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PLANIFICAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Introdução

O processo de ensino e aprendizagem é uma actividade intencional e, nesta condição, requer uma
planificação, a começar pelo nível central, da escola e da aula. Neste sentido, a planificação do ensino-
aprendizagem assume carácter de obrigatoriedade para o professor: o plano de ensino determina os
objectivos a que se pretende chegar e o conteúdo a mediar e, ademais, algumas características
fundamentais da estruturação didáctico-metodológica e organização do ensino. É essencialmente uma
concepção de direcção didáctica do ensino. É, pois, pela importância que a planificação do PEA tem que
iremos nos debruçar sobre ela, focalizando os seguintes aspectos:

a. Conceito e importância da planificação do PEA

b. Níveis de planificação do PEA

c. Componentes de planificação do PEA

d. Etapas de planificação do PEA.

CONCEITO E IMPORTÂNCIA DA PLANIFICAÇÃO DO PEA

A planificação é uma prática corrente em todas as actividades humanas, especificamente as que são
realizadas intencionalmente. Por isso terá sido fácil para você concluir que o plano de aula (ou seja, a
planificação do PEA) é a previsão mais objectiva possível de todas as actividades escolares para a
efectivação do processo de ensino e aprendizagem que conduz o aluno a alcançar os objectivos
previstos; e, neste sentido, a planificação do ensino é uma actividade que consiste em traduzir em
termos mais concretos e operacionais o que o professor e os alunos farão na aula para conduzir os
alunos a alcançar os objectivos educacionais propostos.

A planificação do PEA é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das actividades didácticas em
termos da sua organização e coordenação em face dos objectivos propostos, quanto a sua revisão e
adequação no decorrer do processo de ensino. A planificação é um meio para se programar as acções
docentes, mas é também um momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado a avaliação.

Se terá sido fácil definirmos a planificação do ensino, não parece tão simples falarmos da importância da
planificação do ensino, sobretudo com uma parte dos nossos professores que trabalham nas nossas
escolas a relativamente muito tempo; referimo-nos a aqueles “muito experientes” que pensam ser
dispensável o plano de aula, como acontece também com alguns recém formados ou contratados que
não desenvolveram ainda nem habito, nem suficiente capacidades para fazer a planificação das aulas.

Sempre que se inicia um empreendimento complexo, tendo em vista alcançar determinadas metas,
torna-se importante fazer uma previsão básica da acção a ser realizada, previsão essa que funcione
como um fio condutor susceptível de orientar a acção. No complexo empreendimento que é a
educação, esta necessidade torna-se ainda mais forte. Com efeito, na medida em que a acção educativa
põe em causa o presente e o futuro da criança, do adolescente e do jovem, pondo consequentemente
em causa a própria comunidade, não se pode permitir que ela se desenrole ao sabor dos acasos da
improvisação. Também não pode ser estruturada na exclusividade do bom senso e da intuição de quem
a pratica. Com a planificação da aula, o professor determina os objectivos a alcançar ao término do
processo de ensino-aprendizagem, os conteúdos a serem aprendidos, as actividades a serem realizadas
pelo professor e aluno, a distribuição do tempo, etc., ou seja, a planificação permite visualizar
previamente a sequência de tudo o que vai ser desenvolvido em dia lectivo. Assim, a planificação da aula
é a sistematização de todas as actividades que se desenvolvem no período de tempo em que o professor
e aluno interagem numa dinâmica de ensino e aprendizagem.

A importância dada a planificação não significa que se nega que “as melhores aulas surjam de repente,
por causa de uma palavra, de uma insignificância em que o professor não tinha pensado antes”. Uma
aula pode e muitas vezes deve “acontecer”, porque uma coisa é a aula inerte no papel e outra é a aula
viva, dinâmica, que a trama complexa de inter-relações humanas, a diversidade de interesses e
características dos alunos não permite ser um decalque do que está no papel. Estes alunos, aqueles
alunos, os factos que ocorrem no meio fazem as aulas acontecer...

