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Copyright © 2019, Alfredo Braga Furtado

Direitos desta edição reservados a Alfredo Braga Furtado Printed in Brazil/Impresso no


Brasil

Projeto Gráfico: Alfredo Braga Furtado


Capa: Manoel J. S. Neto
Editoração Eletrônica: Alfredo Braga Furtado
Revisão: Fernando Allan Delgado Furtado.

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Como escrever artigos científicos, dissertações e teses. 2ª edição/ Alfredo
Braga Furtado,
Belém: abfurtado.com.br, 2019.
205 p. il. 23 cm
Inclui bibliografias
ISBN. 978-65-80325-11-5

1. Redação técnica. 2. Teses. 3. Publicações científicas. I. Título. CDD – 2ª ed. 808.066


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Alfredo Braga
Furtado (foto by Cláudia Santo).
SOBRE O AUTOR DESTA OBRA:
Alfredo Braga Furtado é doutor em Educação Matemática
(Modelagem Matemática) pelo Instituto de Educação Matemática e
Científica (IEMCI) da UFPA; possui mestrado em Informática pela
PUC/RJ e especialização em Informática pela UFPA. É escritor,
professor e palestrante. Áreas de interesse: Engenharia de
Software, Educação Matemática, Gerência de Projetos,
Empreendedorismo, Didática, Metodologia Científica, Literatura.

Aposentou-se como professor associado da Faculdade de


Computação do Instituto de Ciências Exatas e Naturais da UFPA.
Foi analista de sistemas da UFPA de 1976 a 1995. Foi professor da
UFPA de 20/08/1978 a 21/02/2018.

Contatos: abf@ufpa.br, abf2000@uol.com.br,


www.abfurtado.com.br. A relação de obras do autor encontra-se nas
últimas páginas do livro.

Para meu pai, Matheus ( in memorian)


Para minha mãe, Beatriz (in memorian)
Para meus irmãos, Paulo, Matheus e Mariza Para meus filhos,
Alfredo André e Fernando Allan E para ela.
Apresentação
O que aparecer aspado foi escrito na primeira edição.

“ Assumi uma incumbência em reunião do Grupo de Estudos em


Modelagem Matemática (GEMM) do Programa de Pós-graduação
em Educação em Ciências e Matemáticas (PPGECM) do Instituto de
Educação Matemática e Científica (IEMCI) da UFPA em 2017: fazer
uma exposição sobre redação científica. Para dar conta da tarefa,
decidi escrever um meta-artigo1 com o título dado a este livro, para
ficar como um registro da apresentação”.

“ Ocorre que o artigo ficou longo demais na sua versão inicial: trinta
e nove páginas. Nesta altura, o GEMM tinha tomado a decisão de
publicar livro com sua produção dos últimos meses. Submeti meu
meta-artigo, afinal eu o tinha produzido para atender atividade
realizada para o Grupo. Mas, por questão de escopo, a inclusão não
foi aceita pelos organizadores porque o livro teria temática
específica ligada à Modelagem. Ainda sugeri que figurasse como
artigo convidado. Também não foi acatado: o número de páginas
excedia ao limite fixado”.

“ Decidi ampliar o artigo, transformando-o em livro, mas não um só:


planejei dois. Este, exatamente com o mesmo título do metaartigo, e
outro, específico para os cursos de graduação, sobre a elaboração
de trabalho de conclusão de curso (TCC), cujo título é Como
Escrever Trabalhos de Conclusão de Curso (Graduação)”.

“ É preciso frisar que há partes comuns nos dois livros. É lógico que
o que vale para os dois livros não foi reescrito: no máximo foi
ajustado. Por isso, os trechos em que caracterizo a redação
científica, em que apresento as formas de citação, em que mostro
as formas de referenciar uma obra consultada, em que comento os
erros frequentes que fui colecionando ao longo do tempo de
orientação de trabalhos de graduação e de pós-graduação, todas
estas parcelas dos livros são comuns aos dois. Unificar tudo em
uma obra só não me pareceu facilmente realizável e nem que ficaria
bem didaticamente”.
1 Meta-artigo– artigo que trata de como escrever artigo.

“ Aliás, a sugestão de publicar os dois livros me havia sido feita,


durante a exposição do meu meta-artigo, pelo Prof. Adilson Oliveira
do Espírito Santo, criador e coordenador do GEMM. Refleti sobre o
assunto e acatei a sugestão”.

“ É o que trago ao leitor para apreciação. Sem a mínima pretensão


de esgotar o assunto: os interessados em empreender tais tarefas
(escrita de artigo científico, de dissertação ou de tese) tomem o
presente livro como a visão de quem tem trabalhado em torno
destes assuntos por muitos anos, de uma ou de outra forma
(redigindo ou orientando), e traz sua percepção como contribuição
para as discussões que o tema enseja. Pelo menos, talvez, para
iniciar estas discussões. Quem sabe alguma das dicas ou
orientações constantes do livro não lhe será útil?”.

“ A presente obra não trata da formatação do artigo, da dissertação


ou da tese. Para obter informações sobre o formato do texto do
artigo, o periódico ou o evento que os recepciona publica modelo a
ser seguido pelos autores. Com relação ao formato do texto da
dissertação ou da tese, cada instituição de ensino de pós-graduação
normalmente publica roteiro com base nas normas da ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas) aplicáveis a cada tipo
de trabalho a ser submetido à sua apreciação. O foco desta obra é
na estruturação adequada do trabalho– seja artigo (organização em
seções), seja dissertação (organização em capítulos e seções), seja
tese (organização em capítulos e seções)– na identificação dos
elementos necessários à sua composição e na sua redação”. O que
esta segunda edição traz de novidade em relação à anterior (de
2017)? Incluí um capítulo novo – o de número 5 – com exemplo de
estrutura de artigo científico e de tese que levam em conta, em
linhas gerais, as orientações apresentadas na Seção 4.4 (“Estrutura
do artigo científico, dissertação ou tese”) do Capítulo 4 (“Aspectos
Teóricos da Redação Científica”).

Ao utilizar o livro em minhas aulas, observei que precisava


preencher esta lacuna: fornecer exemplo ilustrativo (real) de artigo
científico e de tese bem estrutada.

A Seção 8.2 (“Alguns Exemplos de Melhorias em Texto”) ganhou


três exemplos adicionais.

Além disso, foi incluída a Seção 8.3 ( “Exercícios de Correção de


Textos”), com 155 frases para serem analisadas e, quando
necessário, corrigidas pelo leitor. Faço comentário depois de cada
uma das frases, apontando a correção devida, quando é o caso. No
fim de cada capítulo, foi incluída a seção “Leitura e Reflexão”: ela
consta de textos extraídos de meus livros de crônicas (ao todo 20
textos foram incluídos nesta obra); são abordados assuntos ou
casos relevantes, para reflexão.

O Capítulo 9, Metodologia, foi ampliado, com a inclusão da seção


(9.1) que descreve as técnicas de levantamento de dados; também
a seção (9.2) que descreve os tipos de pesquisa de acordo com o
procedimento técnico (pesquisa empírica, pesquisa teórica,
pesquisa teóricaempírica, pesquisa histórica, estudo de caso,
revisão sistemática da literatura); a seção (9.3) que descreve os
níveis de profundidade da pesquisa (pesquisa exploratória, pesquisa
descritiva, pesquisa explicativa).

Auguro que haja proveito na leitura.


Belém, 21 de fevereiro de 2019.
Alfredo Braga Furtado
SUMÁRIO
Resumo................................................................................... 12
Abstract................................................................................... 12

1. INTRODUÇÃO.................................................................... 13
Leitura e Reflexão 1: Wittgenstein........................................... 16
Leitura e Reflexão 2: Capital humano...................................... 16
Leitura e Reflexão 3: Para ter brio........................................... 17

2. CIÊNCIA E CONHECIMENTO CIENTÍFICO...................... 18

2.1 Definição de ciência e de conhecimento científico........... 18


2.2 Tipos de conhecimento científico...................................... 21
2.3 Assunto tratado no artigo científico, na dissertação ou na
tese......................................................................................... 26
Leitura e Reflexão 4: Segredo da mestria.............................. 29

3. PROJETO DE PESQUISA.................................................. 30

3.1 Modelos de formatação para projeto de pesquisa e para artigo


científico......................................................................... 30
3.2 Exemplo de projeto de pesquisa........................................ 31
Leitura e Reflexão 5: Esgotamento de área de conhecimento 36
Leitura e Reflexão 6: Pergunta para o início do dia de trabalho 38
Leitura e Reflexão 7: Lei das consequências não pretendidas 38

4. ASPECTOS TEÓRICOS DA REDAÇÃO CIENTÍFICA...... 40

4.1 Características desejáveis do texto científico.................... 40


4.2 Pontos que valorizam um texto científico........................... 44
4.3 Elaboração do artigo/dissertação/tese............................... 46
4.4 Estrutura do texto científico (artigo ou dissertação ou tese) 48
4.4.1 Introdução....................................................................... 50
4.4.2 Informação de contexto (opcional).................................. 50
4.4.3 Revisão do estado-da-arte ou referencial teórico........... 51
4.4.4 Definição do problema ou questão de pesquisa............. 51
4.4.5 Descrição da solução do problema ou resposta à questão de
pesquisa................................................................ 52
4.4.6 Conclusões..................................................................... 53
4.4.7 Referências..................................................................... 53
4.5 Inclusão de ilustrações, tabelas e quadros........................ 54
4.6 Plágio................................................................................. 55
Leitura e Reflexão 8: Plágio em congresso científico.............. 57
Leitura e Reflexão 9: Mudança de autoria............................... 58

5. ESTRUTURAS DE ARTIGOS CIENTÍFICOS, DISSERTAÇÕES E


TESES ...................................................................... 59

5.1 Exemplo de estrutura de artigo científico........................... 61


5.2 Exemplo de estrutura de tese ........................................... 63
Leitura e Reflexão 10: Estratégia para criatividade................. 68

6. COMO FAZER CITAÇÃO DE OBRA CONSULTADA...... 70

6.1 Citação direta................................................................... 70


6.2 Citação indireta................................................................ 70
6.3 Citação longa................................................................... 71
6.4 Citação de citação............................................................ 72
6.5 Notas de rodapé............................................................... 73
6.6 Sistema numérico para citação........................................ 73
6.7 Casos especiais que envolvem citações em notas de
rodapé.................................................................................... 74
6.8 Fonte sem elementos essenciais ao registro da referência 80
Leitura e Reflexão 11: Conceituando paradigma................... 80

7. DIFERENTES TIPOS DE REFERÊNCIAS........................ 85

7.1 Referência de livro........................................................... 86


7.2 Referência de capítulo de um livro................................... 86
7.3 Referência de TCC ou monografia de graduação ou
especialização........................................................................ 87
7.4 Referência de dissertação de mestrado........................... 87
7.5 Referência de tese de doutorado..................................... 87
7.6 Referência de artigo e/ou matéria de periódico............... 87
7.7 Referência de artigo de jornal.......................................... 88
7.8 Referência de dicionário e enciclopédia........................... 88
7.9 Referência de documento de acesso por meio eletrônico 88
7.10 Referência de correio eletrônico (e-mail)....................... 88
7.11 Referência de artigo publicado em anais de congresso 88
Leitura e Reflexão 12: Erro é para aprender......................... 89

8. ALGUNS ERROS FREQUENTES DE ESCRITA.............. 93

8.1 Lista de erros frequentes.................................................. 93


8.1.1 Períodos longos............................................................ 93
8.1.2 Emprego de gírias......................................................... 94
8.1.3 Roteiro das ideias a serem apresentadas..................... 94
8.1.4 Uso da palavra através................................................. 94
8.1.5 Uso do pronome relativo onde...................................... 95
8.1.6 Por isso......................................................................... 96
8.1.7 Haja vista...................................................................... 96
8.1.8 Porventura.................................................................... 96
8.1.9 Uso da vírgula.............................................................. 96
8.1.10 A fim de...................................................................... 98
8.1.11 Mas/mais.................................................................... 98
8.1.12 Por que, por quê, porque, porquê.............................. 99
8.1.13 Uso de mesmo, mesma, mesmos, mesmas.............. 100
8.1.14 Uso de cujo, cuja, cujos, cujas................................... 101
8.1.15 Expressão em anexo.................................................. 101
8.1.16 Ir de encontro a/ir ao encontro de.............................. 102
8.1.17 Implicar em/implicar................................................... 102
8.1.18 Sujeito preposicionado............................................... 103
8.1.19 Particípio passado de verbo abundante..................... 103
8.1.20 Por ora/por hora......................................................... 105
8.1.21 Subjuntivo de alguns verbos– erros comuns............ 105
8.1.22 Perca/perda................................................................ 105
8.1.23 Uso do travessão....................................................... 106
8.1.24 Ambiguidade.............................................................. 106
8.1.25 Paralelismo sintático.................................................. 107
8.1.26 Paralelismo semântico............................................... 109
8.1.27 Gerundismo................................................................ 110
8.1.28 Cacófato..................................................................... 110
8.1.29 Clichê.......................................................................... 111
8.1.30 Ter no lugar de estar................................................... 112
8.1.31 Mim/eu ....................................................................... 112
8.1.32 Texto científico – texto literário................................... 112
8.1.33 Acordo ortográfico...................................................... 113
8.2 Alguns exemplos de melhorias em texto......................... 116
8.3 Exercícios de correção de textos..................................... 126
Leitura e Reflexão 13: “Se liga”.............................................. 159

9. METODOLOGIA................................................................ 161
9.1 Técnicas de levantamento de dados............................... 161

9.1.1 Pesquisa documental.................................................... 161


9.1.2 Pesquisa bibliográfica ................................................... 161
9.1.3 Contato direto................................................................ 162
9.1.3.1 Entrevista.................................................................... 162
9.1.3.2 Coleta conjunta de informações ................................ 165
9.1.4 Aplicação de questionário............................................. 167
9.1.5 Observação................................................................... 168
9.2 Tipo de pesquisa de acordo com o procedimento técnico 168
9.2.1 Pesquisa empírica......................................................... 169
9.2.2 Pesquisa teórica............................................................ 169
9.2.3 Pesquisa teóricaempírica.............................................. 169
9.2.4 Pesquisa histórica......................................................... 170
9.2.5 Estudo de caso............................................................. 170
9.2.6 Revisão sistemática da literatura.................................. 171
9.3 Níveis de profundidade da pesquisa................................ 174
9.3.1 Pesquisa exploratória.................................................... 174
9.3.2 Pesquisa descritiva....................................................... 175
9.3.3 Pesquisa explicativa...................................................... 175
9.4 Abordagem quantitativa/abordagem qualitativa............... 176
9.4.1 Abordagem quantitativa................................................. 177
9.4.2 Abordagem qualitativa................................................... 177
Leitura e Reflexão 14: Algo mais para aprender ainda?....... 183
Leitura e Reflexão 15: Maquiavel e a mudança..................... 184
Leitura e Reflexão 16: Motivos para fracasso de implantação de
tecnologia.......................................................................... 185
Leitura e Reflexão 17: O que pode em uma tese................... 187

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................ 188

Leitura e Reflexão 18: Deming define gerência.................... 188


Leitura e Reflexão 19: Lidando com carência e/ou insuficiência de
recursos............................................................................ 189
Leitura e Reflexão 20: Balizamento ético.............................. 190

REFERÊNCIAS..................................................................... 191

Anexo A – Modelo de projeto de monografia, dissertação ou


tese................................................................................... 195
Relação de obras do autor.................................................... 199
Resumo
Este livro objetiva apresentar elementos para redação de um artigo
científico ou de um trabalho acadêmico (dissertação de mestrado ou
tese de doutorado), destacando as características desejáveis que
este tipo de texto deve apresentar (concisão, precisão, não
ambiguidade, clareza, objetividade, imparcialidade, coerência,
obediência à norma culta da língua), sua estrutura e os padrões a
que está sujeito. Apresenta estrutura de um artigo científico e de
uma tese (reais) que adotam o modelo proposto no livro. Contém
uma relação de erros frequentes cometidos em redação científica.
Descreve as formas de fazer citação de obra no texto e de como
preparar as referências às obras citadas. Por fim, apresenta os
elementos necessários à informação dos procedimentos
metodológicos do trabalho.

Palavras-chave: Redação científica; Tese de doutorado.


Abstract
Dissertação de mestrado;

This book presents elements for writing a research paper or an


academic work (dissertation or doctoral thesis), highlighting the
desirable characteristics for this type of text (conciseness, accuracy,
no ambiguity, clarity, objectivity, impartiality, consistency, obedience
to the cultural norms of the language), its structure and the
standards to which it is subject. It presents the structure of a
scientific article and a thesis (real) that adopt the model proposed in
the book. It contains a list of frequent errors made in scientific
writing. It describes the ways of citing works in the text and how to
prepare references to the works cited. Finally, it presents the
necessary elements to the information of the methodological
procedures of the work.

Keywords: Scientific writing; Masters dissertation; Doctoral thesis.


1. INTRODUÇÃO
A redação científica tem suas características próprias, distintas das
usuais e permitidas em outros tipos de escrita (como a literária e a
jornalística, por exemplo).

O objetivo básico da redação científica é prestar informações sobre


os resultados de um projeto de pesquisa, seja ele parte de um
programa de pós-graduação stricto sensu (dissertação de mestrado
ou tese de doutorado) ou não.

As exigências para esta comunicação – por meio do artigo científico


ou por meio da dissertação ou da tese– são essencialmente as
mesmas.

Trata-se de uma questão de escala: enquanto o texto da dissertação


ou da tese exigem um mínimo de 45 páginas (com média frequente
em torno de 100 páginas), o artigo científico deve ocupar de 9 a 12
páginas. Às vezes, o tamanho do texto do artigo é expresso em
número de palavras. Por exemplo, mínimo de 3.000 palavras e
máximo de 6.000 palavras são os limites adotados pela Conferência
Nacional sobre Modelagem na Educação Matemática (CNMEM) em
seus eventos. Naturalmente, isto depende do evento ou do periódico
para o qual o trabalho será submetido. Por isso, recomenda-se que
o pesquisador, antes de iniciar a redação de seu artigo, identifique o
evento ou o períódico de seu interesse, e obtenha o modelo
(template) utilizado.

Com respeito ao que distingue uma dissertação de uma tese,


Chinneck (1999) aponta que não é o formato, mas a relevância e o
nível da descoberta expresso pela solução do problema resolvido ou
pela questão de pesquisa respondida e também o sumário de
contribuições científicas trazidas pelo trabalho.
A tese de doutorado necessariamente envolve a solução de um
problema mais difícil ou a resposta para uma questão de pesquisa
mais complexa, e que traga contribuições originais e mais
relevantes para o alargamento da fronteira do conhecimento na área
em que a pesquisa foi desenvolvida.

Já a contribuição de uma dissertação de mestrado pode cingirse à


melhoria incremental para a área de conhecimento em questão, ou
ater-se à aplicação de uma técnica conhecida em um novo contexto.
De novo, como afirmado acima, trata-se de uma questão de escala.

Há normas que precisam ser obedecidas pelo pesquisador ao


redigir seu artigo, dissertação ou tese. Caso não as observe, o
trabalho não será concretizado adequadamente.

O propósito deste livro é descrever estas exigências de forma bem


geral, como contribuição à reflexão de quem se dispõe a
empreender tal esforço, e para apresentar balizamentos iniciais para
o texto do artigo, da dissertação ou da tese.

O objetivo de um projeto de pesquisa é produzir conhecimento novo.


Entenda-se conhecimento novo (aqui expresso) de forma ampla –
indo desde a aplicação de uma técnica conhecida em alguma área
diferente à de origem até à concepção nova que provoca mudança
na forma como se aborda ou se soluciona dado problema.

O artigo científico, a dissertação ou a tese são a forma de explicitar


como este conhecimento novo foi produzido. Isto precisa ser feito,
respeitando normas científicas, convenções estabelecidas e
requisitos como imparcialidade, precisão, clareza, coerência, e
alguns outros atributos mais (identificados adiante).

A organização do livro é descrita na sequência.


No Capítulo 2 são definidos os limites da ciência e caracterizado o
conhecimento científico.

No Capítulo 3 definimos projeto de pesquisa. Normalmente no


âmbito de projetos de pesquisa é que esforços de investigação
científica são realizados e que acabam por redundar na escrita de
artigos científicos e mesmo de dissertações ou teses.

No Capítulo 4 são apresentados aspectos técnicos da redação


científica, com ênfase para as características peculiares deste tipo
de texto, como para sua estruturação em capítulos ou seções; este
Capítulo é finalizado com a caracterização de plágio.

No Capítulo 5 são apresentadas as estruturas de um artigo científico


e de uma tese, que podem ser tomadas como referência pelo leitor
para o seu texto específico, em termos de abrangência,
organização, concatenação de conteúdo, completude. O capítulo
inicia com a identificação de características de artigos, dissertações
e teses com boa organização das partes componentes.

O Capítulo 6 mostra como fazer citação a uma obra consultada para


evitar incorrer em plágio.
O Capítulo 7 mostra como fazer as referências dos diferentes tipos
de obras citadas no texto.

Se o Capítulo 4 descreve uma visão macroscópica do texto


científico, o Capítulo 8, por sua vez, procura contemplar aspectos
microscópicos, com a apresentação de uma lista (parcial) de erros
frequentes, verificados pelo autor na função de orientador de
estudantes de graduação e pós-graduação.

O Capítulo 9 focaliza os aspectos metodológicos do texto científico,


dando conta de como a investigação foi realizada. Seguem-se as
considerações finais no Capítulo 10 do livro.

LEITURA E REFLEXÃO 1
De Ludwig Wittgenstein, filósofo austríaco, naturalizado britânico,
1889-1951:

– Sentimos que, mesmo depois de serem respondidas todas as


questões científicas possíveis, os problemas da vida permanecem
completamente intactos.
– Que bom que não me deixo influenciar!
(Extraído da rede).
LEITURA E REFLEXÃO 2

Extraído de FURTADO, A. B. Outros Casos e Percepções. Belém:


abfurtado.com.br, 2018.
Capital humano

O capital humano é o nível de qualificação de um povo. A qualidade


do seu capital humano explica o atraso do Brasil. Como superar?
Investimento pesado em educação. Investir não só recursos
financeiros, nem só incentivar a “pedagogia do concreto” (a
construção de escolas), mas buscar a melhoria da qualidade da
educação. De que forma? Incentivar a qualificação de professores,
adotar boas práticas gerenciais, atrair melhores profissionais por
meio de melhoria da remuneração para a área educacional, acabar
com a estabilidade no emprego (para acabar com a acomodação),
aplicar meritocracia para renovação dos contratos de trabalho e
para atribuição de gratificações.

Os países que atingiram nível de excelência em educação fazem


isto. Faz sentido manter práticas que, comprovadamente, não
funcionam?

LEITURA E REFLEXÃO 3
Extraído de FURTADO, A. B. Outros Casos e Percepções. Belém:
abfurtado.com.br, 2018.
Para ter brio

Um dos quatro vídeos do Youtube que tenho recomendado para


meus alunos é de Clóvis de Barros Filho, professor de Ética da USP,
em que ele recomenda a uma de suas turmas a leitura das três
primeiras páginas de “A Fundamentação da Metafísica dos
Costumes”, do filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804).

Ele recomenda que o aluno leia várias vezes cada parágrafo; só


passe ao seguinte depois de entender bem o significado de cada
frase. Por isso, ele antecipa que o estudante vai levar uma hora nas
três páginas.

Segundo ele, com a leitura, o aluno vai fazer a experiência de


entender um texto difícil. Se o estudante disser que não se interessa
por questões filosóficas, ele provoca: é para provar que você tem
brio, que consegue entender. Afinal, como alguém pode escrever
algo e você não entender?

Com sua forma idiossincrática, recorrendo com frequência a


palavrões, ele relata exemplos de suas dificuldades pessoais com a
leitura.

No fim, ele diz que o estudante, com este esforço, prova que tem
brio, que pode progredir intelectualmente, que pode aprender o que
quiser sozinho.

Se não atribui a si esta tarefa e dá cabo dela integralmente, ao


contrário, prova que é mais um exemplo vivo de preguiça e
covardia.
2. CIÊNCIA E CONHECIMENTO
CIENTÍFICO
Iniciamos com a definição de ciência e com a apresentação de seus
limites. E também trazemos o conceito de conhecimento científico–
produto buscado pelos projetos de pesquisa, no âmbito de cursos
de pós-graduação ou não. Não é concebível um artigo que se
pretenda científico que não traga conhecimento relevante para a
ciência; o mesmo pode-se dizer em relação a uma dissertação de
mestrado e, mais ainda a uma tese de doutorado, pela exigência de
originalidade e pela relevância (esperada e cobrada) de sua
contribuição para o avanço da fronteira do conhecimento na área
em que seja desenvolvida.
2.1 DEFINIÇÃO DE CIÊNCIA E DE
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
No Houaiss et als. (2009), encontramos como definição de ciência,
dentre várias outras:

– etimologicamente, a palavra provém do Latim– scientia– com o


significado de conhecimento, saber, ciência, arte, habilidade (I);

– conhecimento amplo adquirido via reflexão ou experiência (II);

– corpo de conhecimentos sistematizados adquiridos via


observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas
categorias de fenômenos e fatos, e formulados metódica e
racionalmente (III);

– conhecimentos que, em constante interrogação de seu método,


suas origens e seus fins, obedece a princípios válidos e rigorosos,
almejando especial coerência interna e sistematicidade (IV);

– cada um dos inúmeros ramos particulares e específicos do


conhecimento, caracterizados por sua natureza empírica, lógica e
sistemática, baseada em provas, princípios, argumentações ou
demonstrações que garantam ou legitimem a sua validade (V).

A primeira definição informa a origem da palavra, com o significado


de conhecimento, saber, arte, ciência. A segunda definição acima
aponta a amplitude do conhecimento resultante de reflexão ou de
experiência. A terceira definição menciona também um corpo de
conhecimentos, resultante de “observação, identificação, pesquisa e
explicação” de fenômenos e fatos, que tenham sido formulados
mediante aplicação de métodos apropriados e da razão. A quarta
definição traz o questionamento constante do processo
metodológico para garantir coerência interna e aplicação resultante
de processo sistemático. A quinta definição identifica a ciência como
cada um dos inúmeros ramos do conhecimento, destacando a
“natureza empírica, lógica e sistemática”; além disso, esta base
empírica, lógica e sistemática deve apoiarse em “provas, princípios,
argumentações, demonstrações” para “garantir” ou “legitimar” sua
validade.

Jung (2004, p. 4) define ciência como “ a atividade que propõe a


aquisição sistemática de conhecimentos sobre a natureza biológica,
social e tecnológica com a finalidade de melhoria da qualidade de
vida, intelectual ou material”. Observe que Jung aponta que a
ciência busca conhecimentos em três aspectos da natureza –
biologia, sociedade e tecnologia – com o fim de conseguir a
“melhoria da qualidade de vida”, intelectual ou materialmente.

