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8.

TEORIA DOS FATOS JURIDICOS


8.1. AQUISIÇÃO DE DIREITOS
8.1.1. No âmbito patrimonial dois são os modos de adquirir
direitos
a) modo originário: que nasce no momento em que o titular se apropria do
bem de maneira direta sem suceder ninguém por ato inter vivos ou causa
mortis;
b) modo derivado: quando, quer seja por ato inter vivos ou causa mortis
alguém sucede uma pessoa na titularidade daquele bem; onde a aquisição pode
se dar de forma gratuita: quando não há contraprestação, como no caso da
doação simples, ou na sucessão hereditária; ou onerosa: quando há
contraprestação, como na compra e venda.
8.1.2. Levando em conta o modo como se processa a aquisição
pode ser
a) a título universal: quando o adquirente substitui o antecessor na totalidade
dos seus direitos e obrigações; ou
b) a título singular: quando o adquirente substitui o antecessor em parte dos
seus direitos e obrigações; ou
8.1.3. Quanto ao seu processo de formação os atos podem ser:
a) simples: se o fato gerador da relação consiste num só ato (Ex.: assinatura
de um título);
b) complexos: se for necessária a intercorrência simultânea ou sucessiva de
mais de um fato ou ato, como por exemplo o usucapião.
8.1.4. Quanto à aquisição o Código civil diz que:
a) a pessoa pode adquirir para si ou para outrem: como no caso da
estipulação em favor de terceiros, nos contratos de seguro de vida dentre
outros;
b) os direitos podem ser adquiridos por ato do adquirente ou por
intermédio de terceiros, possibilitando, por exemplo, que o absolutamente
incapaz adquira bens ou direitos desde que representado, ou que aquele que é
capaz possa fazê-lo por mandatário, mas há de se notar, contudo, que certos
"direitos" nascem independentemente de ato ou vontade do adquirente ou seu
representante, como nos casos de avulsão (art. 1248, CC) e de aluvião;

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c) os direitos podem ser atuais, quando a partir de adquiridos já podem ser
exercidos ou, futuros, cuja aquisição depende da ocorrência de condição ou
termo.

8.2. MODIFICAÇÃO DE DIREITOS


Sem alterar-lhes a substância os direitos podem sofrer alterações em seu
conteúdo, objeto e até mesmo em seus titulares. Assim a modificação pode ser
de duas ordens:
a) modificação objetiva: relativa ao objeto ou ao conteúdo do direito, que
pode ser:
⇒ qualitativa: quando o conteúdo do direito se converte em outra espécie
daquela convencionada ou
⇒ quantitativa: quando sem a mudança do conteúdo ou qualidade do direito
aumenta-se ou diminui-se o objeto.
b) modificação subjetiva: relativa aos sujeitos, remete o pensar para os atos
de transferência de direitos patrimoniais ou não em razão de ato inter vivos ou
causa mortis em que uma (s) - parte(s) sucede(m) outra(s) na titularidade de
um direito. Várias hipótese podem se enquadrar no presente caso:
⇒ extinção de usufruto simultâneo em que os titulares vão se reduzindo;
⇒ desdobramento de relação jurídica, cessão de crédito e etc...

8.3. EXTINÇÃO DE DIREITOS


Os direitos se extinguem quando ocorre o perecimento do objeto; quando
houver alienação ou transferência a outro titular; quando ocorrer a renúncia;
quando o titular abandona a coisa; quando ocorrer a morte do titular sem
herdeiros ou cujo direito seja personalíssimo; quando aniversariarem os
respectivos prazos de prescrição e decadência; quando houver confusão;
quando ocorrer o implemento da condição resolutiva; quando houver o termo
final de sua duração; quando ocorrer a perempção ou quando surgir (por
sentença ou não) direito incompatível ou superveniente ao direito que
atualmente exista por sobre algo exercido por alguém. Em todos esses casos
não renasce o direito.

9. CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

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Todos os atos acima descritos refletem um negócio jurídico. Esses negócios
fundam-se, basicamente, na "autonomia privada", ou seja, na existência de um
fato jurídico que vincula as partes nele inseridas por um objeto com caráter de
norma. Assim é que esses negócios jurídicos admitem a seguinte classificação:
a) quanto à existência os atos são principais, quando existirem por si
mesmos ou acessórios, quando subordinarem-se ou condicionarem-se a
outro(s);
b) quanto à sua formalidade esses atos podem ser praticados sob uma
forma solene ou são solene em virtude do que dispuser a lei;
c) quanto ao seu conteúdo podem ser patrimoniais (reais ou obrigacionais),
ou ainda extra patrimoniais, quando indisponíveis por exemplo;
d) quanto ao tempo em que produzem seus efeitos os atos são
classificados como atos "inter vivos" ou "mortis causa", conforme a declaração
de vontade do agente se destine a produzir efeitos em vida ou depois de sua
morte, respectivamente;
e) quanto às vantagens que produz, onerosos ou gratuitos;
f) quanto aos seus efeitos podem ser constitutivos ou declaratórios, mas
vale mencionar que, via de regra os atos de efeito constitutivo têm eficácia "ex
nunc", ou seja, produzem efeitos a partir do momento da conclusão do negócio
jurídico (por exemplo a compra e venda), e os de efeito declarativo podem ter
eficácia "ex tunc" se efetivando de acordo com a ocorrência do fato a que se
veiculam, como p. ex. reconhecimento de filho ilegítimo.
g) quanto ao exercício dos direitos temos os negócios jurídicos de
disposição, se implicam no amplo exercício de direitos sobre os objetos
(propriedade por exemplo), ou simplesmente de administração, se os direitos
são restritos sobre esse objeto ou direito por qual se exerce um poder, sem que
haja alteração de sua substância como é o caso de um contrato de mútuo ou
uma locação residencial p. ex.
h) quanto à manifestação da vontade das partes os atos podem ser
unilaterais ou bilaterais e aqui convém observar:
Nos atos unilaterais a declaração de vontade emana de uma pessoa, sempre
na mesma direção, como a renúncia e a desistência. Já nos atos bilaterais as
declarações de vontade são emanadas de uma ou mais pessoas, porém em
sentidos "aparentemente" antagônicos como acontece nos contratos em geral.

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Os atos bilaterais podem, ainda, ser subdivididos em simples ou
sinalagmáticos:
• atos bilaterais simples: são os que concedem vantagens a uma das partes
e vantagens à outra, como o contrato de depósito;
• atos bilaterais sinalagmáticos: são recíprocos, ou seja, concedem
vantagens e ônus
reciprocamente, como é o caso do contrato de locação.

10. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DOS ATOS JURÍDICOS


10.1. Elementos essenciais
a) Gerais: capacidade, objeto lícito e possível e consentimento.

• Capacidade do agente: para que um ato seja considerado válido é


necessário que o agente tenha capacidade; por esse motivo, os relativamente
incapazes são assistidos, e os absolutamente incapazes são representados. Na
falta de representação o ato será nulo (CC. art. 166, I), e na falta de assistência,
anulável (CC. art. 171, I), como vimos.

Convém observar que, salvo os atos personalíssimos, todos os demais podem


ser praticados por representantes (CC. art. 116) e são três as espécies de
representação:
⇒ legal: a quem a norma confere poderes para administrar bens alheios, como
os pais, em relação aos bens dos filhos menores (CC. art. 115, 1ª parte), tutores
quanto aos pupilos (CC. art. 1747, I), e curadores pelos curatelados (CC. art.
1774)
⇒ judicial: quando são nomeados pelo magistrado como o curador de herança
jacente, o
síndico, o inventariante, caso em que temos uma representação imprópria pois
foge da
noção de dupla vontade.
⇒ convencional: quando se verifica o instrumento de mandato (CC. arts. 115,
art. 2ª parte, 653 a 692 e 120, 2ª parte).
Além da capacidade geral existe, também, para a prática de certos atos, a
necessidade de uma capacidade especial em certos casos:
⇒ outorga uxória ou marital: CC., art. 1647, I

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⇒ proibição de venda de bem a descendente sem ciência dos demais: CC. art.
496, parágrafo único.
⇒ casos de indignidade: CC. arts. 1814 a 1818
⇒ impedimento de o curador adquirir bens do curatelado: CC. art. 497, I

