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A Teoria das Inteligências Múltiplas e suas implicações para

Educação
No início do século XX, as autoridades francesas solicitaram a Alfredo Binet que
criasse um instrumento pelo qual se pudesse prever quais as crianças que
teriam sucesso nos liceus parisenses. O instrumento criado por Binet testava a
habilidade das crianças nas áreas verbal e lógica, já que os currículos
acadêmicos dos liceus enfatizavam, sobretudo o desenvolvimento da linguagem
e da matemática. Este instrumento deu origem ao primeiro teste de inteligência,
desenvolvido por Terman, na Universidade de Standford, na Califórnia: o
Standford-Binet Intelligence Scale.
Subseqüentes testes de inteligência e a comunidade de psicometria tiveram
enorme influência, durante este século, sobre a idéia que se tem de inteligência,
embora o próprio Binet (Binet & Simon, 1905 Apud Kornhaber & Gardner, 1989)
tenha declarado que um único número, derivado da performance de uma criança
em um teste, não poderia retratar uma questão tão complexa quanto a
inteligência humana. Neste artigo, pretendo apresentar uma visão de inteligência
que aprecia os processos mentais e o potencial humano a partir do desempenho
das pessoas em diferentes campos do saber.
As pesquisas mais recentes em desenvolvimento cognitivo e neuropsicologia
sugerem que as habilidades cognitivas são bem mais diferenciadas e mais
espcíficas do que se acreditava (Gardner, I985). Neurologistas têm
documentado que o sistema nervoso humano não é um órgão com propósito
único nem tão pouco é infinitamente plástico. Acredita-se, hoje, que o sistema
nervoso seja altamente diferenciado e que diferentes centros neurais processem
diferentes tipos de informação ( Gardner, 1987).
Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Hervard, baseou-se nestas
pesquisas para questionar a tradicional visão da inteligência, uma visão que
enfatiza as habilidades lingüística e lógico-matemética. Segundo Gardner, todos
os indivíduos normais são capazes de uma atuação em pelo menos sete
diferentes e, até certo ponto, independentes áreas intelectuais. Ele sugere que
não existem habilidades gerais, duvida da possibilidade de se medir a
inteligência através de testes de papel e lápis e dá grande importância a
diferentes atuações valorizadas em culturas diversas. Finalmente, ele define
inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que
sejam significativos em um ou mais ambientes culturais.
A teoria
A Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner (1985) é uma
alternativa para o conceito de inteligência como uma capacidade inata, geral e
única, que permite aos indivíduos uma performance, maior ou menor, em
qualquer área de atuação. Sua insatisfação com a idéia de QI e com visões
unitárias de inteligência, que focalizam sobretudo as habilidades importantes
para o sucesso escolar, levou Gardner a redefinir inteligência à luz das origens
biológicas da habilidade para resolver problemas. Através da avaliação das
atuações de diferentes profissionais em diversas culturas, e do repertório de
habilidades dos seres humanos na busca de soluções, culturalmente
apropriadas, para os seus problemas, Gardner trabalhou no sentido inverso ao
desenvolvimento, retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que
deram origem a tais realizações. Na sua pesquisa, Gardner estudou também:
( a) o desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e crianças
superdotadas; (b) adultos com lesões cerebrais e como estes não perdem a
intensidade de sua produção intelectual, mas sim uma ou algumas habilidades,
sem que outras habilidades sejam sequer atingidas; (c ) populações ditas
excepcionais, tais como idiot-savants e autistas, e como os primeiros podem
dispor de apenas uma competência, sendo bastante incapazes nas demais
funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam ausências nas
suas habilidades intelectuais; (d) como se deu o desenvolvimento cognitivo
através dos milênios.
Psicólogo construtivista muito influenciado por Piaget, Gardner distingue-se de
seu colega de Genebra na medida em que Piaget acreditava que todos os
aspectos da simbolização partem de uma mesma função semiótica, enquanto
que ele acredita que processos psicológicos independentes são empregados
quando o indivíduo lida com símbolos lingüisticos, numéricos gestuais ou outros.
Segundo Gardner uma criança pode ter um desempenho precoce em uma área
(o que Piaget chamaria de pensamento formal) e estar na média ou mesmo
abaixo da média em outra (o equivalente, por exemplo, ao estágio sensório-
motor). Gardner descreve o desenvolvimento cognitivo como uma capacidade
cada vez maior de entender e expressar significado em vários sistemas
simbólicos utilizados num contexto cultural, e sugere que não há uma ligação
necessária entre a capacidade ou estágio de desenvolvimento em uma área de
desempenho e capacidades ou estágios em outras áreas ou domínios (Malkus e
col., 1988). Num plano de análise psicológico, afirma Gardner (1982), cada área
ou domínio tem seu sistema simbólico próprio; num plano sociológico de estudo,
cada domínio se caracteriza pelo desenvolvimento de competências valorizadas
em culturas específicas.
Gardner sugere, ainda, que as habilidades humanas não são organizadas de
forma horizontal; ele propõe que se pense nessas habilidades como organizadas
verticalmente, e que, ao invés de haver uma faculdade mental geral, como a
memória, talvez existam formas independentes de percepção, memória e
aprendizado, em cada área ou domínio, com possíveis semelhanças entre as
áreas, mas não necessariamente uma relação direta.
As inteligências múltiplas
Gardner identificou as inteligências lingúística, lógico-matemática, espacial,
musical, cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Postula que essas
competências intelectuais são relativamente independentes, têm sua origem e
limites genéticos próprios e substratos neuroanatômicos específicos e dispõem
de processos cognitivos próprios. Segundo ele, os seres humanos dispõem de
graus variados de cada uma das inteligências e maneiras diferentes com que
elas se combinam e organizam e se utilizam dessas capacidades intelectuais
para resolver problemas e criar produtos. Gardner ressalta que, embora estas
inteligências sejam, até certo ponto, independentes uma das outras, elas
raramente funcionam isoladamente. Embora algumas ocupações exemplifiquem
uma inteligência, na maioria dos casos as ocupações ilustram bem a
necessidade de uma combinação de inteligências. Por exemplo, um cirurgião
necessita da acuidade da inteligência espacial combinada com a destreza da
cinestésica.

