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2005 número 1

Revista bimestral do
Lectorium Rosicrucianum

A NEUTRALIZAÇÃO DA VONTADE E DO DESEJO

A ESFINGE E O CRISTO

O CAMPO DE TRABALHO

UMA CONVERSA "LUMINOSA"

A LANÇA DE LUZ

DIÁLOGO ENTRE A LUZ E A MATÉRIA

PELA PORTA "ABERTA"!


PENTAGRAMA

Í NDICE

2 N EUTRALIZAR A VO NTADE
E O DESEJO – Um artigo
Do campo de trabalho baseado numa alocução de
J. van Rijckenborgh

8 A ESFINGE E O C RISTO
A Rosacruz moderna, em seus oitenta anos,
14 O CAMPO DE TRABALHO –
encontrou solo fértil nos quatro continentes. Solo fértil nos quatro conti-
nentes
Desta vez, a ênfase será dada aos países
28 U MA CO NVERSA
africanos onde a Escola experimenta um " luminosa"
florescimento que, no contexto ocidental, 30 A LANÇA DE L UZ – Uma
é geralmente inconcebível. alocução para os alunos
realizada pela Direção
Espiritual Internacional

37 D IÁLO GO ENTRE A LUZ E A


MATÉRIA

40 PELA PO RTA "ABERTA" ! – A


obra de J. Anker Larsen

ANO 27
N ÚMERO 1

A árvore elefante africana.


A neutralização da vontade e do desejo
Um artigo baseado numa alocução de J. van Rijckenborgh

A filosofia da nova vida que a Escola E assim como trouxemos a imagem do


da Rosacruz Áurea incessantemente homem terrestre, assim traremos tam-
propaga abrange princípios que estão bém a imagem do celestial. E, agora,
em inteira concordância com a citação digo isto, irmãos: que carne e sangue
de Paulo no quadro ao lado. não podem herdar o reino de Deus,
nem a corrupção herdar a incorrupção.
Eis aqui vos digo um mistério: na ver-
Primeiro: o homem é uma criação do dade, nem todos dormiremos, mas todos
Espírito único. Sua manifestação atual seremos transformados, num momento,
é, contudo, imperfeita e está danifica- num abrir e fechar de olhos, ante a últi-
da. Quando morre, ele abandona seu ma trombeta; porque a trombeta soará,
corpo físico e seus quatro corpos vei- e os mortos ressuscitarão incorruptíveis,
culares já não formam uma unidade. e nós seremos transformados.
Nesse estado imperfeito, ele já não I Coríntios 15: 49-52
pode "trazer a imagem do celeste",
não lhe sendo mesmo possível conti-
nuar a existir, e muito menos ainda Por que não temos o poder de alcan-
alcançar o reino eterno. çar a imagem do celeste, a radiação de
Segundo: o reino de Deus, tal como Luz que nos envolve, a fim de adqui-
concebido tradicionalmente, o céu, o rirmos uma melhor compreensão des-
além, não é o verdadeiro reino de sas coisas?
Deus, e por isso não garante nenhuma Certamente recebemos essa radia-
imortalidade, pois o além é apenas a ção da Luz, porém nós a transforma-
metade deste mundo dos opostos, a mos em algo negativo. Podemos rea-
parte invisível que ainda permanece gir de diferentes maneiras a essa vibra-
oculta para a maioria de nós. Esse ção designada como "radiação crísti-
domínio não pode abrigar nenhuma ca" ou "Cristo", que nos toca e pene-
eternidade, pois ele também é tão tra o nosso ser. A radiação crística é
transitório e perecível quanto o domí- onipresente na atmosfera e age sem
nio de vida terrestre ao qual estamos descanso em cada ser humano, não
conscientes de pertencer neste exato importando o que ele faça. Sua ação
momento. O reino de Deus pretensa- nos prepara para uma nova maneira
mente destinado à carne e ao sangue e de ser no mundo, para um novo
a incorruptibilidade concebida como período humano, e de acordo com
um prolongamento eterno de nossa nossa reação ela pode ter um efeito
existência são um engano, uma ilusão. construtivo ou destrutivo.

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Todavia, essa radiação não propor- filosofia gnóstica. Caso se consagrem
ciona à nossa vida material a imortali- a ela com a entrega de todo o ser, todo
dade. Uma reação positiva não nos o antigo neles desaparecerá e tudo se
liberta da morte física. Mas quando tornará novo.
empregamos a força de Cristo em
nosso avançar, a morte do corpo físico Enfim, uma abertura?
pode significar um seguir adiante para
a consciência. Se, no decorrer de nossa Dois mil anos. Quantas encarna-
vida, adquirimos um conhecimento ções viveu o homem nestes dois mil
profundo de nós mesmos e do lugar anos? E quantas lições ele aprendeu
que ocupamos neste campo de exis- nos períodos entre as encarnações?
tência, subseqüentemente o novo Sua consciência cresceu e sua com-
homem cresce em nós e a necessidade preensão amadureceu? O que os ho-
de reencarnar poderá até ser omitida. mens de hoje alcançarão individual-
É a radiação crística e sua força – não mente com isso? Quantas gerações já
os dogmas da Igreja – que atuam em não foram influenciadas pelo novo
nós até a ressurreição, até o despertar impulso crístico, tal como descrito no
no corpo espiritual, quando a segunda Evangelho nestes dois mil anos?
morte, a do remanescente dos corpos Se considerarmos oitenta gerações
sutis e da consciência, é então vencida. das quais o homem atual é o resultado
Caso contrário, a morte significa o final, percebemos uma série de repeti-
conseqüente viver na ilusão, com a ções gravadas em seu sangue. Nele
única diferença que, a partir de então, estão ativas todas as oitenta gerações,
a existência continua no mundo do que sempre fazem a mesma exigência
além. O falecido permanece na ilusão martelada na bigorna psico-religiosa
de que o além seja o céu, o paraíso, o de seu sangue.
purgatório ou o inferno. Às vezes, ao
passar para o mundo que se encontra A luz irromperá!
por detrás do véu, ele faz a amarga
descoberta de ter sido advertido A luz se acumula no sangue até que
durante toda a sua vida de que ali não ele atinja uma certa "qualidade", as-
existe nada que ele possa chamar de sim como é dito em Dei gloria intac-
"totalmente outro". O que é, pois, ta1. Mas essa provisão de luz não pode
necessário fazer para chegar, ainda em continuar indefinidamente. E como
vida, à ressurreição, no sentido crístico tudo neste mundo dialético, isso tam-
do termo? bém é levado a uma crise. E essa crise,
Desde o primeiro sermão evangéli- esse momento de grande tensão, deve
co, soou para o mundo e para a huma- descarregar-se: um relaxamento deve
nidade a exigência de um renascimen- acontecer para que isso não termine
to espiritual. Como temos reagido a em destruição. No momento de
ele no curso destes dois mil anos? maior tensão, estamos diante de uma
Muitos pesquisadores ligaram-se à decisão, pois a qualidade acumulada
Escola Espiritual. Isso significa que a deve desembocar em algo. Chegamos
Fraternidade da Luz deu-lhes a possi- a uma encruzilhada no nosso cami-
bilidade de realizar o cristianismo ori- nho. Temos apenas duas opções: res-
ginal introduzindo-os na verdadeira surreição ou queda.

4
A rosa, símbolo da
nova vida, pode se
tornar inteira-
mente consciente
no homem.
Mas para que as
mãos não se apos-
sem dela, é preciso
ter perdido a
hábito de querer
dela se apoderar,
segundo A voz do
silêncio.
Foto Pentagrama.

Algumas pessoas sentem esse mo- riência própria e continua a suportá-la


mento de crise de modo agudo. Ou- da maneira correta torna-se uma pes-
tras não estão ainda totalmente cons- soa com reminiscência. O impulso
cientes dele. Talvez não tenham com- crístico percebido como um lampejo
pletado seu ciclo de experiências. Ou de reminiscência divina cumpriu, en-
pertençam à categoria dos "mornos" tão, sua tarefa. Um primeiro objetivo
que continuam a "ser cozidos no fogo é atingido: a "centelha" no ser interior
brando" do hábito e do entorpeci- é reavivada. A pré-memória da glória
mento do ser interior que poderia tra- do homem paradisíaco, do homem
zer a vida a este planeta. São pessoas primordial da ordem divina, está mais
que não podem ficar sem a autoridade ou menos viva. A lembrança conser-
de um "guru", da Igreja ou do Estado, vada e desenvolvida na alma-sangue
e que apenas têm uma abordagem por milhares de gerações permitiu
intelectual do ensinamento universal. escolher a direção certa nesse momen-
Como não têm uma percepção inte- to de crise: a da filosofia gnóstico-eso-
rior, elas não podem ou não querem térica renovada que leva ao renasci-
aceitar o "tudo ou nada", e também mento.
não o realizam em sua prática de vida. O impulso espiritual da pré-memó-
Quem conhece essa crise por expe- ria nos impele para a luz, mas desco-

5
brimos, e isto é o que há de particular, car impiedosamente as gavinhas da
que é impossível ser aceito pela luz videira que o prendem ao antigo."
com base na magia natural. Em certo sentido isso concorda
Este é o sentido de: "A carne e o inteiramente com a idéia da Escola
sangue não podem herdar o reino de Espiritual de que não são várias raízes
Deus. O perecível não pode herdar o que devem perecer, mas todas as raí-
imperecível". Em outras palavras: a zes. Quem quiser ingressar no outro
luz não pode desenvolver nenhuma mundo deverá deixar morrer todas as
força neste campo de vida; ela não raízes de seu próprio mundo.
pode dar-nos apoio algum neste Essas raízes são ramificações de
mundo dos opostos, senão pelo des- uma raiz-mãe: a autoconservação. É
pertar da pré-memória. ela que deve perecer para que possa-
mos extirpar suas ramificações. Mas
"Morro diariamente em Cristo" atentai para o seguinte: deixar morrer,
e não podar o que continua vivo.
A conclusão lógica que se impõe é Podar significa forçar. E foi justamen-
a necessidade de romper com este te tentando alcançar à força algo que
campo de existência. Essa é uma reali- não nos era destinado que perdemos
dade inevitável, e muitos não a acei- nossa condição paradisíaca, criando
tam. Isso não é uma invenção de um mundo de opostos.
Cristo ou da Escola Espiritual, embo- O forçar apesar de tudo é causado
ra a Rosacruz martele essa exigência e pela vontade impelida por desejos
a reitere sem trégua. turbulentos e desmedidos. Nós, seres
Romper com este campo de exis- humanos, nos deixamos levar pela
tência é "morrer diariamente" segun- vida apressados em satisfazer os dese-
do a expressão de Paulo, renunciar jos desenfreados. Corremos de um
diariamente a uma parcela do "velho lado para outro. O homem é como
homem", aos antigos valores da vida um cavalo puro-sangue que pateia
terrestre. Isso significa: romper com a nervoso e agitado, e esqueceu o que é
consciência biológica, dissolver a repouso e paciência.
autoconservação, as cobiças e as espe- Daí a insistência com que é reco-
culações que regem todo nosso com- mendado nada forçar, especialmente
portamento, ou seja, o desapareci- no que diz respeito a alcançar o
mento, em longo prazo, de todas as "Reino". Forçar não traz libertação.
funções animais. Aquilo que pensais alcançar ou ter
Não se pode colocar os pés em alcançado através do forçar, eventual-
duas jangadas. Não é possível entrar mente e apesar de tudo, vos leva ao
no reino de Deus e continuar ligado campo oposto, ao que foi reprimido.
às coisas terrestres. Não podemos ser- E o que é reprimido volta sempre de
vir a Deus e a Mamon. Tudo ou nada. forma mais virulenta.
Esta é a condição para se poder trilhar
o caminho do renascimento. Mas como podemos apreender o
"Quem quiser entrar no outro mundo, que é novo?
como lemos em Cleopatra de Henry
Rider Haggard2, terá de deixar morrer Não gostaríeis de vos voltar para o
as raízes em sua própria terra e arran- novo desejo, com a mesma grande

