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Maria Elisa Ornelas – 6ºP – FUNORTE

Saúde mental
Problema 02 – Fechamento 01
OBJETIVO 1: ALTERAÇÕES PSICOPATOLÓGICAS elementos: qualidade, quantidade, variação, adequação e
RELATIVAS AO HUMOR congruência.
Os termos usados para descrever a qualidade (ou o
A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor,
tom) do afeto de um paciente incluem disfórico, feliz,
brilho e calor a todas as vivências humanas. Sem afetividade,
eutímico, irritável, irritado, agitado, choroso, soluçante e
a vida mental torna-se vazia, sem sabor. “Afetividade” é um
embotado. A quantidade de afeto é uma medida de sua
termo genérico, que compreende várias modalidades de
intensidade. Pode variar entre plano, normal ou lábil.
vivências afetivas, como o humor, as emoções e os
A adequação do afeto refere-se a como ele está
sentimentos.
correlacionado com o ambiente. Um paciente que esteja
A maior dificuldade no estudo da afetividade é a
rindo em um momento solene durante um enterro é
definição do termo. Nas mais variadas áreas de
considerado com afeto inadequado.
conhecimento, afeto pode ser relacionado com sentimento,
O afeto também pode ser congruente ou
emoção, carinho, simpatia, atenção, paixão e
incongruente com o humor ou o conteúdo de pensamento
temperamento.
do paciente. Um paciente pode relatar se sentir deprimido
A afetividade pode ser definida como todo o
ou descrever um tema depressivo, mas fazê-lo rindo,
domínio das emoções, dos sentimentos e dos estados de
sorrindo e sem sugestão de tristeza.
humor. Está diretamente relacionada com as sensações, os
impulsos e as volições, ou seja, com todo tipo de vivência HUMOR
individual e suas formas de expressão mais complexas e O humor, ou estado de ânimo, é definido como o
essencialmente humanas. tônus afetivo do indivíduo, o estado emocional basal e difuso
Embora seja controversa a ordenação das em que se encontra a pessoa em determinado momento.
experiências da vida afetiva, na tradição psicopatológica É a disposição afetiva de fundo que penetra toda a
distinguem-se cinco tipos básicos de vivências afetivas: experiência psíquica, a lente afetiva que dá às vivências do
- Afeto sujeito, a cada momento, uma cor particular, ampliando ou
- Emoções reduzindo o impacto das experiências reais e, muitas vezes,
- Sentimentos modificando a natureza e o sentido das experiências
- Humor ou estado de ânimo vivenciadas.
- Paixões Tradicionalmente, o humor é definido como o
estado emocional interno e continuado do paciente. Sua
AFETO
experiência é subjetiva; portanto, é melhor usar as próprias
Define-se afeto como a qualidade e o tônus
palavras do paciente para descrever seu humor. Termos
emocional que acompanham uma ideia ou representação
como “triste”, “irritado”, “culpado” ou “ansioso” são
mental. Os afetos acoplam-se a ideias, anexando a elas um
descrições comuns do humor.
colorido afetivo. Seriam, assim, o componente emocional de
O humor é o tônus afetivo em que o indivíduo se
uma ideia. Em acepção mais ampla, usa-se também o termo
encontra em determinado instante. Ele determina uma
“afeto” para designar, de modo inespecífico, qualquer
tonalidade afetiva particular a cada momento e modifica a
estado de humor, sentimento ou emoção.
natureza e o sentido das experiências vivenciadas.
Afeto difere de humor, visto que é a expressão do
Segundo Paim, o humor reúne elementos psíquicos
humor ou o que o humor do paciente parece ser para o
aos somáticos, ou seja, o humor é vivenciado no corpo e
médico. O afeto é descrito, muitas vezes, com os seguintes
influencia as funções vegetativas do organismo, como
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digestão, sono, estado de vigília, ritmo cardíaco e A puerilidade é uma alteração do humor que se
respiratório. caracteriza pelo aspecto infantil, simplório, regredido. O
ALTERAÇÕES DO HUMOR indivíduo ri ou chora por motivos banais; sua vida afetiva é
superficial, sem afetos profundos, consistentes e
Distimia, em psicopatologia, é o termo que designa
duradouros. Verifica-se a puerilidade especialmente em
a alteração básica do humor, tanto no sentido da inibição
alguns pacientes com esquizofrenia (antigamente
como no sentido da exaltação. Não se deve confundir o
denominada esquizofrenia hebefrênica), em indivíduos com
sintoma distimia com o transtorno distimia, que, segundo as
déficit intelectual, em algumas pessoas com transtorno da
classificações da Classificação internacional de doenças e
personalidade histriônica e em personalidades imaturas, de
problemas relacionados à saúde (CID-11) e do Manual
modo geral.
diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), é
Assemelhando-se à puerilidade, a moria é uma
um transtorno depressivo leve e crônico.
forma de alegria muito pueril, ingênua, boba, que ocorre
Da mesma forma, nas últimas décadas, o termo
principalmente em pacientes com lesões extensas dos lobos
genérico depressão, significando tristeza patológica, tornou-
frontais, em pessoas com deficiência mental e naquelas com
se uma designação consagrada, que vem substituindo os
quadros demenciais acentuados.
termos clássicos distimia hipotímica e melancolia.
No estado de êxtase, há uma experiência de
A psicopatologia utiliza, nessa mesma linha, os
beatitude, uma sensação de dissolução do Eu no todo, de
termos “distimia hipertímica”, “expansiva” ou “eufórica”
compartilhamento íntimo do estado afetivo interior com o
para nomear a exaltação patológica do humor, ou seja, as
mundo exterior, muitas vezes com colorido hipertímico e
bases afetivas dos quadros maníacos.
expansivo.
Muito frequentemente, junto com o humor
O estado de êxtase está frequentemente associado
depressivo (sobretudo quando este é acompanhado de
a experiências circunscritas a um contexto religioso ou
desesperança e angústia) ocorrem ideias relacionadas à
místico, não sendo, então, considerado fenômeno
morte (“Gostaria de morrer para que o sofrimento
psicopatológico, mas cultural. Entretanto, o êxtase também
acabasse”), ideias suicidas (“Penso em me matar, em acabar
pode estar presente em condições psicopatológicas, como
com minha vida”), planos suicidas (“Planejei como iria me
no transe histérico, na esquizofrenia ou na mania.
matar”), atos (“Comprei remédios, veneno, uma corda para
Já na irritabilidade patológica, há hiper-reatividade
me enforcar”) e tentativas de suicídio.
desagradável, hostil e, eventualmente, agressiva a estímulos
A ideação suicida deve ser sempre investigada
(mesmo leves) do meio exterior. Qualquer estímulo é
cuidadosamente em pacientes com humor triste, angústia e
sentido como perturbador, e o indivíduo reage prontamente
desesperança.
de forma disfórica. Qualquer ruído (de crianças, dos vizinhos,
O termo disforia, por sua vez, diz respeito à distimia
de carros, etc.), a presença de muitas pessoas no local,
acompanhada de uma tonalidade afetiva desagradável,
qualquer crítica ao paciente, enfim, tudo é vivenciado com
mal-humorada. Quando se fala em depressão disfórica ou
muita irritação.
mania disfórica, está sendo designado um quadro de
A irritabilidade patológica é sintoma bastante
depressão ou de mania acompanhado de forte componente
frequente e inespecífico, indicando, não raramente, quadro
de irritação, amargura, desgosto ou agressividade.
de natureza orgânica, com disfunção cerebral identificável.
Os dois polos básicos das alterações do humor, ou
Muitas vezes, está associada a experiências e transtornos de
timopatias, são o depressivo, ou hipotímico, e o maníaco, ou
ansiedade. Também é frequente em pacientes com
hipertímico. Assim, hipotimia refere-se à base afetiva de
síndromes depressivas, quadros maníacos e esquizofrenia. O
todo transtorno depressivo. Por sua vez, o termo hipertimia
profissional deve sempre procurar diferenciar a irritabilidade
(ou distimia hipertímica) refere-se a humor
primária, oriunda diretamente de um transtorno mental
patologicamente alterado no sentido da exaltação e da
(depressão, ansiedade, mania, esquizofrenia), da
alegria.
irritabilidade secundária, relacionada a transtorno
No espectro maníaco, o termo euforia, ou alegria
neurocognitivo e/ou a pacientes com lesões/disfunções
patológica, define o humor morbidamente exagerado, no
cerebrais.
qual predomina um estado de alegria intensa e
A esfera dos transtornos do humor inclui o
desproporcional às circunstâncias.
transtorno unipolar e o bipolar, e os instrumentos descritos
Já no estado de elação, há, além da alegria
aqui avaliam depressão e mania.
patológica, a expansão do Eu, uma sensação subjetiva de
Para mania, os problemas são semelhantes aos dos
grandeza e de poder. O Eu vai além dos seus limites,
transtornos psicóticos, uma vez que o insight limitado e a
ganhando o mundo.
agitação podem impedir o relato preciso dos sintomas,
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portanto, as avaliações do médico, incluindo dados de A EMOÇÃO é um estado afetivo intenso, de curta
observação, são geralmente necessárias. duração, originado geralmente como a reação do indivíduo
A avaliação da depressão, por sua vez, depende, em a certas excitações internas ou externas, conscientes ou
inconscientes.
um grau substancial, da avaliação subjetiva dos estados de
O humor e as emoções são, ao mesmo tempo,
humor; logo, entrevistas e instrumentos de autorrelato são experiências psíquicas e somáticas, e revelam sempre a
comuns. Tendo em vista que a depressão é comum na unidade psicossomática básica do ser humano.
população em geral e envolve morbidade e mesmo Os SENTIMENTOS estão comumente associados a
mortalidade significativas, instrumentos de triagem – conteúdos intelectuais, valores, representações e, em geral,
especialmente aqueles que utilizam um formato de não implicam concomitantes somáticos. São estados e
autorrelato – podem ser bastante úteis em contextos de configurações afetivas estáveis; em relação às emoções, são
mais atenuados em sua intensidade e menos reativos a
cuidados primários e da comunidade.
estímulos passageiros.
Considera-se humor a tonalidade de sentimento Os transtornos depressivos (TD) são condições
mantido pelo paciente durante a avaliação. Para a avaliação médicas sérias, potencialmente letais, cujo quadro clínico é
desta função considera-se: dominado por humor patológico e alterações
a) o conteúdo verbalizado; comportamentais, cognitivas e vegetativas.
b) o que se observa ou se deduz do tom de voz, da expressão
facial, da postura corporal; EPIDEMIOLOGIA
c) a maneira como o paciente relata experimentar os No Brasil, possivelmente os valores são
próprios sentimentos, o que pode requerer um relativamente elevados para depressão maior, considerando
questionamento específico sobre “como os sentimentos são o cenário internacional.
experimentados”, e No mundo, a depressão, em 2010, teria acometido
cerca de 298 milhões de pessoas, das quais 187 milhões
d) o relato de oscilações e variações de humor no curso do
eram mulheres.
dia. A depressão causa considerável impacto na saúde
física e mental e na qualidade de vida das pessoas
OBJETIVO 2: DEPRESSÃO MAIOR
acometidas; ela é, entre todas as doenças (físicas e mentais),
O humor pode ser definido como o tônus afetivo do uma das principais causas daquilo que a Organização
indivíduo, o estado emocional basal que colore a percepção Mundial da Saúde (OMS) chama de “anos vividos com
que a pessoa tem do mundo. Está intimamente ligado ao incapacidades” e “perda de anos em termos de morte
afeto e pode ser descrito de diversas maneiras: ansioso, prematura e perda de anos de vida produtiva”.
Estudos epidemiológicos indicam que 15 a 40% das
deprimido, eufórico, entre outros. Define-se afeto como a
pessoas com depressão maior já tentaram alguma vez o
qualidade emocional que acompanha uma ideia, a expressão suicídio. Estudos de suicídios completos revelam que 60% de
externa do estado emocional, e pode ser congruente ou todos eles são realizados por pessoas com depressão. Ter a
incongruente com o humor. doença aumenta em 20 vezes o risco de suicídio.