Para Alfonso Ferrari (1974) apud Jung (2004, p. 60), ciência é “todo
um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao
sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser
submetido a verificação”. Sobressai na definição proposta por
Ferrari a delimitação do objeto da pesquisa científica, como também
a exigência de que os resultados sejam passíveis de reprodução. É
por isso que Demo (2005, p. 33) afirma que “tudo o que fazemos em
ciência deve poder ser refeito por quem duvide”. Com isto ele não
quer dizer que só vale o que tem base empírica. Assevera também:
mesmo as teorias precisam ser associadas a realidades que
possibilitem algum controle sobre o que é afirmado.

Há casos registrados na história da ciência de resultados que, por


não ter sido possível sua reprodução depois em outros centros de
pesquisa – respeitadas as condições metodológicas especificadas
pela equipe de pesquisa nos relatórios originais – reafirmaramse
como fraudes. Ora, o que a equipe de pesquisa fazia neste caso era
ficção. Definitivamente: ciência não é ficção!

Nas ciências experimentais, o procedimento científico desdobrase


da seguinte maneira: para um dado problema identificado que
mereça investigação, uma hipótese é formulada; o pesquisador vai
atrás de confirmá-la ou não. Às vezes, neste esforço para confirmar
ou rejeitar a hipótese, o pesquisador precisa repetir experiências ou,
até mesmo, alterar a hipótese inicial. Este processo é repetitivo,
iterativo. Segue até que ele consiga mostrar que a conclusão é
válida, e em que situações isto ocorre.

Desta forma, a ciência busca compreender a realidade, valendose


ora da intuição do pesquisador, ora do empirismo, ora do
racionalismo, descobrindo relações entre os fenômenos, de modo a
possibilitar prever comportamentos.

O conhecimento científico tem caráter temporário, nunca é absoluto


ou final; a busca incessante por avançar a fronteira da área
possibilita que o conhecimento estabelecido seja modificado ou
substituído por novo (JUNG, 2004).

Com os avanços nos meios de comunicação, a disseminação de


informação atinge hoje camadas da sociedade que antes ficava
inacessível. O conhecimento científico não tem ficado restrito aos
cientistas, aos que convivem no ambiente acadêmico ou aos que o
utilizam profissionalmente. O contingente que se interessa pela
Ciência e acompanha os desenvolvimentos científicos é cada vez
maior.

Com respeito à abordagem sobre a escolha do assunto a tratar no


artigo/dissertação/tese, Eco (2007, p. 10) enuncia um princípio
fundamental: “quanto mais se restringe o campo, melhor e com mais
segurança se trabalha”. Especificamente sobre a elaboração de
uma tese, ele avalia que a monográfica é preferível a uma tese
panorâmica. E afirma que é melhor que a tese pareça um ensaio do
que uma enciclopédia.
2.2 TIPOS DE CONHECIMENTO
CIENTÍFICO
Comecemos com a menção aos diferentes tipos de conhecimento, e
suas breves definições, até chegarmos à caracterização do
conhecimento científico.

Os seguintes tipos de conhecimento são comumente aceitos:


conhecimento popular, conhecimento mítico, conhecimento
filosófico, conhecimento religioso (ou teológico), conhecimento
científico.

Oliveira (2008) descreve resumidamente o aparecimento dos vários


tipos de conhecimento ao longo da história, começando com o
conhecimento empírico, passando pelo mítico (pré-história, mitologia
grega), filosófico (Pitágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles, Galileu,
Descartes, Kant, Hegel, e outros), teológico (promórdios da Idade
Média) e o conhecimento científico (séculos XVI e XVII, saindo da
visão teocêntrica para a antropocêntrica).

O conhecimento popular ou empírico é aquele resultante da


tradição, da cultura, do senso comum. É obtido por processo de
“tentativa e erro”, e passado de pessoa para pessoa, ao longo dos
anos, estabelecendo-se como tradição ou cultura. É assistemático,
ametódico, acrítico. É subjetivo, superficial (OLIVEIRA, 2008).

O conhecimento mítico tem sua origem nas indagações do homem


acerca do universo, da origem da vida, da natureza. Os mitos eram
formulados, buscando explicar a realidade, os fenômenos naturais,
o comportamento humano, sem reflexão crítica, e eram transmitidos
de geração para geração, incorporando-se à cultura e à tradição dos
povos (OLIVEIRA, 2008).

Um exemplo desse acervo de conhecimentos é a mitologia grega,


constituída de narrativas dos mitos dos gregos antigos que, ainda
hoje, nos encanta com suas explicações sobrenaturais para as
inquietações do homem.

O conhecimento filosófico é aquele ligado à construção de ideias e


conceitos. Com esse conhecimento busca-se uma concepção
racional para a realidade, por meio da indagação e do debate; ele
versa sobre questões metafísicas, imensuráveis (OLIVEIRA, 2008).

O conhecimento religioso (ou teológico) é aquele oriundo da fé


teológica. A visão teocêntrica (visão centrada em Deus) passa a
prevalecer a partir do início da Idade Média2 e por todo esse
período: o conhecimento é produto da fé e da crença nas escrituras
sagradas.

Com a substituição do sistema feudal pelo sistema capitalista,


ocorrida nos séculos XVI e XVII, a visão teocêntrica deu lugar à
visão antropocêntrica (visão centrada no homem). Essa transição
ocorreu, mas houve forte resistência da Igreja– os defensores da
nova visão eram reprimidos e julgados por heresia pela Inquisição
Romana. Muitos deles foram condenados à morte.

O conhecimento científico advém da ruptura da verdade


estabelecida (teocentrismo)– agora não mais oriunda da fé, e sim
resultado da razão e da experimentação.

Contribuíram para conso-lidação desta mudança o astrônomo


Nicolau Copérnico (1.473-1.543), o astrônomo Johannes Kepler
(1.571-1.630), o teólogo e filósofo Giordano Bruno (1.548-1.600), o
físico e astrônomo Galileu Galilei (1.564-1.642)– considerado o “pai
da ciência moderna” – defendia o método empírico, o filósofo
Francis Bacon (1.561-1.626), o filósofo e matemático René
Descartes (1.596-1.650) e o físico e matemático Isaac Newton
(1.643-1.727).
2 Idade Média refere-se ao período da história da Europa entre os séculos V e XV.

Giordano Bruno foi condenado à morte na fogueira pela Inquisição:


acusado de heresia por apontar a existência de erros teológicos.
Galileu foi condenado por desobediência, mas não à morte; ele
defendia postulações contrárias à doutrina católica.

O conhecimento científico caracteriza-se pela forma como é obtido,


de modo que possa ser verificado. Para ser estabelecido como tal, o
conhecimento científico exige que se encontre uma explicação
racional para o fenômeno observado. Os sustentáculos do
conhecimento científico são a metodologia e a racionalidade.

Por fim, antes de passar aos detalhes sobre os tipos de


conhecimento científico, vejamos o conhecimento em outra pers-
pectiva: conhecimento explícito e conhecimento tácito.

O conhecimento explícito é aquele que se encontra documentado,


ou que é passível de ser documentado; é o conhecimento de que se
tem consciência (e é registrável).

O conhecimento tácito é aquele resultante da experiência, da


prática, dos erros cometidos; é o conhecimento internalizado por
uma pessoa, mas de que ela não tem consciência de possuir.
Quando necessário, ela o utiliza de forma intuitiva.

Pelo menos cinco tipos de conhecimentos científicos podem ser


identificados: 1) hipótese científica; 2) descoberta ou achado
científico; 3) modelo científico; 4) lei científica; 5) teoria científica.

Hipótese é o conhecimento de mais baixo valor na escala de


importância, pois carece ainda de confirmação, por meio de
observação ou de experimentação.
A hipótese é composta por uma sentença declarativa, constituída de
argumentos, em forma de proposições; comumente, a hipótese
relaciona duas ou mais variáveis; é testável, por meio de
observação ou experimentação (JUNG, 2004).

Demo (2005) afirma que a hipótese informa aonde queremos


chegar, o que se quer mostrar, descobrir ou testar. Ele a define
como uma pergunta aberta, formulada “como subterfúgio de
orientação durante o processo“ (op. cit., p. 129). E assinala:
“hipótese é a bússola da pesquisa” (p. 130). Dependendo do tipo da
pesquisa a ser realizado, a hipótese pode ser substituída por
questões de pesquisa ou por questões norteadoras (ALVES, 2003).

As hipóteses podem ser afirmativas ou condicionais. As hipóteses


afirmativas podem ser positivas ou negativas.

Um exemplo de hipótese afirmativa positiva: “o uso de Modelagem


com Tecnologias Digitais melhora os resultados obtidos no processo
de ensino e de aprendizagem de Matemática” (FURTADO, 2014, p.
23). A pesquisa que tiver por base tal hipótese deve comprovar a
afirmação feita. O resultado da investigação (comprovação ou não
da hipótese) produz conhecimento científico.

É óbvio: uma hipótese afirmativa negativa expressa uma negação.

Um exemplo de hipótese condicional: “Se houver utilização de


tecnologias digitais nos processos de ensino e de aprendizagem,
haverá maior efetividade na assimilação de conhecimentos pelos
estudantes”.

Além da formulação de hipóteses, essencial para a execução de


uma investigação, adotam-se também a redação de questões
norteadoras da pesquisa. O direcionamento para a resposta a estas
questões leva à aproximação quanto à confirmação ou à negação
da hipótese.
Exemplo de questões norteadoras:
“a) Em que condições a utilização das Tecnologias Dig itais com Modelagem Matemática
potencializa a aprendizagem?
b) Por meio de avaliação qualitativa, em que medida isto se dá?” (FURTADO, 2014, p. 23).

Já um achado ou uma descoberta científica resulta em novos


conhecimentos sem que aquela finalidade específica tivesse sido
explicitada durante o planejamento do estudo (JUNG, 2004).
Descobertas arqueológicas ou biológicas com frequência originam-
se de achados.
Uma lei científica é aplicável à parte do universo, e não à sua
totalidade. Um exemplo de lei científica é: “A água ferve a 100º C,
em recipientes abertos, no nível do mar quando aquecida” (JUNG,
2004, p. 17).

Uma teoria científica propõe uma explicação mais abrangente do


que uma lei. Ou seja, ela refere-se à totalidade do universo em
questão (JUNG, 2004). Um exemplo de teoria científica é a Teoria
da Relatividade Geral, proposta em 1.915 por Albert Einstein, físico
teórico alemão (1.879-1.955).

Ao lado da Mecânica Quântica, a teoria da Relatividade Geral é um


dos pilares da Física Moderna.

Só mais de um século depois, em fevereiro de 2.016, David Reitze e


Kip Thorne, físicos americanos, anunciaram em conferência que
haviam detectado as ondas gravitacionais, confirmando, assim, a
teoria formulada por Einstein. Ele havia intuído que a gra-vidade
atuaria como corpos que deformam o espaço a sua volta, atraindo
para o centro tudo o que se encontra ao seu redor (VEJA, 2016).

A hierarquia do conhecimento científico determina: hipótese – mais


baixo valor; achado ou descoberta– baixo valor; modelo científico –
valor intermediário; teoria – alto valor; lei científica – mais alto valor
científico dentre todos.
2.3 ASSUNTO TRATADO NO ARTIGO
CIENTÍFICO, NA DISSERTAÇÃO OU
NA TESE
Normalmente, a produção de conhecimento científico ocorre no
âmbito de projetos de pesquisa, de que estudantes e orientadores
façam parte. A redação de artigo científico serve para divulgação de
resultados da pesquisa realizada. Com base na produção de artigos
científicos é que as dissertações de mestrado e as teses de
doutorado são viabilizadas pelos programas de pós-graduação,
chegando ao desfecho com as publicações.

Há programas de pós-graduação que exigem que uma dissertação


de mestrado e principalmente uma tese de doutorado só chegue à
defesa quando determinado número de publicações em periódicos
da área em questão (e com dada qualificação) tenha ocorrido. A
aceitação para publicação significa, de certa forma, que o trabalho
elaborado pelo estudante conta com o reconhecimento da
comunidade da área, em termos de relevância científica.

A definição do objeto de investigação do trabalho (seja para redação


de um artigo científico, de uma dissertação de mestrado ou de uma
tese de doutorado) é resultado de acordo entre orientador e aluno,
com a proposição sendo feita por uma ou outra parte.

O alcance da investigação feita pelo aluno deve permitir demonstrar


sua capacidade de fazer pesquisa bibliográfica a respeito do
assunto definido, de levantar trabalhos relacionados ao seu na
literatura da área, de tecer considerações que apontem o diferencial
de seu trabalho em comparação com os trabalhos relacionados
existentes na literatura da área respectiva.

Isto feito, ele deve demonstrar domínio conceitual, de técnicas,


métodos e ferramentas utilizadas na área do trabalho para
desenvolver o artefato ou o documento proposto no objetivo do
artigo científico, dissertação ou tese.

Por fim, é desejável que submeta à avaliação de um grupo de


potenciais interessados ou usuários do artefato ou documento
elaborado. Como fechamento do trabalho, ele registra possíveis
recomendações ou melhorias a serem introduzidas no artefato ou
documento.

Com o desenvolvimento do artigo científico, da dissertação ou da


tese, é desejável que fique comprovada a capacidade do aluno de
identificar uma contribuição científica relevante para a área, de
especificá-la, de desenvolvê-la, e de avaliá-la, comprovando o
alcance dos objetivos propostos.

A defesa da dissertação ou da tese é feita tão logo o orientador


avalie que há condições para tal. Ou seja, quando o orientador
aprova o texto final. Banca examinadora composta de três docentes
(o orientador e dois membros) é designada pelo coordenador do
curso para fazer a avaliação da dissertação; para a defesa de tese,
a banca é composta de cinco membros, um dos quais o orientador;
dois membros pertencentes ao programa de doutorado e dois
membros externos ao programa. Com frequência, a defesa é
marcada para data posterior (pelo menos uma semana para a
dissertação; um mês para a tese) à entrega pelo estudante do texto
final (aprovado pelo orientador) à secretaria do curso. Assim,
garante-se que os dois membros da banca da defesa de dissertação
(ou os quatro membros da banca de doutorado) leiam o trabalho
antes da defesa. O resultado da avaliação pela banca examinadora
pode ser: 1) trabalho aprovado; 2) trabalho aprovado com
modificações sugeridas pela banca; 3) trabalho rejeitado.
Os trabalhos podem ter caráter teórico e teórico-prático. Os
trabalhos teóricos são menos comuns. Trabalhos teórico-práticos
são mais frequentes, pois os estudantes podem demonstrar domínio
de procedimentos metodológicos aplicáveis à dada teoria da área
em questão, como também de ferramentas, de técnicas e de
métodos utilizados para o desenvolvimento de artefatos ou de
protótipos.

Dentre os trabalhos teóricos que podem ser desenvolvidos,


sobressaem os levantamentos bibliográficos a respeito de tópico
específico de interesse, com abordagem transversal ou longitudinal
em relação ao tempo, ou podem ser realizados tendo como fonte
bases de dados diferentes. A abordagem transversal diz respeito a
uma data específica; abordagem longitudinal refere-se a um dado
período de tempo (um ano, uma década, por exemplo).

Outro exemplo de trabalho teórico é a revisão sistemática de


literatura acerca de dado assunto. Este assunto é aprofundado no
Capítulo 9 (Metodologia).

No próximo Capítulo, tratamos da formulação de projetos de


pesquisa, que são planos para realização de investigações
científicas, em que escopo, justificativa e relevância, objetivos,
metodologia de trabalho, tempo de duração, recursos necessários–
de toda natureza, sejam humanos, financeiros e materiais – são
identificados e delimitados. No âmbito de projetos de pesquisa é que
dissertações ou teses são desenvolvidas. Como afirmado, os artigos
científicos escritos por mestrandos ou doutorandos servem para
divulgação das investigações realizadas.

LEITURA E REFLEXÃO 4
Extraído de FURTADO, A. B. Outros Casos e Percepções. Belém:
abfurtado.com.br, 2018.
Segredo da mestria

Li em “Maestria” de Robert Greene (Rio de Janeiro: Sextante, 2013):


estudos foram realizados sobre a vida de pessoas que
sobressaíram como mestres em sua área de atuação, como pintura,
política, literatura, educação, esporte, ciência, e muitas outras. Um
padrão foi identificado na vida destas pessoas: pelo menos 10.000
horas de dedicação para atingir a mestria. A explicação não foi
alguma genialidade inata.
Como triunfar na atividade profissional sem a correspondente
dedicação? Há quem ache que dá. Não! Não dá! No máximo serão
medíocres (aqui medíocre na acepção de mediano).
3. PROJETO DE PESQUISA
Como afirmado no capítulo anterior, um artigo científico é produzido
normalmente no âmbito de um projeto de pesquisa, como forma de
comunicar os resultados produzidos e, ao mesmo tempo, contar
com o respaldo e a chancela de periódicos ou de eventos nos quais
seja recepcionado, ratificando a relevância da investigação
realizada. Da mesma maneira, TCCs, dissertações e teses podem
ser listados como possíveis resultados produzidos ou previstos em
projetos de pesquisa coordenados pelo orientador.

Como todo projeto, o de pesquisa também precisa ter objetivo


claramente definido, ter metas factíveis, ser viável financeiramente,
ter data de início e de término previstos, ter metodologia de
execução especificada, ter resultados previstos e passíveis de
execução, ter recursos humanos, materiais e financeiros alocados
(ou por alocar), que garantam sua execução (JUNG, 2004).

A realização da pesquisa pressupõe a escolha de procedimentos


metodológicos adequados, a reflexão, o cuidado com os detalhes,
para elaboração de um trabalho bem-feito, passível de submissão à
avaliação com chance de comprovação de avanço da fronteira do
conhecimento. Demo (2008) afiança que toda pesquisa deve
constituirse minimamente um “questionamento reconstrutivo”: deve
questionar a realidade e os autores que trataram do objeto da
pesquisa; além disso, a realidade e as análises disponíveis sobre
ela devem ser reconstruídas.
3.1 MODELOS DE FORMATAÇÃO
PARA PROJETO DE PESQUISA E
PARA ARTIGO CIENTÍFICO
Os modelos para a formatação de projetos de pesquisa variam de
acordo com os órgãos de financiamento que os recepcionam, mas
as informações exigidas são basicamente as mesmas. De modo
geral, os modelos pedem respostas para as seguintes questões
(seguindo o princípio W5HH proposto por Barry Boehm apud
[Pressman, 2006] como base para descrever bem um projeto de
software e que pode ser estendido para um projeto qualquer):

– what (que será feito)?


– who (por quem)?
– where (onde)?
– when (quando)?
– why (por que)?
– how (como)?
– how much (quanto)?

Nos cursos de graduação e pós-graduação, a elaboração do TCC,


da dissertação de mestrado ou da tese de doutorado é precedida da
confecção de pré-projeto. O Anexo A apresenta um modelo de pré-
projeto de TCC/dissertação/tese. No sítio da Sociedade Brasileira de
Matemática (www.sbm.org.br), da Sociedade Brasileira de
Computação (www.sbc.org.br) e de outras entidades que mantêm
periódicos e eventos científicos podem-se obter os modelos de
artigo que adotam.
3.2 EXEMPLO DE PROJETO DE
PESQUISA
Apresentamos nesta seção fragmentos de um projeto de pesquisa
que submetemos às instâncias de avaliação da UFPA, como
ilustração, com a apresentação das partes principais do documento.

O formulário completo para apresentação de projeto de pesquisa


para apreciação no âmbito da UFPA contém as seguintes partes: 1)
identificação do projeto (título, área de conhecimento, de acordo
com o CNPq, instituição a que pertence o proponente, nome do
coordenador, outras instituições participantes), 2) equipe do projeto
(identificação de cada participante, com seu envolvimento ao
projeto), 3) introdução; 4) justificativa; 5) objetivos; 6) metodologia;
7) metas; 8) bibliografia; 9) cronograma de atividades.

O título do projeto, cujos fragmentos são apresentados, é


“Inteligência Computacional e Engenharia de Software Aplicadas à
Gestão de Conhecimento em Organizações – Estudos e
Recomendações”. Foi submetido para execução a partir de abril de
2006, por dois anos, e contou com o professor Antonio Morais da
Silveira como colaborador.

A introdução foi vazada nos seguintes termos:


A sobrevivência e a competição exigem das empresas atuais o aprendizado da
administração dos seus ativos intelectuais. Pouco se pode acrescentar sobre a
administração dos fatores clássicos de produção. Isto já foi longamente explorado pela
administração.

Agora, o conhecimento como fator competitivo é primordial. As empresas que não


administram adequadamente seus ativos intelectuais estão condenadas ao fracasso.

A revolução havida na tecnologia de comunicações trouxe mudanças econômicas que


destacam o conhecimento como elemento diferenciador.

Os principais teóricos da administração defendem que é muito mais lucrativo investir em


ativos de conhecimento do que em ativos materiais [QUINN, 19923; QUINN, 19934]. Handy
[19905] defende que vivemos o estágio em que o valor intelectual de uma empresa é, não
raro, várias vezes superior aos seus ativos materiais.

As técnicas e as ferramentas para administração de fatores clássicos de produção, tais


como, capital, mão-de-obra, etc. evoluíram. Não se pode afirmar que o mesmo tenha
ocorrido com a administração de ativos de conhecimento. Os recursos intelectuais não são
muito explorados (as patentes, as habilidades específicas dos empregados, o domínio de
tecnologias de ponta, dentre outros). Mormente, quando há inevitáveis mudanças do
quadro de pessoal, a alternância de poder consome muitos recursos da empresa no
processo de retomada de projetos.

3 QUINN, J. B. Intelligent Enterprise: a Knowledge and Service Based Paradigms for


Industry. New York: New York Free Press, 1992.
4 QUINN, J. B. Managing the Intelligent Enterprise: Knowledge & Service-based Strategies.
In Planning Review, 21(5): 13-16. 1993.
5 HANDY, C. The Age of Unreason. Boston (MA): Harvard Business School Press,
1990.

Considerando este contexto, o presente trabalho pretende investigar a evolução e os atuais


modelos de gestão em uso nas organizações e pretende sugerir formas de como a gestão
de conhecimento pode ser explorada, em especial nos casos de alternância de pessoal,
com o objetivo de maximizar os resultados da empresa, usando para isto os recursos da
Informática (da Engenharia de Software, no que tange à especificação de requisitos e, em
especial, as técnicas e as ferrmentas da Inteligência Computacional, que trabalham com
imprecisões e domínios complexos).

A justificativa do projeto foi expressa assim:


No tempo atual, de economia globalizada e de grande competição, a busca da efetividade
gerencial tornou-se imperativa para a sobrevivência das organizações. Agilidade,
produtividade e baixos custos, além obviamente da qualificação na produção (quer de bens
de consumo ou de serviços) são requisitos fundamentais que precisam ser agregados à
missão institucional das organizações. Não é suficiente apenas produzir em grandes
quantidades, mas com qualidade, no menor tempo possível e a baixos custos. Além destas
questões, o conhecimento utilizado para garantir a excelência da produção também deve
ser preservado pelas empresas, visto sua importância estratégica. Mais e mais, as
empresas estão descobrindo que podem aumentar o valor de seus produtos, tornando-os
mais intensivos em conhecimento. Isto pode significar que o produto se adapte a condições
de mudanças, ou a coletar e a armazenar informações e aplicá-las em benefício do
usuário.

Na medida em que a empresa valorize a gestão de seu conhecimento, ela estará mais apta
para enfrentar as incertezas decorrentes de mudanças, mesmo no caso de alternância de
pessoal.

O foco do trabalho será na investigação da possibilidade de utilização das técnicas da


Inteligência Computacional e da Engenharia de Software para garantir que a gestão de
conhecimento seja exercida com eficácia nas empresas.
Os objetivos foram formulados da seguinte forma:
Aprofundar os estudos sobre os impactos que os ativos intelectuais exercem nas
organizações, buscando explorar as técnicas da Inteligência Computacional e da
Engenharia de Software na formulação de propostas na área de gestão de conhecimento,
principalmente em ambientes governamentais, de modo a possibilitar que, em caso de
alternância de poder, haja um legado da administração ante-rior

para a próxima e, deste modo, a empresa retenha o conhecimento necessário para garantir
sua sobrevivência.

Como objetivos específicos foram apontados:


– Estudar a evolução e os atuais modelos de gestão de conhecimento em uso nas
organizações;

– Sugerir formas de como a gestão de conhecimento pode ser feita para garantir que o
capital intelectual da empresa seja preservado, mesmo em casos de alternância de
pessoal;

– No que diz respeito ao registro do conhecimento que a empresa detém serão


empregadas as técnicas de Engenharia de Software para especificação;

– Dada a incerteza envolvida, as técnicas de Inteligência Computacional serão utilizadas


para garantir que a gestão de conhecimento seja feita com eficácia.

A metodologia foi expressa da seguinte forma:


1) Reunir material sobre a maneira como a gestão de conhecimento é feita nas empresas,
para garantir sua sobrevivência em caso de descontinuidade, mormente de pessoal;

2) Reunião de material adicional à bibliografia, junto às organizações públicas, sobre os


modelos de gestão de conhecimento utilizados;
3) Sistematização e tabulação dos dados e das informações;
4) Ampliação da discussão na forma de palestra e de seminários;
5) Elaboração do relatório final consolidado e divulgação dos resultados.

As seguintes metas foram estabelecidas para o projeto:

– A evolução das tecnologias de gestão de conhecimento utilizadas nas empresas;


– Tendências na área de gestão de conhecimento, de Inteligência Computacional e
Engenharia de Software;

– Os modelos de gestão de conhecimento utilizadas nas empresas, com o


desenvolvimento de protótipos empregando técnicas de Inteligência Computacional e
Engenharia de Software;
– Recomendações e conclusões.

Depois da listagem das metas do projeto, o formulário traz a


bibliografia, com a listagem das obras que servem de base inicial
para o projeto de pesquisa.

Em seguida temos o cronograma de atividades, com indicação do


momento em que cada uma será realizada dentro do período
previsto para realização do projeto.

As atividades previstas para o primeiro ano foram as seguintes:


– Revisão bibliográfica sobre a área de gestão de conhecimento e de tecnologia de
conhecimento (mês 1-6).
– A evolução das tecnologias de gestão de conhecimento utilizadas nas empresas (mês 6-
10).
– Análise sobre o impacto da gestão de conhecimento nas empresas (em especial nas
empresas intensivas em conhecimento) (mês 8-12).
As atividades previstas para o segundo ano foram as seguintes:

– Os modelos de gestão de conhecimento utilizados nas empresas, com o


desenvolvimento de protótipos empregando técnicas de Inteligência Computacional e
Engenharia de Software (mês 1-6).

– Tendências na área de Gestão de Conhecimento, Inteligência Computacional e


Engenharia de Software (mês 5-9).
– Recomendações e conclusões (mês 8-12).

O próximo Capítulo apresenta os aspectos técnicos envolvidos na


redação científica.
Extraído de FURTADO, A, B. Outros Casos e Percepções. Belém:
abfurtado.com.br, 2018.