6
força de vontade com que continuais deveis fazer! Fazei o trabalho que o
a correr de um objetivo para outro? caminho requer de vós, como pesqui-
Não, assim foi-nos dito, na verda- sadores ou como alunos da Rosacruz
de, devemos esperar pelo novo, e não a serviço da grande obra. Não o façais
querer dele nos apossar. para vós mesmos, mas sim porque
Quereis, de qualquer modo, dizer vosso amor vos diz que isso deve ser
adeus à natureza terrestre. Então, feito. Não penseis em vosso próprio
deveis rejeitar o dialético e sinistro adiantamento espiritual, nem especu-
jogo do desejo baseado em autocon- lai sobre a promoção interior, porque
servação no sentido especulativo. eles virão a seu tempo e na hora exata.
Desejar significa, aqui, atrair para si Não é verdade que "vosso Pai sabe do
próprio. Mostrais um certo grau de que tendes necessidade antes de lho
impaciência, pois acreditais que a pedirdes"4, como disse Cristo?
satisfação não é alcançada com a devi- Quando a neutralização dos dese-
da rapidez. jos foi levada ao extremo e toda espe-
Entretanto, por "esperança" com- culação filosófica e metafísica aban-
preendemos: possuir fé é alimentar a donada, desenvolve-se, dentro do
confiança de que "Isso" existe, e que quadro do aprisionamento estrutural,
"Isso" virá a nós. E "Isso" virá, quan- uma recuperada liberdade da faculda-
do chegar o momento, se continuar- de de pensamento. Vede então clara-
mos a nos preparar em auto-oferenda mente em que consiste a meta de vida
no altar de serviço e permitirmos o de alguém que encontrou a Gnosis: a
contínuo processo de autodemolição. edificação do homem celeste por
E portanto existe somente um cami- meio dos mistérios cristãos. Então,
nho: a neutralização da vontade e dos através de uma reversão fundamental,
desejos. Devemos aprender a eliminar alcançareis um estado de solidão indi-
a vontade e os desejos se quisermos cado no Apocalipse de João como a
encontrar o Outro. Para que as mãos "ilha de Patmos"5. Esse é um estado
possam apreender, elas devem primei- de espera inteligente e neutro pelo
ro desaprender a agarrar, como é dito "Dia do Senhor". E é nesse estado de
em A voz do silêncio3. neutralização de vossa vontade e
Neutralizar a vontade e os desejos é desejos que "elevais os olhos para os
um passo no caminho da supressão da montes de onde virá o socorro"6.
autoconservação. Essa autoconserva-
ção vos arma ciladas, mesmo quando
ansiais por alimento e elixir espiri- 1 Rijckenborgh, J. v., O mistério iniciático cris-
tuais, mesmo quando buscais com tão: Dei gloria intacta. São Paulo, Jarinu: Edi-
convicção o reino de Deus e aspirais tora Rosacruz, 2003.
somente por aquilo a que tendes 2 Haggard, H. R., Cleopatra: Being an
direito. Mesmo esse desejo, por mais account of the fall and vengeance of Harma-
chis, the royal egyptian, as set forth by his
espiritual e não terreno que pareça,
own hand, Wildside Press, 2000.
deve ser neutralizado, pois enquanto 3 Blavatsky, H.P., A voz do silêncio – frag-
reconhecerdes esse desejo, é sinal de mentos do livro dos preceitos áureos.
que ainda não vos distanciastes do eu. 4 Mateus 6-9.
Nós ainda continuamos desejando. 5 Apocalipse de João 1:9.
Neutralizar o desejo! É isso que 6 Salmo 121.

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A esfinge e o Cristo

As principais teorias concernentes à civilização e à religião do antigo Egito são


constantemente revistas e modificadas. A respeito de muitos assuntos tateia-se
ainda no escuro. O como e o porquê da Grande Pirâmide são exemplos das
muitas interrogações a respeito desse período essencial da história da
humanidade.

8
A pista que conduz ao cristianismo mo o primeiro fundador de uma reli-
passa pelo Egito. Esta afirmação gião monoteísta. Moisés, na mesma é-
provocará muitas controvérsias, mas poca, ensinava o monoteísmo ao povo
nós a fazemos conscientemente por- judeu.
que, segundo o ensinamento rosa- O centro de gravidade de sistemas
cruz, o desenvolvimento da consci- como o de Akenaton ou o de Lao Tsé,
ência ocidental e da religião cristã se- por exemplo, é a orientação funda-
ria inconcebível sem a base egípcia. mental sobre Aton, ou o Tao.
São numerosas as passagens bíbli- O impulso dado por Akenaton e
cas que sustentam esta opinião: Lao Tsé não tem um efeito direto em
• a permanência de José no Egito, nossos dias, muito embora lance uma
onde ele assumiu importantes fun- luz interessante sobre os problemas
ções; sociais e políticos que nossa consciên-
• os anos de cativeiro que os israeli- cia, com sua maneira de trabalhar uni-
tas ali passaram; camente voltada para a percepção sen-
• o conflito de Moisés com os sacer- sorial, é quase incapaz de resolver2.
dotes egípcios; Em meio ao declínio da civilização
• a fuga de Jesus para o Egito e as da época, com a religião solar de
palavras: "Do Egito chamei meu Aton, Akenaton instituiu um novo
filho"1. poder, a despeito das resistências do
clero de Amon. Esse período, bas-
Não devemos ver o Egito apenas tante discutido, durou muito pouco
como uma certa região, mas como tempo, aproximadamente quinze
uma civilização resplandecente, um anos, de 1353 a 1335 a.C. Desse perío-
lugar onde duas forças opostas se do dão testemunho as ruínas de
encontram há milhares de anos e onde Akhet-Aton, "Horizonte de Aton", a
conseqüentemente tornou-se visível a então nova cidade fundada por Ake-
luta entre a luz e as trevas. naton, conhecida hoje como Tel el-
Os tesouros funerários do Egito, Amarna, no Médio Egito.
como o de Tutankamon, despertam a É provável que Akenaton tenha
admiração. A vida desse faraó criança sido assassinado. Em todo caso, a
está associada a uma tragédia que cidade solar foi aniquilada e o nome
mostra claramente o jogo de forças de Akenaton apagado tanto quanto
entre a luz e as trevas. possível. Foi como se esse faraó jamais
Tutankamon era filho de Akenaton, tivesse existido. Em seguida veio um
o "faraó herético". Ele foi casado com período de instabilidade. E um novo
uma de suas irmãs, como era costume faraó, Tutankaton, de nove anos, um
na família real egípcia. dos filhos de Akenaton, cujo nome foi
Desde a juventude, Akenaton dese- mudado para Tutankamon.
java operar uma renovação radical na Os sacerdotes retomaram o poder e
religião do Egito, país governado e permaneceram em segundo plano.
manipulado pela casta sacerdotal. Ele Durante a curta vida de Tutankamon,
Gravura de uma
suprimiu todo o panteão que cercava todo o impulso de renovação de Ake-
pirâmide e da bri-
o deus Amon, substituindo-o por um naton foi reduzido a nada. lhante irradiação da
deus único, Aton. Assim Akenaton – Não é de se surpreender então que "pedra do cume".
junto com Moisés – apresentou-se co- uma criança como Tutankamon tenha Pentagrama.

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do: "Cumpriste o teu dever, Maho".
"Eu daria minha vida por ti!",
exclamei. Mas Akenaton me pergun-
tou tristemente: "Não podias tê-lo
deixado viver?" "De modo algum",
respondi ao meu senhor. E isso era
verdade. Então, preocupado, ele sus-
pirou: "Esses infames tramaram algu-
ma ação criminosa que Aton abomi-
na. Embora não tenham conseguido
me eliminar, caímos na armadilha".
Febrilmente, exclamei: "Os crimi-
nosos devem ser passados a fio de
espada!"
sido abusada em tais circunstâncias e "É justamente isso que o mal quer.
que viesse a morrer jovem. Em seu Terá o mal jamais sido eliminado
crânio foram encontradas marcas de dessa maneira? Quando? Quando a
golpes violentos. humanidade inteira verá as coisas sob
No livro Akenaton, aquele que a mesma luz?"3
vive na verdade do prêmio Nobel Eis aqui o grande dilema da existên-
egípcio Nagib Mahfuz, é dito: cia humana: servir a luz em vez de se
"Meu coração estava inquieto pelo entregar ao desejo de poder; oferecer
meu mestre, o faraó Akenaton. Estava o amor misericordioso em vez de pro-
aflito com a idéia de que algo terrível vocar o medo de viver.
pudesse acontecer a ele devido a tan- Muitas pessoas buscam o amor.
tas intrigas. Mas, em todas as circuns- Todos os desenganados e aflitos bus-
tâncias, ele permanecia imperturbável. cam, no mais fundo de seu coração,
Sua fé tornava-se cada dia mais forte; um chamado, um sinal de esperança.
mais forte do que outrora, quando ele Para toda a humanidade, o símbolo
acreditara na vitória. Ele se prendia ao desse chamado, dessa esperança,
amor, talvez ainda mais fortemente encontra-se no Egito, sob a forma da
que antes, como se tomasse as trevas esfinge, como um poderoso sinal de
como sinais precursores de uma res- reconhecimento. Mas não o monu-
plandecente claridade. mento do leão com cabeça humana
Baixo-relevo com Em um daqueles dias sombrios, sob que vemos desgastado e danificado
o monograma de
instigação dos sacerdotes, um assassi- pelos milênios.
Cristo. Síria.
O círculo da
no penetrou traiçoeiramente seus Não, o que temos em mente é um
eternidade, o P aposentos para matá-lo. Felizmente, homem com juba e força de leão, que
(rhesch) que minha flecha foi mais rápida; do con- nos impressiona por seu poder e ma-
representa Deus trário meu soberano não estaria vivo. jestade. A esfinge é banhada pelo halo
o Filho, e o X (chi) Eu atingira o assassino no peito. Ake- do sol que está atrás dela, como o bri-
que representa
naton mal teve tempo de assustar-se. lho do deus solar descido dos céus.
Cristo. O Alfa, à
Com o coração apertado, ele olhou Com essa imagem diante dos olhos,
direita, é
o começo e para o homem que dava o seu último aquele que é tocado e deseja seguir
o Ômega, o fim. suspiro. Após certo tempo, ele se com entusiasmo essa nova direção
Foto Pentagrama. voltou para mim e disse com ar cansa- deve ir ao encontro da luz que o

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chama. Mas, inesperadamente, ele é "O Leão de Judá". É Cristo, a energia
repelido. Não se pode passar assim solar libertadora do cosmo, que
pura e simplesmente diante da esfinge, emana do Pai a fim de chamar os
pois a partir desse momento pisamos pequenos seres humanos para que
em terreno mágico. Caso o buscador saiam do deserto e retornem à sua ver-
desconheça a senha secreta, ele não dadeira pátria. E esse chamado não
pode seguir adiante. O acesso à pas- ressoa apenas agora, ou ressoou há
sagem secreta que vai da esfinge à dois mil anos, ou no antigo Egito,
Grande Pirâmide lhe é negado. A porém ele ressoa incessantemente,
poderosa e impressionante esfinge pois há sempre um ser que busca e
permanece silenciosa. Como saber uma força libertadora que responde.
quais são suas exigências? Como O círculo de fogo foi ultrapassado:
saber o que ela nos solicita que entre as poderosas patas leoninas da
façamos? Resta-nos olhar a silhueta esfinge abre-se o acesso à pirâmide
imponente que nos barra a passagem. radiante de luz.
A esfinge monta guarda no lugar de Agora podemos olhar o interior do
Aton, o deus-Sol, que chama o ser caminho iniciático que se abre. Se tra-
humano… mas o homem, em seu çarmos uma linha reta, veremos que
estado atual, não pode ultrapassá-la. ela aponta para a estrela polar. Mas o
O ser humano não pode receber a corredor de entrada da pirâmide não
senha a menos que tenha triunfado sobe, porém desce. E o neófito fica
sobre seu inimigo interior, o inimigo estupefato. Acaso não acreditava ele
que vive nele e em nenhuma outra realmente poder conquistar o céu? A
parte. É esse inimigo que impossibili- "iniciação" não consiste em elevar-se,
ta a passagem, pois sua voz jamais se em treinar-se ou cultivar-se de modo
cala e ele sempre se impõe. refinado? "Aproximar-se de Deus"
não significa "fugir do mundo"? No
Alfa e ômega – princípio e fim mais profundo de sua consciência, o
neófito deve compenetrar-se da idéia
E assim o inimigo persevera até o de que a iniciação é um "caminho de
instante em que o ser humano se lem- cruz". E essa cruz está fincada no
bra do outro leão: o Leão de Judá, o nadir de seu ser. A esse propósito, J.
divino vitorioso cujo poder reduz o van Rijckenborgh escreveu: "É neces-
ego ao silêncio. sário coragem para descer. Que herói,
Então, no meio do deserto de sua que heroína segundo o espírito ousa
vida, ele se lembra das palavras: "Eu avançar? Para ter essa audácia, é ne-
sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o cessário abnegação, compreender as
Fim. Eu sou o Deus do qual todas as exigências do Leão de Judá, imerso
coisas são"4. A esfinge permanece ca- nas areias do deserto da miséria hu-
lada, mas o homem começa a adi- mana: ‘Vai, vende tudo o que tens… e
vinhar que é o Pai de todas as coisas segue-me’ […] Não se trata de fugir
que lança esse chamado. do mundo, mas de abarcar o mundo;
Agora ele compreende o mur- de ‘tomar sua cruz’; e, em nome da
múrio: "Meu ser e meu coração se Luz, escolher as trevas para ali desper-
voltam para ti, tu me pertences". E a tar a Luz"5. A abnegação conduz à câ-
senha se mostra de modo evidente: mara subterrânea da pirâmide.