Os transtornos do humor, antes denominados Os transtornos do humor são comuns. Nos
psicoses maníaco-depressivas, constituem um grupo de levantamentos mais recentes, o transtorno depressivo maior
condições clínicas caracterizado pela perda do senso de tem a prevalência mais alta ao longo da vida (quase 17%) de
controle das expressões afetivas e pela experiência todos os transtornos psiquiátricos.
subjetiva de grande sofrimento. Não foi encontrada correlação entre condição
A perturbação fundamental é uma alteração do socioeconômica e transtorno depressivo maior. A depressão
humor, no sentido de uma depressão (com ou sem é mais comum em áreas rurais do que em áreas urbanas. A
prevalência de transtorno do humor não difere entre as
ansiedade associada) ou de uma exaltação. Esta alteração é
raças. Contudo, existe uma tendência dos examinadores a
geralmente acompanhada por uma modificação no nível diagnosticar menos transtorno do humor e mais
global de atividade e a maioria dos outros sintomas é esquizofrenia em pacientes cuja base racial ou cultural difira
secundária ou facilmente compreendida no contexto de tais da sua.
alterações. O DSM-V não usa mais o termo “transtornos do Uma observação quase universal,
humor”, e sim “transtorno bipolar e relacionados”, e independentemente de país ou cultura, é a prevalência 2x
maior de transtorno depressivo maior em mulheres do que
“transtornos depressivos”. O CID-10 utiliza basicamente
em homens. Hipóteses para essa disparidade: diferenças
cinco categorias: episódio maníaco, transtorno afetivo hormonais, os efeitos do parto, estressores psicossociais
bipolar, episódio depressivo, transtorno depressivo diferentes para mulheres e para homens e modelos
recorrente e transtornos persistentes do humor (ciclotimia e comportamentais de impotência aprendida.
distimia). A idade média de início em adultos da população
geral variou de 27,2 anos em países em desenvolvimento e
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28,9 anos em países desenvolvidos, e atualmente existe uma hipocampo. Entre outros, o BDNF estimula a plasticidade
tendência a idades de início mais precoces (USP). A idade sináptica em várias regiões do cérebro.
média de início para transtorno depressivo maior é em torno Há muito se correlacionaram alterações dos ritmos
circadianos com transtornos do humor. Por exemplo,
dos 40 anos, com 50% de todos os pctes tendo início entre
períodos insuficientes de luz podem ocasionar depressão
os 20 e os 50 anos. Esse transtorno tbm pode iniciar na sazonal; além disso, regulação anormal do ciclo sono/vigília,
infância ou na velhice. Dados recentes revelam que a temperatura corporal, pressão arterial e outras funções
incidência de transtorno depressivo maior pode estar endócrinas controladas pelo relógio interno podem ser
aumentando entre pessoas < 20 anos. É possível que isso sintomas depressivos proeminentes.
esteja relacionado ao ↑ do uso de álcool e do abuso de Existem ainda associações entre as monoaminas e
drogas nessa faixa etária (Kaplan). o ritmo circadiano: a síntese e/ ou secreção de
neurotransmissores estão sob influência de ritmos
O transtorno depressivo maior ocorre mais
circadianos, por exemplo, conferindo ritmicidade ao
frequentemente em pessoas sem relacionamentos
transportador de dopamina e à monoamino-oxidase. Isto
interpessoais íntimos e naquelas que são divorciadas ou
explicaria por que a regularização dos ritmos biológicos
separadas.
beneficia o deprimido.
Além da elevada prevalência, as depressões são
A contribuição de múltiplos fatores genéticos na
doenças crônicas, frequentemente persistentes e manifestação da depressão foi estimada em 40% a 50%,
incapacitantes. Cerca de metade dos deprimidos apresenta sobrando espaço para a interferência de fatores
um período prodrômico antecedendo o primeiro episódio socioambientais. Fatores ambientais são filtrados por meio
depressivo, caracterizado por sintomas ansiosos e da atividade de genes que conferem diferentes
depressivos leves. Sem tratamento um episódio leve a suscetibilidades a depressão entre indivíduos.
moderado dura 4 a 30 semanas e um grave de 6 a 8 meses; Dados familiares indicam que, se um dos genitores
tem um transtorno do humor, um dos filhos tem um risco
25% destes se mantém sintomáticos por mais de 12 meses;
entre 10 e 25% de também apresentá-lo. Se ambos os
episódios tratados duram 3 meses, mas a suspensão precoce genitores são afetados, o risco praticamente duplica.
do antidepressivo pode precipitar recaídas. O risco é maior se os afetados forem parentes em
1º grau do que mais distantes. A presença de doença mais
ETIOLOGIA/FISIOPATOLOGIA grave na família também confere um risco maior.
As depressões resultariam da complexa interação Considerando os transtornos unipolar e bipolar
de processos biológicos (resposta ao estresse, fatores juntos, estudos encontram uma taxa de concordância para
neurotróficos), psicológicos (personalidade e transtorno do humor nos gêmeos monozigóticos (MZ) de 70
relacionamentos pessoais), ambientais (dieta, álcool, ritmos a 90%, comparada com a de gêmeos dizigóticos (DZ) do
biológicos) e genéticos. Considerando as depressões como mesmo sexo de 16 a 35%.
sendo heterogêneas, diferentes etiologias estariam Dentre os fatores de risco ambientais, destacam-se
embasando o processo e a combinação de múltiplos fatores o uso de substâncias psicoativas (álcool, drogas, inibidores
desencadearia a doença em pacientes biologicamente do apetite, antidepressivos), alteração dos ritmos biológicos
vulneráveis. (privação de sono) e eventos adversos precoces, como perda
Durante 50 anos prevaleceu a teoria parental, percepção de falta de carinho dos pais, baixo
monoaminérgica, segundo a qual a depressão era causada suporte social e abuso físico e/ ou sexual na infância. Sabe-
pela falta ou desequilíbrio dos neurotransmissores se que eventos adversos na infância estão associados a
noradrenalina, serotonina e dopamina no sistema límbico, alterações persistentes nos sistemas de resposta a estresse,
que os antidepressivos corrigiam. envolvendo principalmente o fator de liberação de
Avanços na biologia molecular possibilitaram corticotropina e o eixo HHA, elevando a vulnerabilidade a
identificar sistemas de mensageiros secundários (adenil- transtornos afetivos e ansiosos na idade adulta.
ciclase, por exemplo) e peptídeos neuroativos em uma De acordo com a teoria cognitiva, a depressão
cascata de alterações cerebrais após administração crônica resulta de distorções cognitivas específicas presentes nas
dos antidepressivos, envolvidos nos processos de prazer, pessoas predispostas a desenvolvê-la. Essas distorções,
recompensa e alteração de ritmos circadianos. referidas como esquemas depressogênicos, são modelos
Ocorrem desregulação dos eixos endócrinos cognitivos que percebem tanto os dados internos quanto os
hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), tireoidiano e ligado ao externos de formas alteradas por experiências precoces.
hormônio de crescimento, anormalidades do sono, Aaron Beck postulou a tríade cognitiva da depressão, que
desajuste de ritmos circadianos, anormalidades do sistema consiste em (1) visão sobre si próprio – uma autopercepção
imunológico e alterações da morfofisiologia cerebral. negativa, (2) sobre o mundo – uma tendência a
Evidências clínicas e laboratoriais sugerem que a depressão experimentar o mundo como hostil e exigente e (3) sobre o
esteja associada a uma hiperativação do eixo HHA, o que futuro – a expectativa de sofrimento e fracasso.
tornaria o indivíduo mais sensível aos eventos vitais. NOREPINEFRINA
O estresse crônico também reduz a expressão do A correlação sugerida por estudos de ciências
fator neurotrófico derivado do cérebro, em inglês BDNF, no
básicas entre a down regulation dos receptores β-
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adrenérgicos e as respostas clínicas aos antidepressivos é indivíduos saudáveis, exacerbar os sintomas na depressão e
provavelmente a evidência isolada mais convincente ↓ os sintomas na mania. Eles podem induzir alterações na
indicando um papel direto do sistema noradrenérgico na atividade hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal (HHS) e no
sono que imitam aquelas associadas com depressão grave.
depressão.
Alguns pctes com transtornos do humor em remissão, bem
Outras evidências implicaram também os como seus parentes em 1º grau que nunca tiveram a doença,
receptores β2 pré-sinápticos na depressão, visto que sua têm ↑ sensibilidade a agonistas colinérgicos.
ativação resulta em ↓ da quantidade de norepinefrina O ácido γ-aminobutírico (GABA) tem um efeito
liberada. Esses receptores também estão localizados nos inibidor sobre as vias ascendentes monoaminérgico,
neurônios serotonérgicos e regulam a quantidade de particularmente os sistemas mesocortical e mesolímbico. ↓
serotonina liberada. A eficácia clínica dos antidepressivos dos níveis plasmático, do LCR e cerebral de GABA foram
observadas na depressão. Estudos com animais tbm
com efeitos noradrenérgicos (p.ex., a venlafaxina) apoia
revelaram que o estresse crônico pode ↓ e, por fim, esgotar
ainda mais um papel da norepinefrina na fisiopatologia de os níveis de GABA. Por sua vez, os receptores de GABA
pelo menos alguns dos sintomas da depressão. sofrem regulação ascendente por antidepressivos, e alguns
SEROTONINA medicamentos GABAérgicos têm efeitos antidepressivos
Com o forte efeito que os inibidores seletivos da fracos.
recaptação de serotonina (ISRSs) – p.ex., a fluoxetina – têm Os aminoácidos glutamato e glicina são os
tido sobre o tto da depressão, a serotonina se tornou a principais neurotransmissores excitatórios e inibitórios no
amina biogênica neurotransmissora mais comumente SNC. Esses aminoácidos ligam-se a sítios associados com o
associada à depressão. Múltiplos subtipos de receptores receptor de N-metil-D-aspartato (NMDA), e um excesso de
serotonérgicos foram identificados → possibilidade futura estimulação glutamatérgica pode causar efeitos
de ttos ainda mais específicos para depressão. neurotóxicos. Significativamente, existe ↑ concentração de
Além do fato de os ISRSs e outros antidepressivos receptores de NMDA no hipocampo. O glutamato, portanto,
serotonérgicos serem eficazes no tto da depressão, outros pode operar em conjunto com a hipercortisolemia para
dados indicam que a serotonina está envolvida na mediar os efeitos neurocognitivos prejudiciais da depressão
fisiopatologia desse transtorno: a depleção da serotonina recorrente grave. Evidências recentes apontam que agentes
pode precipitar depressão, e alguns pctes com impulsos que antagonizam os receptores NMDA têm efeitos
suicidas têm concentrações ↓ de metabólitos da antidepressivos.
serotonina no LCR e concentrações ↓ de zonas de captação SEGUNDOS MENSAGEIROS E CASCATAS INTRACEL.
de serotonina nas plaquetas. A ligação de um neurotransmissor e um receptor
DOPAMINA pós-sináptico desencadeia uma cascata de processos ligados
Dados indicam que sua atividade pode estar ↓ na à membrana e intracelulares mediados por sistemas de
depressão e ↑ na mania. segundo mensageiro. Os receptores nas Mb celulares
Os medicamentos que ↓ as concentrações da interagem com o ambiente intracelular por meio de
dopamina (p.ex., a reserpina – anti-hipertensivo) e as
proteínas ligantes do nucleotídeo guanina (proteínas G). As
doenças que também têm esse efeito (p. ex., doença de
proteínas G, por sua vez, se conectam a várias enzimas
Parkinson) estão associados com sintomas depressivos.
Em contraste, medicamentos que ↑ suas intracelulares (p. ex., adenilato ciclase, fosfolipase C e
concentrações, como a tirosina, a anfetamina e a fosfodiesterase) que regulam a utilização de energia e a
bupropiona, ↓ os sintomas de depressão. formação de segundos mensageiros, como o nucleotídeo
Duas teorias recentes sobre dopamina e depressão cíclico (p. ex., adenosina monofosfato cíclico [cAMP] e
são que a via mesolímbica da dopamina pode ser monofosfato cíclico de guanosina [cGMP]), bem como os
disfuncional e que seu receptor D1 pode ser hipoativo na
fosfatidilinositóis (p. ex., inositol trifosfato e diacilglicerol) e
depressão.
cálcio-calmodulina. Os segundos mensageiros regulam a
OUTROS DISTÚRBIOS DE NEUROTRANSMISSORES
função dos canais iônicos da Mb neuronal. Evidências
A acetilcolina (ACh) é encontrada nos neurônios
crescentes também indicam que agentes estabilizadores do
que se distribuem de forma difusa por todo o córtex
cerebral. Os neurônios colinérgicos têm relações recíprocas humor agem sobre as proteínas G ou outros segundos
ou interativas com todos os três sistemas de monoamina. mensageiros.
