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Roberto Hugo Pedrosa Vieira

Graduado em Ciências Econômicas; Pós-Graduado em Administração Financeira; Pós-Gra-


duado em Contabilidade Empresarial. Professor da FAVIP – Faculdade do Vale do Ipojuca,
Caruaru, Pernambuco.

Marlene Maria da Conceição Santos


Técnica em Contabilidade; Graduanda em Ciências Contábeis pela FAVIP – Faculdade do
Vale do Ipojuca, Caruaru, Pernambuco.

ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS


ATRAVÉS DE ÍNDICES FINANCEIROS

RESUMO

O presente artigo faz uma descrição sobre os índices financeiros que, freqüentemente, são utilizados na análise das demons-
trações financeiras, com o objetivo de subsidiar o processo de tomada de decisão dos usuários de tais demonstrações, mos-
trando as suas formas de cálculo, tecendo comentários sobre as informações financeiras que lhes originam, bem como so-
bre as situações em que e como poderão ser utilizados. Considerando a existência de um número relativamente grande de
índices financeiros individuais, a abordagem desenvolvida no presente artigo, objetivando um melhor entendimento, contem-
plou, portanto, o estudo dos índices através das cinco categorias principais: índices de liquidez, de atividades, de endivida-
mento, de rentabilidade e de mercado de ações.
Palavras-chave: Análise das Demonstrações Financeiras – Índices Financeiros – Tomada de Decisão.

ABSTRACT

The present article makes a description on the financial indices that, frequently, are used in the analysis of the financial
demonstrations, with the objective to subsidize the process of taking of decision of the users of such demonstrations, being
shown its forms of calculation, making commentaries on the financial information that they originate to them, as well as
on the situations where and as they could be used. Considering the existence of a relatively great number of individual fi-
nancial indices, the boarding developed in the present article, objectifying one better agreement, contemplated, therefore,
the study of the indices through the five main categories: market and yield, indebtedness, activity, liquidify ratios of action.
Key Words: Analysis of Financial Demonstrations – Financial indexes – Decision Making.

VEREDAS FAVIP, Caruaru, Vol. 2, n. 01, pp. 50–60, jan./jun. 2005


Análise das demonstrações financeiras através de índices financeiros

INTRODUÇÃO ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS


ATRAVÉS DOS ÍNDICES
A análise das demonstrações financeiras
consubstancia-se em um relevante instrumen- A análise financeira através da utilização
to de auxílio para a tomada de decisão, uma vez de índices financeiros compreende uma técni-
que o seu objetivo é transformar dados finan- ca que possibilita uma visão global da real si-
ceiros em informações de cunho gerencial. tuação financeira da empresa, uma vez que os
As demonstrações financeiras, quando índices podem ser utilizados com o objetivo de
analisadas, são, portanto, importantes insu- perquirir, perscrutar as mais diversas poten-
mos para o processo decisório, sobretudo, cialidades de desempenho econômico-financei-
quando se objetiva: ro, tais como: liquidez do patrimônio líquido,
1) comparar os resultados de empresas de um grau de endividamento, estrutura do capital,
mesmo setor; dentre outras.
2) procurar selecionar empresas visando a re- Um índice, na realidade, apresenta uma
alização de investimentos; relação entre duas ou mais grandezas. Assim,
3) identificar as principais ações e estratégias mediante esta característica, os índices finan-
implementadas pela concorrência; e ceiros são construídos, portanto, para mostrar
4) aquilatar os riscos de créditos de clientes as relações entre as contas das demonstrações
ou de fornecedores. financeiras com o objetivo de propiciar uma
Depreende-se, por conseguinte, que os melhor compreensão das relações entre os va-
principais usuários da análise das demonstra- lores divulgados nas demonstrações contábeis
ções financeiras são: de uma empresa, viabilizando, por conseguin-
a) os investidores, que, buscando subsidiar as te, uma visão pormenorizada sobre as suas
suas decisões sobre investimentos, avaliam posições financeira e operacional no decorrer do
o desempenho e o crescimento da empre- tempo, levando, na maioria das vezes, os geren-
sa; tes a se anteverem e tomarem certas decisões,
b) os bancos, nas suas decisões quanto à con- em tempo hábil, no sentido de evitar falências
cessão de crédito e definição do valor a ser ou concordatas, bem como outros problemas de
emprestado; ordens financeira e operacional que possam
c) os credores, que se preocupam constante- aflorar no decorrer da atividade econômica.
mente com a solvência de seus devedores; Existe um número relativamente grande
d) os analistas de títulos que, através da aná- de índices financeiros individuais, mas, nor-
lise das demonstrações financeiras, avaliam malmente, costuma-se agrupar os índices em
os pontos fortes e fracos das empresas, com categorias principais.
vistas à realização de suas negociações no Groppelli e Nikbakht (1999, p.409) agru-
mercado de ações; pam os principais índices em cinco categori-
e) os dirigentes, que acompanham o desempe- as, a saber:
nho da empresa, objetivando, assim, evitar • Índices de liquidez;
a sua insolvabilidade, bem como assegurar- • Índices de atividades;
se de que os recursos disponíveis estão sen- • Índices de endividamento;
do utilizados de forma eficaz. • Índices de rentabilidade;
• Índices de mercado de ações.