Esgotamento de área de conhecimento

Conversando com o professor José Pallazzo, da UFRGS, muitos


anos atrás, em Porto Alegre, ele fez uma afirmação com a qual
tenho concordado: quando uma área de conhecimento se volta à
gerência é porque se esgotou, não há mais muita coisa a pesquisar
e o que sobra tem importância menor.
Com atuação em banco de dados, ele se referia, em termos de
gozação, à área de engenharia de software, cujas ênfases de
pesquisa se tinham direcionado para aspectos gerenciais do
processo de desenvolvimento de software, com qualidade e
assuntos associados. É o que se pode dizer também da área de
redes de computadores: olhando o que ocorreu desde os seus
primórdios até o estágio atual, vê-se que já teve efervescência
maior.

Com a postagem da nota no Facebook, recebi os seguintes


comentários na rede social de meu aluno Felipph Calado
(CBSI/UFPA), que sempre se mostrou questionador em sala – isto
precisa ser enaltecido como comportamento desejável pela
dinâmica que traz para as aulas:
FELIPPH CALADO: Lembro o senhor comentar essa questão em sala, inclusive
mencionando as áreas de rede e de engenharia de software. Acredito que ambas ainda
têm bastante coisa para se estudar. O fato de eventualmente não estar no nosso radar não
quer dizer que se esgotou ou que estagnou.

MINHA RESPOSTA: Tu tens razão. Sempre haverá alguma coisa a pesquisar. Este não é o
ponto central que abordo na nota. Concordei (na ocasião) e ainda mantenho a
concordância com o comentário do professor: quando a gerência da área em questão (ou
aspectos relacionados à gerência) é o principal assunto de pesquisa é porque houve
esgotamento. Claro que sempre se pode encontrar algum nicho ainda para trabalhar. Ou
vem algo (alguma teoria ou abordagem nova) que ponha abaixo tudo, ou cada vez mais se
faz pesquisa

a respeito de coisa desimportante. Eu conversei com o professor Palazzo há mais de 20


anos; o professor Rodrigo Reis ainda fazia o doutorado e me hospedou em Porto Alegre;
tive este contato com Palazzo nessa oportunidade; como pessoa espirituosa, ele gozou a
área de Engenharia de Software (ES), baseado no que via os colegas de ES lá da UFRGS
fazerem. Guardei o comentário e passei a observar outras áreas, inclusive, para confirmar
ou rejeitar a hipótese. Como não tenho como provar que isto seja verdadeiro, vou dizer que
a intuição me diz que é. Pelo menos, permite que discutamos o assunto. Falei em redes de
computadores também porque vi o nascedouro da área: desde a comemoração ocorrida
quando se conseguiu levar um byte de um computador para outro; e o desenvolvimento de
todos os protocolos básicos de rede que ocorreu em seguida. É isto. Eu te agradeço pelo
comentário.

FELIPPH CALADO Professor, eu concordo com o senhor. Evidentemente que não tenho
seu background para fazer uma crítica mais elaborada. Porém, a história nos diz que, até
hoje, um assunto jamais é completamente esgotado. Acreditou-se, por muito tempo, que a
Física havia atingido um ponto de arte: o que vimos depois é que não era bem assim. A
computação quântica ainda engatinha (pelo que sei) e tenho certeza (e muita esperança)
de que junto com a aurora dessa tecnologia, haverá uma grande revolução em nossa área.
Pense nos novos paradigmas de desenvolvimento de software, novos materiais, novos
protocolos que serão criados para atender esse mundo novo.

MINHA RESPOSTA: Meus textos nestes livros de crônicas são sucintos. Eu digo que tento
fazer um exercício de concisão. Aí notei que meu comentário sobre o que falaste ficou bem
maior do que o texto inicial. Pude dizer de onde tirei o cerne da questão: foi a partir de um
comentário de um professor (José Palazzo) fazendo gozação sobre o trabalho de colegas.
Não me pareceu que ele tivesse alguma fundamentação para o que disse. Eu tomei como
um comentário para gozar a respeito do que os outros estão fazendo. Mas passei a ver que
ele tinha razão. Certas áreas esgotam seu potencial de trabalho, de certa forma. No livro "A
estrutura das revoluções científicas", Thomas Kuhn formulou o conceito de "paradigma"
para denotar um padrão que se estabelece por determinado período de tempo numa dada
área científica, até que outro padrão se imponha, englobando e/ou respondendo as
questões não abrangidas no paradigma anterior (diz-se que há uma "quebra de paradigma"
quando um novo padrão se impõe, substituindo o anterior). Eu trouxe este conceito para
reforçar o que falaste.

Interagindo com colegas professores, eu percebo que o trabalho que alguns decidem fazer,
às vezes, carecem de valor, na minha avaliação. E vice-versa (o que faço não tem valor
para os outros). Mas cada qual acha que está "resolvendo o problema da humanidade". E
assim vamos avançando... Para finalizar a questão: no livro, eu pretendo reforçar a nota
dizendo que a intuição me diz que o professor Palazzo tem razão.

Extraído de FURTADO, A, B. Outros Casos e Percepções. Belém:


abfurtado.com.br, 2018.
Pergunta para o início do dia de trabalho

Indico esta pergunta como a que devemos nos fazer,


independentemente da área de atuação, ao iniciar as atividades de
trabalho, todo dia: levando em conta o que há para fazer, como
realizá-lo em menos tempo, com economia de recursos, e com
melhor resultado? Pode-se complementar: que tecnologia eu posso
empregar para garantir estes resultados? São as perguntas básicas
cujas respostas, devidamente avaliadas, possibilitarão chegar a
novo padrão ou nova forma de fazer algo. A insistência em obter
respostas mais produtivas nos levará a melhores resultados.

LEITURA E REFLEXÃO 7
Lei das consequências não pretendidas

Extraído da mesma fonte (meu livro “Empreender é a Questão”, de


2018), também questão de prova da disciplina sobre
empreendedorismo que ministro.
Questão proposta: A invenção de uma tecnologia pode ter efeitos
profundos e inesperados em outras tecnologias aparentemente não
relacionadas, em empresas comerciais, nas pessoas e até na
cultura como um todo. Esse fenômeno é frequentemente chamado
de “lei das consequências não pretendidas”. Exemplos: a) Na
década de 1950, ninguém poderia prever que o software se tornaria
uma tecnologia indispensável para negócios, ciência e engenharia;
b) Com o software, novas tecnologias foram criadas (por exemplo, a
engenharia genética); c) A extensão de tecnologias existentes com
o uso do software (por exemplo, a área de telecomunicações); d) O
declínio de antigas tecnologias (por exemplo, a indústria tipográfica);
e) A rede mundial de computadores (Internet) evoluiu e ainda vai
evoluir e modificar muito a vida das pessoas e a forma como as
empresas atuam. Ninguém poderia prever que o software estaria
embutido em sistemas de toda espécie: transporte, medicina,
telecomunicações, militar, industrial, entretenimento, máquinas de
escritório– uma lista sem fim.

Dê pelo menos TRÊS exemplos adicionais na área de computação


(desenvolvimento de software) que se enquadrem na “lei de
consequências não pretendidas”.

Possível resposta: como as demais, a questão é aberta. Tópicos


que poderiam ser citados: recursos tecnológicos que possibilitam o
teletrabalho; aplicação de realidade aumentada; sistemas
embarcados em veículos, máquinas, etc.; smartphones, que
possibilitam aplicações móveis de várias naturezas; aplicações na
área de mobilidade urbana; aplicações de controle de serviços de
transporte compartilhados; serviços de streaming, serviços de
downloads; jornal digital; criptomoedas; GPS; tradução em tempo
real; redes sociais; mídia digital em substituição a VHS e fita
cassete; comércio eletrônico; cloud computing; internet das coisas;
blockchain; tecnologia para tratar o“big data”; aplicações de
inteligência artificial para situações diversas do cotidiano; aplicações
de robótica em geral; plataformas de vídeo, jogos, revistas, etc.
4. ASPECTOS TÉCNICOS DA
REDAÇÃO CIENTÍFICA
A ênfase aqui é para a elaboração de um artigo científico, de uma
dissertação de mestrado ou de uma tese de doutorado.

Constitui obstáculo inevitável a transpor pelos estudantes a


elaboração de quaisquer textos, em especial o artigo científico, a
dissertação de mestrado ou a tese de doutorado. De que decorre
este obstáculo? Claramente advém de uma combinação de
ocorrências: pouca prática de redação, escassa prática de leitura
(ou seja, o estudante não tem a leitura como hábito). Aí temos uma
difícil barreira a transpor: com estas condições, a produção de texto
como os tratados neste livro – artigo científico, dissertação ou tese–
é obstáculo que exige aplicação, estudo, determinação, várias
tentativas – sem desistência.

Vejamos, inicialmente, algumas características que o texto científico


ou acadêmico deve apresentar, baseados em Oliveira (2003),
Santos (2005) e Duarte (s. d.).
4.1 CARACTERÍSTICAS DESEJÁVEIS
DO TEXTO CIENTÍFICO
Concisão
Esta característica consiste na expressão de ideias em poucas
palavras, só as necessárias.

A redação do texto não ocorre de uma sentada somente. Os


excessos devem ser retirados em um segundo momento, depois de
leitura minuciosa com este propósito. O objetivo aqui é evitar que
ocorra prolixidade. Por isso, é conveniente lembrar a máxima de
autoria desconhecida: “escrever é a arte de cortar palavras”. Depois
da escrita do texto, o passo seguinte é revisá-lo, procurando incluir o
que faltou, e, principalmente, eliminar possíveis ideias ou palavras
dispensáveis.
Precisão
A escolha correta das palavras para exprimir com exatidão o que se
deseja. De forma simples, sem rebuscamentos.

Frequentemente, é preciso consultar dicionários para encontrar as


palavras mais apropriadas para a expressão das ideias desejadas.
Imparcialidade
A pesquisa científica exige fidelidade aos resultados obtidos;
qualquer manipulação inadequada dos dados deve ser coibida;
resultados que não sustentem dada interpretação que se queira dar
não devem ser escamoteados; em vez disso, devem ser apontados,
devidamente; deve-se observar que estes casos justificam estudos
complementares.
Não ambiguidade
As frases que compõem o texto científico devem ser expressas sem
ambiguidade; ou seja, as ideias contidas no texto devem expressar
um só sentido.

Portanto, para evitar ambiguidade: especial atenção deve ser dada


à construção de cada frase; depois, ao fazer a revisão geral,
buscam-se também afirmações contraditórias.
Clareza
Wittgenstein (1922) apudGiannetti (2008, p. 110) nos diz: “Tudo o
que pode ser dito pode ser dito claramente”. Da mesma fonte,
mesma página, pode-se extrair, agora de Schopenhauer (1851):
“Quem que tenha algo verdadeiro a dizer se expressa de modo
simples. A simplicidade é o selo da verdade”.

É creditada ao ensaísta e crítico literário brasileiro Agripino Grieco


(1.888-1.973) a frase: “clareza é indício de probidade intelectual”.
Grieco tem razão: a clareza exige pleno domínio do assunto, que
permita escolher as metáforas mais simples, as analogias mais
compreensíveis, o encadeamento de tópicos mais inteligível. Com
estes recursos, é possível tornar mais claro o conhecimento que se
quer transmitir.

Se uma ideia expressa não ficou compreensível, é necessário


reescrever a frase, até mais de uma vez. Vale insistir para conseguir
a clareza.

Noblat (2002) apresenta sua receita para a boa escrita: escrever em


ordem direta, buscar a simplicidade, usar frases curtas. Buscar ser
conciso, claro. Ele recomenda ainda a leitura do texto em voz alta
para fazer o refinamento. Isto ajuda a descobrir defeitos que
escapam aos olhos, mas não aos ouvidos.

Severino (2002, p. 84) afirma que, “em t rabalhos científicos, impõe-


se um estilo sóbrio e preciso, importando mais a clareza do que
qualquer outra característica estilística”. Ele acrescenta que é
preciso que o leitor entenda o raciocínio e as ideias do autor: isto
não pode ser impedido pelo emprego de linguagem hermética no
texto.
Impessoalidade
Esta característica refere-se à isenção que deve haver em relação
ao que é escrito. Recomenda-se o uso da voz passiva ou da terceira
pessoa do singular. Assim, em vez de “nós entrevistamos cem
professores…”, escreve-se: “foram entrevistados cem profes-
sores…”. Em vez de “Minha pesquisa abrangeu…”, escreve-se:
“Esta pesquisa abrangeu…”.
Observe-se que, em certas áreas do conhecimento – Letras,
Literatura, Educação, por exemplo – estas recomendações não são
adotadas.
Objetividade
Esta característica é crucial: a linguagem que deve prevalecer no
texto acadêmico ou científico é a denotativa – aquela em que o
único objetivo é informar o leitor, com a maior clareza possível,
usando o significado das palavras encontrado nos dicionários.

Ao contrário disso, a linguagem conotativa caracteriza-se pelo


sentido figurado; este sentido é usual no texto literário.

No texto científico, as figuras de linguagem e quaisquer formas de


hermetismo6 devem ser evitadas. Vale aqui também a observação
feita na característica anterior: há áreas de conhecimento em que é
aceita a linguagem conotativa no texto científico.
Coerência
As partes componentes do texto científico têm que apresentar
coerência entre si. Por exemplo: as conclusões de um trabalho
devem manter consistência com as premissas estabelecidas. Ideias,
fatos, posicionamentos devem ser harmônicos ao longo do texto
científico, sem ocorrência de contradições (DEMO, 2005).
Formalidade
O texto científico deve dar conta do tema tratado amplamente, de
modo que seja o mais autocontido possível. O redator deve avaliar o
compromisso entre profundidade e superficialidade do texto, para
encontrar a medida adequada para seu trabalho. No que tange à
linguagem, o texto deve primar pela norma culta da língua. Cuidado
especial deve ser tomado com as regras gramaticais, com a
pontuação, com a acentuação.
6 Hermetismo– qualidade de algo que é hermético, ou seja, obscuro ou difícil de
compreender.
Originalidade

O texto acadêmico comporta a expectativa de inovação, “pelo m


enos no sentido reconstrutivo” (DEMO, 2005, p. 32). A reprodução
do discurso, sem questionar, sem desconstruir para construir, não é
aceita.

Portanto, a originalidade pode advir de interpretações próprias, de


análises rigorosas de autores e teorias, atrás de lacunas, de
incorreções, de imprecisões. Com isto, a formulação própria,
esperada – algo original– é alcançada.
4.2 PONTOS QUE VALORIZAM UM
TEXTO CIENTÍFICO
Há alguns pontos que, se levados em conta, acabam por valorizar
um texto científico, além do que foi listado na Seção anterior. Para
começar: uma pesquisa bibliográfica abrangente, bem
fundamentada, é um desses pontos.

O mestrado exige proficiência em uma língua estrangeira; o


doutorado, em duas. Normalmente, a língua inglesa é uma destas.

É conveniente que o referencial teórico contemple obras com


publicação recente em língua estrangeira; em especial, obras que
ainda não tenham sido traduzidas para o Português. Esta lacuna em
teses é mais grave.

A valorização aqui se dá pela preocupação em acompanhar, de


alguma forma, o que é publicado na literatura internacional, e de
trazer esta produção na área em questão para a dissertação ou
tese.

As referências a periódicos reconhecidos na área (números


recentes) valorizam o trabalho. Deve ser evitada a referência a obra
com mais de cinco anos de publicação, salvo quando se trata de
texto clássico.

A escolha de um estudo de caso (no qual se buscam aplicar


técnicas, ferramentas, métodos e metodologias usuais à área e
subárea escolhida) é outro ponto bem apreciado.

A confecção de um protótipo (pode ser software ou produto


qualquer), por mais que incompleto, é sempre mais valorizado do
que apresentar somente uma especificação de produto.
Em qualquer caso, o discente deve dispensar atenção especial à
especificação do software ou produto: ela deve conter descrição
(resumida) da metodologia de desenvolvimento empregada,
documentos de especificação de requisitos, de análise e de projeto.
Como estes documentos normalmente são extensos, o texto do
artigo, dissertação ou tese pode conter somente excertos com as
passagens mais importantes; neste caso, os documentos completos
podem fazer parte do trabalho como apêndices.

Os trabalhos que se atenham a aspectos teóricos de um dado tema


devem ser enriquecidos com avaliação crítica de tudo que se
encontre no entorno do assunto. E, se for possível, devem ser
concluídos com recomendações ou proposições bastante
detalhadas.

Outro ponto que causa leva a boa avaliação é o cuidado com a


escrita do texto. Erros de ortografia, erros de concordância verbal ou
nominal e uso de linguagem inadequada (emprego de gírias,
inobservância do Português padrão, uso abusivo de adjetivos) são
falhas inaceitáveis em artigos, dissertações ou teses. Além disso, o
uso de termos não dicionarizados na Língua Portuguesa (como por
exemplo, oportunizar, criticidade– inexistentes), a não aplicação das
normas de elaboração de trabalhos acadêmicos (cada instituição
tem sua norma particular, em concordância com o que preceitua a
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT) são outras
ocorrências que demonstram pouco esmero com a confecção do
artigo/dissertação/tese e que o/a debilitam.
4.3 ELABORAÇÃO DO
ARTIGO/DISSERTAÇÃO/TESE
Partindo-se do plano de elaboração do artigo/dissertação/tese,
inicia-se a pesquisa bibliográfica (e a pesquisa documental, se
aplicavel). Esta tarefa precede a produção de todo trabalho
acadêmico ou científico.

O objetivo é selecionar o que a literatura da área escolhida dispõe


de significativo a registrar: conceitos, técnicas, heurísticas,
ferramentas utilizadas, metodologias propostas, trabalhos
semelhantes ou associados ao que se pretende desenvolver. Como
estes tópicos, por si mesmos, podem ser extensos, deve-se
selecionar o que é mais importante para o estudo empreendido; o
propósito é que o trabalho resultante seja autocontido, na medida do
possível.

Como não há necessidade de grande profundidade na apresentação


de conceitos, técnicas, ferramentas e metodologias empregadas, é
recomendável ser consciencioso na escolha do que incluir.

No geral, o número de páginas de um artigo é determinado pelo


periódico/evento para o qual será submetido. Quanto ao número de
páginas, a dissertação/tese apresenta um número variável, com
frequência entre sessenta e cem páginas, excluindo-se as
prétextuais e as pós-textuais; o número mínimo de páginas para
aceitação do trabalho é de quarenta e cinco, excluídas as pré-
textuais e as pós-textuais.

Antes de tratar da estrutura do texto científico, façamos algumas


considerações sobre a formulação do seu título. Uma sugestão é
que ele comece no tema geral abordado, e que termine no detalhe;
deve incluir palavras-chave do artigo/dissertação/tese, sempre que
possível, pois elas serão utilizadas na indexação. Pode-se utilizar
um subtítulo para restringir ou limitar o objeto do trabalho em
questão. Atenção especial deve ser dada para evitar que o título
fique excessivamente longo.

Chegar ao título apropriado, que informe de maneira compreensível


a natureza do que é tratado no artigo/dissertação/tese, é tarefa que
se consegue somente depois de algumas tentativas. Para aumentar
a chance de que o artigo, a dissertação ou a tese sejam
encontrados nas buscas, deve-se colocar na seção de palavras-
chave um ou mais exemplares que não tenham aparecido no texto
(ALMEIDA, 1992).

Com frequência, encontramos título de artigo, dissertação ou tese


que incluem a palavra “proposta”. Deve-se analisar se a omissão da
palavra implica que o que é apresentado não seja considerado uma
proposta. Neste caso, por concisão, a palavra pode ser omitida. A
regra aqui é eliminar palavras dispensáveis.

Sobre artefatos elaborados como parte do trabalho de pesquisa


(que seja objeto do artigo ou dissertação ou tese), tais como
programas de computador, protótipos ou ferramentas quaisquer,
Chinnneck (1999) aponta-os como meios auxiliares, mas não
decisivos, para comprovar a contribuição ao conhecimento.
Certamente, uma ferramenta ou um protótipo elaborado não se
constituem objeto suficiente para avanço do conhecimento a ponto
de levar a que se escreva um artigo, uma dissertação ou uma tese
sobre tal. Agora: é melhor ter artefatos (sejam protótipos de
software, documentos de especificação produzidos, artigos
elaborados e aceitos em eventos, ou quaisquer outros tipos) do que
não os ter para apresentar.

No caso de dissertação ou tese há uma etapa que antecede a


defesa final: é a etapa do exame de qualificação.

O exame de qualificação de mestrado ou doutorado objetiva avaliar


a adequação da metodologia proposta à concretização dos objetivos
da pesquisa realizada, como também a capacidade de
problematização, de formulação de hipóteses e de desenvolvimento
do raciocínio lógico do mestrando/doutorando. Durante o exame de
qualificação são evidenciados os primeiros resultados da pesquisa.

O texto a ser apresentado para este exame segue o mesmo modelo


empregado para a defesa final. Como etapa que antecede a defesa,
o texto apresenta sua estruturação idêntica, só que os capítulos de
análise dos dados da pesquisa podem apresentar ainda versões
iniciais, incompletas. Nem todas as respostas às questões de
pesquisa são requeridas nesta versão. Mas há a exigência de que
expresse já elementos suficientes para a banca aquilatar a
viabilidade de o referencial teórico oferecer sustentação para a
pesquisa, a partir do que seja apresentado no texto de qualificação.

Uma característica que estes capítulos de análise devem apresentar


é a impregnação do referencial teórico com a sustentação da
pesquisa. Isto exige do mestrando ou do doutorando capacidade de
percepção e de internalização do referencial, de modo que
identifique todas as oportunidades de trazer estas referências para
sustentar suas afirmações nos capítulos de análise.

Uma preocupação do autor do texto é que estes capítulos não se


restrinjam à mera descrição de eventos; ao invés disso, eles devem
ser explicativos, bem fundamentados, devidamente sustentados no
referencial teórico da dissertação ou tese.
4.4 ESTRUTURA DO TEXTO
CIENTIFÍCO (ARTIGO OU
DISSERTAÇÃO OU TESE)
A estrutura do texto científico/acadêmico (artigo, dissertação ou
tese) obedece ao esquema mostrado na Figura 1. Se se trata de um
artigo científico, os itens 1 (páginas pré-textuais) e 10 (páginas
póstextuais) não se aplicam. Os números da Figura objetivam
referenciar as partes da dissertação/tese/artigo.
As páginas pré-textuais antecedem a introdução do trabalho:
incluem capa, contracapa, dedicatória, epígrafe (frase que se deseja
destacar– sobre o tema do trabalho), resumo (escrito num único
parágrafo, em até 500 palavras – no máximo uma página) e (resumo
em inglês– abstract), relação de siglas, relação de ilustrações,
relação de tabelas e sumário.

As páginas pós-textuais incluem as referências bibliográficas7


(relação de obras referidas no texto), o glossário (relação de
palavras e expressões técnicas de uso restrito, apresentadas em
ordem alfabética, com definição), apêndices (o que é elaborado pelo
autor e que se julga oportuno incluir no trabalho para torná-lo
autocontido; por exemplo, a transcrição completa de entrevistas
pode ser incluída em apêndice) e anexos (o que é elaborado por
terceiros e que se julga oportuno incluir no trabalho para torná-lo
autocontido). O glossário, os apêndices e os anexos são opcionais.

1. Páginas pré-textuais
2. Introdução
3.
Figura 1. Estrutura da dissertação/tese.
Informação de Contexto (Opcional)

4. Revisão do Estado-da-arte ou Referencial Teórico


5. Definição do Problema ou Questão de Pesquisa
6.

Descrição da Solução do Problema ou Resposta à Questão de

Passamos a comentar nas próximas seções os itens que compõem


o artigo, aPesquisa dissertação ou a tese (CHINNECK, 1999;
SEVERINO, 2002; DEMO, 2005; FURTADO, 2009). O número entre
colchetes dá a ordenação na estrutura da Figura 1.

9. Apêndices (se houver)


INTRODUÇÃO [2] Páginas pós-
textuais (se houver).
Figura 1. Estrutura da dissertação/tese.
7 Utilizase atualmente apenas “Referências”, incluindo todas as obras citadas (livros,
periódicos, vídeos, áudios, enciclopédias virtuais, sítios na internet, e-mails); a expressão
“Referências bibliográficas” caiu em desuso.

Passamos a comentar nas próximas seções os itens que compõem


o artigo, a dissertação ou a tese (CHINNECK, 1999; SEVERINO,
2002; DEMO, 2005; FURTADO, 2009). O número entre colchetes dá
a ordenação na estrutura da Figura 1.

4.4.1 INTRODUÇÃO [2]

Esta é a última parte a ser elaborada. Ela contextualiza o tema,


apresenta uma breve descrição do problema, a motivação para
tratá-lo, a justificativa principal (ou a contribuição do trabalho), os
objetivos pretendidos (objetivo geral e objetivos específicos) e a
metodologia de pesquisa empregada (ou seja, a informação sobre
como os objetivos foram atingidos).

Observe-se que alguns destes tópicos fazem parte do pré-projeto


(se tiver sido elaborado um): para evitar retrabalho, devem ser
recuperados e trazidos para esta seção do trabalho. A introdução é
finalizada com a organização do trabalho, em que se descreve
brevemente o conteúdo de cada capítulo. A ideia é que a introdução
apresente uma visão panorâmica sobre o/a artigo/dissertação/tese,
com as principais perguntas e os principais resultados obtidos com o
trabalho (SEVERINO, 2002).
4.4.2 INFORMAÇÃO DE CONTEXTO
(OPCIONAL) [3]
O item 3 da Figura 1 – Informação de Contexto – consiste de uma
sequência de parágrafos com informações necessárias para a
compreensão do trabalho, especialmente se ele envolve duas ou
mais áreas de pesquisa, fato cada vez mais frequente.

Esta seção é opcional: o pesquisador deve avaliar sua necessidade.

O fato de o trabalho envolver duas ou mais áreas de investigação


pode fazer com que parcela dos leitores tenha dificuldade de
compreender o alcance do trabalho.

Pode-se aqui ordenar as seções de forma a começar do tópico mais


geral até chegar ao tópico mais específico. Estas seções iniciais
resultam da pesquisa bibliográfica feita, em que os conceitos, as
técnicas, os métodos, as ferramentas utilizadas na área do trabalho
são apresentadas resumidamente.
4.4.3 REVISÃO DO ESTADO-DA-ARTE
OU REFERENCIAL TEÓRICO [4]
Esta seção repassa o estado-da-arte na área do
artigo/dissertação/tese até o momento da redação ou o referencial
teórico utilizado nas discussões realizadas. Deve-se organizar a
seção por ideias em vez de por autor ou por publicação,
descrevendo a contribuição de cada um (CHINNECK, 1999).
4.4.4 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA OU
QUESTÃO DE PESQUISA [5]
O artigo/dissertação/tese pode consistir em resolução de um dado
problema ou resposta a uma dada questão ou hipótese de pesquisa.
Em qualquer dos casos, deve-se formular concisamente o problema,
informando sua origem, justificando que ele ainda não foi resolvido
(como atestado na seção anterior). Por fim, os argumentos que
atestem a importância de resolver o citado problema, com possíveis
referências a aplicações dele. Deve-se demonstrar também por que
as abordagens mencionadas não resolvem o problema em questão.
4.4.5 DESCRIÇÃO DA SOLUÇÃO DO
PROBLEMA OU RESPOSTA À
QUESTÃO DE PESQUISA [6]
Esta seção pode desdobrar-se em várias subseções. O objetivo aqui
é demonstrar que o problema proposto foi efetivamente resolvido ou
que a questão de pesquisa foi respondida, com a descrição do que
foi feito. Caso alguma lacuna persista na solução do problema ou na
resposta à questão investigada, isto deve ser deixado para a
subseção “trabalhos futuros e limitações” das Conclusões.

