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INTERAÇÕES RECORRENTES AO USO DE ANTICONCEPCIONAIS COM

ANTIMICROBIANOS MACROLÍDEOS E ATENÇÃO FARMACÊUTICA


Recurrent interactions with contraceptive use with macrolide antimicrobials and
pharmaceutical care

GONÇALVES, Igor Henrique Zanardi


Unifaj – Centro Universitário de Jaguariúna
CAMARGO, Thalita Bruini
Unifaj – Centro Universitário de Jaguariúna
TELES, Lediana Iagalo Miguel
Unifaj – Centro Universitário de Jaguariúna

 Resumo: Os anticoncepcionais são essenciais na vida de mulheres que


desejam prevenir uma gravidez ou até mesmo tratar certas doenças
hormonais. Os antimicrobianos macrolídeos são amplamente utilizados na
clínica para tratar diversas infecções. Essa classe de antimicrobianos é
utilizada para o tratamento de infecções das vias respiratórias, tais como:
bronquite, pneumonia, faringite, sinusite, nas infecções de pele, como:
foliculite, celulite, entre outras. Nesse contexto, destaca-se a enorme
importância da atenção farmacêutica frente à possíveis interações
medicamentosas, como entre anticoncepcionais e antibióticos, dando ênfase
em acompanhar, informar os problemas e riscos e aconselhar sobre o uso
destes medicamentos simultaneamente. Diante disto, foi realizada uma
pesquisa com 247 mulheres para descobrir se as informações necessárias
estão sendo relatadas para as mesmas. Ao serem questionadas sobre o uso
de anticoncepcional oral, 53,4% disseram que fazem o uso atualmente, 27,1%
que já utilizaram em algum momento e 19,4% relataram que nunca fizeram o
uso. Sobre o uso de antibióticos, 96,4% das participantes afirmaram já ter feito
o uso de algum antibiótico e apenas 0,6% que nunca tinham feito o uso. Entre
as mulheres entrevistadas, 78,9% responderam que o prescritor não perguntou
sobre o uso de anticoncepcionais orais ao prescrever um antibiótico
macrolídeo para as mesmas, contra 16,6% que foram questionadas. Além
disso, do total de mulheres entrevistas, 54,3% afirmaram saber que há
interação entre os dois medicamentos e 45,7% disseram não ter o
conhecimento sobre este fato. Por último, foi questionado se as mesmas
sabiam quais os males que esta interação medicamentosa pode causar, 63,6%
afirmaram ter conhecimento sobre o assunto e 36,4% disseram que não. Isto
nos revela um déficit em relação às informações que os pacientes recebem
referente à possíveis interações medicamentosas. É de extrema importância o
prescritor questionar suas pacientes e o farmacêutico proporcionar uma
assistência farmacêutica evidenciando os pontos importantes a serem
expostos para os pacientes referente à interação destes medicamentos,
especialmente entre macrolídeos e anticoncepcionais, melhorando a
segurança e eficiência do tratamento medicamentoso e consequentemente
sua qualidade de vida.

Palavras-chaves: Anticoncepcional; Macrolídeos; Interações Medicamentosas.

