Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISBN 978-85-64124-60-8
RESUMO
Desde a década de 1950, a partir de O cão sem plumas (1951), a poesia de João Cabral de Melo Neto se
impôs o desafio de representar a realidade social do Nordeste brasileiro de maneira consistente e, ao
mesmo tempo, manter o rigor de sua reflexão metalinguística, baseado na consciência construtiva
desenvolvida nos livros imediatamente anteriores, O engenheiro (1945) e Psicologia da composição
(1947). A tensão entre a referência à realidade objetiva – cuja ambição, no limite, era participar
ativamente de certo processo de transformação social – e a construção metalinguística – sinalizando uma
poesia autocentrada em seus próprios procedimentos estilísticos –, problema já bem localizado pela
crítica cabralina, é um ponto fundamental para a compreensão da obra madura de João Cabral, sendo o
cerne da poética de um livro como A educação pela pedra (1966). Nossa proposta é analisar essa tensão
a partir das estratégias de formalização da voz do sertanejo na poesia de Cabral, analisando os
movimentos de aproximação e afastamento entre o ponto de vista do poema e essa voz.
283 ESSAS INFORMAÇÕES BIOGRÁFICAS FORAM RETIRADAS DE ENTREVISTAS DO POETA, REUNIDAS EM IDEIAS FIXAS DE JOÃO
CABRAL DE MELO NETO (CF. ATHAYDE, 1998, P. 104), E DE SUA CORRESPONDÊNCIA COM MANUEL BANDEIRA (CF.
SÜSSEKIND, 2001, P. 114).
284 UMA ANÁLISE CUIDADOSA SOBRE A RELAÇÃO DE JOÃO CABRAL COM A ARQUITETURA MODERNA BRASILEIRA NOS ANOS
1940 PODE SER ENCONTRADA NO ENSAIO DE VAGNER CAMILO, “DE POETAS, FUNCIONÁRIOS E ENGENHEIROS” (CF. 2006).
607
Anais do II Congresso Internacional Línguas Culturas e Literaturas em Diálogo: identidades silenciadas
ISBN 978-85-64124-60-8
passada por um cachorro (…)” (MELO NETO, 1956, p. 63) – que procura traduzir as contradições
encontradas em torno do rio Capibaribe. A relação, portanto, entre o olhar do leitor e a
contundência da matéria é mediada por essa cadeia de imagens – i. e., a linguagem poética –,
cujo intuito não é apenas descrever as condições precárias de vida dos ribeirinhos, mas dar uma
forma artística que alcance a dimensão de sua espessura285.
É assim que a realidade adentra a poesia de João Cabral de Melo Neto na década de
1950, marcando uma fase de profunda preocupação social do autor, sempre articulada à sua
reflexão consistente sobre o próprio fazer poético. É dessa época, por exemplo, suas
proposições em favor de uma poesia de maior alcance comunicativo, apresentadas na tese “Da
função moderna da poesia”, no Congresso de Poesia de São Paulo, em 1954. Para Cabral,
naquele momento, o abismo que separava poetas e leitores era resultado do desajuste entre a
criação poética e as novas condições de vida em sociedade:
285 UMA PASSAGEM CÉLEBRE DA ÚLTIMA PARTE DO POEMA EXEMPLIFICA BEM ESSE PROCESSO: “ESPESSA/ COMO UMA MAÇÃ
É ESPESSA./ COMO UMA MAÇÃ/ É MUITO MAIS ESPESSA/ SE UM HOMEM A COME/ DO QUE SE UM HOMEM A VÊ./ COMO É
AINDA MAIS ESPESSA/ SE A FOME A COME./ COMO É AINDA MUITO MAIS ESPESSA/ SE NÃO A PODE COMER/ A FOME QUE A VÊ”
(MELO NETO, 1956, P. 77-78).
608
Anais do II Congresso Internacional Línguas Culturas e Literaturas em Diálogo: identidades silenciadas
ISBN 978-85-64124-60-8
A divisão entre “poemas para serem lidos em silêncio” e “poemas para auditório” repõe
a preocupação de João Cabral quanto ao problema da comunicação, marcando duas atitudes
diferentes: na primeira parte, as composições de “melhor expressão” – Uma faca só lâmina,
Paisagens com figuras, O cão sem plumas, Psicologia da composição, O engenheiro e Pedra do
sono –; na segunda, as de “comunicação múltipla” – Morte e vida severina, O rio e Os três mal-
amados. Num poeta obcecado pela ordenação geométrica, é evidente o desequilíbrio entre as
duas águas – seis livros na parte I e apenas três na parte II. Assim, há uma clara predileção de
Cabral pela construção de poemas que exigem “mais do que leitura, releitura”, apesar de suas
investidas no outro polo. Não custa frisar, aliás, que os poemas da segunda água são textos
dramáticos – se pensarmos em O rio como um monólogo –, cuja realização plena pressupõe, em
alguma medida, um trabalho cênico que saiba encontrar a dicção adequada para apresentá-los
ao público.