Faz-se necessário uma visão do pensamento humano mais ampla e mais


abrangente daquelas aceitas pelos estudos cognitivos tradicionais, sendo
inegável a influência da Teoria de Jean Piaget que vê todo pensamento
humano como uma luta pelo ideal do pensamento científico.Tomamos a
decisão de escrever o presente artigo a respeito das "Inteligências
Múltiplas", para enfatizar um número desconhecido de capacidades
humanas diferenciadas, variando desde a inteligência musical até a
inteligência envolvida no entendimento de si mesmo e as implicações
educacionais de tais descobertas. Apresentaremos um background da
teoria, definindo "inteligência", métodos de pesquisa, com uma visão da
paisagem cognitiva, relacionando inteligência à criatividade, ao gênio, à
prodigiosidade, à perícia e outras realizações mentais desejáveis.Uma
consideração séria de ampla variedade de inteligências humanas que
conduzem a uma nova visão de educação, sendo que a melhor maneira
de compreender cada inteligência é concebendo-as como
interrelacionadas, com possibilidade de existência de diferentes perfis
intelectuais em diferentes grupos; resgatando portanto um novo papel
para o educador.

Inteligência lingüística - Os componentes centrais da inteligência lingüistica


são uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de
uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade
para usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias.
Gardner indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos
poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta através da capacidade para
contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas.
Inteligência musical - Esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para
apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para
perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir
e/ou reproduzir música. A criança pequena com habilidade musical especial percebe desde cedo
diferentes sons no seu ambiente e, freqüentemente, canta para si mesma.

Inteligência lógico-matemática - Os componentes centrais desta inteligência


são descritos por Gardner como uma sensibilidade para padrões, ordem e
sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões,
através da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma
controlada; é a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer
problemas e resolvê-los. É a inteligência característica de matemáticos e
cientistas Gardner, porém, explica que, embora o talento cientifico e o talento
matemático possam estar presentes num mesmo indivíduo, os motivos que
movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos.
Enquanto os matemáticos desejam criar um mundo abstrato consistente, os
cientistas pretendem explicar a natureza. A criança com especial aptidão nesta
inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e
para criar notações práticas de seu raciocínio.
Inteligência espacial - Gardner descreve a inteligência espacial como a capacidade para
perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular formas ou
objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição,
numa representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e
dos arquitetos. Em crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido
através da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes
visuais.

Inteligência cinestésica - Esta inteligência se refere à habilidade para resolver


problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo. É a
habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas
ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos
com destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica se
move com graça e expressão a partir de estímulos musicais ou verbais
demonstra uma grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada.

