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Cristo dos Santos Rosário

História da democracia: percurso histórico de antiguidade a modernidade

ISCTAC

Beira , Junho de 2020


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Índice
Introdução.......................................................................................................................................4
Capítulo I: História da democracia..............................................................................................5
1.2 Pensadores clássicos sobre a democracia...............................................................................6
1.2.1 Platão (427-347 a. C.)......................................................................................................6
1.2.2 Aristóteles (384-322 a. C.)...................................................................................................7
1.2.2.1 Origem da Pólis.............................................................................................................8
1.2.2.2 A cidade e o cidadão.....................................................................................................8
1.2.2.3 As formas de governo...................................................................................................9
1.3. Isocrates.................................................................................................................................9
1.4 Xenofontes (428-355).............................................................................................................9
Capítulo II: democracia moderna...................................................................................................10
2.1 A Revolução Americana e a Revolução Francesa: dois grandes Marcos para à ascensão da
democracia moderna...................................................................................................................10
2.2 Democracia na America: Abraham Lincoln.........................................................................13
2.2.1 Efeitos de Lincoln na democracia dos Estados Unidos no século XXI.........................13
Capitulo III: Democracia Moçambicana........................................................................................15
3.1 Breve historial da Guerra pós independência.......................................................................15
3.2 Democracia moçambicana: eleições como expressão mais alta...........................................18
3.3 Pontos de aproximação da democracia no Mundo e a democracia de Moçambique...........20
Conclusao.......................................................................................................................................22
Bibliografia.....................................................................................................................................23
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Introdução

História da democracia vs Democracia em Moçambique, constitui o tema deste trabalho. A


Democracia, palavra com origem no grego demokratía, (palavra composta por ‘demos’, que
significa povo, e ‘kratos’, que significa poder) tem sido implementada à custa de lutas nem
sempre pacíficas acabando com ditaduras e regimes fascistas de que a história e a humanidade
não se podem orgulhar e jamais esquecer. É nesta senda de ideia que a democracia em
Moçambique nasce. Pois, nasceu de batalhas sangrentas e longas jornadas de uma paz negociada,
baseando-se na primazia pela negociação por via do dialogo, como forma de por fim ao colonialismo.
Contudo, o colonialismo não permitiu a construção de um Estado moçambicano por via do diálogo.
Em consequência disso, foram vividos dez anos de lutas, sangrentas e desgastantes, pela
independência. Mesmo assim, o diálogo nunca deixou de ser uma opção política que foi fruto da
assinatura dos acordos de Lusaka no dia 7 de Setembro de 1974.

Alcançada a independência em 1975, Moçambique viveu uma segunda guerra, que durou16 anos,
movida pela Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), que culmina com a reforma na
Constituição da Republica e eleições presidências e legislativa no ano de 1994.

O trabalho tem como objectivo geral: analisar a democracia sobretudo na antiguidade clássica,
modernidade e democracia moçambicana. Procurando desta forma, possíveis pontos convergentes e
divergentes. De forma específica o trabalho tem como objectivos de definir a democracia, sob ponto
de vista de vários pensadores, identificar os elementos fundamentais que ajudaram na edificação da
democracia moderna e caracterizar a democracia moçambicana.

O trabalho encontra-se dividido em três capítulos. O primeiro esboça a concepção clássica de


democracia, o segundo capítulo esboça a concepção moderna de democracia e terceiro relata a
democracia em Moçambique. Para a materialização do presente trabalho, recorremos ao método
hermenêutico e dedutivo, coadjuvado pela técnica de pesquisa bibliográfica.
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Capítulo I: História da democracia

1.1 Atenas o berço da democracia versus O Século de Péricles

A Democracia, palavra com origem no grego demokratía, (palavra composta por ‘demos’, que
significa povo, e ‘kratos’, que significa poder) tem sido implementada à custa de lutas nem
sempre pacíficas acabando com ditaduras e regimes fascistas de que a história e a humanidade

não se podem orgulhar e jamais esquecer.

O conceito de democracia ficou conhecido com a experiência de auto governo dos cidadãos
atenienses durante o período de Péricles, no século V a C, embora já fosse usado antes. A palavra
democracia é formada por dois vocábulos gregos que, juntos, implicam uma concepção singular
de relações entre governados e governantes: “demos” significa povo ou muitos, enquanto
“kracia” quer dizer governo ou autoridade; assim, em contraposição à prática política adoptada
até então, ou seja, o governo de um sobre todos (monarquia) ou de poucos sobre muitos
(oligarquia), o conceito de democracia passou a conotar, como tanto Aristóteles como Platão
observaram, a ideia de uma forma de governo exercido por muitos; mas é um equívoco
considerar isso uma democracia directa, pois mesmo sendo um governo para muitos e exercido
por muitos, não o era por todos, já que estavam excluídos da cidadania mulheres, escravos e
trabalhadores braçais.

