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Redação para o Enem

Adilson Ribeiro de Oliveira


Ana Paula Mendes Alves de Carvalho
Denise Giarola Maia
Thaís Oliveira de Souza

Formação Inicial e
Continuada

+
IFMG
Adilson Ribeiro de Oliveira
Ana Paula Mendes Alves de Carvalho
Denise Giarola Maia
Thaís Oliveira de Souza

Redação para o Enem


1ª Edição

Belo Horizonte
Instituto Federal de Minas Gerais
2021
© 2021 by Instituto Federal de Minas Gerais
Todos os direitos autorais reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico
ou mecânico. Incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de
armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização por escrito do
Instituto Federal de Minas Gerais.

Pró-reitor de Extensão Carlos Bernardes Rosa Júnior


Diretor de Programas de Extensão Niltom Vieira Junior
Coordenação do curso Adilson Ribeiro de Oliveira
Arte gráfica Ângela Bacon
Diagramação Eduardo dos Santos Oliveira

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

R312 Redação para o ENEM [recurso eletrônico] / Organizadores: Adilson


Ribeiro de Oliveira... [et al.]. – Ouro Branco: Instituto Federal de
Minas Gerais, 2021.
76 p.

E-book, no formato PDF.


Material didático para Formação Inicial e Continuada.
ISBN 978-65-5876-134-1

1. Redação técnica 2. Comunicação escrita. 3. Língua


portuguesa. 4. Curso FIC. I. Carvalho, Ana Paula Mendes
Alves. II. Maia, Denise Giarola. III. Souza, Thaís Oliveira.

CDD 651.74

Catalogação: Márcia Margarida - CRB-6/2235


Índice para catálogo sistemático:
. Redação Técnica – 651.74

2021
Direitos exclusivos cedidos à
Instituto Federal de Minas Gerais
Avenida Mário Werneck, 2590,
CEP: 30575-180, Buritis, Belo Horizonte – MG,
Telefone: (31) 2513-5157
Sobre o material

Este curso é autoexplicativo e não possui tutoria. O material didático,


incluindo suas videoaulas, foi projetado para que você consiga evoluir de forma
autônoma e suficiente.
Caso opte por imprimir este e-book, você não perderá a possiblidade de
acessar os materiais multimídia e complementares. Os links podem ser
acessados usando o seu celular, por meio do glossário de Códigos QR
disponível no fim deste livro.
Embora o material passe por revisão, somos gratos em receber suas
sugestões para possíveis correções (erros ortográficos, conceituais, links
inativos etc.). A sua participação é muito importante para a nossa constante
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Palavra do autor e das autoras

Olá! Seja bem-vindo(a) ao nosso curso Redação para o Enem!


Inicialmente, gostaríamos de enfatizar o fato de que, no atual contexto escolar
brasileiro, o maior exame nacional de avaliação da educação básica, o Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem), tem a redação como um dos mais significativos
eixos avaliativos. A “Redação do Enem”, como é comumente conhecida, representa
20% da nota final do estudante. Então, uma boa nota na redação é fundamental para
se garantir o sucesso na prova, o que pode significar, no nosso modelo de acesso à
universidade, uma vaga no ensino superior. O estudante que deseja conquistar uma
vaga em universidades federais, estaduais e privadas que usam o Enem como
processo seletivo precisa, portanto, demonstrar um bom domínio dessa redação.
Nesse contexto, é com o objetivo de ajudar você a desenvolver e/ou aperfeiçoar
as competências avaliadas na redação do Enem que elaboramos este curso, o qual
está dividido em três módulos semanais de estudos, contemplando aspectos
técnicos, teóricos e práticos do texto dissertativo-argumentativo, que é o tipo exigido
no exame. Em cada módulo ou semana de estudos, há explicações, exemplos e
orientações apresentados de forma bem simples, tanto por escrito quanto por meio
de videoaulas, sempre acompanhados de exercícios para avaliação e fortalecimento
da aprendizagem. Assim, no primeiro módulo, o foco são as características e as
especificidades da redação do Enem; no segundo, a atenção é voltada para o
domínio da norma culta e o emprego dos mecanismos de coesão; por fim, no terceiro
e último módulo, são enfatizados o uso do repertório sociocultural e as estratégias
argumentativas para a defesa de um ponto de vista, bem como a proposta de
intervenção social. Todos esses elementos são muito importantes para a elaboração
da redação e são muito valorizados na avaliação das competências exigidas no
Enem.
Esperamos que você goste do curso e que ele seja um meio eficaz para o
fortalecimento das suas competências de escrita.
Desejamos bons estudos e uma excelente aprendizagem!

Abraços,
Adilson, Ana Paula, Denise e Thaís
Apresentação do curso

Este curso está dividido em três semanas, cujos objetivos de cada uma são
apresentados, sucintamente, a seguir.

Nesta semana, iremos estudar as características do texto


SEMANA 1 dissertativo-argumentativo e as especificidades do gênero
textual redação do Enem.

Nesta semana, iremos estudar, de forma mais específica,


SEMANA 2 as competências I e IV da redação do Enem, quais sejam:
domínio da norma culta e mecanismos de coesão.

Nesta semana, iremos estudar o repertório sociocultural,


as estratégias argumentativas e a proposta de intervenção
SEMANA 3
social, que correspondem às competências II, III e V da
redação do Enem.

Carga horária: 30 horas.


Estudo proposto: 2h por dia em cinco dias por semana (10 horas semanais).
Apresentação dos Ícones

Os ícones são elementos gráficos para facilitar os estudos, fique atento quando
eles aparecem no texto. Veja aqui o seu significado:

Atenção: indica pontos de maior importância


no texto.

Dica do professor: novas informações ou


curiosidades relacionadas ao tema em estudo.

Atividade: sugestão de tarefas e atividades


para o desenvolvimento da aprendizagem.

Mídia digital: sugestão de recursos


audiovisuais para enriquecer a aprendizagem.
Sumário

Semana 1 – O texto dissertativo-argumentativo e a redação do Enem: características e


especificidades ....................................................................................................................15
1.1. Começo de conversa: o que é a redação do Enem?..............................................15
1.2. Gêneros textuais e tipos textuais: afinal, qual a diferença? ....................................18
1.3. O texto dissertativo-argumentativo: principais características ................................22
1.4. A redação do Enem: características e especificidades ..........................................28
Semana 2 – Domínio da norma culta e mecanismos de coesão: compreendendo e
aperfeiçoando as competências I e IV da redação do Enem...............................................37
2.1. Competência 1 na redação do Enem: o que é necessário conhecer para dominar a
norma culta da Língua Portuguesa? ....................................................................................38
2.1.1 Estrutura sintática .......................................................................................................38
2.1.2 Os desvios ..................................................................................................................40
2.2 Os mecanismos de coesão e seu papel na articulação e no sentido construídos no
texto 43
Semana 3 – Estratégias textuais e argumentativas: compreendendo e aperfeiçoando as
competências II, III e V ........................................................................................................49
3.1 Competências II, III e V: por que se articulam? .............................................................49
3.2 Construindo a argumentação do texto: como retirar argumentos dos textos motivadores
e como diversificá-los? ........................................................................................................52
3.3 Repertório sociocultural: o que é e como utilizá-lo na redação? ...................................57
3.4 A proposta de intervenção: o que é e como elaborá-la? ...............................................60
Referências .........................................................................................................................65
Currículos do autor e das autoras .......................................................................................67
Glossário de códigos QR (Quick Response) .......................................................................69
Semana 1 – O texto dissertativo-argumentativo e a redação
do Enem: características e especificidades

Objetivos
Nesta semana, iremos estudar as características do texto
dissertativo-argumentativo e as especificidades do gênero
textual redação do Enem.

Mídia digital: Antes de iniciar os estudos, vá até a sala


virtual e assista ao vídeo “Apresentação do curso”.

Conforme já foi explicado, nosso curso de “Redação para o Enem” é dividido em três
módulos de 10 horas cada, distribuídos em três semanas de estudos. Neste primeiro módulo,
vamos estudar os aspectos que configuram a redação do Enem, suas características e
especificidades, dando destaque ao texto dissertativo-argumentativo, sua estrutura e suas
propriedades. Além disso, vamos procurar entender como é organizada e como funciona
essa prova de redação, quais competências são avaliadas e o que significam essas
competências. Durante a caminhada, vamos também avaliar o aprendizado, por meio de
exercícios e testes variados.
Pronto(a) para adentrar esse universo ou se aperfeiçoar naquilo que já sabe,
seguindo o passo a passo que preparamos para você? Então vamos lá!

1.1. Começo de conversa: o que é a redação do Enem?

Para começar bem os nossos estudos, um primeiro passo importante é compreender


um pouco o que é a redação do Enem, sua origem, aspectos que norteiam a sua existência,
como funciona, o que avalia, para que serve... Enfim, é importante conhecer um pouco o
que significa a famosa “Redação do Enem”.
O contexto educacional brasileiro apresentou uma guinada nos últimos anos com a
implementação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que se tornou o maior
mecanismo de avaliação da educação básica e de acesso ao ensino superior. Nesse
cenário, a redação exigida por esse exame ocupa um lugar central, haja vista compreender
uma parte significativa da nota final atribuída aos estudantes que se submetem ao exame
ao final de sua escolaridade básica, ou seja, ao final do Ensino Médio.
Então, é esse o ponto central que orienta a concepção do nosso curso: tornar-se, ao
mesmo tempo, instrumento gratuito e de fácil acesso para a apropriação do gênero em que
se configurou a prova de redação do Enem e meio eficaz de aprendizado e/ou de

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aperfeiçoamento de competências para a produção do tipo textual que caracteriza esse
gênero.

Atenção: De forma bem resumida, gêneros textuais são


as classificações que damos aos diversos textos que
circulam na sociedade e que atendem a finalidades
específicas. Não se preocupe, pois, ainda neste módulo,
haverá uma seção para tratar com mais detalhes a
questão do gênero textual.

Em sociedades ditas letradas, como a nossa, o texto escrito ocupa um lugar


preponderante. Em quase todas as atividades cotidianas, as pessoas precisam lidar com a
leitura e/ou produção de textos escritos. No atual contexto escolar brasileiro, o maior exame
nacional de avaliação da educação básica tem como um dos mais significativos eixos de
avaliação a redação. A “Redação do Enem”, como é comumente conhecida, adquiriu, nesse
contexto, um lugar privilegiado na formação em língua portuguesa.
Realizada no segundo dia de provas do Enem, a redação representa 20% da nota
final do estudante. Uma boa nota na redação, portanto, é fundamental para se garantir o
sucesso no exame, o que pode significar, no atual modelo brasileiro de acesso à
universidade, uma vaga no ensino superior. Portanto, o estudante que deseja ingressar em
universidades federais, estaduais e privadas que usam o Enem como processo seletivo
precisa demonstrar um bom domínio dessa redação.
A prova de redação do Enem exige do participante do teste que produza um texto
dissertativo-argumentativo, versando sobre um determinado tema, normalmente de ordem
política, social, cultural, científica, apresentado em articulação a textos motivadores para
reflexão e sempre a partir de uma situação-problema, para a qual o autor do texto precisa
apresentar proposta de intervenção social. O texto deve ser redigido de acordo com a norma
culta da língua portuguesa, evidenciando domínio da estrutura dissertativo-argumentativa,
com tese, argumentos e proposta de intervenção.
Assim, é imprescindível que o autor do texto construa uma tese, a partir da frase
temática proposta e da leitura dos textos motivadores, apresentando argumentação
consistente, repertório sociocultural produtivo, com coesão e coerência, apresentando
proposta de intervenção para o problema discutido. Trata-se de uma estrutura textual-
discursiva bem definida, que se configura, também, para efeitos de avaliação, com base em
cinco competências. Ou seja, no Enem, o autor do texto, normalmente chamado de
“candidato”, precisa:

1) dominar a norma culta da língua portuguesa;


2) compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas do
conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto
dissertativo- argumentativo;

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3) selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e
argumentos em defesa de um ponto de vista;
4) demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a
construção da argumentação;
5) elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, demonstrando
respeito aos direitos humanos.

Todas essas cinco competências de escrita, embora estejam muito relacionadas entre
si, são avaliadas separadamente, valendo 200 pontos cada uma e totalizando 1000 pontos
para a nota final. Ao longo desta apostila, será possível compreender todas elas de forma
mais detalhada e também como alcançar uma boa pontuação em cada uma.

Dica do Professor: Visite a página oficial do Enem no


site do Inep. Lá você encontrará informações detalhadas
sobre a prova, sobre os editais, sobre a realização do
exame, sobre edições anteriores, com exemplos e
explicações.

Como é possível perceber, são muitos detalhes envolvidos na redação do Enem e


todos merecem a atenção de quem deseja se apropriar adequadamente desse gênero ou
aperfeiçoar e solidificar conhecimentos acerca dele, para finalmente obter um bom resultado
na prova. Resumidamente, antes mesmo de avançarmos nossos estudos, podemos reforçar:
a redação deve ser organizada em forma de um texto em prosa do tipo dissertativo-
argumentativo sobre um tema previamente selecionado e que pode versar sobre questões
de ordem cultural, científica, social ou política.
Bom, até aqui, você já deve estar se perguntando: afinal, o que significam todos esses
termos e qual a importância de conhecê-los, o que representam todos esses aspectos e
como fazer para se apropriar deles? Calma. Pouco a pouco nós iremos explicar tudo de
forma bem simples, no decorrer deste módulo, passo a passo.