609
Anais do II Congresso Internacional Línguas Culturas e Literaturas em Diálogo: identidades silenciadas
ISBN 978-85-64124-60-8
Independentemente disso, a segunda seção de Duas águas revela uma das estratégias
do poeta para dissociar sua voz a de um eu-lírico “singular”. Quer dizer, ao enfatizar a vocação
dramática de sua poesia, João Cabral impede que a voz do poema se encerre num sujeito
específico, fazendo-a ecoar de uma maneira potencialmente coletiva. Há uma espécie de coro
silencioso que acompanha a voz enunciadora286, cuja presença relativiza a particularidade de
quem fala. Afinal, como afirma Severino no auto de natal pernambucano:
286 NO POEMA DE ABERTURA DE A EDUCAÇÃO PELA PEDRA, “O MAR E O CANAVIAL”, DESTACA ESSE ESQUEMA: “A ELOCUÇÃO
HORIZONTAL DE SEU VERSO; / A GEÓRGICA DE CORDEL, ININTERRUPTA,/ NARRADA EM VOZ E SILÊNCIO PARALELOS.” (MELO
NETO, 1966, P. )
610
Anais do II Congresso Internacional Línguas Culturas e Literaturas em Diálogo: identidades silenciadas
ISBN 978-85-64124-60-8
voz do outro não consegue fazer com que a comunicação almejada se dê plenamente fora de
seus limites de classe.
Esse problema, obviamente, não passou despercebido por João Cabral. Depois do êxito
da montagem de Morte e vida severina, em 1966, com a celebrada montagem do TUCA,
vencedora do prêmio do 4º Festival Mundial de Teatro Universitário em Nancy, o poeta acusaria
seu auto de natal de não ter realizado ainda sua verdadeira função:
*
Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.
611
Anais do II Congresso Internacional Línguas Culturas e Literaturas em Diálogo: identidades silenciadas
ISBN 978-85-64124-60-8
pedra. Se esse tipo de enunciação funciona num poema-livro como O rio, de 1954 – no qual o
próprio Capibaribe narra, em primeira pessoa, seu percurso da nascente à foz –, aqui, ao
contrário, não se ouve a voz da pedra, mas uma outra, que a toma como modelo: a voz do
poema.
Caberia, talvez, questionar se essa voz impessoal, aprendida por meio da pedra, pode
ser entendida como a de um “sujeito lírico fora de si”, nos termos em que Michel Collot
compreende a poesia de Francis Ponge. Em linhas gerais, Cabral e Ponge partem da mesma
percepção, de longo alcance na poesia moderna, sobre a crise da expressão lírica, resolvendo-a
numa desconfiança com relação às inquietudes subjetivas, em favor da apreensão da
concretude das coisas. Para Collot, todavia, esse processo na poesia de Ponge mantém-se como
uma “tomada de posição subjetiva”, uma vez que o “sujeito que não pode se expressar busca se
escrever através dos objetos que ele descreve” (2004, p. 171). Ocorre que, em “A educação pela
pedra”, o que se quer apreender é justamente a impessoalidade do objeto, o que nos faria girar
em falso na busca por uma subjetividade deslocada: a força da pedra como símile do poema
cabralino está, pois, em sua irredutibilidade à projeção de um sujeito que, em contato direto
com as coisas, revelaria a si mesmo.
Assim, não há aqui, como vê Collot em Ponge, um lirismo na “terceira pessoa do
singular”287, mas um antilirismo tout court, que suprime a expressão do eu mas, ao mesmo
tempo, não mostra uma suposta interioridade do objeto-pedra. Ainda que essa posição
radicalmente dessubjetivada seja relativizada em outros momentos de A educação pela pedra,
o poema que dá título ao livro constitui sua voz a partir desse duplo deslocamento, no qual o
enunciador não pode ser claramente identificado, sendo, na verdade, a exposição objetiva de
sua linguagem mineralizada.
