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VOLUME III
NÚMERO 1
JAN-JUN/2021
1
Procurador Federal da AGU, Professor de pós-graduação, doutorando em
processo civil pela PUCRS, mestre em processo civil pela UFRGS.
2
Advogado em Direito Social, Professor de pós-graduação, doutor em processo
civil pela PUCRS, mestre em processo civil pela UFRGS.
1 INTRODUÇÃO
Por isso, o texto começa por relembrar os momentos da prova e seus nexos
com as novas tecnologias, tais como audiências por videoconferência, gravações
assíncronas e inteligência artificial.
No que tange à propositura da prova, tem que dizer que a defesa de um direito
prioritário a prova é algo muito sério. Não é de hoje que insistimos que a questão da
admissibilidade da prova não pode ficar ao mero arbítrio do julgador (RUBIN, 2014).
Por sua vez, a avaliação da prova vai se dar quando o juiz decide o caso. O
sistema brasileiro é o da persuasão racional, ou seja, as provas não possuem valor
determinado. Conforme doutrina Reichelt:
Assim, de acordo com o Art. 361 do CPC as provas orais serão produzidas em
audiência, ouvindo-se preferencialmente primeiro o perito e os assistentes técnicos; o
autor e, em seguida, o réu, que prestarão depoimentos pessoais; as testemunhas arroladas
pelo autor e pelo réu, que serão inquiridas. Porém, esse cenário sofreu mudanças drásticas.
Com efeito, a audiência presencial foi substituída por audiências à distância.
Sublinhe-se que se trata, aqui, de possibilidade que, por certo, nunca impediu
a parte de manifestar sua vontade de praticar o ato na sede do juízo, às suas expensas,
mas, antes, sempre foi pensada como uma forma de racionalizar o custo em termos de
despesas e de tempo associados às providências envolvidas na oitiva do relato da parte
em outra comarca, seção ou subseção judiciária. Não haveria fundamento para o
julgador que insistisse em rejeitar o pleito da parte que manifestasse sua preferência por
comparecer espontaneamente à sede do juízo para prestar o seu depoimento pessoal em
audiência designada para tanto. Essa mesma lógica vale, por certo, também para a
possibilidade de produção de prova testemunhal por videoconferência acareação
(REICHELT, 2021, p. 268).
Seja como for, utilizando-se dos negócios jurídicos processuais, seria possível
às partes acordarem de realizarem determinadas audiências na forma presencial,
submetendo o entendimento conjunto à homologação judicial – o que reforçaria a opção
dos litigantes pelo espaço presencial, dadas as questões específicas do caso concreto.
Para Reichelt, um critério que poderia ser levado em conta, para utilizar o
sistema de vídeo conferência, é a maior ou menor comodidade para fins de oferta do relato,
levando-se em conta a perspectiva do depoente a esse respeito. Lógica análoga à acima
apontada pauta a possibilidade de o advogado com domicílio profissional em cidade diversa
daquela onde está sediado o tribunal realizar sustentação oral por videoconferência ou
outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, na forma do
art. 937, § 4º do Código de Processo Civil (REICHELT, 2021, p. 269).
O ambiente virtual tem gerado um efeito colateral, que talvez não fosse imaginado.
Assim, tal ferramenta poderá competir com os homens em todos os campos puramente
intelectuais (TURING, 1950).
Porém, alerta o mesmo autor que esses programas trabalham com estatísticas,
que foram embasadas em processos anteriores; contudo, pode ser que a compilação desses
assuntos tenha sido feita de maneira incorreta (FENOLL, 2018, p. 83-84).
Além disso, lembra Fenoll, que é possível criar um algoritmo que diga ao juiz
se uma hipótese inclui todos os dados probatórios possíveis ou se é possível formular
novas hipóteses probatórias. Tais ferramentas utilizam-se de dados estatísticos
anteriores (FENOLL, 2018, p. 110-111). Pode-se citar, como exemplo, o ALIBI, que
prognostica o comportamento defensivo dos réus (FENOLL, 2018, p. 111): a acusação
afirma que o acusado quebrou o vidro de uma vitrina de joalheria; entrou, atirou e feriu
o joalheiro e, depois, fugiu levando objetos de valor com ele. O ALIBI afirma que “ele”
quebrou o vidro acidentalmente, e que “ele” entrou para deixar uma nota com suas
coordenadas (NISSAN, 2015, p. 452). Assim, as ferramentas de inteligência artificial têm
o condão de colaborar para melhorar o nível de acerto dos julgamentos.
Portanto, as situações listadas no item anterior devem ser vistas com reserva,
porque a prova não pode ser colhida sem respeito aos princípios constitucionais do
contraditório e da ampla defesa. No momento que o advogado toma o depoimento do
seu cliente, sem a presença da parte contrária, existe um aparente desrespeito ao
contraditório, já que o advogado da parte contrária estará impedido de formular
perguntas. E, como se trata de uma filmagem assíncrona, pode-se pôr em dúvida até
mesmo a veracidade das declarações prestadas.
Tem-se que ter cuidado com o uso indiscriminado e sem critério da prova
unilateral e filmada, pois os processos fazem coisa julgada e interferem, por isso,
diretamente na vida das pessoas. Observe-se que o TRF firmou uma tese para combater
a privatização da prova que já tinha se tornado praxe entre os juízes de primeiro grau:
IRDR Nº 17:
Portanto, a outorga da prova para as partes, deve ser vista com certa reserva,
ainda mais se realizada de forma unilateral. Evidentemente que não havendo outras
opções imediatas e com a devida autorização judicial, a prova assim colhida não nos
parece ilícita, embora não seja a forma ideal, repitamos.
Porém, nos parece que, quando presente ambas as partes, elas podem gravar
os depoimentos e remeter ao juízo. Contudo, não pode ser avaliada como prova
testemunhal e sim como prova atípica.
Assim, o sistema de justiça tem que investir em proteção dos dados, pois os
processos são o bem maior dos jurisdicionados, já que lá estão documentos e
informações, muitas vezes, irrecuperáveis. Deve-se por isso, ter a máxima segurança.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Angelo Gamba Prata de (Coord.). Tecnologia jurídica & direito digital: II
Congresso Internacional de Direito, Governo e Tecnologia. Belo Horizonte: Fórum, 2018.
DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
Processo Civil. Salvador: Podivum, 2016. v. 2.
NISSAN, Ephraim. Digital technologies and artificial intelligence’s present and foreseeable
impact o n lawyering, judging, policing and law enforcement. AI& Society, 2015.
OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Do formalismo no Processo Civil. São Paulo:
Saraiva, 2008.
REICHELT, Luis Alberto. Reflexões sobre o Modelo do juízo 100% Digital à Luz do
Direito Fundamental ao Acesso à justiça. In: HAUSCHILD, Mauro Luciano (Org.).
Justiça, cidadania e direitos humanos: homenagem ao Ministro Humberto Martins.
Porto Alegre: Paixão Editores, 2021.
REICHLET, Luis Alberto. A prova no Direito Processual Civil. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2009.
STJ aciona Polícia Federal após sofrer ataque por hackers. Migalhas,4 nov. 2020.
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/335869/stj-aciona-policia-
federal-apos-sofrer-ataque-por-hackers. Acesso em: 4 jun. 2021.
STRECK, Lenio Luis. Que vem logo os intelectuais para ensinares os especialistas.
Conjur. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-mai-30/senso-incomum-
venham-logo-intelectuais-ensinarem-aos-especialistas. Acesso em: 4 jun. 2021.
TJ/RS sofre ataque hacker e suspende prazos processuais. Migalhas, 3 maio 2021.
Disponível em: https://www.migalhas.com.br/quentes/344876/tj-rs-sofre-ataque-
hacker-e-suspende-prazos-processuais. Acesso em: 4 jun. 2021.
TRF-1 sofre ataque hacker e site sai do ar. Migalhas, 27 nov. 2020. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/quentes/337033/trf-1-sofre-ataque-hacker-e-site-sai-do-
ar. Acesso em: 4 jun. 2021.
E ANIMALISMO IN ITALIA
Francesco Rubino 1
1
Ph.D presso l’Università “Federico II” (Napoli), già docente presso l’Università
“Federico II” – SSPF (Napoli), l’università di Paris Est (Créteil) e di Paris Ouest
(Nanterre), e presso l’Università Federale – UFRGS (Porto Alegre), al momento
PV presso il PPGD dell’Università Federale – UFBA (Salvador), dirige attualmente
il Centro Ricerca e Documentazione della FR International (Napoli) ed è
fondatore dell’Osservatorio sui Diritti umani dell’UNISA (Salerno). E-mail:
lawclinicparis.francescorubino@gmail.com. https://orcid.org/0000-0002-6695-
2050
1 INTRODUZIONE
specifico quali di queste insufficienze derivano dalla stessa storia di formazione del
diritto e dei diritti in Europa e nella Penisola che, da Roma in poi, ha dato impulso alla
sistemazione e alla diffusione del diritto in Occidente, finendo per gravare tanto sul
liberalismo politico quanto sulla dottrina dei diritti fondamentali. Evidenzieremo
quattro linee principali di inchiesta per aprire il dibattito su queste insufficienze (bio-
eco)giuridiche-politiche e (bio-eco)filosofiche-etiche a cominciare proprio dall’eredità
complessa e resistente del diritto romano nelle sue varie fasi, incluse le Istituzioni e i
codici (par. 1 e 2), per toccare poi il diritto costituzionale e il costituzionalismo,
soprattutto nella visione originale del “personalismo” in Italia (par. 3), e la visione della
scienza e della tecnologia che la Costituzione stessa propone in dialettica tanto con i
presupposti della crescita economica (par. 4), quanto con quelli filosofici ed
ermeneutico-linguistici della bioetica e della “pura vita” (par. 5), che fanno parte dello
stesso blocco tematico, quanto infine con quelli etologici e della sociologia (par. 6).
Sottolineiamo, per concludere, che in ognuno di questi grandi complessi tematici
(personalismo; scientismo, epistemologia e visione della scienza e del suo rapporto con
il potere; bioetica, biodiritto, ecoetica; etologia, personalismo biologico e sociologia) il
dibattito filosofico è invece intenso e vivace, benché, appunto, si svolga in maniera
spesso tautologica e contraddittoria, come il lettore potrà eventualmente valutare, se ne
ha voglia e piacere, e dunque confermare o dissentire all’esito della lettura, che non
tralascia il dibattito in corso sulla malattia e la pandemia (come nuova forma di terrore).
Come è noto infatti – anche se, ad esempio, proprio Norberto Bobbio, cioè il
più rilevante filosofo del diritto e della politica del Paese fino a tutti gli anni ’90 inclusi,
evita di farvi espresso riferimento, e questa ‘omissione’ si rivelerà davvero ‘costitutiva’
anche del nostro diritto contemporaneo 2 – la cultura dei diritti si concentra su categorie
o gruppi, minoranze o nazioni, individui e vittime, e non invece direttamente sulla
“comunità umana” come soggetto (globale, planetario) in sé, o sulla classe sociale come
polo dialettico della storia, né naturalmente sulla norma giuridica come se fosse essa
stessa un soggetto di diritto o essa stessa istituisse tanto il diritto quanto i diritti
(nonostante, e quasi per paradosso, sia proprio il normativismo ad avere consentito lo
sviluppo e il netto consolidamento della cultura dei diritti umani contro la cultura del
diritto). A nostro parere, dunque, la persona umana come essere biologico o animale, gli
animali in generale e, seppure con maggiori sfumature, l’ambiente, nelle sue tante
caratterizzazioni storiche, non hanno mai costituito nel tempo un soggetto di diritto
2
Bobbio (1990), per quanto riguarda la filosofia del diritto, Bobbio (1981, 1997), per la filosofia politica.
meritevole della tutela da parte del sistema dei diritti, benché animali e ambiente
rientrino a pieno titolo (ed è finanche ovvio che sia così) nell’ordinamento giuridico di
tutte le civiltà pre-romane, della Repubblica, dell’Impero, e delle tante turbolente fasi
successive della storia di Roma e del Mediterraneo 3. E intendiamo dire proprio che a
causa della nuova e recente cultura dei diritti, affermatasi nella seconda parte del
Novecento, non riusciamo a comprendere quale fosse la cultura del diritto (e non dei
diritti, ché non esisteva) degli animali come personae, e dunque anche dell’animale
umano, nelle epoche e nei contesti precedenti al nostro 4. Il che, a ben vedere, è davvero
paradossale se solo si pensa alle numerose e ricorrenti implicazioni religiose e
metafisiche, e dunque politiche, dell’immagine dell’animale nelle culture e nelle
politiche sociali, a qualsiasi livello. Ma anche se si volessero considerare gli animali come
cose o come oggetti, e dunque se si volesse arbitrariamente mettere da parte la loro
enorme importanza religiosa e filosofica in tutte le epoche e in tutte le culture antiche,
i problemi non diminuiscono affatto. Ad esempio, come già altroce abbiamo riportato,
a Roma gli animali vengono studiati dal punto di vista della proprietà nel diritto romano 5
o dal punto di vista della comprensione dello statuto della loro soggettività giuridica 6, e
magari anche analizzati nella loro dialettica di schiavitù assieme agli altri diritti dei
“servi” nei vari ordinamenti romani 7, ma non vengono compresi in una visione sistemica,
né sistematica, del diritto romano in sé (certo, nelle varie epoche e con le tante faglie e
trasformazioni adattative che ne hanno fatto un fenomeno vivo ancora oggi, e non solo
nelle università e nella ricerca scientifica sulle culture classiche). E si badi che non esiste
3
Non coglie (o non la condivide) questa distinzione, che a nostro avviso è fondamentale, uno dei più
interessanti studiosi di diritto degli animali nell’antichità e nel sistema romano, Pietro Paolo Onida, di
Sassari (ONIDA, 2012). Da altra prospettiva, sempre in diritto e sempre con riferimento alle tradizioni
antiche e di diritto romano, non compie la necessaria distinzione tra diritto e diritti anche Pocar (1998).
4
Si veda ad esempio, espressamente fin dal titolo, MAZZONI, Cosimo Marco. La questione dei diritti degli
animali. In: CASTIGLIONE, Lombardi Vallauri. La questione animale volume tematico di RODOTA;
ZATTI (2011, es. pp. 281, 283).
5
Si veda ad esempio il ricchissimo studio di uno dei più grandi giuristi italiani di sempre: GUARINO, Antonio
(disponibile ora liberamente online: vorremmo rinviare alle belle osservazioni dell’Autore sulla mancipatio
simbolica dell’animale o ai motivi dell’esclusione di alcune specie animali dal catalogo delle res mancipi), e in
particolare l’illuminante “pagina” dal titolo Collo dorsove domantur (1968).
6
Naturalmente bisogna considerare che il possesso o la proprietà di animali non è in alcun modo
comparabile con quanto si presenta oggi, ad esempio nelle aziende agricole o nei grandi allevamenti
industriali: il fatto che l’animale fosse una res, un bene, implicava che la proprietà fosse, da questo punto
di vista, una condizione giuridica e fattuale molto più complessa e articolata, e che il passaggio di proprietà
o l’alienazione di tali beni fosse assistito da maggiori garanzie per il bene stesso. Con riferimento agli
animali come proprietà e agli animali selvatici si veda ad esempio Venchiaruti (1987). Anche per una
discussione sull’adattamento degli istituti giuridici all’industrializzazione dell’antica Roma rinviamo a
Guarino (1968: 227 ss.).