Segundo Heródoto, foi Péricles quem usou pela primeira vez, em sua oração fúnebre em
homenagem aos heróis da guerra do Peloponeso, a ideia de que a democracia é o governo “do
povo, pelo povo e para o povo”, um enunciado tornado célebre após ser usado por Abraão
Lincoln no século XIX. Mas a contribuição de Péricles, fruto de sua reflexão como estadista, foi
muito além; no seu famoso discurso, ele sugeriu, como observaram alguns especialistas, que a
democracia inventada em Atenas dizia respeito a dois ideais complementares: a distribuição
equitativa do poder de tomar decisões colectivas e o julgamento dos cidadãos quanto ao processo
de tomada dessas decisões e os seus resultados. Esses ideais iriam converter-se, ao longo das
transformações históricas que deram origem à democracia moderna, nos principais pilares do
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conceito, distinguindo claramente esse regime de alternativas como o autoritarismo e o


totalitarismo

A época de Péricles, iniciada em 460 com a sua primeira eleição para estratego, distinguiu-se por
uma complexa e intensa relação entre aquele que representava uma espécie de chefe do Governo,
reeleito estratego pela assembleia umas trinta vezes, e a própria assembleia popular. As inovações
deste período são, com efeito, assaz reveladoras: de um lado, foi introduzida a acusação pública
de paranomia, usada contra o proponente de um decreto em contraste com as leis, com o fim
evidente de reduzir o perigo de constantes derrogações das leis por parte da assembleia; do outro,
concedeu-se uma indenização (mistoforia) a quem desempenhasse um cargo público, com o claro
objectivo de permitir até aos menos abastados, então admitidos à magistratura por sorteio, a
participação no Governo da Pólis. Durante o domínio de Péricles, iniciou-se também a guerra do
Peloponeso que opôs principalmente Atenas e Esparta, fazendo depois deflagrar a discórdia, de
forma violenta, entre os próprios democratas e oligarcas em cada uma das cidades. Houve então
em Atenas um temporário retorno à oligarquia: o episódio mais relevante neste sentido é o do
Governo dos Trinta (BOBBIO, 2004, PP.952-953).

No período de Péricles, a democracia atinge sua forma plena Isonomia, Igualdade de todos
perante a lei, isegoria, igual direito de todos ao acesso à palavra; isocracia, igual participação de
todos no poder, soberania da assembleia; o posto de estratego como a mais importante
magistratura. Aparentemente arrasa-se o poder aristocrático e o dêmos torna-se soberano.

1.2 Pensadores clássicos sobre a democracia


1.2.1 Platão (427-347 a. C.)

Republica, Livro VIII, Platão distingue, ao lado da forma de governo idealizada por ele, que e
uma aristocracia de filósofos, quatro formas que representam uma progressiva corrupção
daquela, e precisamente:
1. A timocracia = forma de governo fundada sobre a honra considerada como valor supremo (cf.
VIII, 545 d ss);
2. A oligarquia = forma de governo fundada sobre a riqueza (VIII, 550 c ss);
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3. A democracia = forma de governo fundada sobre a liberdade levada ao excesso (VIII, 555 b
ss);
4. A tirania = forma de governo fundada sobre a violência derivada da licenciosidade na qual se
dissolveu a liberdade (VIII, 562 a-564 a).
Há uma novidade aqui: as formas de governo correspondem exactamente ao nível moral das
consciências dos cidadãos1.

Tipos de governos Se respeita as leis Se não respeita as leis


Governo de uma Monarquia Tirania
só (1)
Governo de poucos Aristocracia Oligarquia
(2)
Governo de muitos Democracia Democracia corrompida

1.2.2 Aristóteles (384-322 a. C.)

A expressão “política” em Aristóteles designa a comunidade superior que perfaz o ordenamento


hierarquizado das comunidades naturais e engloba aquelas que a precedem: comunidade do
homem e da mulher (a família), do mestre e do escravo. Sua superioridade esta ligada ao fim por
ela visado, que não e o simples viver, já assegurado no quadro da esfera domestica, mas o“bem-
viver”.

“A política é manifestamente a ciência arquitectónica por excelência. É ela quem


decide, com efeito, quais as ciências indispensáveis à cidade, e quais as ciências
que cada classe de cidadãos deve aprender. (...) Dado que ela se serve de todas as
restantes ciências práticas, e dado que prescreve, pelas suas leis, aquilo que cada
um deve fazer e do que se deve abster, o seu fim deve abarcar os das outras
ciências: esse fim é o bem especificamente humano” (ARISTÓTELES, Ética
Nicomaqueia I, 2, 1094 b 5-7).

1
Cf. G. REALE, Historia da Filosofia Antiga: Léxico, índices, bibliografia. Vol. 5. São Paulo:
Loyola, 1995, passim.
9

1.2.2.1 Origem da Pólis

Para Aristóteles, o Estado, a polis, e a forma suprema de organização social e tem sua origem na
natureza. A capacidade de falar (logos) permite aos homens dizer o que e bom e mal, justo e
injusto e, portanto, relacionar-se entre si. As comunidades humanas surgem justamente dessa
capacidade de relação, desse carácter social. Mas dentre elas e preciso saber qual e a melhor e a
mais perfeita, aquela para a qual todas as demais tendem e se subordinam. Os instintos guiam os
homens a associar-se entre si. Assim, surge a família, que e a associação mínima estabelecida
pela natureza para satisfazer as necessidades mais elementares.