Níveis anormais de colina, que é um precursor de ALTERAÇÕES DA REGULAÇÃO HORMONAL
ACh, foram encontrados na necropsia de cérebros de alguns Alterações duradouras nas respostas
pctes deprimidos, talvez refletindo anormalidades na neuroendócrinas e comportamentais podem resultar de
composição de fosfolipídeo das céls. Agentes agonistas e estresse precoce grave. Estudos com animais indicam que
antagonistas colinérgicos têm efeitos clínicos diferentes mesmo períodos transitórios de privação materna podem
sobre depressão e mania. alterar as respostas subsequentes a estresse. A atividade do
Os agentes agonistas colinérgicos podem produzir gene codificando para o fator neurotrófico derivado do
letargia, falta de energia e retardo psicomotor em cérebro (BDNF) neuroquinina é ↓ após estresse crônico,
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assim como o processo de neurogênese. Estresse ALTERAÇÕES DA NEUROFISIOLOGIA DO SONO


prolongado, portanto, pode induzir alterações no estado A depressão está associada com perda prematura
funcional dos neurônios e acabar levando a morte celular. do sono profundo (de onda lenta) e ↑ no despertar
Estudos recentes com humanos deprimidos noturno. Este último é refletido por quatro tipos de
revelam que uma história de trauma precoce está associada distúrbio: (1) ↑ nos despertares noturnos, (2) ↓ no tempo
com atividade hipotálamo-hipófise-suprarrenal ↑ de sono total, (3) ↑ do sono de movimentos oculares
acompanhada de alterações estruturais (i.e., atrofia ou ↓ de rápidos (REM) fásico e (4) ↑ da temperatura corporal.
volume) no córtex cerebral. A combinação de movimento REM ↑ e sono de
Atividade de hipotálamo-hipófise-suprarrenal ↑ é onda lenta ↓ resulta em uma ↓ significativa no primeiro
uma característica de respostas a estresse em mamíferos e período de sono não REM (NREM), um fenômeno chamado
uma das ligações mais claras entre depressão e a biologia do de latência REM ↓. Esta, junto com déficits do sono de onda
estresse crônico. Hipercortisolemia na depressão sugere um lenta, normalmente persiste após a recuperação de um
ou mais dos seguintes distúrbios centrais: tônus inibitório de episódio depressivo.
serotonina ↓; impulso ↑ de norepinefrina, ACh ou A secreção de GH embotada após o início do sono
hormônio liberador de corticotrofina (CRH); ou ↓ da inibição está relacionada com ↓ do sono de onda lenta. A
do feedback do hipocampo. combinação de latência REM ↓, densidade REM ↑ e
A evidência de ↑ da atividade do eixo HHS é manutenção do sono ↓ identifica aproximadamente 40%
aparente em 20 a 40% dos pctes ambulatoriais deprimidos e dos pctes ambulatoriais deprimidos e 80% dos internados
em 40 a 60% dos internados deprimidos. deprimidos.
EIXO TIREOIDIANO Achados falso-negativos costumam ser observados
Aproximadamente 5 a 10% das pessoas avaliadas em pctes mais jovens, hipersonolentos, que, na verdade,
para depressão têm disfunção tireoidiana ainda não podem experimentar ↑ no sono de onda lenta durante
detectada, conforme refletido por nível basal do hormônio episódios de depressão. Cerca de 10% dos indivíduos
estimulante da tireoide (TSH) ↑ ou resposta de TSH ↑ a uma saudáveis têm perfis de sono anormais, e, como ocorre com
infusão de 500 mg do neuropeptídeo hipotalâmico a não supressão de dexametasona, casos de falso-positivos
hormônio liberador de tireotrofina (TRH). são vistos com frequência em outros transtornos
Essas anormalidades muitas vezes estão associadas psiquiátricos. Foi verificado que pctes que manifestam um
com níveis ↑ de anticorpos antitireoidianos e, a menos que perfil de sono caracteristicamente anormal são menos
corrigido com terapia de reposição hormonal, podem responsivos a psicoterapia e apresentam um risco ↑ de
comprometer a resposta ao tto. recaída ou recidiva e podem se beneficiar, sobretudo, da
Um subgrupo ainda maior de pctes deprimidos (p. farmacoterapia.
ex., 20 a 30%) apresenta uma resposta de TSH embotada à DISTÚRBIOS IMUNOLÓGICOS
administração de TRH. Até o momento, a principal Os transtornos depressivos estão associados com várias
implicação terapêutica de uma resposta de TSH embotada é anormalidades imunológicas, incluindo ↓ da proliferação de
a evidência de um risco ↑ de recaída apesar da terapia linfócitos em resposta a mitógenos e outras formas de
antidepressiva preventiva. Vale destacar que, ao contrário imunidade celular comprometida. Esses linfócitos
do teste de supressão com dexametasona (TSD), a resposta produzem neuromoduladores, como o fator liberador de
de TSH embotada a TRH geralmente não se normaliza com corticotrofina (CRF), e citocinas. Parece haver uma ligação
tratamento eficaz. com gravidade clínica, hipercortisolemia e disfunção
HORMÔNIO DO CRESCIMENTO imunológica, e a interleucina-1 pode induzir atividade gênica
O GH é secretado da hipófise anterior após para a síntese de glicocorticoide.
estimulação por norepinefrina (NE) e dopamina. A secreção IMAGEM CEREBRAL ESTRUTURAL E FUNCIONAL
é inibida por somatostatina, um neuropeptídeo A anormalidade mais consistente observada nos
hipotalâmico, e por CRH. Níveis de somatostatina do LCR ↓ transtornos depressivos é a hiperintensidade anormal nas
foram relatados na depressão e níveis ↑ foram observados regiões subcorticais, tais como as regiões periventriculares,
na mania. os gânglios da base e o tálamo.
Alguns pacientes deprimidos também podem ter
PROLACTINA volumes reduzidos do hipocampo ou do núcleo caudado, ou
A prolactina é liberada da hipófise pela estimulação de ambos, sugerindo defeitos mais focais em sistemas
da serotonina e é inibida por dopamina. A maioria dos neurocomportamentais relevantes.
estudos não encontrou anormalidades significativas da À TC, a depressão pode estar relacionada com um
secreção de prolactina basal ou circadiana na depressão, ↑ relativo na atividade do hemisfério não dominante. Além
embora uma resposta embotada a vários agonistas de de uma redução global do metabolismo cerebral anterior, foi
serotonina tenham sido descritas. Essa resposta é incomum observado aumento do metabolismo da glicose em diversas
entre mulheres antes da menopausa, o que sugere que o regiões límbicas, em particular entre pacientes com
estrogênio tenha um efeito moderador. depressão recorrente relativamente grave e história familiar
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de transtorno do humor. Durante episódios de depressão, o O humor é depressivo ou irritável com anedonia
aumento do metabolismo da glicose está correlacionado (prejuízo da capacidade de sentir alegria e prazer) e perda da
com ruminações importunas. reatividade a estímulos positivos, podendo haver
predomínio de apatia no lugar de humor sofrido. Os afetos
são de cunho negativo, representados por sentimentos de
COMORBIDADES
baixa autoestima, culpa, desesperança, burrice, tristeza,
Indivíduos com transtornos depressivos maiores apatia, solidão, ansiedade, tédio, vazio, etc. Pode
têm maior risco de apresentar ≥ 1 transtornos comórbidos. predominar apatia e indiferença a tudo ou sofrimento com
Os mais frequentes são abuso ou dependência de álcool, angústia e desespero.
transtornos de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo Cerca de 2/3 de todos os pctes deprimidos cogitam
(TOC) e transtorno de ansiedade social. o suicídio, e 10 a 15% cometem-no. Aqueles recentemente
De modo inverso, indivíduos com transtornos por hospitalizados por uma tentativa ou ideação suicida têm um
uso de substâncias e de ansiedade também têm um risco risco mais alto durante a vida de suicídio bem-sucedido do
elevado de transtorno do humor comórbido atual ou ao que aqueles que nunca foram hospitalizados pela mesma
longo da vida. razão.
Tanto no transtorno unipolar como no bipolar, Alguns indivíduos deprimidos parecem não ter
enquanto os homens apresentam com mais frequência consciência de sua depressão e não se queixam de um
transtornos por uso de substâncias, as mulheres têm distúrbio do humor, ainda que exibam afastamento da
transtornos de ansiedade ou alimentares comórbidos. família, dos amigos e de atividades que antes lhes
Os transtornos por uso de substâncias e de interessavam.
ansiedade comórbidos pioram o prognóstico da doença e ↑ Quase todos os deprimidos (97%) se queixam de ↓
muito o risco de suicídio entre indivíduos com depressão da energia, têm dificuldade de terminar tarefas, têm mau
maior unipolar e bipolar. desempenho na escola e no trabalho e menos motivação
para desenvolver novos projetos.
PERDAS E DEPRESSÃO
Cerca de 80% se queixam de dificuldades para
As síndromes e as reações depressivas surgem com dormir, especialmente de despertar matinal precoce (i.e.,
muita frequência após perdas significativas: de pessoa muito insônia terminal), e de despertares múltiplos ao longo da
querida, emprego, moradia, status socioeconômico ou algo noite, durante os quais ruminam sobre seus problemas.
Muitos têm ↓ do apetite e perda de peso, mas outros
puramente simbólico. Apesar de muitas vezes ser
experimentam ↑ do apetite e de peso e dormem por mais
desencadeada por perdas, a depressão não é o mesmo que
tempo do que o habitual. Esses pctes são classificados com
o sentimento normal do luto, mesmo que marcante. aspectos atípicos.
Entretanto, a distinção entre luto normal, mas intenso, e A ansiedade é um sintoma comum da depressão e
depressão nem sempre é fácil. afeta até 90% de todas as pessoas deprimidas. As várias
mudanças na ingestão de alimentos e no
repouso podem agravar condições clínicas
coexistentes, como diabetes, hipertensão,
DPOC e doenças cardíacas. Outros sintomas
vegetativos incluem anormalidade na
menstruação e ↓ do interesse e do
desempenho nas atividades sexuais. Os
problemas sexuais muitas vezes podem
levar a encaminhamentos inadequados,
como terapia de casais ou terapia sexual,
quando os médicos falham em reconhecer o
transtorno depressivo subjacente.
Ansiedade (incluindo ataques de
pânico), abuso de álcool e queixas
somáticas (p. ex., obstipação e cefaleias)
frequentemente complicam o tto da
depressão. Cerca de 50% de todos os
pacientes descrevem uma variação diurna
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS de seus sintomas, com ↑ de gravidade pela manhã e ↓ dos
Dentre as manifestações clínicas, é importante sintomas à noite. Os sintomas cognitivos incluem relatos
identificar 3 aspectos nucleares, que independem da subjetivos de incapacidade de se concentrar e dificuldades
gravidade da depressão: humor depressivo e/ ou falta de para pensar.
interesse e motivação com prejuízo da capacidade O pensamento costuma se lentificar, dificultando o
hedônica, queda do ânimo ou fadiga, devida à redução nos raciocínio, a capacidade de concentração (diminui a atenção)
níveis de energia, e lentificação psicomotora. e consequentemente a memória (fixação e evocação de
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acontecimentos). São comuns a latência de respostas e a Era chamada de endógena no passado, porque sua
sensação de "brancos" no raciocínio. As ideias são sintomatologia era considerada típica das depressões sem
enviesadas para o polo negativo, congruentes com o humor causa psicossocial, não biologicamente determinadas; ela
depressivo, por exemplo, de pessimismo, culpa, falta de equivale à depressão "com características somáticas" da
sentido, ruína, fracasso, desesperança, menosvalia, doença, CID-10. Caracteriza-se por:
morte e suicídio. 1) Perda de interesse ou prazer em atividades habitualmente
O deprimido costuma manter a crítica acerca da agradáveis.
doença, mas distorce a realidade para o polo negativo. 2) Humor depressivo não reativo a estímulos prazerosos.
Eventos do passado, do presente e do futuro são 3) Tristeza de qualidade distinta da normal (diferente
interpretados de modo pessimista e eventos positivos são do luto).
desvalorizados. Na depressão psicótica, as ideias depressivas 4) Sentimento de culpa.
são amplificadas a ponto de se tornarem delirantes (p. ex., 5) Insônia terminal (2 horas ou mais antes do habitual).
delírios de pecado, pobreza, culpa, doença, etc.), quando 6) Piora matutina.
deixam de ser passíveis de argumentação lógica. Neste caso, 7) Acentuada diminuição de apetite, perda de peso.
são frequentes as alterações de sensopercepção, como 8) Retardo ou agitação psicomotores.
alucinações auditivas e visuais. Convencionou-se realizar o diagnóstico na presença
DEPRESSÃO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES de pelo menos 1 dos 2 primeiros e 3 dos sintomas seguintes
Fobia escolar e apego excessivo aos pais podem ser no período mais grave do episódio atual de humor.
sintomas de depressão em crianças. A depressão melancólica afeta indivíduos mais
Mau desempenho escolar, abuso de drogas, velhos, sem evidentes fatores desencadeantes e sem
comportamento antissocial, promiscuidade sexual, distúrbios pré-mórbidos de personalidade; pode apresentar
ociosidade e fuga de casa podem ser sintomas de depressão sintomas psicóticos, mais frequentes em deprimidos
em adolescentes. internados.
