Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CENTRO UNIVERSITÁRIO
BACHARELADO EM DIREITO
PARIPIRANGA
2018
ANDERSON DE JESUS SANTOS
Paripiranga
2018
ANDERSON DE JESUS SANTOS
BANCA EXAMINADORA
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 11
4.2 A política de uso das redes sociais, o ódio e o Direito brasileiro ............... 66
REFERÊNCIAS................................................................................................................................ 85
11
1 INTRODUÇÃO
econômica, etc., sendo, importante no estudo do seu objeto, observar se a norma foi
produzida nos exatos termos do procedimento previsto para sua edição.
Na esteira do pensamento de Hans Kelsen, a norma detém validade quando a
sua produção segue os ditames propugnados pela norma que lhe é
hierarquicamente superior. Assim, deve-se pensar de que forma o ordenamento
jurídico e as normas constitucionais poderão servir de influenciadores na discussão
acerca das fake news, dentro de um olhar em que somente é possível exercer a
liberdade de expressão se na mesma situação o outro também puder exercê-la, ou
seja, numa sociedade de livres e iguais, característica fundamental dos
ordenamentos jurídicos.
A constatação do autor austríaco não significa dizer, por outro lado, que a
ordem jurídica funciona sem nenhuma conexão com outros ramos do conhecimento.
Pelo contrário, Hans Kelsen (2009) mostra que, no ambiente de aplicação da norma
jurídica, o aplicador tem a possibilidade de criar uma nova norma, em outras
palavras, o aplicador do Direito é considerado, em maior ou menor medida, um
“legislador”, na medida em que ao operacionalizar sua atividade interpretativa nos
Tribunais, estar-se-á desenvolvendo o que Kelsen denominou chamar de
interpretação autêntica.
Os valores metajurídicos (moral, religião, política, economia, etc.) e a sua
relação com o próprio não são negados por Hans Kelsen e, por tal circunstância
fática, esses elementos podem servir de balizas na tarefa de elaboração normativa.
Assim, pela teoria kelseniana (2009, p. 75):
Não obstante seja reconhecível que uma das características dessa sociedade
moderna é a existência de constante crise e crescente complexidade, para dizer
com José Emilio Medauar Ommati (2012), com o objetivo de mitigar os riscos
decorrentes das decisões a serem tomadas no tecido social, necessitou-se
promover a especialização das funções. Desse modo, foi preciso o surgimento do
sistema do direito, da economia, da política, do sistema educativo, dentre outros.
Nesse ponto, Niklas Luhman (1998) mostra que a sociedade moderna se
diferencia da sociedade rudimentar, porquanto se caracteriza como uma sociedade
que funciona de maneira diferenciada, com subsistemas sociais que laboram de
modo fechado, com um código próprio/específico, ou melhor, detentores de
linguagem específica, mas, mesmo assim, encontram-se abertos para o ambiente
externo, sendo, portanto, comunicativamente aberto.
O Direito é, a bem dizer, o grande foco do presente trabalho, não olvidando,
obviamente, das implicações dos demais sistemas que lhe impõe uma certa
conexão para sua devida aplicação. Entretanto, no contexto da modernidade, o
sistema do Direito, passou a ser operacionalizado voltado para seu código
específico, qual seja: direito/não direito (Recht/Unrecht). Ou seja, quando da
positivação do Direito e sua consequente autonomia como sistema social, surgiu o
fenômeno da operacionalização do código jurídico (lícito/antijurídico) de maneira
distinta (autopoiética) no tocante aos outros sistemas sociais, com o da Política,
inclusive. E o seu fechamento operacional se deu em razão do surgimento da
Constituição formal e rígida, instrumento jurídico concebido no ambiente das
revoluções burguesas (OMMATI, 2012).
Com o aparecimento da Constituição formal e rígida, a perspectiva de que o
direito necessitava de um fundamento absoluto, último, para sua autoafirmação,
despareceria, vez que a medula óssea do direito nessa ambientação jurídica recai
sobre sua característica de mutabilidade e não imutabilidade, como referido
anteriormente. Doutras palavras, o direito positivo para Ommati (2012), seguindo as
lições de Niklas Luhmann (1990), é configurado no envoltório da contingência,
funcionando com base em suas próprias decisões. Esse sistema jurídico
fundamenta-se, a bem dizer, na ideia de mudança, por ser mutável, ante a crescente
fluidez social.
Dentro do próprio sistema jurídico, o Poder Judiciário é o órgão que detêm a
função de estabilizar as expectativas de comportamento, e, por outro lado, cabe ao
21
o povo, além de ser autor da Lei Fundamental é, sobretudo, destinatário das normas
constitucionais, nos moldes de um processo constituinte democrático, fundado nos
princípios da igualdade e liberdade, postulados necessários para o desenvolvimento
de uma sociedade plural e aberta à diversidade.
autogoverno coletivo. Como mostra José Emílio Medauar Ommati (2012), seguindo
o pensamento de Dworkin (2001), é preciso a organização da política no sentido de
que todas as pessoas/cidadãos tenham reais motivos para se sentir parceiros de um
empreendimento político comum.