Inteligência interpessoal - Esta inteligência pode ser descrita como uma


habilidade pare entender e responder adequadamente a humores,
temperamentos motivações e desejos de outras pessoas. Ela é melhor
apreciada na observação de psicoterapeutas, professores, políticos e
vendedores bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a inteligência
interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para
distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para
perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente
a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito
cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são
extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros.
Inteligência intrapessoal - Esta inteligência é o correlativo interno da
inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios
sentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução
de problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades,
desejos e inteligências próprios, a capacidade para formular uma imagem
precisa de si próprio e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de
forma efetiva. Como esta inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é
observável através dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja,
através de manifestações lingüisticas, musicais ou cinestésicas.
O desenvolvimento das inteligências
Na sua teoria, Gardner propõe que todos os indivíduos, em princípio, têm a
habilidade de questionar e procurar respostas usando todas as inteligências.
Todos os indivíduos possuem, como parte de sua bagagem genética, certas
habilidades básicas em todas as inteligências. A linha de desenvolvimento de
cada inteligência, no entanto, será determinada tanto por fatores genéticos e
neurobiológicos quanto por condições ambientais. Ele propõe, ainda, que cada
uma destas inteligências tem sua forma própria de pensamento, ou de
processamento de informações, além de seu sitema simbólico. Estes sistemas
simbólicos estabelecem o contato entre os aspectos básicos da cognição e a
variedade de papéis e funções culturais.
A noção de cultura é básica para a Teoria das Inteligências Múltiplas. Com a sua
definição de inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar
produtos que são significativos em um ou mais ambientes culturais, Gardner
sugere que alguns talentos só se desenvolvem porque são valorizados pelo
ambiente. Ele afirma que cada cultura valoriza certos talentos, que devem ser
dominados por uma quantidade de indivíduos e, depois, passados para a
geração seguinte.
Segundo Gardner, cada domínio, ou inteligência, pode ser visto em termos de
uma seqüência de estágios: enquanto todos os indivíduos normais possuem os
estágios mais básicos em todas as inteligências, os estágios mais sofisticados
dependem de maior trabalho ou aprendizado.
A seqüência de estágios se inicia com o que Gardner chama de habilidade de
padrão cru. O aparecimento da competência simbólica é visto em bebês quando
eles começam a perceber o mundo ao seu redor. Nesta fase, os bebês
apresentam capacidade de processar diferentes informações. Eles já possuem,
no entanto, o potencial para desenvolver sistemas de símbolos, ou simbólicos.
O segundo estágio, de simbolizações básicas, ocorre aproximadamente dos dois
aos cinco anos de idade. Neste estágio as inteligências se revelam através dos
sistemas simbólicos. Aqui, a criança demonstra sua habilidade em cada
inteligência através da compreensão e uso de símbolos: a música através de
sons, a linguagem através de conversas ou histórias, a inteligência espacial
através de desenhos etc.
No estágio seguinte, a criança, depois de ter adquirido alguma competência no
uso das simbolizacões básicas, prossegue para adquirir níveis mais altos de
destreza em domínios valorizados em sua cultura. À medida que as crianças
progridem na sua compreensão dos sistemas simbólicos, elas aprendem os
sistemas que Gardner chama de sistemas de segunda ordem, ou seja, a grafia
dos sistemas (a escrita, os símbolos matemáticos, a música escrita etc.). Nesta
fase, os vários aspectos da cultura têm impacto considerável sobre o
desenvolvimento da criança, uma vez que ela aprimorará os sistemas simbólicos
que demonstrem ter maior eficácia no desempenho de atividades valorizadas
pelo grupo cultural. Assim, uma cultura que valoriza a música terá um maior
número de pessoas que atingirão uma produção musical de alto nível.
Finalmente, durante a adolescência e a idade adulta, as inteligências se revelam
através de ocupações vocacionais ou não-vocacionais. Nesta fase, o indivíduo
adota um campo específico e focalizado, e se realiza em papéis que são
significativos em sua cultura.
Teoria das inteligências múltiplas e a educação
As implicações da teoria de Gardner para a educação são claras quando se
analisa a importância dada às diversas formas de pensamento, aos estágios de
desenvolvimento das várias inteligências e à relação existente entre estes
estágios, a aquisição de conhecimento e a cultura.
A teoria de Gardner apresenta alternativas para algumas práticas educacionais
atuais, oferecendo uma base para:
( a) o desenvolvimento de avaliações que sejam adequadas às diversas
habilidades humanas (Gardner & Hatch, 1989; Blythe Gardner, 1 990) (b) uma
educação centrada na criança c com currículos específicos para cada área do
saber (Konhaber & Gardner, 1989); Blythe & Gardner, 1390) (c) um ambiente
educacional mais amplo e variado, e que dependa menos do desenvolvimento
exclusivo da linguagem e da lógica (Walters & Gardner, 1985; Blythe & Gardner,
1990)
Quanto à avaliação, Gardner faz uma distinção entre avaliação e testagem. A
avaliação, segundo ele, favorece métodos de levantamento de informações
durante atividades do dia-a-dia, enquanto que testagens geralmente acontecem
fora do ambiente conhecido do indivíduo sendo testado. Segundo Gardner, é
importante que se tire o maior proveito das habilidades individuais, auxiliando os
estudantes a desenvolver suas capacidades intelectuais, e, para tanto, ao invés
de usar a avaliação apenas como uma maneira de classificar, aprovar ou
reprovar os alunos, esta deve ser usada para informar o aluno sobre a sua
capacidade e informar o professor sobre o quanto está sendo aprendido.
Gardner sugere que a avaliação deve fazer jus à inteligência, isto é, deve dar
crédito ao conteúdo da inteligência em teste. Se cada inteligência tem um certo
número de processos específicos, esses processos têm que ser medidos com
instrumento que permitam ver a inteligência em questão em funcionamento.
Para Gardner, a avaliação deve ser ainda ecologicamente válida, isto é, ela deve
ser feita em ambientes conhecidos e deve utilizar materiais conhecidos das
crianças sendo avaliadas. Este autor também enfatiza a necessidade de avaliar
as diferentes inteligências em termos de suas manifestações culturais e
ocupações adultas específicas. Assim, a habilidade verbal, mesmo na pré-
escola, ao invés de ser medida através de testes de vocabulário, definições ou
semelhanças, deve ser avaliada em manifestações tais como a habilidade para
contar histórias ou relatar acontecimentos. Ao invés de tentar avaliar a
habilidade espacial isoladamente, deve-se observar as crianças durante uma
atividade de desenho ou enquanto montam ou desmontam objetos. Finalmente,
ele propõe a avaliação, ao invés de ser um produto do processo educativo, seja
parte do processo educativo, e do currículo, informando a todo momento de que
maneira o currículo deve se desenvolver.
No que se refere à educação centrada na criança, Gardner levanta dois pontos
importantes que sugerem a necessidade da individualização. O primeiro diz
respeito ao fato de que, se os indivíduos têm perfis cognitivos tão diferentes uns
dos outros, as escolas deveriam, ao invés de oferecer uma educação
padronizada, tentar garantir que cada um recebesse a educação que
favorecesse o seu potencial individual. O segundo ponto levantado por Gardner
é igualmente importante: enquanto na Idade Média um indivíduo podia pretender
tomar posse de todo o saber universal, hoje em dia essa tarefa é totalmente
impossível, sendo mesmo bastante difícil o domínio de um só campo do saber.
Assim, se há a necessidade de se limitar a ênfase e a variedade de conteúdos,
que essa limitação seja da escolha de cada um, favorecendo o perfil intelectual
individual.
Quanto ao ambiente educacional, Gardner chama a atenção pare o fato de que,
embora as escolas declarem que preparam seus alunos pare a vida, a vida
certamente não se limita apenas a raciocínios verbais e lógicos. Ele propõe que
as escolas favoreçam o conhecimento de diversas disciplinas básicas; que
encoragem seus alunos a utilizar esse conhecimento para resolver problemas e
efetuar tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade a que
pertencem; e que favoreçam o desenvolvimento de combinações intelectuais
individuais, a partir da avaliação regular do potencial de cada um.

