Você está na página 1de 9

Universidade de Évora

Cet Manutenção Industrial

Técnicas de Diagnóstico

Análise de Lubrificantes

João Vieira
1. Introdução a Lubrificantes
A lubrificação é uma operação que consiste em introduzir uma substância
apropriada entre superfícies sólidas que estejam em contacto entre si e que executam
movimentos relativos. Essa substância apropriada normalmente é um óleo ou uma
graxa que impede o contacto directo entre as superfícies sólidas.
Quando recobertos por um lubrificante, os pontos de atrito das superfícies sólidas
fazem com que o atrito sólido seja substituído pelo atrito fluido, ou seja, em atrito entre
uma superfície sólida e um fluido. Nessas condições, o desgaste entre as superfícies
será bastante reduzido.

Além dessa redução do atrito, outros objectivos são alcançados com a lubrificação, se
a substância lubrificante for seleccionada correctamente:

· Menor dissipação de energia na forma de calor;


· Redução da temperatura, pois o lubrificante também refrigera;
· Redução da corrosão;
· Redução de vibrações e ruídos;
· Redução do desgaste.

1.1 Classificação dos óleos quanto à origem

Quanto à origem, os óleos podem ser classificados em quatro categorias: óleos


minerais, óleos vegetais, óleos animais e óleos sintéticos.

· Óleos minerais - São substâncias obtidas a partir do petróleo e, de acordo com


sua estrutura molecular.
· Óleos vegetais - São extraídos de sementes: soja, girassol, milho, algodão,
arroz, etc.
· Óleos animais - São extraídos de animais como a baleia, o cachalote, o
bacalhau etc.
· Óleos sintéticos - São produzidos em indústrias químicas que utilizam
substâncias orgânicas e inorgânicas para fabricá-los. Estas substâncias podem
ser silicones, resinas etc.
2. O que é a analise de lubrificantes?

A análise de óleos é uma das mais eficientes ferramentas de manutenção


preditiva que existe, tendo como principais objectivos evitar avarias e reduzir custos de
manutenção. As técnicas de análise de óleos são utilizadas para monitorizar a
condição da máquina e a condição do óleo, a partir das propriedades físicas e
químicas do lubrificante, da presença de contaminantes e de metais de desgaste. Com
este controlo, aumenta-se a fiabilidade do equipamento e minimiza-se tanto as falhas
inesperadas como os tempos de paragem, reduzem-se os "stocks" de óleo e optimiza-
se o intervalo de mudança de óleo. Para além disto, um programa de análise de óleos
permite estudar, ao longo do tempo, tendências que proporcionam indicações de
práticas operacionais e de manutenção incorrectas. A monitorização condicionada por
análise de lubrificantes é, assim, um
elemento crucial na manutenção e na
manutenção centrada na fiabilidade
(RCM), que muitas indústrias de hoje
se vêem obrigadas a implementar,
devido a custos crescentes de
manutenção.

A análise de lubrificantes consiste na análise dos seguintes factores:

1. Estado do óleo
2. Contaminação
3. Partículas de desgaste

A monitorização destes sintomas é do domínio da manutenção preditiva, tendo


como principal objectivo tomar medidas correctivas para evitar grandes falhas. A
monitorização e controlo das causas raiz da falha pertence à manutenção proactiva, e
passa nomeadamente por, descobrir a eliminar a origem da contaminação, usar
melhor filtração, procedimentos de amostragem correctos,
frascos de amostra limpos, estabelecimento de valores limites
alvo de contaminação e garantia que estes não são atingidos,
e tem como objectivos reduzir custos em diferentes áreas de
manutenção, no trabalho, na disponibilidade e fiabilidade dos
equipamentos, no consumo, e nos tempos de paragem de
produção.
3 Amostragem do Lubrificante
A análise de lubrificantes é realizada em alguns ramos da indústria de um
modo regular e continuado. Qualquer análise de um lubrificante em serviço envolve
quatro operações básicas.

(1) Obtenção de uma amostra,


(2) Realização de análises físico-químicas,
(3) Interpretação dos resultados - Diagnóstico,
(4) Validação do diagnóstico.

Todos os procedimentos envolvidos numa determinada análise devem estar correcta e


completamente documentados, de modo a evitar qualquer tipo de ambiguidade ou
confusão. A responsabilidade por cada uma das operações deve ser claramente
delegada a um determinado agente.

3.1 Frequência da Amostragem

A frequência com que determinado lubrificante deve ser examinado depende de vários
factores operacionais, tais como:

(1) Importância do equipamento,


(2) Tempo total de serviço,
(3) Escala de afectação à produção,
(4) Razões de segurança,
(5) Tempo até à avaria após detecção,
(6) Tratar-se de um equipamento novo com características de manutenção
ainda desconhecidas.

Esta frequência é ainda fortemente influenciada pela variação das tendências exibidas
pelos resultados de análises anteriores.

4 Ensaios de óleos lubrificantes

Os ensaios de laboratório tem como objectivo determinar se um produto


contém as características necessárias para desempenhar satisfatoriamente as
funções a que é destinado. Ao se analisar um lubrificante, procura-se, em
laboratório, encontrar um meio de reproduzir as condições práticas a que são
submetidos os produtos em estudo, a fim de que daí resulte um número ou
indicação que permita uma pré-avaliação de desempenho desses produtos.
Muitas vezes não se consegue essa reprodução e, nesses casos, lança-se
mão de ensaios cujos resultados têm valor meramente comparativo.
Existe uma grande quantidade de testes de laboratório procurando cobrir
toda a série de informações sobre lubrificantes de que a tecnologia necessita
para a indicação e aplicação do produto certo no lugar certo.
5 Ensaios de laboratório usuais em Lubrificantes
5.1. Viscosidade

A viscosidade é, a propriedade principal de um óleo lubrificante. Ela pode ser


definida como sendo a "resistência que um fluido oferece ao escorrimento”e mede o
grau de atrito interno quando ele escorre, em temperaturas definidas. A mudança da
viscosidade de um óleo em serviço, indica contaminação ou oxidação.

