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SÍNTESE E PROPRIEDADES DE DETERGENTE E SABÃO

1. INTRODUÇÃO

A fim de concretizar uma regra para dissolução de solventes, intitulou-se por ‘’igual
dissolve igual’’ a regra que determina qual solvente deve ser utilizado para a remoção de
substâncias. Para isso, deve-se considerar a polaridade do solvente a ser utilizado e da
substância a ser removida. Exemplos de solventes polares, como a água, são
caracterizados como os melhores solventes para compostos polares, já os solventes
apolares, possuem características que o determinam melhores na remoção de substâncias
apolares. Tal regra é explicada através da examinação das forças de atração entre as
moléculas do soluto e do solvente [2].
Derivada desta regra, a ação de detergentes e sabões utilizam do princípio exposto
para auxiliar na limpeza de nossos utensílios de cozinha, entre outros, especificamente
direcionando-se na remoção de gorduras. Os sabões são os sais de sódio de ácidos
carboxílicos de cadeia longa, que por sua vez, possuem ânions com um grupo carboxilato
polar (-CO​2​-​), chamado de cabeça e presente na extremidade da cadeia de hidrocarbonetos
apolares. A cabeça é responsável por atrair a água, ou seja, é hidrofílica, e a cauda apolar é
hidrofóbica, repele a água e é capaz de se dissolver em gorduras, formando então uma
micela, sendo esta solúvel em água e removedora de gorduras [2].
Os sabões são feitos por aquecimento de óleos que contêm ácidos graxos e um
éster de glicerol com hidróxido de sódio capaz de atacar o éster. Este fenômeno da hidrólise
de um éster na presença de uma base forte, é denominado de saponificação [3]. Os
detergentes, por sua vez, são feitos a partir da sulfonação de um álcool, processo
caracterizado pela introdução do trióxido de enxofre (SO​3​) contido no ácido sulfúrico
(H​2​SO​4​), substituindo o hidrogênio (H​+​) contido no álcool, composto orgânico [4]. O principal
componente do detergente é um ​agente surfactante​, capaz de substituir o sabão devido a
sua semelhança estrutural e de interagir com substâncias polares e apolares. Este agente
também possui regiões hidrofílicas e hidrofóbicas, contendo, em geral, átomos de enxofre
na cabeça polar [2].

2. OBJETIVOS

A prática teve como objetivo preparar detergente a partir da sulfonação do álcool e


também preparar sabão pela saponificação de um óleo. E após o preparo dos dois produtos
sintetizados, verificar algumas propriedades como a reação espumante, a ação
emulcionante e a ação de cátions metálicos de cada um.

3. MATERIAIS

● 5 tubos de ensaio;
● 2 provetas de 10ml;
● 2 pipetas de pasteur;
● 1 bastão de vidro;
● 1 béquer de 25ml;
● 1 béquer de 50ml;
● 1 béquer de 100ml;
● pipeta graduada;
● pêra;
● papel de tornassol;
● pinça.

4. TOXICIDADE DOS REAGENTES

● Álcool n-octanol (​C​8​H​18​O)​[1]

Em contato com a pele causará irritação, e em contato com os olhos queimará,


sendo necessário lavar com água o local afetado, e no caso dos olhos manter as pálpebras
abertas.

● Ácido sulfúrico(H​2​SO​4​)[1]

Produto altamente corrosivo; não apresenta riscos ao fogo, mas em contato com
combustíveis pode se haver chamas. Irritante para a garganta, nariz e olhos e se for inalado
causará tosse, dificuldade respiratória ou perda da consciência. Se houver contato com a
pele ou com os olhos causará queimação sendo necessário lavar o local com água em
abundância.

● Hidróxido de sódio(NaOH)[1]

Produto corrosivo. É irritante para pele, olhos e garganta, ocorrendo irritação caso
haja contato, sendo preciso lavar com água em abundância o local afetado. Se for ingerido
terá prejuízos, não podendo provocar o vômito.