Assim, seria contraditório pensar em uma sociedade cujos cidadãos possam
ser qualificados como parceiros e, ao mesmo tempo, os judeus da Alemanha
Nazista e/ou os negros da África do Sul da apartheid estivessem a ponto de ser
aniquilados pelo próprio regime ao qual estavam inseridos. Esse ponto é de crucial
importância como ponto inicial da discussão que será desenvolvida no próximo
capítulo acerca do hate speech na Alemanha, a qual encontra-se lastreada no
ideário da necessidade de proteger a dignidade humana, ou, na teoria dowrkiniana,
a igualdade e liberdade.
Ao discorrer sobre a temática, José Emílio Medauar (2012), mostra que a
condição essencial para os cidadãos desenvolverem o sentimento de parceria
dentro do contexto de um empreendimento coletivo está relacionada com o
asseguramento de certos direitos individuais, como por exemplo, os direitos
antidiscriminatórios e a própria liberdade de expressão. A parceria é, para Ronald
Dworkin (2001), uma questão de respeito mútuo, ou seja, inexiste qualquer
possibilidade de que outrem tenha possibilidade de se sentir parceiro de uma
sociedade na qual lhe considera como cidadão de segunda classe.
Ademais, na perspectiva de entender a liberdade de expressão como um
direito indispensável no regime democrático, a parceria entre os cidadãos não pode
ser visualizada se a maioria considerada as opiniões ou gostos de terceiros tão
perigosas quanto indignas ao ponto de que ninguém esteja autorizado a ouvi-los.
Por conseguinte, o próprio José Emílio Medauar Ommati (2012), afirma existir uma
contradição manifesta no pensamento de Ronald Dworkin, porquanto não obstante
demonstre a imperiosidade dos direitos antidiscriminatórios no bojo democrático, por
outro lado, afirma o direito de um racista proferir seu discurso ancorado no direito de
igual respeito e consideração para com aquele que profere o discurso.
A esse respeito, José Emílio (2012) entende que a posição esposada por
autores como Owen Fiss e Stephen Holmes e Cass Sunstein seja mais consentânea
com o ideal de integridade. Owen Fiss (2005), ao interpretar a história constitucional
norte-americana, mostra que alguns discursos prolatados devem ser proibidos,
tendo em vista a sua clara intenção de calar outros indivíduos inseridos no mesmo
28
tecido social. Da mesma forma que Fiss (2005), Holmes e Cass Sunstein (2011),
compartilham de posição semelhante.
Pois bem, com base na redação da Primeira Emenda à Constituição dos
Estados Unidos e, na linha do pensamento de Dworkin, José Emílio (2012) escreve
que, não obstante seja possível afirmar que a integridade do Direito nesse contexto
exija, de um modo geral, um absenteísmo estatal no tocante ao discursos proferidos
pelos cidadãos norte-americanos, mostra que nem mesmo essa interpretação do
autor norte-americano é a mais condizente tanto com o ideal da integridade, quanto
com a própria história jurídica e institucional dos Estados Unidos à sua melhor luz.
Para José Emílio Medauar Ommati (2012), ao contrário do entendimento
difundido no ambiente norte-americano, a liberdade de expressão no contexto
brasileiro não pode ser compreendida como a possibilidade de se proferir discurso
ódio quando, a posteriori, restar comprovado tratar-se de um discurso racista e
discriminatório, em especial se levar em consideração a função exercida pela
proibição da prática do racismo na Constituição Federal de 1988, como também em
face da história jurídica e institucional do Brasil, discussão que será aprofundada nos
capítulos posteriores.
Para tanto, com o fito de servir como fundamento necessário para discussão
do discurso do ódio nos Estados Unidos, Alemanha e Brasil, iremos apreciar a
maneira pela qual a liberdade de expressão é vista no contexto do Estado Liberal e
no Estado Social e/ou Providência, algo de crucial importância para aprofundar o
debate em voga.
1 Essa expressão se encontra intimamente ligada com o pensamento apregoado pelo liberalismo
econômico, na sua versão mais pura de Capitalismo, significando, portanto, numa linguagem
francesa, deixai fazer, deixai ir, deixai passar, ou seja, entrelaça-se com a ideia de que o mercado
deve funcionar de maneira livre, sem qualquer interferência estatal.
31
referidas liberdades. Ainda assim, quando for posto em debate o hate speech no
contexto estadunidense, será demonstrado que, em alguns casos, é legítimo o
estabelecimento de restrições à liberdade de expressão.
Essa discussão será melhor aprofundada no próximo capítulo, quando nos
debruçarmos acerca do hate speech na jurisprudência dos Estados Unidos da
América, Alemanha e Brasil.
[...] o ódio existe, todos nós já nos deparamos com ele, tanto na escala
microscópica dos indivíduos como no cerne de coletividades gigantescas. A
paixão por agredir e aniquilar não se deixa iludir pelas magias da palavra.
As razões atribuídas ao ódio nada mais são do que circunstâncias
favoráveis, simples ocasiões, raramente ausentes, de liberar a vontade de
simplesmente destruir.