Para Gardner o propósito da escola deveria ser o de desenvolver essas


inteligências e ajudar as pessoas a atingirem seus objetivos de ocupação
adequados ao seu espectro particular de inteligência. Gardner propõe
uma escola centrada no indivíduo, voltada para um entendimento e
desenvolvimento ótimos do perfil cognitivo do aluno. A escola ideal de
Gardner baseia-se em algumas suposições: • nem todas as pessoas têm
os mesmos interesses e habilidades, nem aprendem da mesma maneira.
• ninguém pode aprender tudo o que há para ser aprendido. • a tarefa dos
especialistas em avaliação seria a de tentar compreender as capacidades
e interesses dos alunos de uma escola. • a tarefa do agente de currículo
para o aluno seria a de ajudar a combinar os perfis, objetivos e interesses
dos alunos a determinados currículos e determinados estilos de
aprendizagem. • a tarefa do agente da escola-comunidade seria a de
encontrar situações na comunidade determinadas pelas opções não
disponíveis na escola, para as crianças que apresentam perfis cognitivos
incomuns. • um novo conjunto de papéis para os educadores deveria ser
construído para transformar essas visões em realidade. • Gadner passa a
se preocupar com aquelas crianças que não brilham nos testes
padronizados, e que, consequentemente, tendem a ser consideradas
como não tendo nenhum tipo de talento. Para Gardner os professores
seriam liberados para fazer aquilo que deviam fazer: ensinar o assunto de
sua matéria, em seu estilo de ensino preferido. O professor-mestre faria a
supervisão e a orientação dos professores inexperientes, procurando
assegurar que a equação aluno-avaliação-currículo-comunidade estivesse
adequadamente equilibrada. Para concretizarmos a escola centrada no
aluno devemos resistir as enormes pressões atuais para a uniformidade e
para as avaliações unidimensionais. Para Gardner existem 3 tipos de
preconceitos na sociedade atual. • Ocidentalista: colocar certos valores
culturais ocidentais num pedestal (Pensamento lógico); • Testista: sugere
um preconceito no sentido de focar aquelas capacidades ou abordagens
humanas que são prontamente testáveis. "Os psicólogos deveriam passar
menos tempo classificando as pessoas e mais tempo tentando ajudá-las".
• Melhorista: qualquer crença de todas as respostas para um dado
problema estão em uma determinada abordagem, tal como o pensamento
lógico-matemático, pode ser muito perigoso. Se pudéssemos mobilizar
toda a gama das inteligências humanas e aliá-las a um sentido ético,
talvez pudéssemos ajudar a aumentar a probabilidade da nossa
sobrevivência neste planeta, e talvez inclusive contribuir para a nossa
prosperidade. O Que Constitui uma Inteligência? Na visão tradicional
a inteligência é conceituada como a capacidade de responder a testes de
inteligência, o Q.I. Alguns testes realizados demonstram que a "faculdade
geral da inteligência" não muda muito com a idade ou com treinamento
ou experiência. A inteligência é um atributo ou uma faculdade inata do
ser humano. Gardner procurou ampliar este conceito. A inteligência para
ele, é a capacidade de solucionar problemas ou elaborar produtos que são
importantes em um determinado ambiente ou comunidade cultural. A
capacidade de resolver problemas permite às pessoas abordar situações,
atingir objetivos e localizar caminhos adequados a esse objetivo. A
criação de um produto cultural torna-se crucial nessa função na medida
em que captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou
sentimentos da pessoa. Os problemas a serem resolvidos são os mais
diversos, indo desde uma teoria científica até uma composição poética ou
musical. A teoria das inteligências múltiplas foi elaborada à luz das
origens biológicas de cada capacidade de resolver problemas. A tendência
biológica deve ser vinculada aos estímulos culturais. A linguagem, por
exemplo, que é uma capacidade universal, ora pode apresentar-se como
oratória, ora como escrita, ou secreta, etc. Considerando o desejo de
selecionar inteligências como é possível identificá-las? Gardner
procurou evidências de várias fontes: • o conhecimento a respeito do
desenvolvimento normal; • do desenvolvimento em indivíduos talentosos;
• informações sobre o colapso das capacidades cognitivas nos casos de
danos cerebrais; • estudos sobre prodígios, autistas e estudos
psicológicos; • testes de correlações e outros. Somente as inteligências
candidatas que satisfaziam a todos ou a maioria dos critérios foram
selecionadas como inteligências genuínas justamente por satisfazer
determinados critérios e fazerem parte de um conjunto de operações
identificáveis. Dessa forma, cada inteligência deve ter uma operação
nuclear ou um conjunto de operações, semelhante a um sistema neural,
sendo cada inteligência ativada ou desencadeada por certos tipos de
informações internas ou externas. Como exemplo ele cita que o núcleo da
inteligência musical está na sensibilidade para determinar relações, ao
passo que um dos núcleos da inteligência lingüística é a sensibilidade aos
aspectos fonológicos. Para ele a inteligência deve ser capaz de ser
codificada num sistema de símbolos e significados culturalmente criados
que capturam e transmitem formas importantes de informação. A
linguagem, a pintura e a matemática são símbolos quase universais
necessários à sobrevivência e à produtividade humana. A inteligência
relaciona-se com um sistema de símbolos não por acidente mas, por ser
esta a forma da sua manifestação. As sete Inteligências e localização
no cérebro humano 1. Inteligência lingüística: é o tipo de capacidade
exibida em sua forma mais completa, talvez pelos poetas. Localização:
parte do cérebro chamada Centro de Broca. 2. Inteligência lógico-
matemática: é a capacidade lógico-matemática, assim como a capacidade
científica Localização: Centro de Broca 3. Inteligência espacial: é a
capacidade de formar um modelo mental de um mundo espacial e ser
capaz de manobrar e operar utilizando esse modelo. Exemplo: Os
marinheiros, engenheiros, cirurgiões, pintores, escultores. Localização:
Hemisfério direito do cérebro.
4. Inteligência musical: é a capacidade voltada para a música.
Exemplo: Leonardo Bernstein, Mozart.

Localização: hemisfério direito.


