-
manos de Cuarta Generación, Perú: SOPECJ. Disponível en: https://www.ten-
dencias21.net/derecho/attachment/113651/. Acesso em jan. 2018.

39
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

bem jurídico tutelado se destina à paz universal e impõe ao Esta-


do o dever de respeito e proteção.

A segunda geração de Direitos Humanos se vincula à igual-


dade (Revolução Industrial), contemplando os direitos econômicos,
sociais e culturais, tais como o direito ao trabalho, a uma remune-
ração justa, à educação, à saúde, à qualidade de vida, à seguridade
social, habitação, proteção da família, infância e juventude etc., di-
reitos de ordem coletiva cujo bem jurídico tutelado é o desenvolvi-
mento, impondo ao Estado medidas concretas para sua efetivação.

Na terceira geração, o fundamento é a solidariedade, em rela-


ção aos direitos à autodeterminação dos povos, ao desenvolvimento,
à paz, à identidade cultural, à independência econômica e política,
ao meio ambiente, à cooperação internacional, à justiça social inter-
nacional etc., os chamados direitos dos povos ou de solidariedade,
tendo por bens jurídicos protegidos o meio ambiente, o desenvolvi-
mento e a paz, podendo ser demandados dos Estados e entre Estados.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948,


pós Segunda Guerra, marcará, sem dúvida, o resgate dos Direitos
Humanos depois do processo de ruptura dos conflitos armados
mundiais, como um processo de aceleração, implementação e de-
senvolvimento dos DDHH. As características de universalidade
e indivisibilidade dos DDHH estão contempladas no documento.

40
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (doravante


PIDCP) e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais (doravante PIDESC) de 1966 são os referentes da busca de
efetividade da segunda geração de Direitos Humanos, pois neles se
afirma que não há direitos civis e políticos sem direitos sociais.

A década de 1970 é a do nascimento da terceira geração de


Direitos Humanos, correspondentes aos direitos de solidariedade,
incluindo direitos relativos ao desenvolvimento, meio ambiente e
paz. A partir de então, uma sequência de eventos internacionais im-
portantes consagra a dimensão e a importância dos DDHH no mun-
do contemporâneo, como a Declaração sobre o Direito Humano ao
Desenvolvimento (ONU, 1986); Conferência Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992); Conferência
de Viena (1993); criação da Corte Penal Internacional (2002).

O destaque na Conferência Mundial sobre Meio Ambiente


e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, em 1992, na evolução do
pensamento sobre os Direitos Humanos, é a inclusão do meio am-
biente e desenvolvimento, o estabelecimento da interdependência
entre paz, desenvolvimento e meio ambiente, e, ainda, uma mu-
dança na filosofia dos DDHH, com o reconhecimento da sua fina-
lidade no desenvolvimento e desfrute pela pessoa. Assentam-se,
também, os princípios consuetudinários do Direito Internacional
relativos à cooperação, solidariedade e precaução; e destaca-se a

41
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

importância dos grupos sociais mais desfavorecidos (mulheres,


crianças, minorias, povos indígenas e imigrantes).

Na Conferência Mundial sobre Direitos Humanos de Viena


do ano seguinte (1993), produz-se a Declaração de Direitos Huma-
nos de Viena, cujo art. 5º consagra que “todos os Direitos Huma-
nos são universais, interdependentes e inter-relacionados. A comu-
nidade internacional deve tratar os Direitos Humanos globalmente
de forma justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma
ênfase”2. Afirma-se de modo unânime pelos Estados participantes
as características dos DDHH de indivisibilidade, universalidade e
interdependência, bem assim a necessidade de considerá-los como
finalidade de trabalho dos Estados. Denunciam-se os defeitos do
sistema internacional, em especial a politização dos DDHH, de-
monstrada nos conflitos internacionais selecionados para atuação
ou não, na imposição de sanções, e o controle dos Estados Uni-
dos da América (doravante EUA) sobre a Organização das Nações
Unidas (doravante ONU) – a hegemonia estadunidense.

Todavia, a partir dos atentados de 11.09.2001 ocorre uma


regressão nos Direitos Humanos, com uma cruzada contra o ter-

2
  Disponível em: https://www.oas.org/dil/port/1993%20Declara%-
C3%A7%C3%A3o%20e%20Programa%20de%20Ac%C3%A7%-
C3%A3o%20adoptado%20pela%20Confer%C3%AAncia%20Mundial%20
de%20Viena%20sobre%20Direitos%20Humanos%20em%20junho%20
de%201993.pdf. Acesso em nov. 2018.

42
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

rorismo e o mundo islâmico, reafirmando-se os EUA num pa-


pel bastante questionável relativo à justiça internacional. Ade-
mais, consagra-se o princípio de segurança em sobreposição aos
DDHH, ocasionando, por conseguinte, limitações à liberdade e à
presunção de inocência, detenções e juízos arbitrais, a relegação
de Direitos Humanos a interesses políticos, etc.

A aparição dos movimentos antiglobalização, como o Fó-


rum Social Mundial de Porto Alegre3 (Brasil), a partir de 2001,
3
  De acordo com sua Carta de Princípios, o Fórum Social Mundial é um espaço
aberto de encontro para pensamentos de reflexão, debate democrático de ideias,
formulação de propostas, livre intercâmbio de experiências e interconexão para
ação efetiva, por grupos e movimentos da sociedade civil organizada que se opõe
ao neoliberalismo e à dominação do mundo pelo capital e qualquer forma de im-
perialismo, comprometidas em construir uma sociedade planetária orientada para
relacionamentos frutíferos entre a Humanidade e entre ela e a Terra. (disponível
em https://fsm2016.org/en/sinformer/a-propos-du-forum-social-mondial/. Acesso
em fev. 2018). Em 2005 se produz a Carta, Manifesto ou Consenso de Porto Ale-
gre, com doze propostas de antítese ao programa neoliberal, constituindo resumo
dos principais temas debatidos na edição 2005 do FSM, assinado por 19 ativistas,
a saber: Aminata Traoré, Adolfo Pérez Esquivel, Eduardo Galeano, José Sarama-
go, François Houtart, Boaventura de Sousa Santos, Armand Mattelart, Roberto
Savio, Riccardo Petrella, Ignacio Ramonet, Bernard Cassen, Samir Amin, Ati-
lio Boron, Samuel Ruiz Garcia, Tariq Ali, Frei Betto, Emir Sader, Walden Bello,
Immanuel Wallerstein. O documento propõe cancelamento das dívidas dos Países
do sul (especialmente América Latina e África), adoção de uma taxa internacional
sobre grandes transações financeiras (combate à especulação internacional), fim
de paraísos fiscais, direito universal ao emprego, proteção social e aposentadoria,
promoção da economia solidária e rejeição da economia de livre mercado, com
prevalência dos DESC sobre direitos comerciais, garantia da soberania alimentar
para todos os Países, abolição de patentes sobre conhecimento e bens essenciais,

43
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

em oposição ao Fórum Econômico Mundial (Davos – Suíça), es-


tratégias de justiça social e o aporte de novos sistemas de equi-
líbrio econômico mundial começam a definir novos contornos
contemporâneos para a visão de Direitos Humanos.

A partir desta resumida cronologia dos direitos humanos, se


pode constatar a estreita relação entre os DDHH assentados nas
diversas gerações4, e a interdependência entre eles, demonstrando
que a classificação tem apenas finalidade didático-histórica e não
quanto à sua importância ou eficácia, pois são todos importantes
e igualmente demandantes de implementação efetiva.
implementação de políticas públicas de combate ao racismo, à discriminação,
sexismo, xenofobia, intolerância religiosa etc., medidas de combate à destruição
ambiental e ao efeito estufa, desfazimento de tropas estrangeiras à exceção das
comandadas pela ONU, garantia do direito de informação e desconcentração de
poder dos detentores da grande mídia, reforma e democratização de organizações
internacionais incluindo a mudança da sede da ONU de Nova York para o Sul.
Muitos criticam a Carta de Porto Alegre como documento não consensual, pois
é uma seleção dentre diversas outras propostas e produzido em espaço fora do
local do Fórum, mas traduz, sem dúvida, uma síntese de postulados da luta pela
afirmação dos DDHH contrapostos ao sistema hegemônico capitalista neoliberal.
Mais detalhes das edições do FSM, que em 2018 se realiza em Salvador – Bahia
(Brasil), podem ser encontradas no site http://forumsocialportoalegre.org.br/fo-
rum-social-mundial/. Acesso em out. 2018.
4
  Há autores que sustentam ainda quarta, quinta gerações de direitos huma-
nos, destacando direitos, no entanto, que se podem enquadrar na terceira. De
qualquer sorte, tratando-se de classificação temática e já se tendo referido que o
conteúdo dos diversos direitos não é programático, não há sentido em seguir am-
pliando essa divisão, mormente em face das características de interdependência
e complementariedade entre eles.

44
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

A história das duas últimas décadas mostra avanços signifi-


cativos, como um maior pluralismo na ONU com questionamento
das doutrinas e princípios filosóficos dos Direitos Humanos, a cen-
tralidade da pessoa como sujeito de Direitos Humanos, por sua vez
vistas como medidas aptas à transformação social, a universalidade
da justiça em matéria de DDHH e a preocupação com a violência
e a pobreza mundiais. Por outra quadra, há, também, retrocessos
concernentes à politização dos DDHH, preponderância do princí-
pio da segurança devido ao terrorismo, novas barreiras migratórias
que deixam à mercê povos afetados por catástrofes naturais ou ví-
timas de conflitos armados, ou, mais propriamente vinculado ao
Direito do Trabalho, constituição de territórios de super exploração
do capital financeiro, impunidade nas violações de DDHH e repú-
dio aos direitos de segunda geração por países mais fortes.

O desenvolvimento do pensamento relativo aos Direitos Hu-


manos impulsiona, pois, a busca de novas ideias e mecanismos de
sua afirmação e efetividade, e superação dos retrocessos recentes.
Sobretudo, em tempos de recrudescimento das democracias pelo
domínio dos Estados pelo capital transnacional, cabe destacar o
Direito do Trabalho como categoria pertencente aos Direitos Hu-
manos, reinserindo-o neste processo de lutas como instrumento de
superação da opressão do poder econômico.

45
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

II.2. Direito ao desenvolvimento: a ideologia do


subdesenvolvimento

O direito ao desenvolvimento é um direito de recente apa-


rição, tendo surgido sua primeira definição e caracterização do
jurista senegalês Keba M’Baye, em 19725.

Este direito fecha um ciclo no processo de evolução dos Di-


reitos Humanos iniciado com a Revolução Francesa, pois, como
visto, podemos fazer a correspondência proposta por Karel Vasak
no tripé “liberdade, igualdade e fraternidade”, encontrando os direi-
tos de primeira geração (civis e políticos), correspondentes à liber-
dade; os direitos de segunda geração, correspondentes à igualdade
(econômicos, sociais e culturais); e, recentemente, a partir da déca-
da de 70, os direitos de terceira geração, relacionados à fraternidade
(ou solidariedade nos tempos atuais), nos quais se insere o direito
ao desenvolvimento como síntese de todos os demais.

Sucessivos documentos trataram do direito ao desenvolvi-


mento, sendo que o principal foi proclamado em dezembro de
1986, na Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento da ONU
(Resolução 41/128 da Assembléia Geral6), cujos três primeiros
5
  Etiene Keba M’Baye, durante a conferência inaugural do Curso de Direitos
Humanos do Instituto Internacional de Direitos do Homem de Estrasburgo, na
França, mencionou o direito ao desenvolvimento pela primeira vez em 1972.
6
  Disponível em: http://www.un.org/documents/ga/res/41/a41r128.htm.
Acesso em nov. 2018.