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Representação O que acontece após a oferenda o pouco valor de nossa ajuda bem
fantasiosa das de si mesmo? como a maneira como fracassamos. E
pirâmides de Gisé.
Gravura do século
experimentamos como tudo, come-
dezenove. Percorrer o caminho significa doar- çando pela consciência humana natu-
Fonte: O velho se, em auto-rendição, à Luz, que nos ral, é deformado, esquisito, embara-
mundo. liberta quando servimos a outrem. lhado como o fio de um novelo. Con-
Nada pode ser mais claro! Disso re- jecturas errôneas, por parte dos ou-
sulta o autêntico autoconhecimento. tros ou de nós mesmos, interpõem-se
Algumas vezes ouvimos dizer: é pre- por toda parte. E finalmente descobri-
ciso primeiramente conhecer a si mos a causa, o motivo a partir do qual
mesmo antes de encetar o caminho. tudo começou.
Segue-se daí uma investigação mental Tal é a degradação do homem culto
mediante a qual acredita-se atingir as – e também a do homem natural.
camadas profundas do ser, ou mesmo Eventualmente o caminho leva para
o subconsciente. Esse caminho é im- baixo, para a fonte, a raiz, o fogo fun-
praticável, pois o autoconhecimento damental do plexo sacro. É ali que se
não é mental, porém essencial. Ele diz encontra a câmara subterrânea da pi-
respeito ao âmago dos homens. E râmide. À semelhança de uma criança
aquele que se coloca a serviço do pró- ingênua, purificado pelos serviços
ximo e sacrifica-se pelos outros, pela prestados e pela compreensão, cheio
luz nos outros, acaba encontrando a si de arrependimento, como o filho
mesmo. Tudo o que nele se encontra- pródigo, o homem se encontra diante
va oculto, tudo que lhe era desconhe- do fogo criador.
cido, lhe é revelado, e muitas ilusões Mas, esse também é um momento
são expulsas. Até mesmo a ilusão de perigoso! Pois, como ir mais além?
ser um candidato, pois é unicamente o Acaso não é esse fogo criador mal uti-
ser de luz, o Outro nele, que se encon- lizado a causa de toda miséria da
tra no caminho de iniciação. humanidade? Como é possível fazer
Começamos por tomar consciência bom uso desse fogo?
de nossos erros intencionais, pois, ao Quando o serviço ao próximo e
querer ajudar os demais, cometemos uma sábia compreensão iluminam o
erros. Ao progredirmos, descobrimos amor no coração, o caminho passa a
subir por um curto
instante, pois a
progressão da inici-
ação na pirâmide
do serviço ao pró-
ximo logo se choca
contra um grande e
pesado bloco de
granito: para um
ser comum, o ca-
minho, nesse mo-
mento, torna-se
absurdo e impra-
ticável. Que sig-
nifica esse símbolo representado por desenvolvimento da alma chega a esse
uma barreira de pedra senão a imagem ponto, abre-se diante do candidato
do ser humano com todos seus uma galeria grande, alta e larga que
motivos egocêntricos? Por melhores leva à câmara do rei.
que sejam suas intenções adquiridas Trata-se do caminho triunfal em
pela humildade, ele não se encontra que a Luz abençoa a personalidade
apto para verdadeiramente percorrer que perseverou. Uma inexprimível
o caminho iniciático. Apenas a vi- majestade preenche a galeria ascen-
vificação nascida da ajuda ao próxi- dente. Aqui, novamente e antes de seu
mo, que corresponde à rendição ao ingresso, o candidato deve dar provas
amor universal e ao núcleo divino em de que realmente compreendeu o mis-
si, permite seguir o caminho ascen- tério crístico que a esfinge lhe ensi-
dente. nou, pois para entrar na câmara do rei
Por isso, o processo de auto-rendi- é preciso que o candidato se curve
ção a esse princípio não pode ser se- para passar por uma abertura bastante
guido senão pelo poder da nova alma. baixa.
Por esse novo caminho, desta vez ho- Somente em humildade ele pode aí
rizontal – o madeiro transversal da entrar. Ele ainda nada sabe das gran-
cruz no caminho – o homem-alma des provas que o aguardam. Nele ape-
chega à câmara da rainha, o lugar onde nas arde o único saber: por meu
a Luz renasce. Aqui o Cristo interior serviço, eu me reduzi a nada; somente
imaculado é recebido, o Outro em ele, o Outro em mim, tornou-se tudo.
nós, que emana da "Mãe" simbólica, Toda substância terrestre desapare-
símbolo da virgem dos mistérios. Tra- ceu e o sarcófago é totalmente preen-
ta-se da recepção de uma nova força chido de vibrações do Espírito. A
espiritual não material. J. van Rijcken- imagem da fênix, o pássaro dos mis-
borgh disse que nesse ponto o bus- térios egípcios, aplica-se agora ao can-
cador vence todos os fatores de didato: o egocentrismo da personali-
oposição que entravam o verdadeiro dade foi vencido, aniquilado, e o
desenvolvimento da humanidade. corpo da alma ressuscita no fogo da
purificação.
A câmara do rei A Grande Pirâmide pronunciou a
palavra mágica. A missão do ser hu-
A despeito desse santo momento na mano, da humanidade inteira, está
câmara da rainha, o neófito recebe inscrita em suas pedras. Esse é o cha-
uma séria advertência: "Quem estiver mado da esfinge para seguir a Cristo:
em pé cuide-se para não cair". Na "Vende tudo o que tens… e segue-
Grande Pirâmide, esse aviso é sim- me"1.
bolizado por uma passagem que 1 Mateus 2,15.
parece uma armadilha; esse fosso lem- 2 Rijckenborgh, J. v. e Petri, C. d., A Gnosis
bra a câmara subterrânea. Depois, chinesa, cap. 3. Jarinu: Ed. Rosacruz – em
preparação.
após uma nova purificação, o cami-
3 Machfus, N., Echnaton. Der in der Wahrheit
nho deve ser reiniciado. lebt. Zurique: Unionsverlag, 1999.
Nessa força espiritual crística há 4 Apocalipse 21, 6-8.
uma atividade desenfreada, dinâmica e 5 Rijckenborgh, J. v., A Grande Pirâmide –
pacífica ao mesmo tempo. Quando o Pentagrama ano 4, no 9, 10 e 12 (ed. francesa).
O campo de trabalho
A Rosacruz moderna, em seus oitenta anos, encontrou solo fértil nos quatro
continentes. Já é uma tradição apresentar, no primeiro número da revista Pen-
tagrama de cada ano, um relatório sobre a extensão de seu campo de trabalho
mundial. Desta vez, a ênfase será dada aos países africanos onde a Escola
experimenta um florescimento que, no contexto ocidental, é geralmente incon-
cebível.
Novos núcleos América Central, México

Na primeira se- No México, novamente vemos


mana de janeiro confirmado o longo alcance do olhar
de 2004 foram dos fundadores da Escola Espiritual:
abertos três nú- em todo o mundo, muitos bus-

o campo de trabalho
cleos. No dia 3 de cadores se voltam para a força liber-
janeiro, em Ren- tadora e a orientação prática de uma
nes, a noroeste da França; no dia 6 de vida totalmente interior mostrada
janeiro, em Bolzano/Bozen, Itália/ pela Escola Espiritual da Rosacruz
Áustria; e no dia 8 de janeiro, em Áurea. Um grupo de amigos mexi-
Koszalin, na Polônia. canos, reunidos por um longo tempo
O núcleo de Bolzano é único, na busca comum da verdade, tomou
pois, estando situado na fronteira contato, pela primeira vez, com a
entre a Itália e a Áustria, é freqüenta- obra dos grão-mestres. A conse-
do por alunos desses dois países. Em qüência desse feliz acontecimento
setembro, esses dois grupos organi- foi a abertura, em Guadalajara, Mé-
zaram uma tarde de orientação e xico, do primeiro núcleo do Lectori-
uma exposição: "Os quatrocentos um Rosicrucianum. Aproximada-
anos da Rosacruz". Nessa ocasião, mente sessenta e dois alunos, dentre
um funcionário dos arquivos muni- os quais alguns vindos dos Estados
cipais fez uma palestra sobre "Adam Unidos, da Holanda e da Espanha,
Haslmayer, escritor da cidade de assistiram essa conferência realizada
Bolzano e propagador dos Mani- por ocasião da inauguração. Nos
festos Rosacruzes". Haslmayer, dias que se seguiram, foram real-
músico, filósofo, alquimista e teóso- izadas duas palestras públicas, acom-
fo, foi o primeiro a publicar uma panhadas com bastante interesse.
resposta à Fama Fraternitatis, o Num artigo de uma próxima edição
chamado da Fraternidade Rosacruz, da revista Pentagrama de 2005 rela-
de 1614. As autoridades eclesiásticas taremos as características espirituais
sentiram-se confrontadas, e ele foi particulares desse país.
condenado às galés por tempo inde-
terminado, sendo liberto somente América do Sul, Brasil
quatro anos e meio mais tarde.
Exatamente abaixo da linha do
América do Norte equador, a 3° de latitude sul e 60° de
longitude oeste, está Manaus, uma
Em abril, uma primeira Conferên- cidade de um milhão e meio de habi-
cia de Renovação aconteceu na parte tantes. Ela se estende pela margem
anglófona do Canadá. Em Inverary, norte do rio Negro, um afluente do
Ontário, está localizado o Kingston rio Amazonas, e é praticamente ina-
Conference Center, a meio caminho tingível por via terrestre. A cidade
entre as grandes cidades de Toronto somente pode ser alcançada de avião
e Montreal. No início havia apenas ou de barco – 1000 km pelo rio À esquerda: o sím-
duas conferências por ano, especial- Amazonas! A capital do Amazonas é bolo do Lectorium
mente para os alunos de Ontário que um dos mais importantes portos do Rosicrucianum
nem sempre podiam fazer a longa Brasil. Desde o final dos anos 70, a marca a entrada
viagem para Chatham, no estado de Escola está ali estabelecida. Certa- do núcleo de
Nova Iorque. Nessa primeira con- mente podemos imaginar a grande Pointe Noire na
ferência estavam presentes alunos da alegria do grupo de quase 25 alunos República do
Holanda e da Califórnia. quando, em 17 de julho, um núcleo e Congo.

15
um templo foram inaugurados. Nes- Jovens alunos e jovens do Trabalho
sa ocasião estavam presentes, além da Mocidade prepararam uma peça
de alunos de outros núcleos do sobre a lenda de Parsifal. Abertura,
Brasil, visitantes dos EUA, Suíça e transparência, atenção, compreen-
1 e 6: Reunião da Holanda. são, alegria e realização interna
Mocidade no Cen- No Espírito Santo, bem mais ao foram as palavras com as quais
tro de Conferên- sul do país, foi encontrado um novo alunos e visitantes comentaram as
cias La Source local para o trabalho, cujo prédio foi experiências desse dia.
Vive, em Kinshasa,
totalmente reformado. Além de todo
República
o espaço especial de núcleo, existe África, Camarões
Democrática do
também um espaço para o trabalho
Congo.
público. A consagração, em 5 de Camarões é tão grande quanto a
2 e 4: Entrada do
Jardim do Centro
maio, de um novo templo para Alemanha e tem 16 milhões de habi-
de Conferências
aproximadamente 50 pessoas culmi- tantes. Ali se encontram dois centros
de Libreville,
nou todos esses esforços. importantes do Lectorium Rosicru-
Gabão.
Em 24 de outubro, no Centro de cianum: em Iaundê, a capital, há um
3:Terreno do novo Conferências Pedra Angular, em Ja- Centro de Conferências de Reno-
núcleo de Matadi, rinu, aconteceu um dia de "portas vação, "A Nova Aurora", e outro
República abertas". O tema das curtas palestras Centro encontra-se na cidade por-
Democrática do foram o Santo Graal e a mensagem tuária de Duala, a 350 km de Iaundê.
Congo. especial da Escola Espiritual. Houve Além disso, em Edea, entre Duala e
5: Alguns alunos um animado intercâmbio de idéias. Iaundê, os alunos se reúnem regular-
em frente da Aos visitantes – 550 amigos, pa- mente em um pequeno templo par-
entrada do núcleo rentes e pesquisadores – foram ticularmente bonito.
de Pointe Noire. mostrados os prédios e o templo. O Centro de Conferências "A

16
Nova Aurora" foi abandonado em pessoas. Camarões conta com 700
2005. Com capacidade para 300 pes- alunos e o Trabalho da Mocidade
soas, ele se tornara muito pequeno está em plena florescência. Palestras
diante do crescimento do grupo. públicas e reuniões são realizadas em

o campo de trabalho
Como resultado de grandes esfor- espaços menores, e simpósios são às
ços, um novo Centro foi construído vezes organizados na capital. Tudo
no Monte Febé, incluindo os aloja- isso desperta ali um grande interesse.
mentos. Do alto dessa colina tem-se
uma bela vista da cidade. É um lugar África, República Democrática
esplêndido, onde a temperatura é do Congo
bem mais amena que o calor tropical
que impera nos arredores. Em março Em Kinshasa – 6 milhões de habi-
de 2005 será consagrado o grande tantes – capital da República
templo, com capacidade para 500 Democrática do Congo, encontra-se
o Centro de Conferências La Source
Vive (A Fonte Viva). Ali acontece
mensalmente, além dos serviços e
outras reuniões, uma Conferência de Sobre a placa do
Renovação para cerca de 150 a 200 Lectorium
alunos. Esse Centro não pára de Rosicrucianum de
crescer. Atualmente, um refeitório e Brazzaville brilha, à
alojamentos encontram-se em fase esquerda, a rosa
de construção, porém a falta de di- sétupla mencionada
nheiro retarda o andamento da obra. em Summum Bonum
A República Democrática do Congo de Robert Fludd.