7
Si pensi ad esempio alla controversia tra Sabiniani (che ampliavano la nozione di animale come bene
giuridico a tutti i capi astrattamente vendibili o addomesticabili, o in ogni caso trasferibili) e i Proculiani
(che invece restringevano la nozione di animale come bene solo ai capi già addomesticati o già posseduti),
sulla quale finisce per non prendere posizione proprio il celeberrimo giurista Gaio, il quale era sempre
attento alle conseguenze sull’ordinamento romano delle trasformazioni sociali ed economiche (in questo
caso, si trattava dell’enorme afflusso a Roma, verso il primo secolo e mezzo dell’Era comune, di vaste
mandrie di buoi e altro bestiame da soma che veniva ora destinato anche alla macellazione o a nuovi e più
vasti circuiti commerciali, il che, come è evidente, differenziava di molto l’assimilazione giuridica tra servi,
lavoratori schiavi, e animali).
ancora la nozione di ambiente ma, al massimo, quella di vivente (che fonda una sorta di
bioetica ante-litteram).
8
Molto di recente, raccolti da L. Chieffi e F. Lucrezi, i saggi di bioetica dello storico del diritto romano, e
già presidente della Corte costituzionale, Francesco Paolo Casavola (2019).
9
Certo, sforzandosi anche in modo encomiabile di ricostruire una soggettività giuridica dell’ambiente e delle
risorse naturali o di condizioni come la biodiversità o le tradizioni comuni dell’umanità. Per una ricostruzione del
diritto fraterno nel contesto dell’ecologia politica rinviamo a Martini e Rubino (2018). Per un inquadramento
espositivo generale, si veda naturalmente Resta (2007).
Assieme alle costituzioni repubblicane, poi, va detto che i diritti sociali sono
bensì una creazione del periodo tra le due grandi guerre del Novecento, che si consolida
poi nella nuova stagione costituzionale che segue la seconda guerra (e lo sono tanto negli
stati democratici quanto in quelli fascisti). Ma, assieme alle costituzioni monarchiche
(soprattutto le costituzioni di tipo “materiale” e non “formale”, come quella inglese e
quelle britanniche, ma anche quelle medio-orientali), i diritti sociali sono anche
un’invenzione un po’ più antica, di circa un millennio, e quasi precedono l’unificazione
dell’Inghilterra all’indomani del primo millennio dell’Era comune. E anche in questo
caso sono il frutto di una negoziazione tra le classi sociali agricole e tra le popolazioni
migranti della Scandinavia e quelle indigene, e con il consueto zampino anche qui dei
Romani. Insomma, semplificare sarebbe davvero un grande errore! Le epoche dei diritti
sono legate alle costanti negoziazioni tra le classi sociali e i popoli, le nazioni, i gruppi al
potere, le classi operaie e i ceti dei lavoratori e dei funzionari, ecc., mentre le epoche del
diritto sono caratterizzate dai cicli evolutivi delle comunità umane nel loro complesso,
e si articolano ai cicli della scienza e della tecnologia, più che a quelli della politica e
della cultura 10. Detto ancora diversamente: il diritto è il prodotto dell’evoluzione di una
specie, quella umana, mentre i diritti sono, all’interno di quella evoluzione, una
formazione di compromesso contingente e mutevole (anche il diritto è mutevole, ma nel
senso che è sottoposto alle leggi dell’evoluzione umana e ai grandi processi di “armi,
acciaio e malattie”, o a fenomeni globali come le catastrofi naturali e le mutazioni
climatiche che da sempre si succedono nella lunghissima storia delle specie animali,
determinandone dunque in concreto la concorrenza, la sopravvivenza o l’estinzione).
10
Un esempio tanto chiaro quanto sistematicamente ignorato – finanche nel folgorante Habermas (1992),
un testo che ha rilegittimato in Italia la visione della democrazia come processo – riguarda il processo
giudiziario, che serve sia al diritto violato da ripristinare sia ai diritti violati da reintegrare, con una
confusione storica che definiremmo, senza esitazione, tragica. Anche qui la confusione ha origine nel
diritto romano, e in particolare nella sovrapposizione tra diritto classico e diritto imperiale, quest’ultimo
tendente ovviamente alla uniforme applicazione del diritto (tramite i pretori inviati nelle province) e non
alla tutela dei diritti. Ed è questo scopo di garanzia dell’unità dell’ordinamento, sia detto en passant, che
è anche alla base dell’istituto della giuria come espressione degli interessi del territorio e non come
strumento di garanzia dei diritti delle parti.
11
Ed è solo per questo errore di prospettiva che risulta possibile estendere agli “animali non umani” i diritti
e le libertà negoziate invece dagli “animali umani”. Ed è per questo errore di prospettiva che è possibile
fondare la bioetica su un oggetto che per sua stessa natura non è persona, né soggetto, anche se è
indubbiamente biologico, zoologico ed etico, finanche sacro in alcuni contesti, quale è l’embrione.
Un’interessante ricostruzione a proposito dell’embrione viene dal noto matematico di Torino, Piergiorgio
Odifreddi, da sempre impegnato a descrivere i limiti epistemologici della cultura scientista italiana: es.
Odifreddi (2007: 72).
12
Rinvenute nel 1816 e restaurate sotto la direzione di Von Savigny, prima, e dal romanista (e importante
resistente e futuro ministro) napoletano Vincenzo Arangio Ruiz, in seguito.
13
La scrittura delle Istituzioni ha ricevuto una recente attenzione proprio nel corso del 2020 con la
riedizione critica delle stesse Istituzioni in Babusiaux e Mantovani (2020).
14
È interessante annotare che la lettera che, in punto di morte, l’imperatore Adriano scrive e destina al
suo successore Marco Aurelio nel libro della Yourcenar comincia proprio con parole dense di significato
anche ai fini di questa nostra breve ricostruzione: “Animula vagula blandula…”
15
Rinviamo ad alcuni nostri studi: Magliacane e Rubino (2009; 2019); Rubino (2008; 2020).
16
Se ne veda ad esempio un’introduzione filosofica in Castignone (2002).
17
Sulla tradizione filosofica del concetto di persona (anche nel Corpus) si veda ad esempio lo studio di
Sebastiani (2009: 192), e in generale Furlan (2009).
18
Un tentativo molto interessante di ricostruzione del ius naturale viene dai giuristi brasiliani Heron
Gordilho e Cristovão Dos Santos, che in maniera impeccabile arrivano a proporre, non solo una visione,
ma anche una serie di possibili traduzioni alternative relative alle Institutiones nel contesto di una
ricostruzione ermeneutica e filosofica del Ius naturale: si veda Gordilho e Santos Junior (2019: es. 130, Par.
6, “Aquisição da propriedade animal por ius naturale”). Per un quadro filosofico preliminare si veda anche
Gordilho e Silva (2016). Si veda anche la recente versione di Gordilho e Santos Junior (2020). In particolare
il lavoro negli anni di Heron Gordilho, di Salvador, ci sembra tra i più interessanti e ricchi per proporre
una visione integrata dell’animalismo e del diritto degli animali.
19
Sulla filosofa animalista Silvana Castignone: Donadoni e Fanlo Cortes (2018).
Una volta che la stagione dei diritti avesse poi raggiunto una certa maturità e
stabilità, e cioè dopo le Rivoluzioni e le insurrezioni del Settecento e lungo tutto
l’Ottocento, in una prima stagione storica moderna, e dopo la seconda guerra, in una
seconda stagione moderna (quella che li ha definitivamente sistematizzati), si sarebbe
cercato di costituire un corollario, tanto poco scientificamente fondato quanto poco
tenacemente perseguito, quello cioè di attribuire soggettività giuridica e personalità
giuridica agli animali, seguendo un percorso che finirà per rivelarsi altrettanto inefficace
e anti-scientifico anche e proprio a proposito di eventuali diritti dell’ambiente.
Ripetiamolo ancora brevemente a vantaggio del lettore, qual è questo malinteso e quale
questo indebito ampliamento. Da un lato, infatti, non si capisce perché bisogna
estendere agli animali non umani una sfera di soggettività e di personalità sul piano dei
diritti che si è nel tempo rivelata problematica anche per gli animali umani 20. Dall’altro,
invece, non si comprende sul piano scientifico il perché di questa grande divisione tra
gli animali umani e gli animali non umani (che dovrebbero in astratto ricomprendere, e
in maniera non poco problematica, tutte le altre specie animali, e con quali limiti poi?).
Un esempio di questo malinteso è la proposta di modifica dell’art. 9 della Costituzione
italiana, presentata alla Camera dei deputati con la proposta di legge C. 306 del 13 marzo
2013. Questo il testo nella nuova versione proposta: “La Repubblica tutela il paesaggio e
il patrimonio storico della Nazione, l’ambiente e la biodiversità, promuove il benessere
degli animali in quanto esseri senzienti” 21. La proposta di modifica della Costituzione
20
E anche il tono di denuncia con cui viene semplicemente riportata un’evidenza semplice e
incontestabile, assume invece spesso la portata di una svolta epocale. Ad esempio Francesca Rescigno
denuncia che finora “il patrimonio dei diritti è stato considerato esclusivamente al servizio del genere
umano”, “il che – chiarisce Micaela Lottini – ha escluso che gli animali potessero essere riconosciuti come
portatori di diritti ed interessi”. Si vedano Rescigno (2014, p. 51); Lottini (2018, p. 13).
21
Il testo attualmente in vigore è il seguente. “La Repubblica promuove lo sviluppo della cultura e la ricerca
scientifica e tecnica. Tutela il paesaggio e il patrimonio storico e artistico della Nazione.” Sia detto sin d’ora:
l’aspetto più interessante dell’intero dibattito sull’articolo è di certo la formula “paesaggio”, che invece risulta
purtroppo acquisita come un dato a-storico o de-storicizzato anche nei lavori di maggiore buona volontà sul tema,
tra cui ad esempio quelli di Salvatore Settis (2010; 2017), o di Tomaso Montanari (2013). Intendiamoci: quando
parliamo di un vizio di “de-storicizzazione” non ci riferiamo al fatto (ovvio, e segnalato correttamente dagli autori)
che la nozione di “paesaggio” ha una storia, e anche molto antica! Né ci riferiamo alla denuncia del fatto che
rispetto di quella storia lunga e antica le culture e le istituzioni non si rivelano oggi all’altezza… Ma che la storia
del paesaggio (proprio perché le culture e il diritto non ne dimostrano consapevolezza se non tardiva e
insufficiente) non segue i criteri interpretativi che noi adottiamo oggi, alla luce di quelle culture e di quel diritto
era il frutto di un dibattito lungo e articolato, ma anche molto confuso (e non poco
ambiguo, sotto aspetti diversi) 22. Naturalmente, non è la confusione sintattica che
intendiamo evidenziare, e che è peraltro indiscutibile 23. Né ci limitiamo a stigmatizzare
la limitazione del benessere degli animali alla sola condizione di “esseri senzienti”, che
è forse la più problematica e la più ambigua tra le condizioni che l’animalismo degli anni
Ottanta del secolo scorso abbia mai offerto (e lo ha fatto Peter Singer assieme a John
Rawls 24, e in Italia lo avevano già fatto in maniera già articolata e complessa i pionieri
che si rivelano inconsapevoli e inadeguati! Ad esempio Settis (uno dei più importanti intellettuali italiani, se non
il più importante in materia artistica e ambientale), in apertura del suo volume del 2017 sopra citato (che raccoglie
le sue lezioni presso l’Università della Svizzera italiana dell’anno 2014-2015) segue e riporta correttamente le
vicende drammatiche della separazione dei concetti di arte e paesaggio (con le poche eccezioni, ad esempio a
Venezia fine ‘700), ma da questa illecita e risalente separazione fa derivare ‘soltanto’ il plauso per le costituzioni
della Repubblica di Weimar (1919) e della Repubblica italiana (1948) che hanno invece sanato questa ferita, senza
considerare ad esempio che nella Venezia del ‘700 il concetto di paesaggio non potesse in alcun modo essere
avvicinato a quello del regno etiope del 900 EC o dell’Italia resistenziale e post-resistenziale degli anni ’40, se non
al rischio di un involontario gesto razzista, come per dire cioè (e questo è inaccettabile, tanto sul piano scientifico
quanto su quello politico) che fino ad ora negli altri sistemi non si è mai difeso il paesaggio e che tocca a noi il
compito di farlo bene e per primi.
22
Tra i vari protagonisti, tra i giuristi, citiamo almeno Rescigno (2005). Bisogna notare che l’art. 9 è stato
spesso messo in relazione con l’art. 33 Cost. che sancisce l’assolutezza della libertà della scienza e del suo
insegnamento (correlazione che, naturalmente, si giustifica da sé), ma non con l’art. 7 Cost. che invece
stabilisce un principio di reciproca influenza, non tanto tra Stato e Chiesa cattolica, ma tra scienza e
religione, che ha costituito un’ipoteca pesantissima sulla radicalità dell’affrancamento delle visioni
scientifiche dal loro fondo ideologico e di cultura popolare, così come dai condizionamenti che la religione
giustificava tra progresso scientifico e razzismo o tra innovazione tecnologica e capitalismo, o tra libertà
di pensiero (fondamentale per ogni attività di ricerca scientifica) e conformismo di ideologie e
comportamenti. Va da sé che anche la “questione animale” sia rimasta vittima di questa reciproca
influenza tra religione e scienza (e senza che il pensiero laico si sia fatto carico della “questione animale”,
ridotta anzi al dibattito sull’utilitarismo e sull’antropocentrismo).
23
Per capirci, “ambiente”, “biodiversità” e “benessere” sono tre concetti diversi e non comparabili tra di
loro, che appartengono a tradizioni differenti e che hanno statuto politico e filosofico autonomo. Il
benessere è una condizione (individuale o collettiva) che, non soltanto ha una vasta estensione semantica
(dalla semplice assenza di malattia al pieno dispiegarsi della libertà e della personalità), ma sembra anche
appartenere a una tradizione relativistica, quasi personalistica (e che, se invece fosse “socializzabile”
diventerebbe l’occasione per una deriva totalitaria o autoritaria). La biodiversità è invece una condizione
degli ecosistemi o della biosfera che però è anche un principio quasi normativo: posto, cioè, che la natura
si presenta in territori biologicamente diversi tra di loro e ricchi di diversità (anche quelli più antropizzati),
questa caratteristica va tutelata. Non è dunque un principio scientifico, ma un’estensione di un principio
di protezione della natura nella forma in cui si presenta, e che noi tuttavia… non conosciamo! Quanto al
concetto di ambiente, la sua ricchezza semantica è forse pari solo alla sua altrettanto ricca ambivalenza,
del tutto inservibile sul piano costituzionale: l’ambiente è “ostile” ma anche “sicuro”, è oggetto dell’attività
umana di protezione ma è anche l’insieme naturale che comprende la stessa attività della specie umana,
è la concretizzazione del concetto astratto di natura ma anche di società, territorio, lavoro, salute, ecc. Si
veda Lewis e Maslin (2019).
24
Per una discussione si veda Nussbaum (2001). Specificamente sugli animali Nussbaum (2007).
dei diritti degli animali Piero Martinetti 25 e Cesare Goretti 26). Per non parlare di concetti
che erano appena entrati nel contesto filosofico degli anni Ottanta (quale ad esempio
quello, tanto improprio quanto efficace, di “micro-organismo”) 27 per finire travolti
immediatamente dalle epidemie di HIV 28. O, ancora, l’abrogazione dell’arte come
patrimonio da tutelare, e la cancellazione della scienza, della cultura e della tecnologia
come principio fondamentale dell’attività d’impresa, da un lato, e come luoghi della
costruzione della personalità individuale e collettiva, dall’altro 29. È invece l’aspetto
sistematico che risulta davvero pericoloso nel testo della riforma, e per vari motivi. Tra
questi, il principale è che questa “sistematica” distingue e separa i concetti tra di loro, il
paesaggio dall’ambiente, e il benessere degli animali dalla biodiversità e dal paesaggio.
