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LIVRO
TEXTO

LEITURA,
INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

https://bit.ly/2CLKGEc
2

Sumário

1. LINGUAGEM E SEUS DOMÍNIOS ............................................................................................. 4


1.1 LINGUAGEM VERBAL ................................................................................................... 5
1.2 LINGUAGEM NÃO VERBAL .......................................................................................... 6
1.3 LINGUAGEM MISTA ..................................................................................................... 6
2. CONCEITOS E IMPORTÂNCIA DA LEITURA.............................................................................. 7
3. TIPOS E TÉCNICAS DE LEITURA ............................................................................................. 17
3.1 ANÁLISE E ESTRUTURA DE UM LIVRO/TEXTO ........................................................... 20
3.2 INTERPRETAÇÃO DO CONTEÚDO DE UM LIVRO ....................................................... 21
3.3 CRÍTICA DE UM LIVRO COMO TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTOS ....................... 22
3.4 ANOTAÇÃO ................................................................................................................ 25
4. INTERPRETAÇÃO: DA PALAVRA À COMUNICAÇÃO ............................................................. 29
5. TIPOLOGIA TEXTUAL ............................................................................................................. 44
5.1 NARRAÇÃO ................................................................................................................ 45
5.2 DESCRIÇÃO ................................................................................................................ 49
5.3 INJUNÇÃO .................................................................................................................. 51
5.4 DIALOGAL .................................................................................................................. 54
5.5 DISSERTAÇÃO ............................................................................................................ 58
6. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO .................................................................................................... 63
6.1 ANÁLISE ..................................................................................................................... 65
7. SEMIÓTICA E TEXTO NÃO-VERBAL: PRINCIPAIS CONCEITOS ............................................... 68
7.1 LINGUAGEM VERBAL ................................................................................................. 68
7.2 LINGUAGEM NÃO VERBAL ........................................................................................ 68
7.3 LINGUAGEM MISTA ................................................................................................... 69
8. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO NÃO VERBAL ............................................................................ 75
9. COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL ........................................................................................... 85
9.1 COERÊNCIA ................................................................................................................ 94
10. TIPOS DE PARÁGRAFOS DISSERTATIVOS .............................................................................. 98
10.1 TEXTO DISSERTATIVO: RECONHECER E PRODUZIR ................................................. 110
10.2 TEXTO DISSERTATIVO: ARTIGO DE OPINIÃO ........................................................... 117
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................... 122
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................... 123
3

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

TEMA 01

PARTE 01 – LEITURA: CONCEITOS, IMPORTÂNCIA, TIPOS E


TÉCNICAS
4

• Conhecer a linguagem e seus domínios na leitura, escrita e


produção textual;
• Identificar as diversas concepções de leitura;
• Empregar a Leitura do texto e do contexto;
• Diferenciar pressuposto de subentendido;
• Realizar diversos tipos de análise para se apropriar do conteúdo
estudado;
• Conhecer as técnicas de: grifar, esquematizar e resumir;

1. LINGUAGEM E SEUS DOMÍNIOS1

É através da linguagem que o ser humano se constitui social e individualmente. A


linguagem se divide em verbal e não verbal e pode ser também mista. Segundo Bechara
(2004), a linguagem é qualquer sistema de signos simbólicos empregados na
intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e sentimentos, isto é, conteúdo da
consciência.

A língua será o grande potencial da linguagem verbal, sendo vital para o


desenvolvimento da humanidade. Segundo Faraco e Mandryk (2012): “a realidade humana é,
de fato, inseparável da língua”.

É através dela que:

• Constituímos a interação verbal – maior modo de comunicação humana;


• Nos constituímos como pessoa;

Assim, a língua é parte fundamental e determinante na vida do homem e da


manutenção da vida em sociedade. Desde o nascimento já estão inseridos em uma língua, no
caso dos brasileiros, da língua portuguesa. Esta língua é assimilada de modo muito rápido pelo
falante, que já mantém uma característica inata para aprender a língua. Quando inserido em
situação de convívio social, esta língua passa a ser internalizada de modo rápido e eficiente, o
que possibilita afirmar que todos os nativos de uma língua conhecem plenamente a sua língua.

Lembre-se de que a gramática é diferente de língua.

1
Fonte: BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.
FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística: Objetos Teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.
5

A gramática pode ser entendida como:

• Um livro com as regras e normas descritas da língua.


• Conjunto de regras pré-estabelecidas da língua

A língua envolve toda a prática linguística utilizada por indivíduos em uma comunidade
e pode não estar dentro das regras gramaticais, mas dentro da organização linguística da
comunidade de falantes. Assim, a língua é um conjunto de práticas sociais mais amplo que a
gramática. Um falante nativo não erra a sua língua, uma vez que as questões históricas e
geográficas influenciam na língua falada pela comunidade.

Considerar que uma comunidade fala melhor que a outra, que um Estado sabe falar
melhor que é outro é uma forma de inferiorizar grupos sociais. O que devemos considerar é a
situação e a intenção. Deve-se escolher a língua que se adapta a cada situação e esteja de
acordo com o objetivo a ser alcançado.

Dentro do campo da linguagem verbal, temos os três grandes eixos desta disciplina:
leitura, interpretação e escrita, sem deixar de lado a linguagem não-verbal, presentes hoje no
campo da interpretação do mundo e da escrita.

1.1 LINGUAGEM VERBAL

Existem várias formas de comunicação. Quando o homem se utiliza da palavra, ou seja,


da linguagem oral ou escrita, dizemos que ele está utilizando uma linguagem verbal, pois o
código usado é a palavra. Tal código está presente quando falamos com alguém, quando
lemos, quando escrevemos.

A linguagem verbal é produzida com a utilização da língua e pode se apresentar na


modalidade oral (falada) ou escrita

De acordo com Fiorin (2002), a linguagem verbal é, então, a matéria do pensamento e


o veículo da comunicação social. Assim como não há sociedade sem linguagem, não há
sociedade sem comunicação. Como realidade material – organização de sons, palavras frases
- a linguagem é relativamente autônoma: como expressão de emoções, ideias, propósitos, no
entanto, ela é orientada pela visão de mundo, pelas injunções da realidade social, histórica e
cultural de seu falante.
6

A linguagem verbal é a forma de comunicação mais presente em nosso cotidiano.


Mediante a palavra falada ou escrita, expomos aos outros as nossas ideias e pensamentos,
estabelecemos comunicação e existimos em mundo feito de palavras.

Ela está presente em textos, em propagandas, em reportagens (jornais, revistas etc.),


em obras literárias e científicas, na comunicação entre as pessoas, em discursos (políticos,
representantes de classe, candidatos a cargos públicos etc.); e em várias outras situações.

1.2 LINGUAGEM NÃO VERBAL

Linguagem não verbal é o uso de imagens, figuras, desenhos, símbolos, dança, pintura,
música, mímica, escultura e gestos como meio de comunicação.

A linguagem não verbal é feita sem a utilização da língua e engloba: sons, cores, gestos,
símbolos.

Dentro do contexto temos a simbologia que é uma forma de comunicação não verbal.
Exemplos: sinalização de trânsito, semáforo, logotipos, bandeiras, uso de cores para chamar
a atenção ou exprimir uma mensagem.

É muito interessante observar que para manter uma comunicação utilizamos tanto a
linguagem verbal quanto a não verbal.

1.3 LINGUAGEM MISTA

Linguagem mista ou híbrida é o uso simultâneo da linguagem verbal e da linguagem


não verbal. Muito comum nas histórias em quadrinhos e nas propagandas. É ima linguagem
com muito potencial, pois a união da linguagem verbal com a não verbal amplia o poder
comunicacional.

A linguagem mista ou híbrida é feita com a utilização da linguagem verbal e não


verbal ao mesmo tempo.
7

2. CONCEITOS E IMPORTÂNCIA DA LEITURA

Em um mundo altamente tecnológico, muitos acreditam que o celular e o computador


são os instrumentos mais importantes para ser moderno, porém o que pouco se questiona é
o que fazer com estes instrumentos, como utilizá-los de modo adequado e a favor do indivíduo
e do seu bem-estar. Além disso, a LEITURA será o fator determinante para um bom uso das
ferramentas tecnológicas.

Recentemente uma amiga que viajou para a Espanha comentou a respeito da sua
dificuldade durante a visita ao país. Segundo seu relato, não há no aeroporto, nas plataformas
de trem ou metrô pessoas com função específica de ajudar a executar quaisquer
procedimentos. Tudo está escrito em placas e folhetos e as pessoas seguem os procedimentos
sem ficar perguntando, ou seja, elas se acostumam a ler as informações.

Depois de ouvir sua história, refleti o quanto somos dependentes no Brasil. Não
sabemos ler e seguir orientações, estamos perguntando a respeito daquilo que está escrito
nas placas. Isso revela o nosso pouco hábito de ler, seja uma placa que indica o banheiro mais
próximo, seja a orientação dada durante um procedimento no caixa eletrônico, seja mesmo
um texto maior, mais elaborado como os que são necessários na formação acadêmica.

Enquanto o brasileiro não for independente no campo da leitura, enquanto não


conseguir ler e entender o que leu, não conseguirá desenvolvimento. Um país precisa de
leitores competentes para alcançar o posto de desenvolvido. Assim, a leitura é primordial para
o desenvolvimento individual e coletivo.

A leitura é um passaporte para a independência, em especial, a acadêmica, posto que


ler e entender o que leu são dois passos fundamentais para ter uma vida acadêmica
satisfatória. Por isso, nesta unidade, trataremos da leitura e de sua importância na vida do
universitário.

Vários conceitos podem ser aplicados ao vocábulo “leitura”, um dos primeiros


entendimentos, afirmava que ler era decodificar as palavras. Mas, o que é mesmo decodificar?
Nas etapas de alfabetização, no primeiro processo de leitura, as crianças leem primeiro as
sílabas e então formam as palavras. Quando conseguem ler as palavras, sem ser necessário
ler as sílabas, diz-se que ela sabe decodificar, o que antes era considerado como leitura. Este
8

é um conceito muito empobrecido do que verdadeiramente é a leitura, assim, vejamos como


Paulo Freire2 define:

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta
não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se
prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura
crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1989, p.
9).

Para o educador, o mundo do leitor é fundamental para a compreensão da leitura.


Vejamos como isso se dá na prática:

Se eu gosto de carros, sei o nome das marcas, sei os modelos, acompanho toda a
tecnologia de produção dos automóveis, certamente terei domínio do vocabulário
relacionado ao tema: carros. Por isso, se for necessário ler algum material sobre este tema,
será mais fácil de compreender o texto; por outro lado, se eu não sei nada sobre enfermagem,
algumas expressões serão incompreensíveis. Se o assunto não faz parte do nosso mundo,
temos mais dificuldade de compreensão.

A grande questão que se põe é que na universidade não é possível negligenciar


nenhuma disciplina, ainda que ela não seja do nosso mundo. Uma dica é viver mais, observar
mais, ouvir as pessoas, todas elas, de todas as idades, de todas as profissões. Essa é uma
possibilidade de aprender sobre o mundo na sua diversidade.

Outra questão para qual Freire aponta é o contexto: A compreensão do texto a ser
alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.

Atenção pra a definição de Contexto. Isso vai ser fundamental para a sua compreensão,
não só de leitura, mas de interpretação e produção textual:

Contexto é tudo aquilo que, embora não esteja no texto, é


importante para sua compreensão. É o ambiente, é o sujeito da ação
e sua função social, são os fatores sociais, culturais e psicológicos. É
a situação concreta a que o texto se refere. Há diferentes tipos de
contextos (social, político, cultural, estético, esportivo, educacional,
histórico...).

2
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados:
Cortez, 1989.
9

O contexto se dá de dentro do texto para fora dele. É como se determinadas palavras,


expressões me levassem do sentido do texto para o mundo real. Esse mundo real é o contexto.
É possível que se parte de contextos para o texto, quando observando o mundo, o
acontecimento e depois vamos aos textos para compreender o fato através das palavras.

O contexto é determinante para o entendimento da leitura, sem ele, haverá a escrita,


haverá leitor, haverá texto, mas não haverá compreensão.

Vejamos:

Exemplo 1

Fonte: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/04/

Exemplo 2:

Fonte: https://www.otempo.com.br/capa/brasil/

A palavra guerra aparece nas duas manchetes, porém ela tem significado diferente, na
primeira, sabe-se que há conflito armado na síria e ocorre verdadeiramente uma guerra; já no
exemplo dois, trata-se da grande violência proporcionada pelo tráfico, mas não pode ser
compreendida na mesma acepção do exemplo 1. Como sabemos disso?

Simplesmente pelo contexto, somos brasileiros e sabemos que não estamos em guerra
armada, por isso somos levados a compreender sob outra ótica. Vejamos mais um exemplo
para compreender o que é o contexto:
10

Fonte: http://www.fatoreal.blog.br/seguranca/falta-de-seguranca-e-uma-solucao-criativa/

Ao lermos a placa acima, sabemos que o lugar de compra é a casa onde está a placa.
Como sabemos isso? Simples, nosso conhecimento de mundo, ou seja, o contexto, nos indica
um conhecimento para além do que está escrito. Então, Paulo Freire está correto quando diz
que não lemos apenas palavras, lemos antes, o mundo. Caso não sejamos bons leitores do
mundo, teremos dificuldade na leitura das palavras.

Observem que para compreendermos um conceito, tivemos que refletir sobre ele,
ampliá-lo, entender o que significa a palavra mundo, o que é contexto, para então
compreender plenamente o que o autor entende por leitura do mundo. Assim deve ser feito
em todo ato de leitura, pois ler é um processo, é uma ação que envolve reflexão, busca,
paciência e principalmente, prática. Quanto mais você lê, mais habilidoso você fica.

Devemos também considerar a interrelação entre leitor e texto, pois o leitor não é um
ser passivo, sem conhecimento anterior. Quando o leitor se põe a desvendar um texto, os
conhecimentos anteriores são acionados e pode haver um diálogo com o texto. Soares3 (2000)
amplia a concepção de leitura ao apresentar a relação entre leitor e autor mediado pelo
mundo:

Leitura não é esse ato solitário; é interação verbal entre indivíduos, e indivíduos
socialmente determinados: o leitor, seu universo, seu lugar na estrutura social, suas
relações com o mundo e com os outros; o autor, seu universo, seu lugar na estrutura
social, suas relações com o mundo e os outros (SOARES, 2000, p. 18).

3
SOARES, M. As condições sociais da leitura: uma reflexão em contraponto. In: ZILBERMAN, R.; SILVA, E. T. (Org.).
Leitura: perspectivas disciplinares. São Paulo: Ed. Ática, 2000. p. 18-29.
11

O processo de interação entre livro e leitor é discutido por Leffa4 (1999) ao considerar
a leitura como um processo interativo entre os esquemas do leitor e do autor, vivendo um
momento sócio histórico. Dessa forma, a concepção de leitura interativa compreende leitura
não como uma atividade de decodificação de itens linguísticos, como um processo dinâmico
de construção de sentidos. Nessa concepção de interação, o leitor não é mero receptor de
mensagens, ele se porta como coautor;

Ampliando o conceito de leitura, Kleiman5 (2002) entende como um processo cognitivo


que envolve uma relação entre: “o sujeito leitor e o texto enquanto objeto, entre linguagem
escrita e compreensão, memória, inferência e pensamento”. Para esta autora, a leitura só
pode acontecer quando aspectos cognitivos são acionados, dentre eles: compreensão,
memória, inferência e pensamento. Destes quatro aspectos, dois merecem destaque:
memória e inferência.

Em primeiro plano, a memória é fator primordial na leitura porque será acionada para
relembrar conhecimentos que se unirão ao novo conhecimento da leitura. Todas as vezes que
se faz uma leitura, vem à mente outras leituras já feitas antes. Certamente que a memória só
pode ser acionada se houver conhecimentos prévios. Quanto mais leitura se tem, maior é o
repertório para ser relembrado.

O segundo termo utilizado, inferência6, também é importante para a realização de


uma leitura completa:

Inferência é uma dedução feita com base em informações ou um


raciocínio que usa dados disponíveis para se chegar a uma conclusão.
Inferir é deduzir um resultado, por lógica, com base na interpretação
de outras informações. Inferir também pode significar chegar a uma
conclusão a partir de outras percepções ou da análise de um ou mais
argumentos.

4
LEFFA, V.J. Perspectivas no estudo da leitura: texto, leitor e interação social. In: LEFFA, V. J.; PEREIRA, A. E.
(Org.). O ensino de leitura e produção textual: alternativas de renovação. Pelotas: Educat, 1999. p. 13-37.
5
KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura: Teoria e Prática. Campinas, SP: Pontes. 2002
6
https://www.significados.com.br/
12

A Inferência textual está relacionada à compreensão da leitura. Significa interpretar os


elementos que estão explícitos e implícitos no texto, de modo que o leitor consigas ampliar a
análise de tudo que foi escrito e compreender a ideia central do texto. A inferência textual
pode requerer algum conhecimento prévio sobre o tema da leitura.

Quando se realiza o ato de ler, nem sempre as informações estão claras e visíveis, nem
sempre é possível compreender um texto apenas fazendo uma leitura literal. Para ampliar a
compreensão alguns conceitos devem ser considerados, como os de: IMPLÍCITOS E
EXPLÍCITOS7

Informações explícitas - São aquelas gritantemente expostas no texto. Não há


necessidade de se aguçar a mente, de fazer um grande esforço para compreender a
informações. Neste caso, a interpretação deve se voltar apenas ao que foi redigido no texto.

Já os Implícitos são os elementos que o leitor deverá deduzir a partir de informações


explícitas. O implícito requer a capacidade do leitor de deduzir o que o autor quis dizer no
texto, mas não disse. Ou seja, é necessário que o leitor enxergue o que não está escrito, o que
está nas entrelinhas. Vamos ler o implícito dos textos8 abaixo:

Quantos anos vive uma tartaruga?


A tartaruga vive entre 80 e 100 anos. [...] As tartarugas estão entre os animais de vida mais
longa e é o único animal hoje que vive mais que o homem. [...] Um dos critérios usados
para saber a idade da tartaruga é contar os anéis que formam seu casco. Mas, com o passar
do tempo, esse critério deixa de ser útil porque o número de anéis aumenta muito e não é
mais possível distingui-los. Muitas vezes, o tamanho da tartaruga pode ser um indicativo
da sua idade. SUPERINTERESSANTE, fev.1995.

Implícito: se a tartaruga não for monitorada, dificilmente se saberá a idade dela.

7
Marcelo Rosenthal; Lilian Furtado; Tiago Omena; Pedro Henrique. Interpretação de Textos e
Semântica para concursos: teoria, esquemas, exercícios e questões de concursos comentadas. Campus
concurso. Acessado em <www.elsevier.com.br>
8
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000014237.pdf
13

Muita dor e inchaço é o que sente uma pessoa quando é picada por abelhas ou
marimbondos. Este incômodo passa após algumas horas e não se sofre maiores
consequências, desde que o ataque não tenha sido feito por um grande número de insetos.

Implícitos – 1) o inchaço é passageiro, não é duradouro; 2) se for um número grande


pode trazer consequências mais graves

No campo dos implícitos estão os PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS que também são


responsáveis por fazer uma boa leitura. Vamos agora verificar qual a distinção entre eles:

PRESSUPOSTOS - o autor do texto emprega palavras ou expressões com a intenção de


que o leitor realize a inferência. O autor não passasse uma informação completa, mas o uso
de determinada palavra ou expressão dá a entender a ideia pretendida.

Os pressupostos podem ser marcados por:

• Verbos – os alunos deixaram o curso de língua inglesa, porque essa matéria não foi
incluída no edital do concurso.
o Com o emprego de DEIXARAM, o autor dá a entender que os alunos vinham
cursando o Inglês, até a publicação do edital; não está escrito no texto que
estavam cursando, mas pressupõe-se por conta do verbo.
• Advérbios – “João também não fez o que foi solicitado.”
o Com o emprego do advérbio TAMBÉM, o autor da frase afirma que além de
João, outras pessoas não fizeram o solicitado.
• Adjetivos – Os candidatos estudiosos têm grandes possibilidades de aprovação.
o Com o emprego do adjetivo ESTUDIOSOS, o autor pretende dizer há candidatos
estudiosos e candidatos não estudiosos. E mais: que o candidato não estudioso
tem menos possibilidades de aprovação.
• Orações adjetivas – Os funcionários que fizeram greve foram demitidos.
o Com a oração adjetiva QUE FIZERAM GREVE com caráter restritivo, o autor leva
o leitor a pressupor que aqueles que não fizeram greve continuaram
empregados.
14

• Palavras denotativas – Mesmo João fez todos os exercícios.


o Com o emprego da palavra denotativa de inclusão MESMO, pressupõe-se que
todos fizeram os exercícios, inclusive João. Também se depreende que João era
a pessoa com a menor expectativa de que fizesse os exercícios.

SUBENTENDIDOS - A partir de uma informação, pelo menos aparentemente


independente – já que o autor não usa palavra ou expressão evidenciando a intenção–, o leitor
realiza uma leitura das entrelinhas, de elementos que não estão expostos, explícitos, mas que
são lógicos em relação ao contexto. Às vezes, para se observar o subentendido, é necessário
conhecer o contexto (momento político, social e até mesmo pessoal do autor).

Vejamos nos exemplos9 abaixo como se dá o subentendido:

O adolescente é um bicho ético, que detesta a hipocrisia: está procurando, em cada


experiência nova, um fundamento da arte de viver. Para isso, a verdade é essencial. Cada
experiência é decisiva porque ele sabe que em cada escolha está se construindo como
pessoa. Tudo tem que ser falado, dissecado em miúdos.

Subentendido – quando sai da adolescência pode se tornar hipócrita. Os adultos são


mais hipócritas que os adolescentes.

Subentendido – na letra da canção o autor relata


Coloquei uma carta
que colocou uma carta em uma garrafa e embora não
Numa velha garrafa
esteja escrito neste trecho que a garrafa será jogada na
Mais uma carta
água, nosso conhecimento de mundo, nossa
De solidão
Coloquei uma carta interpretação do contexto nos leva a esta compreensão,

Um pedido da alma a este subentendido.


Salvem meu coração
LS JACK. Uma carta. In:
ÁLBUM:V.I.B.E.[s.l.]
gravadora Indie Records.

9
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000014237.pdf
15

Na Lanchonete, Zezinho pede uma média com leite e pão com manteiga. Depois de pagar, ele bebe o
café, sente que não tem açúcar e pergunta:
Zezinho: Tem açúcar?
Garçonete: Tem sim.
Zezinho: Tenho que pagar de novo?
Garçonete: Não
Zezinho: Então me dá 2kg...

Subentendido: a garçonete subentende que o açúcar era para adoçar o café e não um
pacote. Não foi dito pelo Zezinho a quantidade de açúcar, mas no contexto da lanchonete,
entende-se que é uma quantidade suficiente apenas para adoçar o café.
Esquematizando as informações destacadas acima a respeito da inferência, temos:

Explícitos:
interpretação do que
foi realmente escrito no
Inferência: dedução texto Pressuposto: palavras
feita com base nas do texto que remetem
informações ao entendimento
Implícitos: enxergar nas
entrelinhas do texto
Subentendido: não há
palavras que remetam
ao entendimento.
Apenas o contexto.

Ao fim desta unidade, você deve ter compreendido que a leitura é fundamental para
o desenvolvimento do ser humano e, na universidade, será imprescindível para dar conta das
exigências, pois nenhuma formação acadêmica se faz sem leitura e escrita. Observe no
esquema abaixo os principais conceitos relacionados à leitura estudados até aqui:

Mundo

Memória Contexto

LEITURA
Pressuposto Inferência

Subentendido Interação
16

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

TEMA 01

PARTE 02 – TIPOS E TÉCNICAS DE LEITURA


17

3. TIPOS E TÉCNICAS DE LEITURA

Vamos agora estudar a respeito dos tipos de leituras que podemos fazer e das técnicas
que podem tornar as leituras mais eficazes. Não se trata de receita para ler melhor, mas de
processos de estudo bem definidos e detalhados que, se seguidos, podem proporcionar
melhor desempenho na habilidade da leitura.

Para auxiliar neste campo, a obra “A Arte de Ler”, de


Mortimer J. Adler (1974) será de grande subsídio.
Assim como a obra de Molina, “Ler Para Aprender”.

Para Adler10 (1974) O processo de compreender um livro pode ser assim dividido:

• Deve se aproximar dele, primeiro, considerando-o um todo, com uma unidade


e uma estrutura de partes;
• e, segundo, considerando seus elementos, suas unidades de linguagem e
pensamento.

Significa que o livro ou texto trata de um assunto em geral, o todo; mas esse todo é
dividido em partes, capítulos e subtópicos. Além disso, deve-se considerar a linguagem do
texto, a organização e o pensamento veiculado por ele. A leitura que você faz deve considerar
estas questões:

Qual o todo deste texto – o assunto geral?


Como está dividido?
Como se organiza?
A linguagem é simples ou precisa de mais atenção?
Qual o pensamento veiculado pelo autor?
Qual ideia realmente o autor quer passar?

10
ADLER, Mortimer J. A arte de ler: Como adquirir uma educação liberal. Tradução de: Inês Fortes de
Oliveira. Rio de Janeiro: AGIR editora, 1974. Copyright de ARTES GRÁFICAS INDÚSTRIAS REUNIDAS S. A. (AGIR).
18

Adler (1974) lista três leituras distintas para que se obtenha um bom resultado.

A primeira leitura pode ser chamada estrutural


ou analítica. O leitor procede do todo para as
partes.

A segunda leitura pode ser chamada


interpretativa ou sintética. O leitor procede das
partes para o todo.

A terceira leitura pode ser chamada crítica ou


avaliadora. O leitor julga o autor e vê se
concorda ou não com ele.

Para realizar a primeira leitura, ESTRUTURAL OU ANALÍTICA, é preciso saber:

1) que tipo de livro se lê, isto e, qual o assunto dele;

2) o que o livro, como um todo, procura dizer;

3) em quantas partes esse todo se divide e

4) dos problemas principais, quais são os que o autor está procurando resolver.