17
é cinco vezes maior que a Alemanha Escola Espiritual ali é grande, e os
e conta com 57 milhões de habi- serviços e palestras são bastante fre-
tantes. Apesar da situação difícil (um qüentes; não é raro que o número
médico competente não ganha ali de interessados que assistem a uma
mais que 30 dólares por mês, quando palestra pública chegue a 150. Al-
recebe!) a obra da Escola Espiritual guns alunos doaram um terreno nos
prossegue. arredores da cidade, onde futura-
A cidade de Matadi (a rocha), `as mente se erguerá o centro de con-
margens do rio Congo, a 350 km de ferências. Os trabalhos já tiveram
Kinshasa, é rodeada por pequenas início. No Gabão existem cerca de
elevações e situa-se ao lado do 130 alunos.
oceano Atlântico. Ali, um grupo de
aproximadamente 70 alunos deu os África, Costa do Marfim
últimos retoques no pequeno núcleo
e em seu templo. A conclusão do Nesse país em guerra há um grupo
conjunto está prevista para o início de 40 alunos devotados ao trabalho
deste ano. Muitos alunos estão da Escola. Há pouco tempo eles se
espalhados nessa imensa república instalaram em um novo núcleo no
congolesa. Em Boma (Baixo Con- porto de Abidjan, antiga capital.
go), perto da fronteira de Angola, Infelizmente, as atividades dos
existem aproximadamente 50 alunos. rebeldes causaram a perda de outro
Na província de Katanga estão as núcleo situado em Buakê, 459 km ao
cidades de Lubumbashi (2000 km a norte de Abidjan. O novo núcleo
sudoeste de Kinshasa) e de Likasi. dessa cidade foi inaugurado em ou-
Na primeira residem cerca de 50 tubro. Ali também é grande o inte-
alunos e na segunda, 35. Nessa resse pela Escola Espiritual. A Costa
região existem minas de cobre, do Marfim, com uma superfície
cobalto, urânio e rádio. Em Mbuji menor do que o Gabão, possui 17
Mayi, capital da província de Kasaï milhões de habitantes. Ali impera
Leste, conhecida por suas minas de forte recessão econômica e, depois
diamantes, há 90 alunos. Ainda mais da guerra, o país terá de enfrentar
longe, encontram-se alunos nas ci- uma dívida externa de cerca de 14
dades de Mwene Ditu e Kananga bilhões de dólares.
(em Kasaï Oeste). Os meios de co-
municação entre essas cidades são África, Benin
bastante ruins. Algumas estradas são
perigosas, com uma só mão de Esse país de sete milhões de habi-
direção, ou simplesmente são intran- tantes espreme-se entre o Togo e a
sitáveis. Mesmo assim o Trabalho da Nigéria, rica em petróleo, e é quase
Mocidade é bastante ativo: as cri- do tamanho do Acre. Entre a cidade
anças vão de bom grado aos núcleos, de Cotonu, na embocadura do
seja a pé ou em veículos improvisa- Queme, e a capital, Porto Novo,
dos. encontra-se a pequena vila de Djere-
bé, onde está situado o Centro de
África, Gabão Conferências Sole Novo (Novo Sol),
numa região rural sem ruído de trá-
O Gabão tem um milhão de habi- fego. No Benin há aproximadamente
tantes e compreende 40 grupos étni- 100 alunos, principalmente nessas
cos. Na capital, Libreville, há um duas grandes cidades. Uma confe-
belíssimo núcleo do Lectorium rência de renovação é realizada men-
Rosicrucianum. O interesse pela salmente em Sole Novo. No norte do

18
o campo de trabalho
país há uma pequena construção vel. Nessa cidade existe um pequeno
(que ainda não é um núcleo) onde se núcleo na casa de um dos alunos
reúne regularmente um certo núme- mais antigos. Nos arredores da ci-
ro de alunos. dade, um bonito terreno foi adquiri-
do pelos alunos de Pointe Noire e as
África, República do Congo paredes de um novo núcleo já foram
erguidas.
A República do Congo situa-se
imediatamente abaixo do equador e Europa, Alemanha
tem 3,5 milhões de habitantes. A
capital, Brazzaville fica em frente a Em 6 de março, um sábado, foram
Kinshasa, na outra margem do ma- inauguradas as novas instalações do
jestoso rio Congo, e tem um milhão núcleo de Sarrebrücken, no sudoeste
e meio de habitantes. Nessa cidade da Alemanha. No dia 20 do mesmo
bastante sofrida existem mais ou mês foi erigido no Templo Christia-
menos 35 alunos que construíram nopolis, em Birnbach, um monu-
um núcleo em terreno próprio. Em mento que representa a atividade da
julho de 1997, o núcleo foi saqueado natureza superior voltada para a hu-
durante um conflito político arma- manidade e a de um grupo de ho- O bonito jardim
do. A cidade e os arredores oferecem mens que aspira a se elevar até ela. do Centro de
pouca segurança por causa dos sol- Isso é simbolizado por duas pirâmi- Conferências de
dados que continuam rondando por des que se unem no vértice. A pirâ- Edshult, na Suécia,
ali. Tomar o trem para ir até o porto mide descendente mostra a rosa da refletido em um
de Pointe Noire não é recomendá- Cabeça Áurea – o campo da ressur- vaso.

19
reição. No primeiro capítulo da ter- pela Escola Espiritual na terra: a vi-
ceira parte de A Gnosis em sua atual tória sobre o mundo. Desse modo,
manifestação, Jan van Rijckenborgh os alunos sustentam e valorizam
explica a importância dessa ligação. uma ligação pura com o novo campo
Uma escola espiritual estabelecida de vida.
na terra aplica-se a vencer, sem
1 e 3: A exposição descanso, as forças cármi- Europa, Suécia
"Rosacruz e cas, o carma do mundo,
Hermetismo" em bem como o carma indi- A conferência interna-
Barcelona,
vidual, a fim de poder cional realizada em
Espanha.
permanecer no puro Edshult, de 4 a 8 de
2: O núcleo de
campo nutridor da agosto, despertou gran-
Bozen/Bolzano na
Gnosis. Isso exige um de interesse. Cerca de
Áustria/Itália.
4: Cartaz do
trabalho sobre si mes- 80 alunos estrangeiros
Simpósio "400
mo, empreendido com encontraram-se na at-
anos de Rosacruz"
toda a energia necessária mosfera campestre desse
em Moscou,
para vencer o mundo (no núcleo. Um grupo de ho-
Rússia. sentido místico, as forças landeses, que veio de carro,
5 e 6: O novo cármicas são designadas pela seguiu para Visingsö, uma ilha
núcleo de Lisboa. palavra "mundo"). O pólo norte do situada ao norte de Jonköping, em
7: As duas campo magnético da Escola Espiri- cujo centro encontra-se um grande
pirâmides tual, então, liberta-se desta natureza pentagrama de pedra, como não há
imbricadas no e se torna pura luz. Para os alunos, em parte alguma na Suécia. Numa
Templo esse campo é o campo da ressurrei- das tardes da conferência foi aborda-
Christianopolis. ção. Esta é a atividade empreendida da a história de Edshult, e ficou pa-

20
tente que a Luz aí já vinha atuando Que outro ser senão o ser todo po-
há muito tempo. deroso que, de um beijo, deu vida
Em 4 de dezembro, os alunos sue- aos serafins, saindo das trevas infini-
cos de Estocolmo organizaram um tas, lançando na dança os inu-

o campo de trabalho
seminário sobre Erik Johan Stag- meráveis sóis e faz, mediante sua
nelius, um poeta descrito como um força, girar os mundos até os dias de
típico romântico nórdico, que viveu hoje? Sim, alegra-te, meu amigo, e
de 1793 a 1823. Não se sabe quase canta em meio aos mais negros tor-
nada de sua vida, mas ele é tido mentos: a noite é a mãe do dia, o
como um dos maiores poetas da li- caos é vizinho de Deus." Stagnelius
teratura sueca e um típico represen- é, com muita freqüência, qualificado
tante de seu tempo. Atormentado de "poeta gnóstico". Esse foi o as-
entre os desejos irrealizáveis e a pecto amplamente evocado nesse se-
problemática romântica da época, minário.
seus sentimentos faziam-no passar
do abatimento mais profundo aos Europa, Espanha
mais sublimes êxtases. Sentia-se um
estrangeiro em sua terra – mas tam- Nos meses de setembro e outubro
bém sabia a razão desse sentimento. aconteceu em Barcelona uma expo-
Em Amigo de uma época desespera- sição com o tema "Hermetismo e
da ele escreveu: "Que anjo conso- Rosacruz: os mistérios egípcios e sua
lador colocará em tua alma ordem e influência na vida espiritual da Eu-
beleza, restabelecerá este mundo ropa". Essa manifestação foi prepa-
despedaçado, elevará o altar demoli- rada pela Fundación Rosacruz da
do e nele acenderá a chama sagrada? Espanha e pela Bibliotheca Philo-

21
1: Confraterniza- sophica Hermetica de Amsterdã em
ção no hall do colaboração com a Biblioteca Arús
primeiro núcleo de Barcelona. Esta última, fundada
do México, em 1895, é a mais rica biblioteca do
durante a inaugu- mundo em franco-maçonaria. Na
ração em Guadala- época do general Franco, essa insti-
jara. tuição precisou esconder seus livros
2 e 3: "Portas esotéricos por receio de vê-los con-
abertas" no Cen- fiscados.
tro de Conferên-
Por ocasião da exposição, foram
cias "Pedra Angu-
feitas duas palestras públicas. Os
lar" em Jarinu,
painéis mostravam eloqüentemente
Brasil.
que o hermetismo, cuja fonte é o
4: O porto de
Egito dos faraós, passando pela
Manaus, no Rio
Negro, mil
alquimia, havia sido o fundamento
quilômetros rio
do trabalho da Rosacruz clássica,
adentro.
um trabalho que perdura até os dias
5: Centro de Con- de hoje.
ferências de
Kingston em Hermes é a fonte!
Ontário, Canadá. Um bonito catálogo com muitos
detalhes e livros de uma grande
beleza tocaram o coração do visi-
tante desejoso de mergulhar, por al-
guns momentos, no assunto em
questão, e assim elevar-se acima do
cotidiano. Valetta, a capital, foram realizadas,
É possível ver essa exposição – em 15 de novembro, uma Conferên-
com os livros originais – no Centro cia de Renovação e uma palestra
de Conferências El Nuevo Mercu- pública com o tema "Carma e reen-
rio, em Zaragoza, antes que ela seja carnação", assistida por quarenta
transferida para Madri. interessados. Os painéis que traziam
todos os tipos de informação provo-
Europa, Malta caram numerosas discussões. Todos
ouviram atentamente e, após o inter-
A ilha de Malta é conhecida por valo, não faltaram trocas de idéias.
seus velhos templos de milhares de Disso resultou um grande interesse
anos, onde o caduceu e o signo de pelo curso que deveria começar duas
Touro ocupam importante lugar. As semanas mais tarde.
ruínas desses templos e os subterrâ-
neos são considerados os mais anti- Europa, Rússia
gos monumentos de pedra do São Petersburgo
mundo. Eles são tão singulares que a Na Rússia, as formalidades
UNESCO de- administrativas tomam muito tem-
clarou essa ar- po. Em 2004 um terreno com al-
quitetura mega- guns casebres deteriorados foi ad-
lítica de aproxi- quirido nas proximidades de São
madamente Petersburgo. Foram necessários
6000 anos pa- dois meses para a assinatura do
trimônio da hu- contrato, e sem dúvida não levará
manidade. Em menos tempo para a aquisição do
terreno limítrofe pelo qual a Esco- caminhos e de desenvolver canais de
la se interessa. Para se ganhar um informação alternativos. A Editora
pouco do tempo despendido com Rosacruz da Rússia cedeu à editora
esses procedimentos, pensa-se em esotérica Amrita-Rous os direitos de
erguer uma construção pré-fabrica- edição, com formato específico, dos

o campo de trabalho
da para 100 pessoas. tomos I e II da Arquignosis egípcia.
Esses dois tomos contêm todas as
Novo centro de conferências perto de informações necessárias sobre o
Moscou Lectorium Rosicrucianum e sua li-
É compreensível que os alunos teratura. A tiragem foi de 5000
russos sonhem com seu próprio exemplares para cada tomo. A dis-
Centro de Conferências, mas no tribuição e a divulgação serão feitas
momento trata-se apenas de um em toda a Rússia. Assim, as obras de
desejo. Alguns alunos adquiriram Jan van Rijckenborgh e de Catha-
um terreno de cerca de cinco rose de Petri alcançarão o grande
hectares a uns 30 quilômetros a público: o editor prevê que esses
noroeste de Moscou, mas ainda não exemplares se esgotarão em um
têm permissão para construir. Con- semestre. Além disso, os tomos de I
tudo, com o atual desenvolvimento a IV serão igualmente publicados
econômico russo, é muito provável pela Editora Rosacruz da Rússia.
que isso aconteça rapidamente.
Exposição e simpósio
Colaboração particular Em abril de 1993 duas palestras
Um (jovem) campo de trabalho públicas e uma exposição foram o
tem a possibilidade de trilhar novos ponto de partida do trabalho na

23
madamente quarenta alunos vindos
da Europa e 210 alunos russos.