Abstract: Contraceptives are essential in the lives of women who wish to


prevent pregnancy or even treat certain hormonal diseases. Macrolide
antimicrobials are widely used in clinical care to treat various infections. This
class of antimicrobials is used for the treatment of respiratory tract infections,
such as bronchitis, pneumonia, pharyngitis, sinusitis, skin infections such as:
folliculitis, cellulitis, among others. In this context, the enormous importance of
pharmaceutical care in the face of possible drug interactions, such as between
contraceptives and antibiotics, is highlighted, emphasizing monitoring,
informing problems and risks and advising on the use of these drugs
simultaneously. In view of this, a survey was conducted with 247 women to find
out if the necessary information is being reported for them. When asked about
the use of oral contraceptives, 53.4 said that they currently use them, 27.1 who
have used it at some point and 19.4 reported that they never made the use.
About the use of antibiotics, 96.4 of the participants stated that they had already
used some antibiotic and only 0.6 had never used it. Among the women
interviewed, 78.9 answered that the prescriber did not ask about the use of oral
contraceptives when prescribing a macrolide antibiotic for them, against 16.6
who were questioned. In addition, of the total number of female interviews, 54.3
stated that they knew that there is interaction between the two drugs and 45.7
said they did not have the knowledge about this fact. Finally, they were asked
if they knew what harm this drug interaction could cause, 63.6 stated that they
were aware of the subject and 36.4 said no. This reveals a deficit in relation to
the information patients receive regarding possible drug interactions. It is
extremely important for the prescriber to question his patients and the
pharmacist to provide pharmaceutical care, evidencing the important points to
be exposed to patients regarding the interaction of these drugs, especially
between macrolides and contraceptives, improving the safety and efficiency of
drug treatment and consequently their quality of life.

Keywords: Contraceptive; Macrolides; Interactions.

1. Introdução

As mulheres ganharam uma certa independência a partir do uso dos


anticoncepcionais, pois a partir disso, podiam escolher sobre ter ou não filhos e evitar
gestações indesejadas, considerando que, poderiam tomar pílulas às escondidas,
caso fosse necessário, sendo que ninguém pudesse controlar ou manipular suas
vontades (PEDRO, 2003).
O primeiro antimicrobiano foi descoberto em 1928 por Alexander Fleming e
foi denominado de "Penicilina". Após a descoberta, outros grupos foram sendo
desenvolvidos, entre eles os “macrolídeos”. A Azitromicina, Claritromicina,
Eritromicina, são os medicamentos mais utilizados que pertencem a esse grupo de
antimicrobianos, e geralmente são utilizados em pacientes alérgicos a penicilina, e
em casos como: infecções do trato respiratório por estreptococos do grupo A,
pneumonia por S. pneumonia, prevenção de endocardite após procedimento
odontológico, infecções superficiais de pele (Streptococcus pyogenes), profilaxia de
febre reumática (faringite estreptocócica), e raramente, como alternativa para o
tratamento da sífilis
Chamamos de interação medicamentosa quando o efeito de um ou mais
medicamentos são alterados pelo uso simultâneo dos mesmos. Os contraceptivos
orais possuem uma concentração de ativos suficiente para realizar o efeito desejado
em condições normais do corpo. Ao utilizar um antimicrobiano, a flora intestinal é
alterada e o os níveis hormonais caem e comprometem a eficácia dos contraceptivos.
Com a realização da assistência farmacêutica, o farmacêutico torna-se
corresponsável pela qualidade de vida do paciente. O farmacêutico é o profissional
que possui uma enorme capacidade de garantir a qualidade de um medicamento,
pelo fato de ter a sua formação dirigida ao medicamento. Com a ausência do
profissional farmacêutico, todo o processo envolvido à assistência farmacêutica
resultaria em má qualidade (BASILE, 2008).
Diante das diversas interações medicamentosas que podem acontecer entre
as diferentes classes farmacológicas, as constantes dúvidas relacionadas
especialmente ao uso de anticoncepcional e antibioticoterapia simultaneamente e a
falta de estudos mostrando as possíveis interações, faz-se necessário a realização
dessa pesquisa. O objetivo foi avaliar as interações medicamentosas que ocorrem
entre com uso concomitante de anticoncepcional e antibióticos, e a falta de
informações referente a essas interações.

2. Materiais

O trabalho foi realizado a partir de divulgação de um questionário online de 5 questões


com a participação de 247 mulheres de 18 a 40 anos, afim de obter informações sobre
o conhecimento das mesmas em relação à interações medicamentosas entre
antibióticos e anticoncepcionais.

