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Mestrado em Saúde Materna e Obstetrícia

Psicologia da Parentalidade
Sandra Capucho nº 7527

Reflexão: “Representações da gravidez e m/paternidade”

Segundo Colman & Colman (1994, p.120) “A gravidez foi sempre indispensável à vida
humana. A gravidez, nascimento e a maternidade/paternidade distraem frequentemente
homens e mulheres dos seus objectivos na vida e esgotam as suas reservas emocionais e
económicas.”

Para Colman & Colman (1994, p.13) “a gravidez é uma transformação biológica, social e
pessoal que põe o indivíduo com o processo arquetípico”, isto é, com os sentimentos,
comportamentos e significados que residem lá bem no fundo da natureza humana, pelo que a
gravidez pode ser, também simultaneamente, uma experiência gratificante e confusa.

Na minha opinião, a gravidez está relacionada com a ambivalência de sentimentos e


emoções que esta pode gerar, a mulher pode sentir-se, por vezes, envolvida de momentos
belos e, outras vezes, de momentos de angústia. A gravidez também pode ser considerada
como um desafio à maturidade e à estrutura da personalidade da mulher, visto que, esta está
exposta a diversos conflitos que requerem, de certa forma, uma resolução, reestruturação e
reajustamento aos vários níveis fisiológicos, sociais e psicológicos.

A gravidez não é só como um fenómeno biologicamente normal mas, também, como uma
experiência plena de crescimento e mudança, enriquecimento e desafio para a mulher e
família. É período prolongado de adaptação e reorganização, necessitando de mecanismos de
compreensão, novos conhecimentos, habilidades e modificações das relações interpessoais.

A gravidez pode ser vista como um período de adaptação, envolvendo modificações


endócrinas, somáticas e psicológicas com uma interdependência entre essas modificações
biofísicas e psicológicas. Torna-se um processo adaptativo inevitável e de mudança
irreversível na vida do casal.

A Maternidade encontra-se intimamente ligada à vida humana, sendo fruto de uma


evolução sócio - cultural, científica, económica, tecnológica e até mesmo política. Toda a
experiência humana é culturalmente construída e importante à maternidade.

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Segundo Kitzinger (1978) “A maternidade é a expressão de uma cultura, resultante de


experiências empíricas dessa cultura específica, adaptada ao sistema de valores da sociedade
em que vive e assente na qualidade das relações dentro da família”.

Ao reflectir sobre a maternidade, faz pensar num novo ciclo na vida da mulher. Mas
actualmente, a mulher já enfrenta um conflito se quer ou não ter um filho. A maternidade já
não é a sequela inevitável e necessária do casamento, mas o casal que, por um lado, quer
continuar a trabalhar para melhorar o seu nível de vida e se sentir livre, por outro lado, sofre
uma pressão exercida pela sociedade para que estabilizem e tenham um bebé.

Normalmente, a pessoa que assume maior importância para a grávida é o pai do seu
filho. Os pais estão a ficar mais conscientes da importante transição que vai ocorrer nas suas
vidas e procuram terá sua própria experiência pessoal.

Colman & Colman (1994, p.132) referem que “para o homem, uma parte crucial da
experiência da gravidez, vai ser constituída pelos seus sentimentos sobre a paternidade”.

Na minha opinião, a presença do pai, por vezes, não é valorizada, no sentido de ser
exigida atenção, “paciência”, responsabilidade e dedicação com a grávida, esquecendo-se de
que o pai também se encontra em adaptação e necessita de todo o apoio possível. Cada vez
existem mais pais a ir às consultas a sua mulher grávida e a frequentar aulas de preparação
para o parto. O papel paterno vai desenvolvendo-se também ao longo da gravidez, de forma a
estar informado de todo o processo de desenvolvimento do seu filho.

Segundo Colman & Colman (1994, p.121) “O papel do pai é muitas vezes definido
como o apoio à mulher, uma função extraordinariamente importante (…) a experiência que o
homem tem da gravidez não é despoletada por alterações hormonais ou corporais, mas a sua
transformação pessoal e social pode ser tão grande quanto a da sua companheira”.

É importante referir que o nascimento de um filho é uma experiência familiar. Portanto, é


necessária a assistência pré-natal mais global, e não apenas em termos de “mulher grávida”,
mas também de “família grávida”.
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BIBLIOGRAFIA

-APA (2006). Manual de estilo da APA: regras básicas /American Psychological Association;
tradução Magda França Lopes. Porto Alegre: Artmed.