5. Inteligência corporal cinestésica: capacidade de resolver problemas
ou de elaborar produtos utilizando o corpo inteiro, ou partes do
corpo. Exemplo: dançarinos, atletas, cirurgiões e artistas. A
dominância desse movimento é encontrado no hemisfério
esquerdo.
6. Inteligência interpessoal: capacidade de compreender outras
pessoas: o que as motiva, como elas trabalham, como trabalhar
cooperativamente com elas. Exemplo: vendedores, políticos,
professores, clínicos (terapeutas) e líderes religiosos bem-
sucedidos.

Localização: Lobos Frontais.


7. Inteligência intrapessoal: é uma capacidade correlativa voltada para
dentro. É a capacidade de formar um modelo acurado e verídico de
si mesmo e de utilizar esse modelo para operar efetivamente na
vida.

Localização: lobos frontais.


Considerações

Tendo esboçado as características e critérios de uma inteligência,


apresentaremos breves considerações de cada uma das sete
inteligências.

Cada esboço foi feito embasado numa breve biografia de uma pessoa que
demonstra uma facilidade incomum naquela inteligência. Embora cada
biografia ilustre uma inteligência particular, não se pode dizer que na
idade adulta as inteligências operam isoladamente. Exceto em indivíduos
anormais, as inteligências sempre funcionam combinadas e, qualquer
papel adulto sofisticado envolverá uma fusão de várias delas.

Inteligência musical

Exemplo: Yehudi Menuhin foi colocado por seus pais na Orquestra de São
Francisco. O som do violino o fascinou tanto que quis ganhar um em seu
aniversário e quis também fazer aulas com o prof. Louis. Conseguiu
ambos e com apenas dez anos se tornou um músico internacional.

A inteligência musical do violonista manifestou-se mesmo antes dele ter


tocado ou recebido qualquer treinamento musical. Sua poderosa reação
àquele som particular e seu rápido progresso no instrumento sugerem
que ele estava biologicamente preparado de alguma maneira para esse
empreendimento. Dessa forma, a evidência das crianças-prodígio apoia a
afirmação de que existe um vínculo biológico a uma determinada
inteligência. Outras populações especiais, como a das crianças autistas
que conseguem tocar maravilhosamente um instrumento musical, mas
não conseguem falar, enfatizam a independência da inteligência musical.

Uma breve consideração desta evidência sugere que a capacidade


musical é aprovada em outros testes para uma inteligência. Por exemplo,
certas partes do cérebro desempenham papéis importantes na percepção
e produção da música. Estas áreas estão caracteristicamente localizadas
no hemisfério direito. As evidências que apoiam a
interpretação da capacidade musical, como uma "inteligência" chegam de
várias fontes. Mesmo que a capacidade musical não tipicamente
considerada como uma capacidade intelectual, como a matemática. Ela
se qualifica a partir dos critérios estabelecidos. Por definição, ela merece
ser considerada; e, tendo em vista os dados, sua inclusão está
empiricamente justificada.

Inteligência corporal-cinestésica

Exemplo: Babe, aos quinze anos jogava na terceira base. Quando num
certo momento ruim do jogo, Babe criticou-o lá da terceira base, até que
o técnico sugeriu que ele arremessasse. Babe hesitou e lançou, em
seguida se tornou um batedor legendário.

Babe Ruth reconheceu seu "instrumento" imediatamente, em seu


primeiro contato com ele. Esse reconhecimento ocorreu antes de um
treinamento formal.

O controle do movimento corporal está, evidentemente, localizado no


córtex motor, com cada hemisfério dominante ou controlador dos
movimentos corporais no lado contra-lateral. Nos destros, a dominância
desse movimento normalmente é encontrada no hemisfério esquerdo. A
capacidade de realizar movimentos quando dirigido para fazê-los pode
estar prejudicada mesmo nos indivíduos que podem realizar os mesmos
movimentos reflexivamente ou numa base involuntária. A existência de
uma apraxia específica constitui uma linha de evidência de uma
inteligência corporal-cinestésica.

A evolução dos movimentos especializados do corpo é uma vantagem


óbvia para as espécies, e nos seres humanos esta adaptação é ampliada
através do uso de ferramentas. O movimento corporal passa por um
programa desenvolvimental claramente definido nas crianças.

A consideração do conhecimento corporal cinestésico como solucionador


de "problemas" talvez seja menos intuitiva. Executar uma seqüência
mímica ou bater numa bola de tênis não é resolver uma equação
matemática. E, no entanto, a capacidade de usar o próprio corpo para
expressar uma emoção (como a dança), jogar um jogo (como esporte) ou
criar um novo produto (como no planejamento de uma invenção) é uma
evidência dos aspectos cognitivos do uso do corpo.

Inteligência lógico-matemática

Exemplo: Em 1983, Bárbara Mc Clintock ganhou o Prêmio Nobel de


Medicina ou fisiologia por seu trabalho em microbiologia. Seus poderes
intelectuais de dedução e observação ilustram uma forma de inteligência
lógico-matemática, freqüentemente rotulada como "pensamento
científico".

Um incidente é particularmente esclarecedor na resolução do problema: a


esterilidade do milho. Seu assistente de pesquisa encontrava plantas que
eram apenas 25 a 30 por cento estéreis enquanto ela encontrava 50 por
cento de esterilidade no milho. Isso se comprovou depois quando ele
arquitetou o seu raciocínio passo a passo originando daí a diferença dos
30 por cento.

Esse fato ilustra bem dois aspectos da inteligência lógico-matemática.


Primeiramente, no indivíduo talentoso, o processo de resolução do
problema geralmente é surpreendentemente rápido. O cientista lida com
várias hipóteses que avaliadas serão aceitas ou rejeitadas.
O fato registra também a natureza não verbal da inteligência. A solução
de um problema pode ser encontrada antes de ser articulada. Isso
acontece com ganhadores de Prêmio Nobel ou então com quem possui a
inteligência lógico-matemática.