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Roberto Hugo Pedrosa Vieira e Marlene Maria da Conceição Santos

1. ÍNDICES DE LIQUIDEZ representa uma boa saúde financeira para a


empresa, enquanto que um CCL negativo im-
Os índices de liquidez, em sua essência, plica dizer que, no momento, a empresa não
medem o grau de solvência da empresa, isto dispõe da mesma liberdade financeira com que
é, da capacidade que esta tem de pagar o que vinha atuando e transmite a seu administra-
deve. dor que há uma necessidade imperiosa para a
Segundo Brigham e Houston (1999, p.80), efetivação da troca de seus compromissos de
os índices de liquidez são “quocientes que curto prazo por prazos mais alongados.
mostram a relação entre caixa e outros ativos
circulantes de uma empresa e seus passivos b) Índice de Liquidez Corrente (ILC)
circulantes”. Segundo Groppelli e Nikbakht (1999,
Na realidade, através da análise das de- p.409), o Índice de Liquidez Corrente é a rela-
monstrações financeiras, utilizando-se os ín- ção entre o Ativo Circulante e o Passivo Circu-
dices de liquidez, averigua-se o estado de sol- lante, isto é:
vência de uma empresa, ou seja, a capacidade
financeira que esta reúne para a cobertura
hábil de seus compromissos correntes. ATIVO CIRCULANTE1
ILC =
Em outras palavras, a mensuração da li- PASSIVO CIRCULANTE
quidez através dos índices de liquidez trata-
se da questão de avaliar as potencialidades
financeiras da empresa de poder gerar caixa Desta relação matemática, pode-se con-
suficiente para pagar aos seus fornecedores cluir que este índice mede o número de vezes
e credores, no prazo acordado, através da em que os ativos de curto prazo são capazes
transformação de um ativo em caixa, sem de cobrir as dívidas também de curto prazo.
levá-la, no entanto, a perdas consideráveis, Trata-se, portanto, de um índice que serve
mantendo-se, assim, em estado de solvência. como indicador da solvência da empresa no
Os índices de liquidez mais conhecidos e curto prazo.
utilizados são: Assim, para o cálculo do ILC utilizam-se
os valores disponíveis e conversíveis de curto
a) Capital Circulante Líquido (CCL) prazo, agrupados no Ativo Circulante, para
O Capital Circulante Líquido de uma em- estabelecer uma relação com as dívidas, tam-
presa é calculado através da diferença entre o bém de curto prazo, inscritas no Passivo Cir-
Ativo Circulante e Passivo Circulante, ou seja: culante.
Os administradores financeiros estão sem-
pre preocupados com a resposta ao questio-
CCL = ATIVO CIRCULANTE – PASSIVO CIRCULANTE namento: A empresa tem condições de pagar
suas dívidas de Curto Prazo? Deste modo, tra-
balham para que sua empresa se mantenha
Analisando-se a citada equação matemá- sempre, no mínimo, com o resultado dessa
tica, pode-se ressaltar que um CCL positivo relação igual à unidade, pois, assim, esta re-