• Objeto lícito e possível: é necessário que o objeto envolvido no ato jurídico


seja física e juridicamente possível e mais, que não ofenda a lei.
⇒ objeto lícito: a prestação deve ser lícita, ou seja, deve estar de
conformidade com a moral, os bons costumes e à ordem pública. Ilícitas são as
convenções que objetivem usura, contrabando, câmbio negro, e etc. Ilícito ou
impossível o objeto, nula será a obrigação (CC., art. 166, II), não produzindo
qualquer efeito o ato.
⇒ objeto possível: porque o objeto da obrigação tem que ser possível, pois do
contrário não é suscetível de cumprimento. Distingue-se a possibilidade
material da possibilidade jurídica.
Possibilidade material diz respeito a realização do objeto em si mesmo. E a
possibilidade
jurídica pretende que a obrigação realize-se em conformidade com a ordem
jurídica.
A impossibilidade pode ser física ou material, legal ou jurídica:
• haverá impossibilidade física ou material sempre que a estipulação
concernir a prestação que jamais poderá ser obtida ou efetuada, por contrariar
as leis da natureza (loteamento da lua, comprar o oceano), ultrapassa às forças
humanas;
• haverá impossibilidade legal ou jurídica sempre que a estipulação se
refira a objeto proibido por lei como por exemplo a alienação de bens públicos,
de bem de família, de bens onerados com cláusula de inalienabilidade e etc. A
impossibilidade deve ser real e absoluta.
• Consentimento: (CC., art. 111) sendo o consentimento ato voluntário, poderá
dar-se de forma expressa ou tácita. Será expresso quando explícito e tácito
quando implícito, isto é, quando se praticar algum ato que demonstre aceitação,
como por exemplo, o ato de um indivíduo que ao receber uma proposta de
prestação de serviços de consultoria jurídica, passa a utilizar os serviços
oferecidos sem manifestar o seu "de acordo".

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b) Particulares: formas e solenidades previstas em lei como diz o CC., art.
104, III, já mencionado, que diz forma prevista ou não defesa em lei. Neste
sentido podemos afirmar que existem:
⇒ formas livres ou gerais: aquelas que podem se dar com a manifestação da
vontade de forma escrita ou oral, expressa ou tácita desde que não contrarie os
preceitos acima; e as
⇒ formas especiais ou solenes: aqui encontramos um conjunto de
solenidades que a própria lei estipula para a concretização de um ato e dentre
elas citamos:
• forma única: aquela que não pode ser preterida por outra como a exigência
de escritura pública para certos atos (CC., arts. 108, 215, 1653, 1227 e 1245),
as exigências para os casamentos (CC., arts. 1534 a 1542), dentre outras, e a
• forma plural: quando a lei faculta a prática de um ato por diversos modos,
excludentes, porém não livres (CC., arts. 1609; 62; 1806 e 1417 por exemplo)
• forma genérica: quando temos uma imposição de uma solenidade geral
dentro de uma faculdade contratual possível de ser exercida ou não, por
exemplo, sempre que a lei disser que algo deve ser ou não feito "salvo
disposição em contrário" estará genericamente indicando o modo de praticar o
ato, mas facultando às partes como querem agir.
• forma contratual: é o modo eleito pelas partes para fazer valer as
obrigações que pactuam, ou seja, convencionam, antes do ato principal a forma
como será feito o contrato entre elas. (CC., art. 104).
Mas, se no entanto, a impossibilidade for superveniente, torna a obrigação
inexeqüível. Se a impossibilidade for provocada por caso fortuito ou força maior,
ela libera a obrigação. Se, no entanto, a obrigação se impossibilitar por causa de
alguém, a este responsável caberá arcar com ela.
11. VALIDADE DO ATO JURÍDICO
A falta de algum elemento substancial ou essencial do ato jurídico pode torná-lo
nulo ou anulável. A diferença entre ser o negócio nulo ou anulável é uma
diferença de grau ou gravidade do defeito, a critério da lei. A nulidade absoluta
pode ser argüida a qualquer tempo, por qualquer pessoa, pelo Ministério Público
e pelo juiz inclusive, não se admitindo convalidação nem ratificação enquanto
que a nulidade relativa, ao contrário, só pode ser argüida pelos interessados
diretos, dentro de prazos previstos em lei (quatro anos em regra), admitindo
convalidação e ratificação.

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Pela convalidação o ato anulável passa a ser plenamente válido. Dá-se
a convalidação pela prescrição, pela correção do vício, pela revogação
da exigência legal preterida, pela ratificação, etc.

Ato jurídico inexistente é o que contém um grau de nulidade tão grande e


visível, que dispensa ação judicial para ser declarado sem efeito. Exemplos:
casamento entre pessoas do mesmo sexo; testamento verbal e etc. Mas a idéia
de ato jurídico inexistente só é aplicável em casos raros e extremos. Em regra,
torna-se sempre necessário o processo judicial para a declaração de uma
nulidade.
Ato jurídico ineficaz é o que vale plenamente entre as partes, mas não
produz efeitos em relação a certa pessoa (ineficácia relativa), ou em relação a
todas as outras pessoas (ineficácia absoluta). Exemplos: alienação fiduciária
não registrada (art. 129 , 5° da LRP); venda não registrada; bens alienados pelo
falido após a falência (LF art. 40), etc.
OBS.: Nunca se deve confundir nulidade com ineficácia como fazem
alguns. A nulidade é um vício intrínseco ou interno do ato jurídico. Na
ineficácia o ato é perfeito entre as partes, mas fatores externos
impedem que produza efeito em relação a terceiros.

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