Classicamente, as depressões melancólicas
DEPRESSÃO EM IDOSOS respondiam melhor a antidepressivos tricíclicos (ADTs) e
A depressão é mais comum em pessoas mais velhas eletroconvulsoterapia (ECT) e não às psicoterapias.
do que na população em geral. Vários estudos relataram
DEPRESSÃO ATÍPICA
taxas de prevalência variando de 25 a quase 50%. Vários
estudos indicam que a depressão em pessoas mais velhas Na depressão atípica, verificam-se inversão dos
pode estar correlacionada a condição socioeconômica ↓, sintomas vegetativos típicos, com 1) aumento de apetite
perda de um cônjuge, doença física concomitante e e/ou ganho de peso e 2) hipersônia (pelo menos 10 horas ao
isolamento social. dia ou 2 horas a mais que o habitual), além de 3) falta de
Outros estudos indicaram que a depressão em energia acentuada (sensação de exaustão, enorme cansaço,
idosos é pouco diagnosticada e raramente tratada, pernas pesadas), 4) reatividade do humor (capacidade de se
sobretudo por médicos gerais. O baixo reconhecimento
alegrar frente a eventos positivos) e 5) padrão persistente de
dessa depressão pode ocorrer porque o transtorno aparece
com mais frequência por meio de queixas somáticas nos sensibilidade à rejeição interpessoal.
idosos do que nos grupos mais jovens. Além disso, o ageismo Sintomas atípicos, principalmente aumento de
pode influenciar e levar os médicos a aceitar sintomas apetite e hipersônia, predominam no sexo feminino e são
depressivos como normais em pctes mais velhos. mais comuns em deprimidos bipolares.
Uma das grandes diferenças observada na
SUBTIPOS comparação com a depressão melancólica foi o padrão de
As depressões são condições clínicas heterogêneas resposta a antidepressivos; positiva com inibidores da
cuja apresentação clínica e curso são variáveis. Ainda que monoamino-oxidase (IMAOs) e inibidores seletivos de
subsindrômicos, se os sintomas depressivos forem crônicos recaptação de serotonina e negativa com antidepressivos
podem causar morbidade e prejuízo funcional significativos.
tricíclicos.
Os subtipos depressivos são classificados de acordo com a
sintomatologia (melancólica ou somática, psicótica, atípica), DEPRESSÃO SAZONAL
a polaridade (bipolar ou unipolar), o curso (recorrente, A evidência mais robusta das anormalidades dos
crônico), fatores desencadeantes (sazonal, puerperal) e ritmos biológicos é a depressão sazonal, caracterizada pela
gravidade (leve, moderada ou grave). ocorrência de episódios depressivos em determinadas
Ambos os sistemas diagnósticos definem a estações do ano, mais comumente no início do outono e do
inverno, com remissão na primavera e no verão.
gravidade como segue: depressão leve não incapacita, mas
Os transtornos do humor sazonais provavelmente
leva a sofrimento importante; depressão moderada afeta resultam da falha na adaptação à mudança na duração do
parcialmente o desempenho profissional ou doméstico e a fotoperíodo (1 dia) que acompanha a mudança das estações,
grave conduz à incapacitação social e/ou profissional. levando a um desajuste nos ritmos circadianos.
Ocorre predominantemente em mulheres e os
DEPRESSÃO MELANCÓLICA sintomas atípicos (hipersônia, hiperfagia, letargia, ganho de
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peso e avidez por carboidratos) são frequentes\ sugerindo congruentes (de culpa, doença, morte, negação de órgãos,
tratar-se de um subtipo depressivo bipolar. Respondem ao punição merecida, entre outros). Caso contrário, são
tratamento com fototerapia e antidepressivos. denominados sintomas psicóticos humor-incongruentes
DEPRESSÃO PUERPERAL (PÓS PARTO) (delírio de perseguição, de inserção de pensamentos,
Desenvolve-se nas primeiras quatro semanas após autorreferente, entre outros).
o parto, via de regra em primíparas, mas frequentemente a DISTIMIA
depressão teve início durante a gestação. A distimia afeta em torno de 5% da população geral
Fatores psicossociais desempenham um papel ao longo da vida, principalmente as mulheres. Incluída na
importante e devem ser endereçados. Os sintomas CID-10 como "transtorno do humor persistente”: é um
requerem tratamento medicamentoso, caso comprometam estado depressivo de intensidade leve e crônico (duração>
os cuidados maternos. Afeta de 10 a 15% das mães e 2 anos), marcado por sentimentos frequentes de
mulheres com histórico de depressão maior têm risco de 25 insatisfação e pessimismo.
a 50% de exibirem novo episódio. Seus precursores conceituais foram a personalidade
Distingue-se do blues puerperal, um quadro depressiva e a depressão neurótica, entretanto, como a
transitório e benigno dos primeiros 7 a 10 dias pós-parto, e resposta a antidepressivos e os achados laboratoriais
da psicose puerperal. Esta condição rara é um transtorno (alterações no EEG de sono, alterações do eixo HHA) eram
bipolar grave em mais de 90% dos casos e o tratamento semelhantes aos encontrados na melancolia, foi incluída nos
medicamentoso incisivo ou com eletroconvulsoterapia (ECT) transtornos do humor.Além disso, mais de 95% dos
estão indicados. pacientes com distimia desenvolverão algum episódio
DEPRESSÃO PSICÓTICA depressivo ao longo da vida e não foi encontrada distinção
Em torno de 15 a 19% das depressões são clínica entre distimia e depressão maior.
psicóticas. Os sintomas depressivos são mais graves, Sua cronicidade implica maior morbidade e
especialmente as alterações psicomotoras (lentificação e prognóstico ruim, inclusive devido à pior resposta a
agitação), ideias de cunho negativo (p. ex., culpa) e variação antidepressivos. Ela também faz com que o distímico não se
circadiana do humor. considere doente, e atribua os sintomas à sua
À diferença do que ocorre na esquizofrenia, os
personalidade. São comuns letargia, falta de iniciativa e
sintomas psicóticos são mais leves, mas assumem
importante significado clínico no deprimido, que ânimo (piores pela manhã), anedonia, dificuldade de
frequentemente requer internação, dada a confusão mental concentração, sentimentos de inadequação e baixa
e a incapacitação. Por exemplo, alucinações, desconfiança, autoestima. Sintomas físicos e alterações psicomotoras
paranoia, desorganização conceitual, mas também o humor dificilmente ocorrem. Os pacientes queixam-se de mau
depressivo, a ansiedade, e hipocondria são mais frequentes humor, desânimo e infelicidade. Geralmente eles têm
que na depressão não psicótica.
sensibilidade aumentada às situações potencialmente
Os delírios podem ser congruentes ou
problemáticas ou desagradáveis, que pioram a
incongruentes com o humor. Os primeiros comumente são
de inadequação pessoal, culpa, punição merecida, niilismo, sintomatologia. Por conta da cronicidade, o tratamento deve
ruína financeira ou moral, morte ou doença; delírios durar anos.
incongruentes são mais raros e de temática paranoide, ou de Critérios diagnósticos para distimia conforme o DSM-V:
controle. As alucinações geralmente são auditivas (vozes A. Humor deprimido na maior parte do dia, na
acusatórias), mas podem ser visuais, de conteúdo maioria dos dias, indicado por relato subjetivo ou por
desagradável (visões do próprio túmulo, de pessoas mortas observação feita por outras pessoas, pelo período mínimo
etc.); muitas vezes alterações sensoperceptivas se limitam à de dois anos.
sensação de ouvir barulhos na casa ou chamar seu nome, ou Nota: Em crianças e adolescentes, o humor pode
são ilusões (sensação de ver vultos, por ex.). ser irritável, com duração mínima de um ano.
Deprimidos psicóticos relatam mais história familiar B. Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais)
de depressão unipolar e transtorno bipolar, e há maior risco das seguintes características:
de serem bipolares. Seu comprometimento foi observado 1. Apetite diminuído ou em excesso. // 2. Insônia ou
em testes neuropsicológicos: comparando com deprimidos hipersonia. // 3. Baixa energia ou fadiga. // 4. Baixa
não psicóticos, exibem maior dificuldade no processamento, autoestima. // 5. Concentração pobre ou dificuldade em
codificação e manipulação de novas informações, e, além tomar decisões. // 6. Sentimentos de desesperança.
disso, mais déficits cognitivos na memória verbal, funções C. Durante o período de dois anos (um ano para
executivas e velocidade psicomotora. crianças ou adolescentes) de perturbação, o indivíduo
O tratamento deve ser incisivo com antidepressivos jamais esteve sem os sintomas dos Critérios A e B por mais
de amplo espectro de ação (p. ex., ADT, venlafaxina), em de dois meses.
doses altas associados a antipsicóticos; nestes casos DEPRESSÃO BIPOLAR
também está indicada ECT. Ao se diagnosticar um quadro depressivo que
Se os sintomas psicóticos são de conteúdo negativo, ocorre pela primeira vez na vida, os profissionais, os
depressivo, classificam-se como sintomas psicóticos humor- pacientes, seus familiares e amigos podem se perguntar se
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esse episódio está abrindo um possível transtorno de vitamina D), doenças autoimunes, como lúpus
depressivo recorrente (o que é frequente, e a depressão, eritematoso sistêmico, sepse e câncer, com significativa
então, é denominada “unipolar”) ou se é o início de um TB, frequência, produzem quadro depressivo que faz parte da
com episódios futuros de mania ou hipomania (então a própria condição somática patológica (a síndrome
depressão é denominada “bipolar”). depressiva é de causa orgânica).
Depressões costumam ser a apresentação inicial do A condição médica que causa a depressão deve ser
transtorno bipolar (TB), principalmente na adolescência, confirmada por história clínica, exame físico e/ou achados
mas também se desenvolvem após episódios maníacos ou laboratoriais referentes à doença somática.
hipomaníacos. Mais de 20% dos deprimidos da atenção Pode ocorrer também o transtorno depressivo
primária à saúde e até metade dos atendidos em induzido por substância ou medicamento. Nesse caso, há um
ambulatórios psiquiátricos são na realidade bipolares e as quadro depressivo intimamente associado durante ou logo
depressões constituem o motivo principal de procura por após a intoxicação por substâncias ou fármacos. Drogas
tratamento. A expressão clínica mais comum do bipolar é a associadas à depressão são, por exemplo, álcool, cocaína,
depressão, subsindrômica ou não. maconha, inalantes, opioides ou medicamentos como
O tratamento com antidepressivos e sem hipnóticos e ansiolíticos.
estabilizadores do humor pode agravar a sintomatologia e o
prognóstico. DEPRESSÃO UNIPOLAR X DEPRESSÃO BIPO LAR
Mesmo em adultos, são os sintomas maníaco- Como os pacientes sintomáticos com transtorno
depressivos, mais que os depressivos, os que se bipolar passam muito mais tempo no estado depressivo do
correlacionam com risco aumentado de suicídio. O médico que no estado maníaco, hipomaníaco ou misto, isso significa
deve estar atento aos fatores associados ao maior risco de
que muitos indivíduos deprimidos já foram incorretamente
bipolaridade, principalmente em pacientes com má resposta
terapêutica. diagnosticados como apresentando depressão maior
unipolar e tratados com monoterapia antidepressiva, em vez
DEPRESSÃO MISTA (DSM V)
de serem diagnosticados com transtorno do espectro bipolar
A possibilidade de uma síndrome depressiva
e tratados inicialmente com lítio, anticonvulsivantes
ocorrer ao mesmo tempo que uma síndrome maníaca, como
estabilizadores do humor e/ou antipsicóticos atípicos antes
que encavaladas uma com a outra, já foi suspeita desde o fim
de acrescentar um antidepressivo, podendo este, até
do século XIX.
mesmo, nunca ter sido usado.