Para a segunda leitura, INTERPRETATIVA OU SINTÉTICA, os passos são:

1) descobrir e interpretar as palavras importantes do livro;

2) fazer o mesmo para as sentenças importantes e

3) para os parágrafos que exprimem argumentos.

4) saber quais de seus problemas o autor resolveu, e quais deixou sem solução.

Quanto à leitura CRÍTICA OU AVALIADORA, várias observações podem ser feitas –


quatro ao todo.

Antes de criticar ou julgar um autor, tem-se sempre que compreendê-lo. Conheci


muitos “leitores” que fazem, primeiro, a terceira leitura. Pior do que isso, nunca
chegam a fazer as duas primeiras. Pegam o livro e logo começam a mostrar os
defeitos dele. Estilo cheios de opiniões, e o livro é apenas um pretexto para exprimi-
las. Não deviam ser chamados “leitores”. São como muitas pessoas que vocês
conhecem, que acham que conversar é falar e, nunca, ouvir. Essas pessoas não
merecem o esforço que se faz falando com elas, e, muitas vezes, nem merecem ser
ouvidas. (ADLER 1974, p. 106)
19

Verdadeiramente, esta é a leitura mais difícil de ser realizada porque, como leitor,
preciso analisar a obra lida e discutir o assunto a partir de outros conhecimentos já existentes,
bem como fazer algumas críticas.

A respeito do conceito de crítica, precisa-se compreender numa visão mais ampla,


pois, muitos alunos acreditam que criticar é falar mal, é discordar, é procurar defeito. No
campo da ciência, criticar é estabelecer juízos a partir de outros conhecimentos. Você pode
se questionar:

• A respeito deste assunto, em que o autor amplia a discussão?


• Quais elementos novos o autor estabelece para esta teoria, para este tema?
• Quais aspectos o autor não trata?
• Em que se parece com as ideias de outros autores?
• Em que difere de outros autores?
• Comparando com a realidade, como o se aproxima ou se distancia dela?

Muito cuidado para não fazer críticas com base no senso comum, manifestando
meramente sua opinião, sem nenhuma base teórica. Não se emite opinião pura
e simples quando se trata de teoria, de conceito, de informação científica. Por
isso, você dizer que concorda ou discorda porque você “acha”, não é o
suficiente para fazer uma crítica da leitura.

Para melhor compreensão do processo de leitura estabelecido por Adler (1974, p. 209-
210), far-se-á uma análise de texto para servir de exemplo para você construir suas próprias
análises.

Vamos tomar como base uma notícia veiculada pela Isto É (https://istoe.com.br/) em
31/01/19 - 11h02 que trata sobre o estudo de pessoas com necessidades especiais.
20

Cresce o número de estudantes com necessidades especiais


Nos últimos cinco anos, de 2014 a 2018, o número de matrículas de estudantes com necessidades
especiais cresceu 33,2% em todo o país, segundo dados do Censo Escolar divulgados hoje (31) pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). No mesmo período,
também aumentou de 87,1% para 92,1% o percentual daqueles que estão incluídos em classes comuns.
Em 2014, eram 886.815 os alunos com deficiência, altas habilidades e transtornos globais do
desenvolvimento matriculados nas escolas brasileiras. Esse número tem aumentado ano a ano. Em
2018, chegou a cerca de 1,2 milhão. Entre 2017 e 2018, houve aumento de aproximadamente 10,8% nas
matrículas.
De acordo com dados do CENSO, na rede pública está o maior índice dos estudantes em classes
comuns. Nas escolas, 97,3% dos alunos com necessidades educacionais especiais estavam nessas classes
em 2018. Na rede particular, o percentual foi 51,8%.
Por lei, pelo Plano Nacional de Educação (PNE), o Brasil deve incluir todos os estudantes de 4 a 17
anos na escola. Os estudantes com necessidades especiais devem ser matriculados preferencialmente
em classes comuns. Para isso, o Brasil deve garantir todo o sistema educacional inclusivo, salas de
recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados.
Segundo os dados do Censo, 38,6% das escolas públicas de ensino fundamental e 55,6% das privadas
têm banheiros para pessoas com necessidades especiais. Além disso, também no ensino fundamental,
28% das escolas públicas e 44,7% das particulares têm dependências adequadas para pessoas com
necessidades especiais.
No ensino médio, 60% das escolas públicas e 68,7% das escolas particulares dispõem de banheiro
especial e 44,3% das públicas e 52,7% das privadas têm dependências adequadas.

3.1 ANÁLISE E ESTRUTURA DE UM LIVRO/TEXTO

Classificá-lo de acordo com seu tipo e seu assunto.

Expor, com a máxima brevidade, sua constituição.

Enumerar as partes principais em sua ordem e relação, e analisá-las como se analisou o


todo.

Definir o problema ou problema; que o autor está procurando resolver

Veja abaixo um exemplo de análise da estrutura:

Tipo e assunto: o texto é uma notícia de jornal. Seu assunto é a inclusão de pessoas
com necessidades especiais na escola

Constituição: dividido em 6 parágrafos com informações e muitos dados estatísticos.

Enumeração das partes:

• Apresenta o aumento de pessoas com necessidades nas escolas;


• Retrospectiva – de 2014 a 2018
21

• Censo
• Lei - Plano Nacional de Educação (PNE)
• Censo
• Diferença escola pública e escola particular

Problema: a inserção de pessoas com necessidades especiais nas escolas brasileiras

Vejamos agora como proceder para fazer a


interpretação do conteúdo do livro ou do texto
estudado:

3.2 INTERPRETAÇÃO DO CONTEÚDO DE UM LIVRO

Compreender as proposições principais do autor, estudando suas sentenças mais


importantes.

Conhecer os argumentos do autor, descobrindo-os na série de sentenças ou construindo-


os fora delas.

Indicar que problemas o autor resolveu e que problemas não resolveu; e, quanto aos
últimos, ver se o autor reconheceu seu fracasso.

Proposições principais:

• De 2014 a 2018, o número de matrículas de estudantes com necessidades especiais


cresceu 33,2% em todo o país;
• Entre 2017 e 2018, houve aumento de aproximadamente 10,8% nas matrículas;
• Plano Nacional de Educação (PNE): o Brasil deve incluir todos os estudantes de 4 a
17 anos na escola, preferencialmente em classes comuns.
• Todo o sistema educacional inclusivo: salas de recursos multifuncionais, classes,
escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados.
• Segundo os dados do Censo, metade das escolas públicas e particulares têm
estrutura para receber alunos com necessidades especiais

Argumentos do autor:

• O argumento principal do autor está nos dados estatísticos do Censo e de outras


pesquisas
22

Problemas que o autor resolveu e não resolveu

• O autor claramente aponta o crescimento das matrículas dos alunos com


necessidades especiais. Destaca de forma satisfatória o crescente número de alunos
nesta condição nas escolas brasileiras. De forma superficial trata a respeito das
condições das escolas para receber estes alunos, mas não enfatiza o descaso com
muitos prédios escolares que sequer têm rampa para cadeirantes. Além disso, o
autor não trata da formação dos professores para atender à necessidade deste
público.

3.3 CRÍTICA DE UM LIVRO COMO TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTOS

Antes de iniciar esta etapa de leitura, atente para as Máximas Gerais propostas pelo
autor:

1. Não começar a crítica antes de completar a análise e a interpretação. (Não digam que
concordam, discordam ou deixam de julgar, antes de poderem dizer “Compreendo”.)

2. Não discordar, como se se estivesse brigando ou disputando.

3. Respeitar a diferença entre o conhecimento e a opinião, apresentando os motivos de


qualquer julgamento crítico que se fizer

Critérios Específicos de Observação Crítica

Mostrar em que o autor não está informado.

Mostrar em que o autor está mal informado.

Mostrar em que o autor é ilógico.

Mostrar em que a análise ou concepção do autor é incompleta.

Autor não está informado:

• Qual a estrutura necessária para receber alunos com necessidades especiais;


• Formação adequada de professores para esta necessidade dos alunos;
• Recursos pedagógicos;
23

Autor mal informado:

• Acredita que apenas banheiros adequados é o suficiente para inserir um aluno com
necessidade especial na escola

Autor ilógico:

• Nos dados estatísticos percebe que apenas metade das escolas atendem às
necessidades dos alunos com necessidades especiais em relação ao banheiro, mas
não faz nenhuma referência para mostrar a ineficiência das escolas neste campo.

Análise incompleta:

• Não demonstra a realidade das escolas brasileiras, pois em grande parte não têm
condições estruturais para receber surdos, cegos, autistas e demais necessidades
especiais. Mostrando apenas os dados de matrícula aparenta dizer que estas
crianças estão verdadeiramente tendo acesso à educação, mas resta saber se
completam o ano escolar e o que aprendem durante o ano.

FAULSTICH11 (2002) também estabelece tipos de leitura pra os textos técnicos. Ele
divide em 2 tipos de leitura, a INFORMATIVA e a INTERPRETATIVA, como demonstrado
abaixo:

LEITURA SELETIVA
Identificar dentro de cada parágrafo a palavra-
chave da ideia central e as palavras-chave das
ideias secundárias.
LEITURA
INFORMATIVA Selecionar na sequência esse conjunto de
LEITURA palavras que formarão o resumo do texto
TÉCNICA
LEITURA CRÍTICA
Leitura abrangente do assunto
Reconhecer a hierarquia das ideias
Verificar como o texto está organizado, dividido

11
FAULSTICH, Enilde L. de J. Como ler, entender e redigir um texto. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
24

COMPREENSÃO
Entender a mensagem literal defendida pelo
autor. entender o ponto de vista, a tese
ANÁLISE
Desdobrar o texto em partes percebendo a
relação das partes com o todo
LEITURA
INTERPRETATIVA SÍNTESE
LEITURA Retirar de cada parágrafo as ideias centrais e
TÉCNICA ordenar as ideias principais
AVALIAÇÃO
Julgar, criticar as relações lógicas evidenciadas no
texto e sua aplicação científica

APLICAÇÃO
Associar assuntos paralelos. Utilizar o assunto
aprendido no texto em outros textos. projeção de
novas ideias a partir do conhecimento adquirido

É importante destacar que FAULSTICH (2002) segue as capacidades cognitivas


estabelecidas por Benjamin Bloom12 et alii adaptadas para o processo de leitura
interpretativa. Como pode ser observado, a leitura não é uma tarefa simples como muitos
acreditam ser. Ela requer tempo e cuidado para que não seja superficial e sem significado.

Compreender a leitura como um processo é fundamental para o seu sucesso. Se você


pensar em leitura como pegar o texto, ler de qualquer jeito e finalizar, possivelmente serão
perdidas muitas informações. Por isso, essa ideia de processo: primeira leitura para conhecer
o texto e fazer um rápido mapeamento; segunda leitura para apreender a essência do texto,
a ideia defendida pelo autor e só então pode-se fazer críticas ao texto, relacionar o texto com
outros textos.

Também é bom lembrar que um livro, um texto, um artigo podem ser relacionados a
outros tipos de informação: documentários, filmes, séries, novelas, desenhos animados,
músicas, quadros. Lembre-se de que todo o conhecimento de mundo deve ser acionado
quando se faz uma leitura porque só assim é possível estabelecer relações, comparar, criticar.

Neste capítulo, foram apresentados dois modelos de técnicas de leitura, de processo


de leitura: a primeira, de Adler (1974), com 3 etapas bem detalhadas e que podem servir para
leituras mais exigentes; a segunda, de Faulstich (2002) apresenta 2 etapas que servirão para
leituras mais rápidas.

12
BLOOM. S. B. et. alii. Taxionomia dos objetos educacionais. Porto Alegre, Globo, 1973.
25

Ao final desta unidade, o que você precisa ter compreendido é que a leitura é parte do
processo de formação universitária. Não há formação, não há conhecimento sem leitura, por
isso, se você quer investir em uma formação acadêmica séria, consistente, de sucesso, leia
todos os textos, todos os livros indicados e solicitados pelo professor. Leia com cuidado, com
calma, com paciência. Mesmo que no começo, pareça uma tarefa chata e enfadonha, não
desista. Cada vez que você lê um texto completo, mais fácil fica a leitura do próximo e assim,
você constrói o gosto pela leitura.

FORMAÇÃO EXCELENTE

Apesar de ser um assunto tratado pela disciplina de Metodologia do Estudo, tratar-se-


á de algumas técnicas utilizadas na universidade durante o processo de leitura ou mesmo após
a leitura. As informações são de MEDEIROS13, 2011 e são úteis para cumprir as principais
atividades de leitura na universidade.

Durante o estudo, em especial um estudo independente em que está apenas você e o


texto, você precisa:

a) Anotar;

b) Esquematizar o texto;

c) Transformar o texto em roteiro;

d) Realizar resumos.

3.4 ANOTAÇÃO

Este é um ponto de partida para qualquer estudante, seja diante de uma aula
expositiva, uma palestra ou um livro. Realizar anotações ajuda a compreender melhor o que
está sendo lido e depois serve como ponto de partida para outras atividades. Medeiros, (2011,
p. 8) considera a anotação como “[...] processo de seleção de informações para posterior
aproveitamento”

13
MEDEIROS, João Bosco. Como tornar o estudo e a aprendizagem mais eficazes. In: Redação científica:
a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2011. cap. 1, p. 5-27
26

Antes de iniciar as anotações é preciso definir onde elas serão feitas e isso depende de
você, enquanto estudante e do propósito da leitura. Você pode anotar no próprio livro/texto,
em um caderno, em um bloco de anotações ou mesmo no computador ou tablet. Caso você
esteja lendo vários livros, é bom registrar a fonte de onde as anotações foram extraídas.

Ex.: MEDEIROS, João Bosco. Como tornar o estudo e a aprendizagem mais eficazes. In:
______. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 11. ed. São Paulo:
Atlas, 2011. cap. 1, p. 5-18.

Medeiros, 2011 classifica as anotações em:

a) Anotações corridas:
• Realizar a leitura total do texto, sem interrupção;
• Reler o texto, levando em consideração as palavras desconhecidas; localizando-
as no dicionário – anotar o mais próximo possível;
• Buscar em enciclopédias e almanaques, informações relevantes para a
compreensão do texto, sejam elas: históricas, geográficas entre outras;
• Só destacar os trechos e as palavras-chave após ter compreendido o texto;
• Realizar a redação da anotação corrida e submetê-la a uma avaliação própria;
havendo a necessidade de correções, refazer a redação.
b) Anotações esquemáticas: “Ordenam hierarquicamente as partes principais do conteúdo
de uma comunicação” (MEDEIROS, 2011, p. 8).
• Deve ser realizada após o estudo do texto e as anotações corridas.
• Pode ser apresentado como: 1) esquema vertical das ideias do autor; ou 2) por
chaves ou diagramas.
• Há diversos tipos de esquemas, dentre eles o mapa-conceitual, os
organogramas;

c) Anotações resumidas: “[...] proporciona melhores resultados para a leitura, bem como para
a própria redação. [...] só consegue fazer um bom resumo quem realmente assimilou as
ideias principais do texto” (MEDEIROS, 2011, p. 13).

• Apresenta a síntese de informações extraídas de livros, artigos e exposições


orais.
27

• O resumo consiste na condensação de um texto, apresentando as ideias


principais, respeitando a estrutura e a inter-relação das ideias.
• Deve ser feito em parágrafos mantendo as ideias do texto, mas com a escrita
do aluno; resumo não é cópia de partes do texto, é uma síntese das principais
ideias, reescrita pelo aluno.

MEDEIROS (2011) chama atenção para dois fatores importantes:

A técnica de SUBLINHAR, tão comum no ato de ler, porém mal utilizada pelos alunos,
pois tendem a sublinhar indistintamente, sem considerar o que de fato importa. O autor indica
que não deve ser feito na primeira leitura e deve-se sublinhar apenas as ideias principais, as
palavras-chave.

Também solicita atenção especial para o VOCABULÁRIO, pois “[...] quem pouco lê tem
vocabulário reduzido” (MEDEIROS, 2011, p. 16). A leitura se torna incompreensível, portanto,
ineficaz, se não há domínio do vocabulário. Recomenda-se buscar no dicionário toda palavra
desconhecida que aparece no texto ou tentar descobrir o sentido da palavra no contexto.
28

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

TEMA 02

PARTE 01 – INTERPRETAÇÃO: DA PALAVRA À COMUNICAÇÃO


29

4. INTERPRETAÇÃO: DA PALAVRA À COMUNICAÇÃO

Parece simples afirmar que a interpretação de um texto está diretamente ligada às


palavras do texto e só elas são importantes. Já vimos na unidade que trata da leitura a sua
ampla concepção, envolvendo o conhecimento de mundo. Todo o aprendizado sobre a leitura
é importante para esta etapa em que trataremos da interpretação textual. É preciso ter em
mente que interpretar um texto é um processo complexo, envolve diversos campos do
conhecimento, desde o sentido das palavras, passando pelo gênero e pelo processo de
comunicação.

Primeiramente, vamos tratar do sentido que as palavras apresentam dentro do texto,


pois assim teremos condição de focar nossa atenção e direcionar a interpretação do texto
para o sentido que as palavras ganham naquele texto.

Relativo à palavra, temos dois sentidos, que são: denotação e conotação. Estes
mecanismos devem servir para que o leitor atente melhor para o que foi escrito/dito e, assim,
interpretar mais facilmente o que foi comunicado. O sentido do texto nem sempre está no
sentido real da palavra, ou seja, no sentido literal, por isso, o produto do texto vela significados
para desvelá-los (...). Para que o leitor entenda os textos, é preciso perceber a relação entre o
que se diz e o que se quer dizer (PLATÃO E FIORIN14, 2006, p. 328).

Dependendo de qual sentido as palavras expressam na oração, seu sentido pode ser
alterado e ter significado fora do usual. Por isso, é importante conhecermos estes dois
sentidos. Vejamos:

SENTIDO DENOTATIVO
É o literal, comum; aquele que exprime a significação usual da palavra

Ex: Eu acredito em anjo, por isso peço proteção a eles.

Neste exemplo, a palavra anjo significa: no cristianismo, no judaísmo e no islamismo,


ser puramente espiritual, servidor de Deus e mensageiro entre Ele e os homens.

Podemos observar que o sentido desta palavra é o usual, o literal, logo, podemos
afirmar que ela está no sentido denotativo.

14
SAVIOLI, F. Platão & FIORIN, J. Luiz. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2006, p. 328.
30

Se utilizarmos anjo em outro contexto:

Ex: Aquele menino sempre foi um anjo

Vamos observar que o sentido da palavra é figurativo, é uma forma de dizer que o
menino é bom, não está empregada de modo literal. Assim, temos:

SENTIDO CONOTATIVO
Figurado: depende de um contexto particular.

De modo sintético, podemos dizer que:

Denotação Sentido real


Palavra
Conotação Sentido figurado

Vamos compreender o conceito aplicado a alguns exemplos:

É preciso ter cuidado com as palavras. Elas são verdadeiras armas. Algumas vezes mortais. Certas pessoas
têm o dom de dizer as mais afiadas, que entram feito uma flecha envenenada. Porém, em muitos casos, o
atingido é aquele que usou a arma, ou seja, o falador. Esse, por exemplo, pode sofrer horríveis
arrependimentos por ter dito o que não deveria ter dito. Mas como não dizer aquilo que pensamos? Há
maneiras de dizer sem dizer, e de dizer, desdizendo. (Ana Miranda. O oráculo insondável. In: Correio
Braziliense, Caderno C, p. 10, 2/4/2006 (com adaptações).

Veja a relação feita pela autora do texto. Ele associa a palavra “palavra” a “armas”,
afiadas, flecha. Temos aqui o sentido conotativo, pois as palavras não são armas de verdade,
a autora está utilizando o sentido figurado. Neste caso, o trabalho do leitor para interpretar o
texto é maior, pois ele precisa compreender o sentido que estas palavras querem dar ao texto.
No caso do texto em questão, quando afirma que as palavras são armas, ela quer dizer que
podem machucar, ofender, causar danos; quando se refere a flechas, quer enfatizar o quanto
uma palavra pode adentrar a mente da pessoa e ficar por muito tempo. Portanto, a associação
de palavras a armas simboliza o perigo. Como afirma Affonso Romano De Sant'anna:
31

Há vários modos de matar um homem:


com o tiro, a fome, a espada
ou com a palavra -envenenada. Não é preciso força.
Basta que a boca solte
a frase engatilhada
e o outro morre - na sintaxe da emboscada.

Diariamente utilizamos expressões que são conotativas e precisam ser traduzidas para
obtermos o sentido que verdadeiramente querem dar. Em outros casos, as palavras estão no
seu sentido literal:

A menina passou o dia de cara amarrada.


A sacola foi amarrada para maior segurança
O temporal varreu as ruas assustadoramente.
A vizinha varreu a rua
Ele ficou no fundo do poço por causa das drogas
O homem desceu até o fundo do poço para colocar o equipamento

Observe algumas expressões idiomáticas conotativas que utilizamos no dia a dia:

Olha o passarinho!

Na metade do século 19, os fotógrafos tinham de permanecer parados por até 15


minutos, a fim de que sua imagem fosse impressa dentro da máquina. Fazer as crianças
ficarem imóveis por tanto tempo era um verdadeiro desafio. Por isso, gaiolas com pássaros
ficavam penduradas atrás dos fotógrafos, o que chamava a atenção dos pequenos. Assim, a
expressão “Olha o passarinho” ficou conhecida como a frase dita pelo fotógrafo na hora da
pose para a foto.

Motorista barbeiro

Antigamente, os barbeiros eram conhecidos não apenas por realizar o corte de cabelo
e barba, mas também por desempenhar tarefas como: extração de dentes, remoção de calos
e unhas, entre outros. Geralmente, os serviços extras deixavam consequências desagradáveis
aos clientes. No século 15, o termo “barbeiro” era atribuído a atividades mal executadas. Com
o tempo, passou a ser relacionado aos motoristas. Daí a expressão “motorista barbeiro”, ou
seja, mau motorista.
32

Bafo de onça

A onça é um animal carnívoro que se lambuza bastante na hora de comer a caça. Por
esta razão, fede muito e sua presença é detectada a distância, na mata. Assim, pessoas que
possuem o hálito fétido passaram a ser chamadas de “bafo de onça”. A expressão também faz
referência ao hálito de quem está (ou esteve) alcoolizado.

Santinha do pau oco

Expressão que se refere à pessoa que se faz de boazinha, mas não é. Nos séculos 18 e
19, os contrabandistas de ouro em pó, moedas e pedras preciosas utilizavam estátuas de
santos ocas por dentro. O santo era “recheado” com preciosidades roubadas e enviado para
Portugal.

Disponível em: http://www.soportugues.com.br/secoes/proverbios/index.php.

Outro aspecto fundamental na interpretação do texto é saber como a


comunicação/oral ou escrita está sendo produzida, qual é o centro dela. Para isso, precisamos
estudar o processo da comunicação, como afinal acontece esse processo tão comum entre os
seres humanos?
Vamos estudar agora a teoria da comunicação a partir da perspectiva de um grande
estudioso desta questão Roman Jakobson15 (2007). Este estudioso estabeleceu alguns
elementos importantes quando acontece ou para que aconteça a comunicação. Nas palavras
do autor:

Analisemos os fatores fundamentais da comunicação linguística: qualquer ato de fala


envolve uma mensagem e quatro elementos que lhe são conexos: o emissor, o
receptor, o tema (topic) da mensagem e o código utilizado. A relação entre esses
quatro elementos é variável (JAKOBSON, 2007, p. 19).

Esses elementos podem aparecer sozinhos ou em conjunto em um texto e constituem


uma hierarquia entre elas, por isso é importante saber qual é o verdadeiro eixo da
comunicação, qual a função primária e quais as funções secundárias, qual é a intenção do
escritor, para qual elemento verdadeiramente a comunicação se volta.

15
JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. Tradução de Izidoro Blikstein e José Paulo Paes. São
Paulo: Editora Cultrix, 2007.
33

Na poesia acima temos a 1ª. Pessoa e a 2ª. Pessoa, mas o predomínio é da 1ª. Pessoa,
pois é o EU que direciona o texto, é, portanto predominantemente emotivo, embora tenha
trecho conativo.

Importante também destacar que “o problema essencial para a análise do discurso é


o do código comum ao emissor e ao receptor e subjacente à troca de mensagens” (JAKOBSON,
2007, p. 21). Como veremos mais adiante, o código verbal é a língua portuguesa e deve ser
comum tanto para o emissor quanto para o receptor, sem isso, não há comunicação entre
ambos.

Vejamos como Jakobson (2007, p. 122) estruturou a teoria:

O REMETENTE envia uma MENSAGEM ao DESTINATÁRIO. Para ser eficaz, a


mensagem requer um CONTEXTO a que se refere (Ou "referente", em outra
nomenclatura algo ambígua), apreensível pelo destinatário, e que seja verbal ou
suscetível de verbalização; um CÓDIGO total ou parcialmente comum ao remetente
e ao destinatário (ou, em outras palavras, ao codificador e ao decodificador da
mensagem); e, finalmente, um CONTACTO, um canal físico e uma conexão
psicológica entre o remetente e o destinatário, que os capacite a ambos a entrarem
e permanecerem em comunicação.

Todos estes fatores da comunicação verbal foram esquematizados pelo autor como:

CONTEXTO

REMETENTE MENSAGEM DESTINATÁRIO

-------------------------------------------------------

CONTACTO - CANAL

CÓDIGO
34

Vamos analisar melhor cada um destes elementos propostos por Jakobson (2007):

REMETENTE: também considerado EMISSOR – o que manda,


envia, fala, escreve uma mensagem. Está centrada no EU –
primeira pessoa singular.

DESTINATÁRIO: também denominado RECEPTOR – o que


recebe a mensagem. Está centrado no TU/VOCÊ – 2ª. Pessoa;
COMUNICAÇÃO
ELEMENTOS DA

CONTEXTO: também conhecido como REFERENTE - é a


informação, o conteúdo, o assunto a ser tratado;

CÓDIGO: símbolo utilizado para a realização da comunicação.