46
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

artigos mencionam o direito ao desenvolvimento como um Di-


reito Humano inalienável que faculta a todos os seres humanos e
todos os povos o direito de participar, de contribuir e de gozar do
desenvolvimento econômico, social, cultural e político, no qual
todos os Direitos Humanos e liberdades fundamentais se possam
plenamente realizar. Ainda, que o Direito Humano ao desenvol-
vimento implica também a plena realização do direito dos povos
à autodeterminação, o qual inclui, sem prejuízo das disposições
pertinentes de ambos os Pactos Internacionais sobre Direitos Hu-
manos, o exercício do seu direito inalienável à plena soberania
sobre todas as suas riquezas e recursos naturais, sendo a pessoa
humana o sujeito central do desenvolvimento, que deve participar
ativamente e se beneficiar do direito ao desenvolvimento7.

E é com a Declaração do Rio, na Conferência das Nações


Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, que
se estreita a relação do direito ao desenvolvimento com o direito
ao meio ambiente8.

7
  Portanto, já com este documento de dezembro de 1986 é possível extrair o
enfoque de direitos humanos, tendo a pessoa por sujeito de direito, foco central
do desenvolvimento, com direito de participação ativa.
8
  “Principio 3. O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a
permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvi-
mento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras.” (Disponível em:
www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf. Acesso em fev. 2018.).

47
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

Por sua vez, a Conferência Mundial de Viena9, de 1993,


deu um importante passo no reconhecimento do direito ao desen-
volvimento ao reafirmá-lo como universal e inalienável e como
parte integrante dos direitos humanos fundamentais, tendo a pes-
soa humana como o sujeito central de desenvolvimento, sendo
que a sua falta não pode ser invocada para justificar a limitação
de direitos do homem internacionalmente reconhecidos. O docu-
mento estabelece que os Estados deverão cooperar entre si para
assegurar o desenvolvimento e eliminar os entraves que lhe se-
jam colocados, cabendo à comunidade internacional promover
uma cooperação internacional efetiva com vista à efetivação do
direito ao desenvolvimento e à eliminação de entraves, reconhe-
cendo que o progresso duradouro no cumprimento do direito ao
desenvolvimento requer políticas de desenvolvimento efetivas a
nível nacional, bem como relações econômicas equitativas e um
ambiente econômico favorável a nível internacional.

Sem embargo, o pós Segunda Guerra Mundial é um período


marcado por um neocolonialismo, com hegemonia de certos países
que influenciam politicamente decisões da ONU10, com interferên-
9
  Disponível em: https://www.ohchr.org/EN/ProfessionalInterest/Pages/
Vienna.aspx. Acesso em fev. 2018.
10
  Neste sentido, vale a observação de que a menção à “ajuda humanitária”
contida no discurso de posse de Truman (Four Point Speech), de 20 de janeiro
de 1949, foi simplesmente um argumento para legitimar a política expansionista
americana do contexto pós 2ª Guerra, nitidamente declarada naquele documen-

48
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

cia seletiva nas violações de Direitos Humanos que ocorrem no pla-


neta, e múltiplas formas de implementação, bastante dissimuladas
através de um sistema que pretende resguardar e garantir Direitos
Humanos, mas que, ao inverso, permite a intervenção até mesmo
direta de nações em outras chamadas mais “fracas”, legalizando sua
exploração perante a comunidade internacional.

Ocorre que a divisão do mundo proposta pela sociedade das


nações, em função das potencialidades de desenvolvimento de
cada zona de influência, acaba servindo de instrumento de exclu-
são social, atendendo interesses econômicos de nações dominan-
tes. Países com recursos diminuídos permaneceriam eternamente
subdesenvolvidos, alienados do progresso, e dominados por um
sistema de doações de migalhas e constantes intervenções, a pre-
texto de “salvaguarda de Direitos Humanos”, como se vê aconte-

to. A assunção, pela ONU, da ideia de desenvolvimento predominante não é tão


simples, pois a influência das potências dominantes não pode ser confundida
com a efetiva vontade da coletividade de nações que congrega. Inobstante, o
organismo também tem obtido resultados positivos, embora o PNUD revele o
aumento da desigualdade social entre as nações, o abismo social entre os países
“desenvolvidos” e os “não desenvolvidos”, revelando que o sistema atual não
está a serviço da redução da desigualdade social. Ora, se houvesse efetiva preo-
cupação de ajuda às nações menos favorecidas, a fome na África já teria sido,
no mínimo, remediada em parte. O que se vê são misérias doadas a países mais
pobres, sempre com um interesse econômico ou exploratório por trás, que, ain-
da pior, não respeita a diversidade, impondo globalmente um modelo adotado
como “ideal”, que é inatingível pelos “subdesenvolvidos” (em desenvolvimen-
to) no sistema neocolonialista.

49
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

cer em tantas partes do mundo ao longo da história, a demonstrar


que o critério eleito não respeita a diversidade.

Por este norte, subdesenvolvimento não é um estágio prévio


ao desenvolvimento, senão uma consequência do desenvolvimento
desmedido de outras nações e, na verdade, uma armadilha, crença,
ou falsa esperança escudada na ideologia de que todos os países
“subdesenvolvidos” (leia-se “em desenvolvimento”) serão desen-
volvidos um dia. A concepção de “desenvolvimento”, nos moldes
do discurso mundial de crescimento econômico, tecnologia etc.,
não corresponde à realidade, já que uma nação pode ser desenvol-
vida tecnologicamente mas subdesenvolvida em matéria de meio
ambiente, etc. É necessário, primeiramente, definir de forma crítica
o que se entende por “desenvolvimento” para fins de aprimoramen-
to dos Direitos Humanos no mundo globalizado contemporâneo.

Destarte, com a orientação focada em políticas ditadas por


regras de mercado, que permeiam os organismos internacionais,
acaba que as políticas de ajuda externa e a cooperação interna-
cional, no sistema atual, não fazem mais do que acentuar os abis-
mos sociais existentes entre países ricos e países pobres, como
se pode conferir nos sucessivos dados apresentados no PNUD.
Ou, como bem assevera Perales (2002, p. 39-63), o atual sistema
internacional de ajuda e cooperação ao desenvolvimento é um
fiel reflexo de uma sociedade de Estados escassamente integrada

50
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

e regulada, e mais que um “sistema global de bem-estar social”


ou uma “política global de coesão”, é um imperfeito esquema de
beneficência pública no qual os recursos se assinam de forma vo-
luntária e não há obrigações relativas à sua quantia nem critérios
objetivos quanto aos beneficiários.

A crença de que a realidade vá mudar no sistema atual se des-


caracteriza na medida em que não existem perspectivas concretas
de mudança na tendência dos países ricos em aumentarem sua co-
laboração aos menos favorecidos e, mesmo porque, se houvesse tal
incremento, não existem garantias de que não acabaria por retornar
aos cofres originários, dada a atual prática de ajuda condicionada,
mediante a qual presta-se ajuda impondo a compra exclusiva de pro-
dutos, e de forma inversamente proporcional à quantidade doada.

Portanto, o sistema atual parte de conceitos11 impregnados


de ideologia imperialista ou exploratória de nações ricas para, a
partir daí, estabelecer regras na comunidade internacional. Logo,
a melhoria da repartição da riqueza mundial pressupõe profundas
mudanças nas bases que sustentam o sistema atual, conditio sine
11
  Como exemplo, a Real Academia Espanhola, introduzindo o conceito de
“sostenibilidad” no seu dicionário, equivoca-se ao reduzir o conceito de desen-
volvimento sustentável a apenas um de seus aspectos, o econômico: “Especial-
mente en ecología y economía, que se puede mantener durante largo tiempo
sin agotar los recursos o causar grave daño al medio ambiente. Desarrollo,
economía sostenible.” Disponible en: http://dle.rae.es/srv/search?m=30&w=-
sostenible. Acesso em fev. 2018.

51
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

qua non. Nesses termos, a consagração do direito ao desenvolvi-


mento é uma luta atual, que bate de frente com grandes potências,
especialmente EUA, e com as idéias de “globalização”, “livre-
mercado” e demais fundamentos neoliberais.

De modo que o progresso econômico e o acúmulo de capi-


tal, com o consequente aumento do consumo, são ideias que des-
prezam noções básicas de desenvolvimento sustentável, no qual
seja permitido não só a evolução isolada de uma nação, como
também a possibilidade das demais se desenvolverem ou, em ou-
tro contexto, de todas se desenvolverem por igual.

A visão neoliberalista aplicada na cooperação internacional es-


timula a permanência do status quo planetário persistindo as discre-
pâncias sociais extremas, entre riqueza e pobreza. O sistema atual de
ajuda e cooperação internacional está baseado em interesses dos pa-
íses ricos, assim, não é coerente e não está corretamente estruturado,
e o capital privado, por si só, é incapaz de gerar melhor distribuição
de renda entre todos, razão pela qual é imperativa a busca de alter-
nativas que contemplem a mudança do sistema e sua reestruturação
enfocando a dignidade humana para todos os povos.

Sobre o tema, a certeira observação de Meszáros (2016, p.


1074):

A industrialização do ‘Terceiro Mundo’, apesar da


sua óbvia subordinação às exigências e aos inte-

52
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

resses do capital ocidental, alcançou proporções


significativas na configuração global do capital
durante os anos do pós-guerra, especialmente nas
últimas duas décadas.
Com certeza, nunca teve o sentido de satisfazer as
necessidades da população faminta e socialmente
carente dos países envolvidos, mas a de prover es-
coadouros irrestritos para a exportação de capital
e gerar nos primeiros tempos níveis inimagináveis
de superlucro, sob a ideologia da ‘modernização’
e a eliminação do ‘subdesenvolvimento’. Entre-
tanto, devido à magnitude dos recursos humanos
e materiais ativados pelo capital, o impacto geral
de tal desenvolvimento não poderia ter sido outro
do que pura e simplesmente extraordinário, tanto
quanto o da produção total de lucro na referida
estrutura global do capital. Apesar de todo um
discurso unilateral sobre ‘dependência’, para não
mencionar o discurso obscenamente hipócrita da
‘ajuda para o desenvolvimento’, o capital ociden-
tal tornou-se muito mais dependente no ‘Terceiro
Mundo’ – de matérias-primas, energia mercados
de capital e superlucros avidamente repatriados –
do que o contrário.

O discurso da liberdade de mercado, pregado no capitalismo


contemporâneo, acaba comprometendo a possibilidade de desenvolvi-
mento sustentável enquanto permite exploração sem limites, gerando
exclusão social. Logo, o direito ao desenvolvimento sem contrapartida
de políticas públicas adequadas de educação e conscientização dos po-
vos, em matéria de Direitos Humanos, fica comprometido.

53
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

Destarte, para evitar as armadilhas do sistema atual e o neo-


colonialismo histórico que se perpetua no mundo contemporâneo
pela máscara do neoliberalismo – que se destina a reservar os
países periféricos com fontes de recursos naturais e mão-de-obra
barata para as grandes potências, com o papel de, cada vez mais,
reduzir os direitos trabalhistas pela contratualização12-, novos
conceitos de progresso e desenvolvimento devem ser concebidos,
a fim de afastar a ideologia neoliberal neles impregnada. O for-
talecimento cultural e educacional dos povos, especialmente em
matéria de Direitos Humanos, é o primeiro passo para mudar o
sistema e fugir da “crença” no desenvolvimento. Com educação
o povo deixa de ser iludido por falsas promessas e passa a exigir
melhoria de sua condição social. Povo educado é povo conscien-
te, e, nestes termos, apto a buscar o melhor para si e para o am-
biente no qual está inserido.

Dessa forma, dentre outras questões não menos importan-


tes, certo é que, para haver efetivo desenvolvimento, com susten-
tabilidade, é indispensável garantir o acesso universal à educação,
pois, enquanto houver multidão de excluídos do ensino que nem
sequer aprende o alfabeto, permeável está a humanidade à explo-
ração do próximo e aos sistemas de neocolonialismo. Somente o
12
  Nas tendências atuais do neoliberalismo das reformas trabalhistas opera-
das na Grécia, Itália, Espanha, Portugal, Itália e Brasil, prestigiar o contratado
(coletiva ou individualmente) sobre o legislado.

54
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

alcance de um grau de cidadania capaz de revelar ao indivíduo


a exploração a que está submetido bem como conscientizá-lo de
seus direitos pode trazer mudança para o cenário atual. O povo
sem educação, preocupado tão-somente com a sobrevivência é
sempre mais fácil de dominar.