Simpósios e conferências de um
dia na Holanda

Alkmaar
Em setembro, o aniversário de
750 anos de Alkmaar foi o ponto de
partida para a realização de um sim-
pósio sobre o tema "Cornelis
Drebbel, uma destacada personali-
dade de Alkmaar". Na biblioteca
pública, mais de 100 convidados vi-
sitaram a exposição e assistiram à
palestra com o mesmo tema. Nelas
Rússia. Foi no decorrer de um sim- foi ressaltada a íntima conexão entre
pósio organizado de comum acordo esse personagem e a primeira edição
pela Bibliotheca Philosophica Her- integral do Corpus Hermeticum em
metica e a Biblioteca Rudomino de holandês. Foi mencionado o círculo
Moscou, e sob a iniciativa da direto- ao qual Drebbel pertencia e que, sob
ra desta última, sra. Ekaterina os auspícios do cáiser Rodolfo II de
Genieva, que a Escola Espiritual da Habsburgo, tentou revelar a grande-
Rosacruz Áurea teve a oportunidade za potencial do ser humano: o ho-
de se apresentar. mem universal como reflexo do Bem
Em 29 de novembro de 2004, único, do Espírito único. Drebbel e
depois desse acontecimento e em seu amigo Robert Fludd, que ele
continuidade a ele, o embaixador da conhecera na corte de James I, parti-
Holanda na Rússia, Dr. Tiddo Hof- lhavam esse mesmo conhecimento, e
stee, inaugurou a exposição "Os esse fio condutor os uniu. Por meio
quatro séculos da Rosacruz" na pre- de tentativas diversas, de invenções e
sença de aproximadamente 200 visi- de experiências químicas, eles prova-
tantes do simpósio. ram que os fenômenos herméticos
Nessa ocasião, a Escola Espiritual tinham seu equivalente até na ma-
e a Bibliotheca Philosophica Her- téria; que a luz influía nas mínimas
metica realizaram, no imenso e partículas impondo-lhes suas leis.
Desenho do sécu-
totalmente renovado auditório da
lo XVII represen-
Biblioteca Rudomino, um colóquio Renova
tando o "moto
do qual participaram diferentes "A Gnosis é o conhecimento da-
contínuo" conce-
movimentos esotéricos. O tema quilo que fomos e do que viremos a
bido por Cornelis
Drebbel, inventor
foram as relações espirituais de ser, do lugar onde estávamos e da-
e alquimista de
todos eles com a Rosacruz. É notá- quele para o qual nos precipitamos,
Alkmaar.
vel que há exatamente quatrocentos para onde nos apressamos e de que
À direita: painéis anos J. V. Andreæ escrevia Die nos libertamos, do que é nascimento
de apresentação Chymische Hochzeit Christiani e renascimento."
do Simpósio "400 Rosencreuz anno 1459. Essa citação do filósofo Teódoto
anos de Rosacruz, Nas proximidades de Moscou, (século II d.C.) constituiu o tema
a linguagem de após o colóquio e a abertura da do simpósio que aconteceu em Re-
Aquarius" em exposição, realizou-se a quarta Con- nova no dia 15 de maio com o títu-
Renova, Bilthoven, ferência Internacional de Reno- lo "Fundamento e significado do
Holanda. vação, da qual participaram aproxi- cristianismo interior". O ponto de

24
partida foi O Evangelho de Tomé e borgh, e duas semanas depois no
a Carta a Reginos sobre a ressur- seminário em Renova, foram abor-
reição, dois escritos gnósticos dados o período vindouro, os plane-
descobertos em Nag Hammadi, tas dos mistérios e as possibilidades
muito importantes para o atual particulares de desenvolvimento in-

o campo de trabalho
desenvolvimento da humanidade. terior e crescimento da alma, tão for-
A primeira alocução abordou os temente estimulados pela evolução
achados de Nag Hammadi como cósmica. Estiveram em pauta noções
sendo uma "biblioteca gnóstica" e astronômicas como a precessão dos
mostrou que os chamados escritos equinócios, as fases que marcaram a
hermético-gnósticos não parecem era de Peixes e as exigências e opor-
ter sido unicamente um fenômeno tunidades astrofísicas no romper da
cristão, pois pertencem a todos os era de Aquário, e foram apresentadas
tempos e a quase todas as culturas de modo bastante simples questões
do mundo. difíceis e apaixonantes como essas.
Gnosis quer dizer: conhecimento, As influências dos planetas Urano,
compreensão. Não se trata de conhe- Netuno e Plutão atingem a Terra e
cimento exterior, mas de conheci- tornam-se ativas na humanidade.
mento interior, o saber que Deus e o Esses desenvolvimentos foram deli-
homem não são seres separados, o neados de modo claro com base nas
que foi o tema da segunda alocução. explicações de Jan van Rijckenborgh.
A Gnosis diz respeito à conexão e à
relação de semelhança entre o ho- O Centro J. van Rijckenborgh
mem, o cosmo e Deus. No versículo Em 14 de novembro de 2004, em
24 do Evangelho de Tomé é dito: Haarlem, durante a conferência de
um dia para os Jovens Alunos,
Seus discípulos pediram: alguém perguntou a uma interessada:
Ilumina-nos "Você está vindo pela primeira vez?"
sobre o lugar onde estás; "Não, também vim para a conferên-
porque nós o devemos procurar. cia de um dia em 10 de outubro",
Respondeu-lhes ele: respondeu ela. "E você gostou?"
Quem tem ouvidos, ouça! "Sim, é claro. E sei que vocês têm
Há luz dentro de um homem de luz, aqui um templo bastante especial.
e ele ilumina o mundo inteiro. Sabe, assim que entrei nele senti
Se não iluminar, ele é treva. como se tivesse voltado para casa."
Após curto silêncio ela retomou:
A terceira alocução colocou a Car- "Logo me mudarei para cá".
ta a Reginos sobre a ressurreição no
presente, pois a ressurreição não é,
como dizem, um acontecimento do
passado. Qualquer estudo sobre esse
achado extraordinário que são os
textos do deserto egípcio não tem
nenhum sentido se não encontrar
seres humanos que realizem, aqui e
agora, a sabedoria que eles contém.

A linguagem de Aquário
O outono europeu foi marcado
pelo signo de Aquário. Em 10 de
outubro, no Centro J. van Rijcken-

25
Da esquerda para Na primeira alocução, escrita e lhe causam a sociedade e o eu. No
a direita: proferida por jovens alunos, foi dito: caos do mundo, você deve encontrar
1: andaimes no "Todos que aqui estão presentes um porto de paz onde a tormenta
Templo de interessam-se por saber o que é a ver- não possa penetrar. Porque ver-
Noverosa. dade, o que é verdadeiramente a vida, dadeiramente existe algo mais, que
2: Perspectiva da enquanto outros fazem algo dife- não pertence a esta vida. Mergulhe
abertura de uma rente. Muitos procuram motivações fundo na existência, porém não de-
lâmpada. de vida. Mas é preciso fazer grandes penda dela, mas liberte-se dela cada
3: Planificação de esforços antes de abordar algo da vez mais".
uma quadra de
verdade: é necessário perseverar por A conclusão da conferência foi
esportes ao lado
longo tempo no mesmo comprimen- uma citação de J. van Rijckenborgh:
do estacionamento
to de onda, com a mesma força. Isso "Jovem vida, busque a vida! Se per-
do Centro de
é remar contra a fragmentação que tences a esta juventude que, apesar de
Noverosa, em
Doornspijk.
rege nossa vida! Quando se com- tudo, não pode ser impedida de aspi-
preende isso, a primeira parcela de rar a perspectivas luminosas e liber-
verdade já foi encontrada. A tadoras e a uma via concreta que con-
primeiríssima. duz as elas, só falta te libertares, te
A próxima pergunta é: como libertares interiormente de tudo o
enfrentar a sensação de limitação, de que as concepções caducas deste
descaminho? Sentimos que deve mundo consideram como evidente e
existir algo mais. É como se você não normal. Trata-se de descobrir inces-
tivesse ainda sido sacudido o bas- santemente os valores gerais que se
tante. Você crê, espera, até mesmo abrem para perspectivas concretas de
sabe que existe algo mais, mas não uma vida verdadeiramente libertado-
sabe o que, e acaba se dando conta da ra. Dito de outro modo: encon-
própria ignorância. Eis uma verdade: tremos juntos o caminho da verdade
você descobre, mesmo vendo a vida vivente!"
pelo lado bom, que não sabe nada a Cento e cinqüenta pessoas, em
respeito desse ‘algo mais’. E isso cinco grupos, participaram do deba-
pode representar uma abertura. te. O texto de encerramento foi um
Porque há realmente um saber asso- trecho de O chamado da Frater-
ciado a este pensamento: ‘O que de- nidade Rosacruz:
veria ser diferente?’ O desespero "Os homens que não falam de si
transforma-se em paz serena: ‘Se mesmos, que não pedem nada para
existe algo mais, eu sou uma parte
disso’. Nessa paz chega a terceira
verdade; e essas três verdades são o
começo da Gnosis. Esta palavra sig-
nifica: ‘saber fundamental, ou co-
nhecimento do coração, conheci-
mento totalmente interior, que ape-
nas se descobre pouco a pouco’."
A segunda alocução ligada a esse
tema abordou o aspecto prático do
comportamento: "Certamente não é
na literatura que se vive o ensina-
mento da Rosacruz Áurea. Também
é importante viver a vida plenamen-
te, com olhar crítico e autodomínio.
Dito de outro modo: não se deixe
levar pelas ondas e tempestades que

26
si, são extremamente raros. tenção dos centros de conferências
Não preconizamos e não ensi- da Escola Espiritual: calor e seca em
namos o abandono da consciência- Dovadola, calor e esgotamento na
eu, como o oriental que, sentado França, nuvens de mosquitos na
no meio da maior desordem, pode Polônia. Mas jamais esteve tão úmi-
meditar e partir em busca de so- do como na última semana do mês
nhos no vazio. Vede o que o cris- de agosto de 2004, quando o grupo,

o campo de trabalho
tianismo ensina: perder-se a si com 270 participantes vindos de 17
mesmo a serviço de todos. ‘Quem países, encontrou-se em Noverosa,
perder a sua vida por amor de mim, o Centro de Conferências da Moci-
achá-la-á.’ No Ocidente, o cristia- dade na Holanda. Foi feita a manu-
nismo dá um passo a mais, ensinan- tenção do templo, o chalé foi des-
do-vos que somente podeis ser montado até os alicerces, retirado do
puros se vosso ambiente for puro, solo e refeito. Foi necessário cavar as
se vosso país for puro, se o mundo valas a mais de um metro de profun-
for puro. Compreendei bem a liga- didade para que os novos dutos de
ção do individual com o coletivo, gás, por trás do templo, chegassem até
de um homem com todos os ho- ao prédio. Um estacionamento de 600
mens. Aí está o grande segredo dos metros foi planificado segundo as
mistérios do Ocidente, o grande normas. Os telhados dos bangalôs
segredo do cristianismo, o do se- foram renovados e o caminho que
gundo degrau." leva ao templo recebeu uma nova ilu-
Com a promessa de voltar a en- minação. Essas e outras tarefas
contrar-se numa data determinada debaixo de uma chuva que não cessou
(em 18 de junho de 2005), todos re- durante a semana.
gressaram a seus lares. No Brasil, no Centro de Conferên-
cias de Brasília, Jovens Alunos bra-
Semana de trabalho do grupo sileiros e holandeses participaram de
internacional dos Jovens uma produtiva semana de reformas,
Alunos pinturas e construção de um pequeno
jardim com os símbolos da Escola. Os
Na Europa, o grupo dos Jovens serviços templários ocorreram pela
Alunos participou, em circunstân- manhã, e à noite houve exibição de
cias difíceis, da construção e manu- criativas peças musicais e teatrais.

27
Uma conversa
"luminosa"

A: — Faz um tempinho que observo o em um mundo espiritual e, portanto,


modo como você está concentrado nas a meu ver, ele tem a feliz oportu-
pessoas deste Café, como se elas fos- nidade de poder trazer esse mundo à
sem obras de arte únicas. manifestação, e agir de acordo com
B: — Você tem razão. Estou obser- ele… Mas o homem tem preocu-
vando com atenção. E percebo que os pações absolutamente diferentes. Ele
seres humanos são obras de arte úni- não busca senão sua própria realiza-
cas, porém falta muito ainda para que ção, a realização de seus desejos e de
estejam totalmente concluídas. suas idéias. E nesse sentido ele é
estimulado por seu meio ambiente.
Assim, ele constrói uma personali-
A: — Obras mal sucedidas? dade que racha seus esforços e isso,
B: — Sim, vejo em cada um deles uma portanto, reprime sua vocação para a
imagem, uma idéia. Isso nem sempre perfeição.
é evidente, mas podemos dizer que A: — Não estou compreendendo
cada um representa uma imagem totalmente.
exata da natureza, do espírito, do B: — De acordo com um antigo mito,
homem perfeito. Contudo, é preciso o homem é um "pensamento divino".
admitir que a maior parte deles Ele traria consigo a reprodução imor-
reduziu esse modelo a uma caricatura tal desse pensamento. No decorrer de
na qual já não é possível reconhecer a sua evolução, ele se desviou da
imagem que se encontra na base da enorme possibilidade de construir
obra de arte. uma personalidade imortal que mani-
A: — O que você quer dizer? festaria essa idéia dotada de atributos
B: — Tomemos, por exemplo, aquela divinos.
senhora ali do outro lado. Dela A: — Ah, sim! Agora compreendo.
emana uma tristeza indefinível, um B: — O homem estragou seu desen-
certo tédio. Ela dá a impressão de ter volvimento – que não depende senão
sido enganada pela vida. Será que de sua orientação interior – em con-
percebe que existe, oculta dentro dela formidade com a lei espiritual. Ele
mesma, uma outra realidade? Ou construiu sua personalidade depressa
talvez essa outra realidade não esteja demais. Assim, o contato com a
ainda totalmente evidente para ela; ou imagem original foi perdido; e sua
ela ainda não esteja plenamente cons- obra de arte, sua personalidade,
ciente disso. tornou-se uma caricatura.
A: — Mas que realidade é essa? No A: — Se entendi direito, é como se
início você falou de uma imagem que, um artista, em vez de seguir sua inspi-
para você, seria a imagem do homem ração, procurasse satisfazer os outros
perfeito. para poder ganhar muito dinheiro.
B: — Sim, para mim o ser humano é Essa é a confusão!
um ser espiritual. Ele tem suas raízes B: — Mais ou menos. E essa perso-