-Bobak, I. (1999). Enfermagem na Maternidade. 4ª Ed. Loures: Lusociência, 90-112

-Canavarro, M. (2001). Psicologia da Gravidez e da Maternidade. Coimbra: Quarteto Editora,


17-113

-Conde, A. & Figueiredo, B. (2003). Ansiedade na Gravidez: Factores de Risco e Implicações


para a Saúde e Bem-estar da Mãe. Psiquiatria Clínica. Coimbra, 197-209.

-Colman, L. & Colman, A. (1994). Gravidez: A Experiência Psicológica. Lisboa: Edições


Colibri, 13-135

-Kitzinger, S. (1978). Mães: Um Estudo Antropológico da Maternidade. Lisboa: Editorial


Presença, 28-181

-Portelinha, C. (2003). Sexualidade durante a Gravidez. Coimbra: Quarteto Editora

-Pocinho, M. (1999). A Musica na Relação Mãe-Bebé . Instituto Piaget, 28-65

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ANEXOS

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GRAVIDEZ

Segundo Conde & Figueiredo (2003), a presença de medos e ansiedade é comum a


qualquer processo gravídico, no entanto, se aceitarmos o modelo biopsicossocial, é importante
ter em conta os diversos factores que podem influenciar o comportamento da grávida,
geradores de ansiedade durante a gestação. São eles: factores demográficos, como a idade,
estado civil, situação profissional, nível sócio-económico; factores obstétricos, que vão desde
a história menstrual à história obstétrica passada e presente; factores psicológicos,
nomeadamente relativos à história pessoal da mulher, passado psicopatológico, características
de personalidade, atitude relativamente ao sexo e desejo de engravidar e ainda factores
psicossociais, como a ocorrência de acontecimentos significativos de vida e redes de suporte
social disponíveis, incluindo a vivência com o pai do filho.

Para Bobak (1999, p.112) Ao longo de toda a gravidez vão ocorrer mudanças notórias
em todos os sistemas orgânicos da mulher. Estas alterações “são atribuídas às hormonas da
gravidez e às pressões mecânicas produzidas pelo aumento do útero e de outros tecidos”

Segundo Portelinha (2003, p.17) as alterações mais evidentes são o cansaço fácil, a
fadiga e o sono intenso; “algumas grávidas manifestam ainda enjoos matinais, náuseas e
vómitos que geralmente cedem por volta das 12 semanas”.

Segundo Bobak (1999), esta expressa-se através de alterações rápidas de humor e


aumento de sensibilidade; a mulher grávida alterna momentos de irritabilidade, lágrimas e
raiva com momentos de enorme alegria e boa disposição.

Segundo Colman & Colman (1994), a gravidez não é uma experiência estática nem
breve, mas plena de crescimento e mudança, enriquecimento e desafio. Mudanças na
identidade vão de mãos dadas com mudanças no corpo e nos papéis sociais. O processo pode
ser suave ou violento, fonte de confiança ou assustador, feliz ou triste, mas é seguramente
mudança. Qualquer período de tão profunda transformação pode ser considerado uma crise.

De acordo com Canavarro (2001), o processo de gravidez como mudança que é


implica stress; estas mudanças produzem perdas e ganho, associadas às representações de
gravidez para cada mulher, e exigem uma adaptação específica. A noção de crise está

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directamente associada à mudança e ao stress de que falamos anteriormente, sendo que este
não implica necessariamente sofrimento ou níveis de funcionamento mais baixos, mas sim
necessidade de reorganização.

MATERNIDADE

Segundo Canavarro (2001, p.23) “a noção de maternidade como “natural” e instintiva


não ajuda as mulheres a conceptualizar a maternidade como um processo de decisão que,
independentemente da opção tomada, deve implicar desenvolvimento pessoal e auto-
conhecimento”. Os processos de gravidez e maternidade, como mudança que são implicam
stress.

De acordo com Kitzinger (1978, p.33) “A própria natureza dinâmica da maternidade


pode ser causa de algumas mulheres se sentirem muito inseguras. Se tratasse de uma tarefa
que pudessem prever, estudar e em seguida levar a cabo e ver o produto acabado, sentir-se-
iam mais à vontade. Mas a maternidade não é assim”.

Segundo a mesma autora refere que “enquanto a mulher enfrenta os desafios da


maternidade, a sua relação com o marido sofre modificações subtis, num período em que ele
está muito ocupado com o trabalho fora de casa e em que sente o peso de novas
responsabilidades financeiras”.