Se for verbal é a língua falada; se for não verbal é o gesto, o
som, as cores etc.;

CONTACTO: também denominado de CANAL – é o veículo/meio


por onde passa ou se fixa o código;

MENSAGEM: significado da comunicação, entendimento.

Vejamos como esse processo de comunicação se dá, analisando algumas situações


concretas:

1) Situação de escrita:

Quando escrevemos, temos a intenção que alguém leia o conteúdo e o entenda. A


pessoa que escreve é o emissor. A pessoa que lê é o receptor. O meio, o veículo no qual vamos
fixar as palavras, pode ser papel, computador, celular, muro, camisa é o canal. O assunto, os
fatos, o raciocínio que o emissor expõe é denominado referente ou contexto. A língua que o
emissor utiliza é o código. E o entendimento é a mensagem.

2) Jornal da TV:

O apresentador do jornal é o emissor. Quem assiste ao jornal é o receptor. Imagine


que ele está noticiando um campeonato de futebol, este é referente ou contexto, ou seja, é
o assunto que ele está tratando. Sua voz e todos os aparatos tecnológicos da TV são o canal,
são o veículo por onde passa a comunicação. Ele usa principalmente a língua portuguesa, que
é o código. A compreensão do tema é a mensagem.
35

3) Um telefonema:

A pessoa que liga é o emissor, quem atende é o receptor. O assunto tratado é o


referente ou contexto. A voz e o telefone são o veículo por onde o código passa, é o canal. A
língua portuguesa é o código. O entendimento do assunto é a mensagem.

Uma mensagem no muro:

Fonte: tumblr.com

A pessoa que escreveu a mensagem no muro é o emissor, todos os que lerem a


informação, serão receptores. O assunto tratado é o referente ou contexto. O canal, ou seja,
o veículo onde está fixado o código é o muro. A língua portuguesa escrita é o código. O
entendimento é a mensagem.

Uma camisa:

Fonte: https://www.mitoucamisetas.com.br/

A pessoa que vai usar a camisa é o emissor, todos os que lerem a informação, serão
receptores. O assunto tratado é o referente ou contexto. O canal, ou seja, o veículo onde
está fixado o código é a camisa. A língua portuguesa escrita é o código. O entendimento é a
mensagem.
36

SINTETIZANDO: Quando a comunicação


acontece temos: O
emissor transmite uma
mensagem ao receptor
através de um canal
tratando de um
contexto ou referente
utilizando um código
comum.

Assim, para que a comunicação possa acontecer de forma satisfatória, todos estes
elementos devem ser considerados, sob pena de termos um ruído na comunicação:

Ruído: É tudo o que dificulta a comunicação, interfere a transmissão e perturba a recepção ou compreensão
da mensagem; tudo o que possibilita a perda de informação durante o transporte da mensagem entre o
emissor e o receptor.

Após compreender este assunto, vamos ampliar nosso estudo para as funções da
linguagem, tema que está diretamente ligado aos seis elementos da comunicação já
estudados.

É importante que você tenha compreendido todos os seis elementos da comunicação


para que possa compreender com facilidade o que vamos estudar agora.

Cada função da linguagem está relacionada a um elemento de comunicação. Assim:

Se a informação se volta para o emissor – FUNÇÃO EMOTIVA


Se a informação se volta para o receptor – FUNÇÃO CONATIVA
Se a informação se volta para o canal – FUNÇÃO FÁTICA
Se a informação se volta para o código – FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
Se a informação se volta para o contexto – FUNÇÃO REFERENCIAL
Se a informação se volta para a mensagem – FUNÇÃO POÉTICA
37

Cada um desses seis fatores determina uma diferente função da linguagem. Embora
tenhamos seis funções da linguagem, dificilmente encontraríamos mensagens verbais que
estivessem voltados apenas para uma única função.

Jakobson (2007, p. 123-126) determina as funções como forma de compreender em


que elemento da comunicação a informação está centrada, tendo em vista que se o objetivo
da comunicação for o emissor, o centro da comunicação é ele, ou seja, o assunto a ser tratado
é o próprio emissor. Se sabemos desta informação, certamente temos mais facilidade para
compreender o texto em questão.

Detalhando cada uma delas, temos:

➢ Função EMOTIVA ou "expressiva", centrada no REMETENTE/EMISSOR, “visa a uma


expressão direta da atitude de quem fala em relação àquilo de que está falando. Tende a
suscitar a impressão de uma certa emoção, verdadeira ou simulada”. Nesta função, o tema é
tratado em 1ª. Pessoa singular, são as opiniões, os sentimentos do emissor.

Obs: só poderá ser função emotiva se a comunicação for feita em 1ª. Pessoa. Caso
contrário, será outra função.

Ex: Vejamos o exemplo abaixo:

A PRIMEIRA NOITE DE LIBERDADE


Cristovão Tezza
Fui levado pela velha até o sótão; o excesso de gentileza era a evidência de que me enganavam.
Docilmente me deixei levar; mãos nas minhas costas, ela me conduzia balbuciando consolos. Não ousei fazer
perguntas. De qualquer modo, me responderiam com mentiras.

Observe no exemplo que o texto está em 1ª. Pessoa singular, sabemos disso pelos
pronomes e pelos verbos, como destacados. O objetivo desta comunicação é tratar do sujeito
que fala, que escreve para contar sobre si mesmo. Temos aqui a comunicação centrada no
emissor.

➢ Função CONATIVA, centrada no receptor. Esta função age diretamente sobre o


receptor de modo a fazer com que ele execute a solicitação, a ordem, o pedido do emissor.
São comunicações que partem do emissor com a intenção de que sejam executadas pelo
receptor. É a função feita em 2ª. Pessoa – TU/VOCÊ; é a função do verbo no imperativo, os
verbos de ordem; também pode ser feita em forma de pedido ou solicitação.
38

Obs: deverá vir em 2ª. Pessoa, mesmo que oculta ou com verbos no imperativo.

Ex:

Use camisinha! (ordem)

Beba Coca-Cola! (ordem)

Diga não às drogas! (ordem)

Se dirigir, não beba! (ordem)

“Se você procura o melhor imóvel, vá logo ao endereço certo” (uso da 2ª. Pessoa você)
(Folha de São Paulo)

Por favor, dê-me o caderno de anotações! (pedido)

➢ Função FÁTICA, vão aparecer em mensagens que servem basicamente para prolongar
ou interromper a comunicação, para verificar se o canal funciona ("Alô, está me ouvindo?"),
para atrair a atenção do interlocutor ou confirmar sua atenção continuada (pois, é; huhum;
é...; então; isso, isso...; hummm)

Obs: diz-se que a função fática não favorece uma comunicação. Seu objetivo maior é
manter uma conversa ou checar se o canal está funcionando e pode ser utilizado, é o caso do
alô, para checar se o telefone – canal desta comunicação – está funcionando; caso também
de quando checamos aparelhagem de som: “alô, som, testando, 1,2,3”.

➢ Função METALINGUÍSTICA, voltada para o código. No caso, se a linguagem for verbal,


o código dos brasileiros é a língua portuguesa. Assim, toda comunicação feita para tratar do
código está na função metalinguística. Dizemos que seria o código – língua portuguesa que
tem como assunto o próprio código – a língua portuguesa. Ex: o dicionário usa a língua verbal
escrita – língua portuguesa para tratar do significado das palavras da língua portuguesa.
Observe que temos um material em língua portuguesa que vai tratar da língua portuguesa, é,
portanto, função metalinguística.

Obs: uma forma de reconhecer a função metalinguística é fazer duas perguntas:

Em que língua está escrita? Ou qual a forma de composição

Qual o assunto?
39

Se a resposta para as duas for: “a língua portuguesa, teremos função


metalinguística.

Vamos a alguns exemplos:

a) A gramática é metalinguística –

Em qual língua está escrita? Língua portuguesa

Qual o assunto? Normas e regras da Língua portuguesa

Temos então, o código para tratar do código

b) Um manual de redação –

Qual a forma de composição? redação

Qual o assunto? Normas e regras da produção de redação

Temos então, o código para tratar do código, ou seja, temos um material escrito em
língua portuguesa, utilizando redação para tratar do assunto redação.

Uma poesia cujo assunto é a poesia:

Qual a forma de composição? poesia

Qual o assunto? poesia

Temos então, o código para tratar do código, ou seja, a poesia foi feita para tratar dela
mesma.

E se o assunto da poesia fosse o amor, ainda seria metalinguística?

Não, porque o código não estaria tratado dele mesmo, estaria tratando de outro
assunto.
Observe:
“Gastei uma hora pensando no verso
Que a pena não quer escrever
(...) mas a poesia deste momento
Inunda minha vida inteira”
(Carlos Drummond de Andrade)

Temos função poética por conta da estrutura em verso, mas se perguntarmos, qual a
forma de composição? A resposta é: em verso; qual o assunto? A escrita de um verso. Temos
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função metalinguística porque o código se volta para o código. Também podemos afirmar que
há função emotiva no 1º. e 4º. Versos por conta da 1ª. Pessoa do singular – eu.

Importante destacar que também temos função metalinguística na linguagem não


verbal ou mista, como podemos observar abaixo:

Neste caso, a palavra jornalismo carrega os símbolos do jornalismo. Utilizou-se a


palavra para representar os elementos relacionados à palavra. Podemos dizer que o código
(palavra) está sendo utilizado para tratar do próprio código (elementos da profissão).

➢ Função REFERENCIAL, está centrada na informação, o fato, o assunto. O objetivo desta


função é tratar especificamente do assunto sem interferência do emissor e sem apelo ao
receptor. Há uma pretensa busca pela imparcialidade. É feita em 3ª. Pessoa singular/plural ou
mesmo na 1ª. Pessoa do plural. Esta é a função dos textos acadêmicos, de toda comunicação
científica.

Obs: Atente para não confundir, a função emotiva está ligada à 1ª. pessoa do singular.
A função referencial aceita a 1ª. pessoa do plural. Quando a comunicação é feita com vistas a
tratar do assunto, sem utilizar a 1ª. Pessoa singular ou a 2ª. Pessoa. Assim, se o tema é
“trabalho infantil”, deve-se tratar especificamente do assunto sem dar opinião pessoalizada –
eu acho, eu penso, eu acredito ou fazer apelo ao receptor – você deve ter cuidado. O exemplo
abaixo demonstra como o assunto é tratado de modo isento de opinião e apelos
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Quando os favores acabam, começa a ingratidão


Por Delmo Menezes - 5 de agosto de 2016
Ingratidão é uma forma de fraqueza. “A ingratidão é o mais horrendo de todos os pecados”, já dizia
Alexandre Herculano. Ser ingrato tem a ver com o ser humanista, porque o humanista atribui suas vitórias a
ele mesmo, e não a um ser supremo. Johann Goethe diz: “Jamais conheci homem de valor que fosse ingrato”.
O ingrato não reconhece que sem ajuda, não chegaria a lugar nenhum. Esquece com muita facilidade as
coisas boas que lhe fizeram. Vive no “seu mundo”, busca apenas os seus próprios interesses. É um tipo de
pessoa que se torna cega para o amor (e doação) de quem está ao lado. O pior erro de um ingrato, é afastar
as pessoas que mais se importam com ele. As pessoas esquecem que um dia podem precisar de você
novamente.
A ingratidão é falta de bom senso, de visão, de sabedoria e de humildade. O ingrato não vê o que os outros
veem e nem sentem o que os outros sentem, não por que não querem ou não desejam, mas por incapacidade,
por fraqueza moral e ausência de amor. Há na cabeça do ingrato, um vazio de amor ao próximo, que se
manifesta não eventualmente, mas permanentemente. [...]

➢ Função POÉTICA, quando a mensagem é centro da informação. Embora ela esteja


voltada para a mensagem, esta função tem características muito particulares, quais sejam:
estrutura em forma de verso, estrofes, e pode ter linguagem figurada.

Obs: pode-se dizer que toda comunicação estruturada em forma de versos – em linhas
– está na função poética, independente de outras características que possa ter.

Importante considerar as duas formas de composição: prosa e verso

Prosa – toda comunicação feita em parágrafos;


Verso – toda comunicação feita em linhas.

Exemplo:

Minha terra tem palmeiras (1ª. Linha – 1º. Verso)


Onde canta o sabiá (2ª. Linha – 2º. Verso)
As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá [...]
Não permita Deus que eu morra sem que eu volte para lá
Sem que desfrute os primores que não encontro por cá. [...]

Podemos considerar que a função é poética por conta da estrutura em versos. Também
podemos considerar que no 1º., 4º. e 5º. versos temos também função emotiva por conta da
1ª. Pessoa do singular – eu.
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Observe outro exemplo:

“Só uma coisa me entristece


O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que eu não causei”
(Abel Silva)
Neste exemplo, temos uma letra de música que é também função poética por causa
da estrutura em verso, mas também é emotiva por conta da 1ª. Pessoa singular em todos os
versos.

Vejamos o esquema dos fatores fundamentais com um esquema correspondente das


funções:

REFERENCIAL
EMOTIVA POÉTICA CONATIVA
FÁTICA
METALINGUÍSTICA
Fonte: Jakobson (2007)

FUNÇÕES DA LINGUAGEM

EMOTIVA CONATIVA FÁTICA REFERENCIAL METALINGUÍSTICA POÉTICA

Centrada no Centrada no Feita para Voltada O código é atenta para a


emissor receptor checar o para o utilizado mensagem.
EU TU_VOCÊ canal assunto para tratar Estrura em
do próprio versos
código

Dificilmente encontramos mensagens em que haja apenas uma dessas funções.


Normalmente elas se organizam em nossa vida de modo que nós a utilizamos de acordo com
nossas necessidades. Em um mesmo texto temos, em alguns casos, mais de uma função, por
isso, nas questões de prova, devemos atentar para o que predomina, o que se apresenta de
forma mais intensa.
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LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

TEMA 02

PARTE 02 – COMPREENSÃO DO TEXTO: TIPOS TEXTUAIS E


ORGANIZAÇÃO
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5. TIPOLOGIA TEXTUAL

Tratar do tipo textual enquanto elemento de interpretação textual é considerar que,


se você reconhece a tipologia textual, mais fácil é a sua compreensão dele, isto porque cada
texto atende a uma estrutura diferente e a uma finalidade própria. Assim, quando você se
depara com um texto descritivo e o conhece, pode antecipar algumas considerações, antes
mesmo de conhecer o conteúdo tratado nele. Por exemplo, sabe que se trata de
caracterização, de especificação, de detalhamento, pois os textos descritivos têm esta função.

O que vamos estudar neste tópico são as tipologias textuais: sua especificidade,
características e função social. Ficando atento a isso, sua interpretação textual será facilitada:

Tradicionalmente os tipos textuais são classificados de três formas: narrativo,


descritivo e dissertativo (informativo ou argumentativo). Atualmente, foram acrescidos mais
dois tipos para melhor agrupamento: o injuntivo e o dialogal.

Embora estas 5 tipologias mantenham características diferentes na composição e


organização do texto, nem sempre cada tipologia se compõe sozinha. É normal que um tipo
de texto esteja em outra tipologia, neste caso, teremos uma predominância de um tipo
textual.

Se tomarmos um romance como exemplo, veremos que possui características da


narrativa, mas em diversos trechos encontraremos a descrição.

Observem a síntese do que estudamos nesta etapa:

NARRAÇÃO DESCRIÇÃO INJUNÇÃO DIALOGAL DISSERTAÇÃO


• Fato •Característica •Ordem •Diálogo • Informação

Para que fique mais fácil compreender, vamos analisar abaixo cada tipo textual,
iniciando pela NARRAÇÃO:
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5.1 NARRAÇÃO

O centro do texto narrativo é o FATO, a história a ser contada – seja verídica ou


inventada. Para que o fato seja contado, alguns elementos são necessários: personagens,
espaço e tempo.

Na narração, temos um narrador que relata um fato, ocorrido num determinado


espaço e tempo. O narrador pode aparecer de forma clara no texto ou de modo implícito. Os
fatos são apresentados em uma sequência de ações que vão se desenrolando com certa lógica
até que atinja o ponto máximo do problema da narração e assim tenha o desfecho, ou seja, o
final da trama.

Sim, toda narração precisa de um conflito, sem este não há fato para contar. Os
conflitos são de diversas ordens: inveja, assassinato, brigas por diversos motivos, assalto,
doença, guerra, traição, mistérios, amor, paixão etc. Pode-se dizer que os conflitos são a base
dos fatos, portanto, sem conflitos não há narração.

Vejamos alguns exemplos de textos narrativos:

Texto 1: Poesia

História antiga
No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube por que foi... um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era... Não sabia...
Desde então, transformou-se de repente
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para frente...

Nunca mais nos falamos... vai distante...


Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,
E eu sinto, sem, no entanto, compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la...
Raul de Leoni

O texto conta a história de duas pessoas que se separaram e ficaram com uma história
mal resolvida. De modo muito sintetizado temos uma narração.
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Texto 2: música

Faroeste caboclo E Santo Cristo há muito não ia pra casa


Legião Urbana E a saudade começou a apertar
Não tinha medo o tal João de Santo Cristo "Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Era o que todos diziam quando ele se perdeu Já tá em tempo de a gente se casar"
[...] Chegando em casa então ele chorou
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai E pro inferno ele foi pela segunda vez
morreu Com Maria Lúcia Jeremias se casou
[...] E um filho nela ele fez
E João aceitou sua proposta [...]
E num ônibus entrou no Planalto Central Sentindo o sangue na garganta,
[...] João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E o Santo Cristo até a morte trabalhava E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar [...]
[...] E nisso o sol cegou seus olhos
E João de Santo Cristo ficou rico E então Maria Lúcia ele reconheceu
E acabou com todos os traficantes dali. Ela trazia a Winchester-22
[...] A arma que seu primo Pablo lhe deu
Já no primeiro roubo ele dançou [...]
E pro inferno ele foi pela primeira vez E Santo Cristo com a Winchester-22
[...] Deu cinco tiros no bandido traidor
Foi quando conheceu uma menina Maria Lúcia se arrependeu depois
E de todos os seus pecados ele se arrependeu E morreu junto com João, seu protetor
Maria Lúcia era uma menina linda E o povo declarava que João de Santo Cristo
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu Era santo porque sabia morrer
[...] [...]
Mas acontece que um tal de Jeremias, E João não conseguiu o que queria
Traficante de renome, apareceu por lá Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo Ele queria era falar pro presidente
E decidiu que, com João ele ia acabar Pra ajudar toda essa gente que só faz...
[...]

Podemos observar que o texto acima é uma letra de música, mas que conta uma
narrativa, relata um fato a partir da grande problemática da personagem João de Santo Cristo
de conseguir uma vida melhor. Temos personagens, conflito, tempo, espaço que se
desenvolvem numa ordem lógica.
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Texto 3: fábula

O VELHO, O MENINO E O BURRO

Num lugar que você sabe, este fato aconteceu. A pessoa que eu descrevo, você, talvez, tenha
conhecido. E se você não se lembra, procure na consciência. Porque se houver semelhança, não é
mera coincidência.
O burrico vinha trotando pela estrada. De um lado vinha o velho, puxando o cabresto. Do
outro vinha o menino, contente, que o dia estava fresquinho e o sol brilhava no céu. Sentados no
barranco estavam dois homens. No que viram o burro mais o velho e o menino, um cutucou o
outro:
– Veja só, compadre! Que despropósito! Em vez do velho montar no burro, vem puxando ele!
O velho e o menino se olharam. Assim que viraram na primeira curva, o velho parou o burro
e montou nele.
O menino segurou o cabresto e lá se foram os três, muito satisfeitos. Até que perto da ponte
tinha uma casa com uma mulher na janela.
– Olha só, Sinhá, venha ver o desfrute! O velho no bem-bom, montado no burro, e o pobre
do menino gramando a pé!
O velho e o menino se olharam de novo. Assim que saíram da vista da mulher, o velho desceu
do burro e botou o menino na sela. E foram andando um pouco ressabiados, o velho puxando o
burro pelo cabresto, pensando no que o povo podia dizer. Logo, logo, passaram numa porteira
onde estava parada uma velha mais uma menina.
– Mas que absurdo, minha gente! Um velho que nem se aguenta nas pernas andando a pé, e
o guri, bem sem-vergonha, escanchado no burro!
Os dois se olharam e nem esperaram. O velho mais que depressa montou na garupa do burro
e lá se foram os três. Dali a pouco encontraram um padre que vinha pela estrada mais o sacristão:
– Olha só, que pecado, onde é que já se viu? O pobre do burro, coitadinho, carregando dois
preguiçosos! Mas isso é coisa que se faça?
O velho e o menino, desanimados, desmontaram e nem discutiram: saíram carregando o
burro. Mas nem assim o povo sossegou! Cada vez que passavam por alguém, era só risada!
– Olha só os dois burros carregando o terceiro!
Quando chegaram em casa, o velho sentou cansado, se assoprando:
– Bem feito! — ele dizia. — Bem feito!
– Bem feito o quê, vô?
– Bem feito pra nós. Que a gente já faz muito de pensar pela própria cabeça, e ainda quer
pensar pela cabeça dos outros. Agora eu sei por que é que meu pai dizia:
“Quem quer agradar a todos a si próprio não faz bem! Pois só faz papel de burro e não agrada
a ninguém!”

Observe o texto e vamos verificar se ele apresenta as características da tipologia


narrativa:

• Fato – conflito: montar ou não no burro


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• Personagem: menino, padre, as pessoas


• Espaço: lugar que você sabe qual é
• Tempo: indeterminado

Podemos afirmar que o texto é uma narrativa, pois seu propósito é relatar um fato,
contar um conflito através de personagens que agem num tempo e num espaço.

Texto 4: Piada

- Bonito papel! Quase três da madrugada e os senhores completamente bêbados, não é?


Foi aí que um dos bêbados pediu:
- Sem bronca, minha senhora. Veja logo qual de nós é o seu marido que os outros querem ir
para casa. (Stanislaw Ponte Preta)

Neste texto, também temos uma narração que se desenvolve a partir de um problema
- os homens estarem bêbados -, apresentando como personagens os bêbados e uma senhora,
no tempo de três horas da manhã, no espaço, a casa da senhora.

Texto 5: Conto

Tragédia brasileira
Manuel Bandeira

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.


Conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança
empenhada e os dentes em petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista,
manicura… Dava tudo quanto ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso:
mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moravam no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom
Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio,
Todos os santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos…
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a
com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.
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O conto apresenta uma clara estrutura narrativa: o fato é o casamento de Misael com
Maria Elvira (personagens); o conflito se dá por conta dos namorados de Maria Elvira; o espaço
são vários bairros do Rio de Janeiro, não há um tempo determinado. O texto se organiza de
modo que o conflito vai tomando proporções maiores à medida que o texto progride,
chegando ao clímax quando Misael fica privado de seus sentidos e mata a esposa, num
desfecho trágico da trama.

Sintetizando a tipologia textual narração, temos:

NARRAÇÃO

ENREDO TEMPO
PERSONAGEM ESPAÇO CONFLITO
É a própria Data: mês,
Pessoa, Lugar onde O problema
narrativa, a ano, século,
animal, objeto acontece o vivido pelas
história dia da
personificado. fato. personagens.
contada. semana.

5.2 DESCRIÇÃO

A outra tipologia textual é a DESCRIÇÂO, cujo eixo norteador é a CARACTERIZAÇÃO.


Descrever é apresentar o ser, objeto ou lugar da forma como é ou está; é detalhar,
pormenorizar, apresentar seu estado. É um tipo de texto normalmente curto e quase nunca
existe sozinho, está inserido em outras tipologias como a narração, a dissertação ou mesmo a
injunção.

Esta tipologia é muito utilizada nos romances para caracterizar as personagens, o


espaço, os objetos. É de fundamental importância na construção da narração para que o leitor
possa compreender melhor os fatos que estão sendo narrados.

Seu processo de composição se dá através de elementos como: adjetivos e verbos de


ligação. Pode-se fazer descrição técnica e literária. A descrição técnica é feita por diversos
campos de conhecimento, tais quais: arquitetura, engenharia, psicologia. Já a descrição
literária, fica por conta dos contos, dos romances, das poesias etc.

Vejamos algumas descrições:


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Texto 1: trecho de música

Eu queria ter na vida simplesmente


Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca, de varanda, um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer

Observe que as palavras destacadas são características do lugar e da casa.

Texto 2: Poesia

RETRATO
Cecília Meireles
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

Texto 3:

Descrição técnica

O motor está montado na traseira do carro, fixado por quatro parafusos à caixa de câmbio,
a qual, por sua vez, está fixada nos coxins de borracha na extremidade bifurcada do chassi. Os
cilindros estão dispostos horizontalmente e opostos dois a dois. Cada par de cilindros tem um
cabeçote comum de metal leve. As válvulas, situadas nos cabeçotes, são comandadas por meio de
tuchos e balancins. O virabrequim, livre de vibrações, de comprimento reduzido, com têmpera
especial nos colos, gira em quatro pontos de apoio e aciona o eixo excêntrico por meio de
engrenagens oblíquas. As bielas contam com mancais de chumbo-bronze e os pistões são fundidos
de uma liga de metal leve.
(Fonte: Manual de instruções [Volkswagen]. In: Comunicação em prosa moderna. GARCIA
Othon, Rio de janeiro: Editora FGV, 1996, p.388.)
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Texto 3: Descrição literária

Havia à Rua do Hospício, próximo ao campo, uma casa que desapareceu com as últimas
reconstruções.
Tinha três janelas de peitoril na frente; duas pertenciam à sala de visitas; a outra a um gabinete
contíguo.
O aspecto da casa revelava, bem como seu interior, a pobreza da habitação.
A mobília da sala consistia em sofá, seis cadeiras e dois consolos de jacarandá, que já não
conservavam o menor vestígio de verniz. O papel da parede de branco passara a amarela e
percebia-se que em alguns pontos já havia sofrido hábeis remendos.
O gabinete oferecia a mesma aparência. O papel que fora primitivamente azul tomara a cor de
folha seca.
Havia no aposento uma cômoda de cedro que também servia de toucador, um armário de
vinhático, uma mesa de escrever, e finalmente a marquesa, de ferro, com o lavatório, e vestida de
mosquiteiro verde.
Tudo isto, se tinha o mesmo ar de velhice dos móveis da sala, era como aqueles
cuidadosamente limpo e espanejado, respirando o mais escrupuloso asseio. Não se via uma teia de
aranha na parede, nem sinal de poeira nos trastes. O soalho mostrava aqui e ali fendas na madeira;
mas uma nódoa sequer não manchava as tábuas areadas.” (José de Alencar)

5.3 INJUNÇÃO

A próxima tipologia textual a ser estudada é a INJUNÇÃO, cujo centro está nos
COMANDOS oferecidos ao receptor. É um tipo de texto em que predomina a ordem, os
pedidos, os conselhos e por isso há predominância de verbos no imperativo e sequência de
orações coordenadas.