1 Lê-se: Índice de Liquidez Corrente é igual ao Ativo Circulante dividido pelo Passivo Circulante.

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vela uma capacidade de pagamento na propor- os estoques são excluídos dos ativos circulantes da
ção de uma unidade monetária de aplicações empresa. A suposição básica do Índice de Liquidez
para cada unidade monetária de dívidas a cur- Seca é que os estoques geralmente constituem o ati-
to prazo. vo circulante menos líquido e, portanto, devem ser
No entanto, a maioria dos especialistas em ignorados.
finanças considera 2,0 como um índice acei-
tável, mas afirmando que a determinação exa- O ILS é, assim, calculado:
ta de um índice depende grande parte da in-
dústria onde a empresa opera. ATIVO CIRCULANTE – ESTOQUES
O ILC é um índice financeiro muito utili- ILS =
PASSIVO CIRCULANTE
zado, considerando-se o melhor indicador fi-
nanceiro de uma empresa, mas como qualquer
índice, o ILC merece considerações quanto aos Pelo cálculo da fórmula do ILS dá para se
conversíveis contabilizados na conta Estoques inferir que a mensuração da liquidez da em-
e em relação à monta de dinheiro a receber presa é mais refinada, sendo, portanto, um
registrada na conta Duplicatas a Receber. Toda potente índice de liquidez, pois fornece uma
essa preocupação refere-se ao prazo da con- medida melhor da liquidez global, sobretudo,
versibilidade e do recebimento efetivo desses quando os estoques não sejam passíveis de
valores, uma vez que estes itens estão muito serem transformados, com facilidade, em cai-
ligados ao fator “risco”, isto é: risco de não ven- xa, uma vez que, desta feita, a resposta é dada
der os estoques e risco de não receber o que a um questionamento diferente do feito na
foi vendido, prejudicando, sobremaneira, a in- análise do Índice de Liquidez Corrente, qual
terpretação do resultado. Esta premissa tem seja, é possível a empresa pagar os seus com-
amparo na constatação de que os recursos do promissos de Curto Prazo, sem depender da
Passivo Circulante foram totalmente investidos venda de seus Estoques?.
no Ativo Circulante. Isto denota que este índice concentra-se
Por outro lado, não se pode esquecer que em ativos que são mais facilmente convertidos
os investimentos também recebem aportes do em caixa, dado que elimina da análise a cate-
Capital Circulante Líquido, cuja constituição goria de circulantes menos líquidos, que são
foi delineada anteriormente, levando-se a con- os estoques, identificando, assim, se a empre-
siderar que um possível excedente da unidade sa seria capaz de cumprir suas obrigações pas-
resultante da relação entre Ativo Circulante e sivas caso ocorresse uma inesperada redução
Passivo Circulante é a parte, também, do CCL nas vendas.
investido, fato que o administrador financeiro Os especialistas recomendam um índice
não pode esquecer. igual ou superior a 1,0, mas com a ressalva
de que a aceitação de tal valor depende muito
c) Índice de Liquidez Seca (ILS) da indústria onde a empresa opera.
Com relação ao Índice de Liquidez Seca,
Gitman (1978, p.49) afirma: d) Índice de Liquidez Geral (ILG)
De acordo com Blatt (2001, p.74), o Índi-
O Índice de Liquidez Seca é semelhante ao Índi- ce de Liquidez Geral mostra
ce de Liquidez Corrente, com a única diferença que

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[...] a solidez do embasamento financeiro da empresa realidade ao analisar, especificamente, num