36
Ainda para dizer com Glusckmann (2007), na sua visão, o ódio não é um
fenômeno irracional, ancorado no seio dos sentimentos obscuros, mas sim um
discurso, isto é, ainda que não seja passível de enfrentar contra-argumentos ou não
apresente razões suficientes para se manter irretocável, o ódio é configurado como
uma expressão articulada, intencional e preparada por intermédio de uma linguagem
verbal, que pode, inclusive, ser manifestado por meio das mídias sociais, imprensa,
etc.
Ao examinar situações contemporâneas nas quais o discurso de ódio é, de
forma geral, visualizado – racismo, antissemitismo, misoginia, homofobia, dentre
outros -, Glusckmann (2007) apresenta sete conclusões acerca do ódio enquanto
manifestação discursiva, a saber: 1) o ódio existe, e, portanto, não pode ser
considerado mera ausência do bem ou do amor; 2) o ódio se camufla com ternuras,
tendo em vista que se encontra assentado de falsos álibis que o justificam; 3) o ódio
é insaciável, porquanto impulsiona uma onda argumentativa sem trégua e sem fim,
não admitindo, por conseguinte, o diálogo com os diferentes; 4) o ódio promete o
paraíso, de modo que apresenta-se na qualidade de um mal necessário, cujo
objetivo é obter uma situação mais vantajosa do que a atual; 5) o ódio deseja ser o
Deus criador, em especial, na senda do discurso religioso moralista e no próprio
37
de externar uma ideia que ao mesmo tempo incide sobre a esfera da autonomia
privada de outrem, “posto dirigir-se a contaminar determinado ambiente com uma
ideia de fúria contra um grupo vulnerável, propagando-a sem possibilidade de
diálogo, de liberdade de escolha, do exercício livre da autonomia privada”.
No contexto do mundo virtual, em especial no tocante às mídias sociais
(discussão que será aprofundada no próximo capítulo), ao mesmo tempo que
tornou-se possível ampliar o espaço do debate público, de maneira a viabilizar a
existência de um ambiente democrático, serviu-se como um terreno fértil para a
propagação de manifestações odiosas, tendo em vista a falsa percepção de que o
propagador do discurso não será alvo de responsabilização.
Na esteira de tal sociedade virtualizada, o discurso de ódio serve como
instrumento de ataque à dignidade humana e a diversos direitos fundamentais,
aliado à constatação de que a sua exteriorização no meio social-digital pode
ocasionar prejuízos de maior amplitude, eis que, possui maiores condições de criar
um espaço de insegurança, mal-estar social e, vilipêndios ao ser humano, enquanto
sujeito de direitos numa sociedade da pós-modernidade.
Ao tratar sobre a temática em voga, Daniel Sarmento (2006, p. 81),
demonstra ser preciso reconhecer “[...] que as expressões de ódio, intolerância e
preconceito manifestadas na esfera pública não só não contribuem para um debate
racional, como comprometem a própria continuidade da discussão”. Ou seja, mesmo
no seio do espaço público, voltado, em regra, para o abarcamento de diversas
visões de mundo, a propagação do discurso odioso se insere com efeito silenciador
das vozes dos grupos de pessoas e classes, e, por consequência, reforça a
estereotipagem contra aqueles que são marginalizados pelo simples fato de serem
“diferentes”. Ainda para dizer com Sarmento (2006, p. 90), vê-se que a
essa mesma era digital também desembocou o seu lado negativo: a desinformação
é facilmente disseminada na Internet.
E essa própria desinformação pode ser desenvolvida especificadamente para
o agigantamento dos estereótipos/estigmas negativos contra as minorias (negros,
mulheres, judeus, mulçumanos, população LGBTI+, pessoas pertencentes às
religiões de matriz africana, etc.), de maneira a trazer como consequência direta, o
desenvolvimento virtual dos discursos odiosos, voltados para legitimar a privação de
direitos, a exclusão social e até a eliminação física daqueles que são discriminados.
Ao discutir sobre a sociedade da informação e os reflexos dos discursos
odiosos no contexto virtual, Marco Aurélio Moura dos Santos (2016, p. 50),
considera que:
A bem da verdade, notícias falsas podem ser produzidas nas plataformas das
mídias sociais com o intuito específico de denegrir ou ofender membros das
minorias tradicionalmente discriminadas, e, diante do compartilhamento/replicação
em massa de informações fraudulentas, aumenta-se de modo reforçado, a restrição
de direitos, ideias que incitam o extermínio, o ódio racial, a homofobia, a xenofobia,
bem como outras formas de ódio fulcrados na intolerância. Assim, cria-se um
ambiente odioso no contexto da sociedade virtualizada, ainda que ostente o condão
de esbarrar nos postulados constitucionais da dignidade pessoal e igualdade.
Muito embora os teóricos que dedicaram ao estudo do discurso de ódio não
tenham se preocupado em dar um conceito uníssono ao fenômeno, Carcará (2014),
diz que a doutrina pátria, de regra, tem seguido os contornos delineados pelos
Estados Unidos da América e Alemanha. Ou seja, buscam conceituar o hate speech
no sentido de ser um discurso voltado ao instigamento da violência, do ódio, bem
como da discriminação, no momento em que insultam, intimidam ou até assediam
40
indivíduos com base na sua raça, cor, etnia, sexo, religião, nacionalidade, dentre
outros.