“A natureza, conforme dizemos, não faz nada ao desbarato: só o homem,


de entre todos os animais, possui a palavra (logos). Assim, enquanto a voz
indica prazer ou sofrimento, sendo também, nesse sentido, atributo dos
outros animais (cuja natureza também atinge sensações de dor e de prazer
e é capaz de as indicar), o discurso, por outro lado, serve para tornar claro
o útil e o prejudicial e, por conseguinte, o justo e o injusto. É que, perante
os outros animais, o homem tem as suas peculiaridades: só ele sente o bem
e o mal, o justo e o injusto, e é a comunidade destes sentimentos que
produz a família e a cidade” (ARISTÓTELES, Politica, I, 2, 1253 a 9-18).

1.2.2.2 A cidade e o cidadão

O cartão de identidade de cada polis e representada por sua constituição (politeia) que, em uma
primeira aproximação, e “uma certa maneira de organizar aqueles que habitam na cidade” e, mais
precisamente, a forma de “participação dos cidadãos em um governo” ou “uma organização das
magistraturas nas sociedades, como estão distribuídas, qual e o factor soberano no regime e qual
e o fim de cada comunidade”..

“Em conexão com que foi discutido, uma questão é a de saber se a


excelência de um bom homem e a de um bom cidadão são idênticas ou
diferentes. (...) A conclusão a que somos levados a tirar é: a excelência de
cada cidadão deve ser uma excelência relativa à constituição. Daqui se
segue que, se há diferentes modalidades de constituição, não pode existir
uma única excelência absoluta no bom cidadão, embora o homem bom é
chamado bom em virtude de uma única excelência absoluta. Torna-se
assim claro que é possível ser um bom cidadão sem sequer possuir a
excelência que é a qualidade do homem bom” (ARISTÓTELES, Politica,
III, 1276 b ss).
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1.2.2.3 As formas de governo

A tipologia apresentada por Aristóteles fundamenta-se de dois critérios: o primeiro e quantitativo


e se refere aqueles que governam, se um só, alguns ou muitos; o segundo, qualitativo, diz
respeito ao como o fazem, se em função do interesse próprio ou do bem comum. A classificação
de Aristóteles e quase a mesma daquela apresentada por Platão em seu diálogo intitulado
Politico, mas com uma pequena variação: em Platão, as formas puras eram submetidas ao
império da lei; para Aristóteles, porem, são as que promovem o bem-estar geral dos cidadãos.
Surgem assim três formas correctas: monarquia, aristocracia e politeia (república); e três
desviadas: tirania, oligarquia e democracia.

Tipos de governos Se governa com vistas ao bem Se governa com vistas ao próprio
público interesse
Governo de uma Monarquia Tirania
só (1)
Governo de poucos Aristocracia Oligarquia
(2)
Governo de muitos República Democracia

1.3. Isocrátes

Partindo da análise da política ateniense e das dificuldades do funcionamento da democracia


ateniense, Isócrates aponta uma forma moral de cidade e do cidadão com base em quatro virtudes
cordiais: Prudência, força e temperança e acima de todos a justiça que se alcança mais facilmente
pela educação e pelo exercício dos costumes. Uma educação de homem pela linguagem, com
palavras repleta de sentidos referidos aos assuntos que são fundamental para a vida e a
comunidade humana e que os gregos chamam de assuntos da polis.

1.4 Xenofontes (428-355)

Historiador, soldado e escritor grego, exaltava a Esparta, em sua opinião, Esparta apesar de ter
Estados menos populosos é o mais poderoso e mais ilustre da Grécia, isso deveu-se as
instituições criadas por Licurgo, o modelo corresponde a um regime totalitário
Capítulo II: democracia moderna
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2.1 A Revolução Americana e a Revolução Francesa: dois grandes Marcos para à ascensão
da democracia moderna

Doutrinariamente, são três os marcos históricos da ascensão da democracia moderna: a


Revolução Inglesa em 1688, a Revolução Americana em 1776 e a Revolução Francesa em 1789.
Quanto ao primeiro movimento, por mais que alguns doutrinadores o tragam como referência
para este tema, o mesmo não possuiu um impacto relativamente forte na sociedade quanto às
duas últimas.