3. Resultados

Porcentagem de mulheres que fizeram uso de antibióticos

O uso de antibióticos é uma prática extremamente comum entre as pessoas,


especialmente para tratamento das infecções respiratórias. Dessa forma, nós
questionamos as mulheres sobre o uso de antibióticos para evidenciar ser uma
alternativa terapêutica para resolução de muitas patologias em algum ou alguns
momentos da vida. Das 247 mulheres entrevistada, 96,4% das mulheres já fizeram
uso de antibiótico contra 0,6% que nunca o fizeram. Esses dados demonstram que o
uso de antibiótico em algum momento é uma prática comum entre as mulheres.

Figura 1. Os resultados mostram que a maioria


das entrevistadas, 96,4% já fizeram o uso de
antibióticos (azul) contra 0,6% que não fizeram
uso de antibiótico (vermelho). Resultados
foram expressos em porcentagem (n = 247 =
100%).

Porcentagem de mulheres que fizeram ou fazem uso de anticoncepcional oral

Os anticoncepcionais orais vêm sendo utilizado por mais de 200 milhões de


mulheres no mundo inteiro como método de contracepção constituindo em um
método seguro e eficaz de contracepção, especialmente pelo advento da pílula
conjugada. Perguntou-se às mulheres entrevistadas sobre o uso ou não de
anticoncepcional oral e nossos resultados mostraram que 53,4% das mulheres fazem
uso de anticoncepcional oral, 27,1% já fizeram o uso mas não utilizam atualmente e
19,4% não fazem e não fizeram uso do anticoncepcional oral. Dessa forma, os dados
demonstram que contraceptivos orais são, pelo menos um pouco mais da metade das
entrevistadas, usados pelas mulheres.
Figura 2. Os resultados mostram que 53,4%
das mulheres fazem uso de anticoncepcional
oral, 27,1% já fizeram o uso mas não utilizam
atualmente e 19,4% não fazem e não fizeram
uso do anticoncepcional oral. Resultados foram
expressos em porcentagem (n = 247 = 100%).

Porcentagem de mulheres que foram questionadas se faziam ou não o uso de


anticoncepcionais antes de ser receitado o antibiótico.

O questionamento ao paciente sobre o uso concomitante de medicamentos é


bastante importante. Como podemos observar pelos resultados da Figura 2, os
anticoncepcionais são utilizados comumente entre as mulheres, e pelo fato de haver
interações medicamentosas entre antibióticos (principalmente macrolídeos pela sua
ampla utilização na clínica) com anticoncepcionais, é necessário questionar à
paciente seu uso. Entre as mulheres entrevistadas, 78,9% responderam que o
prescritor não perguntou sobre o uso de anticoncepcionais orais ao prescrever um
antibiótico macrolídeo para as mesmas, contra 16,6% que foram questionadas.
Nossos dados indicam que a orientação frente às interações que ocorrem com o uso
de antibióticos é precária e reforça a importância dessa da atenção farmacêutica.
Figura 3. De todas mulheres entrevistadas,
78,9% afirmaram que quando foi prescrito o
antibiótico para as mesmas, o prescritor não
perguntou se fazia o uso de anticoncepcional
oral, em contrapartida 16,6% afirmaram que
foram questionadas sobre o uso. Resultados
foram expressos em porcentagem (n = 247 =
100%).

Porcentagem de mulheres que sabiam ou não sobre a interação dos dois


medicamentos.