Ainda para dizer com Carcará (2014), a própria doutrina brasileira, entretanto,
evidencia que os alvos do referido discurso são, de modo preferencial, as minorias e
os grupos vulneráveis. Nesse sentido, na visão do autor, há uma certa
concordância/consenso a respeito da conceituação do discurso do ódio como sendo
“a manifestação de pensamento que incita à violência em razão de características
físicas ou comportamentos sociais, que têm como vítimas preferenciais grupos
vulneráveis” (CARCARÁ, 2014, p. 56).
Tendo como ponto de partida essa realidade, deve-se ser discutido a
amplitude conferida à liberdade de expressão e sobre quais são as respostas
consentaneamente constitucionais para combater os discursos de ódio. Dessa
maneira, veremos os posicionamentos assumidos pela Suprema Corte norte-
americana, na Corte Constitucional da Alemanha e no Supremo Tribunal Federal,
em solo pátrio, com o objetivo de comparar a maneira como o assunto é tratado.
2 O Congresso não fará nenhuma lei a respeito do estabelecimento da religião, ou que proíba o seu
livre exercício, ou cerceie a liberdade de expressão, ou da imprensa, ou o direito do povo de se reunir
pacificamente e a solicitar do governo uma reparação por ofensa (ESTADOS UNIDOS, 1971,
tradução livre).
41
3Essa denominação está relacionada à perseguição e extermínio deliberado de cerca de seis milhões
de judeus, apoiado pelo governo nazista de Adolf Hitler, na Alemanha, durante a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945).
49
por parte de todos os outros” para com os Judeus. Ora, embora não se
negue a veracidade histórica e política dessa afirmação, aqui já não se está
utilizando o código jurídico (lícito/ilícito), mas sim o código político
(maioria/minoria) e, mais ainda, o código moral (bom/ruim, certo/errado).
dentre outros, os quais são considerados cláusulas pétreas (de pedra), inamovíveis,
irrevogáveis, inalteráveis, previstas no art. 60, §4°4, da CRFB/1988.
A liberdade de expressão encontra-se positivada na Carta Política de 1988,
no art. 5°, incisos IV, IX, XIV, XLII, bem como no art. 206, II, 215, e 220 5, todos da
CF/1988. O direito fundamental à liberdade de expressão, por ser considerada uma
cláusula geral/genérica, manifesta-se sob diversas formas no tecido constitucional, a
saber: na qualidade de liberdade de manifestação do pensamento – incluindo,
obviamente, a liberdade de opinião -; liberdade de expressão artística, científica;
liberdade de comunicação e de informação, também denominada liberdade de
imprensa; liberdade de ensino e pesquisa ou, ainda, liberdade de cátedra; como
também, a liberdade de expressão religiosa.
A bem da verdade, a possibilidade de os cidadãos se expressarem de acordo
com o seu pensamento e as suas convicções, constitui-se, corolário básico do
regime democrático. Às pessoas, na qualidade de sujeitos de direitos, é assegurado
pela ordem jurídica constitucional, essa mesma liberdade de expressão
independentemente de licença, de modo que é vedado o estabelecimento de
qualquer espécie de censura prévia no tocante aos discursos proferidos na tecitura
social. Ao tratar sobre a liberdade de expressão do pensamento, Marcelo Novelino
(2016, p. 347), considera que:
4 Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
5 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
6 Nos moldes do citado dispositivo – o qual foi posteriormente alterado pela Lei 9.459, de 15 de maio
de 1997 –constitui crime “praticar, induzir ou incitar, pelos meios de comunicação social ou por
publicação de qualquer natureza, a discriminação ou preconceito de raça, por religião, etnia ou
procedência nacional”. Na forma da atual redação, o tipo penal consiste em praticar, induzir ou incitar
a discriminação, independentemente do meio a ser utilizado e, a propagação pelos meios de
comunicação ou publicação de qualquer natureza passou a constituir uma forma qualificada, nos
termos do §2°, do art. 20, citado alhures.
55
Como é que uma conduta pode ser considerada, ao mesmo tempo, como
lícita (o exercício de um direito à liberdade de expressão) e como ilícita
(crime de racismo, que viola a dignidade), sem quebrar o caráter
deontológico, normativo, do Direito, como se houvesse uma conduta meio
lícita, meio ilícita?
ofensivo àqueles que devem ser tratados como iguais e livres e com a mesma
consideração e respeito, sendo, portanto, requisito mínimo para a promoção e
desenvolvimento da ideia de parceria democrática.
De acordo com José Emílio Medauar (2012), não se pode entender a
proibição da prática do racismo insculpida no art. 5°, XLII, da Constituição Federal
de 1988, como uma carta branca para proibir a divulgação de ideias pretensamente
racistas, de modo a não legitimar a censura prévia no tocante aos discursos
proferidos. Pelo contrário, a proibição do racismo deve ser compreendida como
hipótese de vedação da utilização do espaço público ou mesmo do espaço privado
com a finalidade de eliminar parceiros do empreendimento político comum.