Nesse caso, durante a maioria dos dias da
O tratamento com antidepressivos de pacientes
depressão, ocorrem também sintomas maníacos (devem
bipolares não reconhecidos pode não apenas aumentar a
ocorrer pelo menos três deles), como humor elevado ou
ciclagem do humor, os estados mistos e a conversão em
expansivo, grandiosidade e autoestima elevada, inflada; o
hipomania e mania, conforme assinalado anteriormente,
paciente se apresenta loquaz, falando muito e com pressão
mas também contribuir para o aumento de tendência suicida
para falar; há aceleração do pensamento até fuga de ideias,
em pacientes mais jovens tratados com antidepressivos, isto
aumento da energia no trabalho ou na vida sexual ou
é, crianças e adultos com menos de 25 anos.
envolvimento em atividades excitantes, mas perigosas. Pode
Na realidade, os pacientes com depressão unipolar
haver também redução da necessidade de sono.
ou bipolar costumam apresentar sintomas atuais idênticos,
Esses sintomas da série maníaca devem ter sido
de modo que a obtenção do perfil da sintomatologia atual
observados por outras pessoas e representar uma mudança
evidentemente não é suficiente para distinguir a depressão
no comportamento rotineiro do paciente (apenas o relato
unipolar da bipolar. A solução pode ser, em parte, fazer as
pessoal pode não ser suficiente para o diagnóstico).
duas perguntas apresentadas, isto é: “quem é seu pai?” e
DEPRESSÃO SECUNDÁRIA OU ORGÂNICA (DEVIDO A
“onde está sua mãe?” “Quem é seu pai?” pode significar
OUTRA CONDIÇÃO MÉDICA OU INDUZIDO POR
“qual é sua história familiar?”, visto que um parente de
SUBSTÂNCIA OU MEDICAMENTO, CID -11 E DSM V)
primeiro grau com transtorno do espectro bipolar talvez
Aqui estão presentes as síndromes depressivas
ofereça uma forte pista de que o paciente também
causadas ou fortemente associadas a uma doença física, a
um quadro clínico primariamente somático, seja ele apresenta um transtorno do espectro bipolar, e não
localizado no cérebro (p. ex., doença de Parkinson, doença depressão unipolar. “Onde está sua mãe?” pode significar
de Huntington, acidente vascular cerebral [AVC], trauma ou “preciso obter um histórico adicional de outra pessoa
tumor cerebral), seja ele sistêmico, isto é, em outra parte do próxima de você”, pois os pacientes tendem a diminuir os
organismo, mas com consequências para todos os órgãos, sintomas maníacos em seu relato.
inclusive o cérebro. Assim, a percepção e a observação de outro
Condições somáticas sistêmicas, como doenças
informante, como a mãe ou o cônjuge, podem fornecer uma
endocrinológicas do tipo hipo ou hipertireoidismo, hipo ou
hiperparatireoidismo, síndrome de Cushing, carências história muito diferente daquela que o paciente está
vitamínicas, como déficit de vitamina B12 (e, possivelmente, relatando, ajudando, assim, a estabelecer um diagnóstico
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dentro do espectro bipolar que os próprios pacientes não 8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou
percebem ou negam. Algumas indicações, porém, não são indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou
suficientes para a certeza diagnóstica, podendo vir até dos observação feita por outras pessoas).
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo
sintomas atuais, o que sugere uma depressão dentro do
de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano
espectro bipolar, com mais tempo de sono, ingestão específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico
excessiva de alimentos, ansiedade comórbida, retardo para cometer suicídio.
motor, labilidade do humor, sintomas psicóticos ou ideias B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente
suicidas. significativo ou prejuízo no funcionamento social,
As indicações de que a depressão possa estar no profissional ou em outras áreas importantes da vida do
espectro bipolar também podem vir da evolução da doença indivíduo.
C. O episódio não é atribuível aos efeitos
não tratada antes dos sintomas atuais, como idade precoce
fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica.
de início, alta frequência de sintomas depressivos, grande Nota: Os Critérios A-C representam um episódio
parte do tempo doente e abatimento ou início dos sintomas depressivo maior.
agudos. As respostas anteriores aos antidepressivos que Nota: Respostas a uma perda significativa (p. ex.,
podem sugerir depressão bipolar podem incluir diversas luto, ruína financeira, perdas por um desastre natural, uma
falhas dos antidepressivos, rápida recuperação e efeitos doença médica grave ou incapacidade) podem incluir os
colaterais ativadores, como insônia, agitação e ansiedade. sentimentos de tristeza intensos, ruminação acerca da
perda, insônia, falta de apetite e perda de peso observados
Embora nenhuma dessas características possa
no Critério A, que podem se assemelhar a um episódio
discriminar com certeza a depressão bipolar da unipolar, o depressivo. Embora tais sintomas possam ser entendidos ou
aspecto importante é estar atento quanto à possibilidade de considerados apropriados à perda, a presença de um
que o que parece ser depressão unipolar pode, na realidade, episódio depressivo maior, além da resposta normal a uma
ser uma depressão do espectro bipolar quando se efetua perda significativa, também deve ser cuidadosamente
uma investigação mais cuidadosa e quando se monitora a considerada. Essa decisão requer inevitavelmente o
exercício do julgamento clínico baseado na história do
resposta ao tratamento.
indivíduo e nas normas culturais para a expressão de
DIAGNÓSTICO (DSM V) sofrimento no contexto de uma perda.
Nota: Essa exclusão não se aplica se todos os
A. Cinco (ou mais) dos seguintes sintomas episódios do tipo maníaco ou do tipo hipomaníaco são
estiveram presentes durante o mesmo período de duas induzidos por substância ou são atribuíveis aos efeitos
semanas e representam uma mudança em relação ao psicológicos de outra condição médica.
funcionamento anterior; pelo menos um dos sintomas é (1) D. A ocorrência do episódio depressivo maior não é
humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer. mais bem explicada por transtorno esquizoafetivo,
* Nota: Não incluir sintomas nitidamente devidos a esquizofrenia, transtorno esquizofreniforme, transtorno
outra condição médica. delirante, outro transtorno do espectro da esquizofrenia e
1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os outro transtorno psicótico especificado ou transtorno da
dias, conforme indicado por relato subjetivo (p. ex., sente-se esquizofrenia e outro transtorno psicótico não especificado.
triste, vazio, sem esperança) ou por observação feita por E. Nunca houve um episódio maníaco ou um
outras pessoas (p. ex., parece choroso). (Nota: Em crianças e episódio hipomaníaco.
adolescentes, pode ser humor irritável.)
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas TRATAMENTO
ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase
todos os dias (indicada por relato subjetivo ou observação A depressão leve apresenta a maior variação nas
feita por outras pessoas). recomendações de tratamento. Algumas diretrizes sugerem
3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo a prática de exercício físico ou a conduta expectante, mas a
dieta (p. ex., uma alteração de mais de 5% do peso corporal psicoterapia ou os antidepressivos podem ser usados diante
em um mês), ou redução ou aumento do apetite quase
da falha dos esforços iniciais. O tratamento de primeira linha
todos os dias. (Nota: Em crianças, considerar o insucesso em
obter o ganho de peso esperado.) da depressão moderada inclui antidepressivos em
4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias. monoterapia, psicoterapia e a combinação de ambos. Já a
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias depressão grave pode exigir a combinação de um
(observáveis por outras pessoas, não meramente sensações antidepressivo e um antipsicótico, eletroconvulsoterapia, ou
subjetivas de inquietação ou de estar mais lento). a combinação de um antidepressivo e psicoterapia.
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou Fase aguda:
inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias A fase aguda dura de 8 a 12 semanas e visa à
(não meramente autorrecriminação ou culpa por estar remissão dos sintomas (ausência de sintomas ou sinais que
doente).
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preencham o diagnóstico de transtorno) e à promoção inicial recomendado e mantida nesse nível por pelo menos 4 ou 5
da recuperação do funcionamento psicossocial; se estiver semanas antes que a tentativa seja considerada infrutífera.
assintomático por seis meses o paciente é considerado De modo alternativo, se um paciente estiver
recuperado do episódio atual.
melhorando clinicamente com uma dosagem baixa do
A opção por tratamento medicamentoso é
influenciada pela gravidade e apresentação dos sintomas, medicamento, essa dosagem não deve ser aumentada a
presença de comorbidades clínicas e preferência do menos que a melhora clínica pare antes de o benefício
paciente. máximo ser obtido.
1. Perfil de efeitos colaterais, segurança e tolerabilidade; O tratamento antidepressivo deve ser mantido por
2. Resposta anterior individual ou em membros da família; pelo menos seis meses ou de acordo com a duração de um
3. Preferência do paciente; episódio anterior, o que for maior. O tratamento profilático
4. Evidências disponíveis;
com antidepressivos é eficaz para reduzir o número e a
5. Custo do tratamento;
6. Apresentação clínica dos sintomas depressivos. gravidade de reincidências.
Uma vez escolhido e iniciado o tratamento, se após Outro fator que sugere tratamento profilático é a
4 a 8 semanas não se observar pelo menos uma melhora gravidade dos episódios depressivos anteriores. Episódios
moderada, deve-se reavaliar o regime de tratamento, que envolveram ideação suicida significativa ou
verificar a adesão, fatores farmacocinéticos e comprometimento do funcionamento psicossocial podem
farmacodinâmicos. indicar a necessidade desse tratamento.
Diante de resposta insatisfatória ou ausente, as
Quando o tratamento antidepressivo é
opções de manejo incluem: • Aumento da dose; • Troca para
outro antidepressivo, não-IMAO; considerar IMAO em interrompido, a dose do medicamento deve ser diminuída
depressões atípicas • Potencialização com lítio ou tri- gradualmente ao longo de 1 a 2 semanas, dependendo da
iodotironina (T3); • Associação de antidepressivos; • meia-vida do composto em particular.
Eletroconvulsoterapia (ECT). Os antidepressivos disponíveis não diferem na
Após qualquer alteração, o paciente deve ser eficácia global, na velocidade de resposta ou na eficácia de
monitorizado por 4 a 8 semanas. Diante de falha
longo prazo. Entretanto, diferem em sua farmacologia, nas
terapêutica, procede-se novamente à reavaliação clínica e
terapêutica. interações medicamentosas, nos efeitos colaterais de curto
Fase de continuação: e de longo prazos, na probabilidade de sintomas de
A fase de continuação dura 6 a 12 meses e objetiva descontinuação e na facilidade de ajuste da dose.
prevenir recaídas (retorno dos sintomas do episódio índice). Pacientes com transtorno depressivo maior com
O tratamento de manutenção (de dois anos à vida aspectos atípicos podem responder preferencialmente a
toda) está indicado em pacientes com grande risco de tratamento com IMAOs ou ISRSs. Antidepressivos com ação
recorrências ao longo da vida.
dupla tanto em receptores serotonérgicos como
O objetivo é a prevenção de recaídas. Por esse
motivo, recomenda-se manter a medicação antidepressiva noradrenérgicos demonstram maior eficácia nas depressões
durante 16 a 20 semanas após a remissão. A dose utilizada melancólicas. Pacientes com depressão sazonal do inverno
na fase aguda geralmente é mantida durante a estabilização, podem ser tratados com terapia luminosa. O tratamento de
embora existam variações na prática clínica corrente. episódios depressivos maiores com aspectos psicóticos pode
Fase de manutenção requerer uma combinação de um antidepressivo e um
O objetivo é prevenir recorrências, ou seja, novo antipsicótico atípico.
episódio depressivo após a recuperação de um episódio
Os pacientes podem não responder a um
anterior. A decisão pela manutenção do antidepressivo
depende de alguns fatores: • Risco de recorrência: episódios medicamento, porque (1) não conseguem tolerar os efeitos
anteriores, sintomas residuais, diagnóstico psiquiátrico não- colaterais, mesmo diante de uma boa resposta clínica; (2)
afetivo associado, presença de transtorno médico geral um evento adverso idiossincrásico ocorre; (3) a resposta
crônico; • Gravidade do episódio; • Efeitos colaterais; • clínica não é adequada; ou (4) um diagnóstico errado foi
Preferência do paciente. feito. Os ensaios de medicamento na fase aguda devem
Geralmente, a dose que foi eficaz nas fases aguda e
durar de 4 a 6 semanas para determinar se uma redução
de continuação é mantida. A redução da dose ainda não está
bem estabelecida. significativa dos sintomas foi obtida.
Quando o tratamento inicial for malsucedido, a
DIRETRIZES CLÍNICAS GERAIS
mudança para um tratamento alternativo ou um reforço ao
O erro clínico mais comum que leva a uma tentativa
atual é uma opção comum. Via de regra, mudar em vez de
malsucedida de um medicamento antidepressivo é o uso de
acrescentar é preferível após a falha de um medicamento
uma dosagem muito baixa por um tempo muito curto. A
inicial. Entretanto, as estratégias de acréscimo mais bem
menos que eventos adversos impeçam, a dosagem de um
documentadas envolvem lítio ou hormônio tireoidiano. Uma
antidepressivo deve ser elevada ao nível máximo
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combinação de um ISRS e bupropiona também é muito diaforese, arrepios ou calafrios, tremor, diarreia,
utilizada. incoordenação e febre.