a Longo Prazo, considerando tudo o que a empresa dado momento, o valor do índice em tela. A
converterá em dinheiro (a Curto e Longo Prazos), e propósito, um determinado financiamento de
relacionando com tudo o que a empresa já assumiu longo prazo obtido por uma empresa poderá,
como dívida (a Curto e Longo Prazos). perfeitamente, ser aplicado, na sua totalidade,
em Ativo Permanente, fato que não trará au-
O índice em questão é definido através da mento para o Ativo Circulante, nem para o Re-
seguinte fórmula: alizável a Longo Prazo, mas aumentará, sensi-
velmente, o Exigível a Longo Prazo, levando,
conseqüentemente, a uma redução imediata no
ATIVO CIRCULANTE + ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO Índice de Liquidez Geral. Na realidade, dado o
ILG =
PASSIVO CIRCULANTE + PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO longo prazo para a liquidação do financiamen-
to, a sua real situação financeira não é de in-
solvência. Este fato poderá ser constatado, ao
Mediante o seu cálculo, conclui-se que longo do tempo, quando os recursos financei-
este Índice revela se os recursos financeiros ros aplicados no Ativo Permanente passam a
aplicados no Ativo Circulante e no Ativo Reali- gerar lucros e aumentam, paulatinamente, o
zável a Longo Prazo são suficientes para hon- Ativo Circulante, levando, assim, ao fortaleci-
rar as obrigações totais da empresa. Em ou- mento da capacidade de pagamento de curto
tras palavras, este índice mostra o quanto a e longo prazos da empresa no decorrer do tem-
empresa dispõe de Ativo Circulante mais Rea- po. Com relação a este aspecto, Blatt (2001,
lizável a Longo Prazo para pagar cada unidade p.74) alega que isto pode ocorrer
monetária de obrigação total.
Diante de tais características, fica evidente [...] em um ano em que a empresa adquira um vulto-
que quanto maior for o seu valor, mais confor- so financiamento, investindo-o totalmente em seu Ati-
tável será a situação financeira da empresa, vo Permanente, reduza sensivelmente sua Liquidez
uma vez que esta está demonstrando reunir Geral, o que aumentará consideravelmente o Exigível
capacidade financeira suficiente para fazer a Longo Prazo, mas não aumentará o Ativo Circulan-
frente aos seus compromissos, de curto e lon- te e o Realizável a Longo Prazo. Porém, com o tempo,
go prazos, assumidos com os seus credores. o seu Ativo Permanente deverá gerar Receita (e, con-
A Liquidez Geral, como os demais índices seqüentemente, lucro), aumentando o Ativo Circulante
financeiros, não deve, no entanto, ser analisa- e melhorando a capacidade de pagamento a Curto e
da isoladamente e proporciona uma análise Longo Prazos.
enriquecida quando apreciada através de uma
série de anos. Isso implica que tanto a diver-
gência dos prazos de vencimento dos direitos 2. Í NDICES DE ATIVIDADES
do Ativo Circulante e das obrigações do Passi-
vo Circulante, como também, o tipo de aplica- A questão da rapidez como a empresa
ção, realizado pela empresa, dos recursos fi- pode transformar os seus estoques e as suas
nanceiros, obtidos com terceiros, poderão contas a receber em caixa é de alta relevância
induzir o analista financeiro a vislumbrar uma para a manutenção de sua solvência. É claro
situação financeira não condizente com a sua que quanto mais rápido esta transformação

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possa ocorrer, melhor para a empresa.