Importante destacar que o texto injuntivo cumpre uma função social de auxiliar o leitor
a realizar determinada ação: bula de remédio, receitas em geral, manuais, são alguns
exemplos de textos injuntivos com o propósito de servir como guia para o leitor executar de
modo favorável a ação desejada. Não é simplesmente uma ordem para o leitor executar, tem
uma finalidade, uma função.
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Vamos aos exemplos:

Texto 1 – receita

Receita de Fritada de calabresa

Por Irene Sanches


Ingredientes
3 colheres (sopa) de azeite
1 linguiça calabresa defumada
1 cebola picada
2 dentes de alho amassados
3 tomates picados
6 ovos
1/4 xícara (chá) de queijo parmesão ralado
1/4 xícara (chá) de manjericão picado
Sal e pimenta do reino a gosto
Modo de preparo
Em uma frigideira, coloque o azeite, a linguiça, a cebola, o alho e frite até dourar.
Junte o tomate e cozinhe por 10 minutos.
Em uma tigela, bata os ovos, o parmesão, o manjericão, sal e pimenta com um garfo.
Despeje sobre o refogado e frite dos dois lados até dourar.
Decore como desejar e sirva em seguida.
Rendimento:6 porções
Tempo de preparo: 15 minutos
Fonte: https://www.comidaereceitas.com.br ›
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Texto 2 – bula de remédio

Advertências e Precauções
O que devo saber antes de usar?
Antes de usar Novalgina Infantil, deve-se falar com o médico em casos de historial de alergia
atópica ou asma, diabetes ou se se estiver a tomar outros medicamentos.
Durante o tratamento com Novalgina, caso sejam sentidos sintomas como febre, calafrios, dor
de garganta ou feridas na boca, deve-se consultar o médico logo que possível.
O tratamento com Novalgina Infantil nunca deve ser interrompido sem conhecimento do
médico e os horários, as doses e duração do tratamento devem ser rigorosamente
respeitados.
Mecanismo de Ação
Como funciona?
Novalgina tem na sua composição Dipirona Sódica, um derivado pirazolônico não-narcótico,
que apresenta ação analgésica, antipirética e espasmolítica.
A Dipirona é uma pro-droga, cuja metabolização gera a formação de diferentes metabólitos,
dos quais, dois deles, 4-metil-aminoantipirina e 4-aminoantipirina, têm propriedades
analgésicas.
Novalgina Gotas, Novalgina Xarope e Novalgina Supositório, começam a ter efeito entre 30 a
60 minutos após a sua administração e, geralmente, o seu efeito antitérmico e analgésico dura
cerca de 4 horas.
Novalgina Infantil dá sono?
Não, Novalgina Infantil não dá sono, porém, a criança ou o bebê pode ter mais sono que o
normal, pois a febre e a dor aumentam a necessidade de descansar ou dormir.
Fonte: https://www.bulario.com/novalgina_infantil/

Texto 3 – manual

Fonte: https://bit.ly/2BHOcPj
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Texto 4 – poesia

Receita da Juventude
(Letícia Migliacci)
Ingredientes
50g de curiosidade
1kg de atividade
2 xícaras de aprendizado
3 colheres (sopa) de fazer tudo errado
4 litros de diversão
5g de paixão
5 litros de beleza
50g de esperteza
Modo de preparo
Despeje a curiosidade junto com a esperteza, adicione a atividade e a
beleza. Misture bem e deixe esfriar. Depois acrescente o aprendizado
e as 3 colheres de fazer tudo errado. Por fim, acrescente a paixão e os
4 litros de diversão, espere crescer e a juventude está formada.
Tempo de preparo: 7 a 30 anos
Rendimento: 1 jovem

Fonte: https://pt.scribd.com/doc/312026288/Producao-Textual-Receita-Poetica

5.4 DIALOGAL

Temos também, a tipologia textual que os estudiosos denominam de DIALOGAL. Esta


tipologia compreende como ponto principal o DIÁLOGO, ou seja, uma interação contínua
entre emissor e receptor de modo que os dois são participantes ativos do processo de
comunicação. Muito comum na comunicação verbal - na modalidade oral -, esta tipologia
também acontece na versão escrita, em especial quando busca representar situações de
conversa, na tentativa de reproduzir situações reais. Também é um tipo de texto que vai se
apresentar em outros textos, como a narração.

Vejamos alguns exemplos:


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Texto 1 – entrevista

O texto, na linguagem original, foi publicado na Folha da Manhã em 5 de maio de 1954.


O jornalista italiano Alfredo Paniucci, de “Época”, obteve em fins do mês passado uma
entrevista de Chaplin – em sua vila de Corsier-Vevey, Genebra – que pode ser considerada
sensacional. [...]
Depois de descrever o aspecto da vila, as particularidades que pôde notar, na sala de espera,
Paniucci, que é o primeiro jornalista a ser recebido por Chaplin na sua vila Suíça, diz que ele lhe
parece, em trajes esportivos, com um aspecto extraordinariamente juvenil. [...]
O jornalista vê, nas estantes, obras de Thakerav, de Platão, Maupassant, Plutarco, Balzac,
Dickens, Poe e Thomas Payne. Num angulo, descobre “Mein Kampf”, de Hitler. Chaplin exclama,
sorrindo: “Não sou nazista, não. Li-o antes de realizar “O Grande Ditador”. Mac Carthy gostaria de
possuir este livro. Mas não o darei, jamais.” E ante uma pergunta do jornalista, diz, sempre sorrindo,
os olhos azuis exprimindo ironia: “A maior parte de meus livros são sobre psicologia. Gosto muito
de estudar o próximo; gosto das ciências ocultas. Ah! Se eu pudesse transformar-me em feiticeiro!”
Ambos voltam para a outra sala, já acompanhados de Oona. Na porta o jornalista quer dar
passagem primeiro a Chaplin, mas este abre caminho e diz: “É inútil você querer ver minhas costas;
não sou Marilyn Monroe.” E ri, gostosamente. [...] Mas aproveita o instante para fazer uma
pergunta sobre o próximo filme de Chaplin. Ele agora parece irritar-se. Diz apenas: “Até agora não
tenho nada de concreto. Posso dizer que não será uma tragédia como “Mr. Verdou” e “Luzes da
Ribalta”, mas uma comedia moderna: um filme que focalizará os diferentes sistemas de vida dos
americanos e dos europeus.” E ante uma nova pergunta de Paniucci, o gênio diz: “Os americanos
não me querem bem. Durante 30 anos me admiraram e depois passaram a odiar-me. Feriram-me
profundamente.”
A esta altura, diz o repórter, alguns fotógrafos que permaneceram na cidade já estavam
entrando na vila de Chaplin. Eles entram e batem chapas, perturbam a entrevista. O mestre ordena
uísque para todos, e grandes doses são servidas. E Chaplin aproveita para retirar-se da sala.

Texto 2 – tirinha
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Texto 3 – música

O Que Será De Nós?


Detonautas
Quando vejo azul, você enxerga cinza
Onde vejo luz, você escuridão
Quando eu digo oi, você responde tchau, tchau
E a casa continua nessa confusão
E se eu quero um doce, você não abre a boca
E a gente não se entende mais, mais
Eu quero ir pra rua, cê quer ficar em casa
E o que ficou pra trás, ficou pra trás
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Texto 4 – romance

Trecho da obra Dom Casmurro


Quando levantei a cabeça, dei com a figura de Capitu diante de mim. Eis aí outro lance, que
parecerá de teatro, e é tão natural como o primeiro, uma vez que a mãe e o filho iam à missa, e
Capitu não saía sem falar-me. Era já um falar seco e breve; a maior parte das vezes, eu nem olhava
para ela. Ela olhava sempre, esperando.
Desta vez, ao dar com ela, não sei se era dos meus olhos, mas Capitu pareceu-me lívida.
Seguiu-se um daqueles silêncios, a que, sem mentir, se pode chamar de um século, tal é a extensão
do tempo nas grandes crises. Capitu recompôs-se; disse ao filho que se fosse embora, e pediu-me
que lhe explicasse...
— Não há que explicar, disse eu.
— Há tudo; não entendo as tuas lágrimas nem as de Ezequiel. Que houve entre vocês?
— Não ouviu o que lhe disse?
Capitu respondeu que ouvira choro e rumor de palavras. Eu creio que ouvira tudo claramente,
mas confessá-lo seria perder a esperança do silêncio e da reconciliação; por isso negou a audiência
e confirmou unicamente à vista. Sem lhe contar o episódio do café, repeti-lhe as palavras do final
do capítulo.
— O quê? perguntou ela como se ouvira mal.
— Que não é meu filho.
Grande foi a estupefação de Capitu, e não menor a indignação que lhe sucedeu, tão naturais
ambas que fariam duvidar as primeiras testemunhas de vista do nosso foro. Já ouvi que as há para
vários casos, questão de preço; eu não creio, tanto mais que a pessoa que me contou isto acabava
de perder uma demanda. [...] Após alguns instantes, disse-me ela:
— Só se pode explicar tal injúria pela convicção sincera; entretanto, você que era tão cioso
dos menores gestos, nunca revelou a menor sombra de desconfiança. Que é que lhe deu tal ideia?
Diga, — continuou vendo que eu não respondia nada, — diga tudo; depois do que ouvi, posso ouvir
o resto, não pode ser muito. Que é que lhe deu agora tal convicção? Ande, Bentinho, fale! fale!
Despeça-me daqui, mas diga tudo primeiro.
— Há coisas que se não dizem.
— Que se não dizem só metade; mas já que disse metade, diga tudo.
Tinha-se sentado numa cadeira ao pé da mesa. Podia estar um tanto confusa, o porte não era
de acusada. Pedi-lhe ainda uma vez que não teimasse.
— Não, Bentinho, ou conte o resto, para que eu me defenda, se você acha que tenho defesa,
ou peço-lhe desde já a nossa separação: não posso mais!
— A separação é coisa decidida, redargüi, pegando-lhe na proposta. Era melhor que a
fizéssemos por meias palavras ou em silêncio; cada um iria com a sua ferida. Uma vez, porém, que
a senhora insiste, aqui vai o que lhe posso dizer, e é tudo.
Não disse tudo; mas pude aludir aos amores de Escobar sem proferir-lhe o nome. Capitu não
pôde deixar de rir, de um riso que eu sinto não poder transcrever aqui; depois, em um tom
juntamente irônico e melancólico:
— Pois até os defuntos! Nem os mortos escapam aos seus ciúmes!
Concertou a capinha e ergueu-se. Suspirou, creio que suspirou, enquanto eu, que não pedia
outra coisa mais que a plena justificação dela, disse-lhe não sei que palavras adequadas a este fim.
Capitu olhou para mim com desdém, e murmurou:
Fonte: http://machadodeassis.ufsc.br/
58

5.5 DISSERTAÇÃO

A última tipologia é a DISSERTAÇÃO, cujo centro está na INFORMAÇÃO. É uma tipologia


utilizada para informar os fatos e analisá-los de forma científica e o mais verdadeiro possível.
É o texto da redação científica, das reportagens jornalísticas, de todo e qualquer texto que
busque certa imparcialidade e queira apresentar o conhecimento a respeito de determinado
assunto. Embora a informação seja o foco desta tipologia, a análise crítica também é parte
fundamental, tendo em vista a dupla função do texto dissertativo: expor e argumentar.

Assim, temos:

O texto dissertativo EXPOSITIVO – apenas apresenta as


informações, os acontecimentos, o tema de modo impessoal,
sem apresentar comentários que levem a uma crítica.

O texto dissertativo ARGUMENTATIVO – comenta as


informações, analisa o tema, debate os acontecimentos, faz
críticas ao tema.

Na vida cotidiana, os dois tipos de texto dissertativo são muito utilizados, seja
individualmente, seja como texto dissertativo expositivos-argumentativo. Os livros didáticos
de biologia, história, geografia etc. são exemplos de texto dissertativo expositivo. Eles apenas
informam os acontecimentos, tratam do tema de modo objetivo. Já nas reportagens, temos
informações e análises, acontecimentos e críticas, ou seja, texto dissertativo expositivo-
argumentativo. É raro ter texto somente argumentativo, pois a base da argumentação é um
tema que precisa ser apresentado de modo objetivo para depois ser analisado.

Neste texto, apresenta-se uma ideia central a respeito de um tema e apresentam-se


provas, argumentos para defender o ponto de vista, de modo a demonstrar que a ideia central
é verdadeira, por isso, as provas, os argumentos devem ser convincentes e pautados em
informações consistentes e verdadeira. O senso comum e as falácias – afirmação falsa ou
errônea – não serão bem-vindas em uma argumentação séria.

Este o tipo de texto da universidade, a maioria dos trabalhos acadêmicos devem ser
feitos utilizando o texto dissertativo: resumo, resenha, resumo crítico, artigo científico,
59

monografia, dissertação, tese. É ainda o tipo de texto escolhido para os processos de seleção
de todas as esferas: vestibular, concursos etc.

Vejamos os exemplos:

Texto 1 – informações históricas

Uma análise histórica da escravidão no Brasil


Embora a escravidão no Brasil tenha sido, ou ainda é, um dos pontos mais polêmicos discutidos
na história, o fato é que não o deixará de ser tão cedo por conta da carência de documentos
registrados desta realidade. Difícil era haver nesta época do Brasil algum escravo alfabetizado que
pudesse deixar qualquer escrito útil como fonte de pesquisa. Contudo, apesar das dificuldades, as
lacunas presentes neste polêmico estudo são preenchidas com infindáveis discussões acerca de
como se daria o processo escravista. O que se sabe, ao certo, é que muitos estudiosos o
caracterizam como uma das formas mais cruéis de tratamento do ser humano. Analisemos,
portanto, os fatos.
A escravidão foi trazida para o Brasil com um propósito: para povoar o Brasil seria necessário
abastecê-lo com a mão de obra necessária para pôr em prática o processo produtivo, bem como o
abastecimento da metrópole com produtos americanos. Eles eram necessários para que houvesse
uma dinâmica no país, para que o processo produtivo andasse e para que a família latifundiária
obtivesse as melhores condições possíveis de sobrevivência. No entanto, embora se pudesse
atribuir a estes indivíduos uma lista de utilidades, o tratamento a eles imposto se resumia a umas
chicoteadas e muito trabalho.
É difícil, atualmente, imaginarmos como uma população relativamente numerosa pudesse se
submeter a castigos tão severos. A primeira pergunta que nos fazemos é o porquê da não rebelião
dos escravos, da obediência incômoda a tanta humilhação. Mas é interessante notar que os
escravos eram trazidos de lugares pobres da África, comercializados como uma “mercadoria”,
separados de suas famílias e levados a lugares nunca antes conhecidos. Seria bem mais fácil
enfrentar a situação perto de suas tribos e familiares. Alguns chegavam até mesmo a sofrer de
banzo, uma espécie de nostalgia provocada por saudades da terra natal que geralmente os levava
a morte. Enquanto isso, sua sobrevivência se baseava em negociações com seus senhores e na
acomodação em relação à situação a que eram submetidos.
Fonte: https://www.portaleducacao.com.br/
60

Texto 2 – reportagem

Reciclagem ajuda a preservar o meio ambiente e gera empregos na Paraíba


Fábrica recicla sacolas plásticas em Guarabira.
Em Sousa, empresa transforma garrafas em canos.

Sacolas e garrafas plásticas podem deixar de ser lixo e passarem a ser geradoras de
renda. Na Paraíba, a reciclagem, além de ajudar a preservar o meio ambiente, tem garantido o
emprego de muitos moradores. Durante esta semana, o JPB 2ª Edição exibe uma série de
reportagens especiais sobre saneamento básico nos municípios da Paraíba. Nesta quinta-feira
(18), dia em que é veiculada a quarta e última reportagem da série, o destaque é para a
reciclagem. [...]
“Se a gente fosse trabalhar só com material virgem, seria o dobro de poluição. Então a
gente tirou 350 do mercado de plástico e voltou novamente pro mercado. Evitando que a
poluição aumente”, relatou o sócio-gerente da fábrica, Carlos Magno. Dos 70 funcionários, 60
são do bairro onde a fábrica está instalada, um dos mais carentes de Guarabira. Muitos são ex-
catadores e outros, a exemplo de Danilo Félix, encontraram nela sua primeira oportunidade de
trabalho, aos 18 anos.
“Hoje a gente pode dizer que uma sacola é dinheiro. A gente sobrevive da sacola, é
daqui que sai o nosso salário. Então não tem condições de a gente pegar e jogar uma sacola.
[...] Em Sousa, no Sertão, há 10 anos, uma empresa transforma garrafas de plástico em canos.
São 50 toneladas produzidas por mês. O produto final é usado exclusivamente para esgoto.
“Era uma ideia muito real, muito boa, pra a gente utilizar aquele material que não era utilizado,
era exposto aos lixões”, lembrou o empresário Marcelo Abrantes Furtado.
Além da produção dos canos, outra parte do plástico é triturada e vendida para uma
fábrica de tecidos. O rótulo e as tampinhas também são revendidas para outas indústrias. Tudo
é aproveitado. A fábrica emprega diretamente 40 pessoas. Outras dezenas são fornecedoras
da matéria-prima, que garantem a renda procurando garrafas nas ruas. [...]
“Tem aquilo, os três Rs: reaproveitar, reutilizar e reciclar. Eu acho que existe mais um,
o ressignificar. Às vezes você pode pegar um material que normalmente as pessoas veem como
uma coisa e transformar em arte, transformar em utensílio. Então eu acho que você ressignifica
alguma coisa”, afirmou o artista.
61

Texto 3 – resumo

“Vidas Secas” – Resumo da obra de Graciliano Ramos

O livro possui 13 capítulos que, por não terem uma linearidade temporal, podem ser lidos em qualquer ordem. Porém,
o primeiro, “Mudança”, e o último, “Fuga”, devem ser lidos nessa sequência, pois apresentam uma ligação que fecha um
ciclo. “Mudança” narra as agruras da família sertaneja na caminhada impiedosa pela aridez da caatinga, enquanto que
em “Fuga” os retirantes partem da fazenda para uma nova busca por condições mais favoráveis de vida. Assim, pode-se
dizer que a miséria em que as personagens vivem em Vidas Secas representa um ciclo. Quando menos se espera, a
situação se agrada e a família é obrigada a se mudar novamente.
Fabiano é um homem rude, típico vaqueiro do sertão nordestino. Sem ter frequentado a escola, não é um homem
com o dom das palavras, e chega a ver a si próprio como um animal às vezes. Empregado em uma fazenda, pensa na
brutalidade com que seu patrão o trata. Fabiano admira o dom que algumas pessoas possuem com a palavra, mas assim
como as palavras e as ideias o seduziam, também o cansavam.
Sem conseguir se comunicar direito com as pessoas, entra em apuros em um bar com um soldado, que o desafiou
para um jogo de apostas. Irritado por perder o jogo, o soldado provoca Fabiano o insultando de todas as formas. O pobre
vaqueiro suporta tudo calado, pois não conseguia se defender. Até que, por fim acaba, insultando a mãe do soldado e
sendo preso. Na cadeia, pensa na família, em como acabou naquela situação e acaba perdendo a cabeça, gritando com
todos e pensando na família como um peso a carregar.
Sinhá Vitória é a esposa de Fabiano. Mulher cheia de fé e muito trabalhadora. Além de cuidar dos filhos e da casa,
ajudava o marido em seu trabalho também. Esperta, sabia fazer contas e sempre avisava ao marido sobre os trapaceiros
que tentavam tirar vantagem da falta de conhecimento de Fabiano. Sonhava com um futuro melhor para seus filhos e
não se conformava com a miséria em que viviam. Seu sonho era ter uma cama de fita de couro para dormir.
Nesse cenário de miséria e sem se darem muita conta do que acontecia a seu redor, viviam os dois meninos. O mais
novo via na figura do pai um exemplo. Já o mais velho queria aprender sobre as palavras. Um dia ouviu a palavra “inferno”
de alguém e ficou intrigado com seu significado. Perguntou a Sinhá Vitória o que significava, mas recebeu uma resposta
vaga. Vai então perguntar a Fabiano, mas esse o ignora. Volta a questionar sua mãe, mas ela fica brava com a insistência
e lhe dá um cascudo. Sem ter ninguém que o entenda e sacie sua dúvida, só consegue buscar consolo na cadela Baleia.
Um dia a chuva chega (o “inverno”) e ficam todos em casa ouvindo as histórias de Fabiano. Histórias essas que ele
nunca tinha vivido, feitos que ele nunca havia realizado. Em meio a suas histórias inventadas, Fabiano pensava se as
coisas iriam melhorar dali então. Para o filho mais novo, as sombras projetadas pela fogueira no escuro deixavam o pai
com um ar grotesco. Já o mais velho ouvia as histórias de Fabiano com muita desconfiança.
O Natal chegou e a família inteira foi à festa da cidade. Fabiano ficou embriagado e se sentia muito valente, só
pensando em se vingar do soldado que lhe colocou atrás das grades. Uma hora, cansado de seu próprio teatro, faz de
suas roupas um travesseiro e dorme no chão. Sinhá Vitória estava cansada de cuidar do marido embriagado e ter que
olhar as crianças também. Em um dado momento, ela toma coragem para fazer o que mais estava com vontade: encontra
um cantinho e se abaixa para urinar. Satisfeita, acende uma piteira de barro e fica a sonhar com a cama de fitas de couro
e um futuro melhor.
No que talvez seja o momento mais famoso do livro, Fabiano vê o estado em que se encontrava Baleia, com pelos
caídos e feridas na boca, e achou que ela pudesse estar doente. O vaqueiro resolve, então, sacrificar a cadela. Sinhá
Vitória recolhe os filhos, que protestavam contra o sacrifício do pobre animal, mas não havia outra escolha. O primeiro
tiro acerta o traseiro de Baleia e a deixa com as patas inutilizadas. A cadela sentia o fim próximo e chega a querer morder
Fabiano. Apesar da raiva que sentia de Fabiano, o via como um companheiro de muito tempo. Em meio ao nevoeiro e da
visão de uma espécie de paraíso dos cachorros, onde ela poderia caçar preás à vontade, Baleia morre sentindo dor e
arrepios.
E assim a vida vai passando para essa família sofredora do sertão nordestino. Até que um dia, com o céu
extremamente azul e nenhuma nuvem à vista, vendo os animais em estado de miséria, Fabiano decide que a hora de
partir novamente havia chegado. Partiram de madrugada largando tudo como haviam encontrado. A cadela Baleia era
uma imagem constante nos pensamentos confusos de Fabiano. Sinhá Vitória tentava puxar conversa com o marido
durante a caminhada e os dois seguiam fazendo planos para o futuro e pensando se existiria um destino melhor para
seus filhos.
Fonte: https://guiadoestudante.abril.com.br
62

Atente para a diferença entre TIPO TEXTUAL E GÊNERO TEXTUAL:

O tipo textual é o que acabamos de estudar e tem um caráter amplo de aplicação, são
estruturas maiores que servem para organizar vários gêneros de texto. Os tipos textuais são
5: narração, descrição, injunção, dialogal e dissertação

Já os gêneros textuais estão inseridos na forma de sua composição dentro das


tipologias textuais, mas mantem características próprias da sua utilização social. São vários os
gêneros textuais: conto, crônica, propaganda, história em quadrinho, fábula, piada,
reportagem, notícia, bula, música.

Vejamos: uma fábula é um gênero textual que faz parte da tipologia narrativa; o conto
é um gênero que faz parte da tipologia narrativa, a bula é um gênero textual que pertence a
tipologia injuntiva. Assim, podemos verificar que a tipologia é a estrutura macro que engloba
os gêneros que são muito diversificados:

Conto

Piada
Gêneros textuais
Romance

NARRAÇÃO
Tipo de texto

RELEMBRANDO:

A interpretação de texto será facilitada se soubermos a tipologia textual, porque cada


tipo têm um propósito social, um eixo norteador que serve como direção para o leitor
compreender o texto. Os estudiosos afirmam que quando o leitor não domina o tipo textual,
sente dificuldade de compreender o texto. Por isso, esta etapa de estudo é importante para
que você conheça os 5 tipos textuais e possa ter mais facilidade na compreensão dos textos.
63

6. ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

Nesta etapa do estudo, vamos aprende como um texto se organiza para que assim
tenhamos mais facilidade na compreensão do texto. Numa primeira análise, podemos afirmar
que os textos se organizam em introdução, desenvolvimento e conclusão. Dependendo do
tipo de texto, estas etapas acontecem de modo diferente, porém, mantém certa semelhança.

Na introdução do texto é o momento de apresentar o tema, as personagens, o tempo,


o espaço, dependendo da tipologia. Não se deve perder de vista que a introdução, no texto
dissertativo, também deve indicar a ideia central defendida no texto. Dessa forma, se você
procura saber qual a ideia central defendida no texto, deve-se buscar na introdução.