● Cloreto de cálcio(CaCl​2​)[1]

Substância não inflamável. Caso haja algum contato com a pele ou com os olhos irá
causar queimação, onde se tem a necessidade de enxaguar o local afetado com muita
água, no caso dos olhos manter as pálpebras abertas. Se for ingerido irá provocar náusea e
vômito, devendo se manter a vítima aquecida.

5. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

5.1 SÍNTESE PARA O DETERGENTE

Em um tubo de ensaio adicionamos 2 mL de álcool n-octanol e 1,5 mL de ácido


sulfúrico concentrado. Após, agitamos e deixamos em repouso por cerca de 10 minutos.
Juntamos a mistura preparada com 8 mL de água destilada e transferimos-a para um
béquer de 50 mL. Cuidadosamente, adicionamos 4 mL de solução de hidróxido de sódio
(NaOH) a 25% e esperamos até que a solução resfriasse. Por fim, medimos o pH utilizando
papel tornassol, adicionando gota por gota de solução de hidróxido de sódio a fim de o pH
ficar levemente alcalino (o papel tornassol deve ficar azul).

Figura 1 - ​Fluxograma referente ao procedimento experimental realizado.

5.2 SÍNTESE PARA O SABÃO

Pesamos cerca de 1 g de hidróxido de sódio em um béquer de 100 mL, adicionamos


4 mL de água e aquecemos em banho maria agitando com um bastão de vidro até
dissolver. Em seguida, adicionamos cerca de 6 mL de óleo de cozinha (óleo vegetal) e
misturamos com o bastão de vidro até obter uma mistura viscosa e consistente.
Figura 2 - ​Fluxograma referente ao procedimento experimental realizado.

5.3 CONFERÊNCIA DAS PROPRIEDADES DO DETERGENTE E SABÃO

Após preparados corretamente, testamos algumas propriedades dos produtos


obtidos. Ressalta-se que para os testes A e B, adicionamos cerca de 2 mL de água no
sabão.

A - REAÇÃO ESPUMANTE

Colocamos 2 mL da solução de detergente e do sabão, separadamente, em


provetas de 10 mL, tampamos com insulfilm, agitamos e anotamos a altura da espuma
formada.

B - AÇÃO EMULCIONANTE

Colocamos cerca de 1 mL de cada produto em tubos de ensaio e adicionamos óleo,


gota a gota (contando e anotando as gotas) e agitamos levemente até que houvesse
formação persistente de duas fases.

C - AÇÃO DE CÁTIONS METÁLICOS

Colocamos em tubos de ensaio, separadamente, 1 mL de cada produto e 4 mL de


água. Em seguida, adicionamos, gota a gota, contando e anotando o número de gotas,
solução de cloreto de cálcio (CaCl​2​) a 60% até que não houvesse mais a formação de
espuma.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a ​síntese do detergente observamos que na sulfonação do álcool ocorre uma


reação exotérmica, com grande liberação de calor, sensação perceptível através do tato.
Com o produto sintetizado foi feita a verificação do seu pH, utilizando papel tornassol, para
poder ajustar com melhor precisão o pH para alcalino. Para isso foi adicionado uma maior
quantidade de solução de hidróxido de sódio (NaOH), pois a adição feita anteriormente não
foi suficiente para deixar o produto com melhor qualidade e menos agressivo a limpeza. A
necessidade de adição da solução alcalina pode se dever ao fato de termos utilizado uma
solução de NaOH a 25%. Ao fim, foram necessárias 75 gotas desta solução para tornar o
detergente básico, sendo que esta informação foi exposta pela cor azul do papel tornassol,
exemplificado na figura a seguir:

Figura 3 -​ Coloração azulada do papel tornassol indicando a alcalinidade do detergente.

Ao fim, obtivemos uma solução (Figura 4):

Figura 4 - ​Resultado obtido na síntese do detergente.

Na ​síntese do sabão​, para reação entre o hidróxido de sódio e os ácidos graxos foi
necessário se ter o aumento de temperatura a fim de que a reação ocorresse corretamente,
com formação de glicerol e sais dos ácidos graxos. Após a síntese obtivemos uma mistura
viscosa e consistente (Figura 5).
Figura 5 - ​Resultado obtido na síntese do sabão.

