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As discussões sobre questões conjugais estão cada vez mais complexas na atualidade.
No sentido de que as transformações culturais, sociais e econômicas se refletem na relação
conjugal, fazendo com que o casamento contemporâneo tenha vários definições, com
perspectivas diferentes para cada pessoa (WENDLING, 2006).
Além disso, mudanças que estão ocorrendo na composição das famílias não param de
crescer, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no seu último censo demográfico
levantou que são 19 tipos de parentesco encontrados no Brasil. As transformações das
relações sociais estão ocasionando a formação “novas famílias (IBGE, 2010).
A família no limiar do terceiro milênio é plural e não mais singular (PEREIRA, 2003,
p.233). Assim, no mundo pós-moderno o casamento não é a única forma de constituir uma
família.
A classificação das famílias foi apresentada no trabalho de Souza e Peres (2002 apud
LEGNANI, s.d. p.02) os autores criaram desenhos familiares, são eles:
“Nuclear Simples, formada por um casal e seus filhos; Mononuclear, constituída por
um casal sem filhos; Monoparental Simples, a qual pode ser feminina ou masculina
e é organizada em torno de uma figura que não tem companheiro residindo na
mesma casa, podendo ou não residir com os filhos; Nuclear Extensa, família nuclear
com agregado adulto co-habitando; Nuclear com Avós Cuidando de Netos, casal de
avós que cuida de netos com menos de 18 anos; Nuclear; Reconstituída, casal cujo
um ou ambos os cônjuges já tiveram outra união anterior, podendo ter filhos ou não;
Nuclear com Crianças; Agregadas, família nuclear cuidando de crianças que não são
filhos; Monoparental com Crianças Agregadas, família monoparental que cuida de
crianças que não são filhos; Monoparental Extensa, família monoparental com
agregado adulto residindo na mesma casa; Atípica, indivíduos adultos e/ou
adolescentes co-habitando sem vínculos sanguíneos, incluindo também pessoas que
moram sozinhas e casais homossexuais”.
Apesar da variedade de modelos de famílias citadas pelos autores, vale lembrar que
outros diversos tipos de família que não foram expostos.
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Vasconcelos (2008, p.37), explica que “Não. Na mediação os mediandos não atuam
como adversários, mas como co-responsáveis pela solução da disputa, contanto com a
colaboração do mediador.
A mediação familiar está prevista em lei, conforme o Código de Processo Civil, artigo
3º:
Art. 3º [...]
Assim, a mediação é uma tentativa de solução para a solução dos problemas de maneira
mais informal, o mediador é fundamental para este processo, pois ele não está envolvido
emocionalmente no processo e pode esclarecer melhor as situações e fazer com que as partes
consigam dialogar:
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Vale ressaltar que mesmo essas pessoas que naturalmente já possuem perfis
conciliatórios necessariamente devem participar de programas de treinamento em habilidades
e técnicas autocompositivas (AZEVEDO, 2016, p.151)
O mediador não tem o poder de decisão. “Ele não tem, nem o deseja, qualquer poder de
coação, ou coerção. As partes negociam com o mediador, não como se ele fosse um juiz, mas
apenas como uma ponte entre elas” (SALES, 2003, p. 83).
Assim, o mediador tem a difícil tarefa de esclarecer as divergências e fazer com cada
lado tenha suas necessidades atendidas. Nas mediações familiares as relações são afetivas e
muitas vezes no período em que os envolvidos estão buscando por seus direitos esses laços
são destruídos, ficando ainda mais difícil para o mediador.
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Spengler (2012), afirma que talvez o principal desafio da mediação seja encontrar
mecanismos que possibilitem uma convivência pacífica. Esse convívio precisa ser apropriado,
para que os envolvidos consigam ser cordiais e educados a ponto de conseguirem finalizar e
manter os acordos realizados.
A mediação familiar vem ganhando cada vez mais espaço porque é um processo
eficiente. A mediação pode ser definida como um acompanhamento das partes na gestão de
seus conflitos, para que tomem uma decisão rápida ponderada, eficaz e satisfatória aos
interesses em conflito.” (DIAS, 2005, p.80).
Portanto, vimos neste capítulo por causa das mudanças sociais a formação das famílias
estão mudando, mesmo assim todos os membros de uma família devem ter seus direitos
assegurados. No entanto, quando esses direitos estão ameaçados, mediação familiar pode ser
adequada para solucionar essas controvérsias, o mediador é a principal chave para que as
partes cheguem a um acordo.
O Direito tradicional é fundamentado na divisão dos bens das pessoas. No entanto, hoje
quando o casamento termina existe o interesse de valorizar a unidade familiar, os interesses
comuns e pessoais da própria família (TOALDO; OLIVERIA, 2011).