Procurando caracterizar uma democracia, escreve Locke: “Tendo a


maioria, quando de inicio os homens se reúnem em sociedade, todo o
poder da comunidade naturalmente em si, pode empregá-lo para fazer leis
destinadas à comunidade de tempos em tempos, as quais se executam por
meio de funcionários que ela própria nomeia; neste caso, a forma de
governo é uma perfeita democracia.” Em sua opinião, entretanto, quando
os poder executivo e legislativo estiverem em mãos diversas, como
entendia devesse ocorrer nas monarquias moderadas, o bem da sociedade
exige que várias questões fiquem entregues à discrição de quem dispõe o
poder executivo. Resta assim, uma esfera de poder discricionário, que ele
chama de prerrogativa, conceituando-a como o poder de fazer o bem
público sem se subordinar a regras. Essas ideias, expostas no final do
século XVII, iriam ganhar uma amplitude maior nas colónias da América
durante o século (DALLARI, 2013,p. 148).

O pensamento de Locke acerca da democracia e como esta deveria ser exercida foi um factor que
influenciou um dos grandes movimentos históricos, no caso a Revolução Americana, para à
ascensão da democracia moderna. Locke relata que as leis não devem ser objectos de surpresa ao
povo, mas este deve ter conhecimento e participar activamente da vida política de seu Estado.
Tanto a Revolução Americana advinda da independência das treze colónias da América do Norte,
como, a Revolução Francesa, foram divisores de águas para uma nova perspectiva política, a qual
acentuaria uma maior valorização aos direitos humanos.

A limitação do poder político surgiu da aliança entre a ideia de direito


natural e a ideia de sociedade civil, concebida, de início, como a sociedade
económica, através da qual os atores reivindicavam a liberdade de
empreender, permutar e exprimir suas ideias. Sem essa “liberdade
burguesa”, a ideia dos direitos fundamentais teria permanecido puramente
crítica, confundindo-se com a resistência à opressão defendida pela maior
12

parte dos filósofos políticos, de Hobbes e Rousseau (TOURAINE, 1996,


p.58).

Logo, nota-se que, as ideias de cunho liberais estariam, de certo modo, ganhando e adquirindo
maior espaço e reconhecimento a partir do século XVIII, os movimentos que marcaram a
transição para uma nova visão política e, principalmente, quem iria fazer parte desse cenário,
foram os divisores de água na luta para a valorização humanista.

A Revolução Americana ou também conhecida como a Independência das Treze Colónias


Americanas teve seu desenrolar no século XVIII, a qual traria uma nova perspectiva para a
civilização ocidental. Significava a passagem para a liberdade após longos tempos ligados à Grã-
Bretanha. Logo, as colónias constituíram uma república, possuindo pilares democráticos, que, de
modo primordial, adquiriu carácter estatal.

É possível notar que na Declaração de Independência dos Estados Unidos dois princípios de base
democráticos foram previstos e pregados: o princípio da liberdade e o princípio da igualdade. Em
relação ao terceiro princípio basilar do governo democrático, qual seja, o da fraternidade, não foi
alegado pelos americanos, aliás, houve uma resistência muito grande frente à dureza do
individualismo. A bandeira do princípio da fraternidade foi erguida mesmo em 1789 com a
Revolução Francesa.
A Confederação dos Estados Unidos da América do Norte nasceu sob a
invocação da liberdade, sobretudo da liberdade de opinião e religião, e da
igualdade de todos perante à lei. No tocante, porém, ao terceiro elemento
da tríade democrática da Revolução Francesa – a fraternidade ou
solidariedade – os norte-americanos não chegaram a admiti-lo nem mesmo
retoricamente. A isso se opôs, desde as origens, o profundo
individualismo, vigorante em todas as camadas sociais, um individualismo
que não constituiu obstáculo ao desenvolvimento da prática associativa na
vida privada2.

Já, a Revolução Francesa foi, dentre os marcos históricos, doutrinariamente, citados, a que,
trouxe um impacto maior não somente para a sociedade, mas também para a política da França;
afirmando, então, a democracia moderna. Tal período na história mundial é conhecido,
justamente, pelos três elementos bases da revolução, ou, como também é chamado, os três ideais
franceses, quais sejam: liberdade, igualdade e fraternidade. A luta popular se deu entorno disso!
2
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo, SP: Saraiva,
2007,p.108.
13

O terceiro movimento consagrador das aspirações democráticas do século XVIII foi a Revolução
Francesa. As condições políticas da França eram diferentes das que existiam na América,
resultando disso algumas dissemelhanças entre uma e outra orientação. Além de se oporem aos
governos absolutos, os líderes franceses enfrentavam o problema de uma grande instabilidade
interna, devendo pensar na unidade dos franceses. Foi isso que favoreceu o aparecimento da ideia
de nação como centro unificador de vontades e de interesses (DALLARI, 2013,p. 150)..

Como já referido, a Revolução Francesa de 1789 também foi considerada um grande marco
histórico-político para a humanidade no século XVIII. Pode-se dizer que esse movimento foi o
que, além de ascender à democracia moderna no que se refere à participação popular no governo,
também afirmou uma relevante concretização dos direitos inerentes ao homem.

O Estado Democrático moderno nasceu das lutas contra o absolutismo,


sobretudo das afirmações dos direitos naturais da pessoa humana (...). É
através de três grandes movimentos político-sociais que se transpõe do
plano teórico para o prático os princípios que iriam conduzir ao Estado
Democrático (...), a Revolução Francesa que teve sobre os demais a virtude
de dar universalidade aos seus princípios, os quais foram expressos na
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789 (DALLARI,
2013, p.147).