Os Índices de Atividades se preocupam, CONTAS A PAGAR
PMP = 2
conseqüentemente, em identificar o grau de COMPRAS ANUAIS A PRAZO / 360 DIAS
rapidez com que as empresas podem gerar cai-
xa, através da mencionada transformação,
quando se depararem com o aparecimento de Este índice, conforme se deduz pelo seu
inesperadas necessidades. cálculo, apresenta a mesma lógica, bem como
Vale destacar que os cálculos dos índices as mesmas limitações, do PMC, lembrando-se,
de atividades são feitos considerando o ano co- apenas, que as contas a pagar constituem o
mercial, ou seja, com 360 dias, e os principais lado oposto das contas a receber. Leite (1994,
são: p.102) alega que “[...] através dele busca-se a
avaliação do tempo médio que decorre entre o
a) Período Médio de Cobrança (PMC) recebimento das mercadorias para revenda, ou
Este índice elucida quantos dias a empre- de matérias-primas para processamento, e o
sa terá que esperar para que os seus direitos, respectivo pagamento”. Trata-se, este índice,
ou valores a receber, sejam efetivamente trans- de um indicador, que, quando comparado ao
formados em moeda ou caixa. O PMC é encon- PMC, possibilitarão ao comprador negociar com
trado através do cálculo da seguinte fórmula: os seus fornecedores e se planejar buscando
uma sincronização entre os seus recebimen-
tos e pagamentos, a fim de preservar-se quanto
CONTAS A RECEBER a uma possível falta de liquidez.
PMC =
VENDAS A PRAZO ANUAIS / 360 DIAS Em suma, alguns especialistas afirmam
que o conhecimento do PMP apresenta uma
certa relevância para a ativdade operacional,
É oportuno aclarar que o PMC deve ser pois o prazo médio de pagamento interfere,
examinado e considerado pela empresa ao es- sobremaneira, no ciclo financeiro da empresa
tabelecer a sua política de crédito, tendo, no e, ainda, espelha o resultado das negociações
entanto, o administrador financeiro sempre em com os fornecedores para o pagamento das
mente que, como os demais índices, nunca deve mercadorias adquiridas para revenda, ou das
ser considerado isoladamente, mas aliado a um matérias-primas para processamento.
conjunto de outras informações, sobretudo por
ser este índice uma média, fato que pode ser c) Índice de Giro de Estoques (GE)
enganoso em algumas situações. O cálculo do Giro de Estoques reveste-se
numa maneira dos analistas financeiros avali-
b) Período Médio de Pagamento (PMP) arem a capacidade da empresa em converter
O PMP é encontrado através da seguinte os seus estoques e contas a receber em caixa.
fórmula: Considerando que os estoques represen-
tam os ativos circulantes menos líquidos, de-

2 As compras anuais a prazo não figuram nos demonstrativos financeiros. Sendo assim, para a utilização da presente fórmula, estima-
se a porcentagem dos custos dos produtos vendidos que é comprada a prazo. Por hipótese, suponha-se que uma empresa apresente
um custo dos produtos vendidos de R$ 2.000,00 e que 70% desse custo represente as compras a prazo. Logo, as compras anuais a
prazo deverá ser R$ 1.400,00 (0,7 x R$ 2.000,00).

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duz-se, portanto, que quanto maior for o va- que as empresas utilizam capital de terceiros
lor encontrado para o Giro dos Estoques de ou adotam a alavancagem financeira em de-
uma empresa, melhor para ela, pois isto im- corrência de três importantes implicações:
plica que ela realizou vendas de uma forma
mais rápida e liberou recursos financeiros (1) Ao aumentar os recursos por meio das dívidas,
para outros usos. os acionistas podem manter o controle de uma empre-
Deste modo, este índice indica o número sa com investimento limitado.
de vezes em que a empresa movimentou ou (2) Os credores esperam que o capital próprio, ou
renovou seus estoques de mercadorias ou pro- os fornecidos pelo proprietário, proporcione uma mar-
dutos em decorrência das vendas e é calcula- gem de segurança; se os acionistas houvessem forne-
do pela seguinte equação: cido apenas uma pequena proporção do financiamento
total, os riscos da empresa seriam assumidos princi-
palmente por seus credores.
CUSTO DOS PRODUTOS VENDIDOS
GE = (3) Se a companhia ganha mais em investimentos
ESTOQUE MÉDIO
financiados com recursos tomados de empréstimo do
que paga em juros, o retorno do capital dos proprie-
tários é expandido, ou alavancado.
3. ÍNDICES DE ENDIVIDAMENTO (IE)
Este índice pode ser, assim, calculado:
Os Índices de Endividamento visam for-
necer uma posição de endividamento da em-
EXIGÍVEL TOTAL
presa. Gitman (1978, p.63) esclarece que “a IE =
ATIVO TOTAL
posição de endividamento da empresa indica
o montante do dinheiro de terceiros que está
sendo usado, na tentativa de gerar lucros”.
Os principais Índices de Endividamento b) Índice de Participação de Capital de
são: Terceiros (IPCT)
Gitman (1978, p.54) afirma que “este ín-
a) Índice de Endividamento (IE) dice indica a relação entre os recursos a longo
Este índice indica, em termos percentu- prazo fornecidos por credores e os recursos
ais, a relação existente entre os capitais de fornecidos pelos proprietários da empresa”.
terceiros e os ativos totais da empresa. Em O seu cálculo é dado pela resolução da
outras palavras, fornece a percentagem em que equação seguinte:
os ativos totais são financiados por capital de
terceiros.
EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
O índice de endividamento evidencia o IPCT =
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
grau de alavancagem financeira utilizado pela
empresa, indicando, portanto, uma maior ala-
vancagem quanto maior o índice se apresen-
tar e uma menor alavancagem, quando este for O índice em questão é, também, bastante
menor. utilizado para medir o grau de alavancagem
Weston e Brigham (2000, p.56) explicam financeira adotado pelas empresas. Assim, as