Assim, uma releitura proposta para o desenvolvimento é


sua compreensão como o direito de convivência humana pacífica
e digna, sem exploradores nem explorados, com acesso univer-
sal a todos os direitos definidos como necessários à satisfatória
e digna existência humana, e garantia da liberdade de cada qual
buscar o aprimoramento espiritual e material respeitando a esfera
de atuação do próximo. Para tanto, é necessário buscar pontos
universais de convergência em matéria de desenvolvimento hu-
mano, para que a independência, desenvolvimento e autoafirma-
ção dos povos respeite parâmetros básicos de Direitos Humanos,
evitando-se danos colaterais do desenvolvimento que possam
causar retrocesso em determinados campos, daí a importância da
preservação do meio ambiente equilibrada junto ao progresso da
humanidade, em desenvolvimento sustentável e harmônico com
a natureza e também com os demais DDHH.

Centrar o ser humano numa perspectiva global, como sujeito


de direitos, e trazer a conscientização em torno desses direitos, pode
ser um passo para alcançar um desenvolvimento solidário, o que, no

55
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

plano específico deste estudo, se constrói a partir da visibilização


dos Direitos do Trabalho como Direitos Humanos que são, e não
mais direitos do “contrato de trabalho”, de obrigações, em que uma
das partes (poder econômico) tudo pode exigir pela assimetria de
poder com quem vende sua força de trabalho para sobreviver. Não
se alcança desenvolvimento humano sem progresso social e não há
progresso social se a classe trabalhadora não tiver o trabalho com
o mesmo valor do capital, enquanto houver sistema capitalista no
mundo. O assédio neoliberal do utilitarismo econômico do Direito
que reduz todas as coisas e as pessoas a um conteúdo meramente
econômico não será superado enquanto a doutrina jurídica estiver
sob a influência de teorias como a do contratualismo.

II.3. Globalização, capitalismo, desenvolvimento e Direitos


Humanos

No cenário da política internacional atual de “desenvolvimen-


to”, convivemos com os efeitos nefastos da globalização, potenciali-
zados pela ideologia neoliberal reinante que torna o capitalismo selva-
gem, sem freios, com uma série de consequências que comprometem
o futuro da humanidade.

A globalização é entendida como um processo de integração


econômica, social, cultural e política, acelerado e aprofundado pela
evolução dos meios de transporte, de comunicação e de informática.

56
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

Atualmente, o uso do termo está muito vinculado à faceta econô-


mica, como sinônimo de livre circulação de mercadorias (capital),
restando a contrapartida de livre circulação de pessoas (trabalho) a
grande incógnita a ser superada no establishment da comunidade in-
ternacional. O fenômeno impacta diretamente os Direitos Humanos,
especialmente no que concerne aos direitos sociais.

Neste sentido, uma das consequências nefastas da globali-


zação é a possibilidade de volatização do capital, que se transfere
de uma região para outra do mundo, conforme ditarem os custos
da mão-de-obra, fomentando a exploração desmedida e gerando,
como efeito perverso, a precarização e a miséria. Atualmente, não
há nacionalidade para o capital, o que gera uma nova forma de neo-
colonialismo sem fronteiras (a posse do capital dita as fronteiras do
grupo beneficiado de qualquer parte do planeta), evidenciando no-
vas formas de exploração do outro geradoras de miséria no mundo.
Desta forma, a livre circulação do capital financeiro é um estímulo
para que o sistema se retroalimente, enquanto no plano internacio-
nal não se criem tributos e regras sobre essa circulação e espaços
de redistribuição de recursos para reversão da desigualdade social.

Logo, manter a visão do Direito do Trabalho a partir da ló-


gica de um contrato obrigacional significa permitir que o capital
corporativo (de empresas transnacionais) tenha legitimada a ex-
ploração das pessoas em qualquer recanto do planeta a partir do

57
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

grau de rebaixamento de condições de trabalho. Direitos do Tra-


balho são Direitos Humanos e, por isto, são universais e exigíveis
em qualquer território, qualquer que seja o empregador.

Não bastasse, atualmente a globalização impacta no mode-


lo tradicional de Estado e representa um desafio para as políticas
públicas voltadas ao bem-estar social, pois, como alerta Mesza-
ros (2011: p, 98-9), o capitalismo está assumindo contornos de
poder político manipulador:

Na qualidade de modo específico de controle so-


ciometabólico, o sistema do capital inevitavel-
mente também se articula e consolida como es-
trutura de comando singular. As oportunidades de
vida dos indivíduos sob tal sistema são determi-
nadas segundo o lugar em que os grupos sociais a
que pertençam estejam realmente situados na es-
trutura hierárquica de comando do capital. Além
do mais, dada a modalidade única de seu meta-
bolismo socioeconômico, associada a seu caráter
totalizador – sem paralelo em toda a história, até
nossos dias -, estabelece-se uma correlação ante-
riormente inimaginável entre economia e política.
(...) Mencionemos aqui de passagem apenas que o
Estado moderno imensamente poderoso – e igual-
mente totalizador – se ergue sobre a base deste
metabolismo socioeconômico que a tudo engole,
e o complementa de forma indispensável (e não
apenas servindo-o) em alguns aspectos essenciais.
Portanto, não foi por acaso que o sistema do ca-
pital pós-capitalista de tipo soviético não tenha

58
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

sido capaz de dar sequer um passo infinitesimal


na direção do ‘encolhimento do Estado’ (muito
pelo contrário), embora isto fosse, desde o início
e na verdade por excelentes razões, um dos mais
importantes princípios orientadores e uma das
preocupações práticas essenciais do movimento
socialista marxiano.

No mesmo diapasão, no artigo Globalização e Direitos Hu-


manos: Notas para uma discussão, Faria (1997) relata que a glo-
balização econômica está substituindo a política pelo mercado,
como instância privilegiada de regulação social. A imunidade do
capital financeiro às fiscalizações governamentais, a fragmenta-
ção das atividades produtivas ao longo do mundo e a redução das
sociedades a meros conjuntos de grupos e mercados unidos em
rede esvazia parte dos instrumentos de controle dos atores nacio-
nais. Transnacionalizado o processo decisório, as decisões políti-
cas restam condicionadas por equilíbrios macroeconômicos que
passam a representar um efetivo princípio normativo responsável
pelo estabelecimento de determinados limites às intervenções re-
guladoras e disciplinadoras dos governos. Relativizada, pois, a
autonomia decisória dos governos, com a geração de novas for-
mas de poder autônomas e desterritorializadas, a transnaciona-
lização dos mercados debilitou o caráter essencial da soberania,
colocando em xeque tanto a centralidade quanto a exclusividade
das estruturas jurídico-políticas do Estado-nação, de modo que o

59
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

direito positivo e suas instituições perdem uma parte significativa


de sua jurisdição. Tal ocorre pela concepção da atuação estatal
dentro de limites territoriais precisos, com base nos instrumen-
tos de violência monopolizados pelo Estado, cujo alcance tende
a diminuir na mesma proporção em que as barreiras geográficas
vão sendo superadas pela expansão da microeletrônica, da infor-
mática, das telecomunicações e dos transportes. O autor fala na
aparição de instâncias de justiças emergentes, quer nos espaços
infra estatais (os espaços locais, por exemplo, com figuras de me-
diação, negociação e conciliação, autocomposição de interesses,
auto-resolução de divergências, arbitragens privadas ou mesmo a
imposição da lei do mais forte - crime organizado e narcotráfico)
quer nos espaços supra-estatais (polarização por diversos orga-
nismos multilaterais, como o Banco Mundial, Fundo Monetário
Internacional - doravante FMI-, Organização Mundial do Comér-
cio - doravante OMC-, Banco de Compensações Internacionais,
Organização Mundial da Propriedade Industrial etc., como tam-
bém por conglomerados empresariais, instituições financeiras,
entidades não-governamentais e movimentos representativos de
uma sociedade civil supranacional.

Nessa linha, Toussaint (2012, p. 54-5) alerta que, em 2009,


em plena crise mundial, o Banco Mundial continuou predicando
a eliminação da proteção social dos trabalhadores, ainda que a

60
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

crise tenha produzido enorme incremento do desemprego, sob o


argumento de que os Estados que adotaram regulamentos de em-
prego mais flexíveis experimentaram decréscimo no número de
empresas que trabalham no setor informal. Explica que o Banco
Mundial adota, desde 2003, uma classificação anual dos países
relativas às reformas para melhorar o “clima de negócios”, na
qual quanto mais se facilite na legislação de um país as despe-
didas dos trabalhadores, tanto melhor será sua qualificação, com
objetivo de reforçar ainda mais os direitos dos investidores e da
propriedade privada às expensas dos direitos sociais.

Deleuze (2017, p. 22-3), numa visão crítica do capitalismo


(capitalismo e esquizofrenia), questiona o que falta para que se
realize o encontro entre os fluxos descodificados do capital ou
do dinheiro e os fluxos descodificados, desterritorializados dos
trabalhadores, pois a maneira pela qual o dinheiro se descodifica
para se tornar capital-dinheiro e a maneira pela qual o trabalhador
é arrancado da terra para se tornar proprietário só de sua força de
trabalho são dois processos completamente independentes um do
outro e que deveriam se encontrar.

Neste compasso, o discurso ambíguo dos direitos sociais,


como v.g., na Constituição Europeia13 em contraposição ao regra-

13
  Em especial o Título IV – Solidariedade. Disponível em: https://eur-lex.eu-
ropa.eu/legal-content/PT/ALL/?uri=OJ:C:2004:310:TOC. Acesso em nov. 2018.

61
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

mento concreto de economia e segurança, bem assim a impossibi-


lidade de acesso a um emprego não precário, no mundo moderno,
mostram a dura realidade do trabalhador. Se o discurso dos direitos
sociais prega o direito a um salário digno, ao lazer, ao transporte, à
assistência social, à paternidade, à maternidade, à seguridade social,
etc., na outra ponta é certo que a forma positivada destes direitos
e sua interpretação orientada por uma visão contratual entre o que
concede emprego e o que presta serviços, não tem sido, por si só,
capaz de garantir a todos uma ocupação digna e não precarizada.

Discorrendo sobre a proteção e garantia dos Direitos Humanos


em âmbitos internacionais, López (2004, p. 50-78), bem demonstra a
complexidade dos seus mecanismos atuais de proteção, praticamente
inacessíveis aos mortais cidadãos planetários (a menos que possuam
formação em Direitos Humanos), e, em nosso sentir, absolutamente
insuficientes para prevenir e coibir violações, especialmente num
mundo globalizado (como no exemplo citado de empresas transna-
cionais que migram livremente suas fábricas e instalações de um
país a outro conforme ditarem os custos da mão-de-obra, cada vez
mais precarizando e deteriorando os direitos sociais).

Urge, pois, a busca de um pensamento diferente do estabele-


cido, apto a construir uma plataforma de concretização da dignida-
de humana para todos os povos e, também, de um instrumento que
permita a efetividade dos Direitos Humanos no mundo globalizado.

62
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

Ora, se, por um lado, os Direitos Humanos localizados no


campo etéreo da internacionalização e do nível supralegal dos
Estados parece de difícil alcance, por outro, o Direito do Traba-
lho, no campo da normatização estatal, é bem mais palpável, de
modo que visibilizar os direitos trabalhistas (todos) como Direi-
tos Humanos que são, permite a releitura das normas jurídicas
sociais positivadas sob a ótica humanista, trazendo, por um lado,
os DDHH para a efetividade e concretude dos ordenamentos ju-
rídicos e, por outro, dando ao Direito do Trabalho a dimensão de
bem jurídico de primeira grandeza, não contratual, e objeto de
total atenção dos Estados com centralização nas pessoas trabalha-
doras (e não no trabalho como coisa ou mercadoria à disposição
de contratação).