O que lemos na primeira estrofe de “A educação pela pedra”, afinal, é um programa
poético, em quatro lições, por meio da descrição acurada das características do mineral, cujos
valores são replicados tanto na reflexão metalinguística quanto na própria composição do texto:
a abundância de consoantes oclusivas (/p/, /d/, /k/, /t/), em combinação com vibrantes (/r/),
engendra aquela sonoridade antimelódica, sempre ressaltada pela crítica cabralina (“aPRenDeR
Da PeDRA”, “CaRnaDuRA ConCReTa”, “aDensaR-se ComPaCTa”), enquanto o excesso de sinais
gráficos (dois pontos, ponto-e-vírgula e parênteses) e a falta de conectivos entre os sintagmas
reiteram as dificuldades anunciadas pelo poema, exigindo a atenção do leitor para frequentar
também essa “cartilha”.
Em suma, essa pedra, cuja voz não se revela, é a mesma que aparece em “Catar feijão”
(MELO NETO, 1966, p. 52-53) como um necessário obstáculo contra o discurso fluente. Nesse
sentido, o “grão imastigável”, núcleo duro da poética cabralina, é um princípio regulador que,
como observa Benedito Nunes (cf. 1971, p. 133), fere o ouvido com a inflexão sonora dessa
pedra “de quebrar dente”.
Sem descartar esse plano metalinguístico, entretanto, é preciso explorar a segunda
parte do poema, visualmente menor, em sua apresentação de uma “outra educação”, “de
dentro pra fora e pré-didática”. Se o primeiro bloco se restringe à frequentação da pedra por
lições metódicas, o segundo contextualiza geograficamente o elemento mineral, “no Sertão”.
Nesse ambiente específico, assim informa o poema, a “pedra não sabe lecionar,/ e se lecionasse
não ensinaria nada”. Há, portanto, uma evidente contradição entre a proposta de uma “outra
287 “A AFETIVIDADE DO SUJEITO É INSEPARÁVEL DOS OBJETOS QUE AFETAM SEU CORPO. ELA É O ‘RESULTADO DE UMA LENTA E
PROFUNDA IMPREGNAÇÃO (…) PELA QUAL O MUNDO EXTERIOR E O MUNDO INTERIOR SE TORNAM INDISTINTOS’. DE CADA
OBJETO NÓS POSSUÍMOS TODA ‘UMA IDEIA PROFUNDA’ FORMADA PELA ‘SEDIMENTAÇÃO INCESSANTE’ DE ‘IMPRESSÕES’ QUE
‘RECEBEMOS’ ‘DESDE A INFÂNCIA’. PARA PONGE, POESIA É ISSO: ‘EXTRAIR’ ESSA ‘IDEIA PROFUNDA’. (…) DESVIANDO-SE DE SI,
O SUJEITO SE DESCOBRE (…). PONGE EXPRESSA SUA SINGULARIDADE ATRAVÉS DOS OBJETOS MAIS SIMPLES; TRATA-SE DE UM
LIRISMO NA ‘TERCEIRA PESSOA DO SINGULAR’” (COLLOT, 2004, P. 173).
612
Anais do II Congresso Internacional Línguas Culturas e Literaturas em Diálogo: identidades silenciadas
ISBN 978-85-64124-60-8
educação”, no primeiro verso, e sua impossibilidade de realização nos versos seguintes: como
não pode captar nada dessa outra pedra, o poema apenas constata sua existência contundente,
entranhada na alma do sertanejo desde o nascimento.
Essa segunda pedra aparece também no poema “O sertanejo falando” (MELO NETO,
1966, p. 10-11), no qual a dificuldade de expressão é figurada num processo “doloroso”, já que
as “palavras de pedra ulceram a boca” e, para serem emitidas, exigem o árduo trabalho de
“confeitá-las na língua”. Disso surge uma distinção entre a aparência da fala do sertanejo, que
possui uma “entonação lisa, de adocicada”, e o “caroço”, que o torna “incapaz de não se
expressar em pedra”. Aqui, portanto, não há a conquista de uma linguagem adequada à poesia,
como na primeira estrofe de “A educação pela pedra”, mas uma reflexão, conscientemente
limitada, sobre as dificuldades da vida sertaneja, metonimizadas na dicção dos habitantes do
Sertão.
A limitação consciente diante da matéria social, da qual o poema não retira nenhuma
lição para si, produz uma forma de pedagogia negativa: “outra educação”, na verdade, ainda se
dirige ao próprio poema e, de certo modo, a nós, leitores: a operação atenciosa da primeira
estrofe, imprescindível para a aquisição do idioma-pedra no universo da poesia, torna-se
desnecessária no contexto sertanejo, no qual essa forma de expressão não é uma conquista
racional, mas um dado objetivo, resultado das carências que assolam a região.