Mas isto não significa de modo algum que não tenha importância o tal “fio condutor”, que existe numa
planificação. Significa é que ele não pode ser um fio rígido, mas sim flexível ao ponto de permitir ao
professor inserir novos elementos, mudar de rumo, se o exigirem as necessidades/ou interesses do
momento se, de repente, se descobre uma forma mais rica, mais original ou mais adequada de explorar
determinado assunto. Isso significa, de facto, que os planos podem tomar, na prática, no momento de
execução, um sentido novo que as circunstâncias provocarem. A planificação, que se transformou neste
caso, em recurso aparentemente não utilizado, funciona agora como um marco de referência em
relação ao qual se identifica o que de forma inesperada se atingiu, evidenciando também o que, não
deixando de ser importante, não se conseguiu atingir.
A propósito desta questão de o plano de ensino concebido nem sempre corresponder com o que se
passa realmente na sala de aula, importa salientar que este é um instrumento de acção, devendo servir
como guia de orientação, apresentar ordem sequencial, objectividade, coerência e flexibilidade.

Como a função de planificação é orientar a prática, partindo das exigências da própria pratica, ele não
pode ser um documento rígido e absoluto, pois uma das características do processo de ensino é que
está sempre em movimento, está sempre sofrendo modificações face às condições reais.

Depois, dissemos que o plano deve apresentar ordem sequencial e progressiva, visto que para alcançar
os objectivos são necessários vários passos, de modo que a acção docente obedeça a uma sequência
logica. Não se quer dizer que, na prática, os passos não possam ser invertidos.

Em relação a objectividade entendemos a correspondência do plano com a realidade à que se vai


aplicar. Não adianta fazer previsões fora das possibilidades humanas e materiais da escola, fora das
possibilidades dos alunos. Por outro lado, é somente tendo conhecimento das limitações da realidade
que podemos tomar decisões para superação das condições existentes.

Por seu turno, a coerência entre os objetivos gerais, objectivos específicos, conteúdos, métodos e
avaliação. Coerência é a relação que deve existir entre as ideias e a pratica. É também a ligação logica
entre os componentes do plano. Se dizemos nos objectivos gerais que a finalidade do trabalho docente
é ensinar os alunos a pensar, a desenvolver suas capacidades intelectuais, a organização dos conteúdos
e métodos deve reflectir esse propósito. Quando estabelecemos objectivos da matéria, a cada objectivo
devem corresponder conteúdos e métodos compatíveis.

Finalmente, a flexibilidade do plano sugere que no decorrer do ano lectivo o professor está sempre
organizando e reorganizando o seu trabalho. A relação pedagógica está sempre sujeita a condições
concretas, a realidade e está sempre em movimento, de forma que o plano está sempre sujeito à
alterações.

Vendo neste sentido, compreende-se que devemos planear não uma aula, mas um conjunto de aulas,
visto que:
Na preparação de aulas, o professor deve reler os objectivos gerais da matéria e a sequência de
conteúdos do plano de ensino. Não deve esquecer que cada tópico novo é uma continuidade do
anterior: é necessário, assim, considerar o nível de preparação inicial dos alunos para a matéria nova.

O professor deve tomar o tópico de unidade a ser desenvolvido e desdobra-lo numa sequência logica, na
forma de conceitos, problemas, ideias. Trata-se de organizar um conjunto de noções básicas em torno
de uma ideia central, formando um significado que possibilite ao aluno uma percepção clara e
coordenada do assunto em questão. E ao mesmo tempo que são listadas noções, conceitos, ideias e
problemas, é feita a previsão do tempo necessário.

Em relação a cada tópico, o professor redigia um ou mais objectivos específicos, tendo em conta os
resultados esperados da assimilação de conhecimentos e habilidades. A previsão do tempo, nesta fase,
ainda não é definitiva, pois poderá ser alterada no momento de detalhar o desenvolvimento
metodológico.