II.4. Em busca da teoria crítica

Na contextualização dos direitos humanos em uma perspec-


tiva histórico-evolutiva e crítica do sistema contemporâneo, per-
cebe-se, na história recente pós-Declaração Universal de 1948,
em suas diversas etapas (Tratados e Convenções, institucionali-
zação, busca da despolitização, prevalência do princípio da segu-
rança, teoria crítica), a existência, dentre muitos outros, de dois
grandes problemas estruturais: o primeiro, pertinente à efetivida-
de e exercício dos Direitos Humanos; o segundo, quanto à prática

63
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

internacional de DDHH, dissociada do conteúdo dos documentos


internacionais e que se revela, até o momento, incapaz de conter
o aumento da desigualdade social planetária.

Esta análise se fulcra, basicamente, na visão realista mun-


dial e na crítica perceptiva do sistema contemporâneo, pois, como
bem aponta Herrera Flores (2007), quase 80% da humanidade
está excluída dos benefícios da globalização.

Assim evidenciados os Direitos Humanos no panorama atu-


al, cabe a sua abordagem por uma teoria crítica, que seja capaz de
superar os problemas detectados.

Na estruturação e busca de uma teoria crítica, o assunto é


vasto porque pode ser abordado por diversos pontos de vista e
concepções filosóficas de Direitos Humanos. A seguir, se conden-
sam algumas ideias principais e assertivas que podem ser usa-
das como norte para a interpretação, aplicação e efetividade dos
DDHH, quanto aos seus pontos comuns.

Por um prisma marxista, Mascaro (2017, p. 111) assevera


que a lógica capitalista opera os Direitos Humanos como meca-
nismo de sociabilidade, de combate político aos que não a respei-
tam ou como negação constante em face de seus incômodos, de
modo que a defesa dos DDHH na sociabilidade capitalista contra-
ditória é, concomitantemente, sua negação.

64
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

Supiot (2012, p. 253) fala em três figuras da interpretação


fundamentalista ocidental dos Direitos Humanos a serem supera-
das: o messianismo, quando procura impor ao mundo inteiro sua
interpretação literal; o comunitarismo, quando os Direitos Huma-
nos se convertem em signo de superioridade do Ocidente, negando
a outras culturas a capacidade de deles se apropriar; e o cientificis-
mo, quando a interpretação é remetida aos dogmas da biologia ou
da economia, como leis intangíveis do comportamento humano.

Condensando essas ideias, Santos (2000, p. 326-7), afirma


que uma das características estruturais das sociedades capitalistas
é que a existência de constelações de poder, de direito e de co-
nhecimento é ignorada, ocultada ou suprimida por uma série de
estratégias hegemônicas que convertem a redução da política ao
espaço da cidadania em senso comum político, com a redução do
direito ao estatal em senso comum jurídico e a redução do conhe-
cimento ao científico em senso comum epistemológico. Denomina
de “reduções hegemônicas” que, depois de vertidas em senso co-
mum, são difíceis de serem vencidas, sendo que o papel de uma
teoria crítica, muito além de identificá-las e desmascará-las, deve
ser transformar num novo senso comum e emancipatório.

Acerca da dicotomia jusnaturalismo e juspositivismo, Gallar-


do (2010, p. 58-62) indica, com propriedade, que nem um nem outro
podem ancorar os Direitos Humanos, pois não contêm nem facilitam

65
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

uma compreensão crítica dos mesmos. O primeiro, porque contempla


visão dos indíviduos com inteira independência de suas relações so-
ciais, e Direitos Humanos não constituem mera projeção metafísica
da dignidade da pessoa humana alheia à inserção social; e, o segun-
do, porque vincula o Direito ao Estado que não é um ser neutro nem
universal, mas parte da conformação social e tradutor das exclusões
e injustiças do vigente sistema de acumulação de capital. Assim, por
um ou por outro ângulo permitiriam possíveis violações aos Direitos
Humanos, especialmente considerando a situação de grupos vulnerá-
veis, a depender do regime de governo e da legislação positiva.

Com outro enfoque, explica Mascaro (2017, p. 112-3) que,


nas visões iuspositivistas, vislumbra-se desde uma redução dos Di-
reitos Humanos a meros direitos fundamentais normatizados (ius-
positivismo estrito, Hans Kelsen, Século XX) até a afirmação dos
DDHH como compreensão superior, distinta e de principiologia
inexorável para o manejo das normas (iuspositivismo ético, últimas
décadas, tendo como exemplo de expoente, Ronald Dworkin14).

Ora, em primeiro lugar, para a efetividade dos direitos hu-


manos, é necessário mudar o discurso de sua segmentação em ge-
14
  Conforme MACEDO JÚNIOR (2017), Ronald Myles Dwokin (1931-2013)
foi um dos mais importantes filósofos do Direito da língua inglesa, com contribui-
ções na Teoria do Direito, Filosofia Política, Filosofia Moral, Epistemologia Moral
e Direito Constitucional que ele reconhecia como interconectados, e, também, so-
bre temas contemporâneos como aborto, eutanásia, liberdade de expressão, demo-
cracia, eleições, ações afirmativas, desobediência civil, feminismo etc.

66
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

rações, o que estimula, de forma equivocada, pensar em um cará-


ter meramente programático para os reconhecidos posteriormente
àqueles denominados de primeira geração (civis e políticos), e
que não se coaduna, em absoluto, com a atualidade.

Na evolução dos Direitos Humanos, no pensamento prevalente


na comunidade internacional, primeiramente se considerava que os
de primeira geração (os civis e políticos considerados absolutos) se-
riam básicos e de observância obrigatória, constituindo sua violação
delitos de lesa-humanidade, enquanto que os DESC (direitos econô-
micos, sociais e políticos), de segunda geração, seriam progressivos,
permitindo aos Estados sua implementação flexibilizada pelas condi-
ções que tivessem de fazê-lo15.

Contudo, os Direitos Humanos não podem mais ser consi-


derados como conquistas progressivas e que se poderiam efetivar
aos poucos, mas sim como direitos interdependentes, inter-re-
lacionados e complementares, cuja implementação deve ser in-
tegral e não segmentada. Esta visão não basta ser apregoada e
reiterada em diversos documentos internacionais se, na prática,
nada muda, diante de ideias neoliberais e globalização desregra-
da. Ora, se uma pessoa passa fome ou é analfabeta, por exemplo,
não adianta lhe garantir o direito de voto, porque ela precisa pri-
meiro ter seus direitos econômicos, sociais e culturais (de segun-

15
  Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, 1966.

67
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

da geração) garantidos - ter uma vida digna -, para que os civis e


políticos lhe sejam efetivos e úteis. Por este viés, a consideração
dos direitos econômicos, sociais e culturais como progressivos,
segundo o art. 2º do PIDESC – Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (1966)16 falha ao permitir aos
Estados o seu reconhecimento segundo critérios de conveniência
e oportunidade, atrasando o progresso social e comprometendo a
efetividade do princípio da dignidade da pessoa humana.

Portanto, numa Teoria Crítica dos Direitos Humanos, já não


se considera a existência de DDHH de primeira, segunda, ter-
ceira, quarta ou quinta gerações senão para efeitos meramente
didáticos, já que o descumprimento de qualquer deles leva ao des-
cumprimento dos demais. As características de universalidade,
integralidade, irrenunciabilidade, inalienabilidade, interdepen-
dência e complementariedade nos direitos humanos implicam,
além da necessidade de observância obrigatória de todos, também
a de sua concretude e efetividade.

Por este prisma, é necessário abandonar a visão metafísica


de Direitos Humanos, como meta inatingível, e, também, a ideia de
16
  “1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas,
tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais,
principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de seus recur-
sos disponíveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios
apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto,
incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.”

68
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

que somente os direitos vindicáveis juridicamente (positivados) são


os que devem ser concretizados e quando mais a partir de uma visão
interpretativa estreita que ora os contempla num plano idílico ou
abstrato ora os limita pelas diretrizes contratualistas do capitalismo.

Segundo Gallardo (2010, p. 65, 88-9), os Direitos Huma-


nos surgem de lutas sociais, de bases conflitivas, produto, nos
dias atuais, de forças sociais movidas por excluídos do sistema
capitalista e das relações hegemônicas, de modo que se deve pro-
curar a visão do outro - dos marginalizados, excluídos do sistema
-, observando a totalidade social com sensibilidade crítica das re-
lações sociais, do sistema de dominação e de sua reprodução para
encontrar o caminho da mudança. Resume este autor que a Teoria
Crítica dos Direitos Humanos preconiza o estudo sócio-histórico
da justiça, pois o conteúdo axiológico do termo advém das pro-
duções humanas (sociais, políticas, culturais, objetivas e subje-
tivas), abstraindo de concepções naturais, morais ou meramente
jurídicas advindas do iusnaturalismo ou do iuspositivismo, para
discutir ações políticas. Ademais, envolve estar e ser no mundo
para aprendê-lo socialmente e comunicá-lo de forma libertária
por uma atitude sócio-política de avanço na produção cultural e
política de uma humanidade que produza humanidade através do
reconhecimento e acompanhamento de uma diversidade que ex-
clua a discriminação e as diversas modalidades sócio-históricas

69
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

de império humano. Com o seguinte exemplo, o jus humanista


em epígrafe consegue captar com muita propriedade o que isto
significa: numa visão tradicional, um trabalhador é visto como
força de trabalho durante sua jornada laboral e, como ser huma-
no, somente fora dessa jornada, como marido, com seus filhos ou
num bar, ou seja, somente secundariamente é visto como pessoa
(idem, p. 71). Ainda, destaca que a violação de Direitos Humanos
pelo Estado não é só a direta, mas também aquela produzida pela
inércia, pela não promoção de sensibilidade coletiva à reprovação
de discriminações, por não sancionar violações de DDHH ou não
apoderar as instituições e lógicas sociais de processos de elimina-
ção de discriminações (ibidem, p. 76).

Herrera Flores (2007, p. 30-58) propõe quatro condições


para elaborar uma teoria realista e crítica dos Direitos Humanos,
sendo a primeira, assegurar uma visão realista do mundo em que
vivemos e sobre o que desejamos atuar, utilizando os meios que nos
aportam os Direitos Humanos - aprofundar o entendimento da rea-
lidade para poder orientar racionalmente a atividade social. Como
segunda condição, sustenta que o pensamento crítico é um pensa-
mento de combate, desempenhando papel de conscientização para
ajudar na luta pelos Direitos Humanos. Em terceiro lugar, afirma
que uma Teoria Crítica do Direito deve sustentar-se sobre dois pila-
res - o reforço das garantias formais reconhecidas juridicamente e

70
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

o fortalecimento dos grupos mais desfavorecidos na hora de poder


lutar por novas formas, mais igualitárias e generalizadas, de acesso
aos bens protegidos pelo Direito. A força do Direito se manifesta
basicamente na possibilidade que se tenha de abstrair das próprias
constrições que a forma dominante de considerar o trabalho jurí-
dico impõe, com o objetivo de criar novas formas de garantir os
resultados das lutas sociais. Por fim, diz que o pensamento crítico
demanda a busca permanente de exterioridade ao sistema dominan-
te. Criticar não consiste em destruir para criar ou em negar para
afirmar. Um pensamento crítico é sempre criativo e afirmativo.

Para estas quatro condições, prossegue o autor mencionan-


do quatro deveres básicos, a saber, o dever de reconhecimento,
correspondente ao compromisso que todas e todos devem assumir
para visualizar que somos animais culturais; dever de respeito,
como forma de conceber o reconhecimento com uma condição
necessária, mas insuficiente na hora da construção de processos de
luta pela dignidade (tomar consciência das desiguais posições que
no acesso aos direitos ocupam os diferentes coletivos aos quais se
reconhecem suas particularidades); dever de reciprocidade, como
base para saber devolver o que tomamos dos outros para construir
nossos privilégios, seja de outros seres humanos, seja da mesma
natureza da que dependemos para a reprodução primária da vida;
dever de retribuição, com o estabelecimento de regras jurídicas,

71
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

fórmulas institucionais e ações políticas e econômicas concretas


que possibilitem a todas e todos não somente satisfazer as neces-
sidades vitais primárias, senão, ademais, a reprodução secundária
da vida, a construção de uma dignidade humana não submetida
a processos depredadores do sistema imposto pelos processos de
privatização e de acumulação sem restrições de capital.