Atividade: Antes de continuar os estudos deste módulo,


vá até a sala virtual e resolva os “Exercícios de avaliação
da aprendizagem #1”.

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1.2. Gêneros textuais e tipos textuais: afinal, qual a diferença?

Para uma boa apropriação dos aspectos que caracterizam a redação do Enem, é
muito importante ter uma noção sobre o que é um gênero textual e sobre o que é um tipo
textual. Desse modo, nesta seção de estudos, vamos procurar esclarecer essa distinção,
mas sem entrar em aprofundamentos teóricos e polêmicas em torno dela. Nosso objetivo é
apenas o de tornar mais acessível os conceitos, de modo que você possa se apropriar com
mais segurança das competências necessárias à redação do Enem e/ou aperfeiçoar seus
conhecimentos a esse respeito. Então, para facilitar nossos estudos, vamos simplificar a
discussão apenas apontando aspectos mais gerais que ajudem você a compreender a
distinção entre gêneros e tipos textuais, de forma simples e objetiva.
Comecemos por dizer que, nas nossas interações diárias, servimo-nos de textos para
a comunicação com/entre as pessoas e que eles atendem a objetivos, situações,
interlocutores variados. Por isso mesmo, eles apresentam características e especificidades
que procuram atender às mais variadas necessidades comunicativas do nosso dia a dia.
Já que atendem a variadas necessidades comunicativas, esses textos são
organizados, estruturados e veiculados de modo bem característico para cumprir esse
objetivo comunicativo e “funcionar” bem nas práticas comunicativas em que estamos
inseridos quando fazemos uso dos textos, tanto quando os produzimos como quando os
lemos. Ou seja, simplificando: os textos apresentam características específicas dependendo
dos objetivos para os quais são produzidos. Por exemplo: uma bula de remédio apresenta
algumas características que lhes são próprias, que nos permitem dizer que se trata de uma
bula. Algumas dessas características estão relacionadas ao conteúdo (informações e
instruções sobre uso de um medicamento), outras estão relacionadas à linguagem (formal,
técnica, descritiva, instrutiva, objetiva), outras, ainda, à estrutura do texto (as informações e
orientações são apresentadas numa determinada ordem, normalmente em letras pequenas
para haver muita informação em pouco espaço). Tudo isso conjugado – e articulado a outros
aspectos – faz com que o texto possa ser chamado de bula, ou bula de remédio. É isso que
chamamos de gênero textual. De modo bem simplificado, então, gêneros textuais são os
“nomes” dados aos diversos textos que circulam na sociedade: carta, cartaz, outdoor,
manual de instruções, notícia, artigo, livro didático, boletim de ocorrência, apostila didática
(como esta que você está lendo agora), e-mail, relatório, poema, diário, piada, charge,
fábula, entre tantos outros que fazem parte das nossas interações comunicativas diárias.
São realmente muitos! Listamos aqui apenas alguns como exemplificação, pois há uma
infinidade de outros gêneros textuais circulando na sociedade.
Basta pararmos um pouco para pensar e constatarmos a quantidade de situações
comunicativas a que estamos expostos todos os dias ao longo da nossa vida e constatarmos
que realmente há uma infinidade de textos com os quais nós lidamos o tempo todo, em
contextos e ambientes variados, com objetivos e finalidades variados, usando formas
variadas também de linguagem que sejam mais eficientes para cada caso, para cada
situação comunicativa. Ou seja: cada gênero textual cumpre uma função social definida,
bem específica.
Justamente porque atendem a necessidades e contextos comunicativos bem
definidos, os gêneros textuais evoluem, ou seja, vão sofrendo modificações ao longo do

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tempo para atenderem às mudanças que vão ocorrendo também nas situações
comunicativas, nos recursos que são utilizados nas interações, entre outros fatores. Por
exemplo: o gênero textual carta, que era muito utilizado no passado, com o advento e
aperfeiçoamento das tecnologias digitais de comunicação, começaram a ser
“transformadas”, digamos assim, em outro gênero, o e-mail, que dispensa o uso de papel,
de caneta e de postagem pelos Correios, visto que são enviados eletronicamente. Apesar
dessa “transformação”, alguns elementos linguísticos e textuais permanecem: o remetente,
o destinatário, as saudações, entre outros.
Para ilustrar essa discussão, vamos analisar um gênero textual muito conhecido e
que faz parte da nossa vida de forma muito marcante, a receita culinária. Vejamos um
exemplo a seguir:

RECEITA DE BOLO DE FUBÁ

INGREDIENTES

1 ½ xícara (chá) de fubá mimoso


1 xícara (chá) de farinha de trigo
2 xícaras (chá) de açúcar
4 ovos
1 xícara (chá) de óleo
1 xícara (chá) de leite
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 colher (sopa) de sementes de erva-doce
1 pitada de sal
manteiga e farinha de trigo para untar e polvilhar

MODO DE PREPARO
1. Pré-aqueça o forno a 180 ºC (temperatura média).
2. Com um pedaço de papel toalha (ou pincel), unte com manteiga uma forma de bolo, com
furo no meio, de 25 cm de diâmetro - tente fazer uma camada bem fina. Polvilhe com
farinha e chacoalhe bem para espalhar. Bata sobre a pia para retirar o excesso.
3. Numa tigela separada, quebre um ovo de cada vez e transfira para o copo do
liquidificador - se um estiver estragado você não perde toda a receita. Junte o óleo, o
açúcar e o leite. Bata até ficar liso, por cerca de 5 minutos.
4. Transfira a mistura para uma tigela grande. Junte o fubá e a farinha, passando pela
peneira. Com um batedor de arame, mexa delicadamente até a massa ficar lisa. Por
último, misture o fermento, as sementes de erva-doce e o sal.
5. Despeje a massa do bolo na forma untada e nivele com uma espátula. Leve ao forno
preaquecido e deixe assar por cerca de 30 minutos. Para saber se o bolo está assado:
espete um palito na massa, se sair limpo é sinal que o bolo está pronto; caso contrário,
deixe por mais alguns minutos até que asse completamente.
6. Retire do forno e deixe esfriar por 15 minutos antes de desenformar. Sirva em
temperatura ambiente.

Figura 1: Receita de bolo de fubá.


Fonte: Disponível em: https://www.panelinha.com.br/receita/Bolo-de-Fuba. Acesso em: 28 set. 2020.

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Como podemos notar, o texto “RECEITA DE BOLO DE FUBÁ” apresenta algumas
características que são bem específicas de uma receita culinária, tendo em vista
principalmente os seus objetivos. Observe que ele está articulado a uma imagem, que é
dividido em duas partes (INGREDIENTES e MODO DE PREPARO), que essas duas partes
apresentam recursos linguísticos e textuais bem específicos: a parte de INGREDIENTES,
obviamente, apresenta uma lista de produtos que serão utilizados para a execução da
receita; a parte MODO DE PREPARO explica os passos que o leitor deve seguir para
executar a receita. Na lista de ingredientes, há especificação de quantidades necessárias
dos produtos, que foram colocados um abaixo do outro, sem apresentar detalhes sobre as
suas funções, por exemplo. Já na parte dedicada ao modo de preparo, há a apresentação
de uma sequência de passos a serem seguidos para a realização da receita, com
informações mais detalhadas e explicações sobre alguns procedimentos. Há o emprego
recorrente de verbos no modo imperativo, para caracterizar as instruções a serem seguidas
(pré-aqueça, unte, reserve, transfira, despeje, sirva, entre outros). As frases são curtas e
servem como orientação para o leitor proceder na realização de uma tarefa. Enfim, há o
emprego de determinadas formas linguísticas e textuais que são apropriadas para este
gênero textual – a receita culinária – e não para outros.
Bom, neste ponto, é importante destacar que para a constituição dos gêneros são
empregadas determinadas sequências textuais, determinados recursos linguísticos que
caracterizam o que chamamos de tipos textuais. Então, já podemos tirar algumas conclusões
sobre a diferença entre gêneros textuais e tipos textuais. De forma bem resumida, podemos
dizer que os gêneros textuais são os próprios textos, ou seja, são os textos que cumprem
uma determinada função social na situação comunicativa. Por exemplo: a receita culinária
cumpre a função comunicativa de orientar o leitor na execução de um prato (um bolo de
fubá, no exemplo dado anteriormente), fornecendo informações sobre os ingredientes a
serem utilizados e explicações sobre a forma de fazer, sobre como executar a receita. Já os
tipos textuais referem-se à estrutura dos textos, ao modo como eles estão organizados, ao
vocabulário, aos tipos de sequências linguísticas usadas para finalidades diversas: contar,
descrever, argumentar e informar são as principais. Assim, dependendo dessas finalidades,
os tipos textuais podem ser classificados basicamente como: narrativo, descritivo,
dissertativo (expositivo e argumentativo), explicativo (injuntivo e prescritivo).
Mas qual a finalidade de cada tipo textual? Como saber de que tipo textual se trata?
Bom, vamos lá! Antes de tudo, precisamos ter em mente que um mesmo texto pode
apresentar tipos textuais variados, ou seja: um mesmo texto pode apresentar passagens de
várias tipologias textuais. Não se esqueça disso, pois será uma informação muito importante
quando estivermos tratando da redação do Enem especificamente.
Vejamos os principais tipos textuais e suas características:

TEXTO NARRATIVO: a principal finalidade de um texto narrativo é contar uma história,


que pode ser real ou imaginária, normalmente envolvendo alguns elementos que a
caracterizam: tempo, espaço, personagens, enredo, narrador. Os romances, os contos, as
fábulas são os exemplos mais clássicos de textos em cuja constituição é utilizado o tipo
narrativo. Mas há também os depoimentos, os relatos, dentre tantos outros.

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TEXTO DESCRITIVO: a principal finalidade do texto descritivo é detalhar aspectos de
um determinado lugar, de um objeto, de uma pessoa, de um acontecimento ou qualquer
outra coisa sobre a qual se queira transmitir impressões, características, qualidades. É muito
comum que os textos descritivos sejam utilizados para “complementar” outros tipos de texto.
Por exemplo: em um texto narrativo, pode ser que o narrador queira descrever as
características do lugar onde se passa a história.

TEXTO EXPLICATIVO: a principal finalidade do texto explicativo é instruir o leitor a


executar um dado procedimento. Basicamente, um texto explicativo pode ser subdivido em:
→ explicativo-injuntivo: os textos dessa tipologia possibilitam alguma liberdade ao leitor
na execução do procedimento, como ocorre na receita culinária vista há pouco (Pode ser
que a pessoa não disponha de todos os ingredientes e queira fazer alguma adaptação, não
é mesmo?); manuais de instrução e bulas de remédio também são exemplos desse tipo de
texto.
→ explicativo-prescritivo: os textos dessa tipologia exigem que o leitor proceda de uma
determinada maneira e não permitem muita flexibilidade no seguimento das orientações por
parte do leitor. É o que ocorre, por exemplo, nos textos das leis e dos editais de concursos.

TEXTO DISSERTATIVO: a principal finalidade do texto dissertativo é informar e/ou


esclarecer o leitor sobre um determinado tema ou assunto. Pode ser subdivido em dois
tipos:
→ dissertativo-expositivo: neste tipo de texto, o objetivo é discorrer sobre determinado
tema, apresentar um ponto de vista sobre ele, não havendo intenção de persuadir, de
convencer o leitor.
→ dissertativo-argumentativo: neste tipo de texto, a finalidade é discutir um determinado
tema ou assunto, procurando persuadir e convencer o leitor a respeito de um dado ponto de
vista.

Atenção: Esses são os principais tipos de textos, os


mais comuns, porém existem outros e também existem
outras formas de classificá-los. Assim, é muito comum
eles serem classificados em 5 (cinco) tipos: narração,
descrição, dissertação, injunção, exposição. Adotamos a
classificação proposta nesta apostila tendo em vista que
ela se aproxima do seu objetivo maior que é o estudo do
texto dissertativo-argumentativo cobrado na redação do
Enem.

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Atenção: Um mesmo texto pode apresentar passagens
e características de mais de um tipo textual. Ou seja:
mais de um tipo textual (o descritivo e o injuntivo, por
exemplo) pode ser utilizado na composição de um
gênero textual. A receita culinária, por exemplo,
apresenta sequências descritivas e injuntivas
basicamente.

Notou como não é tão difícil? Se ainda tem alguma dúvida, não se preocupe! Você
pode rever as explicações e, também, à medida que formos avançando nos estudos, com
atenção e dedicação, cada vez mais você começará a se apropriar das características
apresentadas e, ao final, terá um bom conhecimento a respeito da redação do Enem. Para
haver um domínio eficiente desses conteúdos tratados até aqui, é muito importante que você
exercite. Então, após termos conhecido quais são as principais diferenças entre gênero
textual e tipo textual, podemos exercitar um pouco.