É importante que o professor tenha sempre presente uma visão de conjunto e da interrelação dos seus
elementos constituintes, de modo a que cada situação de ensino e aprendizagem, que propõe, constitua
uma peça de um todo. Esta peça vai permitir que a acção educativa se complete em resultado de uma
dialéctica constante entre aquilo que é preconizado no plano a longo prazo para os alunos de forma
mais geral e o que é mais adequado para aqueles alunos naquele momento.

Também é importante sublinharmos que a alteração do tempo do plano poderá dever-se ao


detalhamento metodológico, mas também da avaliação da própria aula. Sabemos que o êxito dos alunos
não depende unicamente do professor e do seu método de trabalho, pois a situação docente envolve
muitos factores de natureza social, psicológica e o clima geral da dinâmica da escola. Entretanto, o
trabalho docente tem um peso significativo ao proporcionar condições efectivas para o êxito escolar dos
alunos.

A planificação não é uma panaceia de todos os problemas de educação, mais concretamente do ensino:
a PLANIFICAÇÃO, como ilustra a figura abaixo, é apenas uma parte do que normalmente chamamos ciclo
docente, visto que para além dela temos a REALIZAÇÃO e a AVALIAÇÃO, razão pela qual mesmo que o
professor tenha uma planificação mais correcta possível, se a realização e avaliação do processo de
ensino-aprendizagem tiverem problemas não poderá alcançar facilmente os objectivos que pretende.
Contudo, se feita com rigor e simultaneamente com a flexibilidade e a abertura indispensáveis, ela
assume uma importância vital na pratica profissional de todos aqueles que se esforçam na construção
de uma escola empenhada numa comunicação clara entre os elementos implicados na acção educativa,
uma escola mais lucida e mais humana que actua com base na realidade dos seus alunos, uma escola
mais eficiente no aproveitamento do tempo e do espaço de que dispõe para ajudar os seus alunos a
“crescer”. Enfim, uma escola que quer estar consciente do modo como decorrem as situações que ela
desencadeia e/ou se lhe deparam no dia-a-dia, situações essas sobre as quais deseja agir a fim de, se
necessário, as modificar.
Níveis de planificação do PEA

Introdução

A prática do ensino do ensino mostra que o que acontece na escola como experiências da
aprendizagem faz parte do currículo previsto para esse nível, classe ou tipo de ensino.

O professor, na sua planificação, desempenha, nesse sentido, o papel de quem operacionaliza e


concretiza no terreno uma planificação anteriormente feita à níveis acima dele. Isto, em parte orienta o
professor, mas ao mesmo tempo, como vimos anteriormente, nenhum plano do PEA pode considerar-se
uma proposição rígida, acabada, o que faz com que, da sua parte, o professor planifique, à sua maneira,
as suas aulas.

A planificação do processo de ensino-aprendizagem se realiza em dois níveis fundamentais: central e do


professor, passando por um nível intermediário, o da planificação pela escola.

A nível central, a planificação curricular é feita para todos os níveis e graus de ensino-aprendizagem (a
nível da nação) e, na base disso, procede-se a definição do perfil de saída do nível/grau, curso, disciplina,
ano, etc. a partir do qual se faz:

A definição de objectivos, conteúdos e métodos gerais;

A distribuição destes pelos anos (semestres, trimestres, etc.) e pelas unidades do PEA;

A elaboração dos programas detalhados por disciplina;

Com base nos programas detalhados, elabora-se o livro do aluno, o manual do professor e outros meios
de ensino-aprendizagem.