Desta forma, inúmeros processos se acumulam nas Varas de Família, considerando que o
problema não é as questões patrimoniais dos interessados, mas sim questões afetivas dos
mesmos (TOALDO; OLIVERIA, 2011). É preciso que o Judiciário apresente “uma solução,
uma alternativa para solucionar essa conflitiva familiar, uma mudança para esse modelo que
já está mais do que ultrapassado” (Toaldo; Oliveira, 2011, p.02).
duas pessoas tem filhos de relacionamentos anteriores, famílias poliafetivas, entre tantas
outras situações que não cabem no direito tradicional, patriarcal e machista.
A grande questão da atualidade seria: como resolver os inúmeros conflitos sobreo o direito
de família se o estado apenas oferece suporte para três tipos de famílias?
O que a sociedade deve lutar é pelo direitos das pessoas em primeiro lugar. Segundo Lôbo
(2002, p.59), “o objeto da norma não é a família, como valor autônomo, em detrimento das
pessoas humanas que a integram. Antes foi assim, pois a finalidade era reprimir ou inibir as
famílias "ilícitas", desse modo consideradas todas aquelas que não estivessem compreendidas
no [...] casamento”.
Apesar disso, a família tem um importante papel na sociedade porque ela influencia na
formação do indivíduo e durante a vida oferece um sistema de apoio, ela deve ser preservada:
Ainda, um dos propósitos para a construção de uma família é a felicidade. O ideal seria o
que o autor Villela (1994, p. 645), descreve “diferentemente do que tínhamos no modelo de
família patriarcal, as famílias de hoje se mantêm como um intuito maior de buscar a felicidade
e realização de seus componentes, se assim não o for, ela não resiste”.
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Segundo Pereira (2012, p. 196), “a proposta é, então, colocar como figuras centrais outras
formas de famílias [...] partindo-se da premissa da sua inegável existência e da tutela que a ela
deve ser dispensada pelo Estado, em decorrência do que prevê o caput do art. 226 da CF”.
Para Brauner (2004), a compreensão da evolução do direito das famílias deve ter como
fundamento o estabelecimento e a aplicação de uma nova cultura jurídica. Essa precisa ter
uma proposta de proteção às entidades familiais, implantando um processo de
repersonalização dessas relações, e aceitando o do afeto como sua maior preocupação.
Não cabe mais os argumentos históricos de que a tutela da lei se justificava pelo interesse
da família [...]. O espaço da família, na ordem jurídica, se justifica como um núcleo
privilegiado para o desenvolvimento da pessoa humana. (FARIAS; ROSENVALD, 2016, p.
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Assim, a prática de uma nova cultura do direito familiar não está ocorrendo da forma como
deveria ser porque quem exerce o poder jurídico é o patriarcado, os homens. Isso anula os
direitos das pessoas em geral, como explica Silva (2018, p. 34), “o afeto tem toda relevância
jurídica, podendo até ser considerado como um Direito Fundamental a ser protegido e
respeitado”.
Quando uma realidade torna-se evidente – como vem acontecendo com as novas
configurações familiares –, o Direito deve curvar-se e regula-la sob pena de tornar-se obsoleto
(SIMON, 2001, p.3).
Assim, o que estamos constatando neste capítulo é que o direito de família não está
atendendo todas as famílias do Brasil. Ele regula e protege grande parte delas mas, milhares
de famílias estão com seus direitos invalidados porque a sociedade brasileira está parada nos
séculos passados quando o assunto é casamento e família.
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Segundo Hironaka (2013), os arranjos de diferentes tipos de entidades familiares não vem
ocorrendo com facilidade, esse processo está sendo lento. A união estável – no passado
denominada concubinato puro – para ser aceita levou aproximadamente seis décadas de
avanços jurisprudenciais, só então, conseguiu ser validada pelo legislativo com a Carta
Constitucional de 1988. Além disso, apenas em 1990, foram assinadas as duas leis que
regulamentou a união estável e os efeitos sucessórios.
Para Tartuce (2014, p.73) , o real sentido do texto legal é que o Estado ou mesmo um ente
privado não pode intervir coativamente nas relações de família. No entanto, quando o Estado
não atualiza a legislação de acordo com as novas realidades das entidades familiares, ele
obriga as pessoas a viverem de acordo com uma situação irreal que causa sofrimento nas
pessoa.
A mediação familiar é necessária quando já não há mais diálogo entre o casal ou nenhum
tipo de comunicação para resolver os problemas da família. O poder judiciário é o primeiro
passo na direção de resolver conflitos. No entanto, o juiz muitas vezes não consegue atender a
necessidades de todos os envolvidos e outro processo vai ser iniciado.
Por outro lado, o processo de mediação pode ser instaurado e a resoluções dos problemas
podem ser iniciadas. No Brasil a mediação começou a ser utilizada na década de 1980 nas
esferas trabalhistas, empresarial e comercial. A mediação familiar começa a ser implementada
apenas na década de 1990 (Moore, 1998, p.40).