E, ovviamente, purtroppo, alla base di questa confusione giuridica vi è la limitazione del
concetto di paesaggio e il suo depotenziamento nella dinamica costituzionale: da
concetto inserito a pieno titolo nella radice resistenziale e antifascista della Costituzione,
ad esempio, e proiettato nella dialettica tra scienza e potere come indicatore di
complessità e misura di equilibrio e adattamento tra ricerca scientifica e conquiste
tecnologiche, a semplice sfondo delle attività degli animali umani e delle altre specie
25
Del grande Piero Martinetti, collega di Antonio Banfi a Milano, antimilitarista in occasione della prima
guerra e poi unico filosofo a rifiutarsi di sottoscrivere il manifesto fascista (pagandone poi le conseguenze
con l’arresto a Torino nel maggio 1935 assieme a sostenitori di Giustizia e Libertà e ad altri intellettuali
della casa editrice Einaudi), si legga almeno Martinetti (1999). Sulla filosofia degli animali come esseri
senzienti in Martinetti, si veda Vigorelli (2007).
Pietro Martinetti, che peraltro è anche il filosofo che ha fondato eticamente la scelta vegetariana, è oggi
ingiustamente dimenticato, ma a nostro parere le sue riflessioni sono di gran lunga più articolate e
complesse di quelle di altri filosofi animalisti, ben più noti e ‘rassicuranti’ degli anni ’70 e ’80. Diremo
soltanto che per Martinetti nessun allevamento di animali avrebbe goduto di legittimità morale e
filosofica, neppure quelli australiani che, seppure in funzione di compromesso, hanno invece finito per
‘rassicurare’ Peter Singer.
26
Com’è noto, fu proprio il filosofo antifascista Goretti a considerare l’animale come “soggetto di diritto”.
E in effetti, anche Goretti si rivela di gran lunga più progressista di grandi filosofi animalisti come Peter
Singer, in quanto per l’intellettuale militante torinese la questione filosofica e scientifica non è la
percezione del dolore (che potrebbe costituire un fondamento per una morale compassionevole, una
“pietà verso gli animali”, appunto) ma la percezione della regola di gruppo, cioè una sorta di fondamento
etico della vita animale (Martha C. Nussbaum riprende questo argomento in alcuni passi de L’intelligenza
delle emozioni, a proposito ad esempio dell’elaborazione del lutto o della vita sessuale, e soprattutto in
Frontiers of Justice, entrambi sopra citati, a proposito ad esempio di un felino che si comporti in maniera
violenta o aggressiva al di là delle necessità).
Su Goretti si veda ad esempio Pisanò (2012: es. p. 39, 48), o anche Di Lucia (2002).
27
Si veda ad esempio, tra i pochi lavori italiani dedicati ad Hans Jonas quello di Michelis (2007), che
segnaliamo tanto perché è un’ottima ricostruzione del pensiero del più completo filosofo della bioetica e
della eco-etica, quanto perché, d’altra parte, segnala proprio una delle lacune fondamentali della visione
bioetica italiana negli anni 2000, non rintracciando nel lavoro di Jonas (che pure ne è invece davvero ricco)
la presenza della riflessione etica e bioetica su virus e batteri. Aveva segnalato questa presenza invece nel
lavoro di Jonas (e l’aveva anche stigmatizzata, come esempio di antropomorfismo del vivente) ad es.
Donnelly (1979).
28
Ne aveva parlato in maniera olistica (da parte filosofica cristiana), dei virus e batteri come facenti parte
della vita anche umana, dunque, Vanni Rovighi (1980: es. 72).
29
Ritorna su questa contraddizione tra scienza, arte e potere (a partire dalla ambivalenza irriducibile “che
ogni pharmakon porta con sé” in Foucault) uno dei più noti filosofi animalisti italiani, Massimo Donà
(2020).
30
Se ci viene passata un’osservazione polemica, ancora una, diremo che la maniera in cui i costituzionalisti
italiani hanno trattato il paradigma del paesaggio è indegna di una Costituzione come quella italiana del
1948 e di un ceto intellettuale e scientifico come quello che era pure confluito nell’assemblea costituente.
Una variante interessante e proficua, ma purtroppo non meno ambigua, è quella della “nuda vita” proposta
da Giorgio Agamben nella sua bella raccolta di “quadri” sulle relazioni tra uomo e animale: Agamben
(2002). A nostro parere, di Agamben si rivela ben più efficace la formula di stato d’eccezione applicata alla
concorrenza tra le specie. Ce ne occuperemo tra qualche paragrafo. Non è ovviamente un caso che sia
proprio Agamben – e proprio per queste sue costanti analisi sulla “nuda vita” e sulla “persona (come)
animale”, al di là di come la si pensi al riguardo – il filosofo che si sia più speso nello scorso anno, fin
dall’inizio delle epidemie, contro l’aspetto totalitario e assolutistico della visione pandemica.
31
E lo stesso discorso potrebbe rivolgersi anche alle intelligenze artificiali, ovviamente (aspetto anche
questo interamente taciuto nell’attuale dibattito su scienza e politica, benché costituirà la più grande
rivoluzione sociale del lavoro del futuro). Si veda Rubino (2021).
32
Un’ottima introduzione al filosofo e giurista del personalismo è Pomarici (2007).
33
Una bellissima introduzione a questo complesso nodo tematico viene da Giorgio Baratta e altri per
l’associazione “Terra Gramsci” e per l’Archivio Antonio Pigliaru nel volume Il soldino dell’anima: Antonio
Pigliaru interroga Antonio Gramsci. Cagliari: CUEC (COMITATO TERRA GRAMSCI – BARATTA, 2010).
34
Sul personalismo nella dottrina giuridica di Moro rinviamo all’approfondito studio di Pisicchio (2012).
E tuttavia, come spesso abbiamo osservato, un quadro che fosse solo teorico
o filosofico non renderebbe certo giustizia alla complessità dei temi in gioco. Nel quadro
della guerra fredda la ricerca e l’innovazione tecnologica del nostro Paese sono state
infatti entrambe condizionate dalle esigenze strategiche di approvvigionamento
energetico, con la conseguente deleteria sovrapposizione di “ambiente” (inteso nella sua
complessità) e “territorio” (inteso come risorse). E in una cultura economica
profondamente ancorata al territorio – dalle estrazioni all’agricoltura e agli allevamenti,
in condizioni di arretratezza cronica di infrastrutture e trasporti – lo spazio per una
cultura olistica progressista si riduce in ragione del crescente sfruttamento delle risorse,
secondo un paradigma proprio della crescita economica che, almeno in età moderna,
era stato ampiamente sfruttato nelle cd. “guerre indiane” negli Stati Uniti d’America 35 o
nella pratica del reinvestimento produttivo nelle colonie inglesi come l’Australia o
l’Indocina 36. (E, sia detto tra parentesi, non è un caso che sarà proprio il movimento anti-
coloniale tra gli anni ’20 e ’60 del secolo scorso che si incaricherà per la prima volta nella
storia moderna di costruire una riflessione politica e filosofica sulla cultura delle specie
animali e dell’ambiente, in parallelo con la cultura dei mari e degli oceani che nel
frattempo si sviluppava nella Società delle Nazioni, prima, e all’Onu su tenace impulso
sovietico, poi) 37. Ora, bisogna purtroppo rilevare che il ritardo scientifico italiano in
relazione all’accelerazione internazionale a guida statunitense e sovietica, soprattutto
nel periodo fascista in Italia e in Europa, fu alla base della legittimazione di uno
scientismo che potremmo definire con Lombardo Radice “ingenuo” o “ingenuamente
35
Un’ottima ricostruzione è ad esempio nell’approfondita ricerca di Valtz Mannucci (2007: 141 ss.).
36
Ancora riteniamo che uno dei testi migliori per contestualizzare queste dinamiche si quello di
Hobsbawm (1987, 2019). Peraltro, è interessante notare sin d’ora che le dinamiche descritte da Hobsbawm
sono anche alla base della comprensione tanto del femminismo quanto del diritto animale e delle
posizioni animaliste: si veda ad esempio l’ottimo volume a cura di Adams e Donovan (1999). Inutile
ovviamente riportare qui l’ampia ricostruzione che una studiosa come Carol J. Adams ha nel tempo
proposto: basti qui citare soltanto la recente riedizione aggiornata, sulla pornografia della carne, di Adams
(2020), sulla quale non è ovviamente questa la sede per soffermarsi adeguatamente.
37
Va notato che, sempre nell’ambito della guerra fredda, il diritto delle acque e degli oceani andò di pari
passo con le esigenze spionistiche dei due blocchi principali, in una feconda logica degli interessi reciproci
e in una dottrina del “mutuo vantaggio” che si affermò quasi senza incidenti (solo poche eccezioni,
soprattutto tattiche, come la vicenda nota come “missili di Cuba” nell’ottobre 1962) fino alla “distensione”
(in realtà molto più turbolenta, bellicista e guerreggiata) degli anni ’80 e ’90.
Per altri versi, noteremo che l’etologia cognitiva (centrata in gran parte sui mammiferi, e nella maniera
più originale e sorprendente proprio sui mammiferi marini) ha costituito la base (sistematicamente
dimenticata o ingiustamente sottovalutata) della bioetica. Questa importante base scientifica avrebbe
consentito, ad esempio, proprio l’ampliamento dei confini della specie umana, sul presupposto della
aumentata possibilità di comunicazione interspecifica!
deterministico”, che non seppe in alcun modo approfittare della grande apertura di
credito che veniva offerta dalla Costituzione con il riconoscimento della libertà di ricerca
scientifica e artistica e della libertà di insegnamento (art. 33-I: “l’arte e la scienza sono
libere e libero ne è l’insegnamento”, secondo la proposta del costituente comunista e
celeberrimo rettore antifascista Concetto Marchese, su cui SILVESTRI, 2019: 17). Tre
tragici esempi che anticipano gli anni ’50 e ’60 e ci aiutano a comprendere lo
smantellamento della cultura scientifica progressista in Italia, e che qui possiamo
soltanto limitarci a segnalare, sono quello del fisico nucleare ante-litteram Ettore
Majorana (che per fuggire dall’obbligo di lavoro per i nazisti e i fascisti, in una classica
storia di intrecci di servizi segreti e governi, si ritirò segretamente in un convento
siciliano nel marzo 1938) 38, del fisico premio Nobel Enrico Fermi (che, per sfuggire ai
fascisti e ai nazisti emigrò a New York e Chicago, acquistando la cittadinanza
statunitense, e fu uno dei padri “non pentiti” della bomba atomica) 39, e infine del fisico
Bruno Pontecorvo (che, per sfuggire ai fascisti e ai nazisti, si rifugiò nel 1950 in Unione
sovietica acquistandone la cittadinanza) 40. Volendo semplificare, diremo che in Italia
accadde negli anni ’50 e ’60 quello che accadde più recentemente anche in altri grandi
produttori mondiali che venivano da un’economia per gran parte agricola e di recente
riconversione e rilancio industriale. E cioè un netto dominio delle tecniche produttive
sulle discipline scientifiche, decapitate tragicamente dall’emigrazione intellettuale e
dalla mancanza di investimenti. Per quanto attiene all’oggetto di questo saggio, ad
esempio, rileviamo che crebbe a dismisura la produzione industriale nel settore agricolo
e in quello dell’allevamento, mentre tanto la ricerca avanzata (sull’etologia cognitiva o
sulla cibernetica animale) quanto quella di base (si pensi alla bio-geo-chimica o al
rapporto problematico tra sociologia animale, etologia e zoologia) rimasero per lunghi
periodi ferme e si arrestarono a un livello essenzialmente didattico, incerto e incostante
nei metodi e nei protagonisti 41. In questo contesto – caratterizzato, lo ripetiamo, da
un’incostante crescita della ricerca di base e di quella applicata, e da una diffusa
incertezza sui limiti e le prospettive dei principi costituzionali di libertà di ricerca e di
insegnamento, sullo sfondo di un orientamento religioso dell’oggetto trascendente
(tempo o spazio o divinità è lo stesso) della metafisica e della scienza – la questione
38
Il libro tuttora migliore su Majorana è quello del grande conterraneo del fisico, Leonardo Sciascia
(SCIASCIA, 1975). Ma va anche menzionato in questo contesto il recente studio di Agamben (2016).
39
Si veda il recente volume scritto da due grandi fisici e testimoni delle ricerche di Fermi come Gino Segrè
e Bettina Hoerlin (SEGRE’; HOERLIN, 2017).
40
Bruno Pontecorvo è fratello del celebre regista Gillo Pontecorvo e cugino diretto del celebre giurista
italiano Tullio Ascarelli. Una ricca ricostruzione è del fisico di Oxford, Frank Close (2016).
41
In Italia ebbero ad esempio un grande successo commerciale alcuni lavori (non i migliori) dell’etologo
nazista Konrad Lorenz tra cui il noto L’anello di Re Salomone o altri articoli sulla “sensibilità” degli animali
e sui “crimini contro gli animali”, sulla base della stessa controversa (e francamente inaccettabile)
gerarchia di sensibilità tra i mammiferi superiori e quelli invece di altre specie “inferiori”, che è un primo
esempio comunque di estensione agli animali dei diritti umani. Un’eco minore sul piano della
divulgazione ebbero altri lavori, di netta impronta anti-lorenziana, come quello pionieristico dello
psichiatra basagliano (e anche rinomato malacologo) siciliano Nino Rubino (RUBINO, [1968] 2016).
animale era destinata a restare ai margini del dibattito politico, filosofico e giuridico, e
più tardi bioetico e ambientalista, con poche eccezioni (RUBINO, 2003; 2020). 42
Solo perché qualcosa come una vita animale è stata separata all’interno
dell’uomo, solo perché la distanza e la prossimità con l’animale sono state
42
Va infine segnalata una sorta di eccezione al contrario, relativa al Partito comunista, il quale era
sicuramente l’unica forza politica e culturale che, anche grazie alla elevata qualità delle riviste di area
politica, si era impegnata per la promozione di una visione laica e politica dell’ecologia, con una presenza
considerevole e tendenzialmente egemonica delle avanguardie scientifiche e artistiche, ma che scontava
la difficoltà di avere una base elettorale e di sostegno (soprattutto in Italia centrale e centro-settentrionale)
che invece era legata ancora ad una visione essenzialmente agricola e contadina dell’ambiente, che
tollerava tanto una visione elementare e a-problematica del rapporto uomo / ambiente / animale come
semplice rispetto della visione tradizionale di questo rapporto, quanto ad esempio le attività circensi o
quelle venatorie. E, come è facile intuire, la ricerca di un punto di equilibrio progressista tra la redazione
di riviste come Rinascita e i circoli dell’ARCI Caccia (l’associazione dei circoli ricreativi contigui al Partito
comunista) non era un progetto che prevedeva scadenze brevi per il Partito!
43
Per un inquadramento, si veda Magliacane (2021).
44
Gli atti sono raccolti in Castignone e Battaglia (1987).
Il problema, come si vede, non è tanto quello della nuda vita in sé (la “vita
animale [che] è stata separata all’interno dell’uomo”), quanto la possibilità del
linguaggio come fenomeno emergente che assicura l’organizzazione della specie umana
e la rende, secondo Agamben (che contesta appunto questa visione), isolabile e
opponibile alle altre specie animali. Quanto al linguaggio, passando da Aristotele a
Cartesio attraverso la doppia natura dell’animale umano,
non sorprende che il protagonista di questa nuova guerra di religione sia quella
parte della scienza dove la dommatica è meno rigorosa e più forte è l’aspetto
pragmatico: la medicina, il cui oggetto immediato è il corpo vivente degli esseri
umani, [e che] si limita a prendere in prestito dalla biologia i suoi concetti
fondamentali [ma] a differenza della biologia, articola questi concetti in segno
gnostico-manicheo, cioè secondo un’esasperata opposizione dualistica.
(AGAMBEN, 2020b).
