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EFEITO FOTOELÉTRICO – AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DE DIFERENTES MÉTODOS PARA A

DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE PLANCK

Germano G R, Rocha J P, Santana A C V


Instituto de Física – Universidade de São Paulo

Através da incidência de feixes eletromagnéticos de diferentes frequências em uma fotoce!lula, e da análise do


comportamento da corrente e tensão do circuito, visou-se a confirmação experimental da teoria de quântica
do Efeito Fotoelétrico. Com a utilização de dois diferentes métodos, determinou-se a constante de Plank com
o valor de h1=6,1(5)E-34Js e h2=5,9(5)E-34Js resultando em desvios relativos em relação ao valor h = 6,63E-
34 de 7% e 11%, assim determinando o método 1 como melhor método de análise

1. Introdução Teórica do material, deveria haver uma perda de energia.


Chamemos sua função trabalho de f sua energia
A emissão de elétrons devido a interações com a
cinética ficaria então
incidência de radiação eletromagnética é chamada
de Efeito Fotoelétrico. A primeira observação Ecmáx = h! - f = E0 - f (2)
experimental deu-se no fim do século XIX, quando
Hertz percebeu que descargas elétricas ocorriam Aumentando-se a intesidade da radiação em
mais facilmente ao se incidir radiação ultravioleta mesma frequência, temos mais fótons incidindo e
entre dois eletrodos. Porém, algumas das elétrons sendo ejetados. O valor de energia
condições do experimento, contrariavam a Teoria máxima se mantém pois a frequência não é
Clássica conhecida até então: alterada, de acordo com (1) e satisfazendo as
condições encontradas pelo experimento de Hertz.
i. O número de elétrons ejetados de
determinado material era diretamente A mínima frequência de luz para que o efeito
proporcional à intensidade da radiação ocorra, também contraditória à Teoria Clássica, é
eletromagnética incidente (de acordo com sua explicada de acordo com a função trabalho,
frequência); energia mínima de ligação dos elétrons no material
ii. Não existia efeito fotoelétrico abaixo de em questão, é necessário que a energia do fóton a
determinadas frequências de radiação transponha para que consiga arrancar um elétron.
incidente. !0 = f / h (3)
Enquanto a Teoria Clássia previa que uma vez
que a energia fosse suficiente para arrancar o Assim, se a frequencia do fóton for menor que f/h o
elétron, o Efeito poderia ocorrer para qualquer efeito fotoelétrico não ocorrerá.
frequência; Para uma dada frequência de radiação incidente,
iii. A energia cinética máxima dos elétrons não pode-se determinar a voltagem nescessária para
dependia da intencidade da radiação frear todos os fotoelétrons, ou voltagem de corte
incidente. Uma vez que era sabido que a (V0), nesse caso a conservação de energia para os
amplitude do campo elétrico oscilante elétrons fica:
aumentava com a intensidade, o que gerava
aumento na energia cinética; Ecmáx = h! - f = V0 (4)
iv. A luz incidia no material e os elétrons eram 2. Descrição Experimental
emitidos instantaneamente.
Deveria haver algum invervalo de tempo entre Para a observação do efeito fotoelétrico foi utilizado
um evento e o outro. o seguinte aparato: um feixe de luz monocromática
era produzido a partir da luz de uma lâmpada de
Em 1905, após a introdução da quantização da Hg difratada por uma rede e focada através de uma
energia como modelo para o espectro de radiação lente, e incidia sobre uma fotocélula, aonde se
de corpo negro por Plank; Einstein, focado na aplicava uma diferença de potencial medida por um
natureza corpuscular da luz, propõem que a voltímetro. A corrente gerada no circuito era
radiação eletromagnética não é contínua mas medida através de um Amperímetro, ligado
quantizada em pequenos pacotes de energia conforme ilustra a Figura 1.
chamados de fótons, de forma que uma fonte de
radiação emitiria pulsos discretos de energia h!,
onde ! é a frequência da luz. Um único fóton
poderia ser absorvido por um elétron, a energia do
elétron então seria:
E0 = h! (1)
Para que o elétron pudesse escapar da superfície Figura1. Circuito para detcção do efeitoelétrico.[1]
Para a obtenção desse mesmo gráfico para
diferentes intensidades de cada frequência, foram
A distância entre a lente e a lâmpada de Hg foi
utilizados filtros atenuadores, que deixavam passar
ajustada de modo que a luz tivesse bom foco na
80%, 60%, 40% ou 20% da intensidade incidente.
fotocélula, a fotocélula podia ser girada de modo
que apenas uma cor do espectro do Hg incidisse
sobre ela.
3. Análise da Dados
A fonte de tensão utilizada gerava tensões
Os dados computadorizados eram registrados em
positivas e negativas entre 0 e 5V, podendo ser
canais, e para a conversão das medidas em canais
ajustada manualmente ou no modo rampa, onde a
para medidas de voltagem e de corrente, foram
tensão varia automaticamente de 0 a 5V, esse
feitas retas de calibração, através da comparação
modo foi utilizado na obtenção de dados
de medidas diretas por leitura do voltímetro e do
computadorizada.
amperímetro com medidas de canais obtidas pelo
Foram utilizados também filtros atenuadores de CAD, as retas assim ajustadas se encontram
intensidade, assim como um filtro verde e um filtro abaixo:
amarelo, apresentados na figura2.