Se existe uma história familiar ou história anterior Recomenda-se a retirada das substâncias
serotoninérgicas, o tratamento de suporte e a observação de
de resposta positiva a determinada droga, esta deve ser
resolução espontânea do quadro (usualmente em 24 horas).
tentada em primeiro lugar. Se não houver história prévia,
ANTIDEPRESSIVOS INIBIDORES DA
deve-se utilizar como primeira escolha um Inibidor Seletivo
MONOAMINOXIDASE (I -MAO)
da Recaptação da Serotonina (ISRS) ou tricíclico e monitorar
Os IMAO constituem agentes de terceira linha no
por 2-3 semanas. A resposta geralmente aparece dentro de
tratamento da depressão maior.
quatro semanas. A enzima monoaminoxidase (MAO) é encontrada
NOTA: Nos pacientes com risco de suicídio, o uso de dentro da cél, na Mb externa das mitocôndrias, e degrada as
tricíclicos deve ser evitado, em função do potencial de monoaminas citoplasmáticas (norepinefrina, serotonina,
intoxicação fatal quando há ingestão excessiva. Além disso, dopamina, epinefrina e tiramina). Os IMAOs inibem essa
os tricíclicos também parecem estar relacionados ao maior enzima.
Efeitos colaterais:
risco de “virada maníaca”, isto é, desencadeamento de um
− A tiramina intacta exerce um importante efeito pressor,
episódio maníaco em pacientes deprimidos em uso de
levando à crise hipertensiva.
antidepressivos. − Os IMAO têm efeitos sobre o tônus vascular, que podem
A trazodona tem sido utilizada nos casos de levar com frequência à hipotensão ortostática. O
depressão com insônia, devido às suas propriedades aparecimento inicial de sinais de hipotensão ortostática no
sedativas, sem potencial de dependência. Deve-se ter curso de um cuidadoso aumento gradativo da dose
cautela no uso em homens, devido ao risco de priapismo, determina a dose máxima tolerável.
− Insônia: não administrar o medicamento à noite.
apesar de ser um efeito colateral raro.
− Síndrome serotoninérgica: uma condição causada pelo
A venlafaxina está principalmente indicada nos
aumento da estimulação de receptores serotoninérgicos
casos de depressão ansiosa e seu uso está relacionado ao
centrais e periféricos. Resulta de interações farmacológicas
risco aumentado de síndrome de descontinuação.
entre medicamentos que aumentam os neurotransmissores
Nos casos de depressão em idosos, a mirtazapina
serotoninérgicos. Seus sintomas mais comuns são náuseas,
pode ser uma boa escolha devido ao padrão reduzido de
vômitos, tremores, diarreia, inquietude, hiper-reflexia,
efeitos colaterais. Também possui ação sedativa.
mioclonia, rigidez muscular e instabilidade autonômica.
Os inibidores da monoaminooxidase são
Ocorre mais frequentemente com a utilização de IMAO,
classicamente indicados para o tratamento de depressão
porém podem também ocorrer com o uso de outros
atípica. No entanto, o risco de crise hipertensiva quando
antidepressivos. O tto algumas vezes requer cuidados
associado a alimentos que contenham tiramina (queijo,
intensivos em virtude do seu potencial letal e envolve a
leite, cerveja, vinhos etc), o aparecimento de
descontinuação de todos os medicamentos
antidepressivos com melhor perfil de efeitos colaterais e a
serotoninérgicos.
contraindicação absoluta de utilização de diversas drogas
(ISRS, alfa-metildopa, meperidina, simpaticomiméticos, ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS
entre outros) durante o tratamento com IMAO, têm Constituem a 1ª classe de medicamentos a ser
descoberta com potencial antidepressivo.
contribuído para seu uso cada vez mais incomum;
Atuam por meio do bloqueio da bomba de
DESCONTINUAÇÃO SÚBITA E SÍNDROME recaptação da serotonina, norepinefrina e dopamina (em
SEROTONINÉRGICA menor grau). OBS: recaptação é a reabsorção de um
No caso de ADT, acontece principalmente após neurotransmissor pelos neurônios pré-sinápticos após ele
tratamento prolongado e os sintomas aparecem nas ter exercido a função de transmissor de um impulso neural.
primeiras 48 horas: mal-estar geral, sintomas Portanto, se o fármaco inibe a recaptação de serotonina,
gastrintestinais (náuseas, vômitos, diarreia), ansiedade, seus níveis no cérebro aumentarão.
irritabilidade, insônia, sonhos vívidos, movimentos Exemplos: amitriptilina, clomipramina,
parkinsonianos ou acatisia; também podem surgir ataques imipramina, maproptilina e nortriptilina.
de pânico, arritmias cardíacas, delirium e, menos Em idosos, o mais indicado é a nortriptilina, por
frequentemente, agitação. Recomenda-se redução de 25 a apresentar o melhor perfil de efeitos colaterais. A
50 mg a cada três dias. nortriptilina possui janela terapêutica entre 50 ng/ml e 150
Os sinais e sintomas podem ser confundidos com ng/ml, sendo importante o acompanhamento da sua
síndrome neuroléptica maligna. Sintomas sugestivos da dosagem sérica.
síndrome incluem mudanças no estado mental do paciente Embora o mecanismo de ação não tenha sido
(confusão, hipomania), agitação, mioclonias, hiper-reflexia, totalmente elucidado, sabe-se que os ADT promovem
agudamente aumento na eficiência da transmissão
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monoaminérgica (e, possivelmente, GABAérgica), desenvolvimento da hiponatremia. Para sua prevenção, o


aumentando a concentração sináptica de NE e 5-HT por sódio sérico deve ser dosado antes do início do tratamento
bloqueio de recaptura. e 2 semanas após.
A indicação na úlcera péptica deve-se à eficácia − Efeitos extrapiramidais: acatisia, distonia, tremor,
analgésica e na cicatrização associada ao bloqueio de torcicolo, bradicinesia e transtornos de marcha. Pacientes
receptores H2 nas células parietais, além do efeito sedativo com Parkinson podem perceber uma piora de seus sintomas.
e anticolinérgico. Na bulimia nervosa, a eficácia também − Alguns medicamentos dessa classe podem causar insônia
independe da melhora da depressão. (ex.: fluoxetina – por isso deve ser tomada pela manhã) e
Efeitos colaterais dos tricíclicos: outros sonolência (ex.: paroxetina – por isso deve ser
− Ação anticolinérgica: bloqueio dos receptores colinérgicos tomada a noite).
muscarínicos, causando transtorno da memória, turvamento − O uso conjunto com anti-inflamatórios não esteroides
da visão, boca seca, obstipação e retenção urinária. Em casos pode ↑ o risco de hemorragia digestiva.
graves, Delirium, especialmente se forem administrados − Disfunção sexual, inapetência passageira, síndrome
com antipsicóticos ou outros medicamentos também serotoninérgica (confusão, desorientação, agitação,
anticolinérgicos. irritabilidade, coma, ansiedade, hipomania, letargia,
− Bloqueio dos receptores de histamina H1: causa convulsões, insônia, alucinações, tontura, mioclonus,
sonolência/sedação e ganho ponderal. hiperreflexia, rigidez muscular, tremor, ataxia, hipertermia,
− Bloqueio dos receptores adrenérgicos alfa 1: causando diaforese, taquicardia sinusal, hipertensão, taquipneia,
tontura e hipotensão (em especial hipotensão ortostática, dilatação de pupilas, pupilas não reativas).
que já é comum no idoso).
INIBIDORES SELETIVOS DE RECAPTAÇÃO DE
− Bloqueio dos canais de sódio no coração e cérebro: causa
SEROTONINA E NOREPINEFRINA (IRSN) - DUAIS
arritmias, parada cardíaca e convulsões nos casos de
Antidepressivos duais: seletividade para a
superdosagem.
serotonina e norepinefrina, com ação pouco expressiva na
Os ADT estão contraindicados no glaucoma de
recaptação da dopamina e sem os bloqueios de receptores
ângulo fechado. Efeitos na condução cardíaca normalmente
responsáveis pelos efeitos colaterais dos ADT.
não apresentam significado clínico, mas os ADT são
Exemplos: duloxetina, milnaciprana, venlafaxina e
contraindicados em bloqueios de ramo esquerdo, bloqueio
desvenlafaxina.
AV total, alterações na condução intracardíaca e infarto
A duloxetina apresenta um início de ação mais lento
agudo do miocárdio.
no idoso, é bem tolerada por esses e tem ação diferencial no
ANTIDEPRESSIVOS INIBIDORES SELETIVOS DA controle dos sintomas somáticos da depressão. Seus
RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA (ISRS) principais efeitos colaterais são náuseas, boca seca, fadiga,
Atualmente é a classe de fármacos mais utilizada insônia e obstipação.
para o tto da depressão em idosos, pois tem menos efeitos
Venlafaxina: a inibição da recaptação da serotonina
colaterais.
Bloqueia a recaptação da serotonina pelos é a mais potente, presente mesmo nas doses baixas,
neurônios pré-sinápticos. É seletivo, pois os demais enquanto a da norepinefrina só acontece em doses mais
neurotransmissores são muito pouco ou nada bloqueados. altas e a da dopamina só está presente em doses elevadas.
Por vezes os ISRS podem apresentar uma resposta apática, Na sua dose inicial habitual (75 mg/dia) age apenas como
que significa a melhora do humor, mas com a permanência bloqueador seletivo de recaptação da serotonina,
de sintomas residuais como anedonia, ↓ da motivação, necessitando de aumento da dose para obtenção do efeito
interesse, energia, concentração, libido e alentecimento
dual (150 mg/dia). Porém, as dosagens maiores aumentam a
cognitivo; sintomas esses relacionados com a norepinefrina
que não é bloqueada pelos ISRS. possibilidade de hipertensão arterial e efeitos
Exemplos: citalopram, escitalopram, fluoxetina, anticolinérgicos.
fluvoxamina, paroxetina e sertralina. Desvenlafaxina: é o medicamento mais novo desta
Sertralina e paroxetina são os mais potentes classe de fármacos, composto pelo principal metabólito
inibidores de recaptação. A potência relativa da sertralina ativo da venlafaxina. A dose inicial (50 mg/dia) já é
em inibir a recaptação de dopamina a diferencia considerada terapêutica, e seu aumento está associado ao
farmacologicamente dos outros ISRS e pode ser responsável
surgimento de efeitos colaterais como hipertensão e
pela maior eficácia em relação aos demais da classe,
excetuando-se o escitalopram ambos são superiores a hipercolesterolemia.
fluoxetina, fluvoxamina e paroxetina. Efeitos colaterais: hipertensão, síndrome de
Efeitos colaterais dos ISRS: descontinuação, efeitos semelhantes aos ISRS.
− Hiponatremia: pode provocar secreção inapropriada do INIBIDORES SELETIVOS DE RECAPTAÇÃO DE
ADH. Ocorre principalmente nas primeiras semanas de
NOREPINEFRINA E DOPAMINA (IRND)
tratamento e no verão. O uso de diuréticos contribui para o
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É útil nos pacientes que não toleram os efeitos Os ISRN, além de melhorarem o humor, também
serotoninérgicos ou não respondem ao aumento da dose agem sobre a apatia, fadiga e alentecimento psicomotor,
dos ISRS e nos portadores de doença de Parkinson. melhorando o funcionamento social.
Vantagem: não interfere no desempenho sexual. Esta não é uma terapêutica de primeira escolha
Exemplo: bupropiona. para a depressão, porém pode ser utilizada quando outros
Possui menos efeitos adversos que os tricíclicos, antidepressivos já foram tentados sem sucesso e nos casos
incluindo ausência de sedação, de prejuízo cognitivo e de mais graves.
cardiotoxicidade, podendo ser prescrito para pessoas com A substância padrão dessa classe é a Reboxetina.
problemas cardíacos. Reações adversas: boca seca, cefaleia, tonturas,
Pode exacerbar hipertensão pré-existente, congestão nasal, obstipação, sudorese, insônia e hesitação
portanto é necessário monitorar a PA. urinária.