Esta inteligência é apoiada por critérios empíricos. Certas áreas do


cérebro são mais importantes do que outras no cálculo matemático.

Inteligência lingüística

Exemplo: Com dez anos de idade T.S. Eliot criou uma revista chamada
Fireside, da qual era o único colaborador. Num período de três dias,
durante as férias de inverno, ele criou oito edições completas. Cada uma
incluía poemas, histórias de aventuras, uma coluna de fofocas e humor.

A inteligência lingüística foi comprovada nos testes empíricos. Uma área


específica do cérebro, chamada "Centro de Broca", é responsável pela
produção de sentenças gramaticais. Uma pessoa com dano nesta área
pode compreender palavras e frases muito bem, mas tem dificuldade em
juntar palavras em algo além das frases mais simples. Ao mesmo tempo,
outros processos de pensamento podem estar completamente
inalterados.

O dom da linguagem é universal e o seu desenvolvimento nas crianças é


surpreendentemente constante em todas as cultura. Mesmo nas
populações surdas, em que a linguagem manual de sinais não é ensinada,
as crianças inventam sua própria linguagem manual.

Inteligência espacial

Exemplo: A navegação nas Ilhas Caroline, nos mares do Sul, é realizada


sem instrumentos. O navegador imagina uma ilha de referência, quando
passa embaixo de uma determinada estrela, e a partir disso ele computa
o número total de segmentos, a proporção de viagem que ainda resta, e
quaisquer correções no curso que sejam necessárias. Ele não vê as ilhas
enquanto navega, em vez disso, ele mapeia sua localização em sua
"imagem" mental da jornada.

Para se resolver problemas espaciais é necessário na navegação e no uso


do sistema notacional de mapas. Outra forma de uso dessa inteligência é
quando visualizamos um objeto de um ângulo diferente; o jogo de xadrez.
As artes visuais também utilizam esta inteligência no uso do espaço.

O hemisfério direito é comprovadamente o local mais crucial do


processamento espacial. Um dano nas regiões posteriores direitas
provoca prejuízo na capacidade de encontrar o próprio caminho em torno
de um lugar, de reconhecer rostos ou cenas, ou de observar detalhes
pequenos.

As populações cegas ilustram a distinção entre a inteligência espacial e a


percepção visual. A pessoa cega pode recorrer ao método indireto para
reconhecer formas, passando a mão no objeto que traduzirá na duração
do movimento, que por sua vez é traduzida no formato do objeto. Para o
cego, o sistema perceptivo da modalidade tátil equivale à modalidade
visual na pessoa que enxerga.
Existem poucas crianças-prodígio entre os artistas visuais, porém há
sábios idiotas. Nádia (Selfe, 1977) é autista e no entanto desenhava com
impressionante destreza representacional e exatidão.

Inteligência interpessoal

Exemplo: Com pouco treinamento em educação especial e quase cega,


Anne Sullivan iniciou a tarefa de instruir uma criança cega e surda de sete
anos. Helen Keller apresentou um sinal de compreensão da linguagem e a
partir daquele momento ela progrediu com incrível rapidez. A chave para
o milagre da linguagem foi o entendimento de Anne Sullivan da pessoa
Helen Keller.

A inteligência interpessoal está baseada na capacidade nuclear de


perceber distinções entre os outros; em especial, contrastes em seus
estados de ânimo, temperamentos, motivações e intenções. Em formas
mais avançadas, esta inteligência permite que um adulto experiente
perceba as intenções e desejos de outras pessoas, mesmo que elas os
escondam. O exemplo citado sugere que esta inteligência não depende
da linguagem.

Os indícios na pesquisa do cérebro sugere que os lobos frontais


desempenham um papel importante no conhecimento interpessoal. Um
dano nessa área pode provocar profundas mudanças de personalidade, ao
mesmo tempo que não altera outras formas de resolução de problemas.

A evidência biológica da inteligência interpessoal inclui dois fatores,


geralmente citados como exclusivos dos seres humanos. Um dos fatores é
a prolongada infância dos primatas, incluindo o estreito apego à mãe.
Quando a mãe se afasta, o desenvolvimento interpessoal fica prejudicado.

O segundo fator é a relativa importância da interação social para os seres


humanos. As habilidades tais como caçar, perseguir e matar, nas
sociedades pré-históricas exigia a participação e cooperação de grande
número de pessoas. A necessidade de coesão, liderança, organização e
solidariedade no grupo decorre naturalmente disso.

Inteligência intrapessoal

Exemplo: Woolf num ensaio intitulado A Sketch of the Cast, discute o


algodão da existência. Ela compara o "algodão" com três lembranças
específicas de sua infância: uma briga com seu irmão, ver uma
determinada flor num jardim e ficar sabendo do suicídio de um antigo
visitante. Para a autora, todas as experiências trouxeram para ela um
aprendizado, fossem eles causadores de um estado de choque ou não.
Sendo choques, ela procura uma explicação e atrás de cada um é uma
revelação de algum tipo, é o sinal de alguma coisa real por trás das
aparências e daí elas se tornam reais.

O conhecimento dos aspectos internos de uma pessoa: o acesso ao


sentimento da própria vida, a gama das próprias emoções, a capacidade
de discriminar essas emoções e eventualmente rotulá-las e utilizá-las
como uma maneira de entender e orientar o próprio comportamento.

A pessoa com boa inteligência intrapessoal possui um modelo viável e


efetivo de si mesmo. Uma vez que esta inteligência é a mais privada, ela
requer a evidência a partir da linguagem, da música, ou de alguma outra
forma mais expressiva de inteligência para que o observador a perceba
funcionando.
Os lobos frontais desempenham um papel central na mudança de
personalidade. Um dano na área inferior dos lobos frontais provavelmente
produzirá irritabilidade ou euforia, ao passo que um dano nas regiões
mais altas provavelmente produzirá indiferenças, desatenção, lentidão e
apatia – um tipo de personalidade depressiva. Nesses indivíduos "lobo-
frontais", as outras funções cognitivas geralmente continuam
preservadas. O autista apresenta essa inteligência prejudicada.