Anche qui vi sarebbe molto da dire sul “dio maligno” che è la malattia, “i cui
agenti specifici sono i batteri e i virus”, e un “dio o un principio benefico, che non è la
salute ma la guarigione, i cui agenti cultuali sono i medici e la terapia.” (AGAMBEN,
2020b). Ma quello che possiamo trarre dal dibattito aperto e coltivato da Agamben, e
che rileva ai nostri fini, è per ora una contraddizione evidente (a nostro parere
irresolubile e inconciliabile) tra la sistematica giuridica dei diritti (e della vita politica
che ne discende come organizzazione della società e dei gruppi) e le dinamiche
45
Peraltro, vi è come un’ulteriore contraddizione nella contraddizione. E cioè che l’animale “latente” nel
bios antropocentrico e artificiale, frutto della costante scelta dell’uomo di definire se stesso in opposizione
(o comunque come differente) rispetto alle altre specie animali, è anche sul piano mitologico e religioso
un dio, dal momento che la simbolica divina è per gran parte fondata sulla teratonomia e la teratologia (e
anche le voci divine, note anche come “voci bicamerali”, come sappiamo dallo studio comparato delle
religioni, erano voci di dei animali). Dunque l’aspetto emancipatorio della cultura dell’animale rischia di
appiattirsi, paradossalmente, sugli aspetti reazionari e regressivi, quando non addirittura repressivi, della
religione e della mitologia, quando non della pseudo-scienza (come viene spesso chiamata la religione
antica).
46
In effetti Agamben aveva presentato la funzione del linguaggio in maniera ancora più complessa e
articolata in un seminario del 1982 sul “luogo della negatività”: Agamben (1982, nuova edizione accresciuta
2008).
47
Il che è anche drammaticamente naif, oltre che antiscientifico, dal momento che corrisponde a dire, ad
esempio, che la perdita della ali o della capacità anfibia si è rivelata un grandissimo vantaggio evolutivo
per la specie umana! Antiscientifico: nel senso che, ad esempio, confonde in maniera grossolana tra un’ala
e un terzo braccio (la prima sicuramente destinata a vantaggi competitivi, il secondo non necessariamente,
e per vari motivi anche fisiologici o neurobiologici, che sono anche essi il risultato di una complessa
comparazione tra possibili storie evolutive). Gli argomenti più ricchi per questa visione che noi adottiamo,
e che non è sociobiologica, sono stati portati da Stephen Jay Gould, la bibliografia del quale è (per nostra
fortuna) sterminata, e del quale segnaliamo dunque unicamente, per motivi didattici, le varie raccolte dei
saggi apparsi fino al 2002 (anno della morte) su Natural History, tra cui Gould (1983, in particolare la parte
V: “Il ritmo del cambiamento”; 1989, ad esempio la parte I: “Stranezze che hanno un senso”).
48
Una parentesi: non è un caso che le traduzioni italiane dei testi di Lacan abbiano per anni ignorato
proprio questa ambivalenza costitutiva del corpo come soggetto psicoanalitico tra linguaggio e parola, il
primo simbolico e la seconda immaginaria, e abbiano continuato nel tempo a confondere le potenzialità
libertarie ed emancipatorie della parola con le prospettive invece castranti e sintomali del linguaggio. Un
esempio è proprio la ricostruzione di Recalcati (2012), in cui questo errore è addirittura costitutivo della
intera posizione di Recalcati su Lacan. Recalcati, insomma, a causa delle traduzioni italiane di Lacan, non
riesce cioè a distinguere proprio tra “linguaggio” (langage) e “parola” (parole, e non mot!), finendo dunque
per offrire una ricostruzione davvero sbilanciata del pensiero e della clinica di Jacques Lacan.
49
Laddove, appunto, non è il metodo della spiegazione ad essere problematico, ma quello della
spiegazione condivisa, cioè comunicata, informata, dibattuta e linguisticamente posta in maniera da
dominare le altre. Quanto sia poco sofisticata questa posizione è confermato soprattutto dall’archeologia,
che sistematicamente mette in crisi numerose acquisizioni della politica e del diritto (senza che peraltro
la politica e il diritto ne risentano nei loro paradigmi dominanti).
affermiamo che, nel corso del lungo dibattito bioetico, vita e linguaggio abbiano teso a
condividere uno stesso statuto di condizioni fondamentali (possiamo importare qui
l’esempio del parlêtre lacaniano, che peraltro Lacan stesso introdusse proprio per
contestare il primato psicanalitico di questo “animale simbolico”), anche se, appunto, gli
statuti etico, bioetico, filosofico, psicoanalitico, ecc., del linguaggio non sono
sovrapponibili (e anzi spesso sono in conflitto tra di loro, come nel caso della filosofia
della vita e della condizione di autocomprensione) 50. Anche a proposito della filosofia di
Agamben della “nuda vita” si possono portare le stesse obiezioni, ma in maniera
purtroppo ben più radicale (e pure riconoscendo ad Agamben il grande merito di avere
scosso un dibattito bioetico che fino alla fine degli anni ’90 si era ancorato a definizioni
e formule semplici e tranquillizzanti quali quella di “consenso informato” o di “corpo
come persona”). Infatti, la nuda vita proposta da Agamben è proprio quella animale, ed
è celebre la dialettica tra bios e zoé, quest’ultima in quanto, appunto, nuda vita. Solo che,
come abbiamo brevemente lasciato già intuire in precedenza, riconoscere la latenza
della vita animale nella vita dell’animale umano non implica necessariamente (o almeno
non automaticamente o in una maniera deterministica) il riconoscimento di
un’equivalenza o di una parità di opportunità fenomenologiche all’animale latente
nell’uomo! Cioè, in altri termini, il problema della prevalenza dell’animale umano, che
non ha alcuna giustificazione neanche in termini di evoluzione, non si risolve. Anzi, si
aggrava finanche, nel momento in cui, per antica tradizione italiana ed europea, animale
e divinità tendono a riconoscersi reciprocamente nella loro origine comune e dunque,
in numerose religioni e pseudo-scienze, a coincidere 51.
50
Questa contraddizione era stata ad esempio rilevata dal paleontologo Niles Eldredge il quale (non senza
ambiguità, va detto, e seguendo l’altrettanto ambigua linea darwiniana), nell’analizzare il rapporto tra
l’evoluzione degli esseri viventi e l’ecologia getta la scala “da noi mammiferi della specie Homo sapiens,
giù fino ai batteri”. Si veda Eldredge (2000: p. xviii). Rileva la contraddizione (anche contro Eldredge, in
questo caso), a proposito di Jonas, Furiosi (2003).
51
E basterebbe, in Italia, l’etica tutta martirologica e sacrificale dell’agnello di dio a dimostrarlo, che fu alla
base anche delle tendenze riformiste del Concilio Vaticano II (ottobre 1962 – dicembre 1965), su cui si
fonda a sua volta una delle più importanti ermeneutiche della dignità umana previste negli articoli 1, 2 e
3 della Costituzione italiana (rispettivamente la dignità del lavoratore e del cittadino, quella del soggetto
di diritto e della persona umana, e quella dell’attore sociale e dell’individuo responsabile come singolo e
nella / nelle comunità). Per una critica di questa visione della dignità, tanto statica quanto dinamica, sia
consentito rinviare al nostro Rubino (1998), peraltro di lì a poco in ottima e forse immeritata compagnia
con Ricoeur (2006).
52
Non si dimentichi che il delirio del contagio e del contatto (délir de toucher) apre il Totem e tabù
freudiano!
Infine, una delle cause generali del ritardo italiano nel dibattito sul diritto
animale – come prodotto, ripetiamolo ancora, di una comparazione etologica e non
come risultato automatico di un’estensione indebita ed anti-scientifica delle
sovrastrutture umane ad altre specie animali o all’ambiente nel suo complesso, che è a
nostro parere alla base dell’inefficacia della reazione culturale alle recenti epidemie – è
proprio il meccanismo di concorrenza adattativa tra le specie animali. In altri termini,
potremmo comprendere la bioetica umana o umanist(ic)a come eco-etica? Abbiamo in
qualche modo tentato di farlo?
L’argomento è davvero troppo vasto per anche solo tentare una breve
esposizione didattica (che si parta dal naturalismo di Stephen Jay Gould, dalla
divulgazione di Jared Diamond, o dalla genetica culturale dei Cavalli Sforza, per non dire
della recente “società senza dolore” e “algofobica” presentata da Byung-Chul Han).
Quello che qui potrebbe interessare è invece un argomento di tipo politico, che vede
ancora una volta gli animali nel ruolo proteiforme di sintesi dell’ecologia. E cioè che
l’estensione dei diritti umani agli animali (anche mitigata e corretta in base a vari criteri,
come la proibizione della sofferenza animale introdotta nel 2004 e nel 2010 nel diritto
penale italiano) non può in alcun caso prescindere dalla considerazione della
concorrenza tra le specie animali, inclusa quella umana. Così come, per altri versi, la
pietà e la compassione non possono neanch’essi prescindere dalla considerazione di
eventuali criteri utilitaristici (si pensi al vasto dibattito sui cd. “animali da compagnia”).
Quanto alla proibizione della violenza sugli animali, ad esempio, ci si può ancorare a
criteri più articolati e complessi rispetto a quelli della sistematica giuridica tradizionale.
Come sappiamo, infatti, il destinatario della giustizia ricostruttrice non è infatti né la
sola legge (come nell’ambito di una sistematica, anche sovranazionale o comunque
sganciata dallo Stato, della giustizia retributiva, ché è appunto l’unica sfera che dovrebbe
interessare le specie animali, che certamente non sono organizzate in nazioni, stati, o
comunità sovranazionali), né in sé la vittima principalmente considerata come soggetto
di diritto / dei diritti (come accade invece nella vendetta), né l’accusato (come si
evidenzia invece nella concezione “terapeutica” della pena in Platone e nel modello
tipico di giustizia “riabilitativa” che ne deriva) 53, ma il legame organico che fa tenere
insieme una comunità umana, in quanto archè della comunità giuridica. La comunità
umana, in altri termini, ricorre ad una finzione giuridica secondo la quale essa sarebbe,
a un tempo, parte e arbitro del gioco del diritti e dei diritti, lasciando agli animali non
umani il ruolo di parte minoritaria (al massimo destinataria dei diritti che derivano dalla
compassione umana verso le altre specie, e senza che questo tocchi in alcun modo alcuna
visione utilitaristica del diritto e dei diritti, della giustizia e dell’etica) 54.
53
Prospettiva condivisa anche dallo stoicismo, e oggetto del capabilities approach di Martha C. Nussbaum.
54
Qualche segnale interessante (ma davvero si tratta soltanto di segnali sporadici viene dalla
giurisprudenza suprema, ad esempio una sentenza della Cassazione penale (IV sezione) del 14 luglio 2011
che ha stabilito che “non commette reato l’automobilista che provochi un incidente automobilistico
mortale, al fine di non investire un animale che abbia invaso la corsia di marcia, anche se l’autore del fatto
viaggiava oltre la velocità massima prevista per legge”. È da notare che la sentenza, peraltro resa senza
rinvio (cioè vincolante come principio per tutte le corti di grado inferiore) è indubbiamente pioniera, ma
manca di motivazione adeguata, e si riferisce a circostanze troppo specifiche e contingenti per potere
realmente assumere la funzione di principio guida per la giurisprudenza (in grado magari di suscitare un
dibattito vasto e sentito, tra i giuristi e l’opinione pubblica).
Per i nostri fini, la decisione è importante perché mette a nudo aspetti ineludibili della concorrenza tra le
specie: l’omicidio è, appunto, l’assassinio di un essere umano, e non di un animale, e, nel caso della
decisione citata, viene soltanto “giustificato” (il fatto non costituisce reato) dall’esigenza per
l’automobilista di non uccidere un cane che attraversava la corsia (che in ogni caso non sarebbe stato
reato). D’altra parte, ed è qui la contraddizione, punire il fatto di provocare (seppure in maniera non
intenzionale) la morte di un animale (in questo caso un cane, sicuramente colpevole di avere attraversato
la strada in violazione delle regole stabilite dagli umani) sarebbe rilevante ‘solo’ in quanto assassinio di un
essere senziente, il che aprirebbe la strada a ben più pericolose condotte anti-animaliste, come quelle che,
in altri ordinamenti, legittimano la strage di animali da macello sulla base dell’attenuazione preventiva
del dolore ad essi inferto con la morte a fini industriali (ma è solo un esempio).
Una conferma viene da una quasi coeva sentenza del 2011 della Cassazione penale (III sezione, n. 29543)
che punisce una condotta omissiva di mancato soccorso a un gatto domestico investito e sbalzato in una
proprietà privata (alla quale, appunto, il proprietario vietava l’accesso a due intenzionati soccorritori
dell’animale), ma ‘solo’ nell’ottica dei “Delitti contro il sentimento per gli animali” introdotti con leggi del
2004 e del 2010, e non, ad esempio, come condotta violenta in sé (anche tramite omissione o mancato
soccorso) da parte di esseri umani. Anche in questo caso, ed è questo l’aspetto interessante di un dibattito
che deve aprirsi al più presto, vi sarebbe tuttavia una contraddizione: e cioè che la pietà per gli animali (di
cui ricordiamo i pionieristici approcci dei filosofi antifascisti Martinetti e Goretti sopra citati) può essere
anch’essa tanto come sentimento tipico della specie umana (un approccio che, mezzo secolo più tardi e
oltreoceano, sarà ripreso autonomamente da filosofi come Cora Diamond sulla linea di un perfezionismo
morale che veniva da Emerson attraverso Stanley Cavell), quanto come posizione politica-ecologica di
solidarietà tra le specie del Pianeta. In quest’ultimo caso si aprirebbe un dibattito ancora inedito (al di là
delle posizioni massimaliste e di puro principio, o “ecologiste ingenue”, come venivano definite in alcune
riviste di settore tra cui Gaia Scientia o in alcune riviste giuridiche straniere, brasiliane e statunitensi
soprattutto, con riferimento alla critica socialista contro il “riduzionismo biologico”). Nel primo caso,
invece, il perfezionismo sarebbe una sorta di antropocentrismo progressista (con il problema di chiarire e
stabilire se la pietà verso gli animali sia da parte umana un imperativo morale, un’opzione politica, o una
condizione derivante dalla comprensione della propria funzione ecologica, inclusa una comprensione di
tipo pragmatista o utilitarista, con tutte le ambiguità e ambivalenze che ne derivano, analizzate al meglio
da Martha C. Nussbaum sopra citata).
55
Ovviamente ci riferiamo alle intuizioni straordinarie e feconde di Walter Benjamin e in particolare al
suo Per la critica della violenza, che citiamo nell’edizione originale Benjamin (2016); si veda ancora Derrida
(1994, 2005); nonché naturalmente Agamben (2003). Le critiche, anche feroci e non sempre mirate, di
Derrida contro Agamben, sembrano un po’ eludere uno dei nodi fondamentali del discorso benjaminiano,
quello della violenza come “natura”, e tanto Derrida quanto Agamben non analizzano, in effetti, questa
problematica identificazione ma si concentrano soprattutto su cosa sia “vita” e “natura”. Non è un caso,
tuttavia, se Derrida abbina la” bestia” e il “sovrano” nella dialettica del potere, risolta “naturalmente” a
favore di quest’ultimo (ma in maniera del tutto provvisoria e contingente).
destinatario dei diritti) in cui è peraltro in buona compagnia da sempre, assieme alle
tante minoranze sociali, ai soggetti psichiatrizzati, ai reclusi, e purtroppo a molte altre
categorie, gruppi, comunità, individui, oggetto/oggetti della solidarietà e della
compassione della specie umana. O, meglio, di quella parte della specie umana che crea
per i propri esclusivi interessi la dialettica del diritto e dei diritti, sottraendola ai
meccanismi generali della selezione ecologica: in fondo, capiamoci, qual è e dov’è la
pretesa superiorità (in termini, appunto, di selezione) di un non disabile rispetto a un
disabile, o di un non schizofrenico rispetto a uno schizofrenico (e ci scusiamo per questa
terminologia, che dovrebbe essere destinata alla spazzatura della storia)? 56
Ma quale dialettica del potere emerge se si allarga, dall’altro lato, non la sfera
dei diritti, ma quella della politica, anche alle specie non umane? E se la si allarga alla
vita nel suo complesso, o al Pianeta nella sua configurazione paradigmatica? O se la si
svolge, la vita, su un piano di evoluzione e non su quello biologico? 57 Possiamo ancora
sostenere, realisticamente, che la competizione evolutiva per il Pianeta abbia qualcosa a
che fare con la dialettica parlamentare delle nostre società umane? O che (come pure ha
sostenuto per anni qualche nota scuola italiana di giuristi e comparatisti) i diritti fanno
parte di una delle strutture sociali più resistenti e idonee a garantire il successo
competitivo della nostra specie da cui discende, in ultima analisi, l’obbligo
compassionevole nei confronti delle altre specie animali? 58 Con la contraddizione finale
che tutti gli animali, inclusi quelli umani, sono sottoposti ad eventi complessi (e
catastrofici, proprio in termini scientifici di teoria della catastrofi, come ha spesso notato
opportunamente Alessia J. MAGLIACANE, 2016) che assieme a uno dei migliori studiosi
di Environmental Humanities, Bruno LATOUR (2019), possiamo didatticamente
chiamare “i capricci di Gaia” e “i capricci dell’Antropocene” (anche “scossoni
epistemologici ed esistenziali”). Le epidemie e le pandemie, intese soprattutto come
fenomeni sociali, rientrano, a torto o a ragione, tra quei capricci.