Atividade: Antes de passar para a próxima seção de


estudos deste módulo, vá até a sala virtual e resolva os
“Exercícios de avaliação da aprendizagem #2”.

Agora, já podemos começar a tratar do que mais nos interessa em nossos estudos
deste módulo: O TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO. Conforme já dissemos
anteriormente, é este o tipo de texto cobrado na redação do Enem.
Vamos lá?

1.3. O texto dissertativo-argumentativo: principais características

Conforme já estudamos, os textos são essenciais para as nossas interações diárias,


como meios de comunicação. A todo momento, nos deparamos com diversos gêneros
textuais constituídos por meio de diversos tipos textuais. Embora sejam realmente variados
os gêneros textuais que circulam na sociedade, no Enem é cobrado um tipo bem específico:
O TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO.

22
Atenção: Na próxima seção deste módulo, vamos dar
atenção especial à redação do Enem como gênero. Por
enquanto, vamos tratar do tipo textual que constitui o
gênero redação do Enem. Embora haja muitas
controvérsias sobre se e como identificar a redação do
Enem como um gênero, vamos simplificar as coisas e
dizer apenas que a redação do Enem é um gênero
constituído por meio do tipo dissertativo-argumentativo.
Na próxima seção, explicaremos mais detalhadamente
esse aspecto.

Para começo de conversa, vamos dizer que o texto dissertativo-argumentativo, como


todos os outros, apresenta algumas características bem específicas, que estão relacionadas
tanto à sua estrutura quanto ao seu estilo e à composição do seu conteúdo. Assim, quanto
à estrutura, por exemplo, um texto dissertativo-argumentativo deve ter sempre uma
introdução, um desenvolvimento e uma conclusão; quanto ao estilo, deve ser escrito em
linguagem formal, utilizando-se a norma culta da língua portuguesa, de modo impessoal;
quanto à composição do seu conteúdo, deve apresentar uma tese e argumentos para
defender o ponto de vista construído na tese; no caso da redação do Enem, além disso,
precisa apresentar uma proposta de intervenção para o problema discutido no texto.
Vejamos com mais detalhes todos esses aspectos e como tudo isso funciona na
construção do texto dissertativo-argumentativo. Antes disso, precisamos ter em mente que
um texto dissertativo-argumentativo tem como finalidade analisar, explicar, interpretar e
avaliar determinados aspectos relacionados a um tema proposto para discussão e à defesa
de um ponto de vista a respeito desse tema, por meio de argumentos que sejam
convincentes para orientar o leitor a uma determinada conclusão.
Assim, no texto dissertativo-argumentativo, haverá sempre uma TESE a ser
defendida por meio de ARGUMENTOS organizados de forma a convencer o leitor.

TESE • Ponto de vista a ser


defendido.

ARGUMENTOS • Justificativas para a


desfesa do ponto de vista.

23
Assim, o autor do texto dissertativo-argumentativo, diante do tema sobre o qual ele
vai discorrer, deve primeiramente tomar uma posição, apresentar um ponto de vista sobre
esse tema e, em seguida, deve procurar convencer o leitor, utilizando elementos que ajudem
a justificar o seu ponto de vista, ou seja, utilizando argumentos. Os argumentos podem ser
constituídos, por exemplo, de fatos, dados estatísticos, exemplificações, que ajudem a
comprovar a tese defendida.
Em geral, a tese é apresentada na introdução do texto, e os argumentos, no
desenvolvimento. Não há uma regra sobre quantidades de parágrafos para o texto
dissertativo-argumentativo, mas, em geral, ele é estruturado em torno de quatro ou cinco
parágrafos: um parágrafo para a introdução; dois ou três para o desenvolvimento; um para
a conclusão. Mas lembre-se: isso não é uma regra. O que acontece normalmente é que um
parágrafo é suficiente para a apresentação da tese na introdução, cada parágrafo do
desenvolvimento é suficiente para cada argumento selecionado pelo autor, e um parágrafo
é suficiente para a conclusão.
Assim, teríamos um esquema mais ou menos assim para o texto dissertativo-
argumentativo:

INTRODUÇÃO

• 1º parágrafo: apresentação da tese.

DESENVOLVIMENTO

• 2º parágrafo: desenvolvimento do argumento 1.


• 3º parágrafo: desenvolvimento do argumento 2.

CONCLUSÃO

• 4º parágrafo: proposição final.

De acordo com esse esquema, o autor do texto dissertativo-argumentativo pode


apresentar sua tese – ou seja, o ponto de vista que ele vai defender sobre o tema – no
primeiro parágrafo da redação. Nos dois parágrafos seguintes, ele fará o desenvolvimento
do seu texto, apresentando argumentos – ou seja, vai apresentar as justificativas para
defender o seu ponto de vista. Finalmente, no quarto e último parágrafo, ele fará a conclusão
– ou seja, apresentará um “desfecho” para a discussão que foi desenvolvida ao longo da
redação.

24
Atenção: Este é apenas um esquema ilustrativo. Como
dissemos, não há uma regra para a quantidade de
parágrafos do texto dissertativo-argumentativo, mas na
redação do Enem é uma boa sugestão, devido ao
número de linhas disponíveis para o texto.

O mais importante, em resumo, é você saber que, na redação do Enem, é preciso


escrever um texto dissertativo-argumentativo, atendendo a um princípio básico de
estruturação em que você deve:
APRESENTAR UMA TESE – que é a ideia que vai ser defendida no texto;
DESENVOLVER ARGUMENTOS – que são as justificativas para convencer o leitor
a concordar com a tese defendida;
FAZER UMA CONCLUSÃO – que é o fechamento de toda a discussão feita.

Dica do Professor: Na redação do Enem, é exigido que


o candidato – o autor do texto – faça uma proposta de
intervenção social para o problema abordado.
Normalmente, essa proposta se encaixa muito bem na
conclusão. Estudaremos esse aspecto mais
detalhadamente no decorrer dos nossos estudos.

Todo esse percurso deve ser feito utilizando-se uma linguagem impessoal e de
acordo com a norma culta da língua portuguesa. Isso quer dizer que deve ser evitada a
pessoalidade do discurso, ou seja, o uso da primeira pessoa gramatical (eu, nós) e que a
escrita deve seguir as regras da gramática normativa da língua portuguesa.
Para finalizar esta seção de estudos sobre o texto dissertativo-argumentativo, vamos
analisar uma redação que recebeu nota mil no Enem 2018. Ou seja, vamos ver como tudo
isso funciona na prática.
O texto escolhido foi produzido por Carolina Mendes Pereira e está disponível na
CARTILHA DO PARTICIPANTE DO ENEM 2019. O tema é “Manipulação do comportamento
do usuário pelo controle de dados na internet”.

Em sua canção “Pela Internet”, o cantor brasileiro Gilberto Gil louva a quantidade de
informações disponibilizadas pelas plataformas digitais para seus usuários. No entanto, com

25
o avanço de algoritmos e mecanismos de controle de dados desenvolvidos por empresas de
aplicativos e redes sociais, essa abundância vem sendo restringida e as notícias, e produtos
culturais vêm sendo cada vez mais direcionados – uma conjuntura atual apta a moldar os
hábitos e a informatividade dos usuários. Desse modo, tal manipulação do comportamento
de usuários pela seleção prévia de dados é inconcebível e merece um olhar mais crítico de
enfrentamento.
Em primeiro lugar, é válido reconhecer como esse panorama supracitado é capaz de
limitar a própria cidadania do indivíduo. Acerca disso, é pertinente trazer o discurso do
filósofo Jürgen Habermas, no qual ele conceitua a ação comunicativa: esta consiste na
capacidade de uma pessoa em defender seus interesses e demonstrar o que acha melhor
para a comunidade, demandando ampla informatividade prévia. Assim, sabendo que a
cidadania consiste na luta pelo bem-estar social, caso os sujeitos não possuam um pleno
conhecimento da realidade na qual estão inseridos e de como seu próximo pode desfrutar
do bem comum – já que suas fontes de informação estão direcionadas –, eles serão
incapazes de assumir plena defesa pelo coletivo. Logo, a manipulação do comportamento
não pode ser aceita em nome do combate, também, ao individualismo e do zelo pelo bem
grupal.
Em segundo lugar, vale salientar como o controle de dados pela internet vai de
encontro à concepção do indivíduo pós-moderno. Isso porque, de acordo com o filósofo pós-
estruturalista Stuart-Hall, o sujeito inserido na pós-modernidade é dotado de múltiplas
identidades. Sendo assim, as preferências e ideias das pessoas estão em constante
interação, o que pode ser limitado pela prévia seleção de informações, comerciais, produtos,
entre outros. Por fim, seria negligente não notar como a tentativa de tais algoritmos de criar
universos culturais adequados a um gosto de seu usuário criam uma falsa sensação de livre-
arbítrio e tolhe os múltiplos interesses e identidades que um sujeito poderia assumir.
Portanto, são necessárias medidas capazes de mitigar essa problemática. Para tanto,
as instituições escolares são responsáveis pela educação digital e emancipação de seus
alunos, com o intuito de deixá-los cientes dos mecanismos utilizados pelas novas
tecnologias de comunicação e informação e torná-los mais críticos. Isso pode ser feito pela
abordagem da temática, desde o ensino fundamental – uma vez que as gerações estão,
cada vez mais cedo, imersas na realidade das novas tecnologias –, de maneira lúdica e
adaptada à faixa etária, contando com a capacitação prévia dos professores acerca dos
novos meios comunicativos. Por meio, também, de palestras com profissionais das áreas da
informática que expliquem como os alunos poderão ampliar seu meio de informações e
demonstrem como lidar com tais seletividades, haverá um caminho traçado para uma
sociedade emancipada.
Figura 2: Redação Nota 1000/Enem 2018.
Fonte: BRASIL/INEP (2019). A redação do Enem 2019: cartilha do participante. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem2019_cartilha_participant
e.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.

Com relação à estrutura, note que a redação apresenta quatro parágrafos: um para a
introdução; dois para o desenvolvimento; um para a conclusão. Retomando o esquema
apresentado anteriormente, podemos sintetizar a redação da seguinte maneira:

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INTRODUÇÃO

1º parágrafo: apresentação da tese.

O ponto de vista defendido pela autora é o de que é preciso haver um


olhar crítico e de enfrentamento em relação à manipulação do
comportamento de usuários da internet ocasionda pela seleção prévia
inconcebível de dados na rede.

DESENVOLVIMENTO

2º parágrafo: desenvolvimento do argumento 1.

A primeira justicativa para o ponto de vista defendido refere-se à noção


de ação comunicativa, do filósofo Jürgen Habermas, que consiste na
ideia de que a capacidade de uma pessoa em defender seus interesses
e demonstrar o que acha melhor para a comunidade demanda alta
informatividade, por isso essa capacidade fica prejudicada e
comprometida, já que as fontes de informação são manipuladas e
direcionadas.

3º parágrafo: desenvolvimento do argumento 2.

A segunda justificativa para o ponto de vista defendido centra-se na


ideia de que as múltiplas identidades e interesses que um sujeito pode
assumir, de acordo com o pensamento do filósofo Stuart-Hall, ficam
limitadas devido à prévia seleção de informações, comerciais, produtos,
entre outros.

CONCLUSÃO

4º parágrafo: proposição final.

Para finalizar, a autora propõe que as instituições escolares sejam


responsáveis pela educação digital dos alunos, cabendo a elas
abordagens que colaborem na formação de indivíduos críticos e
emancipados capazes de lidar com a seletividade necessária em
relação à manipulação de informações na internet.

Note que a autora da redação apresenta na conclusão a sua proposta de intervenção


para o problema discutido, o que, conforme já dissemos, é o mais comum.

27
Atividade: Antes de passar para a próxima seção de
estudos deste módulo, vá até a sala virtual e resolva os
“Exercícios de avaliação da aprendizagem #3”.

Agora que já estamos bem familiarizados com o texto dissertativo-argumentativo,


podemos concentrar nossa atenção no principal foco dos nossos estudos neste curso: a
redação do Enem. Vamos lá?

1.4. A redação do Enem: características e especificidades

Depois de termos aprendido um pouco sobre o Enem, termos compreendido as


principais diferenças entre gênero e tipo textual e termos aprofundado nas características do
texto dissertativo-argumentativo, vamos passar para o que é mais importante neste curso, a
redação do Enem propriamente dita. Como você deve já estar imaginando, vamos
considerar a redação do Enem como um gênero. Apesar de essa denominação ser um pouco
controversa entre os estudiosos, para os nossos objetivos nesta apostila, é bem adequado
tratarmos a redação do Enem como um gênero textual. Isso porque estamos nos referindo
a um texto com características bem peculiares, produzido em um contexto comunicativo bem
definido e com objetivos bem específicos.
A redação, conforme já dissemos anteriormente, tem um peso muito grande na nota
final do participante do Enem. Portanto, é muito importante dominar bem esse gênero
textual, atentando-se para aspectos que fazem toda a diferença na hora de escrever. Vamos
começar dizendo que, para se sair bem na redação, é preciso também ter uma boa
capacidade de leitura, para compreender adequadamente a proposta de redação, pois é
essa compreensão bem feita que irá favorecer ao autor do texto fazer uma adequada
abordagem temática. Nesse sentido, vamos começar nossos estudos deste módulo,
explorando a proposta de redação do Enem, como ela é organizada e o que devemos ter
em mente para fazer uma boa leitura dela e, então, conseguirmos dar o primeiro passo para
uma boa redação.
Escolhemos para esta parte dos nossos estudos a proposta de redação do Enem de
2018, que foi disponibilizada na CARTILHA DO PARTICIPANTE DO ENEM 2019. O tema
de 2018, conforme já dissemos, foi a “Manipulação do comportamento do usuário pelo
controle de dados na internet”.