Nesse sentido, a Revolução Francesa foi um grande marco para a ascensão da democracia
moderna (COMPARATO, 2007,144).

Declara-se, então, que os homens nascem e permanecem livres e iguais


em direitos. Como fim da sociedade política aponta-se a conservação dos
direitos naturais e imprescritíveis do homem, que são: a liberdade, a
propriedade, a segurança e a resistência à opressão. Nenhuma limitação
pode ser imposta ao indivíduo, a não ser por meio da lei, que é a expressão
da vontade geral. E todos os cidadãos têm direito de concorrer,
pessoalmente ou por seus representantes, para a formação dessa vontade
geral. Assim, pois, a base da organização do Estado deve ser a preservação
dessa possibilidade de participação popular no governo, a fim de que sejam
garantidos os direitos naturais (DALLARI, 2013, p. 150)
14

2.2 Democracia na America: Abraham Lincoln

“government of the people, by the people, for the people” (governo do


povo, pelo povo, para o povo - Abraham Lincoln).Traduzido de maneira
simplicista é possível dizer: O poder surge do povo, está a ser exercido
pelo povo e no seu próprio interesse (BECKER, 2011, p.5).

Lincoln ocupou o cargo de Presidente dos Estados Unidos da América no dia 04 de Marco de
1861 ate seu assassinato em 15 de Abril de 1865. Lincoln liderou o país de forma bem sucedida
durante a sua maior crise interna Guerra civil americana preservando união abolindo escravidão
fortalecendo o governo nacional

As consequências da emancipação dos escravos foram diversas. De imediato, em 1867 foi criada
a KuKluxKlan em Nashville (capital do Tennessee), um grupo que defendia o extermínio da
população negra. Segundo Luiz Estevam Fernandes e Marcus Vinícius de Morais, “ancorada
numa antiga tradição de linchamento de negros, a KKK combatia, além dos negros, os brancos
liberais que apoiavam o fim da segregação, também chamados de negro lovers (amantes de
negros, com duplo sentido) ”. Com milhares de negros livres pelo país, os linchamentos eram
justificados por acusações aos afros descendentes por estupros às mulheres brancas. Para estes
dois autores, isto representava uma “clara hierarquização da sociedade: a mulher, indefesa e
inocente, estaria sendo vitimizada pelo negro, ser inferior e bestial, que precisava ser combatido
pelos protectores dos bons costumes, os cavaleiros da Klan” (FERNANDES, L.E.O; MORAIS,
M.V., 2007, p. 136).

2.2.1 Efeitos de Lincoln na democracia dos Estados Unidos no século XXI

A narrativa construída por Steven Spielberg no filme Lincoln (2012) ilustra de forma sistemática
os objectivos das invocações a Lincoln: mostrar que só seria possível Obama se tornar presidente
graças ao acto “heróico” de emancipação de escravos. Nas primeiras cenas do filme, há uma
conversa de Lincoln com dois soldados negros em 1865, na qual um deles dizia que o facto de
negros e brancos estarem lutando lado a lado, isso abriria grandes oportunidades para os negros
futuramente: “Daqui a alguns anos teremos, talvez, capitães e tenentes negros; daqui a 50 anos,
um coronel negro, daqui a 100 anos, o direito a voto”. Nestas perspectivas, a construção do
15

Lincoln herói tendo como eixo a emancipação dos escravos como acto fundamental para igualar
os negros aos brancos atende a uma necessidade do tempo presente e serviu para legitimar e
justificar a ascensão de um negro ao cargo de Presidente dos Estados Unidos da América. Entre a
posse de Abraham Lincoln e de Barack Obama há uma diferença de quase cento e cinquenta
anos. Mesmo havendo uma considerável distância temporal.
16

Capitulo III: Democracia Moçambicana

3.1 Breve historial da Guerra pós independência

Segundo Abrahamsson e Nilsson (1994), a génese da guerra pós independência reside no período da
guerra de libertação da FRELIMO contra a dominação colonial. Nessa altura, surgiram contradições
entre o governo central de Lisboa e os portugueses que se encontravam em Moçambique. As
contradições tinham a ver com a disputa de poder sobre o controle do território e das riquezas de
Moçambique.

Os portugueses residentes em Moçambique já não queriam mais depender do governo de Lisboa.


Estes ambicionavam obter uma independência unilateral, à semelhança do que aconteceu, em 1965,
na Rodésia, sob liderança de Ian Smith. Isto significa que em ambos os países havia um grupo
relativamente grande de europeus, que anseavam cada vez mais por uma independência “própria”,
isto é uma libertação do poder colonial sem que fosse introduzido um regime de maioria negra.
Assim, Abrahamsson e Nilsson (1994) apresentam os primeiros passos dos acontecimentos que
deram origem a guerra de desestabilização em Moçambique cuja génese está no ano de 1974.