Efeitos colaterais: cefaleia, insônia, tremor, AGONISTA DE RECEPTORES MELATONINÉRGICOS
inquietação, agitação, irritabilidade, convulsões. Pctes com MTL E MT2 E ANTAGONISTA DE 5 -HT
ansiedade grave ou sintomas psicóticos não devem usar Agomelatina:
bupropiona. Flutuações circadianas na temperatura corporal,
secreções endócrinas e outros parâmetros biológicos, de
DUPLA AÇÃO SEROTONINÉRGICA E sorganização dos ritmos internos afetando fase, período ou
NORADRENÉRGICA POR MEIO DE ANTAGONISMO amplitude têm sido comumente descritas nos pacientes com
ALFA 2 depressão. Isso sugere que novos tratamentos direcionados
Tem a dupla ação final semelhante aos IRSN. a tais alterações teriam um valor potencial no manejo da
Mecanismo de ação: ação antagônica sobre os depressão. Em decorrência da melatonina ser conhecida
receptores alfa 2 pré-sinápticos dos neurônios como uma chave neuro-hormonal para a sincronização de
serotoninérgicos e noradrenérgicos, principalmente, mas ritmos biológicos, possíveis alterações em sua secreção
também sobre os receptores serotoninérgicos 2A, 2C e 3, foram investigadas em pacientes depressivos.
além do receptor H1. Outro mecanismo adicional é a Um medicamento capaz de mimetizar os efeitos da
estimulação noradrenérgica dos receptores alfa 1 pós- melatonina e que facilmente atravessasse a barreira
sinápticos, permitindo maior liberação de serotonina. hematoencefálica seria benéfico para ressincronizar os
Exemplo: mirtazapina e a mianserina, porém a ritmos alterados e exercer efeito antidepressivo no caso de
mianserina aumenta principalmente a neurotransmissão haver relação entre tais alterações e depressão.
noradrenérgica. A agomelatina restaurou o padrão de sono-vigília já
Como os receptores 2A, 2C e 3 estão bloqueados, no início do tratamento e não houve evidência de disfunção
não haverá ansiedade, náuseas ou disfunção sexual. sexual, ganho de peso ou sintomas emergentes da
Efeitos colaterais: sedação e ganho ponderal descontinuação abrupta do antidepressivo. Está associada a
(bloqueio do H1). aumento (reversível) de transaminases, sendo recomendada
OBS: a escolha do antidepressivo pode também ser sua monitorização.
guiada pelo benefício secundário dos efeitos colaterais, MULTIMODAL
como, p.ex., depressão com ansiedade em indivíduos com Combinação de múltiplos modos de ação
monoaminérgica;
insônia e história de emagrecimento.
Envolve bloqueio da recaptação, ações nos
ANTAGONISTAS DE DUPLA AÇÃO SOBRE receptores associados às proteínas G, ações nos receptores
RECEPTORES DE SEROTONINA 2A E INIBIÇÃO DA de canais iônicos.
RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA ↑ a liberação de cinco neurotransmissores
Bloqueiam os receptores 5HT2A, de maneira diferentes (dopamina, noradrenalina, serotonina,
seletiva, pois não apresentam as demais ações e efeitos acetilcolina e histamina).
colaterais dos ADT. Eficácia antidepressiva sem qualquer disfunção
O bloqueio da recaptação de serotonina é inferior sexual. Possui efeitos pró-cognitivos.
aos ISRS. Exemplo: Vortixetina (Brintelix®)
Exemplo: nefazodona e a trazodona. ELETROCONVULSOTERAPIA (ECT)
A nefazodona bloqueia de maneira secundária e em A eletroconvulsoterapia, apesar de eficaz e segura,
menor escala a recaptação de norepinefrina e os receptores é terapêutica reservada para casos mais graves (risco de
alfa 1. suicídio ou depressão recorrente), sendo considerada
A trazodona tem efeito limitado como padrão-ouro nestes casos.
antidepressivo, mas um potente efeito sedativo, que se dá Induz uma convulsão bilateral generalizada.
pelo bloqueio do receptor H1, tendo indicação, portanto, Pode ser de primeira escolha quando o paciente
para promover o sono, em doses mais baixas que as apresenta contraindicação ao uso de antidepressivos,
utilizadas como antidepressivo. quando não responde a esses, na presença de risco de
INIBIDORES SELETIVOS DE RECAPTAÇÃO DE suicídio ou homicídio ou quando assim desejar.
NOREPINEFRINA (ISRN) A principal vantagem é a rapidez da resposta.
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A quantidade de aplicações deve ser definida eficiência do processamento de informações nos neurônios
individualmente, porém, em geral, varia entre 6 e 12 disfuncionais, melhorando os sintomas dos transtornos
sessões. No entanto, pode haver necessidade da utilização psiquiátricos, exatamente como os fármacos.
crônica desse procedimento, como terapêutica de
Desse modo, as psicoterapias podem ser
manutenção para a depressão.
O procedimento deve ser realizado em unidades conceitualizadas como “fármacos” epigenéticos ou, pelo
fechadas, sob anestesia. menos, como agentes terapêuticos que atuam
Os principais efeitos colaterais a curto prazo são epigeneticamente, de modo semelhante ou complementar
sonolência, agitação e confusão mental, que podem aos fármacos.
desaparecer em 30 min, e, a médio prazo, amnésia As melhores psicoterapias para combinar com
anterógrada. fármacos, particularmente no tratamento da depressão, são
Antes da aplicação do procedimento, deve ser
a terapia cognitivo-comportamental e a terapia interpessoal,
compensada a hipertensão arterial e afastada a
possibilidade de hipertensão intracraniana. as quais costumam ser conduzidas por terapeutas que leram
A presença de história recente de AVE (6 meses) ou um manual de treinamento, foram supervisionados em sua
IAM (3 meses) são contraindicações relativas. administração a pacientes e que usam uma abordagem de
ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA (EMT) 12 a 24 semanas que segue uma progressão, com início,
É uma técnica não invasiva que modula a meio e fim. A nova “terapia cognitiva processual”, descrita
excitabilidade cerebral, levando à inibição ou excitação de por de Oliveira, é uma versão da psicoterapia cognitiva, que
diferentes áreas corticais, melhorando assim os sintomas é intuitiva, facilmente adaptada por psiquiatras que não são
depressivos. necessariamente terapeutas cognitivo-comportamentais
Os idosos com depressão vascular têm pior
sofisticados e que pode ser “divertida”. Na terapia cognitiva
resposta, assim como indivíduos com redução do volume do
lobo frontal. processual, o paciente literalmente coloca em julgamento
seus sintomas psiquiátricos e crenças nucleares.
HOSPITALIZAÇÃO
Indicações claras para hospitalização são o risco de OBJETIVO 3: SUICÍDIO
suicídio ou homicídio, a capacidade acentuadamente
O suicídio pode ser definido como um ato
reduzida do indivíduo de obter alimento e abrigo e a
deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção
necessidade de procedimentos diagnósticos. Uma história
seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que
de sintomas de rápida progressão e a ruptura do sistema de
ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal.
apoio habitual também são indicações para a hospitalização.
Também fazem parte do que habitualmente
Sinais clínicos de dificuldade de julgamento, perda de peso
chamamos de comportamento suicida: os pensamentos, os
ou insônia devem ser mínimos.
planos e a tentativa de suicídio. Uma pequena proporção do
O sistema de apoio do paciente deve ser forte; nem
comportamento suicida chega ao nosso conhecimento.
envolvido demais, nem afastado. Qualquer mudança
O suicídio é um fenômeno presente ao longo de
adversa nos sintomas ou no comportamento do paciente ou
toda a história da humanidade, em todas as culturas. É um
na atitude do sistema de apoio pode ser suficiente para
comportamento com determinantes multifatoriais e
justificar a hospitalização.
resultado de uma complexa interação de fatores
Pessoas com transtornos do humor muitas vezes
psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e
não querem entrar no hospital de forma voluntária e podem
socioambientais.
ter de ser hospitalizadas contra sua vontade. Com
Dessa forma, deve ser considerado como o
frequência, não podem tomar decisões devido à lentificação
desfecho de uma série de fatores que se acumulam na
do pensamento, a uma visão de mundo (Weltanschauung)
história do indivíduo, não podendo ser considerado de
negativa e à falta de esperança.
forma causal e simplista apenas a determinados
PSICOTERAPIA acontecimentos pontuais da vida do sujeito. É a
Os fármacos e a psicoterapia podem ter uma ligação consequência final de um processo.
neurobiológica em comum, visto que ambos podem alterar O risco de suicídio é uma urgência médica devido ao
os circuitos cerebrais. Assim, não é surpreendente que tanto que pode acarretar ao indivíduo, como desde lesões graves
a psicoterapia quanto a psicofarmacologia sejam e incapacitantes, até a sua morte. A avaliação sistemática do
clinicamente efetivas no tratamento de transtornos risco de suicídio deve fazer parte da prática clínica rotineira
psiquiátricos ou que sua associação seja terapeuticamente de qualquer médico. Uma tentativa de suicídio é um evento
sinérgica. A psicoterapia, como muitas outras formas de que pode levar os indivíduos a um primeiro contato com um
aprendizagem, pode, hipoteticamente, induzir alterações profissional que os ajude.
epigenéticas nos circuitos cerebrais, que potencializariam a
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MITOS VERDADES haver uma subnotificação do número de suicídios, em


O suicídio é uma decisão FALSO. Os suicidas estão segundo lugar porque há uma grande variabilidade regional
individual, já que cada um passando por uma doença nas taxas.
tem direito a exercitar seu mental que altera, de forma O primeiro passo é a identificação dos indivíduos de
livre arbítrio. radical, sua percepção da risco por meio da avaliação clínica periódica, considerando
realidade e interfere em seu que o risco pode mudar rapidamente.
livre arbítrio. O tto eficaz da Ninguém é realmente capaz de prever com exatidão
doença mental é o pilar mais qual paciente irá se suicidar; apenas o risco pode ser
importante da prevenção. estimado. A avaliação para o risco de suicídio inclui uma
Após o tto o desejo de se entrevista clínica e, frequentemente, a coleta de dados junto
manter desaparece. a terceiros.
A OMS aponta três características psicopatológicas
Quando uma pessoa pensa FALSO. O risco de suicídio comuns no estado mental dos suicidas. São elas:
em se suicidar terá risco de pode ser eficazmente tratado 1. Ambivalência: o desejo de viver e de morrer se
suicídio para o resto da vida. e, após isso, a pessoa não confundem no sujeito. Há urgência em sair da dor e do
estará mais em risco. sofrimento com a morte, entretanto há o desejo de
sobreviver a esta tormenta. Muitos não aspiravam
As pessoas que ameaçam se FALSO. A maioria dos suicidas realmente morrer, apenas queriam sair do sentimento
matar não farão isso, apenas fala ou dá sinais sobre suas momentâneo de infelicidade, acabar com a dor, fugir dos
querem chamar atenção. ideias de morte. Boa parte problemas, encontrar descanso ou final mais rápido para
dos suicidas expressou seus seus sofrimentos. Se for dado oportunamente o apoio
desejos de se matar. emocional necessário para reforçar o desejo de viver, logo a
intenção e o risco de suicídio diminuirão.
Se uma pessoa que se sentia FALSO. Se alguém pensava 2. Impulsividade: o suicídio, por mais planejado que
deprimida e pensava em em suicidar-se e, de repente, seja, parte de um ato que é usualmente motivado por
suicidar-se, em um parece tranquilo, não eventos negativos. O impulso para cometer suicídio é
momento seguinte passa a significa que já passou. Uma transitório e tem duração de alguns minutos ou horas. Pode
se sentir melhor, pessoa pode sentir-se melhor ser desencadeado por eventos psicossociais negativos do dia
normalmente significa que o ou sentir-se aliviado a dia e por situações como: rejeição; recriminação; fracasso;
problema já passou. simplesmente por ter falência; morte de ente querido; entre outros. Acolher a
tomado a decisão de se pessoa durante a crise com ajuda empática adequada pode
matar. interromper o impulso suicida do paciente.
Não devemos falar sobre FALSO. Falar sobre suicídio 3. Rigidez: quando uma pessoa decide terminar
suicídio, pois isso pode não aumenta o risco. Muito com a sua vida, os seus pensamentos, sentimentos e ações
aumentar o risco. pelo contrário, falar com apresentam-se muito restritivos, ou seja, ela pensa
alguém sobre o assunto pode constantemente sobre o suicídio e é incapaz de perceber
aliviar a angústia e a tensão outras maneiras de enfrentar ou de sair do problema. Estas
que esses pensamentos pessoas pensam rígida e dramaticamente pela distorção que
trazem. o sofrimento emocional impõe. Todo o comportamento está
inflexível quanto à sua decisão: as ações estão direcionadas
ao suicídio e a única saída possível que se apresenta é a
É proibido que a mídia FALSO. A mídia tem a morte; por isso é tão difícil encontrar, sozinho, alguma
aborde o tema suicídio. obrigação social de tratar alternativa.
desse tema importante e O funcionamento mental gira em torno de três
abordar de forma adequada. sentimentos: intolerável (não suportar); inescapável (sem
Isto não aumenta o risco de saída); e interminável (sem fim).
uma pessoa se matar, ao • DEPRESSÃO
contrário, é fundamental dar É uma doença que tende a ser crônica e recorrente,
informações à população particularmente quando não tratada, podendo ser
sobre o problema, onde importante fonte de incapacidade. Segundo a OMS, é a
buscar ajuda, etc. segunda mais importante causa de incapacidade no mundo.