Nesse jaez, o entendimento de Ommati (2012), é no sentido de que a Carta
Magna de 1988, ao vedar a prática do racismo, não tentou proibir o discurso de ódio
na perspectiva de sua prolação prévia, tendo em vista não ser consentâneo com os
ideais do regime democrático a proibição do discurso, previamente, com a ressalva
da hipótese em que o próprio racista, ao proferir seu discurso, mostra ser racista,
fato suficiente para autorizar a punição do ofensor, em especial porque a liberdade
de expressão não autoriza a existência de alguns mais iguais e mais livres do que
outros.
A Constituição Cidadã de 1988 pretendeu, sim, e com os dizeres de Ommati
(2012), vedar quaisquer discursos racistas depois de publicamente prolatados, ou
seja, a sua proibição pode se dar no momento em que ocorre a prática do racismo,
aliado à comprovação pública do ato, e, sobretudo, quando ocorrente vilipêndio da
igualdade e liberdade de todos, como foi a situação fática em discussão do HC
82.424/RS.
61
Nesse ponto, iremos nos debruçar sobre as maneiras pelas quais as redes
sociais estabelecem sua política de uso direcionada aos usuários do tecido virtual,
levando em conta o fenômeno do discurso odioso, bem frequente nas mídias
digitais, tendo como ponto de partida a Constituição Federal de 1988.
No contexto atual, vem-se crescendo exponencialmente a utilização das
redes sociais, mais especificamente, o Facebook, Twitter, bem como o WhatsApp
(este último tem servido, cada vez mais, como instrumento para viciar processos
eleitorais em diversos países, por meio das notícias fraudulentas, como
demonstraremos a seguir, de uma forma breve), e, em decorrência desse panorama
fático, há mais pessoas expressando seus pensamentos a respeito de diversos
temas debatidos no tecido da sociedade. Ante a massificação da internet e das
redes sociais, modificou-se as relações estabelecidas entre a imprensa e o público,
vez que, nesse ambiente, as pessoas possuem acesso às informações sobre
questões sociais, políticas, econômicas, etc., com mais facilidade, de uma forma
geral.
Ao debruçar-se sobre o fenômeno antes citado que é justamente a internet,
Ronaldo Lemos (2016), entende tratar-se de uma rede que viabiliza, por um lado, as
liberdades públicas e fundamentais e, por outro, tem o condão de permitir controles
dantes desconhecidos sobre o indivíduo. Na visão do autor, cuida-se de uma
plataforma de alta significância para a promoção da liberdade de expressão e
simultaneamente, tem muita probabilidade de gerar danos em larga escala contra
terceiros, sendo que, esse dano difuso é claramente de difícil contenção, motivo pelo
qual deve-se discutir a política de uso no bojo das mídias digitais.
Os conflitos nesse contexto digital passam por inúmeras redefinições e
modelagens, e diante disso, surge alguns tensionamentos entre direitos
fundamentais na ambiência social-virtual, bem como de qual maneira deve ser
enfrentado os desafios surgidos em decorrência da conflitualidade emergida. Em
muitos casos, as pessoas se utilizam da via do Poder Judiciário para solucionar os
conflitos nascidos da teia digital, de modo a aplicar o direito no caso concreto, em
67
a religião de matriz africana, por exemplo, bem como por questões relativas e
gênero, estar-se-á diante de um discurso de ódio.
Depois de publicamente proferido tal discurso e, após o asseguramento do
devido processo legal, contraditório e ampla defesa, o ato praticado pelo acusado
deve sofrer reprimenda do Direito com base na Lei que criminalizou o racismo, qual
seja, Lei n° 7.716/1989. Caso contrário, a situação pode ser solucionada à luz do
Código Penal, mais especificamente no bojo dos dispositivos previstos nos artigos
138 a 140, do Diploma Repressivo.
Sobreleva ressaltar, outrossim, que, a depender da forma de tratamento
dispensado pelos países ao fenômeno do hate speech, ter-se-á tutelas distintas
sobre o mesmo tema e soluções jurisprudenciais díspares. Como visto, no seio
estadunidense, a liberdade de expressão é considerada um direito de modelagem
preferencial quando comparada com outros direitos fundamentais, sendo que, em
muitos casos, essa mesma liberdade, é utilizada para legitimar o proferimento de
discurso do ódio contra diversos grupos nos Estados Unidos da América, ainda que
desse discurso decorre prejuízos para a imagem, honra ou privacidade do ofendido.
Na Alemanha, por outro lado, muito embora a liberdade de expressão tenha
um tratamento pela ordem constitucional, não ostenta um rótulo privilegiado,
porquanto é a dignidade humana um dos princípios constitucionais de valor
supremo, razão pela qual, como regra, o discurso odioso não é amparado pela
liberdade de expressão, o que, de certa forma, se assemelha com o modelo adotado
pelo Brasil. Não obstante, na ótica do pensamento de Meyer-Pflug (2009, p. 99): “ o
grande desafio que se apresenta para o Estado e para a própria sociedade é permitir
a liberdade de expressão sem que isso possa gerar um estado de intolerância, ou
acarrete prejuízos irreparáveis”.