A interação medicamentosa é definida como uma resposta farmacológica em


que o efeito de um ou mais medicamentos é alterado pela administração simultânea
ou pelo uso prévio de outros medicamentos. Do total de mulheres entrevistas, 54,3%
afirmaram saber que há interação entre os dois medicamentos e 45,7% disseram não
ter o conhecimento sobre este fato. Nossos dados revelam que quase metade das
mulheres não sabem dessas interações intensificando a necessidade de uma boa
orientação. Multiplicar informações corretas é essencial na área da saúde. Um bom
exemplo, é no caso da atenção farmacêutica onde você tem um grande contato com
pacientes todos os dias, visto que em poucos minutos de explicação e informação
você pode evitar muitos efeitos adversos causados pelo uso concomitante de
medicamentos combinados, ou seja, evitando interações medicamentosas.
Figura 4. Das entrevistadas, 54,3% afirmaram
que sabem da interação entre antibióticos
macrolídeos e anticoncepcionais orais, contra
45,7% que afirmaram não saber. Resultados
foram expressos em porcentagem (n = 247 =
100%).

Porcentagem de mulheres que sabem ou não sobre o mal causado entre a


interação dos dois medicamentos.

Vários efeitos adversos e prejudiciais estão relacionados com as interações


medicamentosas. Os contraceptivos orais possuem uma concentração de ativos
suficiente para realizar o efeito desejado em condições normais do corpo. Ao utilizar
um antimicrobiano, a flora intestinal é alterada e o os níveis hormonais caem e
comprometem a eficácia dos contraceptivos. Questionadas sobre quais os males que
esta interação medicamentosa pode causar, 63,6% das mulheres entrevistadas
afirmaram ter conhecimento sobre o assunto e 36,4% disseram que não. Esses dados
reforçam ainda mais a importância da atenção farmacêutica, especalmente para que
o paciente saiba dos riscos, possíveis efeitos adversos e interações medicamentosas
sobre aquele medicamento que ele faz o uso todos os dias, como os
anticoncepcionais orais.

VO C Ê SA B E DO MA L
C AU SA DO RE F E RE N T E AO
U S O F RE Q U E NTE DE
Figura 5. 63,6% das mulheres afirmam saber
A NTIB IÓTICO S ?
dos males causados ao uso frequente de SIM NÃO
63.60%

antibióticos, já 36,4% disseram que não


36.40%

sabem. Resultados foram expressos em


porcentagem (n = 247 = 100%).
DECLARAÇÃO DAS ENTREVISTADAS

A partir das respostas obtidas nessa pesquisa, julgamos importante destacar


alguns relatos dos participantes.

“Faço uso de anticoncepcional oral há 5 anos e já fiz uso de vários


antibióticos nesse período, mas nunca me perguntaram se eu fazia o uso de
anticoncepcionais antes de me receitarem.” (A. M. S. - 27 anos)

“Achei muito legal participar dessa entrevista para o seu trabalho, pois eu
tive uma infecção de urina forte há um tempo atrás, e tive que tomar antibióticos. O
médico não me perguntou a respeito dos anticoncepcionais e eu não tinha nenhuma
informação sobre isso. Hoje meu filho tem 7 anos.” (S.R. – 24 anos)

“Quando precisei fazer o uso de antibiótico, o médico me aconselhou usar


camisinha caso fosse ter alguma relação sexual, porém não me explicou o motivo.”
(A.S. – 22 ANOS)

“Já ouvi diversas vezes que não pode tomar antibiótico tomando
anticoncepcional, mas não sei o porquê.” (B.F – 20 ANOS)

“De todas as vezes que fui ao médico e precisei tomar antibiótico, nenhuma
delas foi perguntada se eu tomava anticoncepcional” (M.L. – 29 ANOS)

“Nunca me perguntaram nada a respeito de anticoncepcionais. Pensei que


fosse alguma superstição de vó, até engravidar nessa situação” (K. J – 23 ANOS)

“Quando fiz diversos exames em um médico particular, ele me perguntou


sobre o uso de anticoncepcionais, e me explicou que o antibiótico corta o efeito do
mesmo. Mas outras vezes já fiz o uso dos dois, sem que me perguntassem nada”
(R.M – 24 ANOS)
“Sempre fiz o uso de anticoncepcional oral e nunca me perguntaram se eu fazia o
uso de antimicrobianos quando eram prescritos para mim.” (J.C.R – 23 ANOS)