8 CONSIDERAZIONI FINALI
Nelle note che precedono abbiamo tentato di evidenziare alcuni motivi che
caratterizzano il dibattito politico, scientifico e giuridico italiano sulla relazione tra la
specie umana ed altre specie animali, che a nostro parere dovrebbe essere il fondamento
della cultura bioetica. Non abbiano neanche sfiorato i termini generali del dibattito. Per
un lato lo abbiamo presupposto, e per l’altro non era nostro scopo metterlo in discussione
in maniera dettagliata (lo abbiamo fatto in numerose altre occasioni ed altre sedi). Né
abbiamo riportato le tante contraddizioni che, già dai primissimi giorni, hanno dominato
56
Traducendo in termini sociologici: è davvero importante la carica emancipatoria contenuta in astratto
nella formula di “diversa abilità”? E, anche a questo proposito, non sarebbe forse meglio usare quella di
“disabilità generale” o di “incapacità generale”, introdotta ad esempio da Freud con compiutezza negli
anni Venti del secolo scorso? Si torni a Freud (2010).
57
Sono pochissimi i testi e gli articoli dedicati a questo (se si esclude il paradigma “bellezza” di Wilczeck,
che si occupa anche dei virus e annuncia una rivoluzione scientifica che sembra ancora di là da venire).
Ad esempio, sulla “vita dei virus, Villareal (2020).
58
Abbiamo discusso queste posizioni in RUBINO (2019). Nel caso delle pandemie: Honigsbaum (2021).
il dibattito sul virus e la pandemia, col vizio principale di sovrapporre in maniera confusa
e spesso strumentale motivi etici ed esigenze sanitarie, concetti bioetici e interdetti
giuridici, filosofia della vita e della natura e filosofia del diritto e della politica, ecc.
Possiamo invece dire che i motivi del ritardo culturale dell’Italia nei
confronti della comprensione di una posizione bioetica ed ecologica nella relazione
con la nostra specie e con le altre specie, in una visione integrata e complessa degli
ecosistemi, della biosfera e dell’infosfera, sono diversi e risalenti. In primo luogo, i tanti
malintesi a proposito del diritto romano, che hanno fatto ad esempio retroagire alla
lunga stagione dell’Impero istituti e concetti giuridici e politici elaborati invece solo
pochissimi decenni fa, come quelli dei diritti umani. Su un piano generale, anche la
confusione tra bioetica e filosofia della vita nasce dalla malintesa sovrapposizione
romanistica del naturalismo aristotelico (che aveva un valore etico, e dunque
prescrittivo e non descrittivo), e dall’insufficiente visione filosofica e scientifica del
vivente (che è stato descritto o compreso in sé e non nella sua funzione oggettiva e su
scala evolutiva). In secondo luogo, la sovrapposizione, al livello costituzionale, della
tradizione dei diritti fondamentali sociali con quella della democrazia e con quella
delle libertà personali (precursori dei diritti umani universali contemporanei), con al
centro una nozione tanto problematica quanto iper-semplificata di dignità, che ha
indotto ad estendere in maniera indebita e infondata queste condizioni della nostra
specie animale anche alle altre specie animali (peraltro considerandole in maniera
unitaria o sotto la formula ambigua di “esseri sensienti”, contenuta in alcune proposte
di modifica costituzionale). Un po’ come dire, e siamo coscienti della forte carica
destabilizzante di quanto affermiamo, che la centralità del personalismo e della
dottrina dei diritti umani fondata sul primato della persona umana, sia un ostacolo a
una corretta visione ecologica e politica del “diritto animale”. Un po’ come dire, se ci
si passa l’accostamento, che la biologia è la versione “razzista” (cioè essenzialmente
suprematista) della zoologia, e che la dignità umana è divenuta la premessa storica e
politica dello sfruttamento dell’ambiente e delle altre specie animali. In terzo luogo
abbiamo ritenuto di dovere almeno menzionare lo scientismo che ha caratterizzato
nelle diverse epoche storiche la nostra visione del rapporto tra scienza e potere, da
sempre condizionata da esigenze e contingenze politiche e diplomatiche. Questo
scientismo, che era stato ridimensionato negli anni ’80 grazie al fecondo dibattito laico
sulla bioetica e l’etica della vita e dei suoi innegabili diritti (base dell’ecologia più
progressista), si è reso purtroppo evidente proprio nei suoi tanti e tragici limiti in
occasione della gestione dell’emergenza sanitario globale 2019-2021, finendo per
sviluppato e portare a conseguenze anche la strategia del riduzionismo linguistico,
puntando proprio sulle sue tante ambiguità (che è un altro aspetto, peraltro ben più
insidioso perché davvero universale e generale, dell’antropocentrismo filosofico e
politico che già le culture personalistiche annunciavano). Infine, abbiamo introdotto
alcuni temi strettamente correlati, sui quali spesso insistiamo nelle nostre ricerche: in
particolare quello dell’accelerazione post-costituzionale dell’innovazione tecnologica,
in un contesto tuttavia di guerra fredda, nel quale la “doppia fedeltà” della Nazione ha
di fatto bloccato quello stesso processo di innovazione tecnologica (tanto i personal
computers quanto gli antibiotici sono, a nostro parere, sul piano scientifico fermi agli
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1
Pós-doutorado no Collège de France, (Chaire État Social et mondialisation)
(2017), com bolsa FAPESP e na UNICAMP (2004). Advogado formado pela
Universidade de São Paulo (1985). Mestre e Doutor em Estudos Linguísticos e
Literários em Inglês pela Universidade de São Paulo (1995 e 1998). Diretor de
Formação Docente da Associação Brasileira de Ensino do Direito ? ABEDi, tendo
também atuado como membro da Comissão de Especialistas da Secretaria de
Educação Superior do MEC para a área de Direito. É Coordenador do
Observatório do Ensino do Direito da FGV DIREITO SP. Adjunt Faculty da
Gonzaga Law School (WA/EUA) onde lecionou os cursos Jurisprudence and the
Arts (2010) e Political Economy of Law and Development (2013). Foi pesquisador
visitante na Wayne State University (Detroit-MI, EUA), com bolsa concedida
pelo CNPq. É autor, entre outras obras, de O Mundo fora de Prumo:
transformação social e teoria política em Shakespeare (Almedina, 2011); O
Instante do Encontro: questões fundamentais para o ensino jurídico (FGV, 2012)
e Narciso em sala de aula: novas formas de subjetividade e seus desafios para o
ensino (FGV, 2016). Professor em tempo integral da FGV DIREITO SP (Graduação
e Mestrado). Email: jose.ghirardi@fgv.br https://orcid.org/0000-0002-1855-7793
1 INTRODUÇÃO
Quanto menos controle as pessoas têm sobre o mercado e sobre seu Estado,
mais se recolhem numa identidade própria que não possa ser dissolvida pela
vertigem dos fluxos globais. Refugiam-se em sua nação, em seu território, em
seu deus. Enquanto as elites triunfantes da globalização se proclamam cidadãs
do mundo, amplos setores sociais se entrincheiram nos espaços culturais nos
quais se reconhecem e nos quais seu valor depende de sua comunidade, e não
de sua conta bancária. À fratura social se une a fratura cultural. O desprezo das
elites pelo medo das pessoas de saírem daquilo que é local sem garantias de
proteção se transforma em humilhação. E aí se aninham os germes da
xenofobia e da intolerância. (CASTELLS, 2018, p. 24)
desmorona. Se as pessoas nem estão falando umas com as outras nas ruas,
como poderão saber quem são como um grupo? (SENNETT, 2014, p. 658-659)
Esse artigo sustenta que, juntamente com essas perspectivas de corte político,
sociológico, econômico e psicológico, uma compreensão mais ampla desse fenômeno não
pode se dar sem a dimensão filosófica desse problema, e sem a discussão da crise das
premissas metafísicas que davam legitimidade ao projeto político-jurídico da Modernidade.
2
“[...] forces that lurk in all societies and, ultimately, in all of us: tendencies to protect the fragile self by
denigrating and subordinating others.”
3
“[...] the many diverse modes of culture and consciousness characteristic of pre-modern “world systems”
formed a genuinely fragmented array of human social communities. By contrast, late moderdity produces
a situation in which humankind in some respects becomes a ‘we’, facing problems and opportunities
where there are no ‘others’.
4
“[...] le passage de l’universitas à la societas et remplace le divin par le politique comme expression du
sacré dans l avie sociale”.
5
“[...] conduit vers l’impératif catégorique de soumission à la loi, qui est de conformer a volonté à la loi
universelle de la nature”.
6
“The order of representations must thus meet the standards which derive from teh thinking activity of
the knower”.
4 PÓS-VERDADE, PÓS-MODERNIDADE
7
“Prender atto che il problema del consenso sulle singole scelte è anzitutto un problema di interpretazione
coletiva, di costruzione di paradigmi condivisi o comunque esplicitamente riconosciuti, è la sfida dela
verità nel mondo del pluralismo post [...] Alla fine si trata di capire che la verità non si “incontra” ma si
costruisce con il consenso e il rispetto dela libertà di ciascuno e dele diverse communità che convivono,
senza confondersi, in una società libera.”
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
talvez inadvertida de reencenar, sob uma nova roupagem, a mistificação que desejava
apresentar os valores ocidentais como valores universais.
Essa fluidez do conceito é um desafio, como se disse, mas, em tese, não uma
dificuldade intransponível para as democracias. Elas têm buscado fazer frente a esse
desafio entendendo que a dignidade humana é um princípio, isto é, um valor que deve
nortear as ações. O reconhecimento das dificuldades de precisar uma definição única
em um mundo plural não torna fútil ou inútil invocar esse conceito. Em uma infinidade
de situações quotidianas, ele é poderoso para aperfeiçoar a busca pela justiça e sua
realização. A vida se dá em comunidades específicas e, no interior dessas comunidades,
tende a ser mais denso o grau de convergência sobre os elementos mínimos
indispensáveis para uma vida digna.
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TAYLOR, Charles. Sources of the self: The making of the Modern Identity. Cambridge:
Harvard University Press, 1989.
Liane Tabarelli 1
Rodrigo Wasem Galia2
1
Advogada e parecerista. Professora adjunta da Escola de Direito da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Docente de cursos de pós-
graduação e preparatórios para concursos públicos. Doutora em Direito pela
PUCRS. Ex-bolsista da CAPES de Estágio Doutoral (Doutorado Sanduíche) na
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra - Portugal. Autora de obras e
de diversos capítulos de livros e artigos jurídicos. Endereço eletrônico:
liane.tabarelli@pucrs.br.
2
Pós-Doutor, Doutor, Mestre e Bacharel em Direito pela PUCRS. Professor
Federal nas áreas de Direito do Trabalho e de Direito Processual do Trabalho
desde 2018. Avaliador do INEP-MEC na autorização de Novos Cursos Jurídicos no
Brasil. Autor e co-autor de diversas obras jurídicas no Brasil. Parecerista de
diversas Revistas Jurídicas. Membro de Conselho Editorial. Diretor Científico da
Comissão Estadual de Direito do Trabalho da ABA (Associação Brasileira de
Advogados) do Rio Grande do Sul. Palestrante. Endereço eletrônico:
rodrigogalia@hotmail.com. http://orcid.org/0000-0002-6364-0262
jurídica en Brasil, con el uso de nuevas tecnologías (clases virtuales a través de plataformas
digitales, por ejemplo) para prevenir la propagación del virus entre los actores involucrados
en el proceso de enseñanza-aprendizaje (docentes y estudiantes) y permitir conocimientos
sin fronteras. El problema de la investigación es saber hasta qué punto la educación jurídica
se vio afectada por la pandemia. En conclusión, es claro que docentes y estudiantes tendrán
que reinventarse en el proceso de enseñanza-aprendizaje, lo que afectó a la educación
jurídica, ya que no hay posibilidad de clases presenciales mientras persista la pandemia. Se
trata de un estudio descriptivo de revisión bibliográfica, de carácter cualitativo sobre la
educación jurídica en tiempos del COVID-19 con pautas importantes para docentes y
estudiantes en vista de las recomendaciones del Ministerio de Educación.
1 INTRODUÇÃO
Fruto de uma herança positivista, dizia-se que o juiz era unicamente a boca
que pronunciava as palavras da lei. Era o chamado dogma da completude do
ordenamento jurídico. Tudo o que interessava ao Direito deveria estar contido em Lei.
Como se a Lei pudesse prever todas as transformações sociais da humanidade. Isso não
mais se verifica (ou não deve mais se verificar).
3
Lembre-se que, por exemplo, com a adoção do Princípio da Cooperação no art. 6º, CPC/2015 para que
exercício do direito constitucional disposto no art. 5º LV, CF/88 (contraditório e ampla defesa) seja pleno
e efetivo, exige-se do julgador condução proativa do feito, estimulando e facilitando o auxílio mútuo entre
todos os envolvidos na relação jurídica processual para que, ao fim e ao cabo, consiga-se se obter uma
prestação jurisdicional eficiente num prazo razoável. Foi exatamente em homenagem à composição
amigável dos conflitos entre os litigantes e a duração razoável dos feitos em juízo (art. 5º, LXXVIII, CF/88),
entre outros motivos, que o legislador processual civil de 2015 previu a implantação da audiência do art.
334 na Lei nº 13.105.
do Direito? Esses e outros questionamentos serão alvo de estudo do presente texto, sem
a pretensão de esgotá-los, mas de analisá-los criticamente, a fim de contribuir para um
re(pensar)do ensino jurídico a partir da pandemia (COVID-19), que impôs novas
tecnologias para a educação à distância, evitando o contágio e o perigo à integridade
física e psíquica dos atores do processo ensino-aprendizagem (professores, alunos,
funcionários de escolas e universidades).
Diante disso, na dicção de Juarez Freitas (2000, p. 18), “jurista é aquele que,
acima de tudo, sabe eleger diretrizes supremas, notadamente as que compõem a tábua de
critérios interpretativos aptos a presidir todo e qualquer trabalho de aplicação do Direito”.
Com isso, tem-se que, em verdade, o jurista não trabalha com direitos e fatos
e, sim, com versões dos direitos e versões dos fatos. Constroem-se, assim, versões dos
direitos e versões dos fatos que sustentam uma demanda, as quais, inevitavelmente,
carregam conotações valorativas, pré-concepções e defesa de interesses desse intérprete.