Na sequência de desenvolvimento do tema, propõe uma me-


todologia crítica para o desenvolvimento dos Direitos Humanos,
com a recuperação da ação política e a implantação de uma filoso-
fia dita “impura” dos direitos humanos, que aceite as “impurezas”
que impõem a todo fenômeno social a ação, a pluralidade e o mo-
vimento ou dinâmica histórica, rechaçando “purismos” e “funda-
mentalismos” tendentes ao estático, ao passivo e ao homogêneo.
Segundo ele, recuperar a ação política compreende três aspectos:
entender os Direitos Humanos conjuntamente com as ações po-
líticas no contexto real em que vivemos, não separadamente, e,
muito menos, como meros “ideais”; os Direitos Humanos devem
servir para aumentar nossa potência e nossa capacidade de atuar
no mundo; recuperar o político como esfera complementar e pa-
ralela à luta pela dignidade a partir dos direitos humanos. O autor
propõe a reivindicação de três tipos de direitos:

a) direitos à integridade corporal;

b) direitos à satisfação de necessidades;

72
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

c) direitos de reconhecimentos, contrariando a naturalização


dos processos a que nos conduz o neoliberalismo econômico po-
lítico e cultural dominante. Já a construção de uma filosofia “im-
pura” dos direitos humanos significa, a partir de uma visão ma-
terialista da realidade, concebendo-se o nosso mundo como real,
repleto de situações de desigualdade, de diferenças e disparidades,
de impurezas e mestiçagens, atentando-se para as matizes de con-
dição (movimento, pluralidade e tempo), entender os direitos hu-
manos desde a realidade do corporal, como a resposta normativa
a um conjunto de necessidades e expectativas que pretendemos
satisfazer, com as seguintes categorias ou instrumentos de traba-
lho - espaço, pluralidade e narrações. A metodologia crítica com-
preende, ainda, estabelecer uma metodologia relacional, colocando
os direitos humanos nos espaços em que nos movemos (ação), na
pluralidade (corporalidade) e no tempo (história), abarcando estes
conceitos em suas mútuas relações consigo mesmos e com os pro-
cessos sociais nos quais estão insertos.

Para tanto, assevera Herrera Flores que quatro atitudes te-


óricas são necessárias: uma perspectiva nova, segundo a qual os
direitos humanos devem se converter em parâmetro informador
da construção de um novo conceito de justiça e de eqüidade, ten-
do em conta a realidade da exclusão de quase 80% da humanida-
de dos benefícios da globalização; uma perspectiva integradora,

73
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

a estabelecer um elemento ético e político universal consistente


na luta pela dignidade, na qual podem e devem reclamar-se como
beneficiários todos os grupos e todas as pessoas que habitam nos-
so mundo, tendo-se o cuidado de não adotar uma visão unilateral
de gerações de direitos que pressuponha a superação, na fase atu-
al, das fases anteriores (direitos de primeira geração: individuais;
direitos de segunda geração: direitos sociais; direitos de terceira
geração: direitos ambientais; direitos de quarta geração: direitos
culturais); uma visão crítica, de que o processo de respeito e con-
solidação de direitos humanos pressupõe políticas de desenvol-
vimento integral, comunitário, local e controlável pelos próprios
afetados, e não somente a exigência de cumprimento destes di-
reitos; práticas sociais emancipadoras, ou seja, concebendo-se os
Direitos Humanos como práticas sociais concretas que permitam
combater a homogeneização, invisibilização, centralização e hie-
rarquização das práticas institucionais tradicionais.

Por fim, ressalta que somente deste modo poderemos cons-


truir uma nova cultura de Direitos Humanos que tenda a uma tri-
pla abertura e não ao fechamento e/ou bloqueio da ação social.
Destarte, DDHH são processos ou práticas sociais dirigidas à
obtenção de bens materiais e imateriais no processo de huma-
nização, e os objetivos das lutas e dinâmicas sociais em matéria
de DDHH devem ser vistos pelo prisma de acesso e distribui-

74
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

ção geral e justa da dignidade humana. Nesta ótica dos Direitos


Humanos como processos, devemos concebê-los por uma visão
nova, integradora, crítica e contextualizada em práticas sociais
emancipadoras.

Logo, por diversas perspectivas e argumentos é possível


construir algo diferente que possibilite a universalização fática e
não meramente retórica, efetividade e concretização dos Direi-
tos Humanos, constituindo a Teoria Crítica uma plataforma apta
para isto, questionando e construindo.

É possível, pois, extrair alguns pontos comuns de uma vi-


são crítica dos Direitos Humanos:

- abandono da visão jusnaturalista ou juspositivista em prol


de uma visão política direcionada à implementação e observância
obrigatória da totalidade dos DDHH para sua efetividade e con-
cretude;

- respeito à diversidade humana;

- reconhecimento dos DDHH como processo histórico de lutas


sociais;

- visão holística da sociedade (observância da totalidade so-


cial) com a ótica das pessoas excluídas do sistema;

- repúdio de qualquer forma de discriminação, dominação e


de relações hegemônicas;

75
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

- empoderamento das pessoas como sujeitos de Direitos Hu-


manos;

- reconstrução do espaço público no mundo globalizado vi-


sando à dignidade da pessoa humana;

- desenvolvimento solidário, em equilíbrio com o meio am-


biente e com os Direitos Humanos;

- a própria visão crítica como processo em construção, fruto


do pensamento humano e, assim, conflitivo e mutável.

Como diz Maffesoli (2009, p. 114-5), é preciso passar pelo


crivo da inteligência todas as palavras da modernidade (individu-
alismo, racionalismo, universalismo, democratismo, republicanis-
mo, contratualismo, progressismo, desenvolvimentismo etc.), sob
pena de ficarmos atolados num dogmatismo esclerosado, aceitando
a ideia de que nada é tabu.

76
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

III. DIREITOS HUMANOS


E DIREITO DO TRABALHO

A leitura humanista das relações entre capital e trabalho re-


monta ao próprio nascimento do Direito do Trabalho no período pós
revolução industrial, com as reivindicações de melhores salários e
limitação de jornada que começaram a motivar reuniões de trabalha-
dores, as primeiras greves e o nascimento do sindicalismo e de todo
o processo de lutas árduas que se seguiram, em especial, no final do
Século XIX e durante o Século XX, marcando as principais conquis-
tas sociais que alcançam os dias de hoje.

Porém, a estruturação do Direito do Trabalho sob a ótica


capitalista como desmembramento do Direito Civil é um manto
que encobre o processo de lutas sociais e invisibiliza os Direitos
Humanos nele afirmados. Para compreender esse processo de in-
visibilização, vale citar Deleuze (2017, p. 263-517) ao dizer que a
desterritorialização do trabalho se originou no final do feudalismo
produzindo a figura do trabalhador desnudo, que possui apenas a
sua força de trabalho diante do capital detentor dos direitos abs-
tratos, ponderando, no entanto, que o capitalista não explora mais
do que o Direito lhe permite. E se na transição do feudalismo para

17
  Derrames II: aparatos de Estado y axiomática capitalista.

77
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

o mercantilismo e o capitalismo nasce o trabalhador desnudo, na


globalização atual este processo é acentuado, com o controle bio-
político18 das vidas não detentoras de capital.

Andrea Fumagalli (2009, p. 100) esclarece que o capita-


lismo cognitivo se estrutura como regime de acumulação na base
de três pilares: função dos mercados financeiros como motor da
acumulação (processo de financeirização como controle biopo-
lítico da vida); função da geração (aprendizagem) e da difusão

18
  AGAMBEN (2015, p. 119-20) descreve o discurso do capitalismo contem-
porâneo, sempre em crise, como provocador de marginalização, exclusão social e
miséria humana:
Nada é mais nauseante do que o descaramento com que aqueles que fizeram
do dinheiro a sua única razão de vida agitam periodicamente o fantoche da
crise econômica, e os ricos vestem, hoje, roupas austeras para alertar os pobres
de que sacrifícios serão necessários para todos. Igualmente estupefaciente é a
docilidade com que aqueles que se tornaram tolamente cúmplices do desequilí-
brio da dívida pública, cedendo ao Estado todas as suas economias em troca de
BOT, recebem sem pestanejar a admonição e se preparam para apertar o cinto.
E, no entanto, qualquer um que tenha conservado alguma lucidez sabe que a
crise está sempre em curso, que ela é o motor interno do capitalismo em sua
fase atual, assim como o estado de exceção é hoje a estrutura normal do poder
político. E assim como o estado de exceção requer que haja porções sempre
mais numerosas de residentes desprovidos de direitos políticos e que, no li-
mite, todos os cidadãos sejam reduzidos a vida nua, do mesmo modo a crise,
tornada permanente, exige não apenas que os povos do Terceiro Mundo sejam
sempre mais pobres, mas também que um percentual crescente de cidadãos das
sociedades industriais seja marginalizado e sem trabalho. E não há Estado dito
democrático que não esteja atualmente comprometido até o pescoço com essa
fabricação maciça de miséria humana.

78
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

(rede) do conhecimento como fonte principal de valorização capi-


talista em escala global; a decomposição da força de trabalho em
escala internacional.

Herrera Flores (2005, p. 20), ao propor a “consciência


cyborg” em oposição ao sistema dominante, o descreve com pro-
priedade:

La “conciencia cyborg”, constata que, a pesar de


las odas al fin del trabajo productivo, son las/los
trabajadoras/es de los sectores descalificados, las
gentes de color, los indígenas y/o descendientes
del comercio/mercado de esclavos, los nuevos
inmigrantes, los nuevos esclavos de las actuales
cadenas de montaje de las maquilas…, todos estos
seres humanos, a los que el poeta salvadoreño Ro-
que Dalton dedicaba sus “poemas de amor”, son
los que mantienen en funcionamiento la maqui-
naria productiva necesaria para que las grandes
empresas transnacionales de la nueva fase de acu-
mulación del capital sigan con su labor depreda-
dora. Gentes que viven sus vidas cotidianas atra-
vesadas por las nuevas tecnologías (que abaratan
su fuerza de trabajo y agilizan la obtención rápida
e indiscriminada de beneficios) y las antiguas dis-
criminaciones de raza, género, sexo, clase, lengua
y posición social. Gentes híbridas que viven en
contextos híbridos, en los que predomina la exclu-
sión y la explotación, tanto de sus saberes como
de sus cuerpos y sus necesidades.

79
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

No texto Direitos Humanos, Estado e Globalização, Mo-


rais19 (2010, p. 142-3) escreve que a democracia é afetada pela
complexidade das relações contemporâneas, num processo con-
junto de desterritorialização e reterritorialização não ficando mais
restrito aos limites geográficos do Estado Nação, mas incluindo
o espaço internacional, comunitário, além das experiências locais
(em referência aos projetos de democracia participativa), o que faz
com que a noção de cidadania seja revisitada em seus conteúdos e
em seus espaços de expressão. Sustenta que a noção tradicional de
cidadania, identificada com elenco de liberdades civis e políticas e
de instituições e comportamentos políticos altamente padronizados,
que possibilitam a mera participação formal dos membros de uma
comunidade política nacional, é incompatível com a desterritoria-
lização provocada pela globalização, sendo necessário repensar o
seu conteúdo e extensão. Em relação ao conteúdo, fala na ultra-
passagem do viés apenas político, ingressando em diversos outros
setores como o social, o gênero, o trabalho, a escola, o consumo, os
afetos, as relações jurídicas e jurisdicionais, além de uma cidadania
atrelada às gerações de Direitos Humanos. E no tocante à exten-
são, assevera que é preciso saber conjugar e materializar as práticas

19
  In RÚBIO, David Sánchez (Org.); HERRERA FLORES, Joaquín (Org.);
CARVALHO, Salo de (Org.). Direitos humanos e globalização: fundamen-
tos e possibilidades desde a teoria crítica. 2. ed., Porto Alegre: EDIPUCRS,
2010. ISBN 978-85-7430-946-0.

