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A história do homem que levou banco Barings à falência

A trajetória do operador Nick Leeson é digna de filme. Além de uma das mais famosas fraudes
da história dos mercados, o caso mostrou como um mero empregado poderia levar o mais
antigo banco de investimentos da Inglaterra, o Barings, à ruína.

Mais que a atuação irregular de um trader no mercado futuro, o caso revelou algumas das
inúmeras brechas que o sistema financeiro apresenta, além de expor a rotina de cobrança e
interesses que alimenta a busca desenfreada por retornos, muitas vezes ignorando riscos.

Leeson começou como operador no banco Coutts, na primeira metade da década de 1980.
Rodou por diversos bancos até conseguir um posto de operador do Barings, uma instituição de
atuação histórica, fundado em 1762. Leeson foi transferido para Cingapura, para ativar uma
cadeira que o Barings possuía na Singapore Monetary Exchange, para operar no mercado
futuro da região.

88888
O primeiro flerte de Leeson com uma operação ilegal não partiu de sua ganância, mas de um
erro de uma colega de trabalho inexperiente. Segundo consta em sua autobiografia, "A história
do homem que levou banco Barings à falência", a funcionária havia vendido vinte contratos
que deveria comprar, o que causou uma perda próxima de £ 20 mil à instituição.

Para encobrir o erro, Leeson utilizou uma das contas erro do Barings, utilizadas para corrigir
diferenças de negociação. A partir daí, Leeson criou a famosa conta erro de número 88888,
que passou a usar para esconder os prejuízos de suas operações.

Risco, mais risco


Com a possibilidade de encobrir seus prejuízos, Leeson passou a tomar posições cada vez mais
arriscadas. Quando perdia, encobria o prejuízo na conta 88888; mas seus ganhos começavam a
chamar a atenção da alta cúpula do Barings. As ordens de Leeson garantiam alguns retornos
substanciais ao Barings, chegando a faturar mais de £ 10 milhões para a instituição em 1992.

Seduzida pelos ganhos, a administração do Barings passou a estimular as operações de Leeson,


oferecendo bônus milionários a cada aplicação de sucesso do operador. Os prejuízos da conta
88888 passavam a se multiplicar, chegando a cerca de £ 210 milhões em 1994.

Mas Leeson sempre via sua próxima tacada como a oportunidade de cobrir o rombo da conta
88888, o que levava a tomar mais e mais risco. Em uma destas operações, apostava na
manutenção da tendência de alta dos mercados asiáticos na sessão seguinte. Mas o acaso
colocou à sua frente um terremoto de 7,3 graus de magnitude que devastou a cidade japonesa
de Kobe e derrubou as bolsas da região em 17 de janeiro de 1995.

A tacada final
A aposta errada aumentou substancialmente o prejuízo. Leeson não parou por aí e assumiu
posições que indicavam uma recuperação rápida do índice Nikkei 225. Neste período, o
operador movimentou mais de 20 mil contratos, enquanto as perdas registradas na conta
88888 bateram aproximadamente US$ 1,3 bilhão.

Para se ter uma ideia, quando os gestores do Barings descobriram a fraude, este valor
superava o capital e reservas em posse do banco, o que representou a insolvência da
instituição de 235 anos. Pelo simbólico valor de £ 1, o holandês ING assumiu o Barings em
fevereiro de 1995.

Nas telas do cinema


Leeson fugiu. Após rodar por Malásia e Tailândia, foi preso em Frankfurt no início de março
daquele ano. Extraditado para Cingapura, foi condenado a seis anos e meio de prisão, mas
acabou solto em 1999 por bom comportamento.

Sua história foi contada por ele mesmo na autobiografia "A história do homem que levou
banco Barings à falência"*. Também pode ser vista na interpretação do ator Ewan Mcgregon,
em "A Fraude" - título original "Rogue Trader", lançado em 1999.

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