Destarte, as redes sociais, nas pegadas enfatizadas por Santos (2016),
atentas aos seus próprios regramentos, criados para tentar solucionar eventuais
conflitos, têm o combate do discurso do ódio como um dos pilares para o
desenvolvimento do respeito e consideração entre as pessoas, que se veem como
iguais e livres. A bem dizer, o âmbito digital é um espaço que possibilita o
desenvolvimento de novas soluções no bojo de uma sociedade da informação, pós-
moderna.
Essas mesmas redes sociais, caracterizam-se, na verdade, como um
ambiente de fomento das liberdades públicas (liberdade de expressão do
70
O fenômeno das fake news não é, de modo algum, recente, mas pelo fato de
estarmos no seio de um mundo social-digital, as notícias falsas ganharam acentuada
importância e atenção pública em diversos países. Frise-se que, desde as
campanhas eleitorais ocorridas em 2016 nos Estados Unidos e na França em 2017,
há grande preocupação com a efetiva possibilidade da distorção de processos
políticos potencialmente provocados por campanhas de desinformação e, isso
ocorre por meio de estruturas arquitetadas aptas a disparar notícias falsas, com o
intuito de desprestigiar opositores e captar votos utilizando plataformas virtuais.
Os provedores de aplicação de internet assumem um papel de relevo e ao
mesmo tempo desafiador, porquanto deve atuar na repressão à utilização dos seus
serviços para a disseminação de notícias falsas, mas, por outro lado, tem a
obrigação de garantir que sua eventual e excepcional intervenção não viole
garantias mínimas do Estado Democrático de Direito. O Marco Civil da Internet (Lei
12.965/2014), ao contrário do que se tem sustentado, não impede a atuação dos
provedores no sentido de agir para remover conteúdo dos seus usuários, quando
constatado vilipêndio às regras estabelecidas em suas políticas e termos de uso
(vale dizer: o próprio contrato celebrado entre usuários e provedores).
A tarefa do Poder Judiciário, nesse cenário, relaciona-se, com a definição
das situações nas quais os usuários das plataformas virtuais serão
responsabilizados na esfera cível e criminal, ou seja, após assegurado o devido
processo legal, com ampla defesa e contraditório, e restar comprovado a
caracterização do discurso de ódio, por exemplo, emergido do meio virtual, o
propagador de tal discurso poderá responder por seus atos. Além disso, é tarefa do
Judiciário (quando provocado) constatar eventual responsabilidade dos provedores
em decorrência da disseminação de fake news no seio das redes sociais, por parte
dos usuários, respeitado o ditame legal previsto no art. 19, caput e §1°, do Marco
Civil da Internet.
Não obstante seja possível a responsabilização daqueles que integram o
mundo social-digital, a Constituição Federal de 1988 assegura a todos a liberdade
de expressão, entendida esta como uma cláusula geral/genérica, que materializa-se
sob diversas formas no tecido constitucional, a saber: na qualidade de liberdade de
manifestação do pensamento – incluindo, obviamente, a liberdade de opinião -;
liberdade de expressão artística, científica; liberdade de comunicação e de
informação, também denominada liberdade de imprensa; liberdade de ensino e
72
fake news na era digital, que, na atualidade, alcança um número infinito de pessoas
conectadas em rede numa velocidade quase que instantânea e, ainda, sem limites
territoriais. Motivo pelo qual, a princípio, poderia ser justificativa para inserir um ônus
maior para aqueles que desejam participar do debate público, materializado na ideia
de garantir a propagação de discursos pautados na verdade democrática.
Outrossim, ainda para dizer com Gross (2018), levado essa perspectiva a
rigor, a liberdade de expressão poder ser afetada pelo “efeito do esfriamento”, isto é,
o “esvaziamento” do debate pelo medo da punição. Isso decorre da simples ideia de
que a imprecisão de critérios para distinguir o que é ou não verdadeiro, levaria
muitas pessoas a se calar e, em especial, seria mais possível afunilar e censurar a
liberdade de expressão do pensamento, do que garantir-lhe trânsito
descongestionado no âmbito democrático.
A segunda concepção enxerga a liberdade de expressão como valor
constitutivo à democracia, e nesse aspecto, ainda que não negue o valor
instrumental de tal liberdade, pretende fundar um status para esta última voltado ao
objetivo de reconhecer-lhe como um direito individual indisponível, apesar das
preocupações de maximização do bem-estar de dada comunidade. Nessa senda,
Ronald Dworkin (2000), ao tratar da democracia através de um olhar que decorre da
igualdade, assevera que a possibilidade de participação livre no debate público e na
troca de ideias torna a compreensão da liberdade de expressão como condição de
existência da própria democracia e, tal situação, é mais importante do que a simples
possibilidade de votar periodicamente para escolha dos representantes políticos.