É preciso observar, com isso, que o aspecto mineral realçado na primeira estrofe de “A
educação pela pedra” é, basicamente, o mesmo encontrado em “O sertanejo falando” com sinal
invertido: a “cartilha muda”, apresentada no primeiro como um método privilegiado de
construção poética, torna-se uma experiência danosa no segundo, relacionada às condições
materiais da vida no Sertão. Para dizer de um modo mais claro: o que tem um valor positivo no
plano metalinguístico, como configuração de uma linguagem especializada, é revestido pela
violência simbólica na situação concreta da fala sertaneja. Entre uma e outra pedra, portanto,
há a distância entre a poética de João Cabral e a “morte e vida severina”, que o autor incorpora
como tema e como princípio (o “falar pouco”, o “idioma pedra”, o “pegar as palavras com
cuidado”). Mas é a partir dessa distância, explicitada na “outra educação”, que o poeta
desenvolve uma forma mais complexa e, por assim dizer, realista de organizar a matéria social
na elaboração de seus poemas.
Temos, assim, a arquitetura completa que organiza A educação pela pedra: de um lado,
a realidade concreta, em seu atordoante dinamismo, é irredutível ao espaço exíguo do poema
(“lá não se aprende a pedra”); de outro, o próprio poema repele a referência direta à realidade,
garantindo sua autonomia por meio de uma linguagem árida (“sua resistência fria/ ao que flui a
fluir”), que desconfia dos vínculos imediatos entre a palavra e a coisa designada. Todavia, é
patente no livro o ímpeto de representação dessa realidade, ao mesmo tempo que o poeta não
se entrega a um trabalho meramente discursivo, cuja facilidade de comunicação não
ultrapassaria a superfície aparente de seu suposto conteúdo, produzindo sua obra sob uma
fratura irreconciliável.
Mas é justamente nessa fratura, seu ponto cego, que a “imitação da forma” de Cabral
alcança seu maior rendimento: na impossibilidade de incorporar a matéria social como lição de
linguagem, o poeta reduz deliberadamente a complexidade dessa matéria a um dado específico
(a fala do sertanejo, por exemplo), a partir do qual poderá melhor traduzi-la dentro de seu
universo poético (a dureza do idioma-pedra). Mais que isso, no próprio processo de tradução, o
poeta sinaliza as semelhanças e as diferenças entre a matéria reduzida e sua reconfiguração
como elemento estético (no caso, a pedra em dois contextos diversos), desenvolvendo uma
forma que, embora estruturalmente fechada, repõe a fratura em novos termos (a distinção
entre as duas educações).
613
Anais do II Congresso Internacional Línguas Culturas e Literaturas em Diálogo: identidades silenciadas
ISBN 978-85-64124-60-8
Assim, a imobilidade da pedra – símile de uma atitude poética firme diante de um todo
marcado pela maleabilidade – é o método que permitirá ao poeta, via linguagem, dar a ver todo
o dinamismo da vida social em suas contradições, fazendo de seus próprios limites estéticos os
meios adequados de representação dessa realidade. Essa tensão produtiva é patente em
diversos poemas do livro, como em “Rios sem discurso”:
*
O curso de um rio, seu discurso-rio,
chega raramente a se reatar de vez;
um rio precisa de muito fio de água
para refazer o fio antigo que o fez.
Salvo a grandiloquência de uma cheia
lhe impondo interina outra linguagem,
um rio precisa de muita água em fios
para que todos os poços se enfrasem:
se reatando, de um para outro poço,
em frases curtas, então frase e frase,
até a sentença-rio do discurso único
em que se tem voz a seca ele combate.
614
Anais do II Congresso Internacional Línguas Culturas e Literaturas em Diálogo: identidades silenciadas
ISBN 978-85-64124-60-8
288 NUMA ENTREVISTA CONCEDIDA EM SETEMBRO DE 1973, CABRAL VOLTARIA AO MESMO PROBLEMA: “COMO ATINGIR O
POVO? O QUE É O POVO? SE FAZEMOS UMA POESIA PURAMENTE POPULAR PERDEMOS AS CAMADAS MAIS SOFISTICADAS E,
DEPOIS, QUEM PODE ESCREVER PARA O POVO É O PRÓPRIO POVO. É A LITERATURA DE CORDEL. (…) O AUTO MORTE E VIDA
615
Anais do II Congresso Internacional Línguas Culturas e Literaturas em Diálogo: identidades silenciadas
ISBN 978-85-64124-60-8
cisão, todavia, produz uma tensão produtiva entre seu imaginário poético e a referência à
realidade que o alimenta, formalizando uma visão estruturada das contradições enfrentadas
pelo pensamento crítico no Brasil, cuja agudeza se tornaria cada vez mais perceptível, após 1964,
durante o novo surto de modernização conservadora instaurado pela ditadura 289. O que se
educa, assim, é o olhar do leitor, que ao adentrar profundamente na lógica de A educação pela
pedra também poderá ser capaz de encarar essas contradições.