80
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

e conteúdos no tradicional espaço nacional da modernidade e do


Estado Nação, com o espaço regional/comunitário, além de expan-
di-las para o espaço supranacional, no âmbito das relações priva-
das como no das relações interestatais, bem como compartilhar do
esforço de forjar um espaço local/participativo, no qual haja uma
transformação radical nas fórmulas das práticas cidadãs e democrá-
ticas, aproximando e autonomizando autor e sujeito das decisões.

Na mesma linha, com sua costumeira contundência, escre-


ve Agamben (2015, p. 104-5):

4. Enquanto o declínio do Estado deixa sobreviver


em todos os lugares seu invólucro vazio como pura
estrutura de soberania e de domínio, a sociedade
em seu conjunto é, por sua vez, entregue irrevoga-
velmente à forma da sociedade de consumo e de
produção orientada ao único fim do bem-estar. Os
teóricos da soberania política, como Schmitt, vêm
nisso o sinal mais seguro do fim da política. E, na
verdade, as massas planetárias dos consumidores
(quando não recaem simplesmente nos velhos ide-
ais étnicos e religiosos) não deixam entrever nenhu-
ma figura nova da polis.

Como visto, o mundo atual está permeável aos efeitos ne-


fastos da globalização, a partir de um discurso internacional do
capitalismo contemporâneo favorável à liberdade de mercado,
livre circulação de capitais e restritivo da circulação de pessoas

81
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

(princípio da segurança), o que favorece um neocolonialismo ge-


rador de novas formas de exploração, marginalização, exclusão
social e miséria humana. Mais uma vez, Agamben (2002, p. 186),
ao comentar a biopolítica nazista, comparando-a com o capitalis-
mo, menciona a necessidade de uma nova política:

Parafraseando o postulado freudiano sobre a re-


lação entre Es e Ich, se poderia dizer que a bio-
política moderna é regida pelo princípio segundo
o qual ‘onde existe vida nua, um Povo deverá
existir’; sob condição, porém, de acrescentar ime-
diatamente que este princípio vale também na for-
mulação inversa, que reza ‘onde existe um Povo,
lá existirá vida nua’. A fratura que se acreditava
ter preenchido eliminando o povo (os hebreus,
que são o seu símbolo) se reproduz assim nova-
mente, transformando o inteiro povo alemão em
vida sacra votada à morte e em corpo biológico
que deve ser infinitamente purificado (eliminando
doentes mentais e portadores de doenças heredi-
tárias). E de modo diverso, mas análogo, o proje-
to democrático-capitalista de eliminar as classes
pobres, hoje em dia, através do desenvolvimento,
não somente reproduz em seu próprio interior o
povo dos excluídos, mas transforma em vida nua
todas as populações do Terceiro Mundo. Somen-
te uma política que saberá fazer as contas com a
cisão biopolítica fundamental do Ocidente poderá
refrear esta oscilação e pôr fim à guerra civil que
divide os povos e as cidades da terra.

82
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

A cidadania política é incompleta se não se tem acesso aos


bens e serviços necessários ao mercado em condições idênticas que
proporcionem qualidade de vida, ensina Guendel González (2002,
p. 110-1). Sustenta que o cumprimento de direitos se torna uma
responsabilidade de todas as pessoas e organizações sociais para
a construção de uma democracia participativa e global, já que o
enfoque de Direitos Humanos nos obriga a falar de sistemas polí-
ticos, pois em cada unidade social (família, comunidade, escola),
segue viva uma trama de poder expressada em um conjunto de
regras que devem ser vigiadas para garantir os direitos.

E é o neoliberalismo hegemônico o grande contribuidor


para que, na contramão da história, ao invés de se avançar na
localização, estudo e interpretação do Direito do Trabalho junto
aos Direitos Humanos, se produza um contínuo retrocesso “nor-
malizador” da cultura jurídica que enxerga os direitos trabalhistas
como direito privado, de obrigações, no qual tudo tem um valor
econômico, ou, nas palavras de Baylos e Terradillos (2009), no
“imaginário mercantilizado da sociedade neoliberal, toda lesão de
interesses é compensável mediante a correspondente contrapres-
tação econômica, em um mundo formado não por pessoas mas
sim por patrimônios e somas de dinheiro virtuais ou efetivas”.

Cinta (2015, p. 633-4), ao abordar a reforma do Código


Penal espanhol operada em 2015 em relação aos delitos contra os

83
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

direitos dos trabalhadores, confirma a mercantilização das pesso-


as promovida com o uso dos Estados pelo poder econômico:

La política económica dictada desde organismos supra-


nacionales, de patente déficit democrático, que cobran
un protagonismo decisivo en la producción del derecho
interno, ha revertido sobre los trabajadores las conse-
cuencias de la crisis económica y financiera. La Unión
Europea, que actuó con pasividad y despreocupación
ante la desregulación de las operaciones financieras so-
bre la deuda privada, ahora toma las tiendas afectando
de lleno a las políticas sociales. Los derechos sociales
están sufriendo una grave metamorfosis en aras de una
ética que gira en torno exclusivamente a la competiti-
vidad económica, a la supremacía de los intereses del
mercado, la competencia empresarial. Se impone una
reducción drástica del techo social, de los costes labo-
rales, incrementando el poder empresarial y su «Con-
fianza» a la hora de mantener, o en su caso, generar
empleo -precario- porque menores serán los costes de
producción.
Es el paradigma de la rentabilidad económica: la ins-
trumentalización mercantilista de las personas como
fuerza productiva, más que como sujetos de unos
derechos que van vaciándose de contenido en aras
de la rentabilidad económica del sistema, de la sos-
tenibilidad del mercado, bajo el pretexto del impacto
de la crisis económica y financiera.

Há de se proceder, pois, à reconstrução do Direito do Traba-


lho, vinculado à sua gênese natural nos Direitos Humanos e não
na economia ou nos contratos.

84
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

III.1. Visão contratualista do Direito do Trabalho

A visão tradicional do Direito do Trabalho estrutura o con-


ceito a partir da ótica contratual, ou seja, o contrato individual ou
coletivo de trabalho, em que duas partes – o trabalhador individu-
almente considerado ou a pessoa coletiva que o representa (entida-
de sindical) e o empregador -, acertam direitos e obrigações entre
si enquanto o Estado exerce um papel moderador, regulando o que
pode e o que não pode ser negociado.

Porém, no mundo contemporâneo, o trabalho não pode


mais ser visto com um contrato, mas como um Direito Humano:
sem ele, na hegemonia do regime de mercado, para a pessoa que
não é detentora de capital, não há condições de alcance da digni-
dade humana, pois somente através de sua força de trabalho con-
seguirá renda para viver. A dimensão que se dá a este eixo central
da relação de trabalho - prestação de serviços versus salário -,
determina o tipo de Direito que se aplica, um Direito Privado pelo
qual se trataria de uma relação de compra e venda da mercadoria
trabalho, ou um Direito Público humanista que, na assimetria de
poder desta relação, tutela a parte mais fraca preconizando a su-
premacia da pessoa e de sua dignidade humana, cujo trabalho há
de ter valor superior ou, no mínimo, igual ao do capital.

85
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

E é neste exato sentido que deve ser abandonada a visão do


trabalho de que a pessoa “vende” sua força de trabalho e o poder
econômico a “compra”. Trata-se, na verdade, de um processo de
legitimação da exploração das pessoas pelo capital já naturaliza-
do no discurso hegemônico e que deve ser urgentemente superado
para se alcançar uma perspectiva de humanização das relações de
trabalho e busca da dignidade da pessoa trabalhadora. Ora, desde a
Declaração de Filadélfia de 194420 a OIT já estabeleceu que “o tra-
20
  A Declaração de Filadélfia integra a Constituição da OIT em instrumento
ratificado pelo Brasil e demais países membros, sendo de observância obriga-
tória, assim, não se trata de soft-law. Pela sua importância para este estudo,
transcreve-se parcialmente seu conteúdo (disponível em: http://www.ilo.org/
brasilia/conheca-a-oit/WCMS_336957/lang--pt/index.htm. Acesso em nov.
2018):
DECLARAÇÃO REFERENTE AOS FINS E OBJETIVOS DA ORGANIZA-
ÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO.
A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho, reunida em
Filadélfia em sua vigésima sexta sessão, adota, aos dez de maio de mil nove-
centos e quarenta e quatro, a presente Declaração, quanto aos itens e objetivos
da Organização Internacional do Trabalho e aos princípios que devem inspirar
a política dos seus Membros.
I A Conferência reafirma os princípios fundamentais sobre os quais repousa a
Organização, principalmente os seguintes:
a) o trabalho não é uma mercadoria;
b) a liberdade de expressão e de associação é uma condição indispensável a um
progresso ininterrupto;
c) a penúria, seja onde for, constitui um perigo para a prosperidade geral;
d) a luta contra a carência, em qualquer nação, deve ser conduzida com infati-
gável energia, e por um esforço internacional contínuo e conjugado, no qual os
representantes dos empregadores e dos empregados discutam, em igualdade,

86
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

balho não é uma mercadoria” e que a paz, para ser duradoura, deve
estar assentada sobre a justiça social. Aliás, o item I, letras a e c da
referida Declaração preconizam um norte muito claro de equaliza-
ção entre capital e trabalho, pelo qual todos os seres humanos têm
o direito de assegurar o bem-estar material e o desenvolvimento
espiritual dentro da liberdade e da dignidade e que quaisquer pla-
nos ou medidas, em caráter nacional ou internacional, em especial
os de caráter econômico e financeiro, devem ser considerados sob
esse ponto de vista e somente aceitos, quando favorecerem, e não
entravarem, a realização desse objetivo principal.

Trata-se de princípio cronicamente sofismado até aqui, pela


já citada contratualização das relações de trabalho e, com isso, sua
normalização jurídica dentro do campo de um direito de obrigações,
com caráter meramente civilista e não humanista – tradicionalmen-
te, a do empregador de remunerar e a da pessoa trabalhadora de
prestar serviços. Por óbvio que, desde o final da Segunda Guerra
Mundial, essa leitura não é mais possível. A notável importância da
Declaração de Filadélfia se deve à representação de um marco hu-
manista que orienta o final da exploração do trabalho como uma
mercadoria e a centralização das relações entre capital e trabalho na
pessoa do trabalhador, que jamais pode ser visto como mercadoria
que se negocie livremente sob a égide da Lex Mercatoria.
com os dos Governos, e tomem com eles decisões de caráter democrático,
visando o bem comum.

87
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

A visão contratualista das relações de trabalho é, assim,


uma criação artificial derivada do capitalismo contemporâneo21,
dominado pelo pensamento neoliberal, de legitimação de um
sistema de exploração contínua das pessoas que tenta resgatar o
conceito de trabalho como mercadoria da qual o capital pode se
apropriar e livremente dispor.

III.2. O anticontratualismo de Alain Supiot

Supiot (2012, p. 121-6) aponta que a larga tradição que atri-


bui ao adágio pacta sunt servanda o valor de dogma em uma so-
ciedade ordenada é responsável pela normalização jurídica de uma
cultura que enaltece o contrato, custe o que custar, como se fosse
uma missão dita civilizadora, adaptável a todas as épocas e a todos
os povos, por virem do Direito Natural e da razão natural (respeito
à palavra dada). Prossegue afirmando que a crença na mundializa-
ção (globalização) celebra as virtudes do livre comércio e do con-
trato como flexível, igualitário e emancipador, em oposição à len-
tidão do Estado e da Lei, considerada rígida, unilateral e opressora
(idem, p. 127). Daí deriva, como faceta da ideologia econômica,
que tenta reduzir o direito imperativo a tão somente o necessário

21
  Nas palavras de FOUCAULT (2018, p. 267-268, 326), a astúcia da socie-
dade industrial transforma a força de trabalho dos indivíduos em força produ-
tiva e a estrutura de poder que adota, transforma, antes dessa etapa, o tempo
da vida em força de trabalho, para o empregador não compre tempo vazio sem
força de trabalho (produtiva).