PATERNIDADE

Colman & Colman (1994, p.60) realçam a positividade da presença do pai, referindo a
grande importância que o pai tem em tranquilizar a mulher, permitindo-lhe manter uma
conduta emocional estável ao longo da gravidez, isenta de componentes ansiosos patológicos.

De acordo com os mesmos autores atrás referidos referem que “há trinta anos atrás,
quando começamos a estudar a gravidez, a cultura popular assumia que o futuro do pai
desempenhava um papel marginal e de esforço durante a gravidez”.

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Referem Colman e Colman (1994, p.122) que nas últimas três décadas os pais estão a
ficar mais conscientes da importante transição que vai ocorrer nas suas vidas e procuram ter
própria experiência pessoal. Agora a maior parte dos pais vão à consulta do obstetra com a
sua grávida e também frequentam aulas de preparação para o parto onde “aprendem coisas
sobre o trabalho de parto e o nascimento e constrói uma relação com os seus filhos”

Para Bobak (1999, p.121) o pai pode apostar em ter um comportamento protector.
Outro poder-se-á sentir-se sozinho e afastado, à medida que a mulher se vai tornando física e
emocionalmente mais envolvida com a criança que vai nascer. Pode procurar conforto e
compreensão fora de casa, interessar-se por novos passatempos.

PAPEL DO ENFERMEIRO NA ASSISTÊNCIA DA GRÁVIDA

Segundo Colman & Colman (1994, p.60) “Hoje em dia os profissionais de saúde,
principalmente os enfermeiros, fazem sentir a mulher grávida mais segura, “sendo
compreensivos para com as preocupações dela”.
Para Collière (1989) o desenvolvimento da enfermagem está directamente ligado à
evolução dos cuidados de saúde e das diferentes formas organizacionais que se vão criando
para garantir a prestação e qualidade desses cuidados. “Constitui uma área de
desenvolvimento em que se cruzam os conhecimentos humanísticos com os conhecimentos
técnicos científicos, convergindo para a prestação de cuidados ao indivíduo, no sentido de o
apoiar e ajudar a superar algumas limitações que não sejam só em situação de doença”.
A Saúde Materna e obstetrícia é geralmente entendida como uma área de promoção da
saúde por excelência e a assistência em cuidados representa um grande desafio na
identificação e satisfação das necessidades da grávida e família, tornando-a mais dinâmica,
positiva e inovadora.
Assim, a enfermagem da Maternidade focaliza-se em cuidados relacionados com o
bem-estar da mulher e mãe, filho e família. Falar em maternidade implica falar em gravidez,
fase temporizada e caracterizada por profundas alterações a nível somático, endócrino e
psicológico que termina com o parto.

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Segundo Bobak (1999, p.90) “Uma avaliação cuidada conduz sempre à obtenção de
uma base para identificar potenciais riscos, desenvolver critérios para os resultados esperados,
planear os cuidados e intervir”
A Enfermagem, quer como profissão quer como ciência, vem evoluindo ao longo da
história. Um desenvolvimento progressivo dos conhecimentos técnicos e científicos
contribuiu para a clarificação e desenvolvimento dos seus saberes e suas competências com
um fim único - a melhoria da saúde das populações.
O que constitui o objecto da sua ciência, para os profissionais de enfermagem, é o ser
humano em toda a sua dimensão e vulnerabilidade. Mais do que saber - fazer, o enfermeiro
deve saber – ser, não executando as tarefas como mera rotina passando a pessoa a ser alvo dos
cuidados mecanizados que o profissional tem que executar.
De acordo com Kitzinger (1978, p.31) refere muitas vezes a grávida acha difícil “obter
informações com os profissionais de saúde” porque estes estão sempre a queixar que estão
“com pressa” e com um ar de muito “ocupado”, assim a grávida recorre a clínicas
particulares.
Para Colman & Colman (1994, p.41) “A nossa sociedade tem tendência para desprezar
a ansiedade das mulheres” e muitas vezes os profissionais de saúde “tentam dar segurança”.
Por vezes a grávida sentem vontade de falar sobre as suas preocupações e medos com os
profissionais de saúde, mas “se não for encorajada a partilhar, uma grávida pode ficar em
silêncio”.

Apesar da evolução crescente na assistência em cuidados em Saúde Materna, constata-


se que na prática os cuidados de enfermagem estão centrados na grávida, afastando-se do seu
contexto familiar e sócio cultural.

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