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Análise das demonstrações financeiras através de índices financeiros

empresas com valores altos de ativo fixo e que É inequívoco que quanto maior for o índi-
contam com fluxos de caixa bastante estáveis, ce apresentado pela empresa, melhor a sua
ou seja, que possuem as entradas de caixa situação financeira para fazer face ao pagamen-
regulares, podem trabalhar com altos Índices to de suas dívidas, enquanto que um baixo
de Participação de Capital de Terceiros, mas índice de cobertura de juros pode levar a em-
os especialistas sempre alertam para o fato de presa a uma situação perigosa, dado que uma
que o melhor parâmetro é ter como base um retração na atividade econômica levaria a uma
índice que corresponda à média da indústria conseqüente redução no LAJIR, possivelmen-
ou setor em que a empresa atua. te até abaixo da despesa anual de juros, le-
vando, por conseguinte, a empresa a uma si-
c) Índice Exigível a Longo Prazo/Ativo Total tuação embaraçosa de inadimplência ou até
(ELP/AT) mesmo de insolvência.
Este índice mostra uma relação entre o
total da dívida a longo prazo e o total dos ati- 4. ÍNDICES DE RENTABILIDADE
vos de uma empresa, indicando, assim, a per-
centagem dos recursos a longo prazo que fo- A questão da rentabilidade de uma em-
ram fornecidos pelos seus credores. Além presa é motivo de constante preocupação para
disso, objetiva avaliar o grau de alavancagem os acionistas, investidores e os seus adminis-
financeira adotado por uma empresa, poden- tradores financeiros. A rentabilidade está as-
do, portanto, o analista financeiro utilizá-lo em sociada de forma diretamente proporcional à
substituição ao índice anterior, uma vez que maneira como os administradores utilizam ou
este apresenta as mesmas características. O empregam os ativos postos à disposição da
índice ELP/AT é, assim, calculado: empresa. Se utilizam tais ativos com eficácia,
conseguem reduzir ou controlar despesas e
alcançam, conseqüentemente, taxas de retor-
EXIGÍVEL A LONGO PRAZO no para o capital investido mais elevadas, le-
ÍNDICE ELP/AT =
ATIVO TOTAL
vando ao crescimento da empresa, situação
que acarreta uma maior captação de recur-
sos financeiros frente a novos acionistas e in-
d) Índice de Cobertura de Juros (ICJ) vestidores. Por outro lado, a ineficácia do
O Índice de Cobertura de Juros objetiva emprego dos ativos conduz a taxas de retor-
detectar a capacidade da empresa no que con- no do capital investido, abaixo do nível acei-
cerne ao pagamento dos seus encargos finan- tável, gerando, assim, uma queda no Patrimô-
ceiros anuais. Assim, este índice mede quan- nio Líquido e, por extensão, desvalorização no
tas vezes o lucro operacional (LAJIR) é capaz valor das ações da empresa, fato que vem de-
de cobrir o pagamento dos juros. sencorajar os acionistas correntes e os inves-
O índice em questão é, assim, calculado: tidores potenciais nas suas pretensões de in-
vestir na empresa. Diante de tal raciocínio,
conclui-se que é de extrema relevância para
LUCRO OPERACIONAL (LAJIR) a empresa a mensuração do desempenho do
ÍNDICE DE COBERTURA DE JUROS =
DESPESA ANUAL DE JUROS lucro.
Os índices de rentabilidade, portanto,

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apresentam este fim e os principais são os se-