A pureza é uma visão das coisas colocadas em lugares diferentes do que elas
ocupariam, se não fossem levadas a se mudar para outro, impulsionadas,
arrastadas ou incitadas; e é uma visão da ordem – isto é, de uma situação em
que cada coisa se acha em seu justo lugar e em nenhum outro. Não há nenhum
meio de pensar sobre a pureza sem ter uma imagem da “ordem”, sem atribuir
às coisas seus lugares “justos” e “convenientes” – que ocorre serem aqueles
lugares que elas não preencheriam “naturalmente” por sua livre vontade. O
oposto da “pureza” – o “sujo”, o imundo, os “agentes poluidores” – são coisas
“fora do lugar”. Não são as características intrínsecas das coisas que as
transformam em “sujas”, mas tão-somente sua localização e, mais
precisamente, sua localização na ordem de coisas pelos que procuram a pureza.
As coisas que são “sujas” num contexto podem tornar-se puras exatamente por
serem colocadas num outro lugar – e vice-versa. Sapatos magnificamente
lustrados e brilhantes tornam-se sujos quando colocados na mesa de refeições.
Restituídos ao monte dos sapatos, eles recuperam a prístina pureza. Uma
omelete, uma obra de arte culinária que dá água na boca quando no prato do
jantar, torna-se uma mancha nojenta quando derramada sobre o travesseiro.
(grifos do autor)
traçada e tão estritamente vigiada, foi praticamente apagada; o que gera uma
espécie de “zona cinzenta” em que os papéis atribuídos podem ser
intercambiados instantaneamente e com pouco esforço. A fronteira, ou o que
sobrou dela, muda de forma e se move a cada passo, e na vida de um corredor
ainda se espera que haja muitos passos pela frente. Tudo isso se acrescenta à
confusão já considerável e recobre o futuro de uma neblina mais densa. E a
neblina – inescrutável, opaca, impermeável – é (como qualquer criança lhe dirá)
o esconderijo favorito do mal. Feita dos vapores do medo, a neblina exala o mal.
Por outro lado, impera salientar, nesse estudo, que, ao almejar-se uma
interpretação concretizante (HESSE, 1991, p. 65) dos preceitos e da axiologia
constitucional presente, em particular, nos seus fundamentos, urge conhecer os vetores
principiológicos contidos na mesma. O Direito atual, acompanhando os ensinamentos
de Alexy (2008, p. 79), cuida de uma rede de princípios e regras. Essa teia de
mandamentos, de densidades e hierarquias distintas, demanda intérpretes preparados
para otimizar-lhes os comandos e produzir a máxima eficácia possível.
Há que se salientar também que, não obstante vários sejam - ou possam ser -
os intérpretes constitucionais, ainda mais em se tratando de um Estado como o brasileiro,
o qual admite o sistema difuso e concentrado de controle de constitucionalidade, o
Judiciário tem a atribuição por excelência de realizar essa insigne tarefa.
Ora, é forçoso reconhecer que dentro de uma conjuntura em que cada vez mais
há irrestrito acesso à informação e ao conhecimento, principalmente com a utilização da
internet, o desenvolvimento tecnológico advindo das últimas décadas tem ocasionado
importantes ponderações sobre as práticas de ensino na educação de nível superior. Nessa
esteira, frente a essas novas tecnologias e novas fontes de saber da sociedade, os cursos de
Direito não poderão mais ignorar ou desconhecer essas reais e importantes
transformações (FIORILLO; LINHARES, 2013, p. 132). Não é à toa que os cursos jurídicos
terão, agora, que incluírem em seus currículos, novas disciplinas motivadas pelas novas
realidades sociais, como é o caso do Direito Digital e do Direito Financeiro.
Além disso, nas práticas de sala de aula, o professor deve estimular os alunos a
exercitarem a empregabilidade e a cidadania, levando-os a agir de forma
correta, pensando nas consequências de seus atos, sendo responsáveis com a
vida no planeta, com a preservação do meio ambiente, com a educação e o
respeito na vida cotidiana, valorizando a pluralidade cultural, tendo controle
sobre sua liberdade, preocupando-se com o bem-estar do outro e do meio
político e social em que vive. Quando o professor trabalha exercitando a
cidadania e a qualificação profissional, promovem-se valores que ajudam o
educando a se aprimorar enquanto pessoa e profissional.
Finalmente podemos afirmar que teria sido um transtorno muito grande a
suspensão total das atividades das aulas da graduação e da pós-graduação, à
semelhança do que ocorreu em parte na educação básica, no entanto não menos
fácil para as gerações que se apresentam como atores deste quadro global.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por outro lado, como fator negativo, tais avanços tecnológicos tornaram a
vida profissional dos professores mais exaustiva, porque além das aulas gravadas
(síncronas e assíncronas) serem mais cansativas, porque muitas vezes os alunos não
interagem da mesma forma como acontecia no ensino presencial, os docentes precisam
postar materiais de apoio para seus discentes, muitas vezes, material inédito, fruto de
seu conhecimento e de sua autoria, sem serem remunerados por tal atividade. Além
disso, o sistema EAD onerou mais os professores em geral, que precisam ter um
notebook ou computador moderno, com internet de alta velocidade, softwares
avançados para a confecção dos materiais de apoio, local de trabalho em casa ou no
escritório adequado, o que representa gastos a mais, nem sempre (quase nunca)
remunerados pelas Instituições de Ensino Superior.
Mas o ensino à distância é uma realidade da qual não se pode mais fugir e
nem abrir mão. Mesmo que o Ministério da Educação (MEC) ainda não tenha autorizado
cursos de Direito 100% EAD, também por objeção da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), a não ser agora, em tempos de pandemia, para evitar contágio em massa, em um
futuro próximo, os cursos jurídicos serão autorizados e ofertados 100% EAD, para que o
conhecimento seja construído sem fronteiras, e porque o perfil dos jovens brasileiros
mudou, são conectados a essas novas tecnologias.
REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Tradução de: Virgílio Afonso da
Silva. São Paulo: Malheiros, 2008.
BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro:
Zahar, 2007.
FIGUEIREDO, Marcelo. O controle das políticas públicas pelo Poder Judiciário no Brasil -
uma visão geral. Interesse Público - IP, Belo Horizonte, v.9, n.44, p.27-66, jul./ago. 2007.
FREITAS, Juarez. A interpretação sistemática do Direito. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2010.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Tradução de: João Baptista Machado. 5. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1996.
MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda. Novas tecnologias
e mediação pedagógica. 17. ed. São Paulo: Papirus Educação, 2010.
OLIVEIRA, Rodrigo Rios Faria de; ANDRADE, Nelson Lambert de. A Educação e o
Ensino Jurídico no Brasil: um percurso na pandemia. Brazilian Applied Science
Review, Curitiba, v.5, n.2, p. 878-890 mar./abr. 2021. Disponível em:
https://www.brazilianjournals.com/index.php/BASR/article/view/27105/21430.
Acesso em: 26 jun. 2021.
SANTOS, Ana Luiza; JACOBS, Edgar. Mudanças nas DCN´s do Curso de Direito e a
inclusão do “letramento digital". Disponível em:
https://www.jacobsconsultoria.com.br/post/mudan%C3%A7as-nas-dcn-s-do-curso-de-
direito-e-a-inclus%C3%A3o-do-letramento-digitais. Acesso em: 08 maio 2021.
1
possui graduação em Direito pela Universidade Estadual de Londrina (2004) e é
Mestre em Filosofia e Teoria do Direito pela Universidade Federal de Santa
RECEBIDO EM: 11/05/21
Catarina (2006). Atualmente é professor do curso de Direito da Universidade do
ACEITO EM: 23/06/21 Vale do Itajaí (UNIVALI), Campus Kobrasol São José. Tem experiência na área de
Direito, com ênfase em Filosofia e Teoria do Direito, Teoria e Direito
Constitucional, Processo e Direito Penal bem como Direitos Humanos, atuando
principalmente como os seguintes temas: argumentação jurídica, garantias
processuais penais constitucionais, teoria do delito, Direito Internacional dos
Direitos Humanos e Educação em Direitos Humanos. É, ainda, professor nos
cursos de pós-graduação lato sensu da Escola do Ministério Público de Santa
Catarina e em Direito Constitucional, Gestão Escolar e Psicopedagogia da
Universidade do Vale do Itajaí. Coordena, ademais, o Observatório do Sistema
Interamericano de Direitos Humanos e o Projeto de Extensão Universitária
Educação em Direitos Humanos. https://orcid.org/0000-0002-7918-2796
2
Pós-Doutor pelo Centro de Direitos Humanos e Pluralismo Jurídico da
Universidade McGill (Montreal, Canadá). Doutor e Mestre em Direito pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Graduado em Direito pela
Universidade Federal do Pará (UFPA). Professor da Universidade do Vale do
Itajaí (UNIVALI), nas disciplinas de Direito Constitucional, Direito Eleitoral e
Direitos Humanos no curso de Graduação em Direito. É advogado militante nas
áreas de direito eleitoral e direito administrativo (Sócio do Escritório Menezes
Niebhur Advogados Associados). Vice-Presidente da Comissão de Direito
Eleitoral da OAB/SC. É membro fundador da Academia Brasileira de Direito
Eleitoral e Político (ABRADEP) e Academia Catarinense de Direito Eleitoral
(ACADE). Coordenador do Observatório do Sistema Interamericano de Direitos
Humanos (UNIVALI). Editor-chefe da Revista Resenha Eleitoral (TRE/SC).
https://orcid.org/0000-0001-6054-960X
3
Doutor em Direito (UFPR), com estágio de pós-doutoramento em Direito
(Faculdade de Direito de Coimbra e UNISINOS). Mestre em Direito (UFSC).
Professor Associado de Processo Penal da UFSC. Professor do Programa de
Graduação, Mestrado e Doutorado da UNIVALI. Juiz de Direito do TJSC. Membro
Honorário da Associação Ibero Americana de Direito e Inteligência
Artificial/AID-IA. Pesquisa Novas Tecnologias, Big Data, Jurimetria, Decisão,
Automação e Inteligência Artificial aplicadas ao Direito Judiciário, com
perspectiva transdisciplinar. Coordena o Grupo de Pesquisa SpinLawLab (CNPq
UNIVALI). https://orcid.org/0000-0002-3468-3335
de preparar o aluno para o que ele irá, no futuro, realmente enfrentar, o artigo principia
com um resgate histórico da crise do ensino do Direito e de sua permanência na
contemporaneidade, seja do ponto de vista dos conteúdos ensinados, seja do ponto de
vista das metodologias preponderantemente utilizadas. O argumento central do artigo
é que sendo o Direito, em sua essência, uma tentativa de regular boa parte desse mundo
da vida hoje fortemente dominado pela inteligência artificial, ao mesmo tempo que ele
próprio, no seu modus operandi, é por ela atingido, não podem os cursos de Direito
furtarem-se à incumbência de fornecer formação acadêmica que prepare para o que hoje
se tem e para o que brevemente se terá. Nesse sentido, adotando uma lógica de
construção dedutiva, após discorrer sobre a constante e recorrente crise do ensino
jurídico, e de estabelecer a inteligência artificial como um dado do presente e do futuro,
este artigo apresenta algumas propostas, sejam no plano conteudístico, sejam no plano
metodológico, para uma tão urgente quanto necessária reforma do modo como o Direito
é compreendido e, por consequência, ensinado nos cursos jurídicos do País.
1 INTRODUÇÃO
A crise do ensino jurídico parece ter sempre existido. Como adiante será visto,
escritos sobre tal crise são persistentes e recorrentes. E nesse sentido, o passado se faz
presente, insistindo em fazer do ensino do Direito um campo muito fértil para a crítica.
E é aqui, no presente, e logo ali, no futuro, que este artigo se detém. É evidente que a
história não se fragmenta em blocos que são descartados à medida que o tempo avança,
razão pela qual o “Direito de hoje” não supera e ignora o “Direito de ontem”, muito pelo
contrário, pois dele segue bebendo e com ele ainda guarda importantes e originárias
conexões; daí ser tão significativa a alegoria de Ronald Dworkin de que o direito é um
“romance em cadeia”. Mas o fato é que sendo por excelência uma esfera de regulação da
vida, o Direito, assim como o ensino dele, precisam acompanhá-la. E esse, veremos, não
é o quadro atual. E isso, como já exposto, não é novidade.
O ensino sempre deve(ria) prestar contas à realidade. Isso não significa, por
óbvio, que apenas se deva trabalhar a vida como ela é, mas que o que acontece no mundo
da vida precisa fazer com que o ensino faça sentido. Isso para todos os âmbitos do ensino
e, inclusive e talvez especialmente para o superior, que tem como um de seus principais
objetivos a preparação do discente ao mundo do trabalho, pois daquele que deixa a
universidade, não apenas se espera uma especialidade em determinado ramo do saber,
mas especial e significativamente uma capacidade de criticamente pensar esse saber e a
realidade sobre a qual ele atua(rá).
O objetivo, pois, deste artigo, após uma rápida apresentação desta crise do
ensino do Direito e da carga de disrupção provocada pela revolução tecnológica, é
discutir, a título de proposta inicial de debate, quais caminhos podem seguir o ensino
do Direito. Afinal de contas, o diploma entregue ao egresso, após o percurso da
graduação, não pode mais se constituir em um documento que somente ateste que o
mesmo obteve o grau de Bacharel em Direito. A questão que se apresenta às instituições
(e ao ensino do Direito) é muito mais profunda: como a forma de reproduzir o ensino
do direito foi capaz de possibilitar ao seu egresso meios para lidar com o presente-futuro.
4
A discussão mais completa sobre a (im)possibilidade normativa de um juiz-robô em língua portuguesa
é feita por GRECO, Luís. Poder de julgar sem responsabilidade: a impossibilidade jurídica do juiz-
robô. São Paulo, SP: Marcial Pons, 2020.
Em 1987, José Eduardo Faria publicava uma obra que se tornaria um clássico
na reflexão sobre o ensino do Direito no Brasil: A Reforma do Ensino Jurídico (FARIA,
1987a). Nela o autor – professor titular de Sociologia Jurídica da USP – fazia a crítica do
modelo de ensino vigente naquele efervescente período pré-1988. 5 O trabalho
condensava resultados de pesquisas iniciadas em 1980, e fora apresentado de forma
resumida em artigo publicado em 1986 6 (FARIA, 1986), ocasião em que o autor já
chamava a atenção para o fato de que a realidade exigia do estudante de Direito “um
saber crescentemente multidisciplinar e anti-formalista” (FARIA, 1986, p. 47). Naquela
ocasião, escreveu José Eduardo Faria:
Não se deve mais manter o ensino jurídico preso e confinado aos limites
estreitos e formalistas de uma estrutura curricular excessivamente dogmática, na qual a
autoridade do professor representa a autoridade da lei e o tom da aula magistral permite
ao aluno moldar-se ou adaptar-se acriticamente à linguagem da autoridade. Não se trata,
é óbvio, de desprezar o conhecimento jurídico especializado. Trata-se, isto sim, de
conciliá-lo com um saber genético sobre a produção, a função e as condições de
aplicação do direito positivo. (FARIA, 1986, p. 48).
O que mais espanta é que hoje, em 2021, essa citação postada em uma rede
social seria seguida de curtidas, comentários de apoio e compartilhamentos, como se de
um diagnóstico atual se tratasse. E estamos, na verdade, falando de um período de quase
40 anos. Todo o texto apresentado por José Eduardo Faria, e que faz o diagnóstico no
contexto de um dos cursos mais tradicionais do Brasil (o da Universidade de São Paulo),
é repleto de críticas à “concepção da cultura jurídica como um simples repertório fixo e
imóvel de dogmas”, à transmissão de “informação de caráter meramente instrumental”,
ao “senso comum teórico dos juristas de ofício” (Warat), à “ilusão de um ensino neutro”,
ao risco de oferecimento aos estudantes somente de “informações a respeito de
institutos jurídicos vinculados a situações e contextos desaparecidos ou em fase de
desaparecimento”, etc., etc., etc. (FARIA, 1986, p. 48-55).
Essa crise que José Eduardo Faria apontava, em uma escola de Direito como
a da USP, nos anos 1980, não só permanece atual como hoje é ainda mais agravada.