A morosidade dos tribunais e a inequação do direto de família são as principais causas para
que as que sociedade optassem pela mediação nos casos de conflitos familiares. Segundo
Piske (2012, p.23) “ao longo da história, observa-se que as estruturas dos tribunais passaram a
ter uma administração cada vez mais lenta e congestionada [...]”.
A mediação e uma técnica que veio para desburocratizar os processos na justiça, que
podem demorar anos para serem resolvidos, neste sentido ela começou a ser indicada pelos
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juízes. O que deve ser considerado é que muitas famílias não tem o luxo de esperar, elas
necessitam utilizar o que é seu por direito:
Conforme está descrito na Lei de Mediação no art.168, §3º, do Código do Processo Civil –
(CPC) DE 2015, a mediação poderá ser efetuada por um ou mais mediadores, sendo
recomendável mais de um. Ainda, todo processo deve ter a concordância das partes.
Segundo Azevedo (2016, p.150), “a mediação é divida nas seguinte fases: inicio da
mediação, reunião das informações, identificação de questões, interesses e sentimentos,
esclarecimento de controvérsias e de interesses, resoluções das questões e registro das
soluções encontradas”.
Ainda, o Artigo 166 do CPC (2015), recomenda que “a conciliação e a mediação são
informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade,
da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada”.
Assim, a mediação é uma oportunidade para que as pessoas confronte suas desavenças,
nela é possível que as duas partes percebem onde está realmente o problema. Segundo
Vasconcelo (2008, p.39), “ a repetição das narrativas e desabafos, inclusive sobre fatos
anteriores relacionados ao conflito, ajuda os mediandos na estruturação dos seus próprios
argumentos. Isto vai naturalmente acontecendo na medida em que eles vão tomando
consciência dos seus interesses comuns”.
A técnicas que o mediador aplica são para que as partes envolvidas no processo entendam
que é possível ter diferenças e mesmo assim proteger as relações afetivas. Segundo Lôbo
(2008, p. 47) o princípio jurídico da afetividade “[...] fundamenta o direito de família na
estabilidade das relações socioafetivas e na comunhão de vida, com primazia sobre as
considerações de caráter patrimonial ou biológico”.
Segundo Fuga (2003, p. 27) "os laços de afeto procedem da convivência, não mais
exclusivamente da consanguinidade. A evolução desse sistema foi aviventada por algumas
causas".
A constituição de uma família deve esta fundamentada no amor, na afeição entre os seus
integrantes, isso é fato, pois a existência humana já e muito conflitante, imagina ter que
conviver com quem você não gosta. Assim, os laços familiares deve ser feitos e desfeitos com
muito respeito e afeto.
Consequentemente, o acordo pode ser um dos desfechos possíveis, mas ainda que ele não
ocorra, se o diálogo amistoso foi restabelecido, a mediação poderá ser considerada exitosa.
(Spengler, 2011, p.175).
Assim, o trabalho que é feito com os mediandos durante os encontros pode ser muito
significativo, pois nesse tempo é possível criar novas crenças positivas. A mediação requer a
discussão sobre as posições, interesses e valores envolvidos e, a partir da ressignificação
desses valores, permite a construção participativa do consenso” (SALES 2017, p.966).
O comportamento neutro das ações o mediador alcança a atenção dos envolvidos, sendo
possível que eles consigam parar e escutar um ao outro, é neste momento acontece a
transformação, porque todos os pontos de vistas começam a ser considerados.
A mediação é como um instituto que vai até o fundo de nossos mal-estares, encontrando
assim a raiz geradora de um permanente estado de conflito conosco e com os outros de nosso
convívio, proporcionando um reencontro que transforma (WARAT, 2001, p.32).
Assim, a comunicação é o que faz com que as pessoas consigam chegar a conciliação e
uma convivência adequada. Os acordos extrajudiciais podem ocorrer, desde que os
envolvidos consigam conversar sobre as suas desavenças.
Foi visto neste capítulo que quando o Direito de Família está sendo aplicado o afeto entre
os familiares deve ser considerado, não apenas os bens patrimoniais. Neste sentido, a
mediação é uma ferramenta importante para que os laços afetivos sejam discutidos, expostos e
algumas vezes recuperados, quando os envolvidos estão dispostos a resolver os problemas
entre eles. Desta forma, após o processo de mediação eles irão conseguir conviver de forma
cordial e irão seguir suas vidas de maneira pacífica
REFERÊNCIAS
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Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.html.
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HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Famílias Paralelas. 2013 Disponível em:
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LEGNANI, V.N.; SANTOS, A.J. Família nuclear: um ideário de proteção contra a violência.
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TARTUCE, Fernanda. Mediação nos Conflitos Civis. 2. ed., rev., atual. e amp. – Rio de
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TARTUCE, Flávio. Direito de Família. 9. Ed. Editora Método. São Paulo. 2014.
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Brasileira de Direito/Faculdade Meridional. Passo Fundo: IMED, ano 1, n.1, jul./dez.2005.