88
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

para a execução dos contratos, a ideologia do contratualismo, se-


gundo a qual “o vínculo contratual seria a forma mais evoluída do
compromisso social e que tenderia a substituir em todas as ordens
os imperativos unilaterais da lei” (ibidem, p. 12822). Ademais, que
o movimento Law and Economics ou análise econômica do Direi-
to, preconizado por Richard Posner23 e outros, generaliza para todo
o comportamento humano o que chama de antropologia rústica do
Direito contratual pela qual o homem sabe o que quer e o que é
melhor para ele24, de modo que o Direito dos contratos não prece-
de nem condiciona mas antes é mero instrumento da economia do
mercado, assim, dentro da orquestração do tema da mundialização
(globalização), a ciência econômica, no papel de discurso fundador
da ordem universal, limita o Direito à magra porção dos Direitos
Humanos (ibidem, p. 128-30).

Vale transcrever as palavras de Supiot (ibidem, p. 132-325)


sobre o “contrato de trabalho”:

22
  A tradução é minha.
23
  Jurista norte americano, nascido em 1939, expoente maior da “análise
econômica do Direito” (Law and economics).
24
  HABERMAS (2002: 114) explana que o utilitarismo universalista repre-
senta um sistema moral em conformidade aos mesmos critérios da lei natural,
assim que todas as ações estratégicas que maximizam o prazer ou as vantagens
de um indivíduo são permitidas na medida em que sejam compatíveis com as
oportunidades de outro indíviduo maximizar seu prazer ou sua vantagem.
25
  A tradução é minha.

89
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

Este tipo de estrutura, que faz derivar uma rela-


ção de obrigação de um aparente artifício, segue
estando presente em nosso patrimônio jurídico.
A mesma ideia de “patronato”, que os diretores
franceses de empresas repudiaram muito recente-
mente, manifesta a influência duradoura do mo-
delo da filiação paternal na relação de trabalho,
posto que a vemos passar desde o Direito romano
(onde designa o vínculo que une o liberto com seu
antigo proprietário, que o fez nascer para a vida
civil e cujo nome leva) até o Direito do trabalho
assalariado. Nosso moderno contrato de trabalho
faz derivar de uma mudança de estado profissio-
nal (acesso ao emprego, com o que implica de su-
bordinação e de segurança) uma obrigação cujo
conteúdo preciso não se revela senão à medida em
que se executa o contrato.

Porém, destaca que o trabalho, a terra e a moeda não são pro-


dutos, mas condição para a atividade econômica e que tratá-los como
produtos é uma ficção que atua como instrumento jurídico, pois o
Direito autoriza a operar como se o trabalho fosse uma mercadoria
separável da pessoa do trabalhador, organizando um estatuto salarial
que limita essa mercantilização e impede tratar o trabalhador como
uma coisa. O esquecimento dessas ficções, submetidas como tais
aos valores que fundamentam a ordem jurídica e tratar aos homens e
à natureza como meras mercadorias não somente é irritante (em suas
palavras) no plano moral, como também pode conduzir a catástrofes
ecológicas e humanitárias, posto que o bom funcionamento do mer-

90
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

cado pressupõe regras e instituições que garantam a segurança dos


recursos humanos, naturais e monetários (ibidem, p. 139-40).

O autor denuncia que a mercantilização do “recurso huma-


no”, inerente à ideia de contrato de trabalho e à instauração do mer-
cado de trabalho, chega a contradizer a separação entre pessoas e coi-
sas que funda a ordem mercantil (ibidem, p. 144) e que caminhamos
para a feudalização do vínculo contratual, com os Estados desman-
telando as leis, citando, na área trabalhista, que a OIT antigamente
tentava fazer que todos os homens acessassem o bem estar ocidental
e agora replica reivindicações mínimas do Século XIX, como isolar
as epidemias, proibir o trabalho escravo, limitar o trabalho infantil
(ibidem, p. 147). Nessa feudalização do contrato, retrocede o princí-
pio da igualdade, já que o objeto contratual passa a ser hierarquizar
os interesses das partes ou daqueles a quem representam, fundando
um poder de controle de uns sobre outros, e seu objeto primário não
é intercambiar bens nem selar uma aliança entre iguais mas sim legi-
timar o exercício de um poder, agregando ao intercâmbio e à aliança
a vassalagem (allégeance), mediante a qual uma parte se localiza
na área de exercício de poder da outra, como ocorre nos contratos
de dependência (submeter a atividade de uma pessoa aos interesses
de outra), tendo por modelo o contrato de trabalho na fórmula da
subordinação livremente consentida, ampliando-se para a estrutura
de rede pela qual se submetem as pessoas sem privá-las de liberdade

91
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

e responsabilidade com novos híbridos como a distribuição, subcon-


tratação, integração agrícola etc., unindo a liberdade com a servi-
dão, a igualdade com a hierarquia, ao revés do Direito do Trabalho e
abrindo novas formas de poder sobre os homens (ibidem, p. 151-2).

Supiot conclui asseverando que o traço comum de todos


estes avatares do contrato consiste em inscrever pessoas (físicas
ou jurídicas, privadas ou públicas) na área de exercício do poder
de outro sem que se vejam afetados, ao menos formalmente, os
princípios de liberdade e igualdade. Tais vínculos de vassalagem
vão acompanhados de uma transgressão da distinção entre o pú-
blico e o privado e pela fragmentação da figura do garante dos
pactos. Aponta que é necessário desfazer-se das ilusões de uma
“totalidade contratual” (ibidem, p. 154-5).

Não há dúvidas, pois, de que o contrato de trabalho, além


de institucionalizar e legitimar uma relação de poder por uma
máscara que invisibiliza os Direitos Humanos, ainda caminha
para uma figura degradada pelo neoliberalismo e sua vertente de
análise econômica do Direito que retira a proteção estatal com a
introdução sub-reptícia do princípio de vassalagem, delineando
uma futura submissão total das pessoas ao poder econômico.

92
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

III.3. Visão humanista do Direito do Trabalho: visibilidade,


efetividade e dignidade

É clara, pois, a necessidade de resgatar o espírito de Filadé-


lfia (SUPIOT, 2015), centralizando as ações estatais nas pessoas nas
relações de trabalho. Além disso, deve ser superada a visão contra-
tualista do trabalho em favor da visão humanista, reconectando o
Direito do Trabalho à sua gênese junto aos Direitos Humanos.

Para tanto, é necessário localizar os Direitos Humanos do Tra-


balho e revitalizá-los com nova força imanente ao princípio da pro-
gressividade e à supremacia dos DDHH sobre o poder econômico, o
que demanda a atuação do Estado pelas pessoas trabalhadoras.

Os principais direitos sociais estão contemplados na Declara-


ção Universal dos Direitos Humanos de 1948 da ONU, nas Conven-
ções da Organização Internacional do Trabalho, na sua Constituição
e Declaração de Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho e
seu seguimento, e no PIDESC – Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966 (promulgado no Brasil
pelo Decreto 591/92), além da Convenção Americana sobre Direi-
tos Humanos e da Convenção Europeia sobre Direitos do Homem.
No PIDESC, verbi gratia, se encontram compromissos básicos dos
Estados-parte, dentre os quais, por exemplo, o previsto no art. 6º, no
sentido de reconhecer o direito ao trabalho, que compreende o direito

93
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um


trabalho livremente escolhido ou aceito, e de tomar medidas apro-
priadas para salvaguardar esse direito. Ainda, direito de remunera-
ção equitativa e existência decente, segurança e higiene no trabalho,
igualdade de oportunidades, descanso, lazer, férias periódicas remu-
neradas (art. 7º), além de um princípio de liberdade sindical contem-
plando a garantia do direito de toda pessoa de fundar com outras,
sindicatos, e de filiar-se ao sindicato de escolha, e de promover e de
proteger seus interesses econômicos e sociais (art. 8º).

Sem embargo, não são Direitos Humanos do Trabalho so-


mente os que estão previstos nos tratados e documentos interna-
cionais: devem ser considerados nesta categoria todos os direitos
laborais positivados nos ordenamentos jurídicos como também
aqueles que nascem das relações de trabalho. A visão humanista
que supera o contratualismo laboral é aquela que considera a tota-
lidade dos direitos trabalhistas como DDHH. Do contrário, sem-
pre se cairia na armadilha do contratualismo, garantindo apenas
um núcleo duro (e insuficiente) de direitos sociais e relegando o
restante ao “contrato”. Cabe destacar que a Constituição brasi-
leira de 1988 instituiu a cláusula pétrea de vedação de retrocesso
social (leia-se, princípio da progressividade), no art. 7º, pela qual
reconhece aos trabalhadores urbanos e rurais os direitos laborais
ali elencados, além de outros visando à melhoria de sua condição

94
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

social. Esta parte final do caput do dispositivo deve ser lida tam-
bém como a cláusula que recebe outros direitos laborais como
direitos fundamentais.

Portanto, visibilizar e visualizar os direitos laborais como Di-


reitos Humanos significa reescrever o Direito do Trabalho a partir
dos Direitos Humanos, sobretudo da Teoria Crítica, pois, rompendo a
máscara do contratualismo que permeia a orientação hegemônica de
estudo das relações entre capital e trabalho, será possível evoluir em
caminho diametralmente oposto à feudalização contratual, empode-
rando e transformando o trabalhador desnudo em sujeito de direitos
superiores aos do capital.

Neste sentido, uma ótica humanista das relações de trabalho,


consoante os tratados internacionais de Direitos Humanos, deve al-
cançar o máximo de proteção do Estado à pessoa trabalhadora, exer-
cendo papel de garante de equilíbrio de uma situação assimétrica,
de desiguais, em que uma das partes é extremamente vulnerável no
sistema capitalista. Os bens jurídicos em jogo dizem respeito à pró-
pria vida e dignidade da pessoa e, por isso, não podem ser relegados
ao plano das meras obrigações contratuais. Devem, muito antes, ser
prestigiados como valores máximos expoentes de humanização e de
valorização social do trabalho e da pessoa trabalhadora.

Com a visibilidade dos Direitos Humanos do Trabalho é


possível buscar sua efetividade e progressividade, evitando-se

95
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

um retrocesso histórico evidenciado no horizonte neoliberal de


enfraquecimento dos Estados, de desregulamentação das relações
laborais e de novas formas contratuais dissimuladoras da subordi-
nação, para que se possa avançar por um caminho de garantia de
concreta dignidade às pessoas trabalhadoras em direção à equa-
lização das relações entre capital e trabalho, para que, enquanto
houver regime de mercado no mundo, o trabalho tenha valor su-
perior ou, no mínimo, igual ao do capital.

96
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

IV. CONCLUSÃO

Dada a complexidade dos Direitos Humanos, alcançar uma


nova visão libertária que supere a interpretação fundamentalista
(conforme menciona Alain Supiot), como o iusnaturalismo, o ius-
positivismo, o individualismo, o utilitarismo etc., e, especialmen-
te, o contratualismo, não é tarefa simples, nem tampouco obter
o implemento de uma cultura adequada de Direitos Humanos do
Trabalho. Para tal, é necessário despir-se de conceitos arraigados
em conteúdos com máscara jurídica meramente portadores de
opressão, incorporando o senso crítico de indispensabilidade de
efetivação e concretização dos DDHH, e, a partir daí, encontrar os
caminhos para tornar todos e todas sujeitos plenos de Direitos Hu-
manos Laborais e partícipes ativos de sua emancipação humani-
tária nas relações com o capital. Se trata de uma mudança total de
paradigmas. Não é um caminho fácil, mas está ao pleno alcance,
desde que se busque, com consciência, construir os meios e instru-
mentos que garantam efetividade concreta sob uma ótica holística
dos DDHH e orientada por um pensamento plural, inclusivo de to-
das as culturas, do diferente, das minorias, e sempre considerando
este processo como uma produção humana - de lutas sociais-, e,
assim, também permeável a erros e acertos que se devem detec-
tar e contemporizar a tempo e modo ao longo do processo, pois

97
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

sem reconhecer as diferenças culturais existentes entre os seres


humanos e que as imperfeições fazem parte da vida e da história
humanas, como também as lutas e os conflitos, ineficaz se torna a
busca da implementação efetiva e concreta dos Direitos Humanos
do Trabalho.