LAJIR (LUCRO OPERACIONAL)
guintes: MARGEM OPERACIONAL =
VENDAS

a) Margem de Lucro Bruto


O índice em tela mostra a eficiência da
administração no que diz respeito à utilização c) Margem de Lucro Líquido
de materiais e mão-de-obra no processo de Groppelli e Nikbakht (1999, p.419), assim,
produção. conceituam a margem líquida da seguinte for-
Gitman (1978, p 56) afirma que “a mar- ma: “A margem de lucro líquido é aquela gera-
gem bruta indica a porcentagem de cada uni- da de todas as fases de um negócio, ou seja,
dade monetária de venda que restou após a esse índice compara o lucro líquido às vendas”.
empresa ter pago por suas mercadorias”. Para Em suma, a Margem de Lucro Líquido é
o seu cálculo, utiliza-se a seguinte fórmula: calculada utilizando-se de raciocínio idêntico
ao da Margem de Lucro Operacional, sendo
que, desta feita, expurga-se do cálculo todas
VENDAS – CUSTOS DOS PRODUTOS VENDIDOS as despesas financeiras, inclusive do imposto
MARGEM BRUTA =
VENDAS de renda. Deste modo, a Margem Líquida for-
nece a percentagem de cada unidade monetá-
ria de venda que sobrou após serem deduzi-
É lúcido, então, afirmar que maiores Índi- das todas as despesas financeiras e imposto
ces de Margem de Lucro Bruto indicam maio- de renda.
res graus de eficiência da administração da em- A Margem de Lucro Líquido, de indústria
presa, uma vez que para isso ocorrer denota-se para indústria, freqüentemente, diverge, mas
menores valores para o custo dos produtos ven- sempre é salutar para o desempenho do ad-
didos. Vale ressaltar que o raciocínio inverso ministrador financeiro, e, conseqüentemente,
também é verdadeiro para a análise. da empresa, procurar manter margens de lu-
cro líquido acima da média da indústria onde
b) Margem de Lucro Operacional ela está localizada e, se possível, demonstran-
A margem de lucro operacional revela a do tendências de melhora.
intensidade do sucesso da administração da A Margem de Lucro Líquido é calculada
empresa nos negócios ao gerar o seu lucro através da fórmula a seguir:
operacional. Alguns especialistas denominam
este índice de lucros puros, dado que ele é
calculado ignorando as despesas financeiras e LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO
MARGEM LÍQUIDA =
qualquer taxa governamental, avaliando, por- VENDAS
tanto, somente os lucros auferidos pela empre-
sa no decorrer de suas operações.
A literatura sobre o assunto recomenda d) Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE)
que é bom para a empresa trabalhar com uma O índice de Retorno sobre o Patrimônio
alta margem de lucro operacional. A Margem Líquido interessa, especialmente, aos analis-
de Lucro Operacional deve ser, assim, encon- tas de mercado de capitais, bem como aos aci-
trada: onistas, pois consiste numa forma de avaliar

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Análise das demonstrações financeiras através de índices financeiros

a rentabilidade e a taxa de retorno da empre-


LUCRO DISPONÍVEL AOS ACIONISTAS COMUNS
sa. É evidente, portanto, que altas taxas de LPA =
NÚMERO DE AÇÕES EMITIDAS
retorno sobre o patrimônio líquido são benéfi-
cas para a empresa, pois isto denota maior
retorno para o investimento dos acionistas,
levando, assim a maior atratividade para as b) Dividendo por Ação (DPA)
ações da empresa no mercado de capitais. O índice DPA indica a monta, em unida-
O ROE é definido por: des monetárias, distribuída com cada acionis-
ta. O cálculo é feito da seguinte forma:

LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO


ROE =
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
DIVIDENDOS PAGOS
DPA =
Nº DE AÇÕES EMITIDAS

5. ÍNDICES DE MERCADO DE AÇÕES


Este tipo de índice, igualmente ao anteri-
Os administradores financeiros das em- or, reveste-se de grande importância, tanto
presas e os acionistas correntes e potenciais para os dirigentes da empresa como para os
estão sempre atentos para os valores das acionistas reais e potenciais, pois além de in-
ações, uma vez que eles refletem o desempe- dicar competência e sucesso na gestão dos
nho e o crescimento das empresas, bem como negócios, dado que se pagou dividendos em
estão intrinsecamente ligados ao retorno do decorrência dos lucros auferidos, gera, tam-
capital aplicado pelos investidores. Assim, uti- bém, rentabilidade e satisfação nos investido-
lizam-se dos índices de mercado, realizando as res correntes e desperta a atratividade dos in-
mais diversas comparações, com o objetivo de vestidores potenciais, alargando, portanto, as
quantificarem o valor das ações das empresas. oportunidades da empresa em captar novos
Os principais índices de mercado são: recursos financeiros no mercado.