Neste contexto, em 1974 a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e o Governo de Lisboa,


assinaram os Acordos de Lusaka, que pôs término os 10 anos da guerra, conferindo assim o poder a
FRELIMO, o que não agradou os portugueses residentes em Moçambique, que ambicionavam uma
independência unilateral tal como Smith na Rodésia. Este grupo, apanhado de surpresa pelo acordo,
criaram, no mesmo dia 7 de Setembro de 1974 em que se assinara os Acordos de Lusaka o
movimento de Moçambique livre com o objectivo de contestar e impedir que a FRELIMO assumisse
o poder (Oliveira, 2006).

Este grupo era constituído por uma elite económica, veteranos da luta armada, do governo colonial, e
alguns Moçambicanos que não estavam a favor da independência sob liderança da FRELIMO, pois
em caso de independência temiam que a FRELIMO pusesse em causa, todos os seus ganhos
económicos (Ibid).

Através do Movimento Moçambique Livre, os opositores da liderança da FRELIMO no estado


independente desencadearam uma onda de violência contra todos os que apoiavam a assinatura dos
Acordos de Lusaka, inclusive os que eram do governo colonial. A violência foi mais forte na cidade
da Beira e em Lourenço Marques (actual Maputo).
17

(Abrahamsson e Nilsson, 1994) diz que a violência na cidade da Beira explica-se porque a partir do
fracasso da “Operação Nó Górdio” (1971), os milionários portugueses começaram a criar os seus
exércitos especiais sem o consentimento do governo central de Lisboa. Mesmo a contra-gosto, o
governo central em Lisboa aceitou os exércitos privados como forma de proteger os seus negócios e
defender-se da ameaça representada pela FRELIMO, que estava a ganhar muito espaço no campo
político e na batalha (Ibid).

Por seu turno, a violência foi desencadeada em Lourenço Marques porque o grande Guerreiro,
diplomata, político e empresário por vontade própria , que era o mais notório político dos colonos de
Moçambique, Jorge Jardim, fundou o movimento Moçambique Livre. Deste modo, este movimento
reivindicava o direito de independência unilateral e acreditava que tinha capacidade de derrotar a
FRELIMO e proclamar a sua própria independência.

Segundo Oliveira (2006: 22), o movimento protagonizou dias terríveis e de ódio que abalaram a então
bucólica Lourenço Marques, que ficou agitada por este punhado de gente, pondo a urbe a ferro e
fogo, trazendo a reacção da população negra, culminando tal façanha com centenas de mortes,
moradias e carros calcinados. Esta situação criou uma sensação de pânico e de desconfiança que foi
factor determinante para a partida de muitos portugueses para Lisboa e, principalmente para a
Rodésia e África do Sul.

Com efeito, foi assim que teve origem o movimento que desestabilizou Moçambique denominado na
altura Movimento de Moçambique Livre e posteriormente tornou-se conhecido com a sigla da NMR,
que significa National Movement Resistance, depois transformou-se em MNR, Mozambique National
Resistance e, finalmente, RENAMO já na República da África do Sul. O MNR é uma criação da
polícia secreta da Rodésia, a Central Intelligence Organization (CIO) na base da experiência de
combate que o exercito Britânico tinha do contra guerrilha (Mau Mau), no Quénia e também da
Malásia e de Chipre2 (Pavia 2000).

De acordo com Pavia (2000:22), em Setembro de 1976, os serviços secretos rodesianos, sob a
liderança de Ken Flower, organizaram o primeiro campo de treino militar para o MNR na cidade
fronteiriça de Umtal3. Os primeiros recrutas do MNR eram, na verdade, uma mistura de portugueses
moçambicanos, negros dissidentes da FRELIMO, veteranos do exército colonial que fugiram para a
Rodésia depois da independência, homens de negócio da classe média e régulos (chefes tradicionais)
(Ibid, p.22).
18

Isto quer dizer que, a génese da guerra esta ligada a grupos treinados e equipados com objectivo de
defender os interesses de portugueses descontentes com o rumo assumido para a independência de
Moçambique e Rodésia, que queriam garantir a sua permanência no poder perante a ameaça do
avanço dos nacionalistas que contestavam a declaração unilateral da independência. O movimento
que assumiu diferentes designações servia de pára-choques para o avanço das forças do Zimbabwe
African National Union (ZANU) que lutavam pela conquista da sua independência contra a
dominação colonial Rodesiana4. Após a independência de Moçambique, em 1975, a ZANU tinha
autorização total para entrar no território Moçambicano e organizar a sua guerrilha contra a Rodésia
de Ian Smith. Uma das principais contra-medidas dos serviços secretos rodesianos foi desenvolver e
coordenar as suas pseudo-unidades e transformá-las numa unidade maior. Neste trabalho os
Rodesianos foram ajudados por Portugueses e antigos comandos do exército Português e da polícia
secreta e muitos deles haviam fugido de Moçambique para a Rodésia quando a FRELIMO assumiu o
poder (Abrahamson e Nilsson, 1994).