Os parágrafos de desenvolvimento no texto dissertativo apresentam argumentos,


fatos, exemplos, comparações, citações para defender a ideia principal; nos textos narrativos
apresenta o conflito e vai ampliando até que atinja o ponto máximo;

Na conclusão do texto, faz-se um fechamento, apresenta-se quais forma as principais


ideias debatidas e como elas foram abordadas no texto. Pode-se ainda apresentar uma
proposta para resolver um problema levantado ao longo do texto. Na narração, apresenta-se
um desfecho para o conflito.

Algumas tipologias, como a descrição, injunção e o dialogal não apresentam estrutura


própria para introdução, desenvolvimento e conclusão. Estão num contexto mais livre e
podem se organizar de acordo com a exigência do gênero textual.

Em um texto, um parágrafo de argumentação pode servir apenas para informar, já


outro, buscam convencer o leitor do ponto de vista defendido. Outra questão importante é o
fato de que a dissertação pode utilizar outras tipologias, como a descrição ou a narração para
servir de argumento do texto. Isso não quer dizer que o texto deixou de ser dissertativo,
continua sendo um texto dissertativo que utiliza outras tipologias para argumentar.

Não há fórmulas mágicas para a interpretação de texto, você deve ler constantemente,
procurar diferentes tipos de texto e exercitar a leitura. Quanto mais leitura fizer, maior será a
facilidade de compreender. Em textos científicos é muito importante saber a ideia central do
texto, a argumentação e a que conclusões chega o texto. Assim, podemos fazer alguns
questionamentos que nos levarão a estas ideias, vejamos:
64

I - Qual é a questão de que o texto está tratando? Qual é o ponto central do texto? De que
realmente o texto quer tratar? Ao responder a essa pergunta, o leitor será obrigado a
distinguir as questões secundárias da principal, isto e, aquela em torno da qual gira o texto
inteiro. Quando o leitor não sabe dizer do que o texto está tratando, ou sabe apenas de
maneira genérica e confusa, é sinal de que ele precisa ser lido com mais atenção ou de que
o leitor não tem repertório suficiente para compreender o que está diante de seus olhos.
Neste caso, o uso do dicionário será indispensável. Estas questões levarão à IDEIA
PRINCIPAL.

II - Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a ideia central? Quais
a ideias que comprovam a ideia central? O argumento é um recurso para convencer o leitor
de que fala a verdade. Saber reconhecer os argumentos do autor é também um sintoma
de leitura bem feita, um sinal claro de que o leitor acompanhou o desenvolvimento das
ideias. Na verdade, entender um texto significa acompanhar com atenção o seu percurso
argumentativo. Conseguiremos assim identificar os ARGUMENTOS do texto.

III - Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão? Qual a análise que o
autor faz das ideias apresentadas? Quais as críticas feitas pelo autor? Nesta etapa de
leitura, já se avançou bastante e pode-se analisar o texto por sua carga ideológica, pela sua
construção social e histórica. Não se está mais preso apenas ao texto, mas ao todo que
engloba o que está escrito. É uma interpretação mais complexa porque não se pode fugir
do texto, não se trata de concordar ou discordar; o importante nesta etapa é conseguir
compreender a parte crítica do texto. Teremos aqui a ANÁLISE CRÍTICA do texto

IV – Qual/quais a(s) conclusão(ões) do autor ao final dos argumentos? Finalizado o texto e


feito uma série de argumentações para defender um ponto de vista, qual a síntese que se
pode fazer do texto? Estas questões remetem às CONCLUSÕES do autor.

Nem sempre os textos apresentam uma parte crítica. Há textos que se apresentam
apenas com o objetivo de informar, de passar uma informação sem debater. Neste caso,
busca-se compreender as demais etapas.

Vamos analisar um texto para compreender o que foi exposto:


65

Texto 1 – dissertação

O texto abaixo foi escrito por Marcio Poschmann na Folha de S. Paulo.

O Brasil tem hoje um grande exército de jovens na faixa etária de 15 a 24 anos aguardando uma
possibilidade de apresentar ao mercado de trabalho o seu potencial. O maior drama deste exército juvenil é
a ausência de vagas oferecidas àqueles que procuram o seu primeiro emprego. Nos últimos dez anos, o país
criou apenas 100 mil postos de trabalho para pessoas na faixa etária de 15 a 24 anos, enquanto 2,8 milhões
de jovens ingressaram no mercado de trabalho. Poucos são os cursos universitários no país que oferecem
disputa tão acentuada como atualmente ocorre no mercado de trabalho, que tem 28 jovens concorrendo,
em média, a cada vaga aberta. O aprofundamento da competição no interior do mercado de trabalho decorre
também do fechamento de empregos tradicionalmente ocupados pelos jovens. Dos 3,2 milhões de empregos
formais destruídos na década de 1990, 2 milhões atingiram o segmento com menos de 25 anos de idade.
Além disso, parte das vagas oferecidas aos jovens são ocupadas por adultos, já que o desemprego
também afeta gravemente os chefes de família, que, desesperados, aceitam qualquer coisa. Paralelamente,
a pouca experiência profissional, a baixa escolaridade e os traços de menor responsabilidade fazem parte das
razões usadas por patrões e de até especialistas para explicar o desemprego juvenil, sem que estejam em
consonância com a realidade do mercado de trabalho. Ao contrário do senso comum, a maior geração de
vagas tem ocorrido nos postos de trabalho mais simples, não exigindo, necessariamente, maior grau de
profissionalização. São os casos das ocupações de emprego doméstico, de limpeza e conservação e de
segurança privada e pública, que foram as que mais cresceram nos anos 90.
Ao mesmo tempo, ganha importância a defesa do individualismo, por meio da promoção da cultura da
autoajuda. Isto é, a transferência do problema do desemprego ao próprio jovem que, na condição de sem
emprego, precisa fazer curso disso, daquilo e muito mais, sem falar nas falsas dicas de como realizar um
currículo "esperto", como responder "inteligentemente" a questões nas entrevistas etc. Como se bastasse
ter conhecimento para que o emprego surgisse.
Apesar de tudo isso, há saídas para os jovens que não sejam o desespero do desemprego, a violência da
criminalidade, a degradação da prostituição e a fuga pelas drogas. Por não haver alternativas individuais para
todos, apenas para alguns, o país precisa de um projeto nacional de desenvolvimento que viabilize o
crescimento econômico em mais de 5,5% ao ano e por toda uma década. Ademais, dois programas nacionais
devem ser constituídos. O primeiro diz respeito à manutenção do jovem por mais tempo na escola, fazendo
com que ingresse mais tardiamente no mercado de trabalho. A melhora na educação nacional é necessária,
assim como a difusão de medidas de transferência de renda para as famílias carentes com vistas a financiar
o tempo do jovem na escola, por meio de programas de renda mínima, bolsa escolas, entre outros. O segundo
programa deve conter uma estratégia especificamente voltada à abertura de vagas aos jovens no mercado
de trabalho. O estímulo à criação de postos de trabalho subsidiados no setor privado e de programas de
utilidade coletiva no setor público contribui para a geração de maiores e melhores saídas aos jovens.

6.1 ANÁLISE

• Tema: Trabalho
• Delimitação do tema: jovem
• Ideia principal: escassez de empregos para os jovens – dados estatísticos
• Ideias secundárias: argumentação
• Adultos ocupam vagas;
• Escolaridade;
• Vagas em empregos simples;
66

• Individualismo;
• Análise crítica:
o Basta fazer curso e ter conhecimento que o emprego surge – pensamento
individualista. Cria-se a ideia de que o problema do emprego está no jovem
e não na questão social, nas políticas públicas que não geram novos
empregos;
o Muitos jovens têm escolhido o caminho da prostituição, das drogas por falta
de oportunidades.
• Conclusão:
o Propostas para resolver ou minimizar o problema:
o Projeto nacional para a geração de emprego;
o Programas nacionais: manter o jovem mais tempo na escola – bolsa-escola;
abertura de vagas destinadas aos jovens;
67

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

TEMA 03

PARTE 01 – SEMIÓTICA E TEXTO NÃO-VERBAL – PRINCIPAIS


CONCEITOS
68

7. SEMIÓTICA E TEXTO NÃO-VERBAL: PRINCIPAIS CONCEITOS

Vamos relembrar um assunto já visto anteriormente, a linguagem e sua organização:

A linguagem acompanha o homem em diversos períodos da história: através dos


desenhos nas grutas, por meio dos rituais de povos tradicionais, das danças, das músicas, das
cerimônias e dos jogos; das produções arquitetônicas e da arte: desenhos, pinturas,
esculturas, poética, cenografia etc. (SANTAELLA16, s.a).

Juntamente com a linguagem verbal, oral e escrita, temos outras linguagens que
também representam os sistemas sociais e históricos do mundo. (SANTAELLA, s.a). A
linguagem abrange um vasto campo, tendo em vista que acontece de forma tão intensa na
vida em sociedade e de modo tão diferenciado. Ela envolve, inclusive, a linguagem dos surdos-
mudos, o sistema codificado da moda, da culinária e tantos outros (SANTAELLA, s.a).

Como já vimos anteriormente, sua organização se dá em:

7.1 LINGUAGEM VERBAL17

Dentre as várias formas de comunicação, aquela que utiliza a palavra, ou seja, a


linguagem oral ou escrita é a linguagem verbal, pois o código usado é a palavra. Esse tipo de
linguagem está presente quando falamos com alguém, quando lemos, quando escrevemos.
Pode-se afirmar que é muito presente em nosso cotidiano e se apresenta em diversas formas:
propagandas, reportagens, obras literárias e científicas, comunicação entre as pessoas, em
discursos e em várias outras situações.

7.2 LINGUAGEM NÃO VERBAL

Neste tipo de linguagem, não se usa a língua, mas outros símbolos que podem
significar como: imagens, figuras, desenhos, símbolos, dança, pintura, música, mímica,
escultura e gestos. Dentro do contexto temos a simbologia que é uma forma de comunicação
não verbal.

16
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. Coleção primeiros passos, sem ano. Digitalizado e formatado por:
Projeto de Democratização da Leitura. Acessado in: www.portaldetonando.com.br. Acessado em 17/02/2019.
17
Fonte: BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. rev. e ampl. 14ª reimp. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2004.
FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística: Objetos Teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.
69

7.3 LINGUAGEM MISTA

Esta linguagem utiliza simultaneamente a linguagem verbal e a linguagem não verbal,


usando palavras escritas e figuras ao mesmo tempo.

Agora, que já relembramos como se divide a linguagem, podemos traçar os caminhos


que nos levarão ao campo da semiótica. Não queremos que haja uma base completa da
ciência Semiótica, mas uma compreensão de como a linguagem em toda a sua plenitude
comanda a vida homem e para um bom processo de leitura e interpretação não basta apenas
dominar o campo da linguagem verbal, pois a linguagem não verbal assume papel significativo
no nosso cotidiano.

As informações repassadas nesta parte do estudo são de Fidalgo e Gradim


(2004/2005)18, que ajudam a compreender a semiótica enquanto ciência e como o seu campo
de atuação tem base para auxiliar o universitário a ter uma formação mais efetiva.

A semiótica, quando considerada no plano da comunicação enfatiza a criação dos


significados e a formação das mensagens a transmitir. Toda vez que nos comunicamos, o
fazemos a partir dos signos; essa ação levará o receptor a elaborar outra mensagem também
utilizando signos e assim sucessivamente. Isto dito, parece simples e fácil, mas, na verdade,
há uma série de elementos a se considerar para que esta comunicação se torne eficiente e
atinja o seu poder de comunicar verdadeiramente, vejamos:

• Os tipos de signos utilizados para criar mensagens,


• As regras de formação
• Códigos que os interlocutores partilham entre si
• Denotações e conotações dos signos utilizados,
• Tipo de uso dado aos signos.

Santaella traz uma definição de semiótica que pode clarear o entendimento:

A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens


possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo

18
FIDALGO, António; GRADIM, Anabela. Manual de Semiótica. UBI – Portugal. In: www.ubi.pt, 2004/2005.
70

e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de significação e de sentido.


(SANTAELLA, s.a).

É possível observar que a comunicação não acontece em fluxo, numa sequência, se dá


“como um sistema estruturado de signos e códigos” (FIDALGO e GRANDIM, 2005, p. 19)

Para que se compreenda o processo de comunicação a partir da perspectiva dos


signos, dois conceitos serão apresentados:

Esclareçamos: o signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele
só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma
outra coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do
objeto. Portanto, ele só pode representar esse objeto de um certo modo e numa
certa capacidade. Por exemplo: a palavra casa, a pintura de uma casa, o desenho de
uma casa, a fotografia de uma casa, o esboço de uma casa, um filme de uma casa, a
planta baixa de uma casa, a maquete de uma casa, ou mesmo o seu olhar para uma
casa, são todos signos do objeto casa. Não são a própria casa, nem a ideia geral que
temos de casa. Substituem-na, apenas, cada um deles de um certo modo que
depende da natureza do próprio signo. A natureza de uma fotografia não é a mesma
de uma planta baixa (SANTAELLA, s.a, p. 12).

Vejamos como Fidalgo e Grandim (2004, 2005) classificaram os signos,


compreendendo-os na sua diversidade:

Há muitos e diversos tipos de signos e qualquer definição de signo deverá ter em


conta não só a polissemia19 do termo signo, mas sobretudo a diversidade dos
próprios signos. Mesmo a definição mais geral de signo como algo que está por algo
para alguém reclama que se especifique melhor essa relação de “estar por/para”.
Daí que seja extremamente importante apontar, ainda que não exaustivamente,
diversos tipos de signos, sobretudo os mais importantes.

Vamos compreender como os autores classificaram os signos:

• Sinais enquanto signos que levam a uma ação mecânica ou convencionalmente


pelo receptor. Exemplo: sinais de rádio e de televisão provocam nos receptores
determinados efeitos. Pode-se dizer que há, também, uma aplicação

19
Vários sentidos de uma palavra.
71

convencional dos sinais, como nos casos de “dar o sinal de partida”, “fazer-lhe
sinal para vir”, “dar o sinal de ataque”. Este tipo de signos é utilizado em
máquinas, e é utilizado por homens e animais. Quando toca a campa de uma
escola, foi dado o sinal para vir. Então, a campa da escola é um signo, no caso,
não verbal que comunica. Numa luta ou jogo, quando o juiz dá um sinal com a
mão ou com o apito, os lutadores/jogadores iniciam. O gesto e apito são signos.

Veja baixo uma ilustração de dois tipos de signos: sinais e sintomas

SIGNOS

Sinais Sintomas

• Sintomas são signos compulsivos, não arbitrários, em que o significante está


associado ao significado por um laço natural. Vejamos, a febre está naturalmente
ligada a alguma doença, é um signo que comunica que há alguma infecção no corpo;
se ocorreu uma geada, é um sintoma de que a temperatura atmosférica desceu até
zero graus centígrados, assim, a geada é um signo que traz uma comunicação;
• Ícones são signos baseados na semelhança entre o significante e o significado. Se
temos uma pintura, até mesmo uma fotografia, vamos observar que há semelhança
destes com o objeto pintado ou fotografado. Neste caso, são ícones. Também
quando temos a planta de uma casa, a imagem no espelho, as pessoas vistas pela
televisão. Vamos observar que neste caso, o signo compreende aquilo que tem
semelhança com o ser ou com o objeto, mas não é o ser-no-mundo ou o objeto real.
• Índices são signos em que o significante é contíguo, ou seja, está muito próximo ao
significado. Um tipo importante de índices são as expressões que referem
demonstrativamente, como “este aqui”, “esse aí”, “aquele ali”. Quando afirmamos
“este aqui”, este signo está substituindo ou ser ou objeto. Os números nas fardas
dos soldados também são índices, pois aquele número equivale ao soldado. Mais
72

um exemplo é o relógio, como um índice do tempo, o número do relógio representa


o tempo na realidade.

Abaixo temos dois exemplos de signos: ícones e índices:

SIGNOS

Ícones Índices

➢ Símbolos são signos em que há uma relação convencional entre representante e


representado, sem que haja relação de semelhança ou de contiguidade.
Convencionou-se associar a arara ao supermercado DB; a baleia (considerada peixe)
representa o Santos; Usain Bolt escolheu como símbolo um raio. A relação simbólica
é intencional. Cabe ressaltar, que para ser símbolo há algo de comum entre o
representante e o representado. A arara tem em comum com o DB o fato de
representarem a Amazônia; Bolt é tão rápido quanto o raio; Santos e baleia
(popularmente chamado pela torcida de peixe) se relacionam como símbolo porque
o time do Santos sempre foi ligado aos mares por um fator de localização
geográfica.
➢ Os nomes são signos que, embora sejam convencionais, não há um atributo
intencional para aproximá-los. Ex: Maria é um nome que vai simbolizar um ser, mas
não quer dizer que todas as Marias simbolizam a mesma pessoa. Elas apenas têm
em comum o nome (FIDALGO e GRANDIM, 2005, p. 20-21).

Para efeito de ilustração, abaixo, mais dois exemplos de signos: símbolos e nomes:
73

SIGNOS

Símbolos Nomes

Os signos constituem parte significativa da comunicação humana, seja ela verbal ou


não verbal. Ao estudarmos os signos, conseguimos ampliar nossa visão da linguagem. O apito
do juiz, o toque do despertador, o vermelho do semáforo são signos que têm significado na
vida social e comunicam.

Em síntese, temos vários tipos de signos:

Sinais
Sintoma
Nomes s
TIPOS
DE
SIGNOS
Símbolos Ícones

Índices
74

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

TEMA 03

PARTE 02 – INTERPRETAÇÃO DE TEXTO NÃO VERBAL


75

8. INTERPRETAÇÃO DE TEXTO NÃO VERBAL

Como já explicitado acima, muito da comunicação pode se dar não verbalmente: a


expressão facial diante do que nos alegra ou incomoda, o sorriso, um aperto de mão, são
signos comuns na comunicação humana. A manifestação das emoções humanas é uma forma
de comunicação não verbal e muito revela sobre a individualidade do ser ou mesmo da
coletividade.

Para efeito de organização, Fidalgo e Grandim (2005, p. 131) dividiram a comunicação


não verbal em três grandes áreas:

[...] a área da comunicação facial e corporal, de que o suporte é o próprio corpo; a


área da comunicação pelos artefactos utilizados, jóias, roupas; e a área da
comunicação mediante a distribuição espacial, a posição que os corpos tomam no
espaço, em relação entre eles e em relação a espaços determinados.1 (FIDALGO e
GRANDIM, 2005, p.131)

Nesta divisão, o centro da linguagem não verbal é o corpo, na primeira, as expressões


demonstradas; na segunda os artefatos utilizados e na terceira o espaço que o corpo utiliza.
Por esta perspectiva, pode-se entender a expressão: “o corpo fala”.

A respeito desta questão, Schelles20 (2008) afirma:

O corpo fala e fala mesmo. Aponta as mentiras, expõe verdades inconscientes,


reforça as ideias, dá ênfase à comunicação, favorece ou dificulta o entendimento e
promove a interação com emissor e receptor da mensagem. Sendo assim, a
linguagem funciona como um meio de manutenção ou criação de relações de poder
e controle; pode servir tanto como um fator agregador quanto como colaborador,
dependendo dos objetivos a serem atingidos pelas lideranças e a forma que as
mesmas a utilizam em suas relações profissionais.

Não podemos ignorar o poder da comunicação não verbal e o seu alcance, tendo em
vista que, através dela pode acontecer a comunicação entre povos de língua diferente: gestos,
cores, expressões faciais. Não podemos também acreditar que não haverá comunicação se
houver apenas a linguagem não verbal, prova disso são os filmes, como os de Charles Chaplin,

20
SCHELLES, Suraia. A importância da linguagem não-verbal nas relações de Liderança nas organizações. Revista
Esfera nº. 1 Jan./Jun. 2008.
76

desenhos animados sem fala, histórias em quadrinhos sem fala. Todos eles comunicam,
embora não haja o elemento verbal da língua.

É preciso romper com a ideia de que a linguagem verbal é o único meio de


comunicação humana, pois através de uma cor, estabelecemos a vida ou a morte no trânsito:
verde e vermelho; um som estabelece a hora de entrar e sair da escola; listras brancas no
asfalto sinalizam para o motorista, parada, para o pedestre, passagem; um apito inicia ou para
um jogo. Dessa forma, a linguagem não verbal é tão importante quanto a verbal e está
presente em nossa vida na mesma medida. Basta observar os exemplos abaixo para
compreendermos o poder desta comunicação:

Fonte:www.google.com/Depositphotos Fonte:http://4.bp.blogspot.com/_-

Fonte: recursofacil.com.br Fonte: opsicologoonline.com.br

Ainda temos a linguagem não verbal associada à verbal, o que dá uma nova linguagem,
a híbrida ou mista, com potência para ampliar o poder da comunicação, pois aquilo que as
palavras têm dificuldade para comunicar, pode ser comunicado pela linguagem não verbal e
vice-versa. É uma linguagem rica e na nossa sociedade pós-moderna ganha destaque pela sua
beleza e rapidez na informação, vejamos alguns exemplos abaixo:

oficinaenem.wordpress.com
77

goconqr.com

Para uma melhor compreensão de textos com elementos não verbais, vamos estudar
alguns gêneros de textos e suas especificidades para que possamos ampliar nosso
conhecimento e facilitar o processo de interpretação de texto com linguagem não verbal.
Nesta etapa, os estudos de Guimarães21 (2013) serão fundamentais

A imagem não é apenas um elemento de comunicação, mas pode ser um documento


histórico, pode revelar aspectos muito particulares de um tempo: fotos são a história de
pessoas e épocas, por exemplo. “Como a História está em constante movimento e
transformação, as imagens também estão sempre se construindo” (Guimarães, 2013, p. 127).

Além da imagem se inserir como elemento histórico, também pode trazer para o
presente fatos e pessoas do passado, como afirma Guimarães (2013, p. 128): “Nessa
linguagem tecida de imagens emoldurando as palavras, surpreendem-se ecos de vozes
alheias, antigas ou recentes, iluminando faces e fotos remotos ou próximos, que lançam luz
sobre os mecanismos da memória”. Vejamos nestas propagandas como imagens do passado
são recuperadas no presente:

Fonte: Propagandas Históricas

Nesta propaganda, recupera-se a figura do quadro de Leonardo Davincci, a Monalisa,


para ser utilizada em um anúncio publicitário da Bombril. A figura ilustre de Monalisa é
recuperada para dar um ar de sofisticação e elegância ao produto. No caso deste anúncio, não
linguagem verbal, todo o potencial do anúncio está na linguagem não verbal.

21
GUIMARÃES, Elisa. Linguagem verbal e não verbal na malha discursiva. Revista Bakhtiniana, São Paulo, 8 (2):
124-135, Jul./Dez. 2013.
78

Importante frisar que a pessoa que não conhece a obra de Leonardo Davincci não
conseguirá estabelecer a relação dela com o produto, vai acreditar que se trata apenas da
divulgação do produto com uma mulher na imagem. Sem o conhecimento do passado, a
interpretação do texto será comprometida.

Observe este outro anúncio publicitário que também utiliza conhecimento de outro
contexto do discurso para inserir em seu anúncio:

Aqui, temos linguagem verbal e não verbal, em que há interação entre as linguagens e
uma completa a outra. A informação não está concentrada apenas na imagem, mas as
palavras auxiliam na compreensão. Além disso, temos a referência a um discurso que não
pertence a este anúncio, já foi produzido anteriormente, trata-se da obra do cartunista
Ziraldo, O Menino Maluquinho.

Temos um anúncio da Hortifuti que utiliza o pepino, um produto vendido no


estabelecimento e coloca sobre o pepino o símbolo do Menino Maluquinho, uma panela. Mas
se o anúncio publicitário acabasse aí, talvez não desse o entendimento esperado, assim, a
linguagem verbal é trazida para esclarecer: “pepino maluquinho, o mais levado da hortifruti”.
Com isso, o entendimento torna-se claro, pois há uma clara referência à obra de Ziraldo.

Novamente é preciso esclarecer que para aqueles que não sabem da existência da obra
O Menino Maluquinho, não acontecerá o entendimento pleno. A pessoa vai saber que aquele
estabelecimento vendo pepino, mas terá perdido a beleza do anúncio. Quando apela para a
obra, o efeito esperado é o de sofisticação, de qualidade, de alegria, de versatilidade. Não é
apenas um lugar onde se vende verduras e legumes, é mais que isso. Guimarães (2013, p. 126)
comenta:
79

O movimento do olhar que transita do visível ao nomeado e vice-versa reflete a


estratégia fundamental do discurso da propaganda, ou seja, o intento de persuadir
o leitor a crer na veridicção da imagem e, por conseguinte, o despertar do desejo de
compra do produto anunciado

Já verificamos que a publicidade utiliza com grande competência do hibridismo da


linguagem, por isso, a atenção do leitor, quando se depara com um texto publicitário, é focar
sua atenção para as duas linguagens. A imagem se apresenta num plano tão real a ponto de
se acreditar que a imagem é a realidade

Vejamos o exemplo abaixo de um peru assado. É comum olharmos pra fotos de comida
e sentir vontade de comer, pois as imagens parecem ser a realidade.

Fonte: Blog Menu do Dia - Uol

O discurso publicitário, como pode ser visto, é atraente e persuasivo, pois precisa
alcançar um objetivo maior.

Observe que há diferença entre propaganda e


publicidade. A propaganda tem o intuito de
promover a adesão; já a publicidade desperta o
desejo de compra, de consumo.

Vejamos aqui:

Publicidade Propaganda

Fonte: WordPress.com Fonte: Alex Camilo de Melo, in google

Publicidade e propaganda, embora sejam usados como sinônimo, não são. Vejamos:
80

Propaganda é a atividade associada à divulgação de ideias


(políticas, religiosas, partidárias etc.) para influenciar um
comportamento.

Já publicidade, em sua essência, quer dizer tornar algo


público.