5.1.1 Os viscosímetros, geralmente, utilizados são:

 Viscosímetro de Saybolt: A unidade de viscosidade chama-se Segundo


Saybolt Universal (SSU), correspondendo ao tempo, em segundos,
necessário ao escoamento de 60ml de óleo através de um orifício
padronizado e a determinada temperatura.
 Viscosímetro cinemático: A viscosidade cinemática é o tempo requerido
para que um volume determinado de óleo flua através de um tubo
capilar, por gravidade.

5.2 Conteúdo de água

A presença de água no óleo é indesejável, embora a


contaminação por vezes seja inevitável.
A água emulsionada ao óleo pode alterar as características
físicas e químicas do óleo lubrificante tais como:
 oxidação do óleo;
 estabilidade à corrosão;
 formação de espumas;
 decantação de aditivos.
Na avaliação do conteúdo de água, é feita a determinação
da água emulsionada, pois a água de separação é anotada
qualitativa e quantitativamente, na descrição da amostra, utilizando
o metodo por destilação ASTM D-95.

5.3 Cor

A cor do lubrificar te é uma propriedade que dá indicação, unicamente, de


uniformidade e pureza; não tem relação com a qualidade do produto e não deve ser de
exigência acentuada quando se especificam as características do lubrificante.

O escurecimento do óleo pode ser devido a:


 contaminação por óleo mais escuro;
 contacto com produtos oxidados.

O clareamento do óleo pode ser devido a:


 presença de água;
 contaminação por óleo mais claro
5.4 Índice de Viscosidade

É um número empírico, não dimensional, que indica o efeito da variação da


temperatura sobre a viscosidade do óleo. É determinado baseado sempre na medição
da viscosidade cinemática a duas temperaturas diferentes. Um elevado IV significa
que o óleo terá uma variação relativamente pequena de viscosidade em função de
variações de temperatura.

5.5 Densidade
É a relação entre massa de um determinado volume de produto, à temperatura
"t" pela massa de igual volume de água destilada, a uma dada temperatura.
Com base no princípio de que todo corpo mergulhado em um líquido desloca um
volume igual ao do líquido deslocado, mede-se a densidade de um aparelho chamado
densímetro, este tem haste graduada, dando leitura directa.
A densidade de um lubrificante, analisada juntamente com outras características, dá
informações significativas acerca do óleo novo.

G) Demulsibilidade

A velocidade de separação água e óleo é importante em


óleo de circulação, onde a água aparece como contaminante.
Demulsibilidade é a medida da "habilidade" do óleo em separar-se
da água.

5.6 Acidez

O TAN (do inglês "Total Acid Number"), é a medida mais corrente da acidez de
um lubrificante. O TAN é a medida do grau deterioração por oxidação de um
lubrificante.
A interpretação deste parâmetro requer algum cuidado já que em determinadas
circunstâncias, podem ser medidos valores invulgarmente elevados.
Para a maioria dos lubrificantes o TAN apresenta um valor inicial baixo, que vai
aumentando gradualmente durante a vida em serviço do lubrificante.

5.7 Ferrografia

A Ferrografia consiste na determinação da severidade, modo e tipos de


desgaste em máquinas, por meio da identificação da morfologia, acabamento
superficial, coloração, natureza e tamanho das partículas encontradas em amostras de
óleos
5.8 Análise gravimétrica

Análise gravimétrica tem como objectivo determinar a quantidade em massa de


partículas contaminantes em relação a um determinado volume de lubrificante,
eliminando todas as substâncias que interferem e convertendo o constituinte ou
componente desejado em um composto de composição definida, que seja susceptível
de pesar-se. Os cálculos são realizados com base no peso atómico e peso molecular.

5.9 Sedimentos por centrifugação

Consiste na determinação da quantidade de materiais


estranhos presentes no óleo usado, através de uma avaliação
quantitativa dos sedimentos. O óleo é colocado numa proveta
graduada e em seguida centrifugada, lendo-se diretamente a
porcentagem de materiais decantados.

6 Vantagens
As vantagens de um programa de análise de óleos situam-se a três níveis:

Utilização:

- Aumento da segurança das operações


- Aumento da disponibilidade dos equipamentos através da diminuição de paragens
- Aumento da vida útil dos componentes
- Diminuição de consumo de óleo

Manutenção:

- Identificação e medição da contaminação e desgaste dos componentes


- Eliminação de inspecções e paragens para manutenção
- Redução de falhas e de reparações
- Estabelecimento de intervalos de mudança de óleo adequados

Gestão:

- Melhoria da avaliação de custos e do controlo de equipamento, trabalho e materiais


- Melhoria da manutenção de registos de equipamentos
- Avaliação do design de equipamentos e aplicações
- Detecção de práticas operacionais incorrectas
Conclusão

A análise de óleos é a ferramenta de diagnóstico mais eficiente que existe na


indústria. Quando usada juntamente com outras técnicas de manutenção
condicionada, como por exemplo a análise de vibração e termografia, conseguem se
reduções enormes de tempo de paragens e custos.

Você também pode gostar