Para sustentar a existência da democracia é conditio sine qua non que todas
as pessoas individualmente consideradas, tenham garantidas a sua liberdade de
expressão, porquanto apenas assim pode-se falar em uma comunidade fundada em
igualdade e liberdade. Essa concepção exige que, de modo algum,
desqualifiquemos as pessoas do debate público a priori, nem tampouco estabeleça
censuras em desfavor do direito igualitário ostentado por todos os indivíduos ao
engajar-se sobre os rumos da comunidade.
Isso porque, na visão de Gross (2018), cada sujeito tem a garantia de
participar do debate público, independentemente da qualidade das opiniões
proferidas, razão pela qual não há democracia sem o asseguramento da liberdade
de expressão enquanto direito individual inviolável. Nesse aspecto constitutivo da
liberdade de expressão, muito embora exista motivos para defender eventual noção
77
de debate público de qualidade, há limites sobre os meios pelos quais pode ser
realizado tais esforços, na medida em que a exclusão do ambiente público de todo
aquele que propaga conteúdo considerado de alguma forma falso, pode ser
caracterizado como vilipêndio ao ideal de sociedade livre e igual.
Outrossim, isso não significa dizer que a concepção constitutiva de liberdade
de expressão albergue toda e qualquer disseminação de fake news. De acordo com
Gross (2018), é perfeitamente possível a restrição ou contenção da circulação de
determinadas fake news, quando, comprovadamente, ser constatada que as
circunstâncias do caso concreto apontam para um vínculo direto entre o conteúdo
propagado (ou discurso proferido, a depender da situação) a ocorrência de
consequências muito danosas no seio social, em especial contra as minorias, ou se
restar demonstrado em juízo que as notícias falsas fabricadas na mídia social foi o
raio motriz para o ocorrência de morte de terceiros, por exemplo.
Essa mesma racionalidade, na opinião de Gross (2018), teria levado o juiz
Oliver Wendell Holmes da Suprema Corte dos Estados a afirmar, no caso Schenck
v. United States (1919) - o qual é considerado uma das principais casuísticas na
formação da jurisprudência da Corte Constitucional dos Estados Unidos -, que uma
pessoa não pode gritar “fogo” em um teatro lotado. A ideia é que, há um vínculo
entre a propagação de notícias falsas que são produzidas. virtualmente para
prejudicar e a ocorrência de um dano iminente.
A bem da verdade, na busca da sedimentação de uma sociedade que busca
pela consciência, respeito à diversidade de outrem, a propagação de ódio e
compartilhamento de notícias falsas fraudulentas e criadas para prejudicar pessoas,
estaria a caminhar na contramão dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade
que se pretende fundar num contexto social, econômico e político. O mundo,
hodiernamente, vem percebendo que o fenômeno das fake news, além de ter se
tornado um problema a ser debatido pelo Direito, virou uma praga midiática, ante a
potencialidade de gerar manipulação na livre convicção do eleitor e criar espaços de
polarizações na política e bolhas de ódio entre pessoas.
Tudo isso demonstra a necessidade de refundar balizas para retomar o
debate público de qualidade, de maneira a trilhar um caminho para promoção da
educação digital, ensinando o cidadão comum a checar antes de clicar ou
compartilhar qualquer informação. A problemática das fake news não surgiu da
tecitura digital, ou seja, não é algo novo que brotou do seio onde labora os
78
disseminação de notícias falsas, mas, por outro lado, tem a obrigação de garantir
que sua eventual e excepcional intervenção não viole garantias mínimas do Estado
Democrático de Direito.
Outra situação de grande repercussão no seio social-digital e de comoção
nacional e internacional, diz respeito ao caso Marielle Franco, a qual era vereadora
da cidade do Rio de Janeiro, pelo Partido Socialismo e Liberdade – PSOL, e foi
assassinada no dia 14 de março de 2018. Trata-se, na verdade, de algumas
demonstrações negativadas do fenômeno das fake news propagadas sobre a
socióloga, lésbica, feminista e militante dos direitos humanos, que se destacou no
âmbito da Câmara Municipal do RJ, por lutar pela visibilidade das mulheres negras,
bem como por ter como objetivo de vida social a luta em prol da comunidade
LGBTI+, ou seja, era uma Edil que lutava a favor das camadas estigmatizadas no
tecido social, tão colocadas à margem da sociedade ainda atualmente.
A denúncia das violações aos direitos humanos, o extermínio do povo negro e
a violência policial eram pautas corriqueiras no tocante a ação política da então
vereadora do PSOL. Após o assassinato da vereadora, começaram a surgir diversos
discursos na tecitura digital através das chamadas fake news, voltadas para
aspectos relacionados à sua vida pessoal, história e, especialmente, pelo fato de
lutar em prol de sujeitos vulneráveis na sociedade (negros periféricos, lésbicas,
homossexuais, transexuais, bissexuais, mulheres, dentre outros), bem como dos
direitos humanos e fundamentais, impulsionando verdadeiras fogueiras virulentas a
seu respeito.
Um dos exemplos de manifestação do pensamento foram visualizadas no
bojo do site Youtube, produzidos com o objetivo de promover o alargamento de
estereótipos negativos, pelo simples fato de pertencer a grupos marginalizados pela
sociedade. Por outro lado, levando em conta a potencialidade das notícias falsas
espalhadas nas redes sociais, houve grande mobilização pela mídia tradicional
objetivando combater as informações falsas contra Marielle Franco8.