Fonte: Yuri Vasconcelos, in: https://super.abril.com.br/2017

No campo das histórias em quadrinhos, a interação entre imagem e palavra se dá na


maioria das vezes, embora seja possível ter apenas a linguagem não verbal em alguns
quadrinhos. A principal característica do quadrinho, sem dúvida, é a história contada, a
narração, por isso, os quadrinhos se organizam de maneira sequenciada através de imagens,
palavras e balões.

Os balões têm grande importância nas histórias em quadrinhos. É através deles que se
sabe se a conversa e num tom normal, se está gritando, se está pensando.

Fonte: http://nerdseotomeuniverse.blogspot.com.br/

Para garantir uma boa interpretação das histórias em quadrinhos, dois aspectos devem
ser considerados, a narrativa e a união entre imagem e palavra. Caso você queira analisar
separadamente, vai cometer erros, pois:
81

Da mesma forma que cinema, teatro e outras mídias constituídas por elementos
verbais e não verbais, as mensagens em quadrinhos só podem ser compreendidas
como um todo – a separação dos universos da palavra e da imagem corre o risco de
uma informação incompleta e mesmo inconcebível. A possibilidade da compreensão
em totalidade explica-se até mesmo pela forma de composição narrativa,
característica estrutural da história em quadrinhos. O contexto enunciativo, pois, é
reconhecido pelo leitor devido ao conjunto da obra. (GUIMARÃES, 2013, p. 128).

Por outro lado, temos a charge como um gênero discursivo, em que se utiliza a
caricatura como forma de ironizar, satirizar, criticar um fato da atualidade. A caricatura se
caracteriza pelo exagero no traço mais marcante da personagem principal da charge. De modo
geral, as charges ganham conotação política, mas é possível encontrar charges sobre diversos
assuntos.

A charge faz uma espécie de crítica da crítica, o exagero das personagens já se


manifesta como uma crítica, a forma como trata dos problemas sociais também canaliza uma
crítica. Não é possível compreender o sentido de uma charge, sem considerar a crítica que
está sendo feita.

Fonte: blogderocha.com.br

Observe na questão abaixo, como a charge aparece como recurso de interpretação. Há


o elemento verbal e o não verbal que se unem e devem ser interpretados em conjunto. O
tema é o meio ambiente e vai ser tratado como sátira. O aluno deve saber ler a sátira e
compreender a linguagem híbrida para obter sucesso ao responder. Questões como essa são
comuns nas provas e concursos, numa clara demonstração de que a linguagem não verbal
está presente em diversas situações acadêmicas.
82

Quanto à fotografia, ela se apresenta como uma imagem do real, como uma cópia da
realidade. Cada foto corresponde a um período histórico e conta uma sequência de fatos, por
exemplo: estilo de roupa, de cabelo, tipo de construção, organização da cidade. Tudo isso é
possível observar em uma única foto. Exemplo:

Tirada em 1972 por Huynh Cong Ut,


fotógrafo da agência Associated Press,
esta imagem ganhou o Prêmio Pulitzer no
ano seguinte e se transformou no símbolo
da Guerra do Vietnã. Phan Thị Kim Phúc,
a menina da foto, hoje é embaixadora da
UNESCO aos 51 anos.

Lemyr Martins foi autor de uma das fotos


mais famosas do Rei Pelé, no ano de
1070, quando Brasil foi campeão da Copa
do Mundo de Futebol.

Fonte:https://exame.abril.com.br/marketing/10-fotografias-historicas-que-viraram-pecas-publicitarias/

A fotografia para ser interpretada precisa do conhecimento de mundo do leitor, para


saber o tempo e o espaço da foto; da sua sensibilidade para perceber o que se apresenta na
fotografia. Para Barthes (1992, p.23-24), quando queremos saber o sentido de uma fotografia,
devemos atentar a três fatores:

➢ Perceptiva – quando calcada na analogia da foto com a realidade, o que se vê;


➢ Cognitiva – quando depreendida a partir do conhecimento de mundo;
➢ Ideológica – quando se associa a imagem a razões ou a valores culturais.
83

➢ Vejamos alguns exemplos:

Fonte: Revista Pesquisa Fapesp Fonte: Revista Bula Fonte: https://exame.abril.com.br/


Perceptiva Cognitiva Ideológica

Na primeira imagem, na perspectiva da percepção, temos troncos de árvores, 5 visíveis


que nos remetem ao tema do desmatamento da floresta; na imagem seguinte, considerando
a cognição, o conhecimento, somos levado ao filme “um sonho de liberdade”; na última foto,
pelo viés da análise ideológica, vamos compreender Gandhi como um grande líder pacifista,
que usou o jejum como forma de protesto contra as injustiças sociais. Toda fotografia pode
ser analisada nos três aspectos.

Embora pareça simples e fácil analisar os textos não verbais, nem sempre é tão
simples, pois há um nível de complexidade maior. Assim, vejamos como esta questão se
apresenta na prática:

Esta é uma questão do ENEM, 2008, na qual o centro da questão está em uma imagem,
ou seja, linguagem não verbal. Neste caso, é preciso acionar o conhecimento de mundo, o
conhecimento de história para que se possa analisar a imagem e responder o que se pergunta.
É muito comum, em concursos, vestibulares a utilização da linguagem não verbal, por isso, a
importância de estudar como proceder para interpretá-las.
84

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
.
PRODUÇÃO TEXTUAL

TEMA 04

PARTE 01 – COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL


85

9. COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL

Para que se produza um texto não basta colocar palavras em uma folha de papel de
qualquer jeito, é preciso que tenha união das palavras, conexão entre períodos, organização
das ideias, sequência. Para que o texto seja bem desenvolvido, precisamos unir os elementos
gramaticais ao conteúdo e estrutura, em outras palavras, não basta dominar o assunto,
conhecer o tema, é preciso saber colocar no papel.

Muitos alunos reclamam: “eu tenho todas as ideias, mas não sei colocar no papel”.
Falta a este aluno, o domínio da língua de modo que possa fazer uso dela e apresentar suas
ideias através da escrita. Um dos elementos necessários para um bom texto é o conhecimento
dos elementos de coesão (que são também elementos gramaticais), sem eles, as ideias não
ganham sentido no papel, não se transformam em texto.

Na costura, a linha é encarregada de unir o tecido e formar a roupa. No texto, a coesão


é responsável por unir as palavras, as frases, as orações, os períodos, os parágrafos para
formar o texto.

Os principais elementos de coesão se dão através de mecanismos gramaticais, os


principais são: pronomes, preposição, conjunção, substantivos, adjetivos (sinônimo,
antonomásia, hiperônimo, hipônimo etc.), portanto, sem ter domínio destas categorias
gramaticais, será difícil compreender a coesão

Dessa forma, fica claro que só há texto se houver conectividade, coesão, sem isso, tem-
se frases ou textos confusos, truncados, desorganizados, sem sequência.

A coesão é um elemento de fundamental importância na elaboração dos textos,


independente da tipologia, pois, em grande parte, é através deste recurso que o texto pode
progredir e ter certa continuidade harmônica. Não se quer dizer que um texto sem elementos
coesivos seja um texto sem sequência. É possível haver pequenos trechos sem que haja
recursos coesivos e sejam plenamente inteligíveis.
86

Para esta etapa do estudo, a obra de Fávero22 servirá como guia teórico. A autora (S.
A, p. 13) destaca que a coesão textual depende de alguns elementos, como: referência,
substituição, elipse, conjunção. Vejamos primeiramente como se dá a coesão por referência:

1) REFERÊNCIA — quando um signo linguístico se relaciona a um ser ou objeto


extralinguístico. Pode-se dividir em:

ANÁFORA - anafórica: quando o item de referência retoma um signo já expresso no texto.


Quando um nome (seja próprio, comum, simples, derivado ou qualquer outro) é
substituído por um referente (pronome, advérbio, numeral). Pode-se ainda dizer que
primeiro temos o NOME, depois o REFERENTE. Vejamos os exemplos abaixo:

O sonho de Teresa era ser cantora, mas ela ainda não conseguiu realizar esse desejo.

NOME REFERENTE (pronome)

O rapaz ficou preocupado com os últimos acontecimentos. Ele sabia as consequências


de um tsunami.

NOME REFERENTE (pronome)

Moro em Manaus grande parte da minha vida e, mesmo que haja problemas, posso
afirmar que aqui eu sou feliz

NOME

REFERENTE (advérbio)

Como pode ser observado, a anáfora é utilizada para que não ocorra a repetição de
palavras, uma vez que se substitui a palavra por um referente. Importante lembrar que a
anáfora se dá sempre com o referente após o nome.

Outro elemento coesivo também parte da REFERÊNCIA é a catáfora:

22
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e Coerência Textuais. Série Princípios. Ática. Versão digital distribuída
por: http://groups-beta.google.com/group/digitalsource.
87

CATÁFORA (catafórica): quando o item de referência antecipa um signo ainda não expresso
no texto. A catáfora é um processo inverso a anáfora. Primeiro temos o referente, depois
temos o nome.

Vejamos alguns exemplos para melhor compreender:

Ela saiu sem dizer nada, não se despediu e parecia estar preocupada. Lembro-me bem
deste dia porque foi o dia em que minha mãe desapareceu.

REFERENTE (pronome)

NOME

Lá vivi bons momentos, brinquei, nadei, comi frutas tiradas do pé, fui criança e fui feliz.
A casa da vovó me traz doces recordações.

REFERENTE (advérbio)

NOME

Sintetizando, conseguimos coesão em um texto através do processo de referência


utilizando a anáfora ou a catáfora. Estes recursos permitem um texto sem repetição de
palavras, o que levará a um texto mais fluente, com maior progressão:

Coesão por
REFERÊNCIA

Anáfora Catáfora

NOME primeiro, REFERENTE primeiro,


REFERENTE depois NOME depois

Outra forma de obtermos a coesão é pelo processo de substituição:

2) SUBSTITUIÇÃO — colocação de um item no lugar de outro(s) ou até de uma oração


inteira. Pode ser nominal (feita por meio de pronomes pessoais, numerais, indefinidos, nomes
genéricos como coisa, gente, pessoa) e verbal (o verbo “fazer” é substituto dos causativos,
88

“ser” é o substituto existencial). A substituição se dá quando um componente é retomado ou


precedido por uma proforma (elemento gramatical representante de uma categoria como,
por exemplo, o nome; caracteriza-se por baixa densidade sêmica: traz as marcas do que
substitui).

Quando se fala em baixa densidade sêmica, está se afirmando que não há sinônimo
perfeito, não há como fazer uma substituição de uma palavra por outra que tenha o mesmo
significado. O máximo que pode ocorrer é que haja uma aproximação, uma equivalência de
sentido.

A coesão por substituição se dá através de alguns elementos que são utilizados para a
não repetição da palavra, ou até mesmo uma repetição intencional. Vejamos como se divide
a coesão por SUBSTITUIÇÃO:

REITERAÇÃO (do latim reiterare = repetir) é a repetição de expressões no texto (os


elementos repetidos têm a mesma referência). Faz-se a repetição do mesmo item lexical
com o objetivo dar ênfase ao elemento repetido. Neste caso, a repetição é intencional.

Assim era a escola de minha infância: escola do castigo e da punição, escola do


aprendizado e da descoberta.

Água, sinônimo de vida; água do banho e da comida; água do lazer e da purificação;


água salvação da vida humana na terra.

Outra forma de coesão por substituição se dá através dos sinônimos, vejamos:

SINÔNIMOS - A questão da sinonímia é extremamente complexa. Não existe sinonímia


verdadeira, já que todos os elementos léxicos são, de algum modo, diferenciados e a língua
não é um espelhamento simétrico do mundo. Não há sinônimo perfeito. No caso, a
sinonímia é feita considerando não apenas o significado da palavra, mas o seu sentido
dentro do texto. Substitui-se uma palavra por seu equivalente.

O menino tagarelava sem parar, não parava quieto, parecia querer viver tudo em um
só instante. Para a mãe, aquele garoto era a alegria da casa.

Várias vezes fui àquela casa, era grande e iluminada; aconchegante, com um ar de
tranquilidade. Mesmo com o passar do tempo, ainda sinto que é o meu lar.
89

Observe que casa e lar, neste exemplo podem ser considerados sinônimos, mas pode
haver situações em que esta substituição não seria possível.

Outra forma de fazer coesão por substituição é utilizando hiperônimos e hipônimos,


como será apresentado abaixo:

HIPERÔNIMOS E HIPÔNIMOS - Quando o primeiro elemento mantém com o segundo uma


relação todo-parte, classe-elemento, tem-se um hiperônimo; e, quando o primeiro
elemento mantém com o segundo uma relação parte-todo, elemento-classe, tem-se o
hipônimo. Diferentemente dos hiperônimos, os hipônimos permitem maior precisão,
deixando o texto menos vago.

Vejamos, como isso se dá na prática, existem elementos que são amplos e dentro deles
vários outros elementos estão relacionados

A palavra automóvel é o todo, é uma palavra ampla, de categoria maior; Enquanto que
carro, moto, ônibus são palavras que fazem parte do todo – automóvel.

HIPERÔNIMO

HIPÔNIMO

HIPERÔNIMO: nome de maior categoria – flor, eletrodoméstico, fruta, zona da cidade


HIPÔNIMO: nome de menor categoria – rosa, geladeira, banana, bairro

Este recurso coesivo sempre vai aparecer aos pares, seja colocando hiperônimo na
frente e o hipônimo depois, ou vice-versa. Importante saber que também é um recurso para
não repetir as mesmas palavras ao longo do texto.

Muitos doces são produzidos na cidade de Ipixuna, mas a cocada é a especialidade.

➢ Doces – hiperônimo
➢ Cocada – hipônimo
➢ Doce abrange uma amplidão de outros elementos, por isso é hiperônimo;
cocada é apenas um tipo de doce, portanto é hipônimo;
90

O tucano canta alegremente no alto das árvores, mas toda vez que esse pássaro canta,
é sinal de que vai chover.

➢ Tucano – hipônimo
➢ Pássaro – hiperônimo

Tucano está inserido em outro campo de palavra de maior significado, é um tipo de


pássaro, por isso é hiperônimo; já pássaro é a palavra de maior categoria, hiperônimo.

Ainda no processo de coesão por SUBSTITUIÇÃO, temos a Antonomásia ou Expressões


nominais definidas:

ANTONOMÁSIA OU EXPRESSÕES NOMINAIS DEFINIDAS: Quando há retomadas


(repetições) do mesmo fenômeno por formas diversas, esse tipo de reiteração baseia-se
no nosso conhecimento do mundo e não num conhecimento somente linguístico. No
exemplo. São apelidos, profissão, como a pessoa, objeto, lugar é conhecido, características
próprias da pessoa ou lugar, nacionalidade etc.

Vejamos alguns exemplos:

Michael Jackson foi um cantor de grande sucesso nos anos 80, era um artista versátil,
tanto dançava quanto cantava, mas ainda hoje, o rei do pop tem grande prestígio no campo
da música. Pena que o cantor não esteja mais entre nós, pois ainda tinha muito a contribuir
no campo artístico.

NOME COMO É CONHECIDO (ANTONOMÁSIA)

Observe que para não repetir o nome Michael Jackson, utilizou-se um termo como é
conhecido – rei do pop; duas características ligadas à profissão: artista e cantor.

Sabemos que Manaus viveu um período de grande desenvolvimento em algumas áreas


na época da borracha. A Paris dos trópicos investiu em construção como o Teatro Amazonas
que hoje é um dos cartões postais da cidade.

ANTONOMÁSIA COMO É CONHECIDA

NOME
91

Também podemos fazer a antonomásia com nomes de cidades, como é o caso de


Manaus ou com nomes de times.
Para efeito de síntese, podemos observar que a coesão por substituição se apresenta
em 4 campos que podem até se parece, pois todos eles substituem um NOME por outro
NOME, mas cada um deles tem especificidades próprias. Vejamos no esquema abaixo:

Coesão por
SUBSTITUIÇÃO

REITERAÇÃO SINÔNIMO HIPERÔNIMO/HIPÔNIMO ANTONOMÁSIA

Repetição da substituição de substituição de


palavra com o um NOME, por um NOME de Substituição de
objetivo de um NOME MAIOR um NOME por
enfatizar, APROXIMADO CATEGORIA APELIDO,
destacar, por um NOME PROFISSÃO,
chamar DE MENOR NACIONALIDA
atenção CATEGORIA DE, COMO É
(vice-versa) CONHECIDO

Outro elemento de coesão é a Elipse:

ELIPSE – se dá quando há uma omissão de um item lexical recuperável pelo contexto, ou


seja, a substituição por zero (0). Pode ocorrer elipse de elementos nominais, verbais e
oracionais. Neste caso, a coesão é feita pela omissão de uma palavra que já foi dita.

O exemplo abaixo nos dá esta indicação:

O jogador de futebol vivia um momento de grande tensão, pois se não fizesse um gol,
poderia perder seu contrato. Durante a partida, *não mediu esforços para conseguir o que
tanto queria: o gol.

NOME OMISSÃO - ELE


92

*Queria tanto falar com o professor e explicar o que aconteceu, pois *não quero que
ele pense que eu sou irresponsável.

OMISSÃO/EU PRONOME OMISSÃO/EU

Nós saímos cedo para pegar o barco, eles também*

VERBO OMISÃO/SAÍRAM

3) COESÃO SEQUENCIAL: Os mecanismos de coesão sequencial têm por objetivo fazer


progredir o texto, fazer caminhar o fluxo informacional. Não há retomada de itens, sentenças
ou estruturas.

A coesão sequencial normalmente é feita através de conjunções, ligando termos,


orações ou períodos, estabelecendo entre eles uma relação de sentido.

Observe os exemplos abaixo:

Gosto de você. Não gosto do seu irmão – 2 períodos simples, sem conexão.

Gosto de você, mas não gosto do seu irmão

Ideia de adversidade, de pensamento contrário ao primeiro pensamento estabelecido.

Gosto de você e do seu irmão

Ideia de adição.

Você pode observar que a ideia é construída a partir do conectivo, por isso dominar as
conjunções é muito importante. Além disso, pode-se perceber que ao utilizar as conjunções,
o texto progride, se amplia.

Vejamos dois tipos de coesão sequencial: a sequenciação temporal e a sequenciação


por conexão:
93

SEQUENCIAÇÃO TEMPORAL: quando obedece a sequencialização dos enunciados.


Assim, a sequenciação temporal pode ser obtida por:

a) Ordenação linear dos elementos — ordena-se na ordem cronológica dos fatos,


como nos exemplos:
➢ Vim, vi e venci.
➢ Acordou, tomou o café e saiu apressado.
b) Expressões que assinalam a ordenação ou continuação das sequências temporais
– neste caso a ordenação se dá pelo encadeamento dos fatos, na sequência de seus
acontecimentos:
➢ Primeiro vi os pássaros voando e os animais correndo em direção à mata,
depois vi uma grande onda que vinha em minha direção.
➢ Trataremos agora dos elementos de coesão e deixaremos para mais tarde a
elaboração dos parágrafos.
c) Partículas temporais: marcadores de tempo que ficam expressos no texto
➢ Hoje é um dia muito importante, pois vou participar de um evento científico.
➢ Deixarei para resolver tudo isso amanhã, quando tiver mais tempo.

SEQUENCIAÇÃO TEMPORAL

Ordenação linear dos Ordenação


elementos Temporal Partícula temporal

ordena-se na a ordenação se dá pelo


encadeamento dos fatos, Partículas
ordem cronológica temporais:
dos fatos, como na sequência de seus
acontecimentos: marcadores de
nos exemplos:
tempo que ficam
expressos no texto

SEQUENCIAÇÃO POR CONEXÃO: Conectar é unir, juntar. No texto, para que haja
sequência, é preciso unir uma parte a outra, caso contrário, vamos ter apenas frases, não um
texto. Note o exemplo abaixo:

➢ Minha casa é bonita. Eu gosto dela. Todo dia fico feliz por que vou para lá.
94

➢ Para mim, minha casa é bonita e eu gosto muito dela, por isso, todos os dias,
fico feliz em voltar para ela.

Para obter este tipo de coesão, utilizam-se os elementos conjuntivos que são:
advérbios e locuções adverbiais; conjunções coordenativas e subordinativas; locuções
conjuntivas, preposições e locuções prepositivas; itens continuativos como então, daí etc. É
importante destacar que para se obter a coesão, é importante a escolha de conectivo
adequado para expressar as diversas relações semânticas; (p. 14)

→ Separamos para você alguns termos responsáveis pela coesão sequencial nos
textos:

Além disso; também; vale lembrar; pois;


outrossim; agora; de modo geral; por iguais
Adição/inclusão razões; inclusive; até; é certo que; é
inegável; em outras palavras; além desse
fator.
Embora; não obstante; entretanto; mas; no
Oposição entanto; porém; ao contrário;
diferentemente; por outro lado...
Felizmente; infelizmente; obviamente; na
verdade; realmente; de igual forma; do
Afirmação/igualdade
mesmo modo que; nesse sentido;
semelhantemente.
Somente; só; sequer; senão; exceto;
Exclusão
excluindo; tão somente; apenas...
Enumeração Em primeiro lugar; a princípio.
Como se nota; com efeito; como vimos;
Explicação portanto; pois; é óbvio que; isto é; por
exemplo; a saber; de fato; aliás...
Em suma; por conseguinte; em última
análise; por fim; concluindo; finalmente;
Conclusão
por tudo isso; em síntese, posto isso; assim;
consequentemente.
Em seguida; depois; no geral; em termos
Continuação
gerais; por sua vez; outrossim.

9.1 COERÊNCIA

A coerência textual tem relação direta com o sentido do texto. É comum os alunos
afirmarem que coerência é quando tem lógica, ou seja, o texto deve ter uma significação
correta, sem contradição, sem afirmações falsas, sem duplo sentido.
95

A coerência pode ser compreendida como um processo contínuo de sentidos, fazendo


com que o texto tenha interpretabilidade. De acordo com Marcuschi (1986), a base da
coerência é a continuidade de sentidos em meio ao conhecimento ativado pelas ideias do
texto.

Já Platão e Fiorin23, (1998, p. 397) apresentam diferentes níveis de coerência:

COERÊNCIA

COERÊNCIA NARRATIVA COERÊNCIA ARGUMENTATIVA

Quando as implicações lógicas entre Relações de implicação ou de adequação


as partes da narrativa são entre pressupostos ou afirmações
respeitadas. explícitas no texto e as conclusões
decorrentes destes.

➢ Numa narrativa, as ações acontecem num tempo sucessivo, de forma que o


que é posterior depende do que é anterior.
➢ Alguns raciocínios lógicos se prestam como exemplos de incoerência
argumentativa, tais como: Toda cidade tem pobres. João Pessoa tem pobres.
Logo, João Pessoa é uma cidade. Existe nesta afirmação uma inadequação,
entre as “premissas” e a conclusão, pois pode haver pobres em lugares que não
são cidades ou vice-versa.

Temos ainda a coerência espacial e a figurativa, apresentadas abaixo:

COERÊNCIA

COERÊNCIA FIGURATIVA
COERÊNCIA ESPACIAL

Quando há uma compatibilidade entre temas


e figuras ou de figuras entre si. As figuras se
Diz respeito à compatibilidade entre encadeiam num percurso, para manifestar
os enunciados do ponto de vista de um determinado tema, por isso, têm que ser
localização no espaço. compatíveis umas com as outras, senão o
leitor não percebe o tema que se deseja
veicular.

23
FIORIN, J. L. e PLATÃO, F. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1998.
96

➢ Se você faz um texto descritivo, narrativo, deve saber o espaço necessário para ter
determinada visão, porque se o espaço é muito distante, se a personagem não está
posicionada de frente, há aspectos que não poderão ser vistos e isso deve ser
considerado na escrita do texto.
➢ As figuras devem ser estabelecidas de acordo com o tema. Por exemplo, há figuras
esperadas quando se trata de pescaria: canoa, anzol, peixe, rio, isca, pescador etc.

Temos também a coerência do nível de linguagem e temporal, como observamos


abaixo:
COERÊNCIA

COERÊNCIA NÍVEL COERÊNCIA


DA LINGUAGEM TEMPORAL

Compatibilidade do ponto de vista Respeita as leis da sucessividade


da variante linguística escolhida, em dos eventos ou apresenta uma
compatibilidade entre os
nível do léxico e da organização
enunciados do texto, do ponto de
sintática utilizada no texto. vista da localização no tempo.

➢ Incoerente, pois, usar expressões chulas ou de linguagem informal num texto


caracterizado pela norma culta formal. A não ser em textos, cujo gênero seja
permitido tal uso.
➢ As ações temporais devem ser sequenciadas numa temporalidade compatível, de
modo que seja possível ao leitor acompanhar essa sequência temporal. Caso
contrário, efetiva-se uma subversão na sucessividade dos eventos, ocasionando a
incoerência.
➢ Não se deve dizer, por exemplo: “Acordei cedo, hoje, às dez horas. Fui ao trabalho,
vesti a roupa, tomei banho e fui caminhar, depois do almoço...”
97
LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

TEMA 04

PARTE 02 – TIPOS DE PARÁGRAFOS DISSERTATIVOS


98

10. TIPOS DE PARÁGRAFOS DISSERTATIVOS

Quando nos colocamos na condição de escritores, de modo geral, temos consciência de que
devemos construir parágrafos que vão se unir para formar um texto. Ter isso em mente é
fundamental porque então sabemos que o texto é uma construção de partes que vai formar
um todo.
Por isso, nesta primeira parte da produção textual, vamos estudar a construção dos
parágrafos. Como esta disciplina pretende servir de instrumento para uma vida acadêmica
mais consistente, vamos estudar apenas a composição do texto dissertativo.

Apesar de haver técnicas de elaboração de parágrafos dissertativos, não há receitas


prontas. O segredo é prática: aprende-se a escrever, escrevendo. Quanto mais você se dedicar
a esta atividade, mais terá segurança.

Primeiro, vamos compreender o que é um PARÁGRAFO24:

“uma unidade de composição constituída por um ou mais períodos, em que se desenvolve


determinada ideia central, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias, intimamente
relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela” (Othon M. Garcia, p. 220).