28
Dica do Professor: No site do Inep, você encontra todas
as propostas e manuais de anos anteriores, com
exemplos de redações que obtiveram nota 1000.

Antes de começarmos a analisar a proposta de redação, vejamos algumas dicas para


um bom entendimento dela. A primeira de todas é a mais simples e ao mesmo tempo a mais
importante: LEIA TUDO COM MUITA ATENÇÃO. Não tenha pressa. Afinal, não dizem por
aí que a pressa é inimiga da perfeição? Leia as instruções, leia os textos motivadores –
aqueles que vêm logo após as instruções e que servem de base, de motivação, como o
próprio nome diz, para você escrever a sua redação –, por fim, leia a descrição da proposta
– que é onde se encontra o tema sobre o qual sua redação deve versar. Enfim, leia tudo. E
leia mais de uma vez, se for necessário.
Depois, ou mesmo durante a primeira leitura, marque os pontos principais dos textos
motivadores. Assim, você terá uma visão mais ampla e também segura da abordagem
temática proposta e isso vai ajudar muito na hora de se posicionar para construir sua tese e
para a seleção dos argumentos que a sustentarão. Afinal, não é à toa que eles se chamam
“textos motivadores”.
Então, vejamos como é apresentada a proposta de redação do Enem:

29
Figura 3: Proposta de redação do Enem.
Fonte: BRASIL/INEP (2019). A redação do Enem 2019: cartilha do participante. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem2019_cartilha_participant
e.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.

30
As propostas de redação do Enem seguem sempre o mesmo formato todo ano. Após
a leitura atenta da proposta de redação do Enem 2018, que acaba de ser apresentada, você
deve ter notado que o primeiro elemento que aparece são as INSTRUÇÕES PARA A
REDAÇÃO, as quais orientam sobre os procedimentos que devem ser seguidos e algumas
explicações sobre as situações que levam à nota zero. Em seguida, são apresentados os
TEXTOS MOTIVADORES, ou seja, textos que dialogam com o tema sobre o qual você
deverá escrever. São textos de gêneros variados, em linguagem verbal e não verbal, que
apresentam perspectivas, opiniões, dados, informações sobre o tema. Finalmente, é
apresentada a PROPOSTA DE REDAÇÃO em si, na qual há o comando para a escrita da
redação, com orientações sobre o tipo de texto (dissertativo-argumentativo) e a modalidade
escrita a ser utilizada (formal, ou seja, de acordo com a norma padrão da língua portuguesa),
o tema a ser discutido (no caso da proposta do Enem 2018, “Manipulação do
comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”) e uma instrução para
que se apresente uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos.

Atenção: A instrução para que haja uma proposta de


intervenção social para o problema que será discutido
pelo autor da redação e que essa proposta respeite os
direitos humanos é uma característica bem específica da
redação do Enem. Esse aspecto será mais
detalhadamente estudado no Módulo 3 do nosso curso.

Dica do Professor: Resumidamente, os direitos


humanos são as normas que reconhecem e protegem a
dignidade de todos os seres humanos. Esse aspecto
será estudado com mais detalhes no Módulo III do nosso
curso. Para saber mais, consulte o site da ONU
(Organização das Nações Unidas) (link), da Unicef
(Fundo das Nações Unidas para a Infância) (link) ou a
Declaração Mundial dos Direitos Humanos
(download). Acesso em: 02 out. 2020.

Tratando mais especificamente dos textos motivadores, pois são muito importantes
para ajudar na abordagem a ser feita na redação, note que foram apresentados quatro textos
versando sobre várias dimensões do tema:
• o Texto I é um fragmento de reportagem que discute o funcionamento de
algoritmos em aplicativos e programas que se concentram na construção de um
universo cultural personalizado para o usuário;

31
• o Texto II é um fragmento de artigo que discute o processo de controle de
conteúdo informacional, apontando que esse controle parte das indicações dos
usuários, é mediado por moderadores e decidido por algoritmos;
• o Texto III é um infográfico que mostra estatísticas do ano de 2016 sobre o
acesso à internet por gênero, faixa etária e finalidade;
• o Texto IV é um fragmento de artigo que mostra como a filtragem de informações
pelos sistemas pode gerar a ilusão de liberdade de escolha para o usuário.

Como se pode observar, foram apresentados como textos motivadores gêneros


variados, mas todos voltados para o tema que foi proposto.
Em resumo, na prova de redação do Enem, você deverá escrever um texto do tipo
dissertativo-argumentativo, sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política.
Nessa redação, você deverá defender uma TESE – ou seja, uma opinião a respeito do tema
proposto – com base em ARGUMENTOS consistentes, estruturados com coerência e
coesão para dar uma unidade textual à sua redação – aspectos que serão estudados mais
detalhadamente nos módulos seguintes do nosso curso – e fazer uma PROPOSTA DE
INTERVENÇÃO SOCIAL para o problema apresentado no desenvolvimento do seu texto.
Tudo isso pode ser esquematizado da seguinte forma:

TEMA

TESE

ARGUMENTOS

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Dica do Professor: A redação do Enem não precisa ter


título.

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Tudo isso que foi visto até aqui é avaliado na redação do Enem por meio da
observação de cinco competências, que valem, cada uma, 200 pontos, totalizando os 1000
pontos que valem a redação, como já foi explicado anteriormente. Essas cinco competências
serão estudadas detalhadamente nos módulos seguintes, mas já podemos adiantar um
pouco sobre como elas são avaliadas.

Competência 1
• Na competência 1 é avaliado o domínio da norma culta da língua
portuguesa: pontuação, acentuação, ortografia, regência,
concordância, entre outros aspectos.

Competência 2
• Na competência 2 é avaliada a estrutura do texto dissertativo-
argumentativo e a abordagem do tema, verificando se o texto
apresenta as características do texto dissertativo-argumentativo e
se o tema foi adequadamente discutido.

Competência 3
• Na competência 3 é avaliada a organização textual dos
argumentos, tendo em vista sua seleção, sua relação e sua
interpretação, verificando se eles são adequados e pertinentes.

Competência 4
• Na competência 4 é avaliada a utilização de mecanismos de
coesão na construção da argumentação: emprego de recursos
coesivos, tais como as conjunções e os pronomes, por exemplo.

Competência 5
• Na competência 5 é avaliada a proposta de intervenção social,
que deve conter cinco elementos essenciais: o agente, a ação, o
modo/meio, o efeito e o detalhamento da proposta.

Finalmente, chegando ao final dos estudos deste módulo, propomos que você leia e
analise a redação a seguir, escrita por Mattheus Martins Wengenroth Cardoso, sobre o tema
do Enem de 2018 e que tirou nota 1000 no exame. Este é um exercício de aprofundamento
da aprendizagem. Vamos lá?
Leia a redação uma primeira vez com bastante atenção, mas sem se preocupar em
analisá-la. Depois, volte a ela, relendo cuidadosamente e procurando responder às
seguintes questões:

33
• A redação exemplifica bem os estudos que fizemos sobre as características do
texto dissertativo-argumentativo? Por quê?
• O autor discutiu adequadamente o tema proposto?
• Qual a tese do autor? Em que parágrafo ela é apresentada?
• Qual o primeiro argumento que o autor utiliza para defender a sua tese? Em qual
parágrafo ele é apresentado?
• Qual o segundo argumento? Em qual parágrafo ele é apresentado?
• Qual a proposta de intervenção social que o autor apresenta? Ela respeita os
direitos humanos?

O advento da internet possibilitou um avanço das formas de comunicação e permitiu


um maior acesso à informação. No entanto, a venda de dados particulares de usuários se
mostra um grande problema. Apesar dos esforços para coibir essa prática, o combate à
manipulação de usuários por meio de controle de dados representa um enorme desafio.
Pode-se dizer, então, que a negligência por parte do governo e a forte mentalidade
individualista dos empresários são os principais responsáveis pelo quadro.
Em primeiro lugar, deve-se ressaltar a ausência de medidas governamentais para
combater a venda de dados pessoais e a manipulação do comportamento nas redes.
Segundo o pensador Thomas Hobbes, o Estado é responsável por garantir o bem-estar da
população, entretanto, isso não ocorre no Brasil. Devido à falta de atuação das autoridades,
grandes empresas sentem-se livres para invadir a privacidade dos usuários e vender
informações pessoais para empresários que desejam direcionar suas propagandas. Dessa
forma, a opinião dos consumidores é influenciada, e o direito à liberdade de escolha é
ameaçado.
Outrossim, a busca pelo ganho pessoal acima de tudo também pode ser apontado
como responsável pelo problema. De acordo com o pensamento marxista, priorizar o bem
pessoal em detrimento do coletivo gera inúmeras dificuldades para a sociedade. Ao vender
dados particulares e manipular o comportamento de usuários, empresas invadem a
privacidade dos indivíduos e ferem importantes direitos da população em nome de interesse
individuais. Desse modo, a união da sociedade é essencial para garantir o bem-estar coletivo
e combater o controle de dados e a manipulação do comportamento no meio digital.
Infere-se, portanto, que assegurar a privacidade e a liberdade de escolha na internet
é um grande desafio no Brasil. Sendo assim, o Governo Federal, como instância máxima de
administração executiva, deve atuar em favor da população, através da criação de leis que
proíbam a venda de dados dos usuários, a fim de que empresas que utilizam essa prática
sejam punidas e a privacidade dos usuários seja assegurada. Além disso, a sociedade, como
conjunto de indivíduos que compartilham valores culturais e sociais, deve atuar em conjunto
e combater a manipulação e o controle de informações, por meio de boicotes e campanhas
de mobilização, para que os empresários sintam-se pressionados pela população e sejam
obrigados a abandonar a prática.
Afinal, conforme afirmou Rousseau: “a vontade geral deve emanar de todos para ser
aplicada a todos”.

34
Figura 4: Redação Nota 1000 no Enem 2018.
Fonte: BRASIL/INEP (2019). A redação do Enem 2019: cartilha do participante. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem2019_cartilha_participant
e.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.

Mídia digital: Antes de resolver os exercícios finais de


avaliação da aprendizagem deste módulo de estudos,
assista à “Videoaula temática: características da redação
do Enem”.

Atividade: Antes de passar para o próximo módulo de


estudos, vá até a sala virtual e resolva os “Exercícios
propostos como avaliação da aprendizagem #4” para a
finalização deste módulo.

Finalmente, chegamos ao final do Módulo 1 do nosso curso de Redação para o


Enem. Esperamos que tenha sido bem proveitoso até aqui e que a continuação dos módulos
seguintes lhe possibilidade ainda mais conhecimento sobre a redação do Enem e que você
aumente cada vez mais suas competências para escrever o tipo de texto dissertativo-
argumentativo.

Até a próxima semana.


Bons estudos!

35
36
Semana 2 – Domínio da norma culta e mecanismos de
coesão: compreendendo e aperfeiçoando as competências
I e IV da redação do Enem

Objetivos
Nesta semana, iremos estudar, de forma mais específica, sobre as
competências I e IV da redação do ENEM, quais sejam: domínio da
norma culta e mecanismo de coesão.

Como foi mostrado no Módulo 1, a redação do ENEM é avaliada por meio da


observação de cinco competências.
Neste módulo, voltaremos nossa atenção para as competências que avaliam mais
especificamente os conhecimentos linguísticos – modalidade escrita formal da língua
portuguesa – e textuais – coesão – da redação do ENEM: as competências 1 e 4, que são
dominar a norma culta da língua portuguesa e demonstrar conhecimento dos
mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação,
respectivamente.
A menção a essas duas competências é feita de forma bem explícita no comando
para escrita do texto ao final da proposta de redação, conforme foi visto na última seção do
módulo anterior.
Vejamos:

Figura 5: Comando da proposta de redação de Enem.


Fonte: BRASIL/INEP (2019). A redação do Enem 2019: cartilha do participante. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem2019_cartilha_participant
e.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.

Desse modo, por se referirem a aspectos linguísticos e textuais da Redação, essas


duas competências estão diretamente relacionadas e, juntas, correspondem a 40 % da nota
total da Redação.

37
É, então, muito importante conhecer, com detalhes, quais aspectos são avaliados nos
cinco níveis dessas competências, não é mesmo? É o que faremos nas próximas seções.
Vamos lá?