A inteligência intrapessoal é aprovada nos testes de uma inteligência e


apresenta uma forma de resolver problemas significativos para o
indivíduo e para a espécie. Ela nos permite compreender a nós mesmos e
trabalhar conosco.

A Existência de Outras Inteligências

O que impede que um teórico ambicioso construa uma nova "inteligência"


para cada capacidade encontrada no comportamento humano? Nesse
caso, em vez de sete inteligências, poderia haver 700!

Uma lista de 700 inteligências seria proibitiva para o teórico e inútil para o
praticante. Consequentemente, a teoria das IM tenta articular apenas um
número manejável de inteligências que parecem constituir tipos naturais.
Existem todas as razões para esperarmos que cada tipo natural tenha
vários subcomponentes. Por exemplo, a inteligência lingüística
claramente implica em vários elementos dissociáveis, tais como as
capacidades de realizar análises sintáticas, ter aptidão literária e aprender
línguas ouvindo. Entretanto, também é provável que , na maioria dos
comportamentos humanos, os vários subcomponentes de uma
inteligência se agrupem, embora apresentem pouca inclinação a
correlacionar-se com subcomponentes de outras inteligências. Esta
afirmação pode ser testada empiricamente.

Por que a inteligência espiritual ou moral não é considerada?

A inteligência espiritual ou moral serve como uma candidata razoável


para uma oitava inteligência, embora existam razões igualmente boas
para considerá-la um amálgama da inteligência interpessoal e da
inteligência intrapessoal, com um componente de valor acrescentado. O
que é moral ou espiritual depende imensamente dos valores culturais; ao
descrever as inteligências, nós estamos lidando com capacidades que
podem ser mobilizadas pelos valores de uma cultura, e não pelos
comportamentos que são, eles próprios, valorizados de uma maneira ou
outra.

Existe uma inteligência artística?

Muitos indivíduos falaram informalmente sobre a inteligência artística ou


as inteligências artísticas, e não vemos nada de errado nessa maneira de
falar – pode servir como uma abreviatura para a inteligência musical, ou
para aspectos da inteligência espacial ou lingüística.
Entretanto, tecnicamente, nenhuma inteligência é inerentemente artística
ou não-artística. As inteligências funcionam artisticamente (ou não-
artisticamente) na medida em que exploram certas propriedades de um
sistema simbólico. Se um indivíduo utilizar a linguagem de uma maneira
comum, expositiva, ele não está utilizando a inteligência lingüística de
uma maneira estética. Se, por outro lado, a linguagem é utilizada
metaforicamente, expressivamente, ou de uma maneira que chame a
atenção para o som ou para as propriedades estruturais, então ela está
sendo usada artisticamente. A mesma
inteligência "espacial" pode ser explorada esteticamente por um escultor,
não artisticamente por um geômetra ou cirurgião. Mesmo um sinal
musical pode funcionar não-artisticamente, como acontece com os toque
de corneta das forças armadas, enquanto muitos padrões derivados de
propósitos matemáticos acabaram sendo expostos em galerias de arte.

A possibilidade de uma inteligência ser utilizada artisticamente é uma


decisão tomada pelo indivíduo e/ou pela cultura. Um indivíduo pode
decidir se vai empregar a inteligência lingüística como escritor, advogado,
vendedor, poeta ou orador. No entanto, as culturas podem favorecer ou
impedir a possibilidade de usos artísticos da inteligência. Em algumas
culturas, quase todas as pessoas desenvolvem algumas capacidades
poéticas; mas Platão tentou eliminar a poesia de sua República.
Claramente, então, o exercício de uma determinada inteligência de
maneira artística envolve um julgamento de valor.

A Perspectiva biopsicológica

Para falarmos e entendermos a Teoria das Inteligências Múltiplas não


podemos esquecer que cada ato cognitivo envolve um agente que
executa uma ação ou uma série de ações em alguma tarefa ou domínio.A
perspectiva biopsicológica examina o agente e suas capacidades,
inclinações, valores e objetivos.

A inteligência é um potencial biopsicológico. O fato de um indivíduo ser ou


não considerado inteligente e em que aspectos, é um produto em
primeiro lugar de sua herança genética e de suas propriedades
psicológicas, variando de seus poderes cognitivos às suas disposições de
personalidade.

Segundo Gardner (1998) o talento é sinal de um potencial biopsicológico


precoce, em algum dos domínios existentes numa cultura sendo a
prodigiosidade uma forma extrema de talento em algum domínio. Mozart,
poe exemplo, se qualificou como prodigioso em virtude de seus talentos
extraordinários na esfera musical. E os termos especialista e perito são
adequados somente depois que um indivíduo trabalhou por cerca de uma
década num determinado domínio.

A criatividade é uma caracterização reservada para aqueles produtos que


inicialmente são considerados uma novidade dentro do domínio embora
acabem sendo reconhecidos como aceitáveis dentro da comunidade
adequada.

O termo gênio deve ser designado para aquelas pessoas ou trabalhos que
não são só peritos e criativos, mas que também assumem um significado
universal ou quase universal.