Vejamos como este conceito é aplicado na prática:

IDEIA PRINCIPAL A educação é o caminho para o


ponto de vista desenvolvimento de um país

Todos os países desenvolvidos


Ideia secundária
têm boa educação em todos
ARGUMENTO 1 os níveis;

As condições sociais e
financeiras de quem
Ideia secundária alcança o ensino superior
ARGUMENTO 2 melhora para ele e sua
família;

Somente os países com


Ideia secundária educação desenvolvida
ARGUMENTO 3 conseguem produzir
tecnologia

24
Algumas informações foram retiradas do material de: CORREIA, Andreza. Português Instrumental. 2013.
99

Observe que na introdução do texto há a exposição da ideia principal, também


conhecida como: ideia-núcleo, tese, ponto de vista, ideia central. Para provar, comprovar,
discutir a ideia central, será necessário construir parágrafos de argumentação com ideias
secundárias. Após isso, o parágrafo de fechamento, denominado de conclusão.

Para ampliar o entendimento a respeito do que é um parágrafo, vejamos algumas


especificidades:

➢ A mudança de linha e o afastamento da margem esquerda servem como


indicadores de onde começa e onde termina um parágrafo.
➢ O texto é um conjunto de parágrafos:
➢ O parágrafo serve para dividir o texto: como já vimos no organograma acima,
cada parágrafo apresenta uma ideia nova ligada à ideia principal.
➢ O uso adequado do parágrafo possibilita a compreensão do texto, pois cada
ideia poderá ser expressa e desenvolvida em cada parágrafo.
➢ Parágrafo não tem tamanho. Sua extensão depende de como será feita a
abordagem (Othon M. Garcia). Certamente que deve haver uma organização
lógica, um planejamento para que haja harmonia no parágrafo e não tenha
uma grande diferença na quantidade de linhas de um parágrafo para outro.

Observe que estamos tratando da composição do parágrafo, ou seja, uma unidade


menor que o texto, mas este se comporta com uma estrutura de introdução, desenvolvimento
e conclusão, como demonstra o exemplo abaixo:

Tema: desenvolvimento

Delimitação: o desenvolvimento tecnológico X o desenvolvimento humano

Ponto de vista: o ser humano ainda age como animal irracional

Apesar do desenvolvimento tecnológico avançado, o Frase-núcleo


homem ainda age como um animal irracional. Não é
raro vermos homens brigando entre si por questões Desenvolvimento
supérflluas; pessoas morrendo de fome sem receber
auxílio; guerras; solidão; desrespeito gratuíto. O Fechamento do
desenvolvimento tecnológico não melhorou o ser parágrafo
humano, por isso ainda somos atrasados.

Frase núcleo - uma frase como: tema + delimitação do tema + ponto de vista
100

Tema: educação

Delimitação: educação e cultura

Ponto de vista: a educação só consegue mudanças efetivas se ampliar o capital cultural


do aluno.

A educação sozinha não consegue mudanças efetivas, Frase-núcleo


é necessário ampliar o capital cultural dos alunos.
Acesso a livros, cinema, teatro, múscia, shows, dentre
outros eventos culturais solidificam o que é Desenvolvimento
aprendido na escola e faz com estes conteúdos
tenham sentido. Se aliarmos escola e cultura de Fechamento do
forma adequada, os alunos conseguirão uma parágrafo
formação acadêmica sólida.

Vimos até aqui, o que é o parágrafo e como ele se organiza, mas há outros elementos
que são fundamentais para uma boa escrita: a parte gramatical - acentuação, regência,
concordância, ortografia etc. e a elaboração de parágrafos sem lógica, sem concatenação, sem
coesão.

Fique atento para:

➢ Utilizar corretamente as normas gramaticais vigentes;


➢ Não elaborar o parágrafo de qualquer jeito: sem sequência, sem pontuação,
sem os conectivos adequados, sem organização

Antes de iniciar o texto, escrevendo o primeiro parágrafo, a introdução, deve-se refletir


bem a respeito do tema (assunto sobre o qual você vai tratar no texto), pois é a partir dele
que você vai definir a ideia central e as ideias secundárias. É bom que você faça um esquema
antes de iniciar o texto, que coloque todas as ideias que têm, todo o conhecimento antes de
iniciar o texto.

O parágrafo dissertativo se divide em três categorias: introdução, argumentação e


conclusão. Estas três etapas estão divididas e tem funções específicas, porém mantem uma
relação de modo que não sejam parágrafos isolados, mas um texto.

Abaixo, a especificidade de cada parágrafo que compõe o texto dissertativo:


101

INTRODUÇÃO

ARGUMENTAÇÃO

CONCLUSÃO
•Tema •Comprovação do • Síntese do texto
•Delimitação ponto de vista • Apresenta
•Ponto de vista (ideia principal proposta
(ideia princiapal defendida no
defendida no texto)
texto) •Ideias secundárias
para defender a
ideia principal

Analisando cada parágrafo separadamente, podemos ter clareza de como elaborar


cada parágrafo de forma consistente e correta.

A introdução é a apresentação do texto, momento em que se informa o tema, de modo


geral, sua delimitação e o ponto de vista – ideia principal.

Fome no Brasil
Tema: Fome
Delimitação: fome no Brasil
Ponto de vista – ideia principal: a fome no Brasil é causada por conta da má distribuição
de renda

A partir desta esquematização é que vai se constituir os argumentos. Por isso, elaborar
um esquema do texto antes de começar faz a diferença porque já se tem um esboço do que
vai ser tratado em cada parágrafo. Esta organização antes da elaboração do texto é
fundamental para o sucesso da produção. Não importa o tipo de texto, seja um relatório, um
resumo ou qualquer outro texto, o importante é planejar, organizar as ideias antes de iniciar
a escritura do texto.

Há nos manuais de redação, uma série de técnicas para se utilizar como possibilidade
para a construção dos parágrafos dissertativos. Nos manuais, há uma divisão entre técnicas
para a introdução e técnicas para a argumentação. Neste material, considerando que qualquer
técnica pode ser utilizada tanto na introdução quanto na argumentação, vamos conhecer as
técnicas na sua totalidade. Certamente, precisamos ter em mente o objetivo do parágrafo
para poder aplicar a técnica, pois se o parágrafo é de introdução, o objetivo é apresentar o
tema, a delimitação e o ponto de vista; se é um parágrafo de argumentação, o objetivo é
apresentar comprovação do ponto de vista.
102

Assim, vamos conhecer as técnicas que podem ser utilizadas na composição do


parágrafo dissertativo:

➢ TRAJETÓRIA HISTÓRICA:

Apresentam-se elementos do passado e do presente, que sejam similares, que tenha


alguma semelhança. Só é possível fazer uma trajetória histórica se houver fato no passado
que possa ser comparado, de alguma maneira, a outro no presente. A trajetória histórica deixa
o texto com mais sofisticação e mais confiável, pois a história é fato concretizado. Esta técnica
só deve ser utilizada quando houver conhecimento que legitime a fonte histórica. Sem isso,
corre-se o risco de utilizar informação falsa e prejudicar o conteúdo do texto.

Vejamos um exemplo:25

De 1909 a 2002, foram construídas 140 escolas técnicas no Brasil. De 2003 a 2010, houve a entrega de 214
escolas pelo Ministério da Educação (MEC), conforme previa o plano de expansão da Rede Federal de
Educação Profissional, além da federalização de outras escolas em todo território nacional. Até 2012, o país
contava com 354 unidades e mais de 400 mil vagas em todo país. A previsão é de ampliação de mais de 208
novas escolas para serem entregues até 2014, que somarão 562 unidades, gerando, aproximadamente, 600
mil vagas (LOPES, 2013).

➢ COMPARAÇÃO SOCIAL, GEOGRÁFICA OU HISTORICAMENTE

A comparação se dá através de similaridade ou diferença. Pode-se comparar dois


países, dois fatos, duas personagens, enfim, comparar dois elementos, para comprovar o
tema. Observe o exemplo26 em que se compara idosos que vivem em instituições e idosos que
vivem em comunidades:

25
Exemplo retirado do artigo científico de: LOPES, Christiani Bortoloto; BORTOLOTO, Claudimara Cassoli;
ALMEIDA, Shiderlene Vieira de. O Ensino Médio: trajetória histórica e a dualidade educacional presente nas
diferentes reformas. In: PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 34, n. 2, p. 555-581, maio/ago. 2016
http://www.perspectiva.ufsc.br. Acesso em 02/02/2019.
26
KHOURY, Hilma Tereza Tôrres; SÁ-NEVES, Ângela Carina. Percepção de controle e qualidade de vida:
comparação entre idosos institucionalizados e não institucionalizados. IN: Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de
Janeiro, 2014; 17(3):553-565. http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v17n3/1809-9823-rbgg-17-03-00553.pdf.
103

O idoso institucionalizado fica impedido de gerir seus bens, tem restringida a liberdade de administrar seu
tempo; seu espaço; relações sociais, e de tomar decisões. No contexto da institucionalização ocorrem perdas
de referências; do sentimento de pertença, e a vontade individual fica submetida às decisões administrativas
da instituição, podendo conduzir a apatia, passividade, alienação e anulação de identidade – portanto, à
diminuição da percepção de controle. Além disso, observa-se que muitos idosos institucionalizados já são
bem idosos, possuem saúde deteriorada, situação econômico-financeira precária e apresentam história de
abandono ou descaso por parte dos familiares, quadro que os predispõe a baixa percepção de controle.
Diferentemente dos idosos institucionalizados, os idosos da comunidade têm mais possibilidade de exercer
o poder de comando sobre suas próprias vidas, tomar decisões, fazer escolhas – enfim, possuem mais
liberdade para exercer controle sobre o ambiente em que vivem.

➢ CONCEITUANDO OU DEFININDO UMA IDEIA OU SITUAÇÃO

Ao tratar de alguns temas na elaboração dos textos, surgem palavras-chave de


extrema importância e que merecem ser conceituadas para um melhor entendimento do
leitor. Nesses casos, pode-se fazer a definição dessa palavra e continuar o parágrafo com as
informações necessárias. Não se trata de conceituar somente, como demonstra o exemplo:

A qualidade de vida na velhice é fortemente determinada pela manutenção da capacidade funcional –


independência e autonomia. Autonomia se caracteriza pela habilidade de tomar decisões e controlar a
própria vida. Independência é a capacidade para executar as atividades de vida diária. Manter a capacidade
funcional – critério atual de velhice saudável – não depende apenas de fatores orgânicos. Fatores
psicológicos, como as crenças de auto eficácia e a percepção de controle, desempenham papel fundamental
na manutenção da saúde e independência na velhice e estão associadas a qualidade de vida, bem-estar ou
satisfação com a vida. (KHOURY; SÁ-NEVES, 2014)

➢ ENUMERAÇÃO

Um tipo de parágrafo muito consistente é o que utiliza a técnica da enumeração.


Significa estabelecer uma contagem dos elementos relacionados ao tema geral. É um tipo de
parágrafo que têm marcadores próprios como: primeiro, segundo, terceiro; um primeiro
aspecto, além disso, outro fator; em primeira análise, também pode-se destacar, finalmente.
Observe o exemplo abaixo:

O novo decreto não foi desprovido de mobilização e foi perpassado por diversos interesses. Inclusive, houve
três propostas anteriores, que disputavam a sua efetivação e fomentavam o debate em torno do mesmo. A
primeira, ancorada na LDB de 1996, defendia a ideia de revogação do Decreto nº 2.208/1997, bem como o
fortalecimento da organização do Ensino Médio. No mais, criticava a continuidade de mudanças oriundas de
decretos estabelecidos pelo governo, com reprodução de método impositivo anterior. A segunda proposta
defendia a manutenção do atual decreto e propunha apenas mínimas alterações. A terceira posição, por sua
vez, partilhava da ideia da revogação do decreto, defendendo a promulgação de um novo. Esses documentos
ofereceram sugestões de supressão, melhoria e acréscimo para o novo Decreto nº 5.154/2004 (BRASIL, 2004)
(LOPES, BARTOLO, ALMEIDA, 2016).
104

➢ CONTESTANDO UMA IDEIA OU CITAÇÃO, CONTRADIZENDO, EM PARTES

Quando o tema apresenta uma ideia com a qual não se concorda inteiramente, pode-
se concordar com o tema, em partes, ou seja, afirmar que a ideia do tema é verdadeira, mas
que há controvérsias; neste caso, cabe discutir o assunto evidenciando a questão polêmica
relacionada a ele. No exemplo27 abaixo, a autora contradiz a ideia de que a cidade de Brasília
é apenas a beleza de uma cidade planejada por um grande arquiteto:

No Núcleo Bandeirante, por exemplo, conhecida como a cidade pioneira ou cidade livre – que serviu de ponto
de apoio à epopeia da construção da nova capital e abrigava engenheiros, arquitetos, técnicos e
trabalhadores braçais, em seus hotéis e casas feitos de madeira, cujas construções se transformaram em
alvenaria – vivem, hoje, operários que não conseguiram manter as condições de vida que o Plano Piloto fixara.
Assim, constatamos que Brasília subverteu as teorias modernas nas quais seu plano foi baseado. Foi,
realmente, o cair das utopias, o fim do sonho diante da dura realidade social, apesar de todas as fantasias
gestadas durante a década da utopia (1954-1964), marcada pela morte de Getúlio Vargas e pela busca de um
novo centro: progressista, modernista, grandioso e irreal. [...] Diante destas considerações, a cidade nova
engendra um paradoxo: sobre um intenso horizonte, foi construído um dos maiores conjuntos
arquitetônicos modernistas do mundo, encravado no centro de um país, e no seu entorno vivem pessoas
em condições de vida abaixo da linha estipulada pela ONU.

➢ REFUTANDO O TEMA, CONTRADIZENDO TOTALMENTE

Refutar significa rebater os argumentos; contestar as asserções; não concordar com


algo; reprovar; ser contrário a algo; contrariar com provas; desmentir; negar. Isso pode se dar
com temas em o senso comum é tratado como verdade, mas as análises mais aprofundadas
vão mostrar o contrário. Esse tipo de parágrafo é uma forma de você demonstrar
independência e ser autor do seu texto, não apenas um reprodutor de ideias.

A globalização é fato presente da pós-modernidade e se apresenta como positiva para todas as nações,
porém o efeito é extremamente negativo. Modificaram-se as questões éticas, o respeito à diversidade e aos
direitos dos cidadãos. Somente os mais ricos se beneficiam enquanto metade da população mundial está na
miséria. Longe do progresso anunciado pela globalização, temos mais fome, mais violência, mais exclusão,
mais desemprego, mais concentração de rendas, mais insegurança.

27
ALVES, Lara Moreira. A construção de Brasília: uma contradição entre utopia e realidade. In:
https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/brasilia/arquivos/LaraALVES-AconstrucaodeBrasilia.pdf
105

➢ ELABORANDO UMA SÉRIE DE INTERROGAÇÕES

Uma forma de construir o parágrafo é fazer uma série de perguntas, porém alguns
cuidados são necessários: não fazer muitas perguntas, em torno de 3; todas as perguntas
devem ser respondidas, se forem feitas na introdução, serão respondidas na argumentação,
se forem feitas na argumentação, deverão ser respondidas em seguida. Em textos curtos (30
linhas) não se orienta mais que 2 perguntas. Outro cuidado é a qualidade da pergunta para
não ser um questionamento ingênuo, vazio. Observe o exemplo abaixo:

Esse tipo de contexto institucional poderia afetar negativamente a qualidade de vida dos idosos abrigados.
Assim, pergunta-se, como se apresentam as percepções de controle e de qualidade de vida entre idosos
institucionalizados? Haveria relação entre Percepção de controle e qualidade de vida no contexto
institucional? Haveria diferença com relação a estas questões, comparando-se com idosos que vivem na
comunidade? (KHOURY; SÁ-NEVES, 2014)

➢ CARACTERIZANDO ESPAÇOS OU ASPECTOS

A descrição de espaços ou de tempos, ou ainda com uma narração de fatos pode ser
um tipo de parágrafo utilizado no texto dissertativo. Não é necessário fazer uma descrição ou
narração longa para que não perca seu caráter dissertativo. Observa-se a descrição utilizada
em um artigo científico:

A visualidade monumental de Brasília constrói-se por paralelismo e ortogonalismo, em composições de


volumes estanques, cuja percepção é favorecida por grandes distâncias. A monumentalidade brasiliense está
presente, por exemplo, na Praça dos Três Poderes, na Catedral, na Esplanada dos Ministérios e em outros
prédios governamentais. Localizada na escala coletiva ou monumental, no centro de Brasília, a Praça dos Três
Poderes é simbolicamente desenhada como um triângulo equilátero, em cujos vértices situam-se os poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário. Procurou-se depois a adaptação à topografia local, à melhor orientação,
arqueando-se um dos eixos a fim de contê-lo na forma triangular que define a área urbanizada. Idealizado
por Lúcio Costa, esse triângulo é percebido quando se estabelecem, virtualmente, retas de ligação entre os
edifícios, tendo como ponto focal o Congresso Nacional. Sua monumentalidade constrói-se por simetria, na
qual a verticalidade do Congresso Nacional se torna um eixo de referência entre o Palácio do Planalto e do
Supremo Tribunal Federal. (ALVES)

➢ RESUMO DO QUE SERÁ APRESENTADO NO DESENVOLVIMENTO

Uma das maneiras mais fáceis de se elaborar a introdução é apresentar o resumo do


que se vai discutir no desenvolvimento. Para isso, a redação já deve estar toda planejada, pois
serão apresentados um esquema do texto como um todo. Deve-se ter cuidado para não
106

apresentar pontos que não serão discutidos posteriormente no texto. Trouxemos como
exemplo28 um trecho de um trabalho científico:

Neste trabalho, objetivamos investigar se os ditados populares podem ser tratados dentro das teorias da
semântica e da pragmática da mesma forma que as expressões metafóricas. Assim, apresentamos um breve
panorama dos pressupostos teóricos e dos tratamentos dispensados à metáfora pela semântica e pela
pragmática, com o objetivo de verificar a nossa hipótese. Além disso, apresentamos uma pequena
caracterização do que são os ditados populares e quais são as suas diferenças mais aparentes das expressões
idiomáticas. Ao final, apresentamos a semântica dinâmica como uma terceira via para o tratamento desse
fenômeno e uma breve análise dessas expressões dentro de duas teorias dinâmicas.

➢ HIPÓTESE

Apresentar hipótese é se colocar um passo à frente do problema e criar hipóteses


sobre o assunto, que tanto podem ser positiva quanto negativas. E afirmar como o tema vai
se apresentar no futuro a partir das hipóteses. Vejamos como o exemplo apresenta um a
hipótese de que não haverá desenvolvimento sem investir em educação:

Enquanto o país não investir em educação de qualidade em todos os níveis e para todas as classes sociais, vai
continuar subdesenvolvido, sem conseguir melhorar as condições econômicas e sociais, pois somente a
educação pode trazer avanço e progresso. Embora seja um investimento a longo prazo, nenhum país
alcançou o desenvolvimento sem ter feito sérios investimentos no campo da educação

➢ BILATERALIDADE

Trabalhar com a bilateralidade é apresentar aspectos positivos e aspectos negativos,


pontos favoráveis e pontos desfavoráveis do argumento. É trabalhar com os "prós e contras",
sem dar ênfase a apenas um deles. Procure trabalhar com apenas dois parágrafos no
desenvolvimento: um com os aspectos favoráveis; outro com os desfavoráveis.

De um lado, compreende-se a televisão como responsável por noticiar informações fidedignas e


esclarecedoras sobre questões de interesse público, com função de informar o fato de forma mais neutra
possível. De outro lado, ela se apresenta claramente em favor dos interesses políticos e econômicos dos mais
favorecidos, desestimula o pensamento crítico e concentra-se nas questões sensacionalistas, o que
proporciona uma fuga da realidade social.

28
LEGROSKI, Marina Chiara. Quem não tem cão, caça com gato: Uma tentativa de tratamento dos
ditados populares na Semântica Dinâmica. Curitiba, 2011. In:
https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/25479/Dissertacao_Marina_FINAL.pdf?sequence=1
107

➢ CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS

Trabalhar com causas e consequências é apresentar o motivo, o porquê, a causa do


fato; em seguida apresentar o que vai acontecer, como vai ficar a situação por conta do fato.
Veja o exemplo abaixo:

Imbuídos de uma ideologia de formação de capital humano, para o empresariado, os trabalhadores teriam
os ganhos provenientes de sua qualificação, que seriam imediatamente absorvidos por ele mesmo e pelo
setor patronal. Essa era a justificativa para atribuir ao próprio trabalhador a responsabilidade por sua
formação, sendo ele o seu principal financiador. A consequência imediata desse posicionamento foi o
aumento da privatização da educação profissional brasileira (OLIVEIRA,2011).

➢ EXEMPLIFICAÇÃO

A exemplificação é a maneira fácil de se desenvolver um parágrafo da dissertação.


Devem-se apresentar exemplos concretos, que sejam importantes para a sociedade.
Argumente sobre personagens históricas, artísticas, políticas, sobre fatos históricos, culturais,
sociais importantes.

Em uma sociedade muito violenta, veicula-se a ideia de fazer justiça com as próprias mãos. Muitos afirmam
que se fez algo errado precisa pagar e não importa como, porém é preciso considerar a máxima da justiça:
“todos são inocentes até que se prove o contrário”. Assim, não podemos nós mesmos julgar, condenar e
aplicar a pena porque achamos que alguém é culpado, como foi o caso de Fabiane Maria de Jesus, espancada
e morta em São Paulo, ao ser confundida com uma suposta sequestradora de crianças que praticava rituais
de magia negra. Esse é um exemplo de que a justiça deve ser feita de forma correta se não quisermos viver
em um faroeste.

➢ DADOS ESTATÍSTICOS:

Neste tipo de argumento, a comprovação é feita com base em dados concretos que
são apresentados. Normalmente são porcentagens, estatísticas do fato em questão. É um
argumento bem consistente, deve-se apenas ter cuidado para que as fontes sejam seguras e
confiáveis.

Outro fator que pode afetar a percepção de controle nas instituições é o espaço pessoal disponível. Os idosos
institucionalizados geralmente compartilham o quarto com outros idosos. No presente estudo, mais de 60%
dos residentes em ILPIs não tinham um quarto individual, contra apenas 18% dos que viviam na comunidade.
A elevada densidade social do ambiente de moradia é desfavorável à percepção de controle, uma vez que a
privacidade fica comprometida. Isso é especialmente importante no caso do idoso institucionalizado, onde o
único espaço realmente dele seria o próprio quarto (KHOURY; SÁ-NEVES, 2014).
108

➢ CITAÇÃO

Este é um parágrafo consistente e de grande sofisticação, posto que um autor de


renome, com competência no assunto será introduzido no texto para validar as ideias
discutidas. Não basta fazer a citação, é preciso discutir as ideias. Apenas autores com
autoridade no assunto podem ser inseridos no texto.

O Brasil ainda passa fome. Fato real e lamentável em um país com grande produção de alimentos. João Cabral
de Melo Neto em sua obra Morte e Vida Severina chama atenção para este problema: “somos muitos
Severinos iguais em tudo na vida, morremos de morte igual, mesma morte Severina, [...] de velhice, antes
dos trinta; de emboscada antes dos vinte e de fome, um pouco por dia”. Como vivemos em um país desigual,
há muitas pessoas no topo d pirâmide econômica, enquanto muitos sequer conseguem uma alimentação
diária. Sem resolver a questão da fome, não há como desenvolver o país.
109

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

TEMA 05

PARTE 01 - TEXTO DISSERTATIVO: RECONHECER E PRODUZIR


110

10.1 TEXTO DISSERTATIVO: RECONHECER E PRODUZIR

A escrita não pode ser vista, assim como a leitura, como uma mágica ou como um dom,
que uns têm e outros não. Escrever é um processo individual, depende da construção social,
do conhecimento de mundo, do repertório que se construiu. Principalmente, a escrita é um
processo, se aprende a fazer fazendo, a cada dia.

Escrever é também um processo interpessoal, dialógico porque escrevemos a partir


do que outros já escreveram, escrevemos para que outros leiam. Estas são preocupações
importantes: quem eu tomo como base para escrever e para quem escrevo, com qual
objetivo.

Ainda mais, quando escrevo, preciso ter em mente:

➢ Quem eu sou;
➢ Para quem estou escrevendo;
➢ Qual o objetivo;
➢ Estes três aspectos vão definir:
➢ Linguagem;
➢ Nível de formalidade;
➢ Tipo de texto;
➢ Forma como vai ser escrito;

Certamente, uma carta para o presidente da empresa não será escrita da mesma forma
que uma carta para uma pessoa próxima de você: sua mãe, por exemplo. Este aspecto parece
sem importância, mas define o tipo de texto, a linguagem, o nível de formalidade que você vai
utilizar e deve ser pensado antes de iniciar a produção do texto.

Os textos que produzimos são resultado de escolhas feitas previamente considerando


os aspectos mencionados acima e as condições históricas vividas pelo escritor, pois o
vocabulário, as expressões, a sintaxe se alteram com o passar do tempo.

Para escrever um bom texto, podemos dividir sua produção em três partes igualmente
importantes:
111

Pré-textual

TRÊS ETAPAS PARA A


PRODUÇÃO TEXTUAL

Textual Pós-textual

Na etapa pré-textual, o escritor precisa planejar seu texto e organizar todos os


aspectos relacionados ao que vai escrever:

➢ Tema e sua delimitação;


➢ Ponto de vista – ideia principal do texto;
➢ Quais argumentos – conteúdo – ideias secundárias;
➢ Quais técnicas – dados estatísticos, trajetória histórica, enumeração etc.;
➢ Linguagem adequada ao texto;
➢ Como vai estruturar o texto;
➢ Quem eu sou, para quem escrevo, qual o objetivo.