Pavia (2000:21) afirma que “a FRELIMO com base nos seus ideais internacionalistas iniciou uma
rota de colisão, quando no dia 3 de Março de 1976 decidiu fechar as fronteiras com a Rodésia com
objectivo de aplicar as sanções internacionais que estavam em vigor contra o regime rodesiano. Em
Junho do mesmo ano um novo grupo militar identificado pela sigla MNR começa difundir
propaganda anti-comunista, pró-Rodésia através de uma estação de rádio baseada na Rodésia,
conhecida pela voz de África livre”.

Segundo Pavia (2000), a FRELIMO acreditava que a libertação total e o desenvolvimento real só
seriam possíveis se o país se libertasse da influência ocidental. Em segundo lugar o empenho da
FRELIMO em solidarizar-se com os movimentos da África Austral, nomeadamente o African
National Congress (ANC) na África do Sul e a ZANU) e o facto da mesma ter adoptado o sistema
socialista constituíam uma ameaça ao sistema Capitalista e ao regime do Apartheid.

Portanto, a guerra começou muito antes de Moçambique alcançar a sua independência. Para além
disso o movimento dos militares e serviços secretos que invadiam Moçambique no então tempo
colonial, a procura dos guerrilheiros da FRELIMO e da ZANU, de forma autónoma, eram mais uma
prova de que o movimento que liderou a guerra em Moçambique foi criado apenas para desestabilizar
o Moçambique após a independência devido o apoio prestado a ZANU.
19

3.2 Democracia moçambicana: eleições como expressão mais alta

Artigo 1 da Constituição da República de Moçambique (2004) diz ̋ A Republica de Moçambique


é um Estado Independente, Soberano, Democrático e de Justiça Social

Em 1990, Moçambique aprovou uma nova Constituição da Republica, onde a Frelimo deixou de
ser o único partido político. Assim, a Constituição de 1990 introduziu Estado de Direito
democrático alicerçado na separação e na independência dos poderes e no pluralismo lançando
parâmetros estruturais da modernização, contribuindo de forma assinalável para instauração de
um clima democrático que levou o país a realizar as primeiras eleições multipartidárias.

O momento de eleições representa o ex libris da democracia. O processo eleitoral dá voz aos


cidadãos, permite escolher a liderança política e espelha o nível da democracia do país em
questão. Moçambique, após dezasseis anos de guerra civil entre a Frente de Libertação de
Moçambique (Frelimo) e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), é desde 1992 uma
república democrática. O Acordo Geral de Paz de 1992, assinado entre a Frelimo e a Renamo,
trouxe paz e democracia. O país devastado pela guerra torna-se uma democracia presidencial
detentora de sufrágio universal directo e secreto. As eleições presidenciais, por sistema
maioritário, e as eleições parlamentares, por sistema proporcional, decorrem simultaneamente,
com um intervalo de cinco anos. Todos os actos eleitorais são organizados pela Comissão
Nacional de Eleições (CNE) e pelo Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE). A
cena política moçambicana compreende cerca de cinquenta partidos, sendo que apenas a Frelimo
e a Renamo, e menos proeminentemente o Movimento Democrático de Moçambique (MDM),
estão representados na Assembleia. Desde 1994, foram organizadas cinco eleições gerais e quatro
parlamentares, todas elas reconhecidas pela comunidade internacional como pacíficas e legítimas.

Os anos 1990 são marcados por uma democracia em forte progresso. O primeiro indicador
eleitoral de sucesso democrático é a elevada taxa de participação: nas eleições gerais de 1994 e
1999, 88% e 74%2. O segundo indicador é a afluência de candidatos e de partidos políticos: em
1994, doze candidatos a presidente e 14 partidos para a Assembleia3. A Frelimo e a Renamo
democratizaram-se se, sendo que a primeira abandonou as suas estruturas autoritárias e a segunda
20

passou de grupo armado a partido político activo. As próprias eleições e campanhas eleitorais
também deram provas de sucesso democrático, tenho sido “conduzidas profissionalmente num
ambiente pacífico”, apesar de alguns aptos fraudulentos menores. Como ilustra as seguintes
tabelas

Eleições presidências

Candidato Partido Votos %


Joaquim A. Chissano FRELIMO 2.633.740 53,30
Afonso Dhlakama RENAMO 1.666.965 33,73
Wehia Ripua PADEMO 141,905 2.87
Carlos Reis UNAMO 120.708 2.44
Máximo Dias MONAMO-PMSD 115,442 2,34
Campira Momboya PACODE 58.848 1,9
Yaqub Sibindy PIMO 51.070 1,03
Domingos Arouca FUMO-PCD 37.767 0.76
Carlos Jeque Independente 34.588 0,70
Casimiro Nhamitambo SOL 32.036 0.65
Mário Machel Independente 24.238 0.49
Padimbe Kamati PPPM 24.208 0.49
Votos nulos/ Brancos - 461.425 -
Total 5.402.940 100