28
nalidade desnaturada, que já não se manidade. Mas foi-lhe dito que se
alimenta das energias originais, nada não começá-la, ele jamais conseguirá
tem de divino. O homem morre por- quebrar o círculo.
que se tornou mortal, e não obstante A: — Essa tarefa ainda pode ser bem
existe essa idéia divina. É preciso, administrada? Porque, se entendi
pois, que apareça um novo homem, direito, a situação está ruim. Parece
uma nova personalidade, e então será que o artista se esqueceu completa-
possível que se manifeste uma nova mente de sua imagem divina no
personalidade que seja a expressão decorrer do tempo.
dessa idéia. O artista perdeu o con- B: — Sempre é possível fazer algo.
trole de sua criação; sua obra esca- Enquanto viver, ele carregará consigo
puliu e se tornou independente para o modelo do homem perfeito imortal,
cair num circuito absurdo de nasci- e ainda poderá se decidir a agir.
mentos e de mortes não intenciona- A: — Por onde começar?
do, até que a idéia criadora original de B: —Em primeiro lugar é necessário
novo a penetre. um insight (visão e compreensão
A: — Sim, tudo bem. Mas será que interior) de sua própria situação.
somos mesmo essas marionetes? Quero dizer: insight daquilo que o
B: — Você acha normal que existam move; então, quando você tem esse
guerras, doenças, que fiquemos ve- insight, a essência divina pode ter
lhos e morramos? Tudo isso existe espaço para se desenvolver.
porque o homem ignora sua ver- A: — Você acha que isso pode se
dadeira essência. aplicar à senhora ali em frente?
A: — Como retornar à fonte da cri- B: — Sim. Isso é válido para todo
ação? É possível encontrar de novo a mundo. Creio que qualquer um pode
idéia criadora original? decidir-se a dar início a isso, desde que
B: — Para o artista, é possível apren- tenha o insight da situação. Mas você
der a encontrar a ligação com a intui- não pode fazer isso por conta própria.
ção. Como ser humano é possível Esse insight deve fazer parte de você.
aprender a encontrar a ligação com o Para isso é necessário buscar, ler, dis-
plano interior original. A conseqüên- cutir com outras pessoas, para con-
cia é um novo homem, que pertence seguir ver, pouco a pouco, as peças do
ao campo de criação original. quebra-cabeça se ajustarem.
A: — É uma bela imagem, essa. A: — Por que você não vai até aquela
Assim, cada vida seria um elo de uma senhora para explicar-lhe tudo isso?
cadeia infinita. Cada ser seria autôno- B: — Não, impossível. É preciso que
mo, teria sua própria meta para reali- o impulso venha da própria pessoa.
zar e não se deixaria guiar por nada Quando ela estiver preparada, ela
nem por ninguém. mesma fará as perguntas, buscará e
B: — É uma tarefa pesada que cabe a achará, pois não é verdade que ela
ele, de acordo com o destino da hu- traz em si mesma a reposta?

29
A lança de Luz
Uma alocução para os alunos do Lectorium Rosicrucianum

Por que somos rosacruzes? Cada qual cia cessa. Uma pálpebra se ergue, e
tem suas razões, mas apesar das dife- então vemos, e também ouvimos um
renças de motivação, o que temos em novo som.
comum? O que nos une?
O chamado do reino longínquo

Em primeiro lugar, partilhamos O chamado que soa é maravilhoso


todos uma inquietude, um sentimen- e ao mesmo tempo inquietante.
to de irrealização, de que esta não é a Talvez pensemos que a Escola Espi-
vida que deveríamos viver. Somos ritual seja o próprio chamado, mas
todos buscadores natos, porém os na realidade ela é tão-somente o
caminhos de pesquisa são múltiplos: intérprete. Então, aflora a idéia de
religião, misticismo, ocultismo, filo- nos fecharmos a um chamado que
sofia, arte, ciência, estudo de antigas poderia vir do exterior. Então torna-
sabedorias, simbolismo, mitologia, se claro que o chamado vem do inte-
lendas, astrologia, filantropia. E o rior, ressonância misteriosa, como na
"encontrar" continua distante. A lenda da "Princesa e o grão de ervi-
confusão e a nostalgia permanecem. lha", na qual, não obstante a espes-
Hoje, por fim, encontramos. Mas sura dos colchões sobrepostos, a
a pergunta é: o que exatamente en- jovem não conseguia dormir por
contramos? causa de um grão de ervilha coloca-
Isso começou com um impacto de do debaixo deles. Ela suspira pelo
reconhecimento, um golpe recebido beijo do príncipe desconhecido, a
por meio de uma palavra, uma leitu- quem se sabe autenticamente unida.
ra, um acontecimento. Um súbito Essa é a experiência que fazemos.
insight das coisas e da meta humana Não é possível explicar essas
nos encheu de alegria, mas também coisas a uma pessoa que não conheça
nos mergulhou no sofrimento. essa experiência. É preciso ser tras-
Alegria porque vivenciamos a passado pela lança de Luz para po-
descoberta de que existe algo bem der compreender do que se trata. A
maior que nós e nossa existência lança de Luz toca o buscador quan-
comum. Sofrimento por saber intui- do ele cai de joelhos. E todos que são
tivamente que, doravante, tudo será tocados participam, no mesmo
diferente; que um adeus se impõe, instante, do mesmo destino: eles
uma partida sem retorno. trazem uma ferida que não cica-
Algumas pessoas acolhem de co- trizará.
ração aberto essa nova vida; outras, A missão dos fundadores da Escola
embora a reconheçam, recusam-na. Espiritual não foi satisfazer as pessoas
Em segundo lugar, participamos nem tampouco agradar. Não; eles
do fato de que nossa vida está sub- expuseram, impessoalmente, em plena
metida a um toque de natureza não- luz e a despeito de todos, esse feri-
humana, algo da ordem da Luz. Por mento em nome da Luz. Eles tinham
um momento, o torpor da ignorân- de fazer isso, pois o momento havia

30
Miguel vence o
dragão com a
lança. Imagem
copta encontrada
no Egito,
ca. século 2 d.C.

chegado. Na Luz o ser humano tence, uma realidade da qual é porta-


descobre de início sua própria malig- dor, mas da qual ele não pode se
nidade. Quão forte, às vezes, é a apropriar e nem controlar. Muitas
resistência que oferecemos ao auxílio vezes ele se engaja numa luta pre-
que, nos momentos mais sombrios, cisamente contra o Amor que vem
imploramos tão apaixonadamente! E para libertá-lo da miséria, da dor e
agora a oração é atendida. do sofrimento.
Não é freqüente acontecer de uma Todos os buscadores tendem a
pessoa pedir muito por auxílio e essa libertação; ela é sua aspiração
acabar por rejeitá-lo? Sabe-se sub- mais elevada. Mas, o que deve ser
conscientemente que essa ajuda não libertado? E o que deve ser suprimi-
é destinada ao eu, mas a uma reali- do e vencido? É possível que uma
dade mais elevada que reside no ser pessoa se revolte durante um longo
humano e que, contudo, não lhe per- tempo até chegar o momento em que

31
a resistência deve cessar. Ela se vê aluno deixa a Escola, é uma decepção
num beco sem saída e se torna claro para os obreiros.
para sua consciência que "não nós, E eles se perguntam: será que o
Senhor, mas Tu és a meta de nosso acompanhamento correto foi dado?
coração". Então, o buscador fatiga- Esse tipo de pergunta é justificado.
do é conduzido às portas de uma Mas todo o possível foi feito, e o
Escola Espiritual, perguntando-se o acompanhamento ideal, que os
que o futuro lhe reserva. obreiros não poderiam poupar a
nenhum aluno, é a prova do des-
As duas funções da Escola mascaramento. Não o desmascara-
Espiritual mento para outrem, mas para o tra-
balho da Luz! Pois imediatamente
Todos os interessados são bem- após ter sido beneficiado pelo calor
vindos e a radiação infravermelha da radiação infravermelha, o aluno
aquece os corações. Eles se impa- é tocado pela radiação ultravioleta,
cientam querendo saber quando a radiação demolidora. A com-
começará a iniciação que os instruirá preensão progride, o desejo se refi-
nos maravilhosos segredos dos Mis- na. A partir de agora, na maioria
térios. Passam-se dias e semanas, os das confrontações da vida comum
meses se sucedem. Aparentemente, com sócios, com membros da
nada muda, e acaba-se cedendo à re- família, com colegas, ele confron-
Iluminura em um
signação e ao arrefecimento. Contu- tará… a si mesmo.
manuscrito flamen-
do, a intensa graça do campo de Incessantemente ele terá de fazer
go do século XIV
força está atuante, embora ele nem escolhas difíceis a fim de permanecer
representando a
sequer seja perceptível. coerente com o caminho, sem jamais
"távola redonda" Alguns são vencidos por uma saber para que lado a balança vai
sobre a qual estão certa impaciência e perdem o entusi- pender. Por melhor que seja o acom-
colocados o Graal, asmo do início. Sua curiosidade e sua panhamento, os obreiros não podem
de onde se eleva a atenção são atraídas pelas ofertas impedir que os alunos se decidam
criança divina, e a barulhentas dos camelôs da grande por abandonar a Escola Espiritual
lança que fere o feira do mundo. Talvez aqui ou ali em um momento ou em outro.
rei e em seguida seja possível obter-se um resultado Nossa presença no campo de força
cura-o. mais rápido. E toda vez que um torna impossível simplesmente con-

32
tentar-nos com uma assimilação in- to". Isso é algo completamente di-
telectual do Ensinamento, pois ele ferente e muito mais profundo.
deve ser posto em prática, o que sig- Este nosso mundo de oposições é
nifica não só receber, mas também o produto de doze esferas de in-
dar. Trata-se de muito mais que uma fluência que a filosofia da Escola
contribuição financeira, por mais globalmente denomina "dialética".
necessária que esta seja, pois o essen- São doze esferas que correspondem
cial é doar a si mesmo. aos doze signos do zodíaco. J. van
Rijckenborgh os chama de "doze
O único meio de convencer: um eões zodiacais". Neste sentido,
novo comportamento podemos falar de uma "dominação
eônica" duodécupla ou ainda de
O que testifica de nosso discipula- "prisão zodiacal". Essa força eônica
do é uma vida marcada por atos li- se projeta no microcosmo sob a for-
bertadores, uma mudança radical e a ma de um firmamento aural duodé-
total doação de si mesmo. Mais que cuplo, denominado lípica. Por sua
palavras, é o ato silencioso realizado vez o ser aural ou "ser da lípica" pro-
com amor e discrição que tem valor. jeta-se no cérebro.
Os buscadores tocados pela Escola Somos os primeiros a reconhecer
Espiritual não esperam apenas uma que o ser humano é capaz de de-
filosofia. Eles querem encontrar pes- monstrar grande amizade, cordiali-
soas que dêem provas manifestas de dade, civilidade, mas isso não modi-
que vivem um ensinamento liberta- fica em nada a força do deus
dor, pois este é um encontro que duodécuplo do cérebro, regido pelo
abrirá seus olhos; apenas isto é con- campo aural, que está sujeito aos
vincente. doze eões do zodíaco.
Certa vez J. van Rijckenborgh dis- Este estado é designado como
se: "É necessário perturbá-los com sendo "pecado", não porque o ho-
fatos!". Com isso ele queria dizer: mem seja mau ou perverso, mas sim
não vos contenteis em falar de um porque enquanto manifestação tem-
estado renovado, mas irradiai esse poral, ele é literalmente manipulado
estado, deixai que vejam. Não temos como uma marionete na ilusão eôni-
de tentar persuadir, mas sim dar tes- ca. Fizeram-nos engolir essa ilusão
temunho mediante nosso comporta- em pequenas doses desde nosso
mento. Não com demonstrações de nascimento. Mais ainda, enquanto
erudição, mas com uma palavra sim- fenômenos naturais, somos nascidos
ples que vá direto ao coração. dela. Por isso é dito no hino tem-
Ora, não é fácil, de início, com- plário 161:
preender em que consiste um com-
portamento nascido de um estado Eis que ainda estamos na terra,
de consciência renovado. Não é anelando renascer.
preciso dizer que isso implica, entre Dentre todos os pecados
outras coisas, amizade, boa von- a ilusão é o maior.
tade, delicadeza, atenção para com
os outros. É possível, contudo, Em outras palavras, a ilusão, a dia-
demonstrar tais qualidades mesmo lética, está incorporada em nossa
quando o foco do ego, atrás do osso vida como o fermento à massa. Com
frontal, ainda não perdeu sua força. exceção do átomo-centelha do Es-
A civilidade e a gentileza em socie- pírito, a rosa-do-coração, não existe
dade não são o que a Escola Espiri- um só órgão, uma única célula de
tual visa por "novo comportamen- nosso corpo que esteja isenta da dia-