2.1. Competência 1 na redação do Enem: o que é necessário conhecer para


dominar a norma culta da Língua Portuguesa?

A primeira competência da Matriz de Referência do Enem avalia se o participante


domina a modalidade escrita formal da Língua Portuguesa, isto é, se o participante conhece
e sabe usar, em seus textos, as convenções da língua escrita, como, por exemplo, regras
de ortografia e de acentuação gráfica regidas pelo atual Acordo Ortográfico.
Nessa perspectiva, essa avaliação é pautada pelas regras da norma-padrão e o
domínio da modalidade escrita formal é observado na adequação do texto em relação tanto
às regras gramaticais quanto à fluidez da leitura, que está diretamente associada à qualidade
da construção sintática.
Assim, no que se refere à competência 1, a Redação do ENEM é avaliada
basicamente sob dois aspectos: qualidade da estrutura sintática e presença de desvios
(de convenções da escrita, gramaticais, de escolha de registro e de escolha vocabular).
Nas subseções a seguir, veremos, de forma mais específica, como a avaliação
desses aspectos é sistematizada.

2.1.1 Estrutura sintática

Conforme dissemos anteriormente, na competência 1, além da presença de desvios,


a qualidade da estrutura sintática dos períodos também é avaliada. Nessa medida, as
orações e períodos do texto produzido devem ser estruturados sempre buscando garantir
que eles estejam completos e contribuam para a fluidez da leitura.
Se observarmos as maneiras como as palavras se associam para formar enunciados
linguísticos, vamos perceber que as combinações de palavras não ocorrem de forma
aleatória, pelo contrário: essas combinações são sempre reguladas por uma sintaxe, que
define as ordens possíveis das palavras no interior de estruturas sintáticas.
Desse modo, uma boa estrutura sintática pressupõe a existência de determinados
elementos oracionais que se organizam na frase e garantem a fluidez da leitura e
apresentação clara das ideias do participante, organizadas em períodos bem estruturados e
completos.
Por outro lado, textos com falhas relacionadas à estrutura sintática geralmente
apresentam períodos truncados e justaposição de palavras, ausência de termos ou excesso
de palavras (elementos sintáticos). Pode haver ainda a presença de um ponto final
separando orações que deveriam constituir um mesmo período (truncamento) ou uma

38
vírgula no lugar de um ponto final que deveria indicar o fim da frase (justaposição), o que
interfere na qualidade da estrutura sintática. A frequência com que essas falhas ocorrem no
texto e o quanto elas prejudicam sua compreensão como um todo é que ajudará a definir o
nível que uma redação deve ser avaliada.
Para que você não tenha problemas de estrutura sintática em seu texto,
apresentamos, seguir, aqueles considerados mais comuns.

Truncamento de períodos
Truncamento de períodos é uma falha sintática em que pode ocorrer (i) separação da
oração principal e oração subordinada, (ii) separação de duas orações coordenadas ou,
ainda, (iii) separação de períodos, frases ou partes de uma oração que deveriam constituir
um único período. Vejamos:
(i) Quando a família e a escola se unem. As crianças são as principais
favorecidas.
(ii) As crianças estavam frequentando a escola regularmente. Mas não estavam
fazendo as tarefas escolares em casa.
(iii) Nos séculos anteriores ao século XXI. As crianças não iam para a escola antes
dos 6 anos de idade.

Nos exemplos acima, as ocorrências de truncamentos ocorrem a partir da separação


com ponto final de partes do período em que deveria ter se usado vírgulas.

Justaposição de orações e/ou períodos


Outra falha relacionada à estrutura sintática é caracterizada por períodos e/ou
orações que deveriam constituir períodos independentes, mas são justapostos formando um
só período. Em outras palavras, é uma falha que se refere a períodos longos, o que prejudica
muito a fluidez do texto.

• Crianças em idade escolar geralmente têm atividades de fixação da aprendizagem


para serem feitas em casa é muito importante que os pais fiquem atentos
comportamento das crianças durante a realização dessas tarefas.

O período acima ilustra um exemplo de justaposição de ideias. Em outras palavras,


não há separação do período em orações e isso prejudica a fluidez da leitura e,
consequentemente, a compreensão do texto. Assim, o período em questão ficaria mais claro
se estivesse reescrito da seguinte forma:

39
• Crianças em idade escolar, geralmente, têm atividades de fixação da aprendizagem
para serem feitas em casa. Em virtude disso, é muito importante que os pais fiquem
atentos ao comportamento das crianças durante a realização dessas tarefas.

Excesso, duplicação ou ausência de palavras (elementos sintáticos)


Ocorre falha na estrutura sintática também quando se verifica (i) excesso ou (ii)
ausência de elementos sintáticos que não estejam relacionados a problemas de regência ou
de paralelismo, conforme pode ser visualizado a seguir:

(i) Crianças em idade escolar são fortemente influenciadas pelas as atitudes dos
professores.
(ii) É importante que os pais fiquem atentos comportamento das crianças durante a
realização de tarefas.

No primeiro exemplo, temos uma falha de estrutura sintática por excesso, já que
ocorre repetição de elementos sintáticos, isto é, há a repetição do artigo definido ‘as’ na
expressão ‘pelas as redes’, visto que já existe um artigo na contração ‘pelas’ (preposição
‘por’ + artigo ‘as’). Já, no segundo caso, há uma falha de estrutura sintática por ausência de
um elemento sintático, visto que a expressão ‘fiquem atentos comportamento das crianças’
deveria ser, na verdade, ‘fiquem atentos ao comportamento das crianças’.

2.1.2 Os desvios

Além da qualidade da estrutura sintática, na competência 1, também são avaliados


os desvios que se subdividem em quatro categorias, a saber: (i) desvios de convenções da
escrita, (ii) desvios gramaticais, (iii) desvios de escolha de registro e (iv) desvio de escolha
vocabular.
Para se ter sucesso na avaliação da competência, é importante conhecer cada uma
das quatro categorias de desvios. Vejamos, então, cada uma delas com mais detalhes:

Desvios de convenções de escrita


Os desvios de convenções de escrita relacionam-se diretamente ao modo como se
escrevem as palavras. Dessa maneira, tanto a grafia correta, quanto a acentuação e o uso
de hífen serão avaliados segundo Novo Acordo Ortográfico vigente no Brasil, de forma
obrigatória, desde 2016. Além desses tipos de desvios, também são considerados desvios
de convenções de escrita o uso inadequado de maiúsculas e minúsculas, bem como a
separação silábica ou translineação que não atenda às regras da gramática normativa.

40
Dica do Professor: Visite a página oficial da Academia
Brasileira de Letras (link). Lá, além de informações sobre
o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, você
encontrará o VOLP, Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, em que, por meio de uma ferramenta de
busca, é possível verificar a grafia atualizada das
palavras.

Desvios gramaticais
Os desvios gramaticais, por sua vez, dizem respeito a questões que estão menos
relacionadas à observação de palavras de forma isolada; referem-se, por outro lado, a
problemas gerados pelo estabelecimento indevido de relações entre elas, conforme as
regras da gramática normativa, tais como:
1. regência;
2. concordância;
3. pontuação;
4. paralelismo sintático;
5. emprego de pronomes ou colocação pronominal; e
6. crase.

No parágrafo abaixo, temos exemplos de cada um dos seis desvios gramaticais


listados anteriormente para que possamos recordar em que circunstâncias eles podem
ocorrer. Vejamos:

• Nos séculos anteriores (1) o século XXI (3) as crianças não iam para a escola
antes dos 6 anos de idade. Contemporaneamente, no entanto, elas vão antes
mesmo dos 4 anos, que é a idade mínima obrigatória. Assim, aprende (2), desde
cedo, além de (5) relacionar com outra (2) crianças, o que pode ser chamado de
socialização, conhecimentos básicos necessários a (6) introdução e (4)
consolidação do processo de ensino e aprendizagem. Para que isso ocorra de
forma efetiva é muito importante que haja a participação dos pais, visto que (3)
quando a família e a escola (5) unem (3) as crianças são as principais favorecidas.

No trecho apresentado, temos exemplos de desvios gramaticais que são avaliados


na competência 1. Logo no início, temos um desvio gramatical referente à regência nominal
(1 = ao século XXI) e à ausência de pontuação (3 = vírgulas). Na sequência, há desvios de

41
concordância verbal (2 = aprendem) e nominal (2 = outras), crase (6 = à introdução) e,
também, quanto ao emprego de pronomes (5 = se relacionar; 5 = se unem) e paralelismo
sintático (4 = à consolidação). Assim, sem desvios gramaticais, o parágrafo ficaria reescrito
da seguinte forma:

• Nos séculos anteriores ao século XXI, as crianças não iam para a escola antes
dos 6 anos de idade. Contemporaneamente, no entanto, elas vão antes mesmo
dos 4 anos, que é a idade mínima obrigatória. Assim, aprendem, desde cedo,
além de se relacionar com outras crianças, o que pode ser chamado de
socialização, conhecimentos básicos necessários à a introdução e à consolidação
do processo de ensino e aprendizagem. Para que isso ocorra de forma efetiva é
muito importante que haja a participação dos pais, visto que, quando a família e
a escola se unem, as crianças são as principais favorecidas.

Desvios de escolha de registro


O texto dissertativo-argumentativo escrito na modalidade escrita formal da Língua
Portuguesa pressupõe que a redação seja redigida sem marcas que apontem para uma
influência da oralidade na escrita. Em outros termos, devem ser evitados, no texto da
Redação, expressões ou termos considerados informais e, por esse motivo, estejam
carregados de marca de oralidade, tais como:
• expressões coloquiais como ‘um monte’,’ né’, ‘tá beleza’ ou formas usadas na
Internet, como ‘blz’, ‘vc’, ‘eh’;
• o uso de diminutivos e aumentativos, como ‘basiquinho’ e ‘muitão’ e, ainda,
• reduções como ‘pra’, ‘pro’) e abreviaturas, como ‘p/’ (no lugar de ‘para’) ou ‘c/’ (no
lugar de ‘com’).

Desvio de escolha vocabular


Os desvios de escolha vocabular dizem respeito à escolha lexical imprecisa de uma
palavra no contexto em que ela se encontra. Muitas vezes, esse desvio ocorre em virtude
de alguma semelhança entre a palavra adequada ao contexto e a palavra de fato utilizada
no texto. Trocas como ‘afinidade’ e ‘finalidade’, por exemplo, são muito comuns.

Atenção: Para se alcançar uma boa avaliação na


competência 1, antes de entregar a Redação, é
importante fazer uma leitura atenta do texto, a fim de que
tanto falha de estrutura sintática quanto desvios
facilmente identificáveis sejam evitados.

42
Atividade: Antes de continuar os estudos deste módulo,
vá até a sala virtual e resolva os “Exercícios de avaliação
da aprendizagem #5).

2.2 Os mecanismos de coesão e seu papel na articulação e no sentido


construídos no texto

Para começo de conversa, de forma bem simplificada, podemos dizer que


mecanismos de coesão são elementos linguísticos utilizados para a boa articulação das
partes que compõem o texto. Em outras palavras, são elementos que têm o papel de ligar
as partes do texto, ou seja, eles permitem as conexões necessárias entre as palavras, as
orações, os períodos, os parágrafos. Além de promoverem essa ligação, que podemos
chamar de “costura textual”, os mecanismos coesivos também podem promover
determinadas relações de sentido entre essas partes. Vejamos alguns exemplos:

1) A prova estava fácil, por isso os alunos conseguiram boas notas.

Note que a expressão em negrito (por isso) promove uma ligação entre a primeira
parte da frase (também chamada de período), “A prova estava fácil”, e a segunda, “os alunos
conseguiram boas notas”. Ao mesmo tempo em que faz essa ligação, a expressão “por isso”
indica uma CONCLUSÃO: os alunos conseguirem boas notas é uma conclusão que se tira
do fato de a prova estar fácil, não é mesmo? Esse mecanismo de coesão chama-se
“conjunção”, um dos tipos de mecanismos de coesão. Além das conjunções, há vários outros
mecanismos coesivos, como os pronomes, por exemplo. Vejamos mais um exemplo:

2) Os alunos conseguiram boas notas. Antes da prova, eles estavam apreensivos.

Note que a palavra em negrito (eles) retoma o termo “os alunos”, promovendo uma
articulação entre os dois períodos, ou seja, as duas frases. Diferentemente de expressar
uma relação de sentido entre elas, o pronome pessoal “eles” faz uma retomada de um termo
anterior, de modo a dar progressão ao texto e evitar uma repetição. Esse tipo de coesão
também pode ser obtido por meio da utilização de palavras sinônimas ou quase sinônimas,
por exemplo. Veja:

3) Os alunos conseguiram boas notas nas provas, o que foi possível graças ao seu esforço
e à sua dedicação, características marcantes desses estudantes.