Figura 2. Filtros atenuadores à esquerda, e


amarelos à direita

Na Primeira parte do experimento as medidas Gráfico 1: Calibração das medidas de voltagem.


foram tomadas por observação direta do voltímetro
e do amperímetro, enquanto na segunda parte foi
utilizado um conversor analógico digital (CAD).
O CAD converte os valores de voltagem e corrente
medidos pelo voltímetro e amperímetro em sinais
binários, que eram registrados por um programa de
computador.
A fotocélula é feita de uma ampola de vidro em
vácuo contendo um cátodo de metal cuja função de
trabalho é baixa ("c), e um ânodo cuja função de
trabalho é alta ("a). Entre suas superfícies os
Gráfico 2: Calibração das medidas de corrente.
elétrons são desacelerados por uma tensão V′ = V
− "c − "a, onde V é a tensão medida no voltímetro.
Assim, variou-se V a fim de determinar a tensão
Todas as medidas subsequentes foram convertidas
mínima para a qual a corrente se anula (V0), que
de canal de voltagem e canal de corrente para
corresponde à energia cinética máxima com que os
voltagem e corrente seguindo as equações de reta,
elétrons são emitidos:
y = ax + b, os seguintes coeficientes foram obtidos:
h! - " = eV0′ = e(V0 - "c - "a) (5) para o canal da voltagem a = 0,01943 (6) e b = -
0,010 (9) e, para o canal da corrente a = 0,00723
o que implica em (23) e b = 0,003 (12).
V0 = (h/e) ! − "a (6) Foi medida também a corrente de fundo, ou seja,
Deste modo observamos que pode-se determinar a sem luz incidente, essa corrente é natural devido a
razão h/e a partir da voltagem de corte encontrada propria resistência interna do circuito, foi feito um
para cada frequência. ajuste de reta para essa corrente (gráfico 3), para
que pudessemos subtrai-la das correntes medidas
Para o método computadorizado foram tomadas com incidência de luz de modo a obter somente a
medidas no modo rampa utilizando-se somente corrente do cátodo e do ânodo.
voltagens negativas. Para cada faixa do espectro
construiu-se um gráfico de corrente (i) por voltagem
(V) que foram utilizados para determinar a
voltagem de corte (V0).

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Métodos 2.
Para os outros métodos, foi subtraida das curvas
obtidas a reta ajustada da corrente de fundo e um
valor constante correspondente a corrente do
ânodo, que foi obtido para cada curva a partir do
ajuste de uma constante aos pontos finais da
curva.
Uma vez a curva limpa temos a assintota do final
curva aproximadamente constante e nula. Apartir
dessas curvas foi determinado o valor da voltagem
de corte como sendo a intercecção da reta
tangente aos primeiros pontos da curva com o eixo
das voltagens (grafico6).

Gráfico 4. Corrente de fundo com reta ajustada.

Foram utilizados dois métodos para obtenção da


voltagem de corte a partir das curvas obtidas para
cada frequência e intensidade:
Método1.
O primeiro método consistia em utilizar a curva
bruta obtida, e ajustar duas retas assintóticas, uma
tangendo o final da curva e outra tangendo o ínicio,
o valor da abcissa do ponto de intersecção das
duas retas ajustadas corresponde a voltagem de Gráfico 6. Determinação de V0 para as curvas das
corte obtida através desse método. diversas frequências sem atenuador.
O método assim descrito é exemplificado no gráfico
abaixo, que corresponde a linha azul com
atenuador 60%. O mesmo procedimento apresentado no gráfico
acima foi feito para as frêquencias com os diversos
atenuadores.
Novamente foi feita uma estimativa da incerteza
correspondente a escolha da quantidade de pontos
para fazer o ajuste, conforme descrito no método
anterior, com incerteza estimada de 0,1V.
Os valores obtidos para a voltagem de corte se
encontram nas tabelas abaixo:

!"#$%$&'&
Gráfico5. Determinação de V0 para a curva bruta && ()& )*$+,#-& ./0+& ),1%,& .2-1,+$& ),12,+3$&
linha azul com 60%de atenuação, os gráficos das '445& '67& '68& '69& 46:& 46;& 46<&
outras frequência e intensidades são semelhantes :45& '67& '68& '6<& 467& 46;& 468&
em forma.
;45& '6;& '6<& '69& 46;& 46=& 468&
845& '6;& '68& '6'& 46;& 46=& 46<&
O procedimento descrito acima foi feito para cada 945& '67& '68& '6'& 467& 46=& 468&
curva de frêquencia com cada atenuador, levando 2"%*-& '6;;& '684& '6':& 46;:& 46==& 46<7&
em conta o fato de que a quantidade de pontos *>?,1#,/-& 46'9& 46'4& 46''& 46''& 46'4& 464@&
utilizado no ajuste de varia a reta e Tabela1: Valores da voltagem de corte obtidos pelo
consequentemente o valor de V0 obtido, foi feito método1.
uma estimativa da incerteza a partir dos dois
valores de coeficiente linear e angular possíveis
para as duas retas extremas capazes de
representar a assíntota. Esse procedimento foi feito
para duas curva, a de UV e a de amarelo, ambas
sem filtro. Essa incerteza, estimada em s=0,1V, foi
somada a incerteza estatística dos valores de V0.