“Nunca fiz uso de anticoncepcionais. “ (F.B.S – 22 ANOS)

“Sei que antibióticos e anticoncepcionais podem causar problema, pois já ouvi falar.
Só não sei te dizer o que ele causa. Então prefiro evitar ter relações enquanto faço o
uso de antibióticos.” (B.V.R – 38 ANOS)

“Faço uso de anticoncepcional oral, sei que pode causar problemas, mas não fui
perguntada se fazia o uso ao prescreverem para mim.” (M.J.L – 29 ANOS)

“Fiz o uso de anticoncepcionais junto com antibióticos e acabei engravidando.”


(M.M.G. – 24 anos)

“Não faço mais uso de anticoncepcional oral, mas já ouvi falar que tomar juntamente
com antibiótico pode acabar atrapalhando no efeito.” (B.L.B. – 33 anos)

“Tomei diversas vezes antibióticos fazendo o uso de anticoncepcional sem saber


que não podia. Não sei como não engravidei” (T.J – 31 ANOS)

“Minha mãe me contou que engravidou de mim porque fez uso de antibiótico usando
anticoncepcional” (E.C – 20 ANOS)

“A maioria das vezes que precisei fazer uso de antibióticos, o médico me orientou
para não deixar de usar camisinha, pois comprometia o efeito do anticoncepcional”
(J.R – 26 ANOS)

“Eu não sabia que não podia fazer o uso dos dois medicamentos juntos” (B.B - 19
ANOS)

"Por eu sempre passar apenas em emergência, no Pronto Socorro nunca me


perguntaram se eu fazia uso de anticoncepcional, mesmo quando prescreveram
antibiótico pra mim. Talvez seja pelo fato de ser um atendimento rápido. Já ouvi
falar que pode fazer mal, mas não sei o porquê". (L.D.R.V - 38 anos)

"Na triagem já me perguntaram se eu fazia uso de algum medicamento e eu


informei o anticoncepcional. Foi prescrito um antibiótico pra mim, mas o médico não
me disse nada sobre os possíveis problemas... ainda bem que sei". (D.M.S. 40
anos)

"Muito difícil o médico me perguntar se faço uso de anticoncepcional ao me


prescrever algum medicamento". (B.R.S. - 22 anos)
“Tive uma infecção mês passado, e precisei tomar antibióticos para realizar o
tratamento, mas nada foi me perguntado sobre os anticoncepcionais ... ainda bem
que faço faculdade de farmácia. (T.B – 23 anos)

"Faço uso de anticoncepcional oral e já ouvi falar que faz mal tomar junto com
antibiótico, mas não sei o porquê. Então evito ter relações sexuais enquanto tomo
antibiótico".

(I.S.S. 20 anos)

"Já ouvi falar de uma amiga da minha irmã que engravidou porque tomou antibiótico
enquanto tomava anticoncepcional, então evito ter relações ou somente com
preservativo mesmo". (J.S.B 22 anos)

"Ao me prescreverem antibiótico nunca me falaram se faz mal com algum outro
medicamento ou não". (V.R.S. - 28 anos)

“Não achei que algum remédio poderia cortar o efeito do anticoncepcional, descobri
agora” (V.J – 18 anos)