43
Note como a palavra “estudantes” retoma o termo “alunos”, evitando uma repetição
e garantindo a progressão do texto.
A essa altura, podemos lembrar que, além dos tipos de mecanismos coesivos, há
também várias formas de se construir a coesão textual. No entanto, para simplificar nossos
estudos, nesta apostila vamos nos dedicar somente a uma parte deles, enfocando mais
atentamente aqueles que normalmente causam mais dificuldade e ao mesmo tempo são
muito valorizados na avaliação da redação do ENEM, ou seja, vamos focalizar os
mecanismos de coesão que funcionam também como operadores argumentativos e que
auxiliam justamente na construção da argumentação.

Atenção: Convém destacar que a construção da coesão


textual não se resume ao emprego de operadores
argumentativos, indo muito além disso, e que há
inúmeras formas de coesão que não serão estudadas
aqui e também uma quantidade grande de conceitos cujo
uso iremos evitar com o objetivo de tornar o estudo mais
prático e simples.

Entre os operadores argumentativos mais comuns, estão as conjunções, que são


elementos linguísticos muito importantes utilizados para estabelecer ligações e relações de
sentido entre as partes do texto, conforme já foi explicado. Na redação do ENEM,
especificamente, é muito valorizado o emprego de conjunções, tanto as que fazem ligações
entres partes inseridas no interior dos parágrafos quanto entre os próprios parágrafos. A
seguir, vamos estudar os operadores argumentativos, mas não vamos nos limitar às
conjunções e vamos ver também o funcionamento de outros elementos coesivos que ajudam
na construção da argumentação, ou seja, repetindo: vamos estudar uma lista de
operadores argumentativos, bem como suas funções no texto e exemplos ilustrativos.

Dica do Professor: A lista que será estudada a seguir


foi compilada com base naquela apresentada no manual
dos avaliadores de redação do Enem. Trata-se de uma
lista bem completa, mas vale a pena lembrar que há
muitas e variadas formas de se construir a coesão
textual.

44
LISTA DE OPERADORES ARGUMENTATIVOS E EXEMPLIFICAÇÃO

1) Operadores que somam argumentos a favor da mesma conclusão

também, ainda, nem, não só... mas também,


tanto... como, além de, além disso

Na Redação do Enem, é preciso não só usar corretamente os mecanismos de coesão,


mas também é necessário diversificá-los.

2) Operadores que indicam o argumento mais forte a favor da mesma conclusão

inclusive, até mesmo, nem, nem mesmo

O emprego adequado dos mecanismos coesivos ajuda inclusive a obter uma boa nota na
competência 3.

3) Operadores que contrapõem argumentos, mostrando conclusões contrárias

mas, porém, contudo, todavia, no entanto,


entretanto, embora, ainda que, apesar de

É preciso usar muitos mecanismos coesivos na construção do texto dissertativo


argumentativo, porém é preciso tomar o cuidado para não ficar repetindo.

4) Operadores que demonstram relações de conclusão

logo, portanto, pois, por isso, por conseguinte,


em decorrência, resumindo, concluindo

45
A construção da argumentação depende muito do bom emprego de mecanismos
coesivos, portanto é preciso um bom domínio desses elementos.

5) Operadores que introduzem justificativas ou explicações

porque, porquanto, pois, visto que, já que, para


que, para, a fim de

Procure empregar elementos coesivos que expressem adequadamente as relações


de sentido que você pretende, pois elas vão ajudar na construção da sua argumentação.

6) Operadores que estabelecem relação de comparação entre elementos

mais... (do) que, menos... (do) que, tão... quanto

O emprego correto dos mecanismos coesivos é tão importante quanto a sua


diversificação no texto dissertativo-argumentativo.

7) Operadores que apontam ideias ou argumentos alternativos

ou... ou, quer... quer, seja... seja,

As conjunções são importantes mecanismos coesivos, seja na articulação entre as


partes do texto, seja no estabelecimento de relações de sentido para a argumentação.

46
8) Operadores que indicam ratificação ou explicação de enunciados anteriores

isto é, em outras palavras, ou seja, vale dizer

Os mecanismos de coesão podem atuar como importantes operadores


argumentativos, ou seja, contribuem para a construção da argumentação pretendida.

Conforme já foi explicado, há muitas e variadas formas de se construir a coesão


textual, mas esses exemplos apresentados já dão uma boa ideia dos principais mecanismos
que podem (e devem) ser empregados para a elaboração de um texto coeso, que é uma
caraterística essencial da redação do Enem. Em resumo, para se garantir a coesão textual,
alguns princípios devem ser observados:

1) Estruturação dos parágrafos: um parágrafo é uma unidade textual em torno da


qual são construídas ideias secundárias que se organizam de forma a dar essa
unidade, que pode ser obtida com o emprego de mecanismos de coesão. Além
disso, deve haver também uma articulação entre um parágrafo e outro, o que pode
ser obtido por meio do emprego de recursos coesivos, como as conjunções, por
exemplo.

2) Estruturação dos períodos: os períodos são unidades menores formadoras dos


parágrafos, são também chamados de frases e devem ser formados por várias
orações que se articulam entre si por meio dos recursos coesivos, de modo a
expressar as relações de sentido pretendidas, como causa e consequência,
tempo, explicação, conclusão, comparação, entre outras.

Por fim, deixamos algumas dicas que podem ser úteis na utilização dos mecanismos
de coesão e que, consequentemente, ajudam na construção da unidade textual, que é um
aspecto muito importante para a qualidade do texto dissertativo-argumentativo:

Utilize diversificados operadores


argumentativos para articular as orações,
os períodos e também os parágrafos!

Certifique-se de que o elemento coesivo


realmente estabelece a relação de
sentido pretendida!

47
Evite repetições, substituindo termos e
expressões por pronomes, por advérbios,
por sinônimos!

Mídia digital: Antes de resolver os exercícios finais de


avaliação da aprendizagem deste módulo de estudos,
assista à “Videoaula temática: domínio da norma culta e
mecanismos de coesão”.

Atividade: Antes de passar para o próximo módulo de


estudos, vá até a sala virtual e resolva os “Exercícios de
avaliação da aprendizagem #6” para a finalização deste
módulo.

Chegamos ao final do Módulo 2 do nosso curso Redação para o Enem. Parabéns!


Agora só falta um módulo, no qual estudaremos as estratégias textuais e argumentativas.

Até a próxima semana.


Bons estudos!

48
Semana 3 – Estratégias textuais e argumentativas:
compreendendo e aperfeiçoando as competências II, III e V

Objetivos
Nesta semana, iremos estudar o repertório sociocultural, as
estratégias argumentativas e a proposta de intervenção social,
que correspondem às competências II, III e V da redação do
Enem.

No módulo anterior, foi mostrado como a redação do Enem é avaliada nas


competências I e IV. Neste módulo, estudaremos aquelas que mais especificamente tratam
dos aspectos (1) composicional, delimitado pelo tipo de texto dissertativo-argumentativo e
focalizado nas competências II e III; e (2) configuracional, de natureza pragmático-retórica,
focalizado nas competências III e V. Então vamos lá!

3.1 Competências II, III e V: por que se articulam?

A competência II é uma das mais importantes da redação do ENEM, por isso é preciso
que você tenha uma atenção redobrada a esse item de avaliação na hora de escrever seu
texto. Você deve estar se perguntando: por quê? Primeiro, porque seu texto precisa
demonstrar que você compreendeu a proposta de redação. Isso significa que ele deve
discutir a questão social (ou problema) presente na frase temática.

Atenção: Como você estudou no item 1.4 do módulo 1,


na proposta de redação, há um comando com a
orientação sobre o tema a ser discutido. Trata-se, na
verdade, da frase temática. Essa consiste em uma frase
que traz um recorte ou afunilamento acerca de um
assunto, que é amplo e que pode conter várias
perspectivas. Assim, a frase temática “Manipulação do
comportamento do usuário pelo controle de dados na
internet” (2018) direciona o candidato sobre o que ele
deve escrever.

Em síntese, você precisa abordar o tema. Essa é uma condição mínima para que seu
texto seja avaliado. Isso também é válido para o tipo de texto (dissertativo-argumentativo),
sob pena de a redação receber nota zero.

49
Atenção: Na grade de avaliação da redação do Enem,
note que a competência II é a única em que o
participante não pode receber nota zero. Isso porque se
o candidato abordar apenas o assunto, ou outro tema, a
redação já é eliminada do processo de avaliação. Na
proposta de 2018, um texto que aborde exclusivamente
tecnologia, ou mídia, sem mencionar as palavras-chave
da frase temática, é avaliado como “fuga ao tema”. Essa
anulação também ocorre se ele abordar o tema, porém
desenvolvendo-o em outro tipo de texto, como, por
exemplo, em um relato pessoal, no qual há
predominância do tipo narrativo.

A competência II, portanto, está ligada a esses dois pré-requisitos. Em outras


palavras, satisfeitas essas condições, essa competência avalia como é a estrutura do texto,
identificando, na redação do participante, as três partes essenciais do texto, recapitulando:
tese, argumentos e conclusão. E, também, analisando se o tema é abordado de maneira
completa, ou se ele é tangenciado.

Dica do Professor: Para que se considere a abordagem


completa do tema, é preciso que você discuta e explicite
no texto cada uma das palavras-chave que compõe a
frase temática. Na proposta de 2018, o participante
precisava mencionar o controle de dados na internet e
a manipulação do comportamento e/ou as
consequências, os efeitos e os exemplos do ato de
manipular o usuário.

Atenção: A menção a apenas um dos aspectos da


temática é insuficiente e vista como abordagem
incompleta, ou seja, tangência do tema.

Para que você atinja as notas mais altas nessa competência (essa é a sua meta,
certo?), é necessário que seu texto apresente, além da abordagem completa do tema e das
três partes do texto, um repertório sociocultural produtivo. Mais para frente, explicaremos
mais detalhadamente como você pode aplicar conceitos de várias áreas dos conhecimentos
para desenvolver o tema de forma plena e consistente.

50
Continuando, a competência II é ainda central, porque é a partir dela que as
competências III e V se orientam e se organizam. Tomemos como exemplo uma das partes
do texto dissertativo-argumentativo, o desenvolvimento. Revisando o que foi dito no módulo
1, é importante que a redação apresente argumentos, pelo menos dois, cada qual em um
parágrafo distinto. Desse modo, na competência II, os argumentos indicados serão avaliados
apenas sob o ponto de vista estrutural, ou seja, se há ou não argumentos no texto, sem
considerar a qualidade deles como a diversidade de estratégias utilizadas (estudaremos
esse aspecto também em uma seção específica). Por outro lado, isso é feito na competência
III, que avalia essa seleção, relação, organização e desenvolvimento dos argumentos em
defesa de um ponto de vista. Consequentemente, para que o texto apresente informações,
fatos e opiniões relacionadas ao tema, é necessário, como previsto na competência II, que
sua abordagem seja completa.

Dica do Professor: A Cartilha do Participante de 2018


orienta que o participante deve, em sua redação,
“selecionar argumentos que sustentem sua tese e
encadeá-los, de modo que cada parágrafo apresente
informações novas, coerentes com o que foi
apresentado anteriormente, sem repetições ou saltos
temáticos, e que essas ideias sejam desenvolvidas de
modo a justificar, para o leitor, o ponto de vista escolhido”
(p. 19).

Também em relação ao repertório sociocultural, na competência II, verifica-se sua


origem, sua legitimidade, sua pertinência e seu uso produtivo. Considera-se a produtividade
do repertório o fato de ele estar vinculado à discussão do participante, ou seja, aos
argumentos. Na prova do ENEM, é esperado que você, caro estudante, faça uma leitura dos
textos motivadores que constam na folha da proposta de redação (reveja figura da p.5 desta
apostila) e, a partir da interpretação deles, identifique os argumentos que podem servir para
a defesa do seu ponto de vista sobre o tema. Esse é o primeiro passo para a construção do
seu projeto de texto. O passo seguinte consiste em associar esse argumento a um repertório
sociocultural. Portanto, temos, aqui, mais um ponto de aproximação entre essas duas
competências.

Finalmente, outro estreito diálogo se dá entre a proposta de intervenção (competência


V) e as competências II e III, uma vez que sua construção necessariamente se relaciona ao
tema e à discussão promovida no texto. Como dito no módulo 1, a proposta de intervenção
é apresentada no último parágrafo, ou seja, muitas vezes, no lugar do que poderia ser uma
conclusão síntese, o fechamento da discussão é apresentado na forma de uma proposta de
intervenção. Assim, esse parágrafo, no qual a conclusão-solução é elaborada, constitui-se
uma das três partes do texto (competência II). Contudo, convém destacar que não basta
apenas terminar a redação com esse parágrafo de proposta se a relação entre ele e o
restante da redação não estiver clara em seu projeto de texto (competência III).

51
Atenção: A Cartilha do Participante de 2018 explica que
projeto de texto “é o planejamento prévio à escrita da
redação. É o esquema que se deixa perceber pela
organização estratégica dos argumentos presentes no
texto. É nele que são definidos quais os argumentos que
serão mobilizados para a defesa de sua tese, quais os
momentos de introduzi-los e qual a melhor ordem para
apresentá-los, de modo a garantir que o texto final seja
articulado, claro e coerente”. (p.19)

Conseguiu perceber a importância da competência II? E por que você precisa


compreendê-la bem? Para ajudar nisso, você pode buscar as propostas de redação dos
anos anteriores no site do Inep e identificar as palavras-chave das frases temáticas. Esse é
um exercício que, inclusive, lhe ajudará a perceber quais temas são mais recorrentes nesse
tipo de prova. Bom estudo!