As análises dos dados da pesquisa ou os argumentos apresentados


para as questões de pesquisa devem ser impregnados de menções
ao referencial teórico apresentado na Seção [4]. A maior quantidade
possível de citações pertinentes (que respaldem os argumentos
listados) deve ser feita.

Esta etapa é determinante para a qualidade da dissertação ou tese,


pois deve ser fruto de percepção, de observação e de análise
acurada do pesquisador.

Esta seção deveria até trazer uma subseção de conclusão,


repassando os pontos reforçadores da contribuição da dissertação
ou tese– que levem mais adiante facilmente às respostas das
questões de investigação. Um alerta que se pode fazer aqui: não se
restringir à mera descrição dos procedimentos metodológicos
adotados e dos fenômenos ocorridos; em vez disso, eles devem ser
explicativos, com base no referencial teórico. Este é o cerne de uma
pesquisa qualitativa.

Por fim, deve-se cuidar para que as partes anteriores do texto (o


que antecede esta Seção [6]) estejam encadeadas, sem
redundância, com a seção de análise dos dados.
4.4.6 CONCLUSÕES [7]
Pelo menos três pontos devem compor este item: 1) as conclusões
a que o desenvolvimento do trabalho possibilitou chegar; 2) rápido
resumo das contribuições trazidas; 3) trabalhos futuros e limitações.
Há quem sugira também um tópico explícito com as “lições
aprendidas” com a elaboração do trabalho.

O primeiro item acima (conclusões) são declarações concisas,


extraídas do trabalho. Podem ser organizadas em pequenos
parágrafos enumerados, do mais para o menos importante. Estas
conclusões devem estar relacionadas ao problema descrito (ou à
questão de pesquisa) do item (5) da Figura 1.

Sobre o segundo item – rápido resumo das contribuições trazidas:


estas também devem ser listadas em ordem decrescente de
importância. Pode haver aqui alguma sobreposição (tolerável) com
as conclusões.

O terceiro item – trabalhos futuros e limitações– aponta possível


continuidade do trabalho de pesquisa realizado, de modo a
preencher as lacunas identificadas no seu desenvolvimento, a
identificar possíveis caminhos alternativos que poderiam ter sido
tomados, e apontar as limitações constatadas na solução do
problema em questão ou na resposta à pergunta de pesquisa.
4.4.7 REFERÊNCIAS (8)
Esta parte apresenta as referências bibliográficas (livros, periódicos)
e as de outra natureza utilizadas (CD, internet, vídeo, etc.) que
tenham sido citadas no texto.

Para facilitar a consulta, as referências devem ser classificadas pelo


sobrenome do autor.

Opcionalmente, pode-se julgar oportuno incluir a bibliografia não


citada, listando as obras consultadas para elaboração do trabalho,
mas não referenciadas (com o título Bibliografia); depois das
referências, no caso de dissertações e teses, podem constar do
trabalho (são opcionais) o glossário, os apêndices e os anexos.
4.5 INCLUSÃO DE ILUSTRAÇÕES,
TABELAS E QUADROS
A inclusão de ilustrações enriquece o/a artigo/dissertação/tese pela
sua capacidade de síntese e de concisão na expressao de ideias.
As ilustrações incluem gráficos, fotografias, fórmulas, lâminas,
gravuras, mapas, plantas ou desenhos.

As ilustrações devem ser mencionadas e, sempre que necessário,


explicadas no texto. Elas, por si só, não se autoexplicam. Há
estudantes que incluem uma ilustração no trabalho sem qualquer
menção ou explicação sobre o seu conteúdo.

Se a ilustração tiver sido extraída de alguma obra, esta precisa ser


identificada da mesma forma que nas citações; isto é feito abaixo do
título da ilustração.

Se houver alguma mudança em relação à ilustração original de onde


foi extraída, é necessário registrar isto da seguinte forma: “adaptada
de”, seguida da identificação da fonte.

Se a ilustração tiver sido produzida pelo autor do texto, não é


preciso haver menção à fonte, pois se deduz que, na ausência da
informação, é do próprio autor.

As ilustrações devem ser numeradas a partir de 1 e acompanhadas


de título de identificação antes (ou depois, dependendo da
convenção adotada) cada uma (com a fonte de onde foi extraída, se
for o caso). Se não constar uma fonte, deduz-se que foi elaborada
pelo autor do trabalho. Portanto, atenção a este ponto para não
incorrer em plágio.
As tabelas e os quadros têm sua numeração da mesma maneira;
normalmente, a identificação é feita antes da tabela ou quadro.
Da mesma forma que para as ilustrações, o texto deve fazer
menção à tabela ou ao quadro e o seu conteúdo deve ser
comentado convenientemente.

As tabelas devem ser delimitadas por traços horizontais, no alto e


embaixo; os quadros devem ser fechados dos quatro lados. As
tabelas apresentam informação numérica; os quadros,
diferentemente, apresentam informações de natureza não numérica.
4.6 PLÁGIO
“Todo homem nasce original e morre plágio” (Millôr Fernandes)

Comece esta Seção pensando em uma interpretação para a frase


de Millôr Fernandes (escritor carioca, dramaturgo, jornalista,
humorista, 1.923-2.012). Por que ele disse que o homem nasce
original e morre plágio?

O plágio é um assunto delicado e, ao mesmo tempo, relevante para


a área acadêmica e científica.

O avanço do conhecimento se faz pela contribuição de muitos


pesquisadores, às vezes, trabalhando ao mesmo tempo em lugares
diferentes sobre o mesmo assunto, em concorrência para alcançar
resultados que venham a beneficiar seus projetos de pesquisa
particulares, como também as instituições às quais pertençam, com
alocação de mais recursos financeiros ou de outra natureza. Em
razão disto, o profissional da ciência deve pautar-se por sólidos
princípios éticos, de modo que prevaleça a correção e o respeito ao
que é, de direito, devido a cada um pelo seu trabalho, pelo seu
esforço, pelos seus méritos.

O plágio é um fato que contraria frontalmente este padrão ético que


se espera que os participantes do ambiente acadêmico e científico
apresentem. Consiste na apresentação por alguém, como se fosse
de sua autoria, de trabalho, de obra intelectual produzida por
outrem.

Para John Edlund (California State University) apud Vasconcelos


(2007, p. 4),
o plágio é uma violação direta da honestidade acadêmica e intelectual. Muito embora ele
possa existir sob várias formas, todos os tipos de plágio se resumem na mesma prática:
representar as ideias ou palavras de outrem como se fossem suas... mesmo a utilização
das ideias do outro nas suas próprias palavras sem citação também pode ser qualificado
como tal.
Edlund destaca que, não só as palavras extraídas de um texto
qualquer, mas as ideias de outrem citadas sem os créditos devidos
configuram plágio.

A prática de “recortar e colar” (tão utilizada na elaboração de


trabalhos escolares) sem informar a autoria devidamente do trecho
copiado é o que precisa ser rechaçado aqui. Quando se retiram de
livros, de periódicos ou da internet ideias, conceitos ou frases de
outro autor sem fazer o devido registro de crédito como fonte de
pesquisa, incorre-se em plágio (UFF, 2010).

Para evitar que plágios sejam cometidos e, por consequência, que


se infrijam artigos do Código Penal, do Código Civil e da Lei de
Direitos Autorais (Lei 9.610, de 19/2/1.998), existem as formas
padronizadas de citação de autoria, apresentadas no Capítulo
seguinte.

Basicamente as formas de citar dada obra são a citação direta


(determinado trecho de uma obra é reproduzido ipsis litteris8 no
texto, entre aspas) e citação indireta (uma ideia ou uma formulação
contida em determinada obra é reproduzida com outras palavras).
Há ainda um caso particular de citação direta– a citação longa –
quando o trecho a ser reproduzido tem mais de três linhas. Estes
detalhes são apresentados no próximo Capítulo.
8 Expressão latina– significa “literalmente”, “nas mesmas palavras”.
LEITURA E REFLEXÃO 8
Extraído de FURTADO, A. B. “Outros Casos e Percepções”. Belém:
abfurtado.com.br, 2.018.
Plágio em congresso científico

Prestigio o colega que vai apresentar artigo em congresso nacional


da área de computação. Auditório enorme. Muitos lugares
desocupados. Sento na segunda fila. Olhei para trás e vi duas
pessoas que ficaram estranhamente na última fila.

Depois de apresentado pelo cerimonial, o colega começa sua


apresentação. Nenhuma anormalidade até o fim, quando o expositor
se dispõe a responder perguntas da plateia. Os dois expectadores,
da última fila, se aproximam devagar. Falando pausadamente, um
deles contesta o teor do artigo, denunciando plágio, indicando a
fonte plagiada.

Constrangimento total!

Olho para o colega: atônito, ele balbucia algo incompreensível.


Recolhe rapidamente seu material. Pede desculpas e sai por uma
porta lateral.

Era o segundo dia do evento. Não mais o vimos no congresso até o


retorno a Belém.

LEITURA E REFLEXÃO 9
Mudança de autoria9

Sabedor que dado programador precisaria de uma rotina que eu


havia escrito, repassei-lhe o código-fonte para inclusão no software
que ele estava desenvolvendo.

Algum tempo depois, em esforço para melhorar o código que ele


escrevera, constatei que tinha apagado o meu nome como autor da
rotina e colocado o seu. Fiz-lhe ver que era inaceitável o que tinha
feito. Não se muda autoria assim. Ela é inalienável e para toda a
vida. No máximo, se ele tivesse feito alguma mudança, poderia
acrescentar seu nome e informar o que fez.
9Nota extraída de “Outros Casos e Percepções”, livro de crônicas publicado em 2.018.
5. ESTRUTURAS DE ARTIGOS
CIENTÍFICOS, DISSERTAÇÕES
E TESES
O objetivo deste Capítulo é apresentar exemplos de trabalhos
científicos (artigo científico, dissertação e tese) que disponham de
boas organizações de seções e capítulos. São descritos um artigo
científico e uma tese que observam a estrutura apresentada na
Figura 1 do capítulo anterior.

São passos que antecedem a elaboração de um bom texto científico


(seja artigo científico, dissertação ou tese):

a) Identificar um problema para solucionar ou uma questão de


pesquisa a responder, sobre o/a qual tenha interesse de trabalhar,
seja pela relevância, pela atualidade, pelo ineditismo, seja pelo que
pode proporcionar em termos de aplicação de conceitos, técnicas e
ferramentas de desenvolvimento, como também pelo que pode
possibilitar em termos de aprendizagem de novos conhecimentos;

b) Levantar a bibliografia mais importante para a fundamentação


teórica do trabalho selecionado;
c) Pesquisar possíveis trabalhos relacionados à temática na
literatura da área;

d) Estudar os trabalhos encontrados, e confrontá-los com os


objetivos que foram propostos para seu texto, registrando
diferenciais existentes;

e) Executar todos os procedimentos metodológicos necessários à


consecução dos objetivos específicos que conduzem ao objetivo
geral do trabalho;
f) Se o trabalho tinha como objetivo a resolução de um problema, e
a solução foi desenvolvida, fazer avaliação cuidadosa do resultado
obtido; se o trabalho tinha como objetivo oferecer resposta a uma
questão de pesquisa, e toda a argumentação foi desenvolvida
levando em conta o referencial teórico utilizado, fazer a avaliação
desses resultados;

g) Com a avaliação concretizada, é hora de encontrar a estrutura de


organização em capítulos (se dissertação ou tese) ou organização
em seções (se artigo científico), se ainda não tiver sido feita; esta
organização deve possibilitar descrever o esforço de investigação
realizado e os artefatos produzidos; em seguida, faz-se a redação
do texto científico.

Como afirmado no item g acima, antes de começar a redação do


texto científico, é conveniente definir os capítulos que o comporão,
com a ordenação apropriada e as seções de cada um. A elaboração
do sumário corresponde ao planejamento do texto, antes da escrita
propriamente dita. É por onde começo a redação dos meus livros:
pelo sumário. Por mais que o altere seguidamente ao longo da
redação, seja para incluir uma seção não prevista no início, seja
para deslocar partes entre os capítulos, seja para remover
redundâncias no texto, o sumário serve como plano de trabalho, até
a colocação do ponto final no livro.

Nas duas Seções seguintes, são analisados um artigo científico e


uma tese. Na Seção 5.1, é descrito um artigo científico (publicado
na Revista Infocomp), de cuja elaboração participei com pequena
contribuição; foi desenvolvido sob a liderança do professor Antonio
M. da Silveira (ICEN/UFPA). A Seção 5.2 descreve uma tese
orientada pelo professor Adilson Oliveira do Espírito Santo
(IEMCI/UFPA), da qual participei como coorientador. Acompanhem
os comentários a respeito das estruturas de cada, em que faço
comparação com o modelo apresentado na Figura 1 do capítulo
anterior.
5.1 EXEMPLO DE ESTRUTURA DE
ARTIGO CIENTÍFICO
Observe o leitor como os autores, com base no modelo de roteiro
proposto, e considerando o objetivo geral que propuseram para seu
artigo (atendo-se inclusive ao título que idealizaram para o trabalho),
fizeram a estruturação das seções para dar conta da proposta.

Com base nos exemplos, é possível que o leitor encontre formas de


fazer a organização de seu trabalho particular, seguindo o mesmo
modelo utilizado pelos autores. O artigo científico foi elaborado por
Antonio Morais da Silveira (SILVEIRA et als., 2005), e teve como
base seu trabalho de doutorado em Engenharia Elétrica (área de
Computação Aplicada) no Instituto de Tecnologia da UFPA em
2.003.

Artigo– Autores: Antonio M. Silveira, Alfredo B. Furtado, Roberto


C. L. Oliveira, Carlos Tavares da Costa Jr.
Título: Identificação de Abordagens Administrativas: um ensaio com
Lógica Fuzzy.

Objetivo : “Utilizar a Lógica Fuzzy, uma técnica da Inteligência


Computacional que trabalha com variáveis imprecisas na construção
de uma solução que auxilie na identificação da abordagem
administrativa em uso na organização e na geração de ensaios por
meio de ajustes nas variáveis, buscando adequar a abordagem
administrativa ao contexto ambiental da organização” (SILVEIRA et
als., 2005).

Estrutura do artigo :
1. Introdução;
2. Uma breve descrição sobre sistemas fuzzy;
3. Definição do problema;

4. Descrição das variáveis consideradas na solução do problema;


5. Solução do problema;
6. Implementação do sistema;
7. Avaliação dos resultados;
8. Conclusões
Referências

Comentários : O objetivo do artigo de Silveira et als. (2005) é


divulgar resultados de pesquisa multidisciplinar (Inteligência
Computacional e Ciência da Administração), em que a Lógica
Fuzzy– técnica da Inteligência Computacional que trabalha com
variáveis imprecisas – é utilizada para construir“uma solução que
auxilie na identificação da abordagem em uso na organização e na
geração de ensaios“ por meio “de ajustes nas variáveis, buscando
adequar a abordagem administrativa ao contexto ambiental da
organização”.

A introdução do artigo contextualiza o problema. Relaciona as


variáveis e as relações da variável ´ambiente´ com as demais
variáveis. Relaciona as abordagens administrativas e seus
fundamentos básicos.

A segunda seção descreve a Lógica Fuzzy, distinguindo-a como


multivalorada, pois, diferentemente da lógica clássica aristotélica
que é bivalente por admitir somente dois valores (verdadeiro ou
falso), são admitidos diversos valores, assegurandose, assim, “que
a verdade é uma questão de ponto de vista ou de graduação”.

A terceira seção define o problema que é a busca de uma solução


computacional que, para um contexto ambiental qualquer, aponte a
abordagem administrativa em uso e, por meio de ajustes nas
variáveis básicas da administração, seja identificada a que melhor
se adapte ao contexto organizacional.

A quarta seção descreve as variáveis consideradas na solução do


problema.
A quinta seção detalha a solução do problema, obtida com base na
construção de um sistema fuzzy.
A sexta seção descreve a implementação do sistema. A sétima
seção apresenta a discussão dos resultados obtidos com o sistema
fuzzy.

A oitava seção, Conclusões, aponta que, além da utilização com


sucesso em aplicações de controle na engenharia, a Lógica Fuzzy
pode ser aplicada na construção de soluções que apoiem a tomada
de decisão em áreas diferentes de conhecimento pelo fato de a
representação de problemas (em que a característica seja a
imprecisão) com variáveis e relações fuzzy produz resultados mais
próximos da realidade.
5.2 EXEMPLO DE ESTRUTURA DE
TESE
A questão apresentada ao leitor aqui é observar como o autor
estruturou sua tese, em vista do objetivo geral que propôs para seu
trabalho (atendo-se inclusive ao título que idealizou), e confrontar
esta estrutura com a apresentada na Figura 1 do capítulo anterior.

O exemplo apresentado possibilita que o leitor tenha referência


comentada a respeito do assunto, útil quando precisar fazer a
estruturação de seus trabalhos acadêmicos de pós-graduação, seja
no mestrado, seja no doutorado.

Na Introdução deste livro, foi apresentada a distinção entre


dissertação de mestrado e tese de doutorado baseado em Chinneck
(1999): a relevância, a originalidade e o nível de descobertas
expresso (seja pela solução do problema resolvido, seja pela
questão de pesquisa respondida) e o sumário de contribuições
científicas trazidas pelo trabalho. Portanto, a distinção não está no
formato: dissertação e tese obedecem ao formato da Figura 1
citada. Há exigência na tese que haja contribuição científica original
e que necessariamente envolva a solução de problema mais difícil
ou a resposta para uma questão de pesquisa mais complexa, que
traga contribuições mais relevantes para a área de conhecimento. A
dissertação de mestrado não apresenta estas exigências: a
contribuição pode ser incremental para a área de conhecimento ou
pode concentrar-se na aplicação de dada técnica conhecida em
novo contexto. Em resumo, pode-se dizer que normalmente a
dissertação oferece contribuições significativas, mas de alcance
restrito e em menor quantidade, enquanto há exigência de que a
tese traga um feixe de contribuições originais para a área, com
maior amplitude e maior profundidade.

TESE– AUTOR: Ricardo José Fernandes Anchieta


Título: Avaliação Formativa de Aprendizagem em Modelagem
Matemática.
Orientador: Prof. Dr. Adilson Oliveira do Espírito Santo
Problemática: “De que maneira a
avaliação mediadora no processo de
ensino e aprendizagem, contribui para
o desenvolvimento de atividades de
Modelagem Matemática?”. Perguntas
norteadoras: 1) É possível verificar o
desenvolvimento de todas as etapas
numa atividade de Modelagem
Matemática? 2) Quais as
contribuições que uma avaliação
mediadora traz para o
desenvolvimento de atividades em
Modelagem Matemática?
Objetivos

Objetivo geral : “Analisar uma proposta de avaliação da


aprendizagem nas atividades de Modelagem Matemática, baseada
nos conceitos da avaliação mediadora, que observe
qualitativamente a cognição dos conceitos matemáticos a cada
etapa do desenvolvimento dessa modalidade de ensino”
(ANCHIETA, 2017, p. 24).

Objetivos específicos:

1) Realizar atividades de Modelagem Matemática com a finalidade


de observar o desenvolvimento dos aspectos cognitivos antes e
depois da nossa proposta de avaliação;

2) Identificar, com observações e relatórios dos participantes da


pesquisa, as dificuldades encontradas antes e depois da nossa
proposta (ANCHIETA, 2017, p. 24).

Estrutura do texto :
Introdução;

1. Modelagem Matemática (Modelagem Matemática; Etapas da


Modelagem Matemática; Ações cognitivas e as etapas numa
atividade de Modelagem Matemática);

2. Referencial Teórico (2.1 Avaliação da aprendizagem – Aspectos


históricos, As diferentes concepções de avaliação de aprendizagem,
Modalidades de avaliação; 2.2 A Teoria Construtivista– O
Construtivismo em sala de aula, A Avaliação na perspectiva
construtivista);

3. Metodologia (3.1 Problemática e objetivos da pesquisa; 3.2


Caracterização da pesquisa; 3.3 Contexto da pesquisa; 3.4 As
atividades com Modelagem Matemática; 3.5 A Metodologia; 3.6
Análise de Conteúdo; 3.7 Proposta metodológica de avaliação); 4.
Análise Inicial dos Dados (4.1 Os trabalhos escritos – Trabalho
escrito da equipe 1, Trabalho escrito da equipe 2, Trabalho escrito
da equipe 3; 4.2 Diários de campo– Diário de campo da equipe 1,
Diário de campo da equipe 2 campo, Diário de campo da equipe 3;
4.3 Observações do pesquisador– Equipe 1, Equipe 2, Equipe 3; 4.4
Análises iniciais – Análise dos trabalhos escritos, Análise dos diários
de campo, Análise das observações do pesquisador; 4.2 Resumo do
capítulo);

5. Análise da proposta (5.1 Atividades de Modelagem Matemática –


Trabalho escrito do Grupo A, Trabalho escrito do Grupo B; 5.2
Diários de campo– Diário de campo do Grupo A, Diário de campo do
Grupo B, Observações do pesquisador; 5.3 Análises da nossa
proposta– Análise dos trabalhos escritos, Análise dos diários de
campo; 5.4 Análise Geral);
Considerações finais;
Referências;
Apêndices.
Comentários:
O texto da tese contém 176 páginas.

Confrontando a estrutura da tese de Anchieta (2017) com a Figura 1


do capítulo anterior (“Estrutura da dissertação/tese”), observa-se
que há pouca discrepância entre as duas.

O item 3 da estrutura da Figura 1 (Informação de contexto)


corresponde ao Capítulo 1 da tese, que o autor intitulou de
“Modelagem Matemática”.

O item 4 da estrutura da Figura 1 (Referencial teórico) tem igual


título na tese (é o capítulo 3).
O item 5 da estrutura da Figura 1 (Questão de pesquisa)
corresponde ao capítulo 3da tese, intitulado “Metodologia”.

O item 6 da estrutura constante da Figura 1 (Resposta à questão de


pesquisa) é desmembrado em dois capítulos na tese: capítulo 4
(“Análise inicial dos dados”) e capítulo 5 (“Análise da proposta”).

O item 7 da estrutura da Figura 1 (Conclusões) corresponde às


“Considerações finais” da tese.

Portanto, o modelo proposto no capítulo anterior do livro pode ser


reconhecido na tese, ressalvando-se que o autor fez análise de
dados sem aplicar a abordagem proposta (capítulo 4) e com a
aplicação da proposta (capítulo 5). Para maior clareza do texto da
tese, ele decidiu apresentar as respostas às suas questões de
pesquisa em dois capítulos.

Na Introdução, Anchieta (2017) apresenta a questão investigada em


sua pesquisa de doutorado.

O capítulo 1 apresenta a Modelagem Matemática, como estratégia


de ensino da Educação Matemática, com suas etapas, identificando
as ações cognitivas associadas a cada uma dessas etapas.

O referencial teórico (capítulo 2) é duplo: as técnicas de avaliação


de aprendizagem e a teoria construtivista. Ele aborda as técnicas de
avaliação de aprendizagem, para chegar à avaliação formativa; seu
objetivo é investigar esta técnica de avaliação como processo de
construção do conhecimento quando empregada a Modelagem
Matemática como estratégia de ensino, por isso utiliza a teoria
construtivista como suporte epistemológico.

No capítulo 3 o autor descreve os procedimentos metodológicos


utilizados no desenvolvimento da pesquisa. São apresentados o
cenário da investigação, os instrumentos de coleta de dados e o
processo de análise empregado. O capítulo é encerrado com a
proposta de avaliação de aprendizagem que foi aplicada em
atividades de Modelagem Matemática realizadas no âmbito da
pesquisa.

O capítulo 4, Análise dos dados, traz os registros das atividades de


Modelagem Matemática realizadas, sem a aplicação da proposta de
avaliação de aprendizagem; são apontadas as dificuldades
enfrentadas pelos estudantes durante a construção do modelo
matemático relativo ao problema a solucionar.

O capítulo 5, intitulado “Análise da proposta”, descreve os regi stros


das atividades de Modelagem Matemática agora com a aplicação da
abordagem proposta na tese, e apresenta as análises respectivas.

As “Considerações finais” trazem as c onclusões extraídas da


pesquisa, com os resultados obtidos e as indicações de estudos
futuros que podem ser desdobrados da tese. A principal conclusão é
que, com a aplicação da abordagem de avaliação formativa com
perspectiva construtivista, são superadas as principais dificuldades
encontradas pelos estudantes quando trabalham com Modelagem
Matemática.

LEITURA E REFLEXÃO 10
Estratégia para criatividade
Adaptado de meu livro “Empreender é a Questão” (lançado em
2.018)– extraído do capítulo que trata de criatividade.

Uma estratégia útil para solução de problemas intrincados que


exijam desenlace rápido e que o profissional indicado para
resolvêlos, a despeito de experiência, de conhecimento, de esforços
prolongados, não vem conseguindo sucesso. Na área de
desenvolvimento de software, com frequência ocorre de o
programador encarregado de depurar um programa que apresentou
erro (em especial quando haja também premência de tempo para
que ele seja recarregado em face de prejuízos consideráveis à
organização); a despeito de despender horas e horas de
concentração no trabalho, o programador não consegue sucesso.
Uma estratégia a ser adotada nestes casos, e que serve também
para exercitar a criatividade, são as sessões de brainstorm.

Nestas sessões, uma equipe reúne-se para encontrar a solução de


dado problema enunciado. A sessão começa com a lista de todas as
ideias que os participantes consigam formular para solução do
problema. As ideias são anotadas em um quadro. Toda ideia é bem-
vinda. Nesta etapa, nenhuma é descartada, por mais insólita que
seja. Quando o grupo não conseguir apresentar nova ideia, então
parte-se para a segunda etapa, que consiste em analisar
detidamente cada ideia, para determinar sua eficácia ou seu
descarte. A equipe toda se concentra em avaliar a ideia, com
argumentos pró ou contra. Se a ideia proposta soluciona o
problema, o processo é encerrado; se não soluciona, passa-se à
próxima ideia da lista, com a análise feita de forma semelhante.