Em virtude desse panorama fático, e diante da enxurrada de notícias falsas
propaladas que favoreceram o surgimento de um ambiente odioso no tecido digital
contra a vereadora do Partido Socialismo e Liberdade, Anielle Silva dos Reis
Barboza e Mônica Tereza Azeredo Benicio, irmã e companheira, respectivamente,
ajuizaram uma demanda judicial em face de Google Brasil Internet Brasil Ltda., com
o objetivo de que os vídeos do sítio eletrônico Youtube fossem retirados do ar.
Argumentaram que os 40 (quarenta) vídeos anexados nos autos do processo,
com 13.405.111 (treze milhões, quatrocentos e cinco mil, cento e onze)
visualizações, ao todo, foram produzidos com o intuito de vilipendiar a dignidade
pessoal de Marielle Franco, motivo pelo qual, por caracterizar-se autênticas
manifestação odiosas e caluniosas contra esta última, não estariam albergados pela
liberdade de expressão. Após o asseguramento do devido processo legal, a
magistrada titular, Marcia Correia Hollanda, proferiu sentença no sentido de
confirmar integralmente a liminar anteriormente deferida, e no mérito, condenou o
réu a excluir definitivamente os vídeos/conteúdos juntados aos autos9.
Com o advento da Era da Informação e, também, ao levar em conta as
dimensões provocadas pela desterritorialização próprio da ciberdemocracia, as
redes sociais tornaram-se palcos virtuais para um número exponencial de
indivíduos, propalar qualquer tipo de notícias, ainda que revestida de caráter
fraudulento. Tais atitudes são perpetradas, mesmo sem conhecer a real fonte e
veracidade de seu conteúdo, de modo a impulsionar a morte subjetiva de um
cidadão, como foi o caso de Marielle Franco, pertencente à comunidade LGBTI+,
defensora dos direitos humanos-fundamentais, vítima de bolhas de ódio na tecitura
social-digital.
Como referido no decorrer do trabalho, nem todo discurso proferido no seio
social ou nas redes sociais pode caracterizar-se como hate speech. Para seu efetivo
enquadramento, é necessário observar o contexto no qual foi
disseminado/propagado tal discurso, sob pena de elastério demasiado na sua
incidência. Pois bem. Constatado que as afirmações propaladas foi realizada dentro
de um cenário que busca promover a diminuição de uma pessoa como decorrência
do seu pertencimento a determinado grupo estigmatizado na sociedade, ou mesmo
negar direitos calcado nas características pessoais de outrem, a exemplo de cor de
pele, orientação sexual, questões relativas a seu gênero, bem como por ser
integrante de religião de matriz africana, etc., restar-se-á caracterizado o discurso do
ódio. Caso contrário, pode ser o caso de aplicação do Código Penal.
9 Essa informação pode ser melhor compreendida ao acessar o link disponível em:
http://www4.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/consultaMov.do?v=2&numProcesso=2018.001.05276
3-9&acessoIP=internet&tipoUsuario= Acesso em 25 de novembro de 2018
81
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2008.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 23. ed. atual. São Paulo:
Malheiros, 2008.
BRAGA, Renê Morais da Costa. A indústria das fake news e o discurso de ódio.
In: PEREIRA, Rodolfo Viana (Org.). Direitos políticos, liberdade de expressão e
discurso de ódio. Volume I. Belo Horizonte: IDDE, 2018. ISBN 978-85-67134-05-5.
Disponível em: https://goo.gl/XmUwkd. Acesso em 25 de novembro de 2018.
DANIELS, Jessie. Race, Civil Rights, and Hate Speech in the Digital Era. In:
Everett., Anna. Learning Race and Ethnicity: Youth and Digital Media. Edited by
86
MacArthur Foundation Series on Digital Media and Learning. Cambridge, MA: The
MIT Press, 2008.
FERRARI, Pollyana. Como sair das bolhas. São Paulo: EDUC/Fortaleza: Armazém
da Cultura, 2018.
FIORILLO, CAP. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2012.
87
____________. The Supreme Court and the Problem of Hate Speech. Capital
University Law Review, v. 24, 1995.
HALL, Jeffrey P. Taking “Rechts” Seriously: Ronald Dworkin and the Federal
Constitutional Court of Germany. In: German Law Journal, nº 6, vol. 9, 2008.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Tradução de João Baptista Machado. São
Paulo, WMF/Martins Fontes, 2009.
LOCKE, John. Cartas acerca da tolerância: segundo tratado sobre o Governo. São
Paulo: Abril Cultural, 1973.
MILL, John Stuart. On Liberty and Utilitarianism. New York: Bantam Dell, 1993.
SANTOS, Marco Aurélio Moura dos. O Discurso do Ódio em Redes Sociais. Lura
Editorial – São Paulo, 2016.
STRECK, Lenio Luiz. MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política & teoria do
Estado. 5. Ed. ver. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
WOLKMER, Antonio Carlos. Ideologia, estado e direito. 3ª ed. ver. e ampl. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.