De modo que, ao falar de efetividade e exercício de direitos


humanos, não cabe nenhuma espécie de purismo, fundamentalis-
mo ou homogeneidade na matéria, e nem tampouco uma visão
restrita a um imaginário utópico, porquanto, ao fim e ao cabo,
serão pensamentos absolutamente inadequados à diversidade hu-
mana e insuficientes à concretização dos DDHH, retroalimentan-
do o círculo vicioso do sistema que acentua os bolsões de miséria
e exclusão social.

Por outras palavras, não se pode conceber os direitos humanos


no mundo contemporâneo a partir de uma visão dissociada do plura-
lismo social e da conflitividade humana, portanto, há necessidade de
construção de uma nova plataforma filosófica que permita a reestru-
turação doutrinária capaz de universalizá-los como práticas sociais
emancipadoras, em prol da dignidade humana, sempre por um enfo-
que global e respeitador da diversidade.

Vale reprisar a observação de Herrera Flores (2007, p. 18-


29), ao afirmar que um Direito Humano fundamental se constitui
exatamente nos próprios meios e condições necessárias para pôr em

98
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

prática os processos de luta pela dignidade humana e que o conteú-


do básico dos Direitos Humanos não é o direito a ter direitos, mas
o conjunto de lutas pela dignidade, pois a dogmática tradicional do
Direito do Trabalho impede esse processo de lutas, invisibilizando
a natureza de DDHH dos direitos sociais com a máscara civilista
do Direito das Obrigações, de cunho contratual e de sujeição dó-
cil da vontade das pessoas trabalhadoras ao poder econômico pelo
argumento do empenho da palavra dada do trabalhador desnudo
frente ao proprietário da chave de acesso à sua sobrevivência.

Tornando às lições de Santos (2000, p. 326-7), sobre a


necessidade de desmascarar o que denomina de reduções hege-
mônicas, não resta dúvida que a ideia do “contrato de trabalho”,
seja individual ou coletivo, é uma delas, a qual, desnudada, deixa
muito clara a que propósitos serve: de domesticação das pessoas
trabalhadoras aos interesses do capital e de invisibilização dos
Direitos Humanos do Trabalho, apagando da memória coletiva os
processos de lutas sociais.

Não é, pois, por acaso, que as tendências neoliberais con-


temporâneas, externadas nas reformas trabalhistas apregoadas pelo
Banco Mundial e pelo FMI mundo afora, e que se concretizaram
na Grécia, Itália, Portugal, Espanha e Brasil, buscam acentuar a
contratualização das relações de trabalho na fórmula de desregula-
mentação do Direito do Trabalho e cada vez mais prevalência do

99
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

negociado (contrato individual ou coletivo) sobre o legislado. Ou


seja, deixar a regulação do trabalho ao sabor da vontade das partes,
como se por um passe de mágica a pessoa trabalhadora tivesse em
situação igual ao poder econômico “contratante”.

Como dito ao longo deste trabalho, se faz urgente estabelecer


um pensamento diferente e apto a construir uma plataforma de con-
cretização da dignidade humana para todos os povos e, também, de
um instrumento que permita a efetividade dos Direitos Humanos no
mundo globalizado, para que o desenvolvimento alcance todas as pes-
soas. Pois, se, por um lado, localizar os Direitos Humanos apenas no
plano internacional e supralegal os deixam etéreos, o Direito do Tra-
balho, já positivado pelos Estados, merece apenas uma releitura hu-
manista e crítica para visibilizar os direitos trabalhistas (todos) como
Direitos Humanos que são, a permitir tornar efetivos e concretos os
DDHH (em especial os direitos sociais que aportam uma vida dig-
na), e conquistar ao trabalho humano a dimensão de bem jurídico de
primeira grandeza, não contratualizável e, portanto, merecedor de to-
tal atenção dos Estados com centralização nas pessoas trabalhadoras.
Ora, recordando o que afirma Gallardo (2010, p. 58-62), ante o fato
de que o Estado não é um ser neutro nem universal, mas parte da con-
formação social e tradutor das exclusões e injustiças, tal compreensão
crítica e humanista blinda o Direito do Trabalho (e, por conseguinte,
as normas jurídicas sociais) do controle dos Estados pelo poder eco-

100
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

nômico, como também a hermenêutica juslaboral, que deverá estar


sempre orientada pelos princípios próprios aos Direitos Humanos e
não ao dos contratos, evitando que a categoria vulnerável das pessoas
trabalhadoras venha a ficar à mercê das mudanças de regime de go-
verno e da legislação. Não é outro o sentido que interpretou a Corte
Interamericana de Direitos Humanos26 o alcance da palavra “leis”,
contido no art. 30 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos:

LA CORTE ES DE OPINIÓN,
Por unanimidad
que la palabra leyes en el artículo 30 de la
Convención significa norma jurídica de carácter
general, ceñida al bien común, emanada de
los órganos legislativos constitucionalmente
previstos y democráticamente elegidos, y
elaborada según el procedimiento establecido por
las constituciones de los Estados Partes para la
formación de las leyes. (Grifou-se).

Obviamente, os conceitos extraídos dessa interpretação ontoló-


gica humanística da Corte Interamericana, de bem comum, de demo-
cracia, jamais vão se coadunar a interesses escusos e opressores do
capital vinculados a máscaras de normas, conceitos ou de qualquer
outra forma jurídica que lhe venha a servir de instrumento.

26
  CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Opinión Con-
sultiva OC-6/86: la expresión “leyes” en el artículo 30 de la Convención Ameri-
cana sobre Derechos Humanos. São José (Costa Rica), 09.05.1986. Disponível
em: www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_06_esp.doc. Acesso em mar. 2018.

101
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

Portanto, entender o Direito do Trabalho como Direito Hu-


mano implica na sua releitura sob a ótica da principiologia apli-
cável aos DDHH, conforme tratados internacionais citados neste
estudo (com particular referência à Declaração e Programa de Vie-
na de 1993, ao PIDCP e PIDESC), concernente à integralidade,
interdependência, indivisibilidade, universalidade, progressivida-
de e supremacia dos Direitos Humanos, quer dizer, que os direi-
tos trabalhistas são de validade universal (para todos e todas, sem
discriminação), integrais (não podem ser fragmentados, fraciona-
dos), que o descumprimento de um compromete o dos demais, que
dentre duas interpretações possíveis deverá ser prestigiada a pro
persona ou que se existe mais de uma norma de um mesmo direito
se aplique a mais favorável à pessoa, não se admitindo, jamais,
retrocesso social. Isto significa abrir uma nova perspectiva de sua
observância, interpretação e aplicação, e não só em relação à her-
menêutica jurídica laboral, às decisões judiciais, mas também às
ações estatais e às políticas públicas, já que os Estados têm obriga-
ção de se posicionar a favor dos DDHH e suas autoridades deverão
atuar para respeitar, proteger, garantir e promover os direitos tra-
balhistas e, em caso de violação, deverão investigar, sancionar os
responsáveis e reparar os danos às vítimas27.

27
  À similitude da reforma adotada na Constituição do México, em 2011,
conforme estudo da Comisión Nacional de los Derechos Humanos de México,
intitulada Los principios de universalidad, interdependencia, indivisibilidad y

102
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

Ou seja, a reconstrução crítica e humanista do Direito do


Trabalho é uma prática social emancipadora, resgatando a ideia
de Herrera Flores, apta à promoção de mudança, superação do
contratualismo e visibilização dos Direitos Humanos, e impeditiva
de que o capitalismo permaneça se apropriando do Direito Laboral.
E é, também, de natureza dúplice, pois na mesma medida em que
permite erigir o trabalho como bem jurídico da humanidade, não
comercializável nem contratualizável, da mesma forma permite
tornar mais concretos os Direitos Humanos, apropriando-se dos or-
denamentos laborais, revistos e revisitados com outra principiolo-
gia emancipadora, cumprindo o papel de efetivar os direitos sociais
como esteio dos demais Direitos Humanos com a perspectiva de
tornar a vida das pessoas trabalhadoras uma vida digna mediante a
equalização do trabalho com valor superior ou, no mínimo, igual
ao do capital. Nesta lógica, cabe reafirmar que não são Direitos
Humanos do Trabalho somente os que estão previstos nos tratados
e documentos internacionais mas sim todos os direitos trabalhistas
positivados nos ordenamentos jurídicos e aqueles que nascem das
relações de trabalho.

Destarte, como caminho para a construção e respeito da dig-


nidade das pessoas trabalhadoras de forma macro, é imprescindí-

progresividad de los derechos humanos - disponível em: http://www.cndh.org.


mx/sites/all/doc/cartillas/2015-2016/34-Principios-universalidad.pdf. Acesso
em nov. 2018.

103
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

vel entender o Direito do Trabalho como instrumento portador de


Direitos Humanos, de forma a garantir uma nova interpretação e
aplicação, especialmente em conformidade aos princípios de pro-
gressividade e supremacia dos DDHH, buscando, ato contínuo,
que eles sejam globalizados, ou seja, estendidos a todas e todos
que vivem no planeta, através da educação e da conscientização
dos povos para que, no futuro, cada pessoa esteja ciente de seus
direitos e dotada de mecanismos capazes de possibilitar a imple-
mentação ou efetividade do Direito Humano do Trabalho que não
esteja sendo observado ou que venha a ser violado.

Se na Declaração de Filadélfia se estabeleceu que o trabalho


não é uma mercadoria, atualmente o conceito deve ser ampliado
para a compreensão de que o trabalho não é um contrato, é um
Direito Humano.

Por fim, fica a reflexão pelas sagazes palavras de Saramago28:

Achávamos que, com a democracia, deixaríamos


de lado certos temores, mas o que fizemos foi ape-
nas trocá-los por um outro medo coletivo e geral
que nada tem a ver com a tortura ou com a censu-
ra. É o medo constante de perder o emprego, um
medo que limita e condiciona totalmente a vida
de quem dele padece. E esse medo é alimentado
pelo verdadeiro governo do mundo de hoje, o po-
der das multinacionais, que molda tudo de acordo

28
  Saramago (2001) apud Gómez Aguillera (2010, p. 466-7).

104
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

com a sua própria lógica. Uma lógica que impõe


um perigoso acriticismo que se espalha como uma
mancha de óleo pelo mundo inteiro. Parece até
que a regra deve ser não pensar, não reagir, não
criticar.

105
Marcelo José Ferlin D’Ambroso

106
Direitos Humanos e Direito do Trabalho:
Uma Conexão para a Dignidade

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Uma mirada crí ca, diversa, desconstru va e emancipadora é a
que nos propõe Marcelo D'Ambroso, precisamente num momento no
qual estamos assis ndo em muitos países ocidentais a graves retrocessos
do Estado democrá co de Direito e a uma alarmante regressão dos
direitos sociais vinculados ao trabalho. O Estado de Direito está sendo
cooptado por uma contrarrevolução: a do neoliberalismo econômico e
do neoconservadorismo polí co autoritário, em que predomina o
exercício do poder sem a polí ca, prima o interesse privado sobre o
interesse geral e está se instalando a opulência do privado sobre a
pobreza do público.
Este é um livro necessário para seguir aprofundando nas questões
essenciais e fundacionais da luta pelos direitos, entendida esta como
uma luta pela dignidade e a autonomia do ser humano, assim como uma
luta contra qualquer po de dominação ou de opressão. Que se abra o
telão, pois, e que o leitor interatue com esta mirada lúcida de um
consolidado profissional do direito e de um infa gável lutador pelos
direitos humanos, como tem sido e o é meu colega e amigo Marcelo
D'Ambroso.

Dra. María José Fariñas Dulce


Catedrá ca Acreditada de Filosofia do Direito
Universidad Carlos III de Madrid
Inves gadora do Ins tuto de Estudios de Género de la Universidad Carlos
III de Madrid
Inves gadora do Ins tuto Joaquín Herrera Flores/Brasil
Inves gadora do Ins tuto de Derechos Humanos "Bartolomé de las
Casas"

978- 85- 9471- 093- 2

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