Praticamente todas as críticas que se dirigiam ao ensino jurídico naquela época hoje
persistem: (1) grades curriculares burocráticas excessivamente voltadas para o ensino
(sem grandes pitadas de criticidade) da letra da lei (não por acaso ser o vademecum o
“livro sagrado” de parte expressiva dos estudantes); (2) disciplinas propedêuticas de
formação básica indispensáveis para uma real compreensão do fenômeno jurídico
cumprindo funções meramente protocolares na grade – ramos do saber como
antropologia, psicologia, economia, história do direito, ciência política, filosofia e
5
A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) reflete sobre o tema desde muito antes. É
significativo da persistente crise do ensino jurídico um texto de Cesarino Júnior, de 1954, intitulado “O Ensino
do Direito” e que versa, justamente, sobre a tão debatida crise do modelo. Cf. CESARINO JÚNIOR, 1954.
6
O artigo em questão, como explica o próprio autor, é a “Versão condensada do relatório sobre a reforma
do curso jurídico apresentado à Comissão de Ensino da FD-USP em março de 1986”.
sociologia por vezes amargam 30h de carga horária, por vezes amargam o status de
optativas, por vezes amargam o destino da disciplina EaD ou, ainda, por vezes amargam
um “destino combo”, que combina duas ou mais das citadas amarguras; (3) grades
estritamente fechadas sem grandes espaços para que estudantes construam seu
currículo de forma mais customizada e condizente com seus anseios formativos; (4)
ausência de pesquisa e extensão formadoras do tripé universitário ao lado do ensino; (5)
professoras e professores sem a devida formação pedagógica, muitas vezes profissionais
liberais ou funcionários públicos que entendem a docência como o lugar de “se passar o
que se sabe”; (6) prática jurídica quase estritamente ligada a ações individuais da área
cível, as quais, em que pese a importância social para quem pelo escritório modelo é
atendido, têm pouco impacto na formação do estudante; (7) professoras e professores
com remuneração restrita à hora-aula em sala de aula, o que inviabiliza qualquer avanço
real e efetivo em termos de metodologias ativas como sala de aula invertida e
aprendizagem baseada em projetos; (8) ausência de estudo aprofundado e crítico das
disciplinas jurídicas de formação (como teoria do direito e direito constitucional), que
abandonaram autores clássicos e densos em detrimento de slides, aulas no YouTube e,
quando muito, livros com propostas esquematizadas ou afins; (9) processos avaliativos
quase que exclusivamente restritos a provas de múltipla escolha com questões
praticamente alheias a qualquer criticidade e geralmente copiadas de sites que oferecem
questões de concursos públicos, e, por fim, (10) um número expressivo de alunas e
alunos com importantes déficits formativos de base e com o único interesse de, com o
diploma, obter aprovação em concurso público, independentemente de uma formação
que permita um exercício republicano daquela função que o cargo exigirá.
7
Segundo o Censo da Educação Superior de 2017, os cursos de Direito detinham 10,6% das 8,3 milhões de
matrículas do ensino superior brasileiro (879.800).
8
Dados números completos sobre o ensino do Direito e o Exame de Ordem no Brasil podem ser obtidos
no documento Exame de Ordem em Números (Volume 4, 2020), de autoria da OAB e da FGV e que pode
ser acessado aqui: https://www.conjur.com.br/dl/exame-ordem-numeros1.pdf
Bem, se essa afirmação está correta, o cenário que será exposto no item a
seguir exigirá “alguma” reflexão por parte de quem pensa o ensino do Direito no Brasil,
pois ninguém quer que o profissional do Direito perca relevância.
9
Tradução livre de: “[...] la posibilidad de que las máquinas, en alguna medida, «piensen», o más bien
imiten el pensamiento humano a base de aprender y utilizar las generalizaciones que las personas usamos
para tomar nuestras decisiones habituales.”
poderia objetar que ainda há 10% de erro. Tudo bem, esses 10% precisam de correção,
mas pelo menos o caminho de aperfeiçoamento do robô é percentualmente menor do
que o dos humanos, pois na mesma pesquisa o índice de êxito de médicos especializados
no diagnóstico foi de bem inferiores 50% (HARARI, 2016, p. 319).
10
Um exemplo ilustra a afirmação: “Carlos Fernando Siqueira Castro, CEO do Siqueira Castro Advogados,
escritório presente em 18 Estados e com 500 mil processos no país, diz que o número de advogados da banca
hoje é menor do que há dez anos. No entanto, o volume de processos é o dobro. Isso se deve, segundo ele,
aos investimentos em tecnologia. O Siqueira Castro possui 50 funcionários na área de tecnologia da
informação, dos quais cinco se dedicam à produção de novos programas. A banca conta com 200 robôs que
controlam atividades específicas. “Fazemos muito mais hoje com menos pessoas, afirma o advogado. ‘É um
caminho sem volta, uma nova fronteira que busca a eficiência pela automação.’” (BAETA, 2019a)
11
Parte importante da literatura que versa sobre IA e Direito é, por um lado, competente em fazer o
inventário do estado da arte sobre sua aplicação no mundo jurídico; mas, por outro, assustadoramente
omissa em problematizar – ainda que en passant – os impactos que o avanço da IA causará no mercado de
trabalho. O lugar-comum sobre as maravilhas do surgimento de novas funções e profissões, muito presente
no discurso daqueles que exploram o potencial econômico da IA, nunca é acompanhado do debate acerca
do número desses postos. Que os carros autônomos, por exemplo, exigirão novos conhecimentos e
profissionais destinados a com eles lidarem, é um consenso; mas ninguém problematiza que cada
profissional desse “substituirá” milhares de motoristas. Um estudo da consultoria McKinsey, divulgado em
2017, projetava que até 800 (oitocentos) milhões de empregos podem ser substituídos por robôs até o não
muito distante ano de 2030. Para uma honesta análise de alguns poucos otimistas prognóstico, conferir em
“Homo Deus” e “21 lições para o século 21” ambos de Harari (2016; 2018, respectivamente).
Giovani Ravagnani, ao fazer uma análise sobre “Legal analytics” 12, em textos
publicados na obra antes citada, destaca, ainda, como exemplos do “novo Direito”: (a) a
utilização da tecnologia (IA em especial) para prevenir e evitar conflitos propriamente
judiciais; (b) a questão da IA na prevenção de risco, basicamente demonstrando como
“robôs” conseguem fazer um importante trabalho de dar, ao advogado, diversas variáveis
sobre as possibilidades de êxito em determinado processo; e (c) por fim, a utilização do
Por “Legal Analytics” entende-se o conjunto de soluções tecnológicas que permite a operacionalização
12
O objetivo aqui foi demonstrar, dentro dos limites deste texto, o “estado da arte”
da IA no âmbito do Direito. 15 Como dito no início deste item, não se discute aqui se ela
avançará ou não fortemente também no âmbito do direito. Esse avanço é inevitável e já tem
provocado um impacto preocupante no mercado de trabalho (o Brasil tem 1,16 milhão de
inscritos na OAB, um advogado para cada 174 habitantes contra 1 para 246 nos EUA ou 1
para 354 no Reino Unido, por exemplo) (BAETA, 2019a; BAETA 2019b), e com os alunos de
Direito liderando o ranking de matrículas na educação superior16, ou se inicia uma reflexão
(apoiada rapidamente por ações concretas) de atribuição de sentido ao ensino jurídico no
contexto ora exposto, ou tudo indica que a formação desses mais de 1 milhão de alunos hoje
matriculados em cursos de Direito neste País terá sérias dificuldades de corresponder a uma
qualificada e bem-remunerada inserção no mercado de trabalho.
13
Para uma leitura ainda mais abrangente do cenário da IA no sistema de justiça vide PICCOLI, Ademir
Milton. Judiciário Exponencial: sete premissas para acelerar a inovação e o processo de transformação
do ecossistema da justiça. São Paulo: Vidaria Livros, 2018.
14
Em matéria penal, uma discussão que já conta com bom desenvolvimento é a referente à
responsabilidade em caso de acidentes com veículos autônomos, um exemplo muito bom aliás, de como
a falta de regulação pode, mesmo, impedir a chegada da tecnologia ao destinatário final. Sobre o tema:
ESTELLITA; Heloísa; LEITE, Alaor. Veículos autônomos e direito penal. São Paulo: Marcial Pons, 2019.
15
Para uma análise mais detida e pormenorizada sobre os impactos da inteligência artificial no mundo do
Direito conferir: MORAIS DA ROSA, Alexandre. A questão digital: o impacto da inteligência artificial no
Direito. Revista de Direito da Faculdade Guanambi, Guanambi, v. 6, n. 02, e259, jul./dez. 2019.
Disponível em: http://revistas.faculdadeguanambi.edu.br/index.php/Revistadedireito/article/view/259.
Acesso em: 10 abril 2021. doi: https://doi.org/10.29293/rdfg.v6i02.259
16
Segundo o Censo da Educação Superior de 2017, de responsabilidade do INEP, o número de matrículas
em cursos de direito no Brasil era 1.154.751.
2018). Trata-se de normativa à qual todo e qualquer curso de Direito do país deve
obediência, não só formal – como se faz sem grandes preocupações –, mas também
material – em campo já um pouco mais pantanoso.
E se trata de tarefa bastante árdua, não apenas pelo quadro fático anteriormente
exposto (ao qual poderíamos acrescentar a complexidade social, econômica, política e
cultural de um país como o Brasil), mas sobretudo pelo perfil do egresso altamente exigente
que as diretrizes pedem. Com efeito, segundo o art. 3° do documento:
de suficiência – fica na casa de 40% 17), as Diretrizes são altamente exigentes no que se
refere às habilidades e competências que se esperam do egresso dos cursos. O art. 4° do
documento elenca nada menos que 14 (catorze) “competências cognitivas, instrumentais
e interpessoais” que os cursos devem oferecer a seus estudantes, dentre as quais ao que
nos interessa aqui destacamos quatro:
17
Dados números completos sobre o ensino do Direito e o Exame de Ordem no Brasil podem ser obtidos
no documento Exame de Ordem em Números (Volume 4, 2020), de autoria da OAB e da FGV e que pode
ser acessado aqui: https://www.conjur.com.br/dl/exame-ordem-numeros1.pdf
dificuldades para gerar impactos. Não seria de espantar que a inclusão de uma unidade
de aprendizagem com o nome “Direito Financeiro” dentro da disciplina de “Direito
Tributário” e um ou dois acessos ao PJe 18 no curso da prática jurídica servissem ao
preenchimento das inovações que as Diretrizes recentemente sofreram.
Iniciemos esta última seção com uma precisa síntese do Professor José Garcez
Ghirardi que fornece um valiosíssimo quadro metodológico dentro do qual os currículos
dos cursos de Direito deve(ria)m fazer as suas escolhas:
18
O PJe é o sistema de tramitação de processos judiciais capitaneado pelo Conselho Nacional de Justiça
(http://www.pje.jus.br/navegador/) que está presente em todos os Estados da Federação. Outros sistemas,
porém, ainda que presentes em menos Estados, também são utilizados, como por exemplo, o Projudi, e-
Proc, e-SAJ, Apolo, Creta e E-Jur.
este artigo e que desde os anos 1980 exigiam um ensino social e realisticamente com
sentido, o quadro exposto no segundo item deste artigo exige uma radical reformulação
da forma como os cursos de Direito do País se organizam.
2. O sistema ainda dará valor aos humanos coletivamente, mas não a indivíduos
únicos.
3. O sistema ainda dará valor a alguns indivíduos únicos, mas estes constituirão
uma nova elite de super-humanos avançados e não a massa da população.
(HARARI, 2016, p. 309)
19
O fenômeno da globalização, no plano político e econômico, e da transnacionalidade, no plano jurídico,
já vinham abalando os alicerces do clássico estado constitucional soberano desde a parte final do século
passado como se depreende da minuciosa análise de Bastos Junior (2014; 2019). Ocorre que a revolução
tecnológica ora em curso não apenas subtrair poder decisório do Estado-nação em um nível local, mas
também o retira quando da consideração dos Estados no plano internacional, à medida que radicaliza o
poder político e econômico de empresas e outros agentes não-estatais.
20
Nesse contexto, disciplinas minimamente introdutórias da área de tecnologia precisam ser oferecidas,
ainda que inicialmente na forma de optativas ou eletivas, pois mesmo que não se espere que todos os
bacharéis sejam engenheiros-jurídicos, é minimamente preciso saber como os robôs funcionam.
outras poderiam facilmente contemplar essas novas lentes pelas quais o mundo precisa
ser lido. Basta que quem tem responsabilidade sobre a gestão de tais cursos, conheça
o presente e o futuro do mundo em que vivemos.
Por fim, ainda que não haja uma relação exatamente direta entre o tema e os
objetivos deste artigo, cabe resgatar o “passado” para defender a indispensabilidade de
uma base teórica pautada nos clássicos com vistas a uma adequada compreensão do
presente e do futuro, pois como nos recorda Ronald Dworkin:
Por outro lado, por enquanto, a IA “não pensa” 21, razão pela qual não
consegue “ler” o Direito sob uma perspectiva mais aberta e principiológica, e é aqui onde
o Sapiens – por ora – está à frente. Não bastasse a própria primazia dos juristas de carne
e osso para com questões mais complexas lidar, há ainda um ponto central: as mais
delicadas questões éticas e jurídicas que a IA suscitará nos próximos anos, perpassarão
de forma significativa os direitos humanos e fundamentais.
E nesse ponto, um aspecto que tem sido apontado por vários analistas do
tema é o referente ao solipsismo do trabalho docente. Mesmo em instituições públicas
ou em privadas com ensino de maior qualidade, a tônica do modus operandi docente
tem se caracterizado por um trabalho individual, isolado e, portanto, absurdamente
fragmentado. Se determinado curso possui as disciplinas A, B e C referentes a
determinado ramo do Direito, não será raro (porque é regra) que os três professores das
disciplinas mal se conheçam e que, desenvolvam seus planos de ensino, o planejamento
e execução dessas disciplinas, à revelia do trabalho dos outros dois colegas. Esse quadro
é a pá de cal sobre uma matriz altamente fragmentada e desconexa 22.
21
Nessa seara, vale a observação de Boeing e Morais da Rosa (2020, p. 79), para os quais “[...] deve-se fazer
a ressalva de que tais tecnologias ainda estão aquém do nível de compreensão humano da linguagem.
Captar o contexto textual das palavras não necessariamente significa compreender a linguagem como uma
forma de vida, tampouco ser capaz de ‘jogar seus jogos’”.
22
O problema da cruzada solitária docente é um dos pontos mais destacados quando do Workshop sobre
ensino do Direito no Brasil realizado pela e na Fundação Getúlio Vargas. Cf. GHIRARDI, José Garcez
(coord.); DIAS DE LIMA, Ieda; SICA, Ligia Paula P. Pinto; RAMOS, Luciana Oliveira. Metodologia de
ensino jurídico no Brasil: estado da arte e perspectiva. Exposições, debates e relatos do Workshop Nacional
de Metodologia de Ensino. Cadernos DIREITO GV. São Paulo: DIREITO GV, v. 6, n. 5, set. 2009.
23
A prevalência das metodologias ativas nos cursos de graduação da área da Saúde pode ser constata em:
MITRE; et al, 2008, SOBRAL; CAMPOS, 2012 e COLARES; OLIVEIRA, 2019.
24
Várias outras metodologias também têm sido utilizadas, sendo que a “primazia” aqui defendida da
aprendizagem baseada em problemas e em projetos se deve, basicamente, pela preponderância história
no rompimento com metodologias tradicionais e pela consequente maior produção bibliográfica sobre os
métodos. Para uma mais completa visão das novas metodologias cf. HORN; STAKER, 2015 e BACICH;
MORAN, 2018.