33
O campo de força abarca e a
filosofia esclarece o processo

O novo comportamento significa


abrir a porta, liberar o acesso a esse
totalmente outro, deixar esse novo e
estranho processo de fermentação
operar em nós, apesar da angústia e
do sofrimento que ele gera; apesar
do sentimento de nos tornarmos
estrangeiros no mundo e a seus
hábitos. Que zombarias e insultos
não é preciso suportar! Que opres-
são não devemos sofrer por amor a
Cristo, até dizer, a exemplo de Pau-
lo: "Porque para mim, o viver é
Cristo, e o morrer é ganho."2
Esse processo só pode ser reco-
nhecido quando ele tem início em
nosso interior. A filosofia da Escola
Espiritual não deixa qualquer dúvida
a esse respeito: somos arrastados a
um desenvolvimento radical.
Mas o aluno nem sempre discerne
em que momento esse processo afli-
tivo tem início. Ele tende, então, a
alegações do tipo: "Não me com-
preendem"; "Minha caminhada é
obstaculizada"; "As circunstâncias
estão contra mim"; "Se tão-somente
lética. Quando cessa a ilusão, um ou- eu pudesse me livrar deste ou daque-
tro processo de fermentação opera le obstáculo"; "A Escola não está aí
em nós. Somos impregnados por um para tudo?"
outro fermento, a começar pelo O que importa é dar um fim a
sangue. Esse novo fermento é desig- auto-piedade e lamentações, reco-
nado "o prana da nova aliança" ou nhecer o processo e a ele nos subme-
ainda "o sangue místico de Cristo". termos. Nisto não somos abandona-
Trata-se de um processo tremen- dos a nós mesmos: A Escola Espiri-
do. Mas o importante é que ele tual circunda a alma combatente
tenha início em nós; que não deixe- com seu campo de força e seu
mos para mais tarde ou tentemos auxílio, e seu ensinamento esclarece
nos esquivar dele, tal como o fize- o processo.
ram os convidados à "grande ceia" Gradualmente novas capacidades
do Evangelho de Lucas1, um sob o se manifestam no homem; esse é o
pretexto de casar-se, outro sob o potencial que temos em comum e
pretexto de enterrar seu pai, e ainda que nos une: o processo elimina
Mão alada brandin- um terceiro sob o pretexto de la- individual e coletivamente nossas
do uma espada vrar seu campo. limitações e fraquezas e nos eleva até
nua. Baixo-relevo O reino dos céus, como zodíaco as alturas mencionadas no Livro do
sobre a porta da original, nova constelação aural e Apocalipse3:
cidade de Medina, santuário da cabeça renovado, bate à E vi outro anjo forte, que descia do
Malta. Pentagrama. porta de nosso coração. céu, vestido de uma nuvem; e por

34
O que a Escola Espiritual entende por…
O que a Escola Espiritual autoconservação se tornou a princi-
entende por: pal característica da humanidade
natural, os eões, dos quais há doze,
também têm como característica
Campo aural ou lípica negativa que sua principal motivação
É a totalidade dos centros sensori- é uma forma de autoconservação.
ais, dos centros de força e focos nos Juntos formaram, no decorrer dos
quais todo o carma do homem se tempos, um grupo hierárquico que
encontra consolidado. A manifes- reina sobre os domínios do espaço-
tação humana é uma projeção do fir- tempo. À custa de enorme sofrimen-
mamento aural, que determina suas to humano, as entidades eônicas
capacidades, suas limitações e sua mais poderosas conseguem com
realização natural. O ser aural é a relação à roda dos nascimentos, uma
personificação de todo o "fardo de pseudo-liberdade – uma paralisação
pecados" (expressão da antiga Igreja) ou um retardamento da dissolução
do microcosmo decaído. É o "velho de sua personalidade na esfera refle-
céu" microcósmico que, graças a tora – uma existência que elas
uma total transformação conduzida somente podem preservar com o
pela Gnosis, deve desaparecer e ser aumento do sofrimento da
substituído por um "novo céu" humanidade, pois alimentam-se de
acompanhado de uma "nova terra" e éteres liberados pela violência da dor
da ressurreição do verdadeiro ou pelo seu oposto, a alegria intensa.
homem em quem espírito, alma e
corpo formam uma unidade harmo- Gnosis
niosa imperecível, em sintonia com o É o alento divino; o Logos, a fonte
plano divino. de todas as coisas, manifestando-se
como Espírito, Luz, Amor, Força e
Eões Sabedoria universal. Ela designa
São formações imensas de forças também a Fraternidade Universal
naturais, invisíveis, porém tangíveis, como veículo e manifestação do
criadas no decorrer dos tempos campo de radiação crística.
pelos homens (inicialmente de forma Gnosis, enfim, representa o con-
inconsciente). Os eões exercem hecimento vivo de Deus, que se
agora uma influência coercitiva torna parte de todos que alcançam a
sobre a existência humana. Como a consciência da alma-luz.

cima da sua cabeça estava o arco o anjo que vi estar sobre o mar e
celeste, e o rosto era como o sol, e os sobre a terra levantou a mão ao céu e
pés como colunas de fogo; e tinha na jurou por aquele que vive para todo
mão um livrinho aberto e pôs o pé o sempre, o qual criou o céu e o que
direito sobre o mar e o esquerdo nele há, e a terra e o que nela há, e o
sobre a terra; e clamou com grande mar e o que nele há, que não haveria
voz, como quando brama o leão; e mais demora, mas nos dias da voz do
havendo clamado, os sete trovões fi- sétimo anjo, quando tocar a sua
zeram soar suas vozes. E, sendo ou- trombeta, se cumprirá o mistério de
vidas dos sete trovões as suas vozes, Deus, como anunciou aos profetas,
eu ia escrevê-las, mas ouvi uma voz seus servos.
do céu, que dizia: "Sela o que os sete E a voz que eu do céu tinha
trovões falaram e não o escrevas". E ouvido tornou a falar comigo e disse:

35
"Vai e toma o livrinho aberto da tora. "E as sete vozes falam."
mão do anjo que está em pé sobre o O primeiro reflexo do homem
mar e sobre a terra". E fui ao anjo nascido da natureza é o de sempre
dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele querer escrever, fixar o Ensinamento
disse-me: "Toma-o e come-o, e ele te em palavras, escrever livros. Mas a
fará amargo o ventre, mas na tua voz do outro reino faz uma
boca será doce como o mel". E tomei advertência: Não faças isso! Guarda
o livrinho da mão do anjo e comi-o; em segredo a mensagem; assimila-a;
e na minha boca era doce como mel; realiza-a em ti; "toma o Livro e
e, havendo-o comido, o meu ventre devora-o".
ficou amargo. E ele me disse: Nossos primeiros passos no cami-
"Importa que profetizes outra vez a nho são dados em relativa calma.
muitos povos, e nações, e línguas e Sentimos uma certa alegria que dá às
reis." nossas palavras uma certa suavidade.
Mas quando o processo de assimi-
O auxílio da Fraternidade lação do Ensinamento tem início e
passamos à realização, surgem difi-
Em todos os tempos, os sublimes culdades e oposições: estamos diante
auxiliares da Gnosis, os servidores do conflito. O Livro se torna amar-
da Fraternidade, têm descido das go em nosso ventre. O adversário, o
esferas de Luz até a humanidade ser astral, tem de perder o seu
sofredora a fim de reconduzi-la aos domínio; o deus do santuário pélvi-
caminhos divinos. Diz-se que um co deve ser destronado. A vitória é
anjo, um dos poderosos, um dos li- conquistada apenas a esse preço.
bertos, desceu do novo campo de Uma vez libertos, seremos também
vida. Seu brilho solar é velado por capazes de ajudar na libertação de
uma nuvem para que sua radiação outros. Este é o ideal que nos une e
possa ser suportada pelos mortais para o qual estamos prontos a verter
que povoam a terra. No passado, foi o sangue de nosso coração. É isto
um homem como nós. Porém, per- que nos torna rosacruzes.
maneceu no ardor purificador do
fogo: suas pernas são como colunas A Direção Espiritual Interna-
de fogo. cional
Ele se tornou um filho da Luz. Seu
rosto brilha como o sol e o adorno de
flamas ao redor de sua cabeça revela o
espírito sétuplo que opera nas suas
sete cavidades cerebrais. O cande-
labro de sete braços está aceso. A
energia de seu misterioso poder
emana dele e fende, com a força do
leão, o "vale de lágrimas". Os sete
sons originais da Palavra perdida
ressoam através de sua voz, à seme-
lhança de trovões nos domínios da
noite, despertando os mortais: eles
vêem o mensageiro que segura o
Livro aberto e que, mediante um
gesto, difunde o Ensinamento. Seus
pés estão pousados um sobre a terra e 1: Evangelho de Lucas 14:18-20.
outro sobre o mar, pois ele tem o 2: Epístola de Paulo aos Filipenses 1:21.
domínio das esferas material e refle- 3: Apocalipse de João 10:1-11.

36
Diálogo entre a luz e a matéria
Luz: — Tens sob o domínio de tuas aparências mul- Luz: — Tu eras o Universo. Foi justa-
mente esse pensamento, matéria, que
tiformes os seres humanos que me pertencem. causou teu vir-a-ser, teu surgimento.
Matéria: — Tu te enganas. Eu não retenho nada. Matéria: — Por que, então, me privas
de tua luz? Não sabes, apesar de tudo,
São eles que se agarram fortemente. Eles me dese- que este é meu maior desejo?
jam e se apegam muito a mim. É que, como tu vês, Luz: — Naturalmente.
Matéria: — Por que não realizas,
eles amam mais a mim que a ti. então, o meu desejo? Quero ser como
tu; luz!
Luz: — Tu te enganas, sombra. Nas Luz: — Nas trevas, a chama de uma
diversas formas que tomas, é a mim vela é bastante útil. Então, por que
que eles buscam e desejam. E porque querer ser a chama de uma vela entre
tu os cegas e os obscureces, eles não os raios do sol? Quem a acenderá?
percebem sua essência. Sua essência é Sonhas muito alto, compreendes?
luz, assim como a minha é luz. Matéria: — Mas eu quero fazer parte
Matéria: — Se fosse como dizes, por do sol!
que, então, se agarrariam eles tanto a Luz: — O sol já existe. Por que não
mim, vivendo de mim e através de aceitas simplesmente as possibilidades
mim? Por que teriam eles criado o seu que se encontram a teu alcance? O
próprio mundo? Sim, eles são seres que queres, pois, conseguir? Torna-te
criadores. Não foi sempre essa a tua parte do todo – então permanecerás
vontade? na luz e estarás ligada a tudo. Aban-
Luz: — Eu queria que eles espalhas- dona tua vontade própria!
sem minha luz, minha criação. Porém, Matéria: — Mas eu sou vontade pró-
eles criaram a aparência, a escuridão, pria. Não me disseste isso tantas
na qual se perdem e permanecem vezes? Pode a vontade própria entre-
cativos. E tu és essa escuridão! gar a própria vontade?
Matéria: — Tu me chamas, pois, Luz: — Existe um caminho, e tu o co-
"escuridão"? nheces… Já falamos dele muitas vezes.
Luz: — Sim. Tuas formas são, de fato, Matéria: — Pode haver outro cami-
ilusórias. Tu mesma és engano. Não nho.
A natureza jamais
deixas entrar a luz; estás fora da ver- Luz: — Tu o buscas há milhões de
poderá vencer o
Espírito, ela se
dade e, por conseguinte, és irreal. anos.
abisma sobre a Matéria: — Eu me sinto, contudo, Matéria: — Eu o encontrarei.
estática impertur- muito real. O fato de estarmos con- Luz: — Ele não existe. Sabes muito
bável. Mas se ela versando já mostra isso. bem que existe apenas um caminho.
conhecer o cami- Luz: — Tuas inúmeras aparências Crê em mim. Entrega-te a mim. Re-
nho para se ofere-
mantêm o mundo. Porém ele é um nuncia à aparência e à forma. Então te
cer ao Espírito, a
nova senda se ele-
mundo de sombras. Tu apenas existes encontrarás na luz. Porém, nunca algo
vará sobre ela graças à "ausência de luz". pode ser a luz.
como uma aurora. Matéria: — Então, concede-me aqui- Matéria: — Mas tu mesma és a luz!
Pentagrama. lo a que aspiro. Deixa que eu seja luz! Luz: — Sou tudo em todos e, não

38
obstante, não sou. Quando já "não" posso ficar, não é?
fores, então tudo serás. Luz: — Eu amo o fruto inteiro; não
Matéria: — Mas como se pode "não" apenas a semente ou a casca. Embora
ser? a polpa seja corruptível, ainda assim
Luz: — Eu já te disse. Nada forces. eu não separo a semente e o fruto.
Renuncia a ti mesma e confia-te a Matéria: — Queres, então, me privar
mim. Somente então poderei con- de tudo? Queres para ti o fruto inteiro
tribuir para a tua libertação. e a mim também? Confessa.
Matéria: — Mas, se eu fizer isso, eu Luz: — Sim, eu envolvo todas as par-
não existirei mais e me tornarei nada! tes do fruto. Mas não para destruí-las.
Luz: — Escuta. A gota de água que cai Não esqueças que minha semente é
no oceano deixa de ser uma gota. Ela amor. Os frutos, entretanto, se trans-
se torna muito mais que uma gota! formam. Eles se transformam nos fru-
Chamar isso de morte não é um tos da árvore da vida que está no cen-
engano? Se levares em conta que a tro. É lá que eu espero que venhas.
gota se torna infinita, que ela é Então, seremos unas.
envolvida pelo oceano… Ela somente Matéria: Vou refletir sobre isso.
perde sua condição de gota. E ao mar, Luz: Eu sei. Vou esperar.
à união de todas as gotas, à plenitude,
tu chamarias "nada"?
Matéria: — Tenho medo.
Luz: — De quê?
Matéria: — De não ser, de nada ser.
Luz: — Mas se te confias a mim, se te
fundes em mim, então tu te tornas
"tudo".
Matéria: — Bem. Admitamos que seja
assim como dizes. Se assim fosse, en-
tretanto, eu não poderia desaparecer
simplesmente, mesmo que quisesse.
São as formas das quais sou composta
que me fazem desaparecer. Não fales,
então contra elas e nem contra mim!
Luz: — Quando falo contigo, eu me
dirijo também a elas, pois as criaturas
e tu são um só.
Matéria: — Antes, tu disseste que elas
são tuas. E agora garantes que são mi-
nhas. Tu te contradizes!
Luz: — O fruto provém da semente.
Matéria: — Está correto. Então achas
que a semente provém de ti, que a
casca provém de mim e com ela eu

39
Não podes brincar com o animal interior
sem te tornares o próprio animal, brincar
com a mentira sem perderes o direito à
verdade, brincar com a crueldade sem
perderes a suavidade do coração. Quem
quer ter um jardim bonito não reserva
lugar para ervas daninhas.