1. Depois da planificação central, em que vai consistir a planificação ao nível do professor?

Como podemos ver através da experiência de educação em Moçambique, por exemplo, a planificação
do professor começa, juntamente com outros colegas, com a elaboração do plano anual da disciplina,
geralmente denominada “dosificação”, na qual o grupo de disciplina faz a distribuição das unidades de
ensino em semanas, prevendo momentos de aula, de avaliações, para além doutras que mereçam
destaque na planificação anual ou semestral. E, a seguir a isso, o professor individualmente
(principalmente) ou em grupo faz o plano de aula(s), ou seja, a previsão do desenvolvimento do
conteúdo para uma aula ou conjunto de aulas, tendo em conta um carácter bastante especifico em
termos do tema (conteúdo), métodos e técnicas de ensino, objectivos, meios, isto é, das condições
concretas em que se realiza(rá) o ensino-aprendizagem.

Em termos de modelos para a planificação das aulas, convém realçar que existem muitos, em função do
autor que os propõe. Por isso, nos parece marginal a discussão sobre qual é o melhor modelo, desde
que se chegue ao ponto de incluir os elementos que simbolizam a dinâmica do processo de ensino-
aprendizagem.

Assim, por uma questão meramente elucidativa, incluiremos a seguir alguns modelos de plano de aula,
deixando ao critério do professor, em grupo de disciplina ou nível da escola, e em função da disciplina
que lecciona adoptar este ou aquele modelo, ou ainda a combinação entre eles.

COMPONENTES DE PLANIFICAÇÃO DO PEA

Em toda a planificação do PEA, nos diversos níveis, se definem os objectivos, selecionam-se conteúdos a
privilegiar, identificam-se estratégias, estabelecem-se tempos de realização e se preveem actividades de
avaliação. E no caso da planificação ao nível do professor, tudo se passa com mais pormenor, pesando
muito mais a preocupação de adequar as propostas às características do contexto. E ao realizar esta
adequação o professor deve tomar decisões, as quais devem preceder uma série de interrogações, tais
como:

Está adequada às características do meio em que estou a trabalhar?

Toma em consideração os recursos e as limitações que o meio e a escola oferecem?

Mobiliza todos os recursos humanos disponíveis (alunos, professores, funcionários da escola e


elementos da comunidade)?

É possível de ser executado por professores com as características dos que


trabalham nesta escola?

Toma em consideração as aprendizagens anteriores realizadas por estes alunos?

Irá desencadear uma aprendizagem progressiva?

Toma em consideração as características da turma?


Considerando as interrogações atrás referidas, quando se faz uma planificação terão de se tomar em
linha de conta os seguintes componentes:

a. O meio envolvente à escola

Só artificialmente se pode considerar a escola separada do meio. As paredes da sala de aula são
unicamente barreiras físicas, totalmente permeáveis aos problemas, interesses e hábitos culturais da
zona em que ela está inserida. Se estes factores, aparentemente estranhos à turma, não são
considerados nas propostas de aprendizagens, corre-se o risco de não interessarem ou de serem
inacessíveis aos alunos. Os exemplos que se dão, os exercícios que se vão propor, as motivações que se
utilizam, a linguagem que se usa, tudo tem de ser adequado ao meio. E, evidentemente, esta adequação
tem muito que ver com as limitações e com os recursos quer materiais quer humanos que a escola e o
meio oferecem.

Com efeito, as condições em que se trabalha são por vezes tão fortemente imitantes que será utópico
não as tomar em consideração. E assim, frequentemente o professor é forçado, por exemplo, a mudar
de estratégia porque não é mesmo possível concretiza-la com o material de que dispõe. Mas considerar
de forma realista as limitações a que se está sujeito não significa que se adopte face a elas uma atitude
de submissão; bem pelo contrario, é fundamental que elas se encarem sempre como um desafio à
criatividade e iniciativa de cada um tal como é ilustrado pelo caso de um professor de Português que,
não tendo qualquer biblioteca na escola, nem qualquer biblioteca de turma, e estando muito
empenhado em desenvolver o gosto pela leitura com seus alunos, faz com eles uma recolha de contos
tradicionais da região. Esses contos foram escritos pelos alunos, por eles ilustrados e policopiados,
constituindo um pequeno embrião de uma colecção de textos à disposição de todos, talvez uma
“biblioteca” mais viva e mais útil que muitas outras

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