Ricard o Semler (Semler, 2006), em seu livro “Você está louco! Uma
vida administrada de outra forma”, descreve a forma como seu
grupo empresarial investiga ideias para investimentos, planos de
trabalho, reformulações organizacionais. Ele cita como justificativa
para o título de seu livro o seguinte: se a ideia apresentada pelo
colaborador na reunião mensal do comitê “C Tá Loko” não levar à
exclamação do título, ela não é suficiente inovadora e não será
considerada. O objetivo é contrapor-se aos padrões bem-sucedidos,
ao raciocínio de “não se mexe em time que está ganhando”. A ideia
é exatamente mexer com o que está estabelecido.
6. COMO FAZER CITAÇÃO DE
OBRA CONSULTADA
Todo trabalho acadêmico ou científico apoia-se no conhecimento
estabelecido, encontrado nos livros, nos periódicos e em outros
tipos de obras. A revisão bibliográfica é feita toda ela com base no
conhecimento formalizado. Portanto, há necessidade de citar, direta
ou indiretamente, os autores das obras em que se baseia o estudo
feito.
6.1 CITAÇÃO DIRETA
A citação direta ocorre quando se inclui um trecho da obra, sem
mudar as palavras empregadas pelo autor. Neste caso, há
necessidade de aspas para delimitar o trecho copiado. O crédito do
autor ou dos autores pode ser feito com o(s) sobrenome(s) e o ano
da publicação da obra. Podem-se utilizar as seguintes formas:
(Pressman, 2006) ou [Pressman, 2006]. Veja o exemplo de citação
direta abaixo:

Pressman (2006, p. 16) define processo de software como “um


arcabouço para as tarefas que são necessárias para construir
softwares de alta qualidade”.
6.2 CITAÇÃO INDIRETA
A citação indireta ocorre quando não há transcrição literal das
palavras do autor; o trecho é reescrito, mantendo-se o mesmo
sentido das palavras do autor. A citação indireta é também chamada
de paráfrase. Neste caso, é óbvio, as aspas não são utilizadas. Veja
o exemplo de citação indireta:

Processo é a estruturação das tarefas necessárias para elaborar


software de alta qualidade (PRESSMAN, 2006).

É preferível a citação indireta pelo fato de exigir internalização do


conhecimento do autor citado– sem lhe mudar o sentido–, em vez
de reproduzir-lhe as palavras, como ocorre na citação direta. Uma
preocupação aqui é que haja fidelidade ao reproduzir ideia ou
conceito formulado pelo autor citado.

Caso se deseje citar indiretamente vários autores simultaneamente,


podem-se colocar as citações numa única lista, entre parênteses,
como mostrado abaixo, em que cinco obras são citadas ao mesmo
tempo:

Dentre as Tecnologias Dependentes de recursos elétricoeletrônicos,


citam-se (BARATO, 2002; LEITE et al., 2003; VIEIRA et al., 2003;
SANCHO et al., 2006; SIQUEIRA, 2007):

Caso se deseje citar indiretamente (ao mesmo tempo) diversas


obras de mesmo autor publicadas em anos diferentes, pode-se
identificar o autor e os anos das publicações na mesma lista, entre
parênteses, como mostrado abaixo. No exemplo, três obras do MEC
são citadas ao mesmo tempo (é óbvio que as três devem aparecer
nas referências):

(MEC, 2014, 2015, 2016).


6.3 CITAÇÃO LONGA
Quando o trecho a ser transcrito tiver mais de três linhas, tem-se
uma citação longa. Neste tipo de citação, desloca-se 4 cm da
margem esquerda para todo o texto da citação, usa-se espaço duplo
antes e depois da citação, e espaço simples entre as linhas, usa-se
fonte 10, e transcreve-se o trecho desejado, sem aspas; é
necessário informar o número da página de onde o trecho foi
extraído. Veja o exemplo abaixo:

Sobre os modelos de processo prescritivos, Pressman (2006, p. 38)


afirma que eles são assim chamados:
porque eles prescrevem um conjunto de elementos de processo– atividades de arcabouço,
ações de engenharia de software, tarefas, produtos de trabalho, mecanismos de garantia
de qualidade e de controle de modificações para cada projeto, Cada modelo de processo
também prescreve um fluxo de trabalho– isto é, a maneira como os elementos do processo
se inter-relacionam uns com os outros.
6.4 CITAÇÃO DE CITAÇÃO
Há situações em que não se tem acesso a uma obra diretamente,
mas somente a trechos citados em outra obra. Trata-se de citar uma
citação. Pode-se citar uma citação direta ou uma citação indireta; a
forma de fazer é essencialmente a mesma.

Em seguida, mostramos um exemplo de uma citação de citação


direta. Neste caso, vale-se de uma citação feita, complementada
pela palavra latina apud para dar crédito ao autor que fez a citação
(apud é palavra latina que significa citado por). Veja o exemplo:

Fritz Bauer (1969) apud Pressman (2006, p. 17) define engenharia


de software como “a criação e a utilização de sólidos princípios de
engenharia a fim de obter softwares econômicos que sejam
confiáveis e que trabalhem eficientemente em máquinas reais”.

Neste caso, a obra de Fritz Bauer não vai aparecer nas referências,
pois, afinal não foi consultada e, sim, a obra de quem a citou
(Pressman).

É um recurso que deve ser usado com parcimônia e em casos


excepcionais: ao invés de usá-lo, é preferível ir às fontes.
Especialmente em teses de doutorado, seu uso é aceito com
restrições. Eco (2007, p. 40) chega a afirmarque, “em teoria, um
trabalho científico sério não deveria jamais citar uma citação,
mesmo não se tratando do autor diretamente estudado”.
6.5 NOTAS DE RODAPÉ
É um recurso que oferece conforto ao leitor por permitir acesso
rápido a informações complementares ao texto, apresentadas no
final de cada página (JUNG, 2004).

Pode ser utilizada uma nota de rodapé para identificar uma fonte ou
para sugerir consulta adicional a ela. Outro uso da nota de rodapé:
apresentar nota explicativa de alguma passagem do texto,
comentário ou informação complementar que não se julgue
adequado incluir no texto diretamente para não o tornar confuso.
Remete-se o leitor ao rodapé, onde ele encontrará a informação
adicional que se quer acrescentar.

O rodapé é separado do texto por um traço de três centímetros a


partir da margem esquerda. As notas de rodapé são numeradas; o
número deve aparecer como sobrescrito no texto, inserido no ponto
em que se deseja que o leitor desvie para a nota no pé da página;
lá, o número é repetido, de modo a fazer a associação devida.
6.6 SISTEMA NUMÉRICO PARA
CITAÇÃO
Constitui uma forma alternativa de se fazer uma citação (a forma
mais usada hoje é o sistema alfabético, que utiliza o sobrenome do
autor, como mostrado nas seções anteriores): com uma numeração
sequencial por capítulo ou por parte do trabalho. O número indica o
autor e a obra e deve aparecer logo depois da citação (direta ou
indireta), na forma de sobrescrito ou entre parênteses. Veja abaixo:

Processo de software é “um arcabouço para as tarefas que são


necessárias para construir software de alta qualidade”1. Processo
de software é “um arcabouço para as tarefas que são necessárias
para construir software de alta qualidade”(1).

No final do capítulo ou da página, começando em 1, cada obra


correspondente é identificada adequadamente, como mostrado
abaixo.

Nas Referências teríamos a lista de obras, em sequência numérica:


1 PRESSMAN, R. S. Engenharia de Software. 6ª ed. Sâo Paulo:
McGraw-Hill, 2.006.
Este sistema de numeração não deve ser empregado quando há
notas de rodapé, pela confusão gerada com os números.
6.7 CASOS ESPECIAIS QUE
ENVOLVEM CITAÇÕES EM NOTAS DE
RODAPÉ
É conveniente registrar que o emprego de notas de rodapé deve ser
feito sem exageros, com critério, para não ocupar grande espaço da
página.

Há situações que podem ocorrer nas referências que exigem


aplicação de bom senso para solucioná-las. Por exemplo, que fazer
se um dado autor aparece com mais de uma obra no mesmo ano
nas Referências? Como identificar uma das obras em citação direta
ou indireta, de modo que ela seja diferenciada da outra, se usamos
sobrenome e ano para particularizar uma obra? A solução é
acrescentar uma letra minúscula em ordem alfabética ao ano da
publicação nas referências e obviamente também na citação cor
respondente (JUNG, 2004).
Como esse caso, outros mais podem ocorrer, conforme Jung (2004):
a citação de dois autores com mesmo sobrenome e mesmo ano de
publicação das obras: como individualizar a citação, de modo que se
consiga localizar a referência correta? Ele sugere recorrer à inicial
do prenome para individualizar a obra na citação. Tomando o
exemplo de Jung, teríamos a forma de fazer as duas citações:
(CASTELLI, A., 1998) e (CASTELLI, C., 1998).

Ele cita ainda outro caso: quando houvesse coincidência das iniciais
dos autores: aí recorreríamos ao prenome. Abaixo o exemplo dado
por Jung para esse caso, em que a individualização da obra é feita
pelo prenome do autor em vista da coincidência:

(WILKER, Eduardo, 2000)


(WILKER, Elídio, 2000)
Em casos semelhantes, o bom senso do redator determina a forma
de individualização de obras a ser adotada.

A utilização excessiva de notas de rodapé caiu em desuso. É um


recurso à disposição do redator, mas que ele deve usar sem
excesso.

Há várias expressões latinas que podem ser empregadas em uma


nota de rodapé que contenha dados complementares a uma citação.
Quando se achar conveniente utilizar uma nota de rodapé para uma
citação, deve-se fazê-lo da seguinte maneira: a primeira citação de
uma obra deve apresentar a referência completa; as citações
subsequentes podem empregar algumas expressões latinas que
evitam repetições das fontes citadas: pode-se evitar, por exemplo,
repetir o nome do autor, o nome da obra, uma página citada.
Vejamos em seguida estas expressões latinas (elas devem aparecer
no texto em itálico, já que não são palavras dicionarizadas no
Português) (ABNT, 2011):
a) idem ou id: refere-se ao mesmo autor citado no índice
imediatamente anterior. No exemplo abaixo, com idem, o índice 2
refere obra do mesmo autor da referência anterior; neste caso, cita
obra de Pedro Demo de 2008, páginas de 19 a 25. Para empregar
idem, a citação deve ser feita na mesma página em que ocorre a
citação de índice 1. Veja o exemplo:
1 DEMO, P. Metodologia da Investigação em Educação. Curitiba:
Ibpex, 2005, p. 57-61.
2 Idem, Metodologia para quem quer aprender. São Paulo: Átlas,
2008, p. 19-25.

b) ibidem ou ib: refere-se à mesma obra anterior, só que citando


outra página. Para empregar ibidem, a citação deve ser feita na
mesma página em que ocorre a citação de índice 4 do exemplo.
Veja o exemplo:
4 DEMO, P. Metodologia da Investigação em Educação. Curitiba:
Ibpex, 2005, p. 57-61.
5 DEMO, P. ibidem, p. 95.

c) opus citatum ou op. cit.: refere-se à obra citada na mesma


página, quando houver intercalação com outras notas. No exemplo,
a obra referenciada com índice 1 de Pedro Demo é novamente
citada (índice 3): agora, trata-se da página 95. Basta empregar o
sobrenome do autor com a expressão op. cit. e o número da página
(95) a que se refere esta citação (isto é suficiente para remeter à
referência completa no índice 1).

Exemplo:
1 DEMO, P. Metodologia da Investigação em Educação. Curitiba:
Ibpex, 2005, p. 57-61.
2 FURTADO, A. B. Casos e Percepções de um Professor. Belém:
abfurtado.com.br, 2016.
3 DEMO, op. cit., p. 95.
d) loco citato ou loc. cit.: refere-se à mesma página de uma obra
citada, quando houver intercalação de notas. No exemplo, as
páginas da obra referenciada com índice 1 de Pedro Demo são
novamente citadas (índice 3): diferentemente do que acontece com
op. cit. (que serve só para indicar uma obra citada), com loc. cit.
referem-se as mesmas páginas do índice 1, ou seja, páginas de 57
a 61. Basta empregar o sobrenome do autor com a expressão loc.
cit. (isto é suficiente para remeter ao local identificado no índice 1).

Exemplo:
1 DEMO, P. Metodologia da Investigação em Educação. Curitiba:
Ibpex, 2005, p. 57-61.
2 FURTADO, A. B. Casos e Percepções de um Professor. Belém:
abfurtado.com.br, 2016.
3 DEMO, loc. cit.

e) passim: o significado desta palavra latina é “aqui e ali”, “em


diversas passagens”; é usada quando se deseja indicar que a
citação se refere a várias páginas, e não há intenção de apontar
cada uma destas. No exemplo, com o índice 3, a obra de Demo é
citada: a palavra passim indica que o autor utilizou várias passagens
da obra consultada.

Exemplo:
3 DEMO, P. Metodologia da Investigação em Educação. Curitiba:
Ibpex, 2005, passim.

f) cf.: o significado é“confira”, “confronte com”; remete o leitor à


consulta a dada obra ou a nota do texto. No exemplo, o índice 4
sugere que o leitor confira a obra de Demo de 2005 para confirmar
ou obter alguma informação. Podemos empregar cf. com as
palavras infra (abaixo) ou supra (acima), para dar alguma
orientação para o leitor. O índice 6 aponta recomendação para
consultar linhas ou páginas abaixo. O índice 7 contém
recomendação para consultar linhas ou páginas acima.
Exemplo:
4 Cf. DEMO, 2005.

5 Cf. a nota 1 do Capítulo 3.


6 Cf. infra.
7 Cf. supra.

g) sequentia ou et. seq.: o significado é“seguinte”, “que se segue”.


Esta opção é usada quando não se deseja mencionar
explicitamente na citação todas as páginas consultadas: neste caso,
indica-se a primeira, seguida de et. seq. No exemplo, o índice 4 é
associado à obra de Demo de 2005, da página 57 em diante:
4 DEMO, P. Metodologia da Investigação em Educação. Curitiba:
Ibpex, 2005, p. 57 et seq.

h) et al.: o significado é “e outros”. A expressão é usada quando a


obra apresenta mais de três autores e se quer escrever apenas o
nome do primeiro. Assim como a palavra apud (mostrada na Seção
5.4 – em citação de citação), et al. pode aparecer no texto e em
notas de rodapé. Por exemplo: o artigo referenciado abaixo,
publicado na Revista Infocomp, tem quatro autores: SILVEIRA,
FURTADO, OLIVEIRA e COSTA JUNIOR:

SILVEIRA, Antonio Morais da; FURTADO, Alfredo Braga; OLIVEIRA,


Roberto C L; COSTA JUNIOR, Carlos Tavares. Identificação de
Abordagens Administrativas: um Ensaio com Lógica Fuzzy.
Infocomp Journal of Computer Science, Lavras (MG), v. 4, n. 1, p.
37-46, 2005.

Para encurtar a citação deste artigo, pode-se empregar et. al.


Teríamos no texto a menção ao sobrenome do primeiro autor (é o
autor principal do artigo e, por isso, merece ser o único que aparece
na citação), seguido de et. al.:

De acordo com Silveira et. al.(2005), ….


i) a.k.a: aparece em artigos em inglês: a.k.a provém de as known as
(também conhecido como). Usado com o sentido de: ou seja ou isto
é.

j) i. e.:o significado é “isto é”. Emprego semelhante ao do item


anterior.
k) exempli gratia ou e. g.: o significado é “por exemplo”.

l) sic: advérbio latino cujo significado é “assim”. É colocada após


uma citação (ou intercalada, entre parênteses ou colchetes); usa-se
sic quando o texto original contém erro flagrante ou algo estranho e
o redator quer expressar que é assim mesmo. É possível combinar
com passim para expressar que está assim em toda a obra
consultada ([sic passim]).

m) ipsis litteris: o significado é“literalmente”, “pelas mesmas letras”.


n) ipsis verbis: o significado é “pelas mesmas palavras”, “li-
teralmente”.

Há muitas outras expressões latinas empregadas, em especial, na


área do Direito, como mutatis mutandis(significado: “mudando o que
tem que ser mudado”), jus esperniandi(significado: “direito de
espernear ou reclamar”), sine qua non(significado: “sem o qual não
pode ser”), data venia(“dada a licença”), dura lex sed lex(“a lei é
dura, mas é lei”), in dubio pro reo(“na dúvida,a favor do réu”), ipso
facto(“por causa disso”), lato sensu(“em sentido amplo”), stricto
sensu(“em sentido estrito”), sub judice(“em julgamento”), sine die
(“por tempo indeterminado”), dentre muitas outras. Um exemplo de
mutatis mutandis:

– As explicações dadas no item anterior valem aqui, mutatis


mutandis.
6.8 FONTE SEM ELEMENTOS
ESSENCIAIS AO REGISTRO DA
REFERÊCIA:
Se não estiver disponível o ano da
publicação, escrever: [s.d.]. Se não
estiver disponível a editora, escrever:
[sine nomine] ou [s. n.]. Se não estiver
disponível o local de edição, escrever:
[s.l.]. Isto significa: sine loco.
LEITURA E REFLEXÃO 11
Conceituando paradigma10

Em sua obra “A Estrutura das Revoluções Científicas”, Thomas S.


Kuhn (2009), definiu paradigma como a realização científica
universalmente reconhecida por um dado período de tempo, e que
apresenta problemas e soluções para uma comunidade de
praticantes de uma ciência. Ideias, fórmulas, leis, definições, praxes
(rotinas), métodos, exemplos, modelos, deontologias (práticas
éticas) e soluções adotadas por uma comunidade científica na sua
atividade normal constituem, com o reconhecimento deste conjunto
de valores, o paradigma dessa comunidade, seu padrão, seu
modelo (De Masi, 2003). Isto prevalece por um tempo: até que outro
padrão se imponha, resolvendo os problemas do anterior, com
vantagens. Podemos associar o conceito de paradigma ao de
modelo de modo geral, seja organizacional, seja metodológico, seja
tecnológico, seja psicológico, seja sociológico, seja econômico,
dentre outros.
A fase que antecede a formação de uma comunidade científica
comprometida com dado paradigma parece ser caracterizada por
desorganização, sem acordos específicos e com solicitações
constantes de discussões acerca dos fundamentos da própria
disciplina. D´Amore (2007) brinca a respeito desta fase, dizendo que
há tantas teorias quantos pesquisadores, e contínuas solicitações
de esclarecimentos dos próprios pontos de vista e os dos outros.
10Extraído do meu livro “Empreender é a Questão”, lançado em julho/2.018.

Há um risco decorrente da utilização, por longos períodos de tempo,


de um dado paradigma: a percepção de que aquela é a “forma certa
de fazer tal coisa”. Esta percepção é limitadora, equivocada. Novas
abordagens devem sempre ser tentadas, em busca de se conseguir
inovar, fazer melhor, de forma mais econômica, no menor tempo,
envolvendo menos pessoas. Este apego a dado padrão de como
sefazer algo é chamado de “paralisia de paradigma”. Esta é a razão
por que, quase sempre, quem provoca quebra de paradigmas é
quem não utiliza o paradigma substituído. Barker (2002) afirma que
o sucesso na utilização de um paradigma ofusca a percepção do
novo e a sua busca.

No seu vídeo “A Questão dos Paradigmas”, Barker (2002) ap anhou


o conceito de paradigma e o trouxe para a área industrial. Um dos
casos que ele cita é o do relógio a quartzo suíço: em 1968, a Suíça
detinha 65% do mercado mundial de relógios e 80% dos lucros – e
tradição de 100 anos na indústria relojoeira; o Japão e os Estados
Unidos não tinham participação nesta área. Apenas dez anos
depois, a Suíça detinha 10% do mercado mundial e havia perdido
50 mil dos 65 mil empregos que oferecia. Japão e Estados Unidos
passaram a dominar esta indústria. Que ocorreu? Houve uma
quebra de paradigma tecnológico. A Suíça dominava o mercado de
relógios mecânicos. Mas este paradigma tecnológico foi quebrado
quando surgiram os relógios eletrônicos, movidos à bateria. Esta
revolução tecnológica levou o mercado de relógios “à estaca zero”.
Barker chama este fenômeno de “Regra da Volta à Estaca Zero”
(Ferrari, 2010). O sucesso do passado de nada adianta quando
ocorre a mudança de paradigma.
A base para a mudança de paradigma do relógio mecânico para o
relógio a quartzo foi a descoberta das propriedades deste mineral
(segundo mais abundante no planeta) na geração de impulsos
elétricos. Havia ainda uma vantagem adicional para a mudança: a
precisão do relógio. Os relógios mecânicos apresentam desajuste
de um décimo de segundo por dia, enquanto nos relógios a quartzo
o erro é de um milésimo por dia. Pronto! Duas vantagens para
quebrar o paradigma da indústria relojoeira: com o quartzo
produzemse relógios mais baratos e mais precisos. Como ficar
ainda com os relógios mecânicos? Só mesmo como um produto
vintage (produto clássico, antigo).

O mais curioso desta história – Barker nos diz isto no vídeo– é que a
descoberta da tecnologia ocorreu em congresso realizado pela
própria indústria relojoeira suíça. Mas não foi levada a sério. Nem
patenteada foi pela indústria suíça. Os fabricantes do país não
perceberam que o futuro da indústria estava ali. Para eles, afinal,
aquele protótipo não apresentava engrenagens, mola mestra, que
caracterizam os relógios mecânicos. Este fenômeno é a “paralisia
de paradigma”, mencionada no início. Para eles, jamais o futuro
estaria ali. Não pensaram assim os representantes no evento das
incipientes indústrias americana (Texas Instruments) e japonesa
(Seiko). Viram uma oportunidade a explorar com a nova tecnologia.

Barker (2002) observa que os detentores de um paradigma, com


frequência, se apegam a ele, como que paralisados pelo seu
sucesso, e não buscam caminhar na direção do novo padrão.
Acabam superados por quem não pertence a esta comunidade e
que propõe o novo paradigma – com vantagens substantivas em
relação à forma anterior, seja pela redução de custos, seja pela
redução de tempo do processo envolvido, seja por possibilitar
melhor controle do processo, seja pela combinação destes fatores
todos. Se ele se confirma como a nova forma de fazer algo, impõe-
se a mudança de paradigma.
Outro caso em que a mudança de paradigma se tornou imperativa
apresentado no vídeo é o da fotografia eletrostática da xérox. O
projeto de pesquisa foi apresentado para industriais da área de
fotografia, mas rejeitado. Posteriormente, com a colocação no
mercado das máquinas xerográficas, veio a constituir-se em um dos
negócios mais rentáveis do século passado.

Barker (2002) afirma ainda no vídeo que o sucesso conseguido hoje


com um modelo de negócio não é garantia de que seja mantido
amanhã. Isto impõe a quem seja detentor de um negócio apoiado
em dado paradigma que mantenha estudos e pesquisas sobre o
próximo paradigma naquela área. Quando a mudança de paradigma
se impuser, a migração para o novo padrão será mais rápida, com
grande vantagem sobre a concorrência. Barker (2002) utiliza a
metáfora de pilotar um carro em estrada empoeirada: quem está à
frente leva grande vantagem sobre quem vem atrás. Quem está na
dianteira tem visibilidade da pista para andar mais rápido, quem está
atrás é prejudicado pela poeira levantada por quem está na frente,
por isso precisa ir mais devagar.

São muitos os exemplos de empresas cujos negócios se apoiavam


em dado padrão (ou tecnologia), mas seus dirigentes não ficaram
atentos às mudanças de paradigma naquele negócio e, quando se
deram conta, a empresa já tinha perdido espaço para a
concorrência, e não conseguiam mais reconquistar sua posição
anterior.

Para finalizar o texto do Capítulo, transcrevemos de Dolabela (2008,


p. 137) três “frases para pensar”, contendo erros graves de
avaliação a respeito de inventos que viriam mostrar-se depois
sucesso retumbante:
Esta ´geringonça´ tem inconvenientes demais para ser levada a sério como meio de
comunicação. Ela não tem nenhum valor para nós.
Memorando interno da Western Union, sobre o telefone em 1876.

Quem pagaria para ouvir uma mensagem enviada a ninguém em particular?


Sócios de David Sarnoff, fundador da RCA, em resposta à sua consulta urgente sobre
investimentos em rádio em 1920.

O conceito é interessante e bem estruturado, mas, para merecer uma nota melhor do que
5, a ideia deveria ser viável.
Examinador da Universidade de Yale sobre tese de Fred Smith propondo um serviço
confiável de malote (Smith viria a ser o fundador da Federal Express).
7. DIFERENTES TIPOS DE
REFERÊNCIAS
O item Referências é uma parte importante de todo trabalho
acadêmico. A começar pelo que é referido, pode-se avaliar a
qualidade de um texto.

A referência a obras recentes valoriza o trabalho; obra antiga deve


ser referida somente se for um clássico da área em questão.

Tem especial valor a referência a periódicos tradicionais (números


recentes), pois contêm (em geral) informação atual ou resultado final
de pesquisa recente. Normalmente, a aceitação de um artigo para
publicação em um periódico ocorre depois de criteriosa avaliação
por uma comissão de julgadores; além disso, a concorrência pela
publicação é grande, fazendo com que somente os trabalhos de
maior mérito sejam aceitos. Por isso, a referência de texto de
periódico valoriza o trabalho.

Com respeito à referência a anais de congressos, pode-se colocar


numa escala logo abaixo à dos periódicos. Como há grande número
de eventos e o número de trabalhos aceitos é também muito
grande, a qualidade do que é publicado às vezes deixa a desejar.

Com frequência, o artigo aceito contém resultados preliminares das


pesquisas feitas. Quando os resultados são finais, buscam-se
periódicos para sua divulgação.

Em todo caso, há eventos cuja organização é criteriosa com relação


à qualidade, como é o caso no Brasil dos eventos da Sociedade
Brasileira de Computação (www.sbc.org.br) e da Conferência
Nacional de Modelagem na Educação Matemática (CNMEM).
Não deve haver exagero de citações a informações obtidas na
internet, pelo caráter de volatilidade do meio. O autor deve tomar
cuidado também com o conteúdo das enciclopédias disponíveis na
internet, como wikipédia (www.wikipedia.org); o fato de ser livre e

aberta a quem queira cooperar pode ocasionalmente levar a que


contenha informação imprecisa ou inválida. Por isso, esta
enciclopédia eletrônica pode ser usada como fonte inicial de
consulta, mas não convém citá-la no texto.

Isto não se aplica a algumas bibliotecas virtuais existentes no país.


Um exemplo de biblioteca virtual, inclusive com domínio público, é o
Portal de Periódicos da CAPES– Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior; tem-se acesso a artigos em bases de
dados e revistas nacionais e internacionais
(www.periodicos.capes.gov.br). O Portal Domínio Público permite
acesso a obras que tenham caído em domínio público, sem direito a
copirraite. Acessar o sítio: www.dominiopublico.gov.br. A Biblioteca
Eletrônica Científica Online– SciELO – Scientific Electronic Library
Online, implementada pela FAPESP (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo), dá acesso a artigos de diversas
áreas de conhecimento; reúne países de língua portuguesa e
espanhola (www.scielo.org).