Atividade: Antes de continuar os estudos deste módulo,


vá até a sala virtual e resolva os “Exercícios de avaliação
da aprendizagem #7”.

Agora que você já sabe identificar as palavras-chave da frase temática, entendendo


o que precisa ser escrito no texto, vamos estudar como construir seu projeto de texto. Mais
especificamente, mostraremos como fazer a seleção dos argumentos para sustentar seu
ponto de vista sobre o tema. Vamos lá?

3.2 Construindo a argumentação do texto: como retirar argumentos dos


textos motivadores e como diversificá-los?

Conforme estudamos, a compreensão da proposta de redação é fundamental para a


construção de um bom texto argumentativo. Por essa razão, sugerimos que você leia com
bastante atenção a frase temática e identifique as palavras-chave. Feito isso, respire fundo
e solte o ar bem devagar pela boca. Repita isso 3 vezes. Pronto, agora, você já pode
começar a leitura dos textos motivadores.

Isso mesmo, antes de começar a escrita efetiva da redação, você precisa ler os textos
que foram disponibilizados na folha da proposta, pois a finalidade deles é justamente nortear
a sua escrita, oferecendo-lhe caminho(s) argumentativo(s). Assim, nada de já partir para a
escrita, sem ter um rumo claramente definido para onde você quer chegar com suas ideias.
Combinado?

52
Como foi dito no módulo 1, os textos motivadores são textos de gêneros variados que
dialogam com a frase temática da proposta e apresentam perspectivas, opiniões, dados,
informações sobre o tema. Por isso a leitura deles é indispensável. Assim, antes mesmo de
iniciar a leitura, passe rapidamente os olhos pelos textos motivadores, observe sua
configuração, identifique seu gênero, seu autor, a data e o local de publicação e/ou
circulação. Durante a leitura, marque os trechos que contenham opinião, dados e/ou
informação principal sobre o tema. Depois, releia novamente os textos motivadores,
interpretando o que foi selecionado por você, ou seja, busque responder, por exemplo: o que
o texto diz sobre o tema? Por que o autor menciona esse dado? O que esse dado revela?
Essa opinião contraria ou confirma a questão social (problema) presente no tema? Tomemos
o texto I da proposta de redação de 2018.

Figura 6: Fragmento de reportagem.


Fonte: BRASIL/INEP (2019). A redação do Enem 2019: cartilha do participante. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem2019_cartilha_participant
e.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.

Como foi mencionado no módulo 1, esse é um fragmento de uma reportagem, cujo


título é “O gosto na era do algoritmo”. Ela foi escrita por Daniel Verdú e publicada no site do
Jornal El país (versão brasileira). Todas essas informações encontram-se na referência
bibliográfica localizada abaixo do texto. De início, podemos nos perguntar: o que esse texto
diz sobre o tema? Note que esse fragmento faz menção a uma das palavras-chave presentes
na frase temática, a saber: “controle de dados”, que é o assunto tratado (o quê?). Outras
informações são fornecidas sobre esse controle de dados, são elas: agente (quem faz o
controle de dados?), modo (como o faz?) e finalidade/motivo (por quê? Ou para que o faz?).
Observe, na figura acima, onde estão localizadas essas informações no texto. Cada uma
delas foi marcada com uma cor diferente para uma melhor identificação. Depois de fazer
essa identificação e interpretação das informações, dados e opiniões, sintetize o conteúdo
em uma frase. Você pode escrever esse breve resumo ao lado do texto. Veja:

53
Figura 7: Exemplo de resumo anotado ao lado do texto motivador.
Fonte: elaborada pelos autores.

Atenção: Note que a proposta de redação não é apenas


uma prova de escrita, mas também de habilidades de
leitura.

Finalmente, a partir desse resumo, reflita que tipo de argumento ou estratégia


argumentativa essa informação lhe fornece. Do texto I, é possível retirar o argumento de
exemplificação. Como o próprio nome sugere, essa estratégia consiste em indicar um ou
mais exemplos que justifiquem o ponto de vista do autor. Quando o texto I menciona serviços
de streaming (de áudio: música, mas também vídeo: filmes e séries), você pode indicar
nomes de empresas que fazem uso dessas plataformas como Spotify e Netflix e explicar
que elas usam o controle de dados para se aproximar de seus usuários, com intuito de fazer
propagandas dos seus serviços e de seus conteúdos. Ao assistir a uma série na Netflix, o
sistema identifica o gênero, que o usuário costuma buscar, e encaminha outras séries nesse
mesmo estilo para ele possa assisti-las também.

Portanto não há nenhum problema em utilizar os textos motivadores na sua redação,


desde que você faça o uso “inteligente” deles. E de que maneira você pode fazer isso?
Observe a lista a seguir:

54
Figura 8: Dicas de como utilizar os textos motivadores na redação.
Fonte: elaborada pelos autores.

Atenção: Lembre-se de que a competência II avalia o


uso que o participante faz dos textos motivadores. A
depender de como eles são utilizados na redação, essa
poderá receber entre 80 e 120 pontos apenas. Dessa
maneira, os textos motivadores como repertório não é
um uso inteligente. Aprofundaremos mais sobre isso na
próxima seção.

Vejamos como Carolina Mendes Pereira, cuja redação foi reproduzida no módulo 1,
parece utilizar o texto motivador I, no 3º parágrafo de sua redação, que obteve nota 1000.

55
Figura 9: Trecho de texto motivador.
Fonte: Imagem elaborada pelos autores a partir de redação publicada na Cartilha do participante 2019.
BRASIL/INEP (2019). A redação do Enem 2019: cartilha do participante. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem2019_cartilha_participant
e.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020

A participante retoma as palavras-chave da frase temática, fazendo, assim, a


manutenção temática. Contudo, seu texto progride, à medida em que ela insere no
desenvolvimento informações novas advindas de uma área do conhecimento (repertório
sociocultural) e articula tais ideias do filósofo Stuart-Hall sobre múltiplas identidades e
interesses do sujeito com aquelas retiradas do texto motivador I, que funcionam como
argumento de causa-consequência. Essa estratégia consiste na exposição de fatos que são
tidos como a causa (aquilo que motiva, que gera) e de outros que são as consequências
(aquilo que é ocasionado, os efeitos). Carolina mostra como a seleção, por meio de
algoritmos, do conteúdo acessado pelos usuários (causa) interfere em suas vidas, limitando
as múltiplas identidades e interesses que esses sujeitos poderiam assumir (consequências).
Note, então, que a participante faz um uso inteligente do texto motivador.

Além do uso inteligente dos textos motivadores, para que sua redação tenha uma boa
argumentação, é necessário diversificar os tipos de argumentos ou estratégias
argumentativas. A seguir, enumeramos algumas delas:

1. alusões históricas;
2. causa-consequência;
3. citações de autoridade;
4. comparações entre fatos, situações, épocas ou lugares distintos;
5. dados estatísticos;
6. declaração inicial;
7. definição;
8. evidências;
9. exemplos;
10. oposição ou contraste;
11. pequenas narrativas ilustrativas;
12. pergunta(s).

56
Para finalizarmos esta seção, é importante frisar que, após selecionar e interpretar
informações, fatos, opiniões e argumentos dos textos motivadores, é preciso que você os
relacione às suas experiências de vida e aos conhecimentos adquiridos ao longo de toda a
sua formação escolar. Também que você organize seus argumentos de maneira coerente e
independente desses textos motivadores, evidenciando, assim, sua autoria.

Atividade: Antes de continuar os estudos deste módulo,


vá até a sala virtual e resolva os “Exercícios de avaliação
da aprendizagem #8”.

Na próxima seção, apresentaremos mais informações sobre o repertório


sociocultural. Preparado(a)?

3.3 Repertório sociocultural: o que é e como utilizá-lo na redação?

Como vimos, o repertório sociocultural é um dos aspectos observados na


competência II, mas que mantém uma estreita relação com alguns argumentos (competência
III), como, por exemplo: provas concretas (dados), exemplos, citações de autoridade, causa
e consequência e senso comum.

Atenção: Senso comum diz respeito a uma ideia ou


pensamento que, em geral, as pessoas têm sobre o
tema. Na redação do ENEM, uma argumentação
baseada no senso comum ou em um repertório pessoal,
ou seja, nas próprias experiências de vida do
participante, é considerada previsível.

Além disso, o repertório sociocultural é o requisito responsável por elevar a nota da


redação. Mas, para isso, é preciso fazer uma boa escolha e uso do repertório no texto,
observando estas quatro características: origem, legitimidade, pertinência e produtividade.
A origem refere-se à fonte, ou seja, de onde aquele argumento foi retirado, por exemplo, dos
textos motivadores, da experiência pessoal (repertório pessoal), ou de uma área do
conhecimento. A legitimidade diz respeito aos argumentos que são validados (reconhecidos)
pelas Áreas do Conhecimento como Linguística, História, Geografia, Filosofia, Sociologia,

57
Direito, Administração, Medicina, Jornalismo, Cinema, Literatura, entre outras. Veja no
quadro, a seguir, o que pode ser considerado repertório legitimado por essas Áreas.

TIPOS DE REPERTÓRIO LEGITIMADO

1. Conceitos e suas definições

2. Informações, citações ou fatos e/ou referências a Áreas do Conhecimento

• fatos ou períodos históricos reconhecidos;

• referência a nomes de autores, filósofos, poetas, livros, obras, peças, filmes,


esculturas, músicas etc.;

• referência a Áreas do Conhecimento e/ou seus profissionais, como Sociologia/ sociólogos,


Filosofia/filósofos, Literatura/escritores/poetas/autores, Educação/educadores, Medicina/médicos,
Linguística/linguistas etc.;

• referência a estudos e/ou pesquisas;

• referência a personalidades, celebridades, figuras, personagens etc., desde que conhecidos;

• referência aos meios de comunicação conhecidos, como redes sociais, mídia, jornais (O Globo,
Revista Veja, Rede Globo, Folha de S. Paulo etc.)

Quadro 1: Repertório sociocultural legitimado.


Fonte: Quadro elaborado pelos autores com base no Manual de Correção da redação - competência 2.
BRASIL/INEP (2019, p. 11). Enem redações 2019: material de leitura. Módulo 04: competência II. Disponível
em: https://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2020/Competencia_2.pdf. Acessado dia
10 de dezembro de 2020.

A pertinência, por sua vez, é a conexão do repertório legitimado ao menos a uma


palavra-chave da frase temática. Por fim, a produtividade, como já comentamos, é quando
o repertório legitimado e pertinente está vinculado à argumentação do texto. Por isso,
pontuamos anteriormente que, em primeiro lugar, é importante pensar nos argumentos, e só
depois associá-los ao repertório. Então, caro estudante, nada de decorar, por exemplo,
algumas frases de filósofos e tentar encaixar, a todo custo, o argumento nesse repertório.
Embora existam alguns filósofos cujas teorias (ideias) por eles propostas funcionam como
uma espécie de carta “curinga” para qualquer tema, é preciso ter certa cautela quanto a esse
uso. Mas não se preocupe, há uma maneira de você se preparar para a prova de redação
quanto ao repertório e não correr o risco de esse uso ser considerado impertinente e
improdutivo. Como assim?

A proposta de redação do ENEM é elaborada a partir de oito (8) eixos temáticos, a


saber: direitos humanos, meio ambiente, saúde, educação, diversidade cultural, ciência e
tecnologia, economia, e desenvolvimento e sociedade. Isso significa dizer que o tema da
redação está sempre ligado a um desses eixos, como, no caso do tema “Manipulação do
comportamento do usuário pelo controle de dados na Internet”, que faz parte do eixo “ciência

58
e tecnologia”. Então, o que você, participante da prova do Enem, poderá fazer é construir
seu repertório também a partir do eixo temático.

Para isso, reserve um caderno que funcionará como um “diário de leitura ou


pesquisa”. Nele, anote todo tipo de repertório legitimado que encontrar (reveja quadro da
página 65). Há várias maneiras de realizar essa pesquisa, tais como: (i) acompanhar as
aulas de História, Geografia, Filosofia, etc. com bastante atenção a todos os fatos, conceitos
estudados; (ii) ler revistas de divulgação científica e/ou de atualidades; (iii) ler obras literárias;
(iv) visitar galerias de arte, museus (alguns deles oferecem tour virtual); (v) assistir filmes,
documentários e séries; (vi) assistir a telejornais, programas de entrevista e lives com
especialistas; (vii) ouvir programas de rádio, podcasting, músicas; etc.

Atenção: Dê preferência àquele repertório sociocultural


que seja mais amplamente conhecido e divulgado na
sociedade.

Ao inserir esse repertório na redação, lembre-se de mencionar a área que o legitima,


de apresentar dados do referente (por exemplo, título da obra, data, nacionalidade), de fazer
uma explicação desse referente (obra, filme, dizer/citação), fundamentando-o; e, finalmente,
indicando a finalidade desse repertório no texto, isto é, como ele se aplica ao tema e ao
argumento. Retomemos ao parágrafo analisado na seção anterior, agora sob esse aspecto.