25
Esse tensionamento entre passado e futuro no plano das metodologias, atinge não apenas os alunos,
que por questões culturais nem sempre assimilam bem a proposta, mas também os docentes, seja porque
as propostas os retiram de uma zona de conforto onde há muito se encontram, seja porque as condições
de trabalho para as metodologias ativas também exigem uma pequena revolução. O tema do tempo do
trabalho docente na perspectiva das metodologias ativas, cabe ressaltar, ainda carece de maior de debate.
aplicar avaliações (não raro somente com questões de múltipla escolha) e com um aluno
que, absolutamente passivo, assiste às aulas (não raro somente de corpo presente) e o
mais próximo da prova possível “estuda” o conteúdo com o único fim de memorizar o
essencial e obter uma nota minimamente razoável. Já a sala de aula invertida, em linhas
gerais, torna o professor um tutor do processo de aprendizagem dos alunos, levantando
as principais questões e indicando os textos fundamentais para o aprendizado
(BERGMANN; SAMS, 2019). No essencial, o aluno tem alguma carga de estudo antes da
aula, ficando o momento específico da aula reservado a atividades práticas, discussões
ou outras dinâmicas de caráter construtivo e participativo. Trata-se, pois, de um
privilegiado instrumento de transição entre a clássica concepção de sala de aula e
metodologias ainda mais inovadoras, o que em absoluto descaracteriza a sala de aula
invertida como dotada de méritos e autonomia próprios.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se Yuval Noah Harari entende alguma coisa sobre a passagem do Homo Sapiens
para o Homo Deus, como suas obras fazem parecer, é preciso reconhecer que o ensino – em
geral – e o ensino do Direito, em específico, precisam de uma urgente reformulação.
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10/25/mercado-saturado-no-pais-dos-bachareis.ghtml. Acesso em: 09 jan. 2021.
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HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. Tradução de Paulo
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HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Tradução de Janaína
Marcoantonio. 51. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2020.
HORN, Michael B.; STAKER, Heather. Blended: usando a inovação disruptiva para
aprimorar a educação. Tradução de Maria Cristina Gularte Monteiro. Revisão técnica de
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RAMOS, Andrea. Scania terá caminhão autônomo sem cabine no Brasil em 2023.
Estadão, São Paulo, 11 set. 2020. Disponível em:
https://estradao.estadao.com.br/caminhoes/caminhao-autonomo-nivel-4-scania
Acesso em 03 fev. 2021.
1
Doutor e Mestre pela USP. Professor do Mestrado do Cers. Professor da UPE
e da Asces/UNITA. Procurador do Estado de Pernambuvo (cedido ao STJ).
Assessor de Ministro do STJ. https://orcid.org/0000-0002-1003-2415
1 INTRODUÇÃO
4
“Distinzione tra danni-evento e danni-consequenza [...]
La giurisprudenza maggioritaria, per individuare il discrimen tra primo e secondo comma, fa perno sulla
distinzione tra causalità in fatto, cui ha riguardo il primo comma, e causalità giuridica, a cui attiene il
secondo comma. Opera quindo, secondo questa tesi, il primo comma quando il fatto del danneggiato inerisce
alla fase produttiva dell’evento lesivo (termine da intendersi quale sinonimo di evento dannoso o di evento-
di-danno). Il secondo comma riguarda invece il nesso che intercorre tra l’evento lesivo e le singole
conseguenze dannose (i danni-conseguenza”.
5
Cass. 16/06/2003, n. 9629. “il primo comma dell’art. 1227c.c. concerne il concorso colposo del danneggiato
nella produzione dell’evento che configura l’inadempimento [...] mentre nel secondo comma il danno è
eziologicamente imputabile al dannegiante, ma le conseguenze dannose dello stesso avrebbero potuto essere
impedite o attenuate da un comportamento diligente del danneggiato”.
6
Cass. 04/05/1990, n. 3729. “Il primo comma regola il concorso del dannegiato nella produzione del fato danoso
ed ha come conseguenza una ripartizione di responsabilità [...] nella quale uno dei coautori del fatto dannoso
è lo stesso danneggiato. [...] Una situazione del tutto diversa è invece disciplinata dal secondo comma della
norma richiamata: qui non v’è un problema eziologico o causale, ma solo di estensione del danno”.
7
O autor chega a afirmar que o dano “evitável” não seria um dano no sentido jurídico.
Mais do que isso, tal corrente pressupõe que somente o dano-evento entraria
na cadeia causal gerada pela conduta e que o dano-prejuízo não poderia ser analisado do
ponto de vista do nexo de causalidade. Tais conclusões, no entanto, parecem equivocadas.
Isso fica claro com o seguinte exemplo: “Se uma pessoa excede o limite de
velocidade em seu automóvel, comete um ato ilícito. Porém, apenas será possível falar
em responsabilidade civil se esse ato gerar algum dano” (FLUMIGNAN, 2009, p. 42) 8.
8
O problema do ato ilícito na responsabilidade se expressa de diversas formas. O fato jurídico sempre será
ilícito, pois o dano-evento sempre será antijurídico.
Antônio Junqueira de Azevedo (2004, p. 289 e ss.) expõe ser ideal a referência
precisa dos dois momentos para a caracterização do dano: o dano-evento (primeiro
momento) e o dano-prejuízo (segundo momento). A noção de dois momentos não
implica, necessariamente, um lapso temporal entre um e outro. A simultaneidade é
perfeitamente possível 9.
9
De acordo com o autor, a natureza do dano-evento não necessariamente será a do dano-prejuízo. “Pode
haver lesão à integridade física de uma pessoa e as principais consequências não serem de ordem pessoal,
e sim patrimonial - por exemplo, se a vítima perdeu total ou parcialmente sua capacidade laborativa; ou,
inversamente, a lesão pode ser numa coisa que está no patrimônio de alguém e a consequência ser
principalmente um prejuízo não-patrimonial (dano moral), - por exemplo, se o dono tinha, pela coisa,
valor de afeição... Portanto, o dano-evento, ou lesão, pode ser no corpo ou no patrimônio e, quer numa
hipótese quer noutra, o dano-prejuízo ser patrimonial ou não-patrimonial: um dano ao corpo pode ter
consequências patrimoniais ou não-patrimoniais e um dano ao patrimônio também pode ter
consequências patrimoniais ou não-patrimoniais” (AZEVEDO, 2004, p. 291)
A crítica que se faz a esse entendimento é que ele não explica o fato de o
comportamento de mitigação do prejuízo poder ser exigido também como conduta
preventiva, ou seja, anterior à ocorrência do dano (SAPONE, 2007, p. 18).
10
“Anche sotto il versante del secondo comma vi sono riscontri giurisprudenziali all’opinione che afferma
l’irrilevanza tra danni-evento e danni-conseguenza. [...]
La tesi prevalente - che fa leva sulla distizione tra danni-evento e danni-conseguenza e che porta a
considerare necessariamente successivo all’evento dannoso il comportamento della vittima rilevante ai sensi
del secondo comma – è stata smentita anche in altro caso, deciso da Cass. 9.4.1996, n. 3250, MGC 1996, 519.
L’attore aveva agito nei confronti dell’amministrazione provinciale perché alcuni animale, tenuti
dall’Amministrazione stessa in una zona di ripopolamento e cattura, avevano invaso un frutteto di sua
proprietà, provocando molteplici danni; tali danni, secondo l’attore , erano addebitabili all’Amministrazione
che non aveva provveduto a recintare adeguantamente la zona di ripopolamento: Il Tribunale ha accolto la
domanda di risarcimento ritenendo che non avendo l’Amministrazione provveduto a recintare
adeguatamente tale zone, non aveva l’attore il dovere di provvedervi ai senso dell’art. 1227 secondo comma
c.c. (come aveva invece sostenuto il Pretore) perché avrebbe dovuto esplicare un’ attività straordinaria
abnorme, o sostenendo esborsi di spese considerevoli, quali quelle derivanti dalla chiusura del fondo ex artt.
841 e 842 C.C”.
11
Neste ponto, cabe ressaltar que como evento lesivo, a doutrina italiana trabalha com a noção de dano-
evento (Cass. 10/12/1986, n. 7319; Cass. 09/05/2000, n. 5883).
Tal concepção não parece ser a correta, pois um dos principais fatores de
diferenciação entre a culpa concorrente e a doutrina da mitigação é que a primeira
trabalha com mais de uma “causa” a produzir o resultado danoso.
15
Cass. 09/02/2004, n. 2422.
Esta reconstrução une o nexo de causalidade com o dever de boa-fé. Não são
somente duas chaves de leitura compatíveis, mas – nesta visão – dois planos
que não podem ficar separados. A ampliação da diligência ordinária prevista no
art. 1227, §2º, constitui o resultado da convergência do plano da causalidade e
da boa-fé. 17 (SAPONE, 2007, p. 291)
A teoria tem o condão de afastar, tal qual a ideia prevista no Código Civil de
Quebec, a disseminação de um fundamento único para a mitigação do prejuízo.
16
Tal denominação da corrente doutrinária foi dada por Sapone (2007, p. 286-288).
17
“Questa riconstruzione salda il rapporto di casualità con il dovere di buona fede. Non sono solo due chiavi
di lettura compatibili, mas - in questa visione – due piani che non possono procedere separati. L’ ampiezza
dell’ordinaria diligenza di cui all’art. 1227 secondo comma costituisce la risultante della convergenza del
piano della causalità e della buona fede”.
18
“Come già detto, chi scrive ritiene che la disposizione costituisca espressione del principio di
autoresponsabilità; ma non nel senso di violazione del dovere primario di buona fede, ma come concetto
contrapposto a quelo di etero-responsabilità verso se stesso. Il che vuol dire che il secondo comma non si
riferisce alla violazione di un dovere primario di comportamento; sotteso al secondo comma è un
comportamento di per sé libero, dunque non antigiuridico”.
A teoria que prega ser a causalidade o fator decisivo para a mitigação não
observa que de fato as consequências lesivas não foram causadas pela vítima, mas
pelo autor do dano.
Resta ainda a análise de alguns pontos do dispositivo. O art. 1227, §2º, prevê
a denominada “diligência ordinária”. O dispositivo não aborda expressamente a
razoabilidade e nem tal noção assume o protagonismo do instituto.
19
“Tale comportamento libero viene trasformato dalla norma in questione in onere, avente as oggetto l’uso
dell’ordinaria diligenza di cui all’art. 1176 c.c., posta a tutela dell’interesse altrui”.
Assim, existem três critérios fundamentais que devem ser utilizados para
delimitar o dever (rectious, o ônus) de diligência ordinária prevista no art. 1227,
segundo parágrafo: despesas significativas de dinheiro, assunção de riscos,
sacrifícios significativos. 21 (SAPONE, 2007, p. 295)
O ônus da diligência ordinária exigido do art. 1227, parágrafo 2º, do Código Civil,
ao credor para limitar o dano pelo inadimplemento deve ser alargado também
para aqueles comportamentos positivos através do qual o dano possa ser
evitado ou reduzido com certeza 22
20
Cass. 20/11/1991, n. 12439.
21
Dunque, tre sono i fondamentali critério cui far ricorso per perimetrare il dovere (rectious, l’onere)
dell’ordinaria diligenza di cui all’ art. 1227 secondo comma: esborsi apprezzabili di denaro, assunzione di
rischi, apprezzabili sacrifici.
22
Trib. Rovereto 16/03/98, pres. ed est. Di Fazio, in D&L 1998, 1013 – apud http://www.di-
elle.it/giurisprudenza/63-risarcimento-danni/danni-in-genere/424-danni-in-genere acesso em 01/05/2015.
“L’onere di ordinaria diligenza richiesto ex art. 1227, 2° comma, c.c. al creditore per limitare il danno da
inadempimento va esteso anche a quei comportamenti positivi attraverso cui il danno possa essere evitato
o ridotto con certezza.”
com certo grau de certeza ainda que ele seja projetado para o futuro, pois, sem dano,
não há o que se indenizar.
Parte da doutrina sustenta que esse seria o limite para a aplicação do parágrafo
segundo do art. 1227 (BELLANTUONO, 2001, p. 581). O argumento seria de que a intenção
deliberada de descumprir a relação jurídica, por exemplo, para auferir maiores lucros em
nova negociação, geraria um bloqueio à aplicação da doutrina da mitigação. Caso o
entendimento fosse contrário, poderia levar a grande “injustiça” na prática.
23
Janiak v Ippolito [1985] 1 SCR 146.
24
“Ció comunque non preclude che nel perimetrare il dovere di mitigazione si possa attribuire un qualche
rilievo al dolo. Se l’art. 1227 va letto anche ala luce del principio costituzionale di solidarietà, al ta punto che
è in forza di tale principio che si giustifica l’ampliamento del contenuto dell’ordinaria diligenza anche ai
comportamento positivo, non appare implausibili stabilire che tale principio (di solidarietà) non ha più
ragion d’essere a fronte di un inadempimento doloso”.
Não se quer afirmar que o dolo é irrelevante ou não possa ser levado em
consideração para a doutrina da mitigação, mas que o agir doloso por parte do causador
do dano não justificaria outra atuação atentatória aos interesses da própria sociedade.
7 CONCLUSÕES
25
“Cosicché viene a ridursi lo spazio dell’ordinaria diligenza. Si può in questo modo giungere a sostenere che
in caso di dolo l’ordinaria diligenza è da intendersi limitata ad un contegno omissivo. Il dovere di mitigazione
pertanto in caso di inadempimento intenzionale o dettato da motivi speculativi può essere configurato
restrittivamente, vale a dire como onere di non adottare comportamenti positivi che aggravino le
conseguenze dannose e non anche como onere di attivarsi per elidere o attenuare le conseguenze dannose”
(Por isso, para se reduzir o espaço da diligência ordinária. Pode-se, deste modo, vir a argumentar que em
caso de dolo a diligência ordinária deve ser considerada limitada a um comportamento omissivo. O dever
de mitigação, portanto, em caso de inadimplemento intencional ou ditado por motivos especulativos pode
ser configurado de forma restritiva, ou seja, como ônus de não adotar comportamentos positivos que
agravam as consequências danosas e também não como ônus de atuar para elidir ou atenuar as
consequências prejudiciais).
26
Cass. 12/04/1980, n. 2331. Vide também: FRANZONI (1996, p. 127).
REFERÊNCIAS
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Saraiva, 2004.
CATTANEO, Giovanni. Il concorso di colpa del danneggiato. Riv. dir. civ., v. I, 1967.
CUPIS, Adriano de. In tema di concorso del fatto colposo del danneggiato (“Nota” ala
sent. Cass. 20 marzo 1959, n. 849). Il Foro Italiano, v. 82, 1959.
FLUMIGNAN, Silvano José Gomes. A distinção entre dano moral, dano social e punitive
damages a partir do conceito de dano-evento e dano-prejuízo: o início da discussão.
Revista acadêmica da Faculdade de Direito do Recife, [S.l.], v. 87, n. 1, set. 2015.
Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/ACADEMICA/article/view/1588.
Acesso em: 11 maio 2021.
FRADERA, Vera Maria Jacob de. Pode o credor ser instado a diminuir o próprio prejuízo?
Revista trimestral de direito civil, v. 19, p. 109-119, Rio de Janeiro: Padma, jul./set.,
2004.
ITALIA. Delle obbligazioni in generale, Art. 1227, Concorso del fatto colposo del
creditore, 16 marzo 1942. Il Codice Civile Italiano. GU n.79, Roma, 1942. Disponível
em: http://www.jus.unitn.it/cardozo/Obiter_Dictum/codciv/Lib4.htm. Acesso em: 11
maio 2021.
LOPES, Christian Sahb Batista. A mitigação dos prejuízos no direito contratual. 2011.
Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2011.
SALVI, Cesare. Danno. Digesto delle Discipline Privatistiche – Sezione Civile, vol.
5, Turim, 1989.
Tourneau, Philippe le; Cadiet, Loïc. Droit de la Responsabilité. Paris: Dalloz, 1998.
VISINTINI, Giovanna. Trattato breve della responsabilità civile. Pádua: CEDAM, 2005.