4. Discussão

Os anticoncepcionais estão disponíveis em pílulas combinadas e pílulas


comuns. As pílulas denominadas combinadas caracterizam-se por possuírem
estrógeno e progestógeno. Existem vários mecanismos diferentes quando se fala de
contracepção hormonal, podendo agir como impedindo a gametogênese, prevenindo
a ovulação ou realizando a maturação dos gametas. Atualmente, o mecanismo mais
utilizado para prevenir a gravidez é a interferência na ovulação (Clark, 2013, p.333).
Pode-se notar que quase todas as mulheres, 80,5%, fazem ou já fizeram o uso de
anticoncepcionais orais e apenas 16,6% foi questionada se estava fazendo o uso de
algum anticoncepcional oral.
Quando os anticoncepcionais orais são ingeridos, o estrógeno e a progesterona
são prontamente absorvidos do trato gastrintestinal para a corrente circulatória, sendo
conduzidos até o fígado, onde são metabolizados. Cerca de 40% a 58% do estrógeno
são transformados em conjugados sulfatados e glucuronídeos, os quais não têm
atividade contraceptiva. Estes metabólitos estrogênicos são excretados na bile, a qual
se esvazia no trato gastrintestinal. Uma parte destes metabólitos é hidrolisada pelas
enzimas das bactérias intestinais, liberando estrógeno ativo, sendo o remanescente
excretado nas fezes. O estrógeno liberado pode então ser reabsorvido,
estabelecendo-se o ciclo êntero-hepático, que aumenta o nível plasmático de
estrógeno circulante (CORREA; ANDRADE; RANALLI,1998).
O estrógeno atua realizando a inibição do FSH (hormônio folículo-
estimulante), suprimindo o desenvolvimento do folículo ovariano. O progestógeno,
atua inibindo a ação do LH (hormônio luteinizante), onde sucessivamente inibe a
ovulação (WILLIANS; STANCEL, 1996)
Ao realizar a ingestão do anticoncepcional ele é transportado por movimentos
peristálticos ao trato gastrointestinal, onde é absorvido e levado ao fígado. Em
seguida o fígado realiza a metabolização hepática. Em torno da metade (48 a 52%) é
metabolizado e enviado para a circulação sanguínea, sendo assim a outra metade é
inativada do intestino. Consequentemente a metade inativada é enviada para a bile,
feito isso ele retorna ao intestino de forma inativa novamente. (WILLIANS; STANCEL,
1996).
Em 1928, Alexander Fleming estava realizando várias pesquisas utilizando
cultura, ou seja, ele colocava bactérias em uma placa rica em nutrientes e com as
condições necessárias para elas se multiplicarem e crescerem com a finalidade de
observá-las. Fleming então saiu de férias e esqueceu placas de cultura em cima da
mesa de seu laboratório que continham a bactéria "Staphylococcus aureus", bactérias
estas responsáveis podem grandes infecções no corpo humano. Ao pegar a placa
Alexander analisou que, em uma das placas, havia uma área transparente ao redor
do mofo, indicando a ausência de bactérias naquela região. Supostamente, o fungo
que tinha causado o mofo estava expelindo uma substância que eliminava as
bactérias. Este seu esquecimento acabou se tornando uma das maiores descobertas
na área da saúde: esse fungo, do gênero penicillum, foi o primeiro antibiótico
denominado por ele de "Penicilina". (Oswaldo Cruz, revista acadêmica, acesso em 28
de abril de 2020).
Quase metade das mulheres pesquisadas 45,7% não sabiam que há
interações medicamentosas entre antibióticos macrolídeos e anticoncepcionais orais
e 36,4% não sabem do mal causado referente ao uso frequente de antibióticos em
geral.
Os antibióticos macrolídeos são um grupo de antimicrobianos quimicamente
constituídos por um anel macrocíclico de lactona, ao qual ligam-se a um ou mais
açúcares. Pertencem a este grupo, considerando os mais utilizados clinicamente:
azitromicina, claritromicina, eritromicina. Esses medicamentos exercem seus efeitos
antimicrobianos através da ligação com o ribossomo das bactérias, mais
precisamente a subunidade 50S, e promovem a inibição da síntese proteica. O efeito
pode ser bacteriostático ou bactericida, dependendo da concentração e da
susceptibilidade dos microrganismos. (SILVA, 2015)
Esse grupo de antimicrobianos geralmente são utilizados em pacientes
alérgicos à penicilina, os quais necessitam de tratamento em algumas situações, tais
como:
- infecções do trato respiratório por estreptococos do grupo A;
- pneumonia por S. pneumonia;
- prevenção de endocardite após procedimento odontológico;
- infecções superficiais de pele (Streptococcus pyogenes);
- profilaxia de febre reumática (faringite estreptocócica), e raramente, como
alternativa para o tratamento da sífilis (Anvisa,2007).
(Clark, 2013, p.406)
A Eritromicina foi isolada no ano de 1952, a partir do actinomiceto
Streptomyces erythraeus. A mesma possui amplo espectro de ação que inclui
bactérias gram-positivas, além de treponemas, micoplasma e clamídias. É inativa
contra enterobacteriaceas e Pseudomonas spp (ANVISA, 2007).
A Claritromicina é um antimicrobiano altamente ativo contra bactérias gram-
positivas, sendo 2 a 4 vezes mais ativo do que a eritromicina contra a maioria dos
estreptococos e estafilococos sensíveis à oxacilina. O mecanismo da claritromicina
contra as bactérias gram-negativas é semelhante ao da eritromicina, embora um