a) Lucro por Ação (LPA)


O Lucro por Ação compreende o montan- CONCLUSÃO
te ganho em unidades monetárias por cada
ação emitida. Tal indicador é de relevância A análise das demonstrações financeiras
para a administração, uma vez que indica o através dos índices financeiros trata-se de uma
sucesso da empresa, bem como para os acio- potente técnica de subsídio ao processo deci-
nistas correntes e potenciais, pois permite a sório sobre os mais diversos aspectos financei-
comparação com outras alternativas de inves- ros, mas, deve ser utilizada de forma criterio-
timentos para os seus capitais. Assim, valo- sa, uma vez que o seu uso só permite uma
res altos para o LPA são da preferência da ad- avaliação do desempenho e eficiência globais
ministração das empresas, bem como dos de uma empresa quando acompanhada da
investidores. análise de outras medidas estatísticas.
O LPA é calculado da seguinte maneira: Aliado a tal aspecto, o analista financeiro
deve sempre ter em mente que os índices fi-

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Roberto Hugo Pedrosa Vieira e Marlene Maria da Conceição Santos

nanceiros observados para uma determinada GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração


empresa, por si sós, mesmo revelando patama- financeira. São Paulo: Harper, 1978.
res aconselhados pela literatura atinente ao
assunto, não são suficientes para indicar se a GROPPELLI, A. A.; NIKBAKHT, Ehsan. Administração
sua saúde financeira é boa ou ruim. Na reali- financeira. 3ª. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
dade, o analista deve ter o devido cuidado de
comparar os indicadores observados com a LEITE, Hélio de Paula. Introdução à administração
média da indústria onde a empresa, alvo de financeira. 2ª. ed. São Paulo: Atlas, 1994.
avaliação, esteja inserida para a sua decisão
ser mais consistente. MARTINS, Eliseu; NETO ASSAF, Alexandre. Adminis-
Vale salientar, ainda, que ao realizar-se tração financeira. São Paulo, Atlas, 1986.
comparações com os dados da indústria, não
se deve, também, descartar a possibilidade de MATARAZZO, Dante C. Análise financeira de balan-
tais dados estarem distorcidos, sobretudo, se ços: abordagens básica e gerencial. 6ª. ed. São Pau-
os cálculos das médias foram feitos incluindo lo: Atlas, 2003.
dados de pequenas empresas, muitas vezes,
com problemas financeiros sérios. NEVES, Silvério das; VICECONTI, Paulo E. V. Conta-
Por fim, é notório que muitas empresas bilidade básica e estrutura das demonstrações fi-
adotam certas práticas contábeis com o obje- nanceiras. 8ª. ed. São Paulo: Frase, 2000.
tivo de mascararem seus verdadeiros lucros,
apresentando nos seus demonstrativos finan- SCHRICKEL, Wolfganf K. Demonstrações financei-
ceiros, muitas vezes, lucros achatados ou in- ras: abrindo a caixa preta. 2ª. ed. São Paulo: Atlas,
flados não condizentes com a realidade, fato 1999.
que, dentre muitos outros possíveis de ocor-
rer, pode levar o analista a pecar nas suas con- WESTON, J. Fred; BRIGHAM, Eugene F. Fundamen-
clusões. tos da administração financeira. 10ª. ed. São Pau-
lo: Makron Books, 2000.

BIBLIOGRAFIA

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São Paulo: Atlas, 2000.

BLATT, Adriano. Análise de balanços: estrutura e


avaliação das demonstrações financeiras e contá-
beis. São Paulo: Makron Books, 2001.

BRIGHAM, Eugene F.; HOUSTON, Joel F. Fundamen-


tos da moderna administração financeira. 6ª. ed.
Rio de Janeiro: Campus, 1999.

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