A seguir são apresentados exemplos ilustrativos de como


referenciar cada tipo diferente de obra (Alves, 2003; Jung, 2004;
Oliveira, 2003; Santos, 2005; Severino, 2002; ICEN, 2008):
7.1 REFERÊNCIA DE LIVRO
FURTADO, Alfredo Braga. Programação Estruturada em COBOL. 2ª
ed. Rio de Janeiro: Campus, 1.986.
7.2 REFERÊNCIA DE CAPÍTULO DE
UM LIVRO
FURTADO, Alfredo Braga. Cânone do Bacharel em Ciência da
Computação. In: FURTADO, Alfredo Braga & ABELEM, Antonio.
(Org.). Catálogo do Curso de Bacharelado em Ciência da
Computação. Belém: Universitária/UFPA, 1.997.
7.3 REFERÊNCIA DE TCC OU
MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO OU
ESPECIALIZAÇÃO
TAKASHIMA, Rafael da Silva. Uma Proposta de Sistema Interativo
para TV Digital com o Uso de uma Aplicação Controlada por
Comando de Voz. 2.008. 56f. Monografia. (Especialização em
Análise de Sistemas)– Instituto de Ciências Exatas e Naturais,
Universidade Federal do Pará, Belém.
7.4 REFERÊNCIA DE DISSERTAÇÃO
DE MESTRADO
FURTADO, Alfredo Braga. Gerência de Desenvolvimento de
Software. 1.984. 96f. Dissertação (Mestrado em Informática) –
Departamento de Informática, Pontifícia Universidade Católica RJ,
Rio de Janeiro.
7.5 REFERÊNCIA DE TESE DE
DOUTORADO
FURTADO, Alfredo Braga. Avaliação do Uso de Tecnologias Digitais
no Apoio ao Processo de Modelagem Matemática. 2.014. 186f. Tese
(Doutorado em Educação Matemática) – Instituto de Educação
Matemática e Científica – Universidade Federal do Pará, Belém.
7.6 REFERÊNCIA DE ARTIGO E/OU
MATÉRIA DE PERIÓDICO
SILVEIRA, Antonio Morais da; FURTADO, Alfredo Braga;
OLIVEIRA, Roberto C L; COSTA JUNIOR, Carlos Tavares.
Identificação de Abordagens Administrativas: um Ensaio com Lógica
Fuzzy. Infocomp Journal of Computer Science, Lavras (MG), v. 4, n.
1, p. 37-46, 2.005.
7.7 REFERÊNCIA DE ARTIGO DE
JORNAL
FURTADO, Alfredo Braga. Curso de Computação vai ensinar
Empreendedorismo. O Liberal, Belém/PA, 22 jan. 1.997. Caderno
Poder, p. 3.
7.8 REFERÊNCIA DE DICIONÁRIO E
ENCICLOPÉDIA
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Sales; FRANCO, Francisco
M. de M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2.009.

LAROUSSE. Enciclopédia da Vida Selvagem Larousse– Animais


dos Polos I. Barcelona (Espanha): Altaya, 1.997.
7.9 REFERÊNCIA DE DOCUMENTO DE
ACESSO POR MEIO ELETRÔNICO
NOGUEIRA, Sérgio. Dicas de Português. Disponível em:
http://portugues.globolog.com.br. Acesso em 08/08/2.008.
7.10 REFERÊNCIA DE CORREIO
ELETRÔNICO (E-MAIL)
SILVEIRA, Antonio Morais da. Inteligência Computacional: um
Tutorial. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por abf@ufpa.br.
Em 22/04/2.009.
7.11 REFERÊNCIA DE ARTIGO
PUBLICADO EM ANAIS DE
CONGRESSO
FURTADO, A. B. & ESPÍRITO SANTO, A. O. Bases Epistemológicas
da Pesquisa em Educação Matemática com Modelagem Matemática
e Utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação. In:
Anais da VII CNMEM– Conferência Nacional sobre Modelagem na
Educação Matemática. Belém: GEMM/IEMCI, 2.011.
A maneira de fazer referência de material citável em documentos
acadêmicos ou científicos depende do tipo da obra consultada.

Em todo caso, como as regras para escrita deste tipo de registro


(como também para fazer as citações) não são imutáveis, é
conveniente que o leitor procure verificar se a instituição promotora
do curso para o qual ele vai submeter sua monografia tem
regulamento específico; se for o caso, este deverá ser obedecido.

O mesmo vale para a submissão de artigos para periódicos e para


eventos científicos. Nestes casos, há sempre um edital com as
regras que devem ser obedecidas, sob pena de o artigo não ser
sequer analisado para possível publicação.
LEITURA E REFLEXÃO 12
Erro é para aprender11

Em iniciativa empreendedora, aprende-se muito. Foi assim comigo e


meus sócios. Nada conhecíamos de marketing. Sempre achamos
que podemos fazer qualquer atividade que exija conhecimento
técnico. Às vezes, as condições financeiras impõem isto.

Ora, quem está iniciando uma empresa não dispõe de recursos


suficientes para dar conta de todas as necessidades da partida:
conhecimento contábil, cálculo dos tributos, conhecimento
mercadológico, legislação de pessoal, além de tudo que diga
respeito à legislação referente à própria área do negócio.

Precisando ampliar o número de clientes, sabíamos que tínhamos


que divulgar nossos serviços utilizando os meios de comunicação. A
primeira dúvida: qual escolher? Rádio, jornal, mala direta, televisão,
outdoor, panfletagem, internet, etc.?
11Extraído de FURTADO, Alfredo Braga. “Casos e Percepções de um Professor”. Belém:
abfurtado.com.br, 2.016, p. 145-148. Leia!

O natural seria procurar um especialista na área de marketing, por


intermédio de uma agência de publicidade. Esta solução esbarrava,
porém, numa dificuldade: inexistência de recursos para pagar este
trabalho. O novel empreendedor decide, então, ele próprio fazer os
anúncios.

Foi o que fizemos. Preparamos o anúncio e escolhemos o meio de


divulgação que julgávamos adequado para difundir nossos serviços.
Optamos por anunciar em jornal. Procuramos o de maior circulação
para publicar o anúncio, em edição dominical. Esta edição é a mais
cara, pois a tiragem do jornal é maior nos domingos.
Anúncio pronto, meio de comunicação escolhido, enviamos o
trabalho para publicação. Julgávamos que na segunda-feira mesmo
começaríamos a ampliar o número de clientes do serviço que
oferecíamos.

Lamentável engano! O custo de um quarto de página na edição


dominical em dado caderno custava, a preços de hoje, algo como
seis mil reais. No fim da segunda-feira constatamos que tínhamos
queimado este dinheiro: não tínhamos conquistado um escasso
cliente sequer. Saldo: meia dúzia de ligações que não resultaram
em negócio. Eu me imaginava pondo fogo em um pacote de
sessenta cédulas de cem reais.

Concluímos que tínhamos que procurar uma agência de


publicidade. Quem sabe um profissional especializado não nos
ajudaria a alcançar o objetivo? Afinal, não é válido o ditado “cada
macaco no seu galho”? Lembramos que nós mesmos criticamos os
empresá- rios que contratam profissional não especializado para
informatizar suas empresas: seus resultados não são satisfatórios
por causa disso. E percebemos que estávamos fazendo exatamente
o que criticávamos.

Decisão tomada, procuramos uma agência. O próprio dono nos


atendeu e procurou informar-se sobre o que pretendíamos anunciar.
Obteve todas as informações necessárias, prometendo que, dois ou
três dias depois, traria um plano de divulgação e algumas opções de
anúncios para analisarmos.

Isto feito, recebemos três anúncios para análise. Percebemos que


nossos serviços estavam postos usando jogos de palavras e
ilustrações que chamavam atenção do leitor para a mensagem.
Fizemos a escolha do anúncio entre as opções propostas pelo
publicitário. Discutimos rapidamente onde anunciar. Cogitamos a
televisão, mas o preço estava fora de nosso alcance.
Permanecemos no jornal dominical. Assinamos a proposta de
veiculação. Tínhamos trinta dias para pagar a veiculação e o
trabalho da agência. Ora, com o resultado da divulgação teríamos o
faturamento esperado e pagaríamos tudo. Esta a nossa esperança.
Daí em diante, com os clientes conquistados, aumentaríamos nosso
faturamento.

Agora vai! É pôr no jornal e ampliar o faturamento!


Mais um engano drástico! A enxurrada de ligações que
esperávamos não se confirmou novamente. Mais dinheiro
queimado!

Analisamos tudo o que fizemos em busca de saber onde estava o


erro. Depois de discussões, concluímos que talvez o cliente que
queríamos atingir com a mensagem não a estava recebendo, afinal
nosso serviço era diferenciado e tínhamos certeza que havia
clientela potencial para o que era oferecido.

Concluímos: a tiragem dominical é de cerca de sessenta mil


exemplares, mas poucos dos nossos clientes potenciais leem o
jornal. Tínhamos que redirecionar nossa publicidade. Seguidos
anúncios dominicais divulgavam a empresa no mercado sem
ampliar a clientela. E havia o preço (alto) desta publicidade, e não
dispúnhamos de folga de recursos para isso.
A partir daí resolvemos fazer publicidade direcionada para o cliente
potencial. Como oferecíamos um seminário, então deveríamos fazer
com que o folheto de divulgação chegasse às mãos dos
profissionais interessados no seu conteúdo. Fazendo assim,
rapidamente conseguimos tornar viável o evento, a um custo
baixíssimo.

A partir desta constatação, passamos a racionalizar os custos da


publicidade, questionando primeiro onde mesmo estavam os
clientes a serem atingidos e por que meio conseguiríamos fazerlhes
chegar às mãos as informações necessárias para sua decisão. Se o
que tínhamos era um programa dirigido para advogados, como
contatá-los? Ora, uma forma seria encaminhando um vendedor ao
seu escritório para demonstrar-lhe o produto, se tivéssemos
listagem com seus endereços. Como obter esta listagem?
Poderíamos obtê-la a partir de um catálogo telefônico. Outra forma
seria adquirindo da própria OAB regional. O custo para fazer com
que o cliente potencial tenha ao seu alcance a publicidade é
bastante reduzido.

O aprendizado que este episódio ofereceu foi valioso.

Na sua trajetória, o empreendedor comete seguidos erros. Alguns


muito caros. Se tiver a percepção de identificá-los, e vier a fazer as
correções devidas, terá valido para seu aprendizado.
8. ALGUNS ERROS
FREQUENTES DE ESCRITA12
No Capítulo 4 tratamos da visão macroscópica do
artigo/dissertação/tese. Neste Capítulo, focamos nossa atenção em
uma visão microscópica da obra a ser elaborada, cuidando de evitar
possíveis erros que possam ser cometidos, para garantir qualidade
do original.
8.1 LISTA DE ERROS FREQUENTES
Não há pretensão de que a lista apresentada abaixo, com erros
frequentes encontrados em textos acadêmicos ou científicos, seja
completa. É fruto de compilação de dificuldades percebidas na
leitura de trabalhos acadêmicos ou artigos científicos ao longo de
décadas de trabalho docente.

8.1.1 PERÍODOS LONGOS


A coesão do texto pode ser afetada por períodos longos. Há
necessidade de escolher conectivos apropriados para ligar as
frases. Outro problema possível é o embaralhamento de assuntos
tratados, dificultando a compreensão.

O estudante deve preferir frases curtas, períodos com quinze a vinte


palavras. José Saramago– escritor de Língua Portuguesa, ganhador
do Prêmio Nobel de Literatura– caracterizava-se por períodos que
abrangiam várias páginas, e conseguiam manter a fluidez.
Principiantes não alcançam a maestria de Saramago. Só é atingida
(se algum dia for) depois de longa prática da escrita. Pela mesma
razão, por sua vez, Eco (2007) cita que não se deve imitar Marcel
Proust: nada de períodos longos. Se ocorrerem na sua escrita,
registre-os e depois os desmembre.
12 Texto ampliado, extraído de FURTADO, ALFREDO B. Páginas Recolhidas: Política,
Educação, Administração, Artigos, Valores, Crônicas e Outros Temas. Belém:
abfurtado.com.br, 2009.
8.1.2 EMPREGO DE GÍRIAS
Os textos acadêmicos ou técnicos prezam a norma culta da língua.
Deve ser evitado o emprego de gírias e de expressões típicas da
língua falada, como “né”, “prá” e outros.

Se a intenção é reproduzir uma fala particular (à qual se quer dar


destaque), coloque-a entre aspas.

Da mesma forma, abreviações usuais em comunicação pela internet


(como “vc”, “tb”, “pra”, e outros) devem ser evitadas. (MASSUELLA,
2015)

8.1.3 ROTEIRO DAS IDEIAS A SEREM APRESENTADAS

Para garantir progressão adequada da apresentação das ideias


sobre o assunto a abordar, é conveniente elaborar um roteiro com
introdução, desenvolvimento (desdobrado nas seções necessárias)
e conclusões. Este roteiro serve de base para a escrita do texto. Em
cada parte, são identificados os tópicos que serão tratados,
ordenados adequadamente para facilitar a compreensão do leitor.

Para fazer a conexão entre as frases do texto, harmonizandoas, são


utilizadas conjunções, como “contudo”, “entretanto”, “porém”,
“todavia”, “mas”, “embora”, “uma vez que”, “ainda que”.
(MASSUELLA, 2015)

8.1.4 USO DA PALAVRA ATRAVÉS


Através denota a ideia de atravessar algo. Veja o exemplo:
– Vejo o gato na calçada através da vidraça. [emprego correto da
preposição através]
Agora veja este exemplo:
– O texto foi produzido através de pesquisa bibliográfica e
entrevistas estruturadas.
Para corrigir o emprego da preposição, pode-se substituí-la por: “por
meio de” ou “por intermédio de”. Teríamos então:
– O texto foi produzido por meio de pesquisa bibliográfica e
entrevistas estruturadas.
8.1.5 USO DO PRONOME RELATIVO ONDE

Os pronome relativos – onde, que, quem– substituem um termo da


oração anterior e fazem a ligação entre duas orações. Em particular,
o pronome relativo onde só deve ser usado em referência a lugar.

– Esta é a empresa onde trabalho.


Um emprego errado deste pronome aparece no exemplo:

– Sistema de informação é um conjunto de partes interrelacionadas,


onde os componentes também podem ser sistemas.

Note que onde não se refere a lugar; aparece na frase,


erradamente, como elemento de ligação; deve-se substituí-lo por
conjunções como no qual, na qual, em que. Neste caso, ficaria
melhor em que. Portanto, teríamos:

– Sistema de informação é um conjunto de partes interrelacionadas,


em que os componentes também podem ser sistemas.

Outro exemplo (retirado de postagem no Facebook):


– Você já tentou jogar um jogo onde você não conhecia as regras?
Neste caso, o pronome onde não se refere a lugar. Como corrigir?
Poderia ficar assim:
–Você já tentou jogar um jogo do qual você não conhecia as regras?
8.1.6 POR ISSO
Outro exemplo de erro frequente é com a expressão por isso.
Alguns escrevem porisso, que inexiste.
8.1.7 HAJA VISTA

Outro caso parecido é com haja vista. Alguns erradamente a


flexionam. A expressão não é flexionável. Portanto, ao usar haja
visto, hajam vistos incorrem-se em erro.

8.1.8 PORVENTURA
Porventura tem como significado por acaso. Alguns a escrevem
erradamente como duas palavras: por ventura.
8.1.9 USO DA VÍRGULA
Casos em que a vírgula deve ser empregada:
Caso 1) A vírgula deve ser usada para separar o aposto. Na frase:
Rui Barbosa, o Águia de Haia, foi um grande brasileiro.

O aposto é “o Águia de Haia” – explica quem é Rui Barbosa. Neste


caso, a vírgula deve separar o aposto. Aliás, como veremos adiante,
é o único caso em que o sujeito é separado do predicado por
vírgula– quando há o aposto.

Caso 2: A vírgula deve ser usada para separar elementos de uma


lista. Nas duas frases ocorre emprego correto da vírgula (a segunda
frase é mais comum: a conjunção e pode substituir a segunda
vírgula):

Eu, tu, ele vamos viajar para Floripa.


Eu, tu e ele vamos viajar para Floripa.

Veja a frase abaixo:


Eu, tu, ele, vamos viajar para Floripa.

A terceira vírgula torna incorreta a frase, pois separa o sujeito (“eu,


tu, ele”) do predicado (como veremos adiante).
Caso 3: A vírgula deve ser usada para separar o adjunto adverbial
no início da frase:
No mês passado, a inflação ficou acima do previsto. Admite-se
opcionalidade do emprego da vírgula neste caso, dependendo do
ritmo que o autor quer dar para a frase. Exemplos: Depois vamos
combinar isto melhor.
Depois, vamos combinar isto melhor.
Caso 4: a vírgula deve ser usada para separar orações
independentes. Veja a frase:
Vim, vi, venci.
Observe que temos três orações na frase acima. Outro exemplo
(duas orações):
Eu quero ver o filme recém-lançado, mas não tenho dinheiro. Caso
5: emprego da vírgula antes da conjunção e

Normalmente não se coloca vírgula antes da conjunção e, exceto no


seguinte caso: se o sujeito da frase que segue a conjunção for
diferente do sujeito da primeira frase. Veja o exemplo (sujeito da
primeira frase – o governo; sujeito da segunda frase – o
impedimento):

O governo fracassou em conseguir apoios da sociedade, e o impe-


dimento da presidente foi inevitável.
Um erro comum com emprego da vírgula é separar sujeito do
predicado. Na frase:
O Brasil, passa por desajuste sério em sua economia. A vírgula
separa o sujeito (O Brasil) do predicado. O emprego da vírgula é
incorreto.
Veja mais este exemplo:
Venezuela, Cuba e Coreia do Norte, são exemplos de governos
autoritários.

O mesmo argumento é usado para apontar erro na frase: a segunda


vírgula da frase deve ser eliminada, pois separa o sujeito composto
(Venezuela, Cuba e Coreia do Norte) do predicado.

8.1.10 A FIM DE

A conjunção a fim de é grafada às vezes erradamente como: afim


de. Exemplo correto: estou a fim de viajar. Note que a palavra afim
existe; é adjetivo; seu significado é “que apresenta afinidade”. Ex:
Eles têm almas afins.

8.1.11 MAS/MAIS

Alguns confundem as duas palavras: mas – conjunção adversativa;


mais – advérbio de intensidade. Vejamos um exemplo em que
aparecem as duas palavras:
– Eu não censuro tanto o PT do tempo das vacas gordas por aquilo
que fez, mas mais por aquilo que deixou de fazer. (Reinaldo
Azevedo13).
13 Blog – veja.abril.com.br/blog/reinaldo [25/8/2015].

Mas (conjunção adversativa) inicia a frase que contradita a primeira;


mais (advérbio) aqui dá intensidade da censura que o autor faz.

8.1.12 POR QUE, POR QUÊ, PORQUE, PORQUÊ


Como se vê há quatro casos diferentes: vou-me valer de exemplos
formulados por Anjos (2003).
1o. caso: por que (separado e sem acento): vamos ver quatro
situações para este caso:
1) Por que você saiu?
2) Não sei por que você saiu.

O primeiro exemplo é o da frase que apresenta uma interrogação


explícita (há o ponto de interrogação no fim da frase); o segundo
apresenta uma interrogação implícita; está implícita a palavra motivo
na frase: não sei por que [motivo] você saiu.

3) Anseio por que me digam a verdade. (= para que) 4) Este é o


ideal por que lutamos.

(= pelo qual)
2o. caso: por quê (separado e com acento):

Este é um caso simples: usa-se por quê no fim da frase


interrogativa. Veja o exemplo:
1) Você saiu por quê?
2) Não vamos por quê?
3o. caso: porque (junto e sem acento):

Outro caso simples de decidir: usamos porque quando


apresentamos uma causa: porque é conjunção causal. Veja o
exemplo (a causa de não ter saído foi a chuva):
Não saí porque estava chovendo.
4o. caso: porquê (junto e com acento):
Outro caso simples: porquê como substantivo. Veja o exemplo: Não
sei o porquê da sua atitude.
Veja as seguintes frases – há algum erro na primeira frase? E na
segunda?
– Por que me expulsaram? Porque não faço parte de quadrilha?

Na primeira não há erro: recai no caso 1º caso acima, situação 1.


Na segunda frase também não há erro: sem parte implícita, esta
frase seria: [A justificativa] é porque não faço parte de quadrilha?

Portanto, é a conjunção causal que aparece na frase (3º caso


acima).
8.1.13 USO DE MESMO, MESMA, MESMOS, MESMAS

Utilizadas erradamente para substituir pronomes. Quando isto


acontece, é conveniente reescrever a frase, substituindo mesmo,
mesma, mesmos, mesmas por um pronome. Veja o exemplo abaixo:

– Meu artigo científico foi aceito para publicação na revista; o


mesmo trata de tecnologias digitais na educação.

Note que o mesmo se refere ao artigo; portanto, ocupa o lugar de


um pronome. Podemos melhorar a frase, substituindo o mesmo por
ele. Veja como fica:

– Meu artigo científico foi aceito para publicação na revista; ele trata
de tecnologias digitais na educação.

Há algum erro na frase abaixo?


– Ela mesmo não sabia responder a pergunta.
Há erro, pois mesmo flexiona; forma correta:

– Ela mesma não sabia responder a pergunta.

Veja o trecho abaixo que um estudante me enviou:


– Podemos definir a metodologia como passos sequenciais de uma
determinada atividade a ser desenvolvida, onde os mesmos devem
seguir regras de organização para que se tenha segurança e evitar
erros no andamento das etapas.

No mesmo parágrafo, ocorre o uso de onde e mesmos. Como


refinar este trecho?

– A metodologia é constituída de passos sequenciais de uma


determinada atividade a ser desenvolvida, que devem seguir regras
de organização para que se tenha segurança e que se evitem erros
no andamento das etapas.

8.1.14 USO DE CUJO, CUJA, CUJOS, CUJAS

Cujo é pronome relativo que relaciona dois substantivos, em que o


segundo é possuidor de algo designado pelo primeiro. Veja o
exemplo escrito por um estudante:

– Segue em anexo o arquivo pdf com o plano de negócios


simplificado da equipe, cujo os integrantes são: fulano, sicrano e
beltrano.

Há erro na frase, pois o pronome já incorpora o artigo. No caso, o


correto é:
– Segue em anexo o arquivo pdf com o plano de negócios
simplificado da equipe, cujos integrantes são: fulano, sicrano e
beltrano. 8.1.15 EXPRESSÃO EM ANEXO

Esta expressão é invariável. Veja o exemplo:


– Seguem em anexo as atas das reuniões.
A palavra “anexo” é flexionada. Portanto:

– Seguem anexas as atas das reuniões.


8.1.16 IR DE ENCONTRO A / IR AO ENCONTRO DE

A expressão “ir de encontro a” corresponde a “contrapor -se a”, “ser


contrário a”, “chocar-se com”; a expressão “ir ao encontro de”
significa “corroborar com”.
Veja o trecho de dissertação abaixo:

“ Essa remodelação de funções no processo de ensino e


aprendizagem mediado pela estratégia/método Modelagem
Matemática em um contexto informatizado vai de encontro ao que
especificam Martins, Vieira e Gonçalves (2012), sobre as
necessidades que atualmente esse processo solicita, pois para os
autores…”.

Na verdade, o autor do trecho deseja expressar ideia contrária ao


que acabou por manifestar: sua intenção era exprimir que a remo-
delação de funções no processo de ensino e aprendizagem
mediado pela Modelagem Matemática em contexto informatizado
corrobora com o que afirmam Martins, Vieira e Gonçalves.

8.1.17 IMPLICAR EM/IMPLICAR


Este verbo,na acepção de “ter como consequência”, “acarretar”,
“requerer”, às vezes, aparece como no exemplo:
– A descoberta de erro em uma fase do processo implica,
inevitavelmente, em retrabalho.
Como é transitivo direto,o verbo “implicar” não admite a preposição
“em”. Portanto, a redação correta da frase é:
– A descoberta de erro em uma fase do processo implica,
inevitavelmente, retrabalho.
8.1.18 SUJEITO PREPOSICIONADO
A norma culta da língua não aceita que o sujeito seja
preposicionado. Veja o exemplo (Anjos, 2003):
– Já era hora dele ter chegado.
Nesta frase, o sujeito ele encontra-se contraído com a preposição
de.
No Português padrão seria:
– Já era hora de ele ter chegado.
8.1.19 PARTICÍPIO PASSADO DE VERBO ABUNDANTE Pegamos
a última frase e fizemos uma mudança: o que há de errado nesta
frase?
– Já era hora de ele ter chego.
O particípio passado de chegar é chegado; como este verbo não é
abundante (verbo abundante admite duas formas do particípio
passado: forma regular e forma irregular ou reduzida), a forma
chego não é admitida.

Portanto, na norma culta da língua, teríamos:


– Já era hora de ele ter chegado.

O verbo aceitar é abundante: admite dois particípios passados:


aceitado e aceito. Cabe a pergunta: quando usar um e outro? A
resposta: depende do verbo que o acompanha. Quando usarmos
ter/haver, a forma regular é aceitado; quando usarmos ser/estar, a
forma irregular é aceito. Veja os exemplos:

– Ele não veio por não ter aceitado o convite.


– Seu pedido de revisão de prova foi aceito.

Cunha (2008) e Nogueira (2008) relacionam vários verbos


abundantes, com as suas duas formas de particípio passado (veja o
quadro):

Verbo

aceitar acender
eleger
entregar expresser expulsar extinguir
imergir
imprimir
incorrer
exprimir
isentar
matar
omitir
pagar
pegar
prender
salvar
submergir suspender
gastar

Particípio Regular aceitado acendido

elegido
entregado expressado expulsado extinguido imergido imprimido
incorrido exprimido isentado matado omitido
pagado pegado prendido salvado submergido suspendido gastado

Particípio irregular aceito


aceso
eleito
entregue expresso expulso extinto imerso impresso incurso
expresso isento
morto
omisso pago
pego
preso
salvo
submerso suspenso gasto

Não são aceitas as formas: trago (verbo trazer), chego (verbo


chegar), empregue (verbo empregar), pois os verbos não são
abundantes. Veja os três exemplos abaixo:

1) Eu ainda não tinha chego quando houve a confusão. A forma


correta é: Eu ainda não tinha chegado quando houve a confusão. 2)
Ele não tinha trago a cerveja para iniciar a festa. A forma correta é:
Ele não tinha trazido a cerveja para iniciar a festa.

3) Ele não tinha empregue todo o dinheiro do orçamento no fim do


ano. A forma correta é: Ele não tinha empregado todo o dinheiro do
orçamento no fim do ano.

8.1.20 POR ORA / POR HORA


Usar “por ora” com o sentido de “por enquanto”. Por sua vez, a
expressão “por hora” refere-se a tempo. Veja os exemplos: A
velocidade permitida nas estradas é de 80 kilômetros por hora.
Por ora, não há informações sobre o resultado do processo.
8.1.21 SUBJUNTIVO DE ALGUNS VERBOS– ERROS COMUNS
Veja estas frases com erro da forma verbal do subjuntivo:

1) Se o locador manter o valor do aluguel, eu assino o contrato.


Forma correta: Se o locador mantiver o valor do aluguel, eu
assinarei o contrato.

2) Se ele pôr o produto na gôndola, haverá mais vendas. Forma


correta: Se ele puser o produto na gôndola, haverá mais vendas. 3)
Quando eu o ver darei o recado. Forma correta: Quando eu o vir
darei o recado.
4) Quando ele vir falar comigo eu o avisarei. Forma correta: Quando
ele vier falar comigo eu o avisarei.
8.1.22 PERCA / PERDA

A palavra “perca” é forma do verbo perder; “perda” é substantivo.