REFERÊNCIAS
ATHAYDE, Félix de. Ideias fixas de João Cabral de Melo Neto. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira / Fundação Biblioteca Nacional, 1998.
CAMILO, Vagner. “De poetas, funcionários e engenheiros”. In: Remate de Males, v. 26,
nº 2, Campinas, 2006, p. 307-320.
COLLOT, Michel. “O sujeito lírico fora de si” (trad. de Alberto Pucheu). In: Terceira
Margem: revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ, nº 11, Rio de
Janeiro, 2004, p. 165-177.
ESCOREL, Lauro. A pedra e o rio: uma interpretação da poesia de João Cabral de Melo
Neto. São Paulo: Duas Cidades, 1973.
MELO NETO, João Cabral de. A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Editora do Autor,
1966.
____. “Da função moderna da poesia”. In: Obra completa (org. de Marly de Oliveira).
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006, p. 765-770.
_____. Duas águas (poemas reunidos). Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.
_____. Terceira feira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1961.
MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974): pontos de
partida para uma revisão histórica. 4ª ed. São Paulo: Editora 34, 2014.
NUNES, Benedito. João Cabral de Melo Neto. Col. Poetas Modernos do Brasil. Rio de
Janeiro: Vozes, 1971.
SÜSSEKIND, Flora (org.). Correspondência de Cabral com Bandeira e Drummond. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira / Casa de Rui Barbosa, 2001.
SEVERINA FOI UMA TENTATIVA DE ATINGIR UM PÚBLICO MAIOR (…) MAS ASSIM QUE ELE FOI PUBLICADO EU RECEBI UM ELOGIO
DE VINÍCIUS DE MORAES E DESCOBRI ENTÃO QUE MINHAS ESPERANÇAS DE QUE O POVO PUDESSE ASSIMILAR A OBRA NÃO
TINHAM FUNDAMENTO” (APUD ATHAYDE, 1998, P. 81-82). EMBORA NÃO CONCORDEMOS QUE UMA POESIA POPULAR SEJA
NECESSARIAMENTE MENOS “SOFISTICADA”, O RACIOCÍNIO DO POETA É BASTANTE REVELADOR.
289 COMO OBSERVA CARLOS GUILHERME MOTA, ANALISANDO A REVISTA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA, POUCOS ANOS APÓS O
GOLPE, SURGIRÁ EM MUITOS INTELECTUAIS UM “NOVO IMPULSO, UM TANTO REBELDE, CONTRA ESQUEMAS E MODELOS PRÉ-
FABRICADOS DE ANÁLISE, NOS QUAIS SE PROCURAVA ENQUADRAR A REALIDADE. ESSE ESQUEMATISMO, DE GRANDE CONSUMO
E FÁCIL ABSORÇÃO, UM DOS FATORES DA DERROCADA DAS ESQUERDAS EM 1964, PODE SER CAPTADO NOS EDITORIAIS DA
PRIMEIRA FASE DA RCB (…)”, QUANDO “OS AUTORES AINDA NÃO HAVIAM SE LIVRADO DO CLIMA EMOCIONAL PÓS-64, NÃO
TENDO CONDIÇÕES E NEM INSTRUMENTAL TEÓRICO PARA DIAGNOSTICAR AS MUDANÇAS ESTRUTURAIS QUE ESTAVAM SENDO
PROMOVIDAS PELOS MILITARES E TECNOCRATAS” (2014, P. 247). ACREDITAMOS QUE A EDUCAÇÃO PELA PEDRA FAÇA APONTE,
EM TERMOS POÉTICOS, O ESGOTAMENTO DE UM ESQUEMA ANTERIOR – PERCEPTÍVEL EM DUAS ÁGUAS –, CUJAS LIMITAÇÕES
IMPEDIAM A FORMALIZAÇÃO DAS CONTRADIÇÕES DA MATÉRIA SOCIAL DO POETA.
616
Anais do II Congresso Internacional Línguas Culturas e Literaturas em Diálogo: identidades silenciadas
ISBN 978-85-64124-60-8
617