O Brasil é o oitavo país em número absoluto de Em função de sua alta prevalência, a depressão é a
suicídios. Em 2012 foram registradas 11.821 mortes, cerca doença mental que mais está associada ao suicídio.
de 30 por dia, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres. Entre Representa, em números absolutos, o diagnóstico mais
2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de frequentemente encontrado entre suicidas. Em função
disso, faz parte das estratégias de prevenção ao suicídio de
mortes, sendo observado um aumento de mais de 30% em
alguns países o tratamento rápido e efetivo das depressões,
jovens. Os números brasileiros devem, entretanto, ser
com o intuito de salvar vidas.
analisados com cautela. Em primeiro lugar porque pode
Maria Elisa Ornelas – 6ºP – FUNORTE

Os tratamentos para depressão estão facilmente Em primeiro lugar, o autor salienta o currículo
disponíveis e incluem tratamentos que podem ser usados como fonte de estresse, uma vez que ele é constituído por
em atenção primária, como psicoterapia de tipo interpessoal uma sobrecarga de informações que, muitas vezes,
ou cognitiva, bem como medicamentos antidepressivos. Os mostram-se pouco relevantes para a prática
medicamentos são mais eficazes do que as psicoterapias, Em segundo lugar, o autor refere o papel dos
particularmente nas depressões de intensidade moderada e professores, explicando que muitos docentes de medicina
grave, mas sempre que possível uma associação com a nunca receberam formação pedagógica, o que afeta o modo
psicoterapia é desejável. como os estudantes aprendem e as relações de suporte que
são construídas.
Em terceiro lugar, o
autor constata que o clima da
educação médica é
frequentemente ameaçador e
pouco apoiador, quando, na
realidade, deveria ser
colaborador.
Por último, em quarto
lugar, refere que muitas escolas
médicas ainda não dispõem de
serviços de apoio aos estudantes
e aos professores para prevenir
efeitos nocivos do estresse ou
permitir que se lide de modo
satisfatório com eles, uma vez
desenvolvidos.
As dificuldades
apresentadas pelos estudantes
de medicina podem não
culminar com a interrupção do
curso, porém, como salientam
Dyrbye e colaboradores, muitos
OBJETIVO 4: DEPRESSÃO NO ESTUDANTE DE alunos, ao final do curso, perdem as motivações que os
MEDICINA levaram a entrar em uma faculdade de medicina.
O estudante de medicina, ao ingressar na Em estudo longitudinal sobre depressão realizado
faculdade, acaba mudando, de forma bastante radical, o seu na Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts,
estilo de vida, com perdas na sua vida pessoal, nas suas com uma amostra de alunos que entraram na faculdade
relações sociais e no seu lazer, com o intuito de adaptar-se entre os anos de 1987 e 1989, os dados preliminares
ao novo contexto de ensino-aprendizagem da vida sugeriram que, ao entrar na escola médica, o estado
universitária. No curso de medicina, o estudante enfrenta emocional dos alunos assemelha-se ao da população geral.
uma carga horária, por vezes, excessiva, competição entre
No entanto, o aumento nos escores de depressão e sua
os colegas, contato com doenças, morte, questões e
dificuldades socioeconômicas das populações mais carentes. persistência ao longo do tempo sugerem que o estresse
O estudante aprende a tratar dos pacientes e emocional durante a faculdade de medicina é mais crônico e
negligencia o cuidar de si por duas razões: na sua formação, persistente do que episódico. Além disso, as mulheres
a definição e a aplicação do conceito de “qualidade de vida” tiveram aumentos mais significativos nos escores de
são obscuras e destituídas de importância; além disso, o depressão do que os homens.
estudante aprende a se identificar como sujeito diverso dos Quase 95% dos indivíduos que cometem suicídio
pacientes, e o que ele recomenda a esses pacientes não apresentam um distúrbio psiquiátrico diagnosticado, que,
parece ser aplicável a si próprio. em 80% dos casos, inclui distúrbio depressivo. O restante
A limitação de tempo imposta por extensos abrange principalmente esquizofrenia e dependência de
currículos impede o desenvolvimento do interesse do aluno drogas.
por outros temas que não a medicina, o que pode bloquear Simon e Lumry apontam algumas razões para a
sua imaginação e criatividade. elevada taxa de suicídios entre os médicos:
➢ tendência a negar o estresse de natureza pessoal;
De acordo com Coles, quatro aspectos merecem
➢ tendência a negar o desconforto psicológico;
destaque quanto ao estresse na educação médica.
➢ inclinações suicidas acobertadas (tratamento mais
difícil);
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➢ elaboração, com mais frequência, de esquemas Desde a década de 60, alguns teóricos já afirmavam que
defensivos (fechamento para qualquer intervenção estes estudantes, em especial, ingressavam no universo
terapêutica eficaz); acadêmico muito precocemente (geralmente entre os 17 e
➢ negligência da família e dos colegas (crença de que, 26 anos), passando, assim, por um momento de crise tanto
por ser médico, o indivíduo sabe se cuidar); de identidade como no processo de escolha profissional.
➢ meio do suicídio ao alcance das mãos (métodos Loureiro (2008), mostrou que 58,2% dos estudantes
mais eficazes para o êxito). apresentaram sintomas clínicos de estresse, sendo a
Em estudo realizado com estudantes do primeiro ano de dedicação exigida pelo curso, a dificuldade na gestão do
medicina, Parkerson et al., observaram que houve uma piora tempo e a falta de tempo para as atividades de lazer foram
em todos os parâmetros relacionados à saúde e satisfação as principais fontes de estresse. São comuns, para esses
pessoal durante o ano, sendo a variável mais marcante o estudantes, o sentimento de desvalia e impotência, os quais
aumento de sintomas depressivos. A exigência de um fomentam ideias de abandono do curso, bem como os
perfeccionismo encontrada em alunos do curso médico, próprios sintomas depressivos, incluindo ideação suicida –
quando comparados com alunos de outros cursos temática que também tem sido muito estudada.
universitários, expressada em um neuroticismo e sintomas Além disso, estudos mostram que a experiência
permanentes de estresse, é considerada, por Enns et al, psicológica desses estudantes varia significativamente ao
como preditiva de depressão e desesperança. longo dos 6 anos de curso, havendo mudanças no que foi
Em estudo de metanálise, Lloyd & Gartrell mostram que descrito como fases psicológicas, sendo elas: a) euforia
entre 4 e 14% dos estudantes de medicina buscam ajuda inicial, devido ao ingresso na faculdade; b) decepção,
psiquiátrica no transcorrer do curso. marcada pela cobrança intensa, desempenho dificultoso; c)
Suicídio é a segunda causa de morte entre os estudantes adaptação e preocupação, decorrentes do período do
de medicina, perdendo apenas para os acidentes, sendo que internato, e a competição pelas vagas de residência.
aqueles alunos com melhor desempenho escolar são os de A média geral de idade dos estudantes corresponde a
mais alto risco de suicídio. 21,9 anos, o que equivale ao início da vida adulta e, também,
Por serem esses alunos excessivamente auto-exigentes ao momento de entrada na jornada acadêmica, o que fica
e estarem constantemente em contato com pacientes com evidenciado pelo próprio período do curso em que estão
os mais distintos prognósticos e experiências de vida, inseridos, já que 3 estudos contemplaram o primeiro
sentimentos de desvalia e impotência diante de qualquer semestre do curso. Trata-se, portanto, de um momento
falha seriam responsáveis por ideias de abandono do curso, significativo, marcado por mudanças de ordem familiar,
depressão e suicídio. vivencial e prática. É possível perceber que em 5 dos 7
Além disso, os estudos indicam que o sexo feminino estudos avaliados, houve uma predominância de indivíduos
apresenta prevalência de depressão duas vezes maior que o do sexo feminino na composição das amostras.
sexo masculino nessa população acadêmica. Segundo Baptista, Baptista & Oliveira (1999), vários
Apesar da confidencialidade dos serviços de saúde fatores colaboram para que a questão do gênero seja
mental oferecido pelas escolas médicas, alunos com significativa na sintomatologia depressiva, incluindo a forma
depressão são pouco tratados, seja pela questão do estigma, que as mulheres experimentam, sentem e manifestam a
pela falta de identificação dos sintomas ou pela não- depressão (geralmente de forma mais direta). Constatou-se
aceitação da doença. que os homens apresentam comportamentos
Em um estudo realizado com acadêmicos de medicina exteriorizados, consumindo álcool ou drogas quando
da UFG, encontrou-se uma maior prevalência do segundo deprimidos, enquanto as mulheres expressam tristeza de
para o terceiro e o quarto ano do curso. Alguns fatores maneira padronizada, interiorizando, chorando,
identificados em outros estudos estão também aqui esquivando-se, retraindo-se, e ainda relembrando de cada
presentes, dentre os quais: a entrada no hospital, com o fato ocorrido. Esses processos de ruminação e
contato mais direto com pacientes graves e com a morte; a autoconscientização do seu estado interno potencializam os
alta exigência das disciplinas teórico-práticas, que os obriga sintomas.
a maior número de horas de estudo; fadiga; exigência de Também foram apontados aspectos intrínsecos como
participação em atividades médicas extracurriculares, como insegurança quanto ao futuro, experiências
as ligas acadêmicas; disputas entre os próprios alunos por emocionalmente intensas (contato com pacientes em
melhores colocações em serviços ou atividades acadêmicas. estados graves em prontos socorros, em situação de risco de
Alguns estudos epidemiológicos têm ressaltado taxas vida, pacientes em situações de alta complexidade médica,
preocupantes de depressão em um grupo específico de etc.) e paradigmas existenciais diante da vida e morte
pessoas: os médicos e estudantes de medicina. Oliveira (finitude). Acrescentam-se a isso a distância de casa por
(2013), por exemplo, mostrou que 43% dos estudantes de longos períodos, a modificação do funcionamento familiar e
medicina apresentaram sintomas de depressão, sendo 6,9% a qualidade das relações dentro do contexto universitário e
depressão moderada ou severa e 34,5% leve à moderada. com a figura do professor.
Por sua vez, Rezende et al. (2008) constatou a prevalência de Apenas 2 estudos trouxeram informações sobre as
79% de sintomas depressivos em estudantes de medicina, estratégias de enfrentamento dessa condição de estresse,
sendo 31% moderado e 19,2% grave. ressaltando que atividades de lazer, religiosidade, relações
interpessoais e diminuição de cobranças funcionam como
Maria Elisa Ornelas – 6ºP – FUNORTE

uma forma de apoio, o que é muito importante para a saúde


psíquica dos estudantes.
Chamou a atenção a utilização de álcool,
medicamentos e outras drogas como forma de
relaxamento, enfrentamento da realidade ou mesmo como
fuga.
No Brasil, a prevalência do uso de drogas no ensino
superior é um problema a ser enfrentado, havendo maior
consumo de tabaco e álcool. O consumo excessivo dessas
substâncias, especificamente o álcool, torna-se um meio de
fuga da realidade para os estudantes, muitos recém
ingressos na universidade e imersos em significativas
mudanças em seus estilos de vida. Os autores apontam que
o consumo de álcool e outras drogas pela classe médica
geralmente se inicia durante os anos da faculdade,
tornando-se um costume que perdura por anos, fazendo
com que o consumo feito pelos estudantes de medicina seja
superior ao dos estudantes de outros cursos.

REFERÊNCIAS
1. Clínica psiquiátrica USP. 2014
2. Kaplan. 2017
3. DSM 5
4. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais –
Paulo Dalgalarrondo. 3ºed, 2019.
5. Suicídio: informando para prevenir. Associação Brasileira
de Psiquiatria (ABP). CFM, 2014.
6. Psicofarmacologia: bases neurocientíficas e aplicações
práticas – Stahl. 4ºed, 2014.
7. AMARAL, Geraldo Francisco do et al. Sintomas depressivos
em acadêmicos de medicina da Universidade Federal de
Goiás: um estudo de prevalência. Revista de Psiquiatria do
Rio Grande do Sul, v. 30, n. 2, p. 124-130, 2008.
8. DE SOUZA, Amanda Santos; TAVARES, Karine Marques;
PEREIRA PINTO, Paula Sanders. Depressão em estudantes de
medicina: uma revisão sistemática de literatura. Seminário
Estudantil de Produção Acadêmica, v. 16, 2018.
9. DE AQUINO, Marco Tulio. Prevalência de transtornos
mentais entre estudantes de medicina da Universidade
Federal de Minas Gerais. 2012.

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