Na medida em que uma capacidade é valorizada numa cultura, ela pode


contar com uma inteligência, mas na ausência desse endosso cultural, a
capacidade não seria considerada uma inteligência.
Nos primeiros anos de vida as crianças desenvolvem habilidades
simbólicas e conceitos teóricos por meio de interações espontâneas com
o mundo na qual vivem. O desenvolvimento inicial é "pré-domínio" e "pré-
campo". Elas se desenvolvem apenas com uma vaga atenção aos
domínios que existem em sua cultura, e com uma sensibilidade ainda
menor à existência dos campos que julgam. Mesmo que o campo fique
impressionado com os trabalhos das crianças pequenas, elas prosseguem
numa sublime indiferença às operações do campo.
Logo depois que se inicia a escola, as crianças querem conhecer as regras
dos domínios e as convenções da cultura, e buscam dominá-las tão rápida
e prontamente quanto possível.E assim, para Gardner a existência do
domínio, e uma sensibilidade ao campo, surgem como ímpeto.

Este período funciona como aprendizado, um aprendizado rumo à perícia


em domínios específicos, um aprendizado rumo à perícia nos hábitos de
uma cultura. As condições para uma vida criativa (ou não-criativa) já
podem estar sendo criadas, pois a criatividade depende imensamente de
traços de personalidade e disposição, e dos acidentes da demografia.

As idades de 15 e 25 anos representam o momento da verdade no


desenvolvimento da matriz de talento. Suas inteligências estão sendo
desenvolvidas a serviço do funcionamento normal, produtivo, de sua atual
sociedade.

Por volta de 30 a 35 anos a situação fundamental na matriz de talento


provavelmente já foi determinada.

Aí chega-se a perguntas cruciais: O que pode ser feito para estimular o


talento ? Que tipos de desempenhos ou realizações extraordinárias são
desejadas ?

As crianças em diferentes idades possuem necessidades diferentes,


respondem a diferentes formas de informação cultural e assimilam
conteúdos com diferentes estruturas motivacionais e cognitivas, logo os
tipos de regimes educacionais planejados pelos educadores precisam
levar em conta esses fatores desenvolvimentais. Os tipos de modelos
educacionais que são oferecidos às crianças pode demonstrar a direção
que elas poderão tomar, podendo ser encorajadas ou não para a perícia,
criatividade, etc. Em nossa sociedade pode haver modelos contrastantes
sobre os usos do talento e as maneiras pelas quais ele pode ser
desenvolvido.

Qualquer tipo de talento jamais pode ser adequadamente conceitualizado


como existindo unicamente na cabeça ou no corpo dos indivíduos. Os
educadores devem manter em mente os fatores extrapessoais que
desempenham um grande papel no desenvolvimento(ou impedimento) do
talento.

Conclusão

Não existe nenhuma receita para a educação das inteligências múltiplas.


A Teoria das Inteligências Múltiplas foi desenvolvida numa tentativa de
descrever a evolução e a topografia da mente humana. A mente é um
instrumento multifacetado, de múltiplos componentes, que não pode, de
qualquer maneira legítima, ser capturada num simples instrumento estilo
lápis e papel. Portanto, a necessidade de se repensar os objetivos e
métodos educacionais torna-se profunda.
Os neurobiólogos documentaram que o sistema nervoso humano é
altamente diferenciado. Todos os seres humanos normais possuem vários
potenciais, mas por razões genéticas e ambientais, os indivíduos diferem
notavelmente nos perfis particulares de inteligência que apresentam em
qualquer momento dado de sua vida.

Conseguimos "preencher" nossos numerosos papéis e posições mais


efetivamente porque as pessoas apresentam perfis de inteligências
diferentes. Já está estabelecido que os indivíduos possuem mentes muito
diferentes umas das outras.
A educação deveria ser modelada de forma a responder a essas
diferenças, deveria se tentar garantir que cada pessoa recebesse uma
educação que maximizasse seu potencial intelectual, pois nenhum
indivíduo pode dominar completamente nem mesmo um único corpo de
conhecimentos, quanto mais toda a série de disciplinas e competências.

Logo, a Teoria das Inteligências Múltiplas não deve ser utilizada para ditar
um curso de estudos ou carreira, mas constitui uma base razoável para
sugestões e escolhas de matérias opcionais.

Há premência de se direcionar a aprendizagem para a compreensão


ampla de idéias e valores indispensáveis no momento atual e isso poderá
ser obtido a partir de uma metodologia baseada na interdisciplinaridade,
na qual o professor seja um elemento mediador do conhecimento,
exercitando a pesquisa de novos saberes, em sintonia com as
necessidades dos tempos atuais; sem desconsiderar os variados
potenciais de cada aluno.

Que elemento diferenciador e determinante há na personalidade de dois


pintores famosos como Monet e Van Gogh, que, ao retratarem "girassóis",
alcancem um resultado estético tão diferente? Podemos dizer que,
enquanto Monet retrata girassóis leves e brandos, os de Van Gogh, tão
belos quanto os de Monet exprimem a dor e o trágico?

Qual terá sido o papel da escola na formação desses cidadãos que se


permitem usar, abusar e brincar com as imagens, exprimir seus
sentimentos e suas formas próprias de ver a vida, sem cerimônia? Qual
poderá ser o nosso papel, como professores, de abrir as portas da
imaginação, da fantasia, da inventividade ampla como requisito de aceso
à leveza e a uma maneira bem-humorada, e até poética, de levar a vida?

Conhecendo a Teoria das Inteligências Múltiplas, concluímos que na


Escola, o prazer e o desejo de todos não devem submeter-se aos
desígnios da razão, ou seja, importa desenvolver o pensamento lógico e a
cognição, em parceria com as demais dimensões humanas, sempre.

Bibliografia
GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas: a Teoria na Prática. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1995.
GARDNER, Howard. A Criança pré-escolar :como pensa e como a Escola
pode ensiná-la. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
CECI, S.J. On Intelligence ... more or less : a bio-ecological theory of
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Referências Bibliográficas
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5. Gardner. H.;Hatcb, T. Multiple intelligences go to school: educational
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8. Walter,J.M.; Gardner, H. The theory of multiple intelligences: some issues and
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origins of competence in the every world.. Cambridge. Cambridge University
Press, p.163-82

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