Figura 9: Exemplo de utilização de repertório sociocultural.


Fonte: Imagem elaborada pelos autores a partir de redação publicada na Cartilha do participante 2019.
BRASIL/INEP (2019). A redação do Enem 2019: cartilha do participante. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem2019_cartilha_participant
e.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020

59
Na figura acima, você pode observar como a autora dessa redação conseguiu
articular bem o repertório ao argumento desenvolvido no parágrafo.

Atividade: Antes de continuar os estudos deste módulo,


vá até a sala virtual e resolva os “Exercícios de avaliação
da aprendizagem #9”.

Para finalizarmos este módulo, na seção seguinte, abordaremos o último elemento


da redação: a proposta de intervenção.

3.4 A proposta de intervenção: o que é e como elaborá-la?

Ao longo deste material, mencionamos algumas informações sobre a proposta de


intervenção. Vejamos se você se recorda!

No módulo 1, explicamos que, na proposta de redação, há uma instrução para que se


apresente uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Historicamente,
essa exigência foi incorporada à redação na segunda edição da prova do ENEM, em 1999.
Na ocasião, o participante deveria desenvolver uma proposta de “ação social”. Em 2001, foi
acrescentada a recomendação de que essa proposta demonstrasse respeito aos “direitos
humanos”. E só em 2012, ela passou a ser adjetivada como “de intervenção”.

Assim, o atendimento a essa instrução é avaliado na competência V. Na primeira


seção deste módulo, esclarecemos como essa proposta se articula com o tipo textual
(competência II) e com a argumentação (competência III). Em síntese, podemos afirmar que
ela é uma característica diferenciadora no texto dissertativo-argumentativo da redação do
ENEM. Embora possa ser desenvolvida em qualquer parte do texto (na introdução, no
desenvolvimento, ou na conclusão), observa-se uma tendência de ela ser apresentada no
último parágrafo do texto, como uma conclusão-solução do problema abordado pelo
participante. Nesta seção, mais especificamente, buscaremos definir o que é a proposta de
intervenção e como elaborá-la. Vamos lá!

O Ensino Médio tem como finalidade dar continuidade aos estudos, aprofundando os
conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, além disso preparar o jovem para o
trabalho e para uma participação engajada na sociedade, de modo que ele exerça sua
cidadania e transforme o mundo em que vivemos em um lugar melhor para todos. Por isso
a prova do ENEM coloca essa exigência ao participante de pensar e propor uma “intervenção
social” para o problema apresentado no tema. Isso não significa elaborar uma proposta com
a pretensão de solucioná-lo (o que seria uma tarefa difícil!), mas sim apresentar uma
iniciativa para minimizá-lo. Logo, a proposta configura-se como uma manifestação do desejo
do participante de que uma ação seja executada, por um determinado meio/modo, e por
agentes sociais, e que essa tenha um efeito nesse combate, ou enfrentamento do
problema. Esses elementos, em destaque, são aqueles que precisam constar em sua

60
proposta para que essa seja vista como de fato existente no texto e como uma iniciativa
efetiva e prática. Vejamos cada um desses elementos em particular.

1. AÇÃO: diz respeito ao que deve ser feito (seja a nível individual, familiar, comunitário,
social, político, governamental e mundial). É a partir desse elemento que todos os outros se
organizam.

2. AGENTE: corresponde aos atores sociais, isto é, quem executará a ação que se propõe.

3. MODO/MEIO: está relacionado à maneira e/ou aos recursos pelos quais a ação é
realizada, ou seja, a como se executará, ou por meio de quê.

4. EFEITO: compreende os resultados pretendidos, ou alcançados pela ação proposta, em


outras palavras, trata-se do para quê.

Além desses quatro elementos, espera-se que, para uma formulação mais concreta e
mais elaborada da proposta de intervenção, outras informações sejam acrescentadas, ou
seja, que haja um detalhamento.

5. DETALHAMENTO: trata-se de uma descrição pormenorizada de um desses quatro


elementos, ou seja, que outra informação é possível fornecer sobre a ação, o agente, o
modo/meio ou o efeito.

Contudo, como a competência V se articula a finalidade do Ensino Médio e da


Educação, de modo geral, de preparar o jovem para sua atuação e construção de um mundo
melhor, é inconcebível que a proposta desrespeite os Direitos Humanos que são um grande
marco histórico para a humanidade e um avanço jurídico, uma vez que estabelece um
conjunto de prerrogativas que reconhecem e protegem a dignidade de todo os seres
humanos. Então, ofender, exibir preconceito ou fazer apologia à violência são atitudes
consideradas crimes, de acordo com o Código Penal Brasileiro, e não devem aparecer na
proposta de redação. Até 2018, isso também era observado na argumentação. Hoje, ferir os
direitos humanos não leva à anulação da redação. Dada à liberdade de expressão, o
participante só será penalizado por essas atitudes se ele as manifestar na forma de proposta.
Nesse caso, ele receberá nota zero na competência V.

Agora que você já sabe o que é a proposta de intervenção, vejamos como você pode
elaborá-la em seu texto. A seguir, apresentamos um esquema, em que ela se situa no último
parágrafo.

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Figura 10: Esquema de proposta de intervenção social.
Fonte: Imagem elaborada pelos autores.

Recomendamos que você inicie o parágrafo com um mecanismo coesivo


(competência IV). Em seguida, retome a sua tese ou o tema da redação. Outra possibilidade
seria apresentar primeiramente o efeito. Depois, manifeste seu desejo de mudança dessa
situação problemática, por meio de uma estrutura linguística que deixe isso em evidência,
por exemplo, optando pelo uso de verbos modalizadores como “dever”, ou de expressões
formadas pelo verbo “ser” mais um adjetivo, tais como: “é preciso”, “é necessário”, “é
cabível”, etc. Por fim, que você apresente os demais elementos, preferencialmente,
organizados em uma estrutura sintática, em que a ordem dos termos seja direta, isto é, que
o sujeito seja ocupado pelo agente, o verbo e complemento pela ação, e as circunstância
pelo meio/modo e pelo efeito.

Atenção: Não confunda o sujeito com o agente da


proposta, pois nem todas as palavras que podem ocupar
esse lugar sintático são, de fato, atores sociais. É o caso
de “alguém, ninguém, alguns, você” que são tidos como
elemento nulo ou inválido. A estrutura sintática é muito
importante aqui, para evidenciar os elementos da
proposta, por isso certas construções não são
recomendadas, como: verbos no imperativo e orações
condicionais. Os mecanismos linguísticos também
tornam os elementos (modo/meio e efeito) evidentes, por
isso não deixe de utilizá-los.

Para finalizarmos, retomemos a redação de Carolina Mendes Pereira e destaquemos


os cinco elementos da proposta de intervenção.

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Figura 11: Exemplo de estrutura do parágrafo de conclusão com proposta de intervenção.
Fonte: Imagem elaborada pelos autores a partir de uma redação publicada na Cartilha do participante 2019.
BRASIL/INEP (2019). A redação do Enem 2019: cartilha do participante. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem2019_cartilha_participant
e.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.

Porque a proposta dela não desrespeita os Direitos Humanos, está articulada à


argumentação desenvolvida e, além disso, apresenta todos os 5 elementos, a nota recebida
foi 200 pontos.

Atividade: Agora que você já sabe identificar os


elementos da proposta de intervenção social, vá até a
sala virtual e resolva os “Exercícios de avaliação da
aprendizagem #10”.

Mídia digital: Antes de resolver a “Avaliação geral da


aprendizagem” para conclusão dos estudos, assista à
“Videoaula temática: abordagem do tema, repertório
sociocultural e estratégias argumentativas”.

Atividade: Para concluir o curso Redação para o ENEM


e gerar o seu certificado, vá até a sala virtual e responda
ao questionário “Avaliação Geral”, que é um teste
constituído por 10 perguntas de múltipla escolha sobre
os temas estudados no decorrer dos módulos.

63
Finalmente, desejamos que tenham realizado um bom curso e que tenham
desenvolvido e/ou aperfeiçoado suas competências para a produção do texto dissertativo-
argumentativo cobrado na redação do Enem e aproveitamos para incentivá-lo a conhecer
também outras oportunidades de cursos online gratuitos ofertados na Plataforma +IFMG.

Parabéns pela conclusão do curso. Foi um prazer ter você conosco!

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Referências

BRASIL. INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Enem – Exame


Nacional do Ensino Médio: Documento Base 2002. Brasília (DF): MEC, 2002.
BRASIL.INEP. A redação do Enem 2019: cartilha do participante. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem2019_
cartilha_participante.pdf. Acesso em: 25 jul. 2020.

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Currículos do autor e das autoras
Adilson Ribeiro de Oliveira é professor de Língua Portuguesa e Literatura no IFMG –
Campus Ouro Branco, onde atua nos diversos níveis e modalidades de ensino. Tem
doutorado em Letras (Linguística e Língua Portuguesa) e uma larga experiência no
ensino de redação.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6099402924907667

Ana Paula Mendes Alves de Carvalho é professora de Língua Portuguesa no IFMG


– Campus Ouro Branco, onde atua nas modalidades de ensino técnico integrado com
o Ensino Médio e graduação. Tem doutorado em Estudos Linguísticos e uma vasta
experiência de sala de aula, com ênfase no ensino de Língua Portuguesa, suas
literaturas e Redação.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4068620263249286

Denise Giarola Maia é professora de Língua Portuguesa e Literatura no IFMG –


Campus Ouro Branco, onde atua nas modalidades de ensino técnico integrado com o
Ensino Médio e graduação. Tem doutorado em Estudos Linguísticos pela
Universidade Federal de Minas Gerais e experiência no ensino de redação.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8629534852018753

Thaís Oliveira de Souza é professora de Língua Portuguesa da rede particular de


ensino, em Poços de Caldas, cidade em que mantém um curso de redação
especializado em Enem, tendo alcançado sucesso com seus alunos. Além disso,
alimenta, de forma gratuita, um perfil no Instagram e um canal no Youtube, com
conteúdos voltados para os principais vestibulares do país.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5733692743976245

Feito por (professor-autor) Data Revisão de layout Data Versão

Adilson Ribeiro de Oliveira;


Ana Paula Mendes Alves de
Carvalho; Denise Giarola 10/12/2020 Viviane Lima Martins 11/02/2021 1.0
Maia; Thaís Oliveira de
Souza

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Glossário de códigos QR (Quick Response)

Mídia digital Dica do professor


Vídeo: “Apresentação
Site da ONU no Brasil
do curso”

Mídia digital Dica do professor


Videoaula:
Site da Academia
“Características da
Brasileira de Letras
redação do Enem”

Mídia digital
Mídia digital Videoaula:
Videoaula: “Domínio “Abordagem do
da norma culta e tema, repertório
mecanismos de sociocultural e
coesão” estratégias
argumentativas”

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Plataforma +IFMG
Formação Inicial e Continuada EaD

A Pró-Reitoria de Extensão (Proex), neste ano de


2020 concentrou seus esforços na criação do Programa
+IFMG. Esta iniciativa consiste em uma plataforma de cursos
online, cujo objetivo, além de multiplicar o conhecimento
institucional em Educação à Distância (EaD), é aumentar a
abrangência social do IFMG, incentivando a qualificação
profissional. Assim, o programa contribui para o IFMG cumprir
seu papel na oferta de uma educação pública, de qualidade e
cada vez mais acessível.
Para essa realização, a Proex constituiu uma equipe
multidisciplinar, contando com especialistas em educação,
web design, design instrucional, programação, revisão de
texto, locução, produção e edição de vídeos e muito mais.
Além disso, contamos com o apoio sinérgico de diversos
setores institucionais e também com a imprescindível
contribuição de muitos servidores (professores e técnico-
administrativos) que trabalharam como autores dos materiais
didáticos, compartilhando conhecimento em suas áreas de
atuação.
A fim de assegurar a mais alta qualidade na produção destes cursos, a Proex adquiriu
estúdios de EaD, equipados com câmeras de vídeo, microfones, sistemas de iluminação e
isolação acústica, para todos os 18 campi do IFMG.
Somando à nossa plataforma de cursos online, o Programa +IFMG disponibilizará
também, para toda a comunidade, uma Rádio Web Educativa, um aplicativo móvel para
Android e IOS, um canal no Youtube com a finalidade de promover a divulgação cultural e
científica e cursos preparatórios para nosso processo seletivo, bem como para o Enem,
considerando os saberes contemplados por todos os nossos cursos.
Parafraseando Freire, acreditamos que a educação muda as pessoas e estas, por
sua vez, transformam o mundo. Foi assim que o +IFMG foi criado.

O +IFMG significa um IFMG cada vez mais perto de você!

Professor Carlos Bernardes Rosa Jr.


Pró-Reitor de Extensão do IFMG
Características deste livro:
Formato: A4
Tipologia: Arial e Capriola.
E-book:
1ª. Edição
Formato digital

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