pouco mais ativa contra a M. catarrhalis. O combate realizado contra anaeróbios é
moderado, semelhante à eritromicina (ANVISA, 2007).
Em consequência, a Azitromicina tem uma estrutura diferente da eritromicina
pelo fato de no anel de lactona conter um átomo de nitrogênio. Alguns autores
classificam a mesma como um novo grupo de antimicrobiano, denominado de
azalídeos. Este rearranjo aumentou o espectro de atividade da droga, garantindo
assim, um nível tecidual sustentado, superior ao nível sérico e proporcionando uma
meia-vida tecidual prolongada onde permite diminuição da dose durante o tratamento.
Outro fator de diferenciação da azitromicina para a eritromicina e da claritromicina, se
dá pelo fato de ter uma maior atividade contra bactérias gram-negativas, em particular
H. influenzae. Porém, a maioria das enterobactérias são intrinsecamente resistentes,
pois não têm a capacidade de penetrar na membrana externa efetivamente. (ANVISA,
2007)
As bactérias não patógenas presentes na flora intestinal realizam o processo
de metabolização reativando estes hormônios que estavam inativos e os enviando
para a circulação sanguínea promovendo a ação desejada dos anticoncepcionais. A
microbiota realiza diversas funções benéficas no corpo humano como esta da
reativação dos hormônios, visto que é considerada para alguns autores como um
órgão (O’HARA, 2006; BECATTINI, 2016).
Os antibióticos macrolídeos são considerados de amplo espectro pois não
atuam seletivamente nas bactérias o que diante de seu uso em indivíduos tratados
com antibióticos por 7 dias, ocasiona na morte de bactérias não patógenas e até
mesmo benéficas para o organismo (JERNBERG, 2007). Sendo assim, as bactérias
responsáveis pela reativação dos hormônios presentes nos anticoncepcionais orais,
serão extintas, não realizando o processo de reativação do hormônio no organismo,
ocasionando perda da eficácia do medicamento.
A interação medicamentosa é uma resposta farmacológica em que o efeito
de um ou mais medicamentos é alterado pela administração simultânea ou pelo uso
prévio de outros medicamentos” (OKUNO et al., 2013). Os contraceptivos orais mais
modernos vêm tendo a concentração de seus ativos diminuída a fim de minimizar
seus efeitos adversos. Sob circunstâncias normais, estas concentrações mais baixas
são bastante efetivas. Porém, na presença de antibióticos, os níveis hormonais, já
reduzidos, podem cair ainda mais, comprometendo a eficácia dos contraceptivos
orais. A redução da eficácia contraceptiva ocorre por alteração da flora intestinal. Das
mulheres que foram entrevistadas, 96,4% relataram já ter feito o uso de algum
antibiótico e apenas 0,6% que nunca tinham feito o uso. Além disso, do total de
mulheres entrevistas, 54,3% afirmaram saber que há interação entre os dois
medicamentos e 45,7% disseram não ter o conhecimento sobre este fato. Esses
dados reforçam a importância do conhecimento das interações medicamentosas,
especialmente as relacionadas com o uso concomitante de anticoncepcional,
destacando o propósito de evitar gestações não desejadas com uso desse
medicamento pela maioria das mulheres.
A assistência farmacêutica caracteriza-se como um conjunto de ações
relacionadas à dispensação de medicamentos, enfatizando a orientação com o
objetivo de contribuir para o sucesso da terapêutica" (BASILE,2008). Como
observado na pesquisa, 78,9% das mulheres disseram que o prescritor não perguntou
se as mesmas utilizavam o uso de anticoncepcionais orais ao prescrever um
antibiótico macrolídeo para as mesmas, contra 16,6% que foram questionadas. Além
disso, quando questionadas sobre quais os males que esta interação medicamentosa
pode causar, 63,6% das mulheres entrevistadas afirmaram ter conhecimento sobre o
assunto e 36,4% disseram que não. Dessa forma, o papel do farmacêutico é
fundamental e indispensável, exercendo assistência, informando ao paciente quanto
à forma de utilização e ao armazenamento, alertando dos prováveis efeitos colaterais
e interações. Informando também para não utilizar medicamentos sem orientação
médica e/ou farmacêutica, evitando assim o uso por conta própria. Caso a mulher
esteja grávida ou realizando a amamentação, deverá seguir a orientação médica de
seu ginecologista.
O paciente deve ser informado também, que ele necessita seguir as
orientações sobre o horário de administração, restrições alimentares, pelo fato dos
alimentos também possuírem a capacidade de modificar os seus efeitos. O
farmacêutico deve informar ao paciente que ele deve observar se a embalagem está
intacta, se o rótulo está em perfeitas condições, se há número do lote de fabricação,
se há data de validade, se há o lacre protetor, se há a marca da indústria farmacêutica
(logotipo) em todos os comprimidos ou cápsulas e se esta marca é igual, se há
comprimidos quebrados ou cápsulas amassadas. Deve ser relatado ao paciente, que
os medicamentos podem causar algum hábito ou vício, e o mesmo deve realizar
essas observações. A automedicação e tratamentos alternativos não comprovados
cientificamente são perigosos e isto deve ser informado. Além de enfatizar ao
paciente o uso racional de medicamentos devido a estes fatores (BASILE, 2008).
5. Considerações finais:

 Há uma grande falta de assistência entre os profissionais da saúde (médico e


farmacêutico) para informar e alertar os pacientes referente ao uso simultâneo
de anticoncepcionais orais e antimicrobianos macrolídeos, o que pode
ocasionar em falta de eficácia no tratamento e efeitos adversos não desejados;
 Grande parte das mulheres não são questionadas pelos seus prescritores se
fazem o uso de anticoncepcionais orais quando são prescritos antibióticos para
as mesmas. Isto pode ocorrer por diversos fatores, sendo eles por
esquecimento, falta de tempo (são realizados rápidos atendimentos para evitar
que se formem filas em hospitais, clínicas e consultórios), falta de empatia pelo
paciente, dentre outros;
 É de extrema importância o prescritor questionar suas pacientes e o
farmacêutico proporcionar uma assistência farmacêutica evidenciando os
pontos importantes a serem expostos para os pacientes referente à interação
destes medicamentos, melhorando seu tratamento medicamentoso e
consequentemente sua qualidade de vida.

6. Referências Bibliográficas

ANTIMICROBIANOS - Principais grupos disponíveis para uso clínico: Macrolideos.


2007. Disponível em :
http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/rm_controle/opas_w
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BARTLETT J.G. et al. Community-acquired pneumonia N Engl J Med, v.333, p. 1618-


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Acesso em: 22 maio 2020

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