Com os produtos concluídos, realizamos a comparação de suas propriedades


(reação espumante, ação emulcionante e ação de cátions metálicos). Dessa forma
obtivemos os seguintes resultados apresentados em forma de tabela:

Tabela 1 - ​Resultados das comparações das propriedades dos produtos.

detergente sabão

altura espuma/ mL 7 9

nº de gotas de óleo 3 9

nº de gotas de CaCl​2 3 7
Fonte: ​Aluno Leonardo

De acordo a Tabela 1, o sabão produziu mais espuma, possuindo por sua vez, cerca
de 2 mL a mais de altura que o detergente. Sabendo que a espuma é ar pressionado dentro
de uma micela, podemos refletir acerca de suas composições. Os sais presentes no sabão,
quando agitado e em contato com o ar atmosférico, tem maior facilidade de permitir a
entrada de ar na mistura quando comparado aos componentes do detergente (álcool, ácido
sulfúrico…)? A interação componentes-ar atmosférico dos produtos se devem às
características orgânicas ou fisíco-químicas dos reagentes que o constituem?.
Em relação ao número de gotas de óleo para a obtenção de duas fases nos
produtos, foram necessárias 4 gotas a mais no sabão. Essas gotas de óleo, à medida que
eram acrescentadas, estavam sendo envolvidas pelo detergente ou pelo sabão (parte
apolar), determinando a saturação do meio. Quando formou-se duas fases, significou que o
meio saturou e este estava ‘’expulsando’’ a gordura. Com isso, o detergente, por ter sido
necessário menor quantidade de óleo para sua saturação, é mais eficiente que o sabão?.
A questão acima pode ser ainda mais concretizada quando comparamos o número
de gotas de solução de cloreto de cálcio necessárias, também, para a saturação do meio.
Como exposto, foram necessárias o dobro +1 de gotas desta solução no sabão. Neste caso,
a saturação do meio foi evidenciada pela não formação de espuma.
Contudo, vale questionarmos se os resultados obtidos nas propriedades do
detergente foram modificados, por se ter o acréscimo das 75 gotas de solução de hidróxido
de sódio utilizadas para neutralizá-lo.

(a) (b)
Figura 6 - ​Separação de fase (a) sabão e (b) detergente.

Dando sequência aos resultados, fomos instruídos pela docente a determinar os


agentes limitante e em excesso na síntese do detergente, somado à descoberta da
molaridade do NaOH (25%) e do CaCl​2 (60%). A fim de uma melhor organização,
apresentaremos o que nos foi solicitado através de tópicos:

● Determinação dos agentes limitante e em excesso na síntese do detergente:

Para os cálculos, tivemos como base a seguinte equação química:

C​8​H​18​O​(aq)​+ H​2​SO​4(aq)​ + NaOH​(aq)​ → C​8​H​19​O​5​NaS​(aq)​+ H​2​O​(g)

Através das densidades e dos volumes utilizados de álcool n-octanol e ácido


sulfúrico (98%), calculamos suas massas e após, com o auxílio de suas massas molares,
calculamos seus respectivos números de mols.

ρ (C​8​H​18​O) = 0,824 g.cm​-3


V (C​8​H​18​O) = 2,0 mL = 2,0 cm​3
MM (C​8​H​18​O) = 130,23 g.mol​-1
m
ρ= V
Equação 1 - ​Densidade.

m
0, 824 g.cm − 3 = 2,0 cm3
m = 1, 648 g

m
n = MM
Equação 2 - ​Número de mol.

1,648 g
n C8H18O = 130,23 g.mol−1 = 0, 013 mol

ρ (H​2​SO​4​) = 1,84 g.cm​-3


V (H​2​SO​4​) = 1,5 mL = 1,5 cm​3
MM (H​2​SO​4​) = 98,079 g.mol​-1

m
1, 84 g.cm − 3 = 1,5 cm3
m = 2, 76 g

2,76 g
n H2SO4 = 98,079 g.mol−1 = 0, 028 mol

Considerando os 98% (relação de porcentagem em massa):

0,028 mol -- 98%


x -- 100%
x = 0,0286 mol

Com os números de mols em mãos, relacionamo-os com a estequiometria da


reação:

