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RESUMO
ABSTRACT
The speed and the excess of information characteristic of postmodernity makes the question of place
identity and memory something relevant. This is because the uncertainties and inconsistencies arising
from the questioning of patterns and paradigms considered as unquestionable from the point of view
of the rationality characteristic of modernism can bring insecurities and some degree of hopelessness.
For some authors, it would tend to generate spaces devoid of meaning and marked by the figures of
excess and spectacle. However, using the theoretical framework of phenomenology through the
notion of place identity and understanding memory as a construction anchored in sensory, affective
and spatial experiences, we believe that the construction of projects and intervention proposals carried
out with the active participation of communities and that refer to their personal and shared experiences
on the use of spaces, can contribute to the construction of significant places endowed with identity.
Assim, neles haveria uma maior tendência à supervalorização do presente por conta do
excesso de informação e por serem locais de passagem, onde a velocidade como efeito da
supermodernidade se tornaria mais perceptível. Estas seriam as condições que inibiriam a
apropriação destes como lugares de memória, uma vez que a
Porém, nossa hipótese é a de que a preservação dos espaços públicos, privilegiando seu
uso como lugares de encontro, brincadeira, ócio e prazer, podem ser planejados e
projetados com a participação ativa das comunidades, de forma a suscitar a memória do
lugar, valorizando os aspectos culturais, sociais e históricos locais e fortalecendo as
relações de vínculo nestes espaços. Isso porque,
Com isso, buscamos colaborar para a reflexão sobre os projetos de revitalização urbana e a
criação de espaços públicos que privilegiem o encontro, o brincar, a experiência do ócio, do
prazer e da sensação de pertencimento, a fim de que estes suscitem afetos, lembraças,
histórias, significados e que possam ser lugares de memória compartilhada, evitando o
efeito de “esvaziamento” da identidade dos não lugares.
Visando trazer o caráter afetivo dos espaços públicos vividos pela comunidade,
compreendemos a cidade vivida como aquela advinda da Escola Fenomenológica, onde um
grupo de pensadores reinvindicaria o papel dos sentidos na percepção e compreensão do
entorno em contraponto às formas urbanas sensorialmente neutras projetadas pelos
arquitetos modernistas. Destarte, utilizaremos o referencial teórico da fenomenologia para
nos auxiliar nas questões sobre a identidade do lugar (VASQUEZ, 2004).
E ainda, compreendendo que a memória afetiva pode ser considerada como uma
construção ou como uma ficção de algo já vivido e que está sempre ancorada em bases
concretas: ambientes, odores, texturas, cores, sons, espaços – acreditamos que
intervenções planejadas nos espaços públicos com a participação ativa da comunidade,
potencializam a construção de experiência significativas do lugar.
RESULTADOS/DISCUSSÕES
Quando nos deparamos com estudos sobre a pós-modernidade, percebe-se que a mesma
implica não só a negação de conceitos modernitas, mas a subversão e questionamento de
todos os valores e parâmetros que pareciam fixos, certos, lógicos e inquestionáveis do
período histórico anterior, trazendo consigo a experiência do nada, do vazio indefinido e da
Haveria, para este autor, uma questão da alteridade transportada para o espaço, onde há a
perda da categoria do outro. Os lugares antropológicos permitiriam relações de
sociabilidade, já os não lugares gerados pelo excesso da supermodernidade permitiriam
apenas relações de contratualidade, pois restritos a um contrato com regras prévias e
baseado em leis de consumo.
Como os não lugares não possuem esse viés relacional, não criariam identidades
singulares, nem relações simbólicas ou de patrimônio comum, gerariam apenas espaços de
circulação e consumo nas cidades. Isso causaria uma uniformização e generalização do
espaço urbano, com a proliferação de espaços com caracterísitcas similares sem relação
com o entorno ou com a cultura local.
A escolha pelos espaços públicos decorre exatamente de suas possibilidades como lugares
de encontro, troca e experimentação, pois, para MELA (1999),
Compreende-se a relação dos sujeitos com o ambiente construído como algo que se faz
através de uma complexa rede de significados, afetos e jogos de poder e não somente pelos
usos e funções aos quais estes espaços de destinam. A dimensão simbólica da cidade
expressa através de suas estruturas físicas e modos de vida, influenciam a construção da
identidade, pois esta se faz sempre num determinado contexto social e espacial precisos.
Mela acredita que a “interação entre os símbolos urbanos e a ação dos habitantes não só
contribui para construir a identidade dos indivíduos como favorece a definição de uma
identidade da cidade [...]” (MELA, 1999, p.147). Esta relação da cidade com os seus
habitantes é, então, uma relação mútua, onde ambos constróem e são afetados pelas
experiências.
Daí a importância da noção de lugar sob o ponto de vista fenomenológico, uma vez que o
mesmo é compreendido para além de suas caracterísitcas físicas e de localização
geográfica.