Eleições legislativas
Partido Votos % Lugares
FRELIMO 2.115.793 44,33 129
RENAMO 1.803.506 37,78 112
União Democrática 245.793 5,15 9
Aliança Patriótica 93.031 1,95
Partido Social Liberal e Democrático SOL 79.622 1,67
Frente Unida de Moçambique -Partido de Convergência 66.527 1,39
Democrática FUMO-PCD
Partido da Convenção Nacional PCN 60.635 1.27
Partido Independente de Moçambique 58.590 1,23
Partido do Congresso Democrático 52.446 1,10
Partido para o Progresso do Povo de Moçambique 50.793 1.06
Partido Renovador Democrático de Moçambique 48.030 1.012
Partido Democrático de Moçambique 36.689 O,77
União Nacional Moçambicana 34.809 0,73
21

Partido Trabalhista 26.961 0,56


Votos nulos/brancos 630.974 0,56
Total 5.404.199 100 250

3.3 Pontos de aproximação da democracia no Mundo e a democracia de Moçambique

Artigo3 A república de Moçambique é um Estado de direito, baseado no pluralismo de expressão,


na organização política democrática, no respeito e garantias dos direitos fundamentais do homem.

Artigo 2 a soberania reside no povo. A Constituição de 1990 introduziu Estado de Direito


democrático alicerçado na separação e na independência dos poderes e no pluralismo lançando
parâmetros estruturais da modernização, contribuindo de forma assinalável para instauração de
um clima democrático que levou o país a realizar as primeiras eleições multipartidárias O povo
moçambicano exerce a soberania segundo as formas fixadas na Constituição. O Estado
subordina-se a Constituição e funda-se na legalidade. Bem esses artigos de certa forma colocam a
democracia Moçambicana a par das democracias no mundo, alinhada também em alguns
pensadores acreditado ao longo da história no âmbito de teorização da democracia. As ideias de
Montesquieu: a separação dos poderes está patente na Constituição da Republica de
Moçambique. Segundo (BONAVIDES, 1997, p. 137). Montesquieu foi um dos criadores da teoria da
separação dos três poderes para controlar os poderes absolutos do rei. Desse modo, o poder seria limitado
pelo próprio poder. Montesquieu era nobre, mas de certa forma contrariou os interesses da nobreza. O que
mostra que nem sempre uma pessoa raciocina de acordo com os interesses da classe social a que pertence.

Sabe-se quea expressão maior da vontade popular é, justamente, o fato de o povo poder escolher
os seus representantes, isto é, aqueles que, de acordo com a lei, buscarão e reivindicarão seus
direitos e garantias. Essa atitude deescolha” configura-se na questão do sufrágio (votar e ser
votado, no sentido literal). Hoje, em Mocambique, as eleições são feitas de forma direta e secreta.
A história do voto em Mocambique começou 26 anos após Guerra civil . Foi em outubro de
1994 que os os Mocambicanos foram votar, gozando da soberania que outros povos como
Gregos, Brasileiros entre outros gozao. Mocambique quanto a democracia no mundo situa-se
num estagio encorajador e desafiante tendo em conta as abstencoes registadas nos ultimos pleitos
eleitorais quer autarquicas quer gerais.
22

Conclusao

Relativamente a historia da democracia, foi possivel perceber durante a pesquisa que conceito de
democracia ficou conhecido com a experiência de autogoverno dos cidadãos atenienses durante o
período de Péricles, no século V a C, embora já fosse usado antes. A palavra democracia é
formada por dois vocábulos gregos que, juntos, implicam uma concepção singular de relações
entre governados e governantes: “demos” significa povo ou muitos, enquanto “kracia” quer dizer
governo ou autoridade; assim, em contraposição à prática política adotada até então, ou seja, o
governo de um sobre todos (monarquia) ou de poucos sobre muitos (oligarquia), o conceito de
democracia passou a conotar, como tanto Aristóteles como Platão observaram, a idéia de uma
forma de governo exercido por muitos; mas é um equívoco considerar isso uma democracia
23

direta, pois mesmo sendo um governo para muitos e exercido por muitos, não o era por todos, já
que estavam excluídos da cidadania mulheres, escravos e trabalhadores braçais.

Como foi possível perceber tambem, a Revolução Americana e a Revolução Francesa foram os
divisores de águas para uma nova perspectiva política, que no caso, foi à ascensão da democracia
moderna. A principal característica esses marcos político-sociais foi, justamente, a valorização
que os mesmos trouxeram aos direitos inerentes ao homem e a posição deste na sociedade, em
lugar de destaque. A visão centralizada e egocentrica de alguns regimes de governo perdeu lugar,
e agora, uma grande massa faz parte dele. A Constituição da Republica de 1990 traz em seu art. 1
a 5º, os direitos fundamentais e tem como principios basilares o respeito aos individuos, atrelados
a cada direito inerente a si. Logo, percebe-se, que houve uma grande contribuição para a
legislação suprema de Mocambique.

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24

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