Observe abaixo, os aspectos sobre os quais você precisa planejar antes de iniciar o
texto propriamente dito:
112

Na etapa textual, o escritor vai escrever o texto de acordo com o que planejou. Na
etapa pré-textual, apenas fez um esquema, já na etapa textual, vai desenvolver o texto. Se a
etapa anterior for bem desenvolvida, o escritor terá facilidade na escrita do texto. Sua atenção
será para utilizar o vocabulário adequado e os elementos de coesão corretos.

Nesta etapa vai compor o texto de acordo com o que foi esquematizado. É
imprescindível ter conhecimento sobre o assunto, estabelecer relação de coesão dentro dos
parágrafos e conectar um parágrafo ao outro. O vocabulário também deve estar de acordo
com o nível do texto escrito, em se tratando de texto dissertativo, a linguagem é sempre
técnica, gramaticalmente correta e vocabulário adequado. Evite termos coloquiais como: pra,
coisa, algo, tipo assim, só que, a gente, dentre outros.

Na etapa pós-textual, o escritor vai reler o texto e fazer as correções:

Coesão – se há
Na etapa pós-
repetição de
textual, o escritor Conteúdo – se
Aspectos palavras, se há
vai reler o texto e Vocabulário; está tudo
gramaticais; sequências
fazer as certo;
longas sem
correções:
conectivos.

Como já visto em outra unidade, temos texto dissertativo-expositivo e dissertativo-


argumentativo e ainda os dois juntos. Este tipo de texto serve para toda e qualquer
comunicação acadêmica: responder a uma pergunta na prova, fazer um resumo, uma resenha,
uma análise crítica, um artigo científico, uma monografia, um artigo de opinião etc.

Quanto a estrutura do texto dissertativo, temos:


113

Parte do texto que apresenta a


INTRODUÇÃO proposição, a tese, a ideia central
(ponto de vista central) a ser
desenvolvida.

Consiste na argumentação, no
TEXTO DISSERTATIVO DESENVOLVIMENTO desenrolar da ideia central
apresentada.

Parte final da produção escrita,


em que reafirmamos o nosso
CONCLUSÃO ponto de vista e/ou oferecemos
uma possível solução para a
problemática apresentada.

Mesmo quando o texto for pequeno, por exemplo, para responder a uma questão na
prova, esta estrutura pode ser mantida e certamente vai garantir melhor entendimento por
parte do seu leitor. Por isso é importante escrever constantemente para ir internalizando a
estrutura do texto e internalizar o procediemento de modo que se torne tarefa mais fácil de
ser executada.

Observe, no texto abaixo, como estas três partes estão organizadas:

Tema: desafio da educação dos surdos no Brasil


Marcus Vinícius de Oliveira
No Brasil, o início do processo de educação de surdos remonta ao
Segundo Reinado. No entanto, esse ato não se configurou como INTRODUÇÃO:
inclusivo, já que se caracterizou pelo estabelecimento de um Tema: desafios da educação
dos surdos no Brasil
“apartheid” educacional, ou seja, uma escola exclusiva para tal Ponto de vista: não houve
público, segregando-o dos que seriam considerados “normais” pela inclusão
população.
Assim, notam-se desafios ligados à formação educacional das
pessoas com dificuldade auditiva, seja por estereotipação da ARGUMENTO 1:
sociedade civil, seja por passividade governamental. Portanto, haja CONSTATAÇÃO
vista que a educação é fundamental para o desenvolvimento Estereótipos;
Educação deve ser
econômico do referido público e, logo, da nação, ela deve ser efetivada
efetivada aos surdos pelos agentes adequados, a partir da resolução
dos entraves vinculados a ela.
Sob esse viés, pode-se apontar como um empecilho à
implementação desse direito, reconhecido por mecanismos legais,
a discriminação enraizada em parte da sociedade, inclusive dos ARGUMENTO I1:
CITAÇÃO
próprios responsáveis por essas pessoas com limitação. Isso por ser Discriminação
explicado segundo o sociólogo Talcott Parsons, o qual diz que a enraizada, inclusive
pelos familiares
114

família é uma máquina que produz personalidades humanas, o que


legitima a ideia de que o preconceito por parte de muitos pais
dificulta o acesso à educação pelos surdos.
Tal estereótipo está associado a uma possível invalidez da
pessoa com deficiência e é procrastinado, infelizmente, desde o ARGUMENTO II1:
Período Clássico grego, em que deficientes eram deixados para HISTÓRIA
Deficientes eram
morrer por serem tratados como insignificantes, o que dificulta, deixados para
ainda hoje, seu pleno desenvolvimento e sua autonomia. morrer
[...]
Afinal, dados estatísticos mostram que o número de
brasileiros com deficiência auditiva vem diminuindo tanto em
escolas inclusivas – ou bilíngues -, como em exclusivas, a exemplo ARGUMENTO IV:
EXEMPLO
daquela criada no Segundo Reinado. Essa situação abjeta está Alunos com deficiência
relacionada à inexistência ou à incipiência de professores que auditiva diminuem no
Brasil nas escolas
dominem a Libras e à carência de aulas proficientes, inclusivas e brasileiras
proativas, o que deveria ser atenuado por meio de uma maior
gerência do Estado nesse âmbito escolar.
Diante do exposto, cabe às instituições de ensino com
proatividade o papel de deliberar acerca dessa limitação em
palestras elucidativas por meio de exemplos em obras literárias,
dados estatísticos e depoimentos de pessoas envolvidas com o
tema, para que a sociedade civil, em especial os pais de surdos, não CONCLUSÃO: PROPOSTA
Realizar palestras
seja complacente com a cultura de estereótipos e preconceitos
elucidativas;
difundidos socialmente. Outrossim, o próprio público deficiente Alertar a outra parte da
deve alertar a outra parte da população sobre seus direitos e suas população sobre seus
possibilidades no Estado civil a partir da realização de dias de direitos;
conscientização na urbe e da divulgação de textos proativos em Criar dias de
páginas virtuais, como “Quebrando o Tabu”. [...] conscientização.
Fonte do texto: https://blogdoenem.com.br/redacao_enem_nota_1000/

Ao finalizar as observações do esquema e do texto, você percebe claramente a


estrutura do texto dissertativo de modo claro e eficiente. Embora o exemplo acima seja de
uma redação de vestibular, serve como base para qualquer outro tipo de texto, mesmo se for
mais longo, pois o que será diferente é a quantidade de argumentos, pois a introdução do
texto é feita em um único parágrafo, assim como a conclusão.

A introdução do texto será o guia do texto, esa deve iniciar com uma frase núcleo que
é a síntese do que o texto vai tratar, depois vem um comentário a respeito ou como será
desenvolvido e fecha com uma frase conclusiva. Temos aqui o parágrafo-padrão ou parágrafo-
perfeito, como já estudado anteriormente.

Assim, precisamos seguir alguns princípios que devem ser observados no


desenvolvimento do texto:
115

Unidade: Todas as informações do texto estão conectadas à ideia central apresentado


na frase-núcleo. Os dados, exemplos, citações estão a serviço da ideia central, caso contrário
haverá dispersão das ideias e o leitor não conseguirá compreender sobre o que realmente
você está tratando. Para Sena29 (2004, p. 155):

Trata-se, portanto, de uma característica de fundamental importância, pois, além de


prender o leitor a um único assunto, direciona a bateria de ideias secundárias, ou a
argumentação propriamente dita, para um único alvo. Aumenta, com isso, a
probalidade de persuasão.

Convencimento: o texto dissertativo tem como propósito apresentar argumentos que


convençam o leitor a respeito de uma suposta verdade, etabelecida no ponto de vista. Todo
o esforço durante o texto é para formular a melhor argumentação, por isso os parágrafos de
dados estatísticos, citação, trajetória histórica, exemplos, dentre outros são pensados como
forma de apresentar fatos inquestionáveis.

A parte mais importante da produção de texto dissertativo está na construção dos


parágrafos. Se você dominar plenamente a elaboração dos parágrafos, saberá construir o
texto, pois basta atentar para o que é solicitado em cada parágrafo que compõe o texto:
introdução, argumentação, conclusão.

29
SENA, Odenildo. A engenharia do texto: um caminho rumo à prática da boa redação. Manaus:
EDUA/FAPEAM, 2004.
116

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

TEMA 05

PARTE 02 - TEXTO DISSERTATIVO: ARTIGO DE OPINIÃO,


TEXTO CRÍTICO, TEXTO DE INFORMAÇÃO
117

10.2 TEXTO DISSERTATIVO: ARTIGO DE OPINIÃO

Alguns textos, embora mantenham a estrutura dissertativa, apresentam elementos


próprios de composição e são textos solicitados na universidade, por isso, vamos estudar
alguns deles:

Artigo de opinião: Texto cujo propósito é o convencimento do leitor, porém o autor


deve afirmar um posicionamento explicito. Antes de formular o texto, o autor deve ter
conhecimento não apenas do ponto de vista que defente, mas dos pontos contrários a sua
opinião, pois uma estratégia argumentativa é rebater o que a firma a opinião oposta.

Deve-se considerar ainda o público leitor, para definir a linguagem adequada ao leitor,
embora não seja possível o uso da linguagem informal. O texto deve iniciar de forma que a
opiniaõ defendida já se mostre claramente na introdução e os argumentos voltados para
provar a opiniaõ apresentada, quiasquer um dos tipos de parágrafos apresentados acima
podem ser utilizados como técnica argumentativa. Na conclusão, fecha-se o texto com uma
síntese do que foi papresentado.

Vejamos um exemplo de artigo de opinião:

CADA INDIVÍDUO É RESPONSÁVEL POR SUA CONDUTA


Cassildo Souza
Atribuir à sociedade como um todo a culpa por certos comportamentos errôneos não parece, em minha
maneira de pensar, uma atitude sensata. Costumamos ouvir por aí coisas do tipo “O Brasil não tem mais
jeito”, “O povo brasileiro é corrupto por natureza”, “Todas as pessoas são egoístas” e frases afins. Essa é uma
visão já cristalizada no pensamento de boa parte de nosso povo.
Entretanto, se há equívocos, se existem erros, se modos ilícitos são verificados, eles sempre terão partido
de um indivíduo. Mesmo que depois essas práticas se propaguem, somente serão contaminados por elas
aqueles que assim o desejarem. Uma corporação que, por exemplo, está sob investigação criminal em
decorrência da ação de alguns de seus componentes, não estará necessariamente corrompida em sua
totalidade. Aliás, a meu juízo, isso é quase impossível de acontecer.
É preciso compreender que nem todo mundo se deixa influenciar por ações fraudulentas. De repente o
que alguém acha interessante pode ser considerado totalmente inviável por outra pessoa e não acredito que
seja justo um ser humano ser responsabilizado apenas por fazer parte de um grupo “contaminado”, mesmo
sem ele, o cidadão, ter exercido qualquer coisa que comprometa a sua idoneidade moral.
Todos sabemos que um indivíduo é constituído suficientemente para pagar por suas falcatruas. Por isso,
não concordo que haja julgamento geral. É preciso que saibamos separar o bom do ruim, o honesto do
corrupto, o bom-caráter do mau-caráter, o dissimulado do verdadeiro. Todos têm consciência do que seja
certo ou errado e devem carregar sozinhos o fardo de terem sido desleais, incorretos e vulgares, sem manchar
a imagem daqueles que, por vias do destino, constituem certas facções que não apresentam,
totalitariamente, uma conduta legal.
Fonte: https://centraldasletras.blogspot.com/p/modelos-de-redacao.html
118

Nota-se no exemplo que o centro do texto gira em torno da opinião apresentade de


imediato nas duas primeiras linhas do texto. O que vem a seguir são argumentos que vão
sustentar a opinão paresentada.

Resenha: este tipo de texto mescla dois outros tipos de texto: o resumo e a crítica.
Basicamente a resenha é um texto para apresentar uma obra artística ao público, pode ser:
livro, série, filme, musical, show, peça teatral, CD, enfim, qualquer obra artística. Texto muito
utilizado pelos jornalistas, ganha preferência nas universidades pelo potencial de resumir e
criticar.

O texto apresenta três etapas bem definidas: descrição técnica: em que apresenta a
parte técnica da obra: autor, personagens, editora etc., resumo da obra e análise crítica. Para
efeito de melhor entendimento, serão apresentados 7 passos para se escrever uma boa
resenha:

1) Identifique a obra: coloque os dados bibliográficos essenciais do livro ou artigo que


você vai resenhar;
2) Identifique o autor: quem é o autor da obra que foi resenhada e não do autor da
resenha (no caso, você). Fale brevemente da vida e de algumas outras obras do
escritor ou pesquisador.
3) Apresente a obra: situe o leitor descrevendo em poucas linhas todo o conteúdo do
texto a ser resenhado;
4) Descreva a estrutura: fale sobre a divisão em capítulos, em seções, sobre o foco
narrativo ou até, de forma sutil, o número de páginas do texto completo;
5) Descreva o conteúdo: Aqui sim, utilize de 3 a 5 parágrafos para resumir claramente o
texto resenhado;
6) Analise de forma crítica: Nessa parte, e apenas nessa parte, você vai dar sua opinião.
Argumente baseando-se em teorias de outros autores, fazendo comparações ou até
mesmo utilizando-se de explicações que foram dadas em aula. É difícil encontrarmos
resenhas que utilizam mais de 3 parágrafos para isso, porém não há um limite
estabelecido. Dê asas ao seu senso crítico.
7) Recomende a obra: Você já leu, já resumiu e já deu sua opinião, agora é hora de
analisar para quem o texto realmente é útil (se for útil para alguém). Utilize
elementos sociais ou pedagógicos, baseie-se na idade, na escolaridade, na renda etc.
119

O Conde de Monte Cristo - Resenha


Alexandre Dumas, o grande artista literário que através de sua escrita moldou narrativas que encantaram gerações,
e que retratou a importância da literatura que o consagrou como o maior escritor de entretenimento francês; fez de “O
Conde de Monte Cristo” uma obra que ultrapassou a linha tênue que separa e diminui a história apenas como algo
concebido para entreter.
A obra em questão tem uma importância tão grande, que antecede o magistral “Os Miseráveis” de Victor Hugo
(Confira minha resenha clicando AQUI e confira e resenha de uma versão resumida e postada de “Os Miseráveis” clicando
AQUI), como uma das quatro principais obras-primas de importância histórica, quando o assunto é o retrato democrático
e social da França. Um calhamaço de leitura fácil, que nos hipnotiza e nos leva a uma jornada grandiosa, que tem por
objetivo, apresentar um protagonista que busca vingança aqueles que outrora lhe fizeram mal.
Edmond Dantès é um personagem encantador, que nos assusta tamanha a sua audácia, sua inteligência e sua sede
por justiça. Após ser vítima da armação de três personagens que lhe invejam por motivos diversos, é preso injustamente
no dia de seu noivado e passa quatorze anos enclausurado em uma das piores prisões da época. Com a ajuda do destino,
consegue escapar, se torna milionário e ressurge das cinzas, como a mitológica ave grega, para se vingar de todos aqueles
que foram os forjadores de seu sofrimento. Um tema que fascina a sociedade de maneira geral, que vê nesta jornada a
chance de encarar a aplicação da justiça divina que tanto anseia, aplicada de forma humana. Mas é importante nos
atermos à importância de outra grande obra-prima para a concretização da obra de Dumas.
Não é à toa que o protagonista deste monumento literário se chama Dantès. Assim como Dante de Alighieri, o
personagem central de Dumas passa por três estágios bem distintos que podem ser encarados como o Inferno, o
Purgatório e o Paraíso, muito bem apresentados em “A Divina Comédia.” (Confira a resenha de “A Divina Comédia”
clicando AQUI). Uma jornada de desconstrução e aprendizado psicológico que traz peso narrativo e nos faz refletir sobre
os meambros da vingança como forma de libertação. Não se trata apenas de uma obra sobre vingança, mas sim este
tema atrelado a libertação espiritual de um ser injustiçado.
“O Conde de Monte Cristo”, como entretenimento, tem a força de fluir como um rio tempestuoso, que nos leva a
devorarmos as milhares de páginas em uma velocidade que surpreende. Estruturado como um romance de folhetim, os
capítulos curtos possuem ganchos que te impedem de abandonar com facilidade a leitura e te forçam a continuar a ler,
com a sede de descobrir qual o próximo passo a ser dado pelo justiceiro, que como um Deus, manipula e tece os caminhos
a serem percorridos por aqueles que foram seus predadores, mas que agora se tornaram a caça.
O romance tem personagens tridimensionais, que são magistralmente bem trabalhados, e que nos entregam diálogos
fascinantes, situações magníficas e que nos levam a um labirinto narrativo pouco visto nos romances. O desenrolar da
trama é cheio de curvas, voltas e reviravoltas que nos deixam impressionados pela capacidade criativa de Dumas,
independente das polêmicas que lhe envolvem como romancista.
As comparações com o grande poema épico da literatura italiana, são vários, e reforçam minha teoria de que o
robusto romance aqui resenhado, nada mais é que o outro lado da moeda de “A Divina Comédia.” É o poema
transformado em romance convencional, que transporta os círculos concêntricos de Alighieri, para a estrutura social
francesa, alimentada pela poder monetário que dá força aos meros mortais de exercerem o papel de deuses sociais e de
juízes carcerários.
É uma obra-prima que vai muito além do esperado de um romance folhetinesco, mas que apesar de trazer reflexões
palpáveis e significativas, não perde a graça e nem se envergonha de ser o que é. Um livro que foi criado com o objetivo
de divertir, de envolver e de surpreender, sendo acessível e menos pesado no que tange digestões mentais, o que o difere
e muito com a grande outra obra já citada, a magistral histórica “Os Miseráveis.”
Pra quem tiver oportunidade e interesse, leia “A Divina Comédia” antes de embarcar na jornada tecida por Dumas. É
fascinante constatar e “reencontrar” os personagens épicos caracterizados de forma romantizada. Desde os animais que
interrompem a progresso de Dante Alighieri, apresentados como os algozes do Dante de Dumas, até Virgílio representado
como o abade Faria, o homem que irá lhe servir como mentor.
Apesar de suas amarras como escritor, Alexandre Dumas insere em “O Conde de Monte Cristo” mesmo que de forma
mais leve, críticas sociais, políticas e psicológicas. Uma obra que foi taxada em sua época como subliteratura e que hoje
é uma das obras mais importantes já escritas. A verdadeira grandeza literária eternizada, que nos enriquece como
leitores, como críticos e como cidadãos.
Fonte: Fernando Lafaiete. In: http://www.mundodasresenhas.com.br/o-conde-de-monte-cristo-a-divina-comedia-de-
alexandre-dumas/
120

Importante afirmar que a crítica não é o senso comum: falar mal, dar sua opinião
pautado apenas em conhecimentos superficiais, concordar ou discordar. Criticar é analisar a
obra a partir de outras obras, de conhecimentos científicos, comparar com outras obras, com
a realidade social. É a parte mais importante do texto e a mais difícil de ser construída, porque
precisa de um bom repertório teórico.

Texto de infromação: é um texto em que se expõe um tema, fato ou circunstância ao


leitor. É um texto em prosa, com linguagem clara e direta, cujo objetivo é transmitir
informação sobre algo, estando isento de duplas interpretações. O centro deste texto é a
informação, por isso, não busca adesão do leitor por estratégias de convencimento, mas pela
qualidade da informação.

Diferente dos textos em que o poder de convencer está centrado na opinião, neste
texto, busca-se certa imparcialidade, pois os fatos devem falar por si mesmos.

O texto informativo Tem como função conhecer ou transmitir explicações e


informações de caráter geral. Visa compreender ou comunicar as características principais do
tema:
121

Baleia azul
Por Joice Silva de Souza
Mestre em Ciências Biológicas (UFF, 2016)
Graduada em Biologia (UNIRIO, 2014)

A Baleia Azul (Balaenoptera musculus) é o maior mamífero e, possivelmente, o maior animal a habitar o Planeta Terra,
alcançando até 30 metros de comprimento e peso de 200 toneladas. Para efeito de comparação, o elefante africano, um dos
maiores animais terrestres do mundo, pode pesar até 13 toneladas. Portanto, se fosse um animal terrestre, a Baleia Azul
seria esmagada pelo seu próprio peso, caso não possuísse ossos grandes e pesados para sustentá-la; entretanto, como
um animal marinho, seu corpo é sustentado pela água. Esta relação com a densidade da água e a abundância de recursos
alimentares, são os dois principais fatores que possibilitaram o crescimento extraordinário desta espécie.
Alimentação
Assim como outros cetáceos da subordem Mysticeti, a Baleia azul não possui dentes e alimenta-se exclusivamente de
pequenos crustáceos denominados krill. Estima-se que estas baleias consumam até 4 toneladas de krill por dia, o qual fica
retido em suas “barbatanas bucais”, estruturas formadas por uma série de placas de queratina sobrepostas (entre 260-
400) que ocupam o lugar dos dentes nestes animais. Durante a alimentação, sulcos presentes na garganta da Baleia Azul
se expandem, permitindo a entrada de grandes quantidades de água e alimento em sua boca; quando esta se fecha, a
água é expelida através das barbatanas bucais e o alimento fica retido em seu interior, sendo posteriormente levado ao
estômago com o auxílio da língua.
Ecologia
A Baleia Azul é uma espécie cosmopolita, e realiza migrações sazonais para regiões tropicais durante o inverno com
fins reprodutivos. Já no verão, esta espécie movimenta-se em direção às águas mais frias e produtivas dos polos à procura
de alimento. Estes cetáceos geralmente são avistados em pares, mas podem ser encontrados solitários, em pequenos ou
grandes grupos de até 60 indivíduos (este último associado a áreas de alimentação). Seu corpo alongado e aerodinâmico
contribui para a alta velocidade de natação da espécie, que pode alcançar até 48,3 km/h em situações de alerta. A Baleia
Azul apresenta, em geral, uma coloração azulada-acinzentada, porém nas águas frias da Antártica, Atlântico Norte e Pacífico
Norte costuma apresentar a região ventral amarelo-esverdeada, devido à presença de micro-organismos
do fitoplâncton denominados diatomáceas. Outras características destes animais são a sua cabeça achatada e larga em forma
de U, uma pequena nadadeira dorsal e a emissão de sons de alta e baixa frequência que podem ser ouvidos a milhares
de km de distância. Esta última, inclusive, deu à espécie o título de voz mais poderosa do reino animal, visto que seus
sons podem alcançar até 188 decibéis.
Reprodução
A Baleia Azul atinge a maturidade sexual entre 5-10 anos, e sua gestação dura até 12 meses. O novo filhote nasce
com 7 a 8 metros de comprimento, pesando em média 3 toneladas, e apresenta uma das maiores taxas de crescimento
do reino animal, ganhando até 90 kgs por dia em seus primeiros meses de vida, quando ainda é alimentado pela mãe. Em
geral, um novo indivíduo é adicionado à população a cada 2-3 anos, porém, suspeita-se que este intervalo esteja
diminuindo como resposta à caça destes animais, em uma tentativa de manter suas populações em equilíbrio.
Ameaças
O declínio da Baleias Azul se iniciou no século 20, com o advento de novas tecnologias de navegação e caça, como
navios motorizados e arpões explosivos, e teve seu auge registrado na década de 30, quando mais de 29.000 baleias
foram mortas em apenas uma temporada. Em 1966, a Comissão Baleeira Internacional proibiu a caça destes animais, que
enfrentam obstáculos para sua recuperação até os dias atuais, e são classificadas como ameaçadas de extinção pela IUCN.
A poluição marinha e o aquecimento global são alguns dos desafios enfrentados para a conservação destas baleias, visto que
afetam a disponibilidade de recursos alimentares, comprometendo a sobrevivência da espécie. Algumas das populações
restantes são, inclusive, classificadas como uma subespécie da Baleia Azul conhecida como “pygmy blue whales” (em livre
tradução - Baleias Azul pigmeias), uma versão menor das Baleias Azuis tradicionais.
Referências:
American Cetacean Society: http://acsonline.org/fact-sheets/blue-whale-2/
Animal Diversity Web: http://animaldiversity.org/accounts/Balaenoptera_musculus/
The IUCN Red List of Threatened Species: http://www.iucnredlist.org/details/full/2477/0
WWF Global: http://wwf.panda.org/what_we_do/endangered_species/cetaceans/about/blue_whale/
Arquivado em: Biologia Marinha, Mamíferos
Fonte: https://www.infoescola.com/mamiferos/baleia-azul/
122

O texto de informação também vai se apresentar em anúncios e propagandas. Neste


caso, o poder persuasivo da propaganda vai ser feito pela qualidade da informação. O
anunciante aposta que o produto por si só se vende, sem que seja necessário fazer qualquer
outro tipo de apelo. Observe uma propaganda antiga da Ford:

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como dizem as pessoas para se referir ao tempo: muita água passou por debaixo dessa
ponte, muitos trabalho, muitas apresentações, alguns sacrifícios. Tudo necessário para
construir o conhecimento que nos levará à excelência em uma profissão. Por isso, ter
estudado esta disciplina, ter lido o material só trazem ganho, pois ampliaram o conhecimento
e auxiliaram nas atividades de leitura, interpretação e escrita.

Não se quer dizer que tudo foi assimilado, que este material contemplou tudo dos
conteúdos trabalhados aqui, pelo contrário, o que se estudou neste material foi o mínimo,
diante do muito que há para ser conhecido. Isto nos leva a compreender que precisamos
continuar estudando, ampliando o conhecimento.

Durante este semestre, estudou-se três campos complexos e de muita densidade. O


que foi aqui apresentado é uma parte do grande universo das três grandes áreas que desafiam
os estudantes: leitura, interpretação e escrita. É bom que, ao final deste estudo, alguns
problemas destas três áreas tenham sido solucionados, pois você precisa avançar a cada dia
nestes aspectos e chegar mais preparado ao final do curso quando lhe será solicitado escrita
e leitura em escalas maiores. Assim, o caminho é ler, escrever, interpretar todos os dias.
123

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

LEITURA, INTERPRETAÇÃO E
PRODUÇÃO TEXTUAL

REFERÊNCIAS
124

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Fortes de Oliveira. Rio de Janeiro: AGIR editora, 1974. Copyright de ARTES GRÁFICAS
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