IDENTIDADE DO LUGAR
Utilizaremos a noção de lugar não apenas por seus pressupostos físicos e quantitativos ou
por espacialidades geometricamente construídas, mas a partir de uma teia complexa
formada por cada indivíduo através da sua rede de relações estabelecidas no espaço
urbano.
Para Norberg-Schulz (1976), um lugar possui uma identidade própria que lhe confere um
características específicas e pessoais. O objetivo de arquitetos e urbanistas seria então o de
Para habitar um lugar é preciso que duas funções psicológicas estejam envolvidas: a
orientação e a identificação com o ambiente. Essa identificação com o ambiente implica que
este propicie uma experiência significativa, havendo uma correspondência entre exterior e
interior e entre corpo e psique.
[...] o lugar, no entanto, tem mais substância do que nos sugere a palavra
localização: ele é uma entidade única, um conjunto 'especial', que tem
história e significado. O lugar encarna as experiências e aspirações das
pessoas. O lugar não é só um fato a ser explicado na ampla estrutura do
espaço, ele é a realidade a ser esclarecida e compreendida sob a
perspectiva das pessoas que lhe dão significado. (TUAN, 1980, p. 387)
Ainda conforme Tuan (1983), o lugar é um espaço que agrega a experiência da vida dos
habitantes, sendo um espaço humanizado no qual se pode habitar. Ele se manifesta através
da personalidade e da história individual de cada habitante em seu relacionamento com o
espaço. O que configura, com esse movimento, um núcleo de significados que conferem ao
ambiente características e afetos singulares compartilhados entre os indivíduos que utilizam
estes espaços. Esta troca mútua confere aos lugares uma identidade.
Assim,
Assim, a identidade do lugar pode ser entendida como uma construção pessoal a partir da
relação entre o indivíduo e o meio onde são atribuídos afetos, experiências, memórias,
ideias e significados a determinados espaços.
Pierre Nora expõe os lugares de memória como aqueles onde apreendemos nossa
diferença, a imagem do que não somos mais. (Op cit. Augé, 2011, p. 53). Assim, esses
lugares de memória nos convidam a olhá-los como um pedaço de história. Os lugares de
memória seriam uma contraposição ao lugar antropológico, pois o lugar antropológico,
segundo Augé, seria geométrico, marcado por linhas e pontos de interseção.
Holzer, (1999), contrapõe essa noção de lugares de memória de Nora (1993) por acreditar
que
Assim sendo,
Por intermédio da poesia nos deparamos com uma dimensão que é, antes
de tudo, emotiva e sensível. Plena de afeto, a arquitetura, é sim, terreno
poético. Tão indelével quanto a concretude e a materialidade do espaço
físico e suas qualidades mensuráveis e físicas. O universo da poesia está
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os espaços publicos, tais como praças, ruas e parques, por serem locais privilegiados no
sentido de possibilidades de encontro, são aqueles onde as propostas de intervenção
tornam-se mais efetivas, exatamente pelo compartilhamento de memórias e vivências. Ainda
que os lugares sejam apreendidos de maneiras diferentes por seus habitantes e usuários, a
identidade do lugar ou seu espírito são estáveis e influenciam na construção da identidade e
na cidadania local.
Esta relação entre o ser e o ambiente construído se faz através de uma complexa rede de
significados que podem ser resgatados através da memória afetiva da comunidade sobre
O intuito dos projetos de ocupação de espaços públicos vazios, deteriorados ou sem uso de
forma coletiva é o de trazer à tona o que TUAN (1983) refere como lugares íntimos, quer
seja, aqueles onde encontramos afeto e onde as necessidades da comunidade sejam
atendidas e consideradas sem o exagero caracterísitico de grandes projetos monumentais
de revitalização.
REFERÊNCIAS
HOLZER, Werther. O lugar na geografia humanista. Revista Território. Rio de Janeiro, Ano
IV, nº7, p.67-78, jul/dez 1999.
JODELET, Denise. A cidade e a memória. In: Projeto do lugar: colaboração entre psicologia,
arquitetura e urbanismo. Del Rio, V.; Duarte, C. R.; Rheingantz, P. A. (org). Rio de Janeiro:
PROARQ/UFRJ, 2002.
LOWENTHAL, David. The past is a foreign country. 20ª Ed. Cambridge: University Press,
2003.
MELA, Alfredo. A sociologia das cidades. Tradução Eduardo Saló. 1ª ed. Lisboa: Editorial
Estampa, 1999.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Tradução Yara Aun
Khoury. In: Projeto História. São Paulo. Nº 10, dez. 1993. pp.7-28.
PINTO JUNIOR, Rafael Alves. A dimensão afetiva do espaço construído: vendo a casa
pelos olhos da poesia. Pós. São Paulo: FAUUSP, V.16, nº 25, p.118-133, jun 2009.
TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo/Rio de Janeiro: DifeI,
1983. 250 p.
TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São
Paulo: Difel, 1980.
VASQUEZ, Carlos García. Ciudad hojaldre: visiones urbanas del siglo XXI. Barcelona:
Editorial Gustavo Gilli, 2004.