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resultando em desvios relativas em relação ao
valor h=6,63E-34 de 7% e 11%.
!"#$%$&9&
&& ()& )*$+,#-& ./0+& ),1%,& .2-1,+$& ),12,+3$&
'445& '6=& '6<& '64& 46;& 46=& 46<& 4. Discussão
:45& '68& '6<& '6'& 46=& 468& 46<& Para a determinação da constante de Planck, foi
;45& '6=& '6<& '6'& 46;& 468& 46<& necessário levar em consideração as correntes
845& '6=& '69& '64& 46;& 46=& 469& características de efeito fotoelétrico para a faixa do
945& '6=& '69& '6'& 46=& 468& 469& espectro em questão e as correntes devido a
2"%*-& '6=9& '69;& '647& 46=;& 4688& 469;& radiação eletromagnética de fundo somadas
*>?,1#,/-& 464@& 464:& 46''& 464@& 46'4& 464@& àquelas intrínsecas ao circuito dos aparelhos de
Tabela2: Valores da voltagem de corte obtidos pelo medição, chamadas de corrente de fundo.
método2.
A existência de ambas as correntes não era
prevista no modelo teórico utilizado e, apesar da
contribuição da corrente de fundo ser passível de
Tanto no método 1 quanto no 2, a incerteza
ser retirada (vide métodos I e II), o mesmo não
estatística dos valores encontrados é desprezivel
pode ser feito para a corrente anódica.
em relação a incerteza estimada devida a escolha
da quantidade de pontos para o ajuste da assintota O carater assintótico constante das curvas de
do começo da curva, de modo que a incerteza dos corrente do anodo em função da tensão de
valores apresentados é 0,1V. freamento permitiu a aproximação por uma
corrente constante. Assim, foi possível somar esta
Devido a compatibilidade dos valores de V0 para
corrente constante às curvas, ficando apenas com
cada uma das frequências, foi utilizado a média
a contribuição do catodo.
ponderada dos valores obtidos para o ajuste de
reta, os valores de frequência utilizados para cada No segundo método, são considerados apenas os
raia do espectro do mercúrio se encontram na pontos do início da curva relativa à tensão de
tabela abaixo: freamento, que podem ser ajustados por uma reta,
cuja intersecção com o eixo das abscissas
determina a tensão de corte.
cor frequência(Hz) O primeiro leva em conta o comportamento inicial e
UV 8,21E+014 final da corrente na curva de tensão de freamento,
Viol 7,41E+014 através do ajuste de retas para os pontos finais e
Azul 6,88E+014 iniciais. A intersecção destas retas, projetada no
Verde 5,49E+014 eixo das abscissas fornece então a tensão de corte
Amar 5,18E+014 V0. Este terceiro método também visa minimizar o
Verm 4,88E+014 efeito de correntes indesejadas, neste caso através
Tabela 3:principais cores e frequências das raias do ajuste linear para os pontos do fim da curva.
do espectro do Hg. Entre os valores estimados para a constante de
Os ajustes de reta para o calculo da constante de Planck, ambos são compatível com valor tabelado
-34
planck segundo a equação 6 se encontram abaixo: de 6,63 x 10 Js dentro de 2 incertezas.
O primeiro método não é tão sensível às variações
devidas às correntes de ânodo por extrapolarem o
comportamento de queda da corrente de cátodo, a
qual apresenta valores com ordens de grandeza
superiores aos dos valores apresentados pela
corrente de ânodo.
5. Referência Bibliográficas
[1] Laboratório de Estrutura da Matéria - Efeito
Fotoelétrico - FNC-313
[2] Nussenzveig, H. Moysés, Curso de Física
Gráfico 7: Ajustes de reta para a determinação da Básica, Volume 4, 1998.
constante de Planck pelos dois métodos utilizados.
[3] Eisberg and Resnick; Física Quântica: Átomos,
Foram obtidos os seguintes coeficientes angulares, moléculas, sólidos, Núcleos e Partículas. Ed
A1=3,8(3)E-15Vs e A2=3,7(3)E-15Vs, Campos - Cap. 2.
correspondentes aos métodos 1 e 2
respectivamente. As constantes de planck para os [4] http://labdid.if.usp.br/%7Eestrutura/Fe/fe.htm
dois métodos foram calculadas multiplicando-se os [5] http://pt.wikipedia.org/wiki/Constante de Planck
coeficientes pela carga do elétron, e=1,6E-19C [6],
foram obtidas h1=6,1(5)E-34Js, h2=5,9(5)E-34Js [6] http://pt.wikipedia.org/wiki/carga do eletron

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