Com frequência encontramos a forma “perca” empregada como
substantivo. A forma “perca” ocorre no subjuntivo presente: que eu
perca; que ele/ela perca. E também no imperativo afirmativo (perca
ele/ela) e imperativo negativo (não perca ele/ela).
Exemplos:

Perca a esperança: não vai dar certo o negócio. (imperativo


afirmativo)
A perda de bilhões de reais com a corrupção sangra a economia do
país. (substantivo).
8.1.23 USO DO TRAVESSÃO

O travessão ( –) é usado para explicar ou destacar alguns termos da


oração. Alguns confundem este sinal gráfico com o hífen (-), que é
usado para separar termos de uma palavra composta. Exemplos:
micro-ondas, anti-inflamatório.

Exemplo de emprego do travessão:


Basicamente existem duas formas de citar uma obra referida em um
texto – citação direta e citação indireta.
Quando o trecho a ser citado literalmente ultrapassa três linhas,
– temos a citação longa –, que também é uma citação direta, mas
com regras próprias.

8.1.24 AMBIGUIDADE

Cada frase do texto acadêmico ou técnico deve ter uma única


interpretação. O discente deve ler seu texto e verificar se não há
ambiguidade, ou seja, se não dá margem para mais de uma
interpretação. Vejamos mais um exemplo de Anjos (2003):

– Quando tentei tirar o cachorrinho do bebê, ele mordeu-me.

Onde está a ambiguidade? Quem me mordeu – o cachorrinho ou o


bebê? Como a frase poderia ser reescrita sem ambiguidade? Veja
abaixo as duas frases (dependendo de quem me mordeu):

– O cachorrinho me mordeu quando tentei tirá-lo do bebê.


– O bebê me mordeu quando tentei tirar-lhe o cachorrinho.

– João disse a José que ele seria admitido como sócio.


Ambiguidade: quem seria admitido como sócio: João ou José?
Reescrevendo sem ambiguidade:
– João disse a José: eu serei admitido como sócio.
– João disse a José: você será admitido como sócio.

Leia a frase abaixo; há ambiguidade? Se tiver, como a ambiguidade


seria removida?
– Raio atinge jovem com joystick na boca.
8.1.25 PARALELISMO SINTÁTICO

É um recurso para garantir coesão do texto. O objetivo é fazer com


que as orações de um período apresentem mesma estrutura
sintática. Com isto, o período fica mais legível e claro. Tomemos
mais um exemplo de Anjos (2003):

– Ele demonstra insociabilidade, ser irritável, desconfiança e não ter


segurança.
Esta frase não apresenta paralelismo sintático: observe que as
características da pessoa são apresentadas com substantivos
(insociabilidade, desconfiança, segurança) e verbos seguidos de
adjetivos (irritável). Com paralelismo sintático (no caso, com uma
relação de substantivos):

– Ele demonstra insociabilidade, irritabilidade, desconfiança e


insegurança.
Observamos que o emprego da mesma forma gramatical na lista de
atributos assegura legibilidade e elegância à frase.
– As origens e fundamentos da Ordem Política

Observe este título (sem paralelismo): origens com artigo,


fundamentos sem artigo. Duas soluções para escrever com
paralelismo: os dois substantivos com artigo ou sem artigo. Veja
como fica melhor:

– As origens e os fundamentos da Ordem Política


– Origens e fundamentos da Ordem Política

Frase de Anjos (2003): há paralelismo sintático na frase abaixo?


– O professor falou para o estudante fechar o livro e que pegasse
uma folha de papel.
Veja os verbos das duas frases (“fechar” e “pegasse”); precisamos
uniformizar. Poderia ficar:

– O professor falou para o estudante fechar o livro e pegar uma


folha de papel.
Agora leia o trecho abaixo: que dizer a respeito de paralelismo?

– (…) A toda hora e em toda parte, há íntegros que nos atropelam


com a sua integridade, há justos que nos humilham com a sua
justiça, há castos que nos ofendem com a sua pureza. (Rodrigues,
1995, p. 188)14

Perfeito quanto ao paralelismo sintático; observe que as frases têm


mesma estrutura sintática, são simétricas.
Exemplo referido por Cipro Neto (2012) de vestibular da Fuvest: há
paralelismo sintático?
– Funcionários cogitam nova greve e isolar o governador. 14
RODRIGUES, NELSON. A Cabra Vadia: Novas Confissões. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.

O que cogitam os funcionários? Duas coisas: greve (substantivo) e


isolar (verbo). Portanto, temos que uniformizar a classe gramatical:
duas formas possíveis: ambos com substantivos ou ambos com
verbo.

Com substantivos:
– Funcionários cogitam nova greve e isolamento do governador.
Com verbos:
– Funcionários cogitam entrar em greve novamente e isolar o
governador.
8.1.26 PARALELISMO SEMÂNTIVO
Ocorre paralelismo semântico quando a expectativa do leitor, com
algum trecho da frase, é quebrada. Veja o exemplo:
– O livro “Cabra Vadia” de Nelson Rodrigues é delicioso. Ocorre
paralelismo semântico na frase acima, porque o livro não é
delicioso; poder-se-ia dizer: interessante, engraçado, etc.
– A seleção canarinha foi goleada pela Alemanha.

A frase acima é perfeita sintaticamente, mas não é semanticamente.


Não foi a Alemanha (o país) que goleou a seleção canarinha: foi a
seleção alemã de futebol.

– Aprecio açaí, maniçoba e carros.

A frase acima é correta sintaticamente, mas não é semanticamente


(isto é, quanto ao significado). A forma de apreciação dos elementos
listados não é compatível: açaí é uma fruta, maniçoba é uma iguaria
típica do Pará; a forma de apreciação dos dois elementos não é a
mesma que se tem com carros.
Ocorre paralelismo sintático no trecho abaixo? Ocorre paralelismo
semântico?
– (…) A toda hora e em toda parte, há íntegros que nos atropelam
com a sua integridade, há justos que nos humilham com a sua
justiça, há castos que nos ofendem com a sua pureza. (Rodrigues,
1995, p. 188)

Não há paralelismo sintático: as estruturas sintáticas são iguais nas


três construções (a que trata da integridade, a que trata da justiça, a
que trata da castidade); a graça do trecho é a escolha de palavras
que o autor faz: alguém nos atropela com sua integridade; alguém
nos humilha com sua justiça; alguém nos ofende com sua pureza.
As frases são harmoniosas; não afrontam o leitor: deleitamno.

8.1.27 GERUNDISMO

É o emprego desnecessário do gerúndio. Veja o exemplo:


– Estarei repassando as informações solicitadas mais tarde.

Observe que dá ideia de ação a ser realizada no futuro, mas em que


ocorre continuidade. É melhor dizer:
– Repassarei as informações solicitadas mais tarde.
8.1.28 CACÓFATO

É a “palavra ou expressão obscena, ridícula ou fora de contexto,


formada pela sílabafinal de uma palavra e pela inicial da seguinte”
(HOUAISS et al, 2009, p. 355). Veja os exemplos (Nogueira, 2008):

– Rodovia controlada por radar.


– Tirei o pipo da boca dela.
– O cobrador me pediu o tíquete, mas eu já lhe havia dado.

– Flávio Conceição pediu a bola e Cafu deu.


– Hoje foi dia de ensaio geral.
– Na vez passada deu tudo certo.
– As mudanças serão feitas por cada setor.

Há algumas ocorrências de combinações de palavras em frases


que, apesar de não constituírem cacófatos, devem ser evitados
(Nogueira, 2008):
– Foi utilizada uma máquina para contar o dinheiro.
– O consumidor denuncia e o Procon confirma.
8.1.29 CLICHÊ

É uma expressão muito batida, muito repetida, que, por isso, acaba
por empobrecer o estilo. A repetição frequente da expressão cria o
clichê. Deve ser evitado. Alguns exemplos de clichês: grosso modo,
via de regra, firme e forte, tapar o sol com a peneira, nesta altura do
campeonato, fantasma do rebaixamento (e outras mais relacionadas
ao futebol), alto e bom som, aparar as arestas, empanar o brilho, no
frigir dos ovos, dizer cobras e lagartos.

Os textos de jornais e revistas exageram nos clichês. Exemplo de


um trecho inicial de artigo publicado em 15/1/2016 de um jornalista
esportivo de O Estado de S. Paulo: vejam quantos clichês! Vamos
contar:

– De uns tempos para cá, quem tem culpa no cartório e foi pego
com a boca na botija em geral prefere soltar o verbo, entregar ex-
parceiros e dar uma aliviada na própria situação.

Quatro clichês encontrados: “quem tem culpa no cartório”, “p ego


com a boca na botija”, “soltar o verbo”, “dar uma aliviada”. A pressa
certamente leva a pouco cuidado com o texto, a não procurar
maneira melhor de expressar o pensamento, sem recorrer a estas
expressões tão batidas.

8.1.30 TER NO LUGAR DE ESTAR


Veja a frase abaixo (adaptada de artigo de jornal):

O marido traído não viu outra saída a não ser o divórcio, embora
não tivesse muito seguro disso, pois amava demais a jovem e bela
esposa.

Note que o autor emprega o verbo ter (tivesse) em vez do verbo


estar (estivesse). O marido traído pode ter segurança disso ou estar
seguro disso. Portanto, em português padrão, teríamos uma das
formas:
O marido traído não viu outra saída a não ser o divórcio, embora
não estivesse muito seguro disso, pois amava demais a jovem e
bela esposa.

O marido traído não viu outra saída a não ser o divórcio, embora
não tivesse muita segurança disso, pois amava demais a jovem e
bela esposa.

8.1.31 MIM/EU

Observe a frase: Prepare a mala para mim. Não há erro: as


preposições regem o pronome mim. Veja a frase: Prepare a mala
para mim viajar. Neste caso, há erro porque a preposição não rege
o pronome, mas toda a oração. O correto é: Prepare a mala para eu
viajar. O pronome eu é sujeito de viajar. Outros exemplos de
emprego correto de mim/eu(FOLHA, 2010, p. 140): “O problema
deve ser resolvido por mim e ela”; “Ela fez o possível para eu ficar”.

8.1.32 TEXTO CIENTÍFICO– TEXTO LITERÁRIO

Há diferença na concepção entre o texto científico (ou acadêmico) e


o texto literário. O científico deve ser rigoroso, formal, preciso,
conciso; deve ser econômico no emprego de adjetivos e todas as
demais características listadas na Seção 4.1.

No entanto, vale ratificar a ressalva feita nessa Seção: algumas


áreas (Letras, Educação e Literatura) não obedecem estas
características em seus textos. Elas aceitam recursos que são
próprios do texto literário, em que os valores são outros. Por
exemplo, no texto literário, a adjetivação, as figuras de linguagem e
a linguagem conotativa são apreciadas.
8.1.33 ACORDO ORTOGRÁFICO15
O Acordo Ortografico em vigor determina o seguinte (ABL, 2009),
(Sautchuk, 2009):

a) Eliminação do trema (exceto nas palavras de origem alemã):


palavras que escrevíamos com trema como freqüente, seqüência
são escritas agora como frequente, sequência; no entanto, as
palavras de línguas estrangeiras e suas derivadas mantêm o trema;
por exemplo, a palavra Müller mantém o trema.

b) O alfabeto incorpora as letras k, w e y; são aceitas as palavras:


darwinismo, byroniano.

c) Com respeito ao acento agudo, deixam de ser acentuadas as


palavras paroxítonas com os ditongos abertos ei e oi. Por exemplo,
a palavra idéia é escrita agora como ideia; a palavra jóia agora é
escrita sem acento: joia. Observe-se que as palavras oxítonas
terminadas nos dois ditongos mantêm o acento: por exemplo, as
palavras papéis e herói mantêm o acento.

d) Ainda o acento agudo: deixam de ser acentuadas as paroxítonas


com i ou u tônico depois de um ditongo. Por exemplo, a palavra
feiúra é escrita agora sem acento: feiura.
15 Tópico extraído de FURTADO, Alfredo Braga. Páginas Recolhidas: Política, Educação,
Administração, Artigos, Valores, Crônicas e Outros Temas. Belém: abfurtado.com.br, 2.009.

e) Com relação ao acento circunflexo: deixa de ser acentuado o


hiato oo. Por exemplo, a palavra vôo perde o acento: voo.

f) Ainda o acento circunflexo: deixa de ser acentuado o hiato ee nas


flexões dos verbos crer, dar, ler e ver. Assim, as formas crêem,
dêem, lêem e vêem perdem o acento, ficando: creem, deem, leem e
veem.
g) O acento diferencial deixa de ser usado nos seguintes casos:
pára (verbo), péla (verbo), pélo (verbo), pêra (substantivo), pêlo
(substantivo), pólo (substantivo). No entanto, são mantidos os
acentos diferenciais em pôde, pôr, tem/têm, vem/vêm,
mantém/mantêm (o mesmo ocorre nos verbos deter, conter, convir,
intervir, advir, etc.). O acento diferencial é facultativo na palavra
fôrma: pode-se escrever tambem sem acento: forma;

h) O caso mais complexo é o emprego do hífen pela variedade de


casos;

h.1) o hífen deixa de ser usado nos seguintes casos: quando o


prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por
consoante (exceto r ou s). Exemplo: autopeça, seminovo,
anteprojeto, semideus;

h.2) o hífen deixa de ser usado quando o prefixo termina em vogal e


o segundo elemento começa por r ou s (estas consoantes são
dobradas): antissocial, contrassenso, semirreta, contrarregra,
biorritmo, minissaia, antirracismo, microssistema, antessala;

h.3) aqui uma regra muito subjetiva: o hífen deixa de ser usado
quando se perdeu a noção de que a palavra é composta: é o caso
de paraquedas, parabrisa, pontapé, mandachuva, predeterminado,
preenchido;

h.4) o hífen deixa de ser usado quando a vogal que encerra a


primeira parte da palavra composta for diferente da que inicia a
segunda; é o caso das palavras: autoescola, autoaprendizagem,
autoestrada, extraoficial, semianalfabeto, aeroespacial, antiaéreo,
semiárido, microempresa, infraestrutura, plurianual;

h.5) o hífen deixa de ser usado quando o prefixo é terminado por


consoante e a segunda parte da palavra começa por vogal; é o caso
das palavras: hiperativo, interestadual, superaquecimento,
hiperacidez, superamigo;
h.6) o hífen passa a ser usado quando a mesma vogal que termina
o prefixo começa o segundo elemento da palavra composta; é o
caso das palavras: contra-ataque, anti-inflamatório, micro-ondas,
semi-interno, sobre-estimar. Este caso apresenta exceções: se o
prefixo for co e a segunda palavra comeca com o, não há hífen; por
exemplo, nas palavras coordenar, cooperar;

h.7) o hífen é mantido depois dos seguintes prefixos: além, aquém,


ex, pós, pré, pró, recém, sem, vice. Exemplos: ex-aluno, além-mar,
ex-síndico, recém-casado, pré-história, pré-vestibular, pré-escolar,
pós-graduação, sem-vergonha, sem-número, vicepresidente. No
entanto, as palavras a seguir não têm hífen: preanunciar,
preaquecer, preconceber, preconceito, precondição, predestinação,
predeterminado.

h.8) o hífen passa a ser usado quando a mesma consoante que


encerra o prefixo começa o segundo elemento da palavra composta;
é o caso das palavras: inter-regional, super-resistente,
hiperrequintado, sub-brigadeiro. Quando não ocorre a condição
citada, o hífen não deve ser usado; por exemplo, em:
superinteressante, hipermercado.
8.2 ALGUNS EXEMPLOS DE
MELHORIAS EM TEXTO
1) Trecho extraído de uma dissertação: está bom? Pode ser
melhorado?

“Esse trabalho investigativo não tem a intenção de responder a


essas questões, porém, acredito que uma prática pedagógica que,
em detrimento ao ensino que exagera na decoreba de regras e
supervaloriza o uso de algoritmos aquilate a compreensão do que
se estuda, articulando conhecimentos e justificando-o poderá vir
fazer a diferença.”

Comentários: seria melhor não expressar crenças pessoais; em


vez disso, é preferível certezas com base em resultados de
investigações disponíveis na literatura ou realizadas na própria
pesquisa, com a devida base de sustentação.

Melhor redação : Este trabalho investigativo não tem intenção de


responder essas questões. Porém, baseado no autor Fulano (ano),
pode-se apontar como mais efetiva uma prática pedagógica que
aquilate a compreensão do que se estuda, articulando
conhecimentos e justificandoos, ao invés do ensino que exagera na
“decoreba” de regras e que supervaloriza o uso de algoritmos.

2) Trecho inicial de um resumo de artigo: está bom? Pode ser


melhorado?

“Constituindo -se como uma linha de estudo que inter-relaciona a


Ciência, a Tecnologia e a Sociedade, a abordagem CTS, que se
baseia nas recentes tendências de investigação tanto da filosofia
quanto da sociologia da ciência, tem se consolidado no espaço
acadêmico, em particular no ensino de ciências, levando em conta
uma educação científica fundamentada na ação e na construção
social e cultural. Neste artigo, procuramos identificar, em teses
relacionadas à educação em ciências produzidas no Brasil em
programas de pós-graduação em educação em ciências e
matemáticas, os fundamentos epistemológicos do enfoque CTS que
subjazem essas produções acadêmicas.”

Comentários : o parágrafo começa com gerúndio: não é uma boa


forma de começar; isto pode ser evitado. Embaralha assuntos no
mesmo período; o estudante poderia optar por frases curtas para
cada ideia que deseja expressar, facilitando, assim, a legibilidade do
texto. Por exemplo:

“Há uma linha de estudo que inter -relaciona a Ciência, a Tecnologia


e a Sociedade. Esta abordagem é referida por meio do acrônimo
CTS– Ciência, Tecnologia e Sociedade – e tem base nas recentes
tendências de investigação tanto na filosofia quanto na sociologia da
ciência. Tem ganhado espaço acadêmico, em particular no ensino
de ciências, por levar em conta uma educação científica
fundamentada na ação e na construção social e cultural. Neste
artigo, procuramos identificar os fundamentos epistemológicos do
enfoque CTS que subjazem de teses produzidas no Brasil em
programas de pósgraduação em educação em ciências e
matemáticas.”

3) Trecho inicial de um resumo de artigo: está bom? Pode ser


melhorado?

“O texto propõe a partir da leitura de uma dissertação e uma t ese,


em que ambas tem como objeto de pesquisa a formação de
professores de Física da mesma universidade, identificar nos
discursos presentes no processo de reestruturação curricular do
curso, como as pesquisas contemporâneas compreendem a
formação do professor de Física? E, se as novas orientações
(Diretrizes) para formação docente coadunam com as essas
perspectivas epistemológicas? Para tal, o texto inicialmente traz
uma retrospectiva histórica sobre a formação docente no Brasil,
seguindo com uma análise dos discursos transcritos primeiro na
dissertação e a seguir na tese. As novas Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores como eixo legal de
orientação para a reestruturação curricular do referido curso
também passam a ser analisadas em suas propostas”.

Comentários: 1) texto confuso; 2) períodos longos; 3) interrogações


indevidas; 4) o texto, por si, não tem a propriedade de propor algo;
5) possível redação do texto:

“ Com este texto, buscamos identificar como as pesquisas


contemporâneas compreendem a formação do professor de Física.
O trabalho tem como base uma dissertação e uma tese de uma
mesma universidade, cujos objetos de pesquisa são o processo de
reestruturação curricular do curso de Física. O trabalho analisa se
as novas diretrizes para formação docente se coadunam com essas
perspectivas epistemológicas. Para consecução destes objetivos, o
texto apresenta inicialmente uma retrospectiva histórica sobre a
formação docente no Brasil; em seguida, contém uma análise dos
discursos transcritos da dissertação e da tese. Por fim, as novas
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores
são tomadas como eixo legal para análise da reestruturação
curricular do referido curso”.

4) Trecho de uma dissertação: está bom? Pode ser melhorado?

“Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos


(PISA) e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB),
ambos com a finalidade de avaliar a eficiência do ensino básico,
mostram que a Matemática é uma das disciplinas que mais
apresentam dificuldades para alunos e professores. A Matemática,
de um modo como vem sendo trabalhada nas escolas, acaba
passando a falsa impressão ser uma disciplina de difícil
aprendizagem, gerando assim, desinteresse por parte dos alunos”.

Comentários: frase longa demais. A primeira frase poderia ser


separada: uma, para mencionar o PISA e o SAEB e sua finalidade;
uma segunda apresentaria o que estes exames trazem sobre a
Matemática. Por fim, uma frase para abordar as possíveis razões
destes resultados insatisfatórios. Redação possível:
“O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) e o
Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) são instrumentos
utilizados pelo MEC para avaliar a eficiência do ensino básico. No
entanto, os resultados das duas avaliações realizadas por vezes
seguidas têm sido desfavoráveis quanto à aprendizagem de
Matemática. Seja em razão das práticas docentes adotadas, seja
pelo desinteresse dos estudantes em aprender Matemática”.

5) Trecho de uma dissertação: está bom? Pode ser melhorado?

“ A Modelagem é o método pelo qual a humanidade traduz para a


linguagem matemática situações do seu dia-a-dia, isto é, podemos
considerar que a Modelagem é um elo entre Matemática e o mundo
real”.

Comentários: registro de impropriedade: “a humanidade utiliza


modelagem”. Há aqui uma afirmação descabida: não se pode
sustentar que a humanidade utilize modelagem. Claramente, temos
aqui o emprego de uma palavra (humanidade) inapropriada.
Definição confusa de modelagem matemática. Sugestão de
redação:

“A Modelagem é o método com o qual situações do dia a dia são


estudadas e traduzidas para a linguagem matemática”.
6) Trecho de uma dissertação: está bom? Pode ser melhorado?

“Entretanto apesar das vantagens atribuídas a Modelagem Matem


ática por diversos pesquisadores, contudo outras investigações
(Silveira 2007, Barbosa 2001 e Fiorentini 1996) mostram que essa
tendência vem encontrando obstáculos para sua implementação em
sala de aula. Essas pesquisas mostram que apesar do otimismo de
alguns pesquisadores, a mesma vem ganhando poucos adeptos
que estejam verdadeiramente aplicandoa”.

Comentários: 1) uso de “entretanto” e “contudo” no mesmo


período; 2) vantagens atribuídas à Modelagem Matemática não são
explicitadas; os pesquisadores não são identificados; 3) “mesma”
substitui pronome; 4) redação da frase final:“apesar da manifestação
de Barbosa (2001) e Fiorentini (1996), poucos professores utilizam
efetivamente a Modelagem Matemática em sala de aula”; 5) obras
citadas são muito antigas (pelo menos vinte anos, se considerarmos
a obra mais antiga– Fiorentini [1996]) para sustentar a afirmação.
Não caberia mais citá-la neste contexto. Será que o redator
procurou obra mais recente que mantivesse a afirmação?

7) Trecho de uma dissertação: está bom? Pode ser melhorado?

“Por isso, auxiliando a superar essa problemática inerente a Mod


elagem estaremos, em nossa opinião, auxiliando consequentemente
o ensino de Matemática”.

Comentários: registre-se que não se deve externar opinião em


texto acadêmico. Sustentam-se posições com base em dados, em
informações, que sejam verificáveis. Uma redação mais concisa (e
corrigindo o erro de acentuação):

“Por isso, com a superação desta problemática inerente à M


odelagem, haverá benefícios, consequentemente, para o ensino de
Matemática”.

8) Frase de uma dissertação:


“Pesquisas desenvolvidas no campo da educação matemática
apontam que apenas a formação inicial …”

Comentário : exemplo de imprecisão: observe que a frase não


informa que pesquisas são estas… Duas a três pesquisas deveriam
ser apontadas para sustentar a afirmação.

9) Extraído de um artigo de jornal: pode ser refinado?

“ No excelente livro, ´Direitos e Entortados´, que tive a honra de


fazer a apresentação, o autor, Fulano de Tal, transcreveu um artigo
que escrevi”.

Comentário: aqui é um caso de refinamento da frase para garantir


sua fluidez. Refinamento:
“No excelente livro, ´Direitos e Entortados´, cuja apresentação tive a
honra de fazer, o autor, Fulano de Tal, transcreveu um artigo que
escrevi”.

10) E a frase abaixo: pode ser refinada?


“Foi-me mostrado esse parecer e eu não concordo com o mesmo”.
Comentário:a palavra “mesmo” substitui pronome; podemos refinar:
“Foi-me mostrado esse parecer; eu não concordo comele”.
11) Trecho inicial de uma dissertação: está bom? Pode ser
melhorado?

“A educação tem que ser transgressiva e inovadora e de qualidade,


logo, na busca por uma formação transformadora e de qualidade,
venho relatando um pouco de minhas memórias que me motivou a
ser professora de matemática e de buscar uma formação
continuada na pós-graduação, em que venho destacando meus
motivos pelo interesse nesta pesquisa de mestrado”.

Comentários: Primeiramente, observe o uso excessivo de


adjetivos. Como afirmadona Seção 7.1 (nota “Texto científico – texto
literário”), o uso de adjetivos deve ser evitado. Podemos perguntar
de pronto: que é educação transgressiva? Baseado em que
parâmetros, podemos caracterizá-la como tal? Que é educação
inovadora? Que é educação de qualidade? Que é uma formação
transformadora? Como podemos caracterizar a formação como
transformadora? Que parâmetros utilizar? Quem sustenta a
afirmação de que a educação tem que ser transgressiva? Período
longo e meio confuso porque embaralha as ideias. Sugestão de
escrita:

Estou convencida de que a educação tem que ser transgressiva e


inovadora. E deve primar pela qualidade. Estes são os valores que
eu reconheço para a educação, como resultado de minhas vivências
e que me motivaram a ser professora de matemática e em buscar a
formação continuada na pós-graduação. Portanto, a busca por uma
formação transformadora e de qualidade me conduziram para esta
pesquisa de mestrado.
Mesmo com a redação mais clara, permanece o problema do uso
dos adjetivos (“transgressiva” e “inovadora”) - imprecisão; quem
sustenta que a educação deve ter estas características?

12) Verifique se há algum erro:

“É preciso lembrar que até a muito pouco tempo ele era o homem
forte da Dilma Rousseff no Senado Federal, com privilégios que
quase o levaram até ao Tribunal de Contas da União.”

Comentários: a frase acima foi extraída de texto jornalístico;


mesmo assim o clichê “homem forte” poderia ser evitado; mas há
um erro grave que precisaria ser corrigido: ... até há muito pouco
tempo...

13) Trecho de um texto para qualificação de doutorado:

“Dentro dessa perspectiva, apresentamos o modelo de Modelagem


Matemática apresentado por Biembengut e Hein (2005) que
apresenta três etapas: Interação, Matematização e Modelo
matemático, conforme Figura 01”.

Comentários: veja quantas vezes o verbo“apresentar” aparece na


frase acima: “apresentamos”, “apresentado” e “apresenta”.
Certamente, a pressa de escrever e, sobretudo, o fato de não reler o
que se escreve leva a esse tipo de erro. Não podemos esquecer a
recomendação de Noblat (2002): depois de escrever, devemos reler
em voz alta o texto; não há como passar despercebidos certos
erros.