1 C​8​H​18​O -- 1 H​2​SO​4
0,013 mol -- x
x = 0,013 mol de H​2​SO​4

1 C​8​H​18​O -- 1 H​2​SO​4
x -- 0,0286 mol
x = 0,0286 mol de C​8​H​18​O

Portanto, o ácido sulfúrico está em excesso (fornecemos 0,0286 mols e consumiu-se


somente 0,013 mols) e o álcool n-octanol está limitando (fornecemos 0,013 mols e
consumiu-se 0,0286 mols).
● Molaridade do NaOH (25%):

A solução utilizada possui 25% de pureza, logo, estabelece uma relação de que a
cada 100 mL de solução preparada contém 25 g de NaOH (isso se deve ao fato de
considerarmos a densidade da água 1 g.mL​-1​). Sabendo que a massa molar do NaOH
equivale a 39,997 g.mol​-1 (aproximadamente 40,0 g.mol​-1​), calculamos o número de mols e
em seguida, calculamos sua concentração:

m
n = MM
Equação 2 - ​Número de mol.

25 g
n N aOH = 40 g.mol−1 = 0, 625 mol

n
C = V (L)
Equação 3 - ​Concentração.

0,625 mol
C N aOH = 0,1 L = 6, 25 g.mol − 1

● Molaridade do CaCl​2 ​(60%)​:

A solução utilizada possui 60% de pureza, logo, estabelece uma relação de que a
cada 100 mL de solução preparada contém 60 g de CaCl​2 (isso ​ se deve ao fato de
-1​
considerarmos a densidade da água 1 g.ml​ ). Sabendo que a massa molar do CaCl​2
equivale a 110,98 g.mol​-1 (aproximadamente 111,0 g.mol​-1​), calculamos o número de mols e
em seguida, calculamos sua concentração:

m
n = MM
Equação 2 - ​Número de mol.

60 g
n CaCl2 = 111 g.mol−1 = 0, 540 mol

n
C = V (L)
Equação 3 - ​Concentração.

0,540 mol
C CaCl2 = 0,1 L = 5, 4 g.mol − 1

7. CONCLUSÕES

Ao término deste experimento, concluímos que o detergente e o sabão se


diferenciam em suas composições químicas, sendo que a principal neste âmbito, é de que o
detergente possui átomos de enxofre (S) na sua cabeça polar, ou seja, na sua parte
hidrofílica. De acordo com as suas propriedades, na reação espumante, o sabão produziu
mais espuma e na ação emulcionante, foi necessário uma menor quantidade de gotas de
óleo para saturar o detergente, constatando assim, sua maior eficiência na remoção de
gorduras, por saturar mais rapidamente e ‘’expulsar’’ a gordura junto à água. Por fim,
representando os sais presentes na água que chega em nossas casas, os cátions metálicos
(CaCl​2​), foram responsáveis, também, por saturar o meio, sendo necessário uma maior
quantidade para a saturação do sabão, o que nos leva a concluir que realmente o sabão é
menos eficiente que o detergente na remoção de impurezas, alcançando assim, todos os
objetivos propostos do experimento.

Referências Bibliográficas
[1] Ficha de informação de produto químico. Disponivel em:
<​https://sistemasinter.cetesb.sp.gov.br/produtos/produto_consulta_completa.asp?qualpagin
a=1&sqlQuery=sp%5FTBPRODIDENTIFICACAO%5Fsel​>. Acesso em: 21 agosto 2019

[2] ATKINS, P.; JONES, L. ​Princípios de química: questionando a vida moderna e o


meio ambiente​, tradução técnica: Ricardo Bicca de Alencastro. 5ª Ed. Porto Alegre; São
Paulo: Bookman, 2012. 922p.

[3] BROWN; LeMAY; BURSTEN. ​Química a ciência Central​. 9a ed. São Paulo, Pearson,
2007. 972p.

[4] ​Sulfonação e sulfatação. Disponível em:


<file:///media/fuse/drivefs-28797d77a32f3f2b27a42122e011fc64/root/SulfonacaoSulfatacao-
478.pdf>. Acesso em: 22 agosto 2019.

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