Dag Hammarskjöld em "Merkstenen"


(Balizas)

Pela porta "aberta"!

A obra de Johannes Anker Larsen

O autor dinamarquês Johannes An- são muito lidos no mundo. Seus ro-
ker Larsen (1874-1957), cujo trabalho mances como Der Stein der Weisen (A
foi traduzido para muitas línguas, pedra filosofal), Martha und Maria
descreve idéias que encontramos tam- (Marta e Maria), e Rausch (Em-
bém nos conceitos da Rosacruz mo- briaguês) são filosóficos e religiosos e
derna e que podem ser encontrados tornaram Larsen conhecido além das
igualmente na obra do místico Jacob fronteiras de seu país. Muitos co-
Boehme, do século XVII. Esses con- nhecem sua autobiografia, Bei offener
ceitos têm validade universal, pois são Tür (Pela porta aberta), escrita na ter-
"herança" da humanidade. ceira pessoa:
Quem foi aquele que escarneceu da "Era uma vez um jovem camponês
teoria da evolução chamando-a de de Langeland. Ele queria ser pastor,
Dag Hammarskjöld
"sufocante"? Que em seus romances mas não o foi. Antes, ele desejara ser
(1905-1961) foi o
falava do mundo "aberto" e "fecha- ator, mas não o foi. A rigor, ele bem
segundo presi-
do", "do ponto e da curva"? Quem que teria sido um poeta, mas também
dente das Nações era esse escritor dinamarquês da pri- não o foi. Ele jamais teria desejado ser
Unidas, de 1953 a meira metade do século passado que diretor, mas foi isso que ele se tornou.
1961. Em seus dizia que a vida do homem deste Contudo, ele se livrou disso. Durante
cadernos pessoais mundo era como usar roupas no aves- um longo tempo ele se sentiu entedia-
ele escreveu: "A so ou caminhar sobre as mãos, ao in- do no mundo terrestre. Mesmo quan-
mais longa viagem vés do contrário? do tudo corria bem, ele nunca se sen-
é aquela para o Sem dúvida, Larsen pertence à lista tia verdadeiramente em casa. Per-
interior". dos escritores modernos cujos livros manecia um imigrante provindo de

40
uma outra "vida", da qual estava tran- seus contos cintilantes de vida. Neles
qüilamente consciente, e na qual se descobre-se o grande interesse com
sentia perfeitamente à vontade. Cheio que Larsen propaga o ensinamento
de esperança, ele aguardava o momen- das "duas ordens de natureza", que
to em que não teria mais necessidade ele designa como "o aberto" e "o
de se esforçar para ser outra coisa fechado", magnificamente ilustrado
senão aquilo que sempre fora."1 num fragmento de seu último
Larsen se considerava um membro romance intitulado Hansen, cuja
da "desgarrada família dos explo- semelhança com as concepções de
radores da eternidade". A citação a Jacob Boehme é notável.
seguir nos mostra que ele não amava a "O velho professor Hansen, após
palavrinha "eu". Em sua autobi- longo e fatigante passeio estival, cai
ografia espiritual, Pela porta aberta, adormecido e, ao despertar, descobre
ele diz francamente: "Nunca vi o que se encontra em um mundo claro e
homem tornar-se tão avarento como puro. Em dado momento, ele pro-
quando usa a palavrinha ‘eu’." Desde nuncia o ‘Pai Nosso’ e se pergunta o
a juventude ele tinha o sentimento que poderia significar: ‘Seja feita a tua
profundo da eternidade. Ele a experi- vontade’. Ele reflete sobre certas
mentava como uma realidade presente respostas, sem chegar a nenhuma con-
"dentro dele" e ao mesmo tempo ao clusão. E permanece em um estado de
seu redor. De tempos em tempos, questionamento, privado do todo
acontecia de a eternidade demonstrar- pensar. Então, algo lhe acontece: ele vê
se nele como um sol tão bom e pro- uma imagem surgir. Ele sabe que essa
fundo que ele se esquecia de que exis- visão não passa de uma imagem, en-
tia um outro mundo à sua volta. tretanto compreende que ela oculta
Seus romances apresentam uma uma profunda realidade. Isto se passa
tendência claramente gnóstica. Como do seguinte modo: ele vê um sol
um sopro benfazejo, a idéia da vivente, símbolo da eternidade, a luz
existência de dois mundos percorre os que brilha nas trevas. Essas trevas se

J. Anker Larsen
(1874-1957).

41
O romance Heilig-
ung (Santificação),
edição do início do
século XX e a no-
vela Der Bruder
(O irmão), edição
do início do século
XXI.

estendem por toda parte onde os raios estrelas e o espaço, assim como a terra,
da luz não chegam. Ele compreende vês com teus olhos corporais apenas o
que ao mesmo tempo essas trevas não antigo corpo que jaz na morte.”4 O
têm uma existência real e são tão- nascimento exterior neste mundo da
somente uma resistência à luz! Sim, morte não pode compreender o nasci-
ele vê isso claramente: essa oposição à mento no mundo celeste. Esses mun-
luz criou o mundo tenebroso, a mora- dos estão um diante do outro assim
da do gênero humano, um mundo como a vida diante da morte, como
fechado, em realidade, uma prisão. E é um homem diante de uma pedra. Ora,
isso que Hansen compreende dessa há uma fechadura entre o céu superi-
imagem."2 or divino e nosso mundo da cólera
Jacob Boehme diz a mesma coisa de onde reina a morte. Portanto, estando
uma outra maneira em Aurora. Está aferrolhada essa fechadura, surge um
claro que ambos tiveram a mesma abismo entre esses dois mundos.
visão. Boehme escreveu em 1612: "A Em nossa época, Jan van Rijcken-
inteira casa deste mundo, constituída borgh explica o mesmo princípio dos
de substância visível e tangível, é a dois mundos opostos e separados em
antiga casa de Deus ou o antigo corpo O advento do novo homem: "Toda
que, antes do tempo da cólera, esteve entidade que se desenvolve dentro do
na claridade celeste. Mas quando o setenário cósmico, está estreitamente
demônio despertou a cólera nesta ligada à fórmula fundamental de vida
casa, ela tornou-se a casa da cólera e deste planeta. Quem de alguma forma
da morte.”3 Desde então, as ondas da se opõe a essa lei de vida fundamental,
cólera se opõem à mansidão e as produz uma vibração que suscita
ondas da mansidão se opõem à cólera. resistência imediata por parte das
Elas formam dois reinos diferentes no forças naturais fundamentais. Como
mesmo corpo do mundo. que de modo automático, essas forças
Um pouco mais adiante, ele es- naturais emitem uma corrente eletro-
creve: "Agora, quando contemplas as magnética que envolve e prende a en-

42
melhor, percebe que são seres Anker Larsen em
humanos como ele, mas que pouco se sua casa, na Dina-
distinguem do fogo vivente. Esse fogo marca.
vivente irradia através deles, tudo
neles se torna visível e nada podem
esconder. Hansen interroga o irmão
do Graal que lhe explica que esses
homens atiraram ao fogo os velhos
andrajos: idéias e ações que lhes per-
tenceram e com as quais já não queri-
am ter nada a ver. Eles as arremes-
saram às chamas para que quei-
massem e fossem aniquiladas. Esse
oceano de fogo é o "todo amor", por
trás do qual se encontra a "vida".
Aquilo que habitualmente denomi-
namos vida é na realidade um proces-
so de nascimento progressivo através
da experiência da dor e da alegria. É,
portanto, um caminho de experiên-
cias. O próprio Hansen deve aí per-
manecer por algum tempo, de acordo
com seu guia. Após ter meditado
tidade rebelde a fim de que ela já não sobre seus pensamentos e seus atos,
possa ter iniciativa nem viole a lei. ele nota que estes o deixam frio, ainda
Assim, ela é mantida em um ‘todo iso- que outrora ele tivesse sentido remor-
lado’, para ficar protegida de si mes- so e pesar. "Esses são os velhos andra-
ma."5 jos," diz o irmão do Graal.
Ao refletirmos sobre isso, reco- Hansen declara que jamais passou
nhecemos a verdade das palavras de pelo fogo do "todo amor". O irmão
Jacob Boehme quando diz que Deus sugere que ele possui algo desse fogo
fez de nosso campo de existência um em si mesmo. "Disto eu nada sei,"
todo isolado, onde a humanidade responde Hansen, ao que o irmão
decaída não cessará de girar em um retruca: "Quanto menos se tem cons-
incessante "subir, brilhar e descer" até ciência disso, mais esse fogo age pura-
o dia de sua própria libertação. mente. Deixa tranqüilamente que
Quando esse dia chega para qual- esses velhos trapos se consumam e
quer criatura – como aconteceu a que o vento disperse suas cinzas. Isto
Hansen – e ela se abre ao "aconteci- é o que se chama "remissão dos peca-
mento divino", nela tem início um dos".
processo de purificação que podemos "O perdão dos pecados!" exclama
definir como "a remissão, e o perdão Hansen. Essas palavras o surpreen-
dos pecados". dem de modo extraordinário. Elas
Quando Hansen sente que per- percorrem todo o seu ser, iluminam
tence a um outro campo de vida, um sua alma e seu corpo, têm o efeito de
irmão do Graal lhe aparece, e ambos um bebida libertadora, como se con-
se dirigem para o oriente, ali onde a tivessem uma força vivente.
luz do novo dia se torna cada vez mais No romance de Larsen, esse conto
forte. De repente um novo sol enche o se intitula Der Bruder (O irmão), e
espaço diante deles: uma luz vivente, ocorre na natureza superior. Penetra-
uma luz áurea flamejante. Hansen vê do por esse acontecimento, ele desco-
algo mover-se diante de si. Olhando bre, no fundo de seu ser, "algo" de

43
superior que estava latente. Esse algo Boehme, um aluno pergunta por que
é uma força que o impulsiona a seguir Deus permite tantas lutas no mundo.
um caminho para uma meta gravada E é-lhe respondido: "As lutas da vida
dentro dele desde a origem. O que existem para conduzir à revelação e à
Anker Larsen denomina "algo" experiência, e que por fim a sabedoria
chamamos de átomo-centelha do seja reconhecida, a fim de servir à ale-
Espírito no coração do microcosmo. gria eterna da vitória."7
"O que nós denominamos vida co-
mum não passa de um processo de
nascimento através das experiências
de felicidade e de dor", diz o irmão do
Graal a Hansen. Jacob Boehme e Jan
van Rijckenborgh dizem exatamente 1: Larsen, J. A., Bei offener Tür.
a mesma coisa. Este último declara, 2: Larsen, J. A., H. Hansen, 1949.
em As núpcias alquímicas de Chris- 3 e 4: Boehme, J., Aurora, 1620.
tian Rosenkreuz: “A obra de Deus 5: Rijckenborgh, J. v., O advento do novo
para a humanidade ainda não está ter- homem, São Paulo: Lectorium Rosicru-
minada; a humanidade encontra-se cianum, Brasil,1988, p. 111.
em eterno devir. O dia da realização, 6: Rijckenborgh, J. v., As núpcias alquímicas de
o Grande Dia de Deus, somente tem Christian Rosenkreuz, v.2., São Paulo: Lecto-
início quando um homem começa a rium Rosicrucianum, Brasil, 1996.
formar para si uma nova alma.”6 7: Boehme, J., Da vida suprasensível em O
Em Da vida suprasensível de Jacob caminho para Cristo.
Fazei o trabalho que o caminho requer de vós, como pesqui-
sadores ou alunos da Rosacruz, a serviço da grande obra.
Não o façais para vós mesmos, mas sim porque vosso amor
vos diz que isso deve ser feito. Não penseis em vosso próprio
adiantamento espiritual, nem especulai sobre a promoção
interior, porque eles virão a seu tempo e na hora exata. Não é
verdade que "Vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes
de lho pedirdes", como disse Cristo?

(A neutralização da vontade e do desejo,


de J.van Rijckenborgh, p.7)

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