Como poderíamos reescrever para assegurar elegância à frase:

“Dentro dessa perspectiva, apresentamos o modelo de Modelagem


Matemática proposto por Biembengut e Hein (2005) que é
constituído de três etapas: Interação, Matematização e Modelo
matemático, conforme Figura 01”.

14) Trecho de um texto para qualificação de doutorado:


Para Freire (2005), “a educa ção bancária se refere ao modelo
tradicional como prática pedagógica, em que o aluno não tinha
nenhum conhecimento e que cabia ao professor preencher esse
vazio”.

Comentários: como se trata de uma citação direta (as aspas indi-


cam isto), faltou incluir o número da página da obra de Freire de
onde a frase foi extraída.

15) Trecho de um texto para qualificação de doutorado:

Como se atribuir uma avaliação em matemática ao se saber que


muitos não possuem referencial sobre estas disciplinas de forma
prática, por não se situarem uma linguagem apropriada para dentro
de seu cotidiano?

Comentários: que pretende expressar o autor com a frase acima?


Talvez haja omissão de alguma palavra ou até mesmo de uma frase
para aclarar-lhe o sentido. Novamente recorremos a Noblat (2002):
sua sugestão de leitura em voz alta alertaria o autor sobre esta
questão.

16) Trecho de um texto para qualificação de doutorado:


Na concepção nietzschiana avaliação é sinônimo de interpretação.
Comentários: a frase acima, colocada em um parágrafo, sem
citação de uma obra que a sustente, é inadequada.
17) Trecho de um texto para qualificação de doutorado:

2.2 Avaliação da Aprendizagem


2.2.1 Dilemas e contradições

Comentários: vemos acima uma seção e uma subseção sem texto


entre elas. Se o autor decidiu subdividir a seção 2.2 em subseções,
um texto introdutório das subseções viria logo em seguida.

18) Trecho de uma mensagem de advertência de um Centro de


Tecnologia aos seus usuários:
– O CTIC informa que essa mensagem é uma fraude com intuito de
coletar dados pessoais e com isso acesso a contas de e-mail
institucional, por favor ignorar a mensagem e não abri nenhum link
suspeito.

Vamos analisar a mensagem. Qual é o intuito da mensagem que o


CTIC informa que é fraude? É duplo: “coletar dados pessoais” e, em
consequência, “ter acesso a contas de e-mail institucional”. A frase
inicial não apresenta paralelismo sintático. Como poderia ficar?

– O CTIC informa que essa mensagem é uma fraude com intuito de


coletar dados pessoais e com isso acessar contas de e-mail
institucional.

Vamos analisar agora a parte final da frase:


– por favor ignorar a mensagem e não abri nenhum link suspeito.

Primeiro: a pontuação que antecede “por favor” não está corr eta.
Duas opções aqui: ou ponto em seguida ou ponto e vírgula. Eu
optaria por ponto. Falta vírgula depois de “por favor”. O verbo “abrir”
deve ficar no infinitivo: “ignorar” no infinitivo, “abrir” no infinitivo
também. Se bem que eu suspeite que a forma “abri” que aparece na
frase decorre de erro de dicção (na sua origem), o que resulta em
escrita errada. Repassando a mensagem toda:

– O CTIC informa que essa mensagem é uma fraude com intuito de


coletar dados pessoais e com isso acessar contas de e-mail
institucional. Por favor, ignorar a mensagem e não abrir nenhum link
suspeito.

19) Título de uma mensagem de uma Pró-reitoria:


– Proxx restringi suas atividades ao expediente interno nesta
sextafeira.

Erro de ortografia comum: provavelmente decorre da forma como a


palavra é pronunciada: “restringe” é paroxítona; a última sílaba “ge”
é pronunciada como “gi”; isto leva a pessoa a escrever “gi”; só que
isto exigiria que a palavra fosse oxítona ou que houvesse acento na
sílaba “trin” – neste ultimo caso a palavra seria paroxítona terminada
em “i”. Portanto, o correto é “restringe”, apesar de a dicção correta
apontar algo como “restríngi”.

20) Título de uma mensagem de uma Pró-reitoria:


– Com carinho à todas as mães da UFPA.
É erro o acento grave. Forma correta:
– Com carinho a todas as mães da UFPA.
8.3 EXERCÍCIOS DE CORREÇÃO DE
TEXTOS
Corrija, se necessário (as frases foram extraídas de redes
sociais e de jornais; raramente identifico autoria, pois as frases
em sua maioria contêm erros).

01) Se cuida, Grêmio: Real Madrid atropela Sevilha.


Duas formas corretas possíveis: Cuida-te, Grêmio: Real Madrid
atropela Sevilha; Cuide-se, Grêmio: Real Madrid atropela Sevilha.
02) Leia o livro “Não se apega, não”.

Compreensível que se queiram empregar expressões usuais da


língua falada para mostrar conexão com o público para o qual a
obra é dirigida, mas, fazer isto no título? Como o português padrão
não abona a forma, registramos aqui o erro; há duas formas
possíveis para a correção: “Não se apegue,não”; “Não teapega,
não”.

03) “Se liga na Caixa você também”.


Duas formas corretas possíveis: “Ligue-sena Caixa você também”;
Liga-te na Caixa tutambém”.
04) Todo mundo que eu converso…
Correto: Todo mundo com quemeu converso…
05) O colchão que você dorme precisa ser macio. Correto: O
colchão em que você dorme precisa ser macio.
06) Deus vai me dá aquela resposta que meu coração tanto espera.
Correto: Deus vai me dar aquela resposta que meu coração tanto
espera.

07) “ A condenação— ou condenações — de Lula e o cumprimento


da pena em regime fechado não vai simbolizar somente a punição
de um chefe — vá lá — partidário que exerceu por duas vezes a
Presidência da República”.
Correto: “A condenação— ou condenações— de Lula e o
cumprimento da pena em regime fechado não vão simbolizar
somente a punição de um chefe— vá lá— partidário que exerceu
por duas vezes a Presidência da República”.

08) Não se acostume com o que não te faz feliz.


Correto: duas formas corretas possíveis: Não se acostume com o
que não lhe faça feliz; Não te acostuma com o que não te faz feliz.
09) Sou muito feliz pois tudo que sonhei quando criança eu
conseguir, ter uma família feliz.
Correto: Sou muito feliz, pois tudo que sonhei quando criança eu
consegui: ter uma família feliz.
10) Se o TRF 4 manter a sentença de primeira instância, o
expresidente será preso.
Correto: Se o TRF 4 mantiver a sentença de primeira instância, o
ex-presidente será preso.

11) Por que no Brasil não tem ensino básico descente? Correto: Por
que no Brasil não há ensino básico decente?
12) Não sintam-se desprestigiados.
Correto: Não se sintam desprestigiados.

13) Governistas mantém para esta quinta leitura de relatório da


Previdência.
Correto: Governistas mantêm para esta quinta leitura de relatório da
Previdência.

14) Jucá fala em adiamento de votação, e governo nega. Não há


erro na frase, e a vírgula é necessária.

15) “ A Lava Jato e os valores — ou antivalores— que insuflou


provocaram tal estrago no processo político que a consequência foi
a ressurreição de Lula e do PT, forças que, ora vejam!, por maus
motivos, nunca se ajoelharam em seu altar” (Reinaldo Azevedo).

Não há erro na frase.


16) Correr não é tudo, mais ajuda a você se conhecer.
Correto: Correr não é tudo, mas lhe ajuda a conhecer-se.
17) Algum educado para deseja boa tarde para minha princesa?
Correto: Algum educado para desejar boa tarde para minha
princesa?
18) Toda baixinha é linda sabe porque?
Formas corretas possíveis: Toda baixinha é linda. Sabe por quê?
Toda baixinha é linda: sabe por quê?
19) Só nos resta se queixar ao Papa Francisco.
Correto: duas formas possíveis: Só nos resta queixar-nos ao Papa
Francisco; Só resta queixar-se ao Papa Francisco.
20) Atlético tem proposta na mesa do Flamengo por Fred.

Frase ambígua: por ela, a proposta por Fred pode ser do Atlético ou
do Flamengo; quem saiba qual é o clube de Fred pode deduzir que
a proposta de aquisição do jogador seja do outro clube; uma forma
de remover a ambiguidade: Atlético tem proposta ndo Flamengo por
Fred.

21) Para cada conjunto pré-definido de áreas de processo devem


ser especificados detalhes dos passos a executar.
Correto: Para cada conjunto predefinido de áreas de processo deve
ser especificado detalhe dos passos a executar.

22) Vem que tem: onde come um come dois.


Correto: Vem que tem: onde come um comem dois.
23) Um Feliz Natal à todos!
Correto: Um Feliz Natal a todos!
24) Bem vindo ao mundo encantado!
Correto: Bem-vindo ao mundo encantado!

25) Só é falta se tiver sangrando.


Correto: Só é falta se estiver sangrando.

26) Pessoas mais velhas correm maior risco de ter um AVC, embora
eles possam acontecer a qualquer idade, incluindo entre crianças.

Correto: Pessoas mais velhas correm maior risco de ter um AVC,


embora ele possa acontecer em qualquer idade, incluindo entre
crianças.
27) Vai malandra.
Correto: Vai, malandra.

28) Fartura e sedentarismo, gula e preguiça, criaram as raízes da


epidemia de obesidade que assola o mundo.

Correto: tirar a segunda vírgula da frase: Fartura e sedentarismo,


gula e preguiça criaram as raízes da epidemia de obesidade que
assola o mundo.

29) O ingresso é gratuíto.


Correto: O ingresso é gratuito.

30) Como pano de fundo desse cenário nós temos a deturpação–


por vezes ostensiva, por vezes sutil– da verdade.

Correto: evitar o clichê “pano de fundo”; Como perspectiva desse


cenário nós temos a deturpação– por vezes ostensiva, por vezes
sutil– da verdade.

31) “A primeira foi uma história da guerra, que deixou por mão, de
sde que encarou de frente o monte de documentos que teria de
compulsar, e as numerosas datas que seria obrigado a coligir” (p.
62; Machado de Assis, “Iaiá Garcia”. São Paulo: Globo, 1997 [Obras
Completas]).

Correto: redundância “encarou de frente”; “A primeira foi uma hist


ória da guerra, que deixou por mão, desde que encarou o monte de
documentos que teria de compulsar, e as numerosas datas que
seria obrigado a coligir”.

32) Porque amo o que faço?


Correto: Por que amo o que faço?

33) No Brasil, seria muito difícil para mim fazer um curso de


Medicina.
Correto: No Brasil, seria muito difícil para eu fazer um curso de
Medicina.
34) As linhas retas da modernidade é a nova ligação entre o
continente e a ilha.
Correto: As linhas retas da modernidade são a nova ligação entre o
continente e a ilha.
35) “Nós não vai ser preso. Nós sabemos que nós não vai” (Joesley
Batista, áudio gravado pelo próprio).
Correto: mas com a tolerância para a fala, o erro é grosseiro: “Nós
não vamos ser preso. Nós sabemos que nós não vamos”.

36) Não é culpa dele ter ganho mais dinheiro.


Correto: Não é culpa dele ter ganhado mais dinheiro.
37) Quanto custa seus produtos artesanais?
Correto: Quanto custam seus produtos artesanais?

38) No ano passado houveram mais de 35 milhões de voos


comerciais e nenhum acidente.
Correto: No ano passado houve mais de 35 milhões de voos
comerciais e nenhum acidente.

39) Mas é isso que faz a gente vê que não está sozinha. Correto:
Mas é isso que faz a gente ver que não está sozinha.

40) “ Rigorosamente, o nome, o cargo ou eventual responsabilidade


dele por crimes havidos na Petrobrás não foi objeto de qualquer
referência”.

Não há erro na frase.


41) Livro apresenta as paisagens e plantas de Carajás.

Correto: ajustar o paralelismo; duas formas: Livro apresenta as


paisagens e as plantas de Carajás; Livro apresenta paisagens e
plantas de Carajás.

42) Fique ligado à partir das 19 horas.

Correto: Fique ligado a partir das 19 horas.


43) Um dos livros mais prazeirosos que li.
Correto: Um dos livros mais prazerosos que li.
44) Trabalhar fazendo o que se gosta, é a maior motivação para
fazermos bem.
Correto: retirar a vírgula que separa sujeito do predicado: Trabalhar
fazendo o que se gosta é a maior motivação para fazermos bem.

45)Neurocientista,estrelade ‘Big Bang’lançaguiaparagarotas.

Se a intenção do redator é que “neurocientista” complemente o


sujeito, não há erronafrase; porém, se a intençãoéque “estrela de
´BigBang´”sejaapostoem relaçãoà“neurocientista”,falta
vírgulaantesdaformaverbal“lança”.

46) O estudante assiste à aula.


Não há erro na frase.

47) Depois de montar uma estratégia de investimento e decidir de


quais empresas você quer se associar, basta começar a comprar
ações.

Correto: Depois de montar uma estratégia de investimento e decidir


com quais empresas você quer se associar, basta começar a
comprar ações.

48) Declaro aberto os trabalhos.


Correto: Declaro abertos os trabalhos.
49) Este é um produto que a gente acredita.

Correto: Este é um produto em que a gente acredita; ou: Este é um


produto no qual a gente acredita.
50) Os partidos e candidatos, todos eles, passado o alvoroço,
procurarão adaptar-se à realidade.

Correto: ajustar o paralelismo do sujeito; duas formas: Os partidos e


os candidatos, todos eles, passado o alvoroço, procurarão
adaptarse à realidade; Partidos e candidatos, todos eles, passado o
alvoroço, procurarão adaptar-se à realidade.
51) Se você tivesse no lugar do Juiz Moro, você dispensaria o
auxílio moradia?
Correto: Se você estivesse no lugar do Juiz Moro, você dispensaria
o auxílio moradia?
52) O foco deve está em quem faz as leis e não em quem usa as
brechas destas leis mal formuladas!
Correto: O foco deve estar em quem faz as leis e não em quem usa
as brechas destas leis mal formuladas!

53) Uma senhora pobre não pode receber sua pensão de viúva e
sua aposentadoria, más um casal de juízes podem receber 2 auxílio
moradia.

Correto: Uma senhora pobre não pode receber sua pensão de viúva
e sua aposentadoria, mas um casal de juízes pode receber 2 auxílio
moradia.

54) A matemática não é apenas uma ferramenta para desenvolver o


raciocínio e habilidades cognitivas.

Correto: ajustar para haver paralelismo sintático; duas formas


possíveis: A matemática não é apenas uma ferramenta para
desenvolver o raciocínio e as habilidades cognitivas. A matemática
não é apenas uma ferramenta para desenvolver raciocínio e
habilidades cognitivas.

55) Cada um curti o carnaval do seu jeito...


Correto: forma verbal do verbo curtir incorreta: Cada um curte o
carnaval do seu jeito...
56) Se você ver alguém com essa camiseta, ajude-o a voltar ao
estábulo.
Correto: o subjuntivo de ver é vir: Se você vir alguém com essa
camiseta, ajude-o a voltar ao estábulo.
57) O governo já havia decidido intervir no Rio de Janeiro desde
antes de ontem.
Melhor redação para “antes de ontem”: anteontem; O governo já
havia decidido intervir no Rio de Janeiro desde anteontem.
58) Ele já havia dado autorização para a reforma do prédio.
Cacófato: havia dado; para evitar o cacófato: Ele já havia autorizado
para a reforma do prédio.

59) Hei, aguenta a dor aí que daqui há 10 anos vai melhorar!


Correto: Hei, aguenta a dor aí que daqui a 10 anos vai melhorar!

60) Caro leitor, se você é daquelas pessoas bem alimentadas que


não se enquadra nas situações descritas, tira o cavalo da chuva.

Correto: ajustar a forma verbal de enquadrar e substituir o clichê


“tira o cavalo da chuva” por desista: Caro leitor, se você é daquelas
pessoas bem alimentadas que não se enquadram nas situações
descritas, desista.

61) Qual celebridade você se parece?


Correto: Com qual celebridade você se parece?

62) A conclusão que se chega.


Correto: A conclusão a que se chega.

63) A estabilidade permite prevê o desempenho do processo em


execuções futuras.
Correto: A estabilidade permite prever o desempenho do processo
em execuções futuras.
64) Isto serve para decidir quais os requisitos que se deve dar mais
atenção.
Correto: Isto serve para decidir quais os requisitos a que se devem
dar mais atenção.

65) Como a rede social sofre constantes atualizações em sua


interface, será necessário a criação de um manual da abordagem
onde o mesmo terá que sempre ser atualizado.

Nova redação da frase final e correção de concordância na parte


sublinhada: Como a rede social sofre constantes atualizações em
sua interface, será necessária a elaboração de manual da
abordagem para facilitar as modificações.
66) Os ciclos que você citou fizeram parte do teu ciclo todo.

Correto: duas formas possíveis: Os ciclos que você citou fizeram


parte do seu ciclo todo; Os ciclos que tu citaste fizeram parte do teu
ciclo todo.

67) Afinal, o que há entre eu e você? Nada!


A preposição “entre” exige o uso do pronome oblíquo [“mim”];
Correto: Afinal, o que há entre mim e você? Nada!

68) Afinal, o que há entre você e eu? Nada!


Idem; correto: Afinal, o que há entre você e mim? Nada!
69) Onde você vai?
Correto: Aonde você vai?

70) De uma maneira perversa, eles precisam ser ensinados a ser


passivos a passividade torna-se então um hábito que os deixa mais
tratáveis, mas menos alertas, menos envolvidos no que estão
fazendo.

Há um problema de pontuação no parágrafo. Correto: De uma


maneira perversa, eles precisam ser ensinados a ser passivos; a
passividade torna-se então um hábito que os deixa mais tratáveis,
mas menos alertas, menos envolvidos no que estão fazendo.

71) A gente faz com que a taxa de homicídios possa ser reduzido se
a gente controlar melhor as armas legais e fazer com que as
fronteiras possam ser mais vigiadas.

O autor da frase expressa uma ideia questionável, pois a taxa de


homicídio não é devida às armas legais, mas às ilegais. O contexto
é a intervenção federal na cidade do Rio de Janeiro. Correto: A
gente faz com que a taxa de homicídios seja reduzida se a gente
controlar melhor as armas legais e fizer com que as fronteiras sejam
mais vigiadas.

72) Emery diz porque cogitou ter Neymar na Liga e nega racha.
Correto: Emery diz por que cogitou ter Neymar na Liga e nega
racha.
73) Ele associa a sua condição, caso vá para a cadeia, a de um
preso político.

Há necessidade de acento grave depois de segunda vírgula;


encontrase implícita a palavra “condição” – à condição de um preso
político. Frase correta: Ele associa a sua condição, caso vá para a
cadeia, à de um preso político.

74) Os testes, as audições, são verdadeiras torturas para os atores.


Não há erro na frase; as duas vírgulas são necessárias para separar
os elementos que identificam o sujeito oculto da frase– “elas”. 75)
Nem uma coisa nem outra aconteceu.

Correto: como são referidas duas coisas, o verbo deve ficar no


plural. Portanto, a forma correta é: Nem uma coisa nem outra
aconteceram.

76) Moro sugere emenda se STF rever 2ª instância.


O subjuntivo de“rever” é“revir”. Forma correta: Moro sugere emenda
se STF revir 2ª instância.
77) Agora se sabe porque Marun quis o processo contra Barroso.
Correto: Agora se sabe por que Marun quis o processo contra
Barroso.

78) O resultado, quando se observa as voláteis maiorias no STF, é a


sensação de orfandade provocada pela falta de lideranças
articuladas.

Correto: O resultado, quando se observam as voláteis maiorias no


STF, é a sensação de orfandade provocada pela falta de lideranças
articuladas.

79) Eu penso que a eleição em São Paulo se polariza naturalmente


entre eu e Doria.
Correto: Eu penso que a eleição em São Paulo se polariza
naturalmente entre mim e Doria.
80) Se em 1910 Benito Mussolini tivesse aceito a direção de um
jornal socialista no Brasil, a história da Itália teria sido outra.

Correto: o particípio passado que acompanha os verbos ter/haver é


o regular, por isso, é preciso corrigir. Se em 1910 Benito Mussolini
tivesse aceitado a direção de um jornal socialista no Brasil, a história
da Itália teria sido outra.

81) O nome do sábio fica preservado por respeito a etiqueta.


Correto: O nome do sábio fica preservado por respeito à etiqueta.
82) Você vive de que? E vai viver de que no futuro? Correto: Você
vive de quê? E vai viver de que no futuro?
83) Isto pode parecer perca de tempo.
Correto:“perca” é forma do verbo “perder”; nesta frase deve-se
empregar o substantivo “perda”. Isto pode parecer perda de tempo.
84) A realidade das escolas no Brasil foca em um ensino tradicional,
onde o professor fala e o aluno ouve, sem muito dialogo.

O pronome relativo “onde” refere -se a um lugar; no exemplo,


erradamente ele referese a “ensino tradicional”; deve-se substituí-lo
por “em que”. Correto: A realidade das escolas no Brasil foca em um
ensino tradicional, em que o professor fala e o aluno ouve, sem
muito dialogo.

85) Como despertar o interesse da comunidade estudantil pelos


jogos para que eles sejam capazes de introduzir o conteúdo através
dos mesmos?

Correto: este é um exemplo em que as ideias expressas são


incorretas; talvez o objetivo do redator tenha sido afirmar o seguinte:
Como despertar o interesse da comunidade estudantil? A utilização
de jogos pode ser o atrativo; por meio deles, o conteúdo é
apresentado.

86) Tem pessoas que a mentira é seu combustível.

Não se usa o verbo “ter” com o sentido de existir; não é apropriado


referir combustível para pessoa; seria adequado mencionar
alimento. Correto: Há pessoas que têm a mentira como alimento;
outra forma: Há pessoas para quem a mentira é o alimento; outra
forma: Há pessoas cujo alimento é a mentira.

87) A prisão de Darcy havia sido ordenada pelo auditor, que


mandou-o para o Corpo de Bombeiros, comandado pelo coronel
Heitor, um militar duro e direto a ponto de ter ganho o apelido de
“Cabo Heitor”.

O período, com ajustes para encurtá-lo, é de jornalista famoso;


quanto aos dois erros da frase, o Word os aponta corretamente. No
primeiro, o pronome relativo “que” força a ênclise - pronome oblíquo
antes do verbo; no segundo erro, o particípio exigido é o regular, e
não o irregular como empregado pelo jornalista. Forma correta: A
prisão de Darcy havia sido ordenada pelo auditor, que o mandou
para o Corpo de Bombeiros, comandado pelo coronel Heitor, um
militar duro e direto a ponto de ter ganhadoo apelido de “Cabo
Heitor”.

88) É um prazer estar aqui porque você é uma pessoa da qual eu


gosto e em quem confio.

Não há err o na frase: o verbo “gostar” exige a preposição “de”, por


isso, “da qual eu gosto”; o verbo “confiar” exige a preposição “em”,
por isso, “em quem confio”.

89) Fui lá pegar o contrato mas ela não tinha impresso ainda.

Correto: a vírgula antes da conjunção coordenada adversativa é


obrigatória; o particípio passado antes dos verbos “ter”/”haver” deve
ser o regular: Fui lá pegar o contrato, mas ela não tinha imprimido
ainda.

90) Ela falou que isto não tinha haver com o meu trabalho.

Correto: Emprego incorreto do verbo “haver”; a intenção é expressar


a ideia de “não ter a ver”, “não ter relação”. Forma correta: Ela falou
que isto não tinha a ver com o meu trabalho.
91) De fato, por razões históricas, trata as áreas profissionais
igualzinho às acadêmicas.

Temos aqui um cacófato: “por razões”. Correto: De fato, pelas


razões históricas, trata as áreas profissionais igualzinho às
acadêmicas.

92) Quantos buracos tem na camisa?

O emprego do verbo “ter” com o sentido de existir é incorret o.


Podemos empregar o verbo “existir” ou “haver”. Duas formas
corretas possíveis: Quantos buracos há na camisa? Quantos
buracos existem na camisa?

93) Ele continua muito bem de saúde, firme e forte. O problema aqui
é o clichê “firme e forte”, que deve ser evitado.

94) Para alguns economistas heterodoxos, o gasto público se


autofinancia: o crescimento promovido pelo impulso fiscal mais do
que compensa o efeito do gasto sobre o endividamento. No frigir
dos ovos, a dívida como proporção da economia se reduz.

Correto: a última frase do parágrafo contém um clichê: “no frigir dos


ovos”. Qual é mesmo o significado dele? Podemos eliminá-lo sem
perda.

95) Preste atenção, pois não quero repetir outra vez.

Há redundância na frase: o verbo “repetir” já indica “voltar a fazer


algo”; por isso, “outra vez” é dispensável. Correto: Preste atenção,
pois não quero repetir.

96) Pondé, na Folha de S. Paulo, explicou porque a quadrilha


petista é especialmente perigosa.

Está implícita a palavra “motivo”; não se trata de conjunção causal,


por isso, “por que”. Correto: Pondé, na Folha de S. Paulo, explicou
por que a quadrilha petista é especialmente perigosa.
97) Mesmo o governo que participei, que patrocinou reformas
prómercado muito pesadas ...

Quem participa, participa de algo. Falta a preposição “de” na frase.


Correto: Mesmo o governo de que participei, que patrocinou
reformas pró-mercado muito pesadas ...

98) O dojô é um local aonde os programadores se reúnem para


aprender novas técnicas marciais.

O advérbio “aonde” é usado quando houver indicativo de


movimento. Exemplo:“aonde vocêvai?”. No caso em questão, o
correto é empregar o pronome relativo“onde”; é preciso dizer
que“onde” pode ser também advérbio interrogativo (usado em
perguntas diretas ou indiretas); exemplo:“onde vocêestá?”. Portanto,
a frase correta é: O dojô é um local onde os programadores se
reúnem para aprender novas técnicas marciais.

99) No dia que faz 50 anos, Metrô tem falha e fecha estações.
Correto: No dia em que faz 50 anos, Metrô tem falha e fecha
estações.
100) Ela teria entregue nas mãos do reitor comprovação de uso
indevido de verbas.

No Português padrão, o particípio passado que acompanha os


verbos “ter” e “haver” é o regular. Correto: Ela teria entregado nas
mãos do reitor comprovação de uso indevido de verbas.

100) Educação no Brasil melhora, mais ainda é uma das piores em


ranking internacional.

Depois da vírgula deve vir a conjunção adversativa “mas”, e não o


advérbio de intensidade “mais”. Correto: Educação no Brasil
melhora, mas ainda é uma das piores em ranking internacional.

101) Resolvido os parênteses, fica uma divisão e uma multiplicação


que tem mesma prioridade, resolvendo-se então da esquerda para a
direita.
Correto: Resolvidos os parênteses, fica uma divisão e uma
multiplicação, que têm mesma prioridade, resolvendo-se então da
esquerda para a direita.

102) Mas quando a jovem de esquerda age igual, e nem se dá ao


trabalho de disfarçar, é que a coisa está realmente preta.

Correto: não há erro na frase. O comentário que se pode fazer:


nestes tempos politicamente corretos, não é apropriado associar a
cor “preta” a algo negativo. Na mesma linha, palavras como
“denegrir”, “judiar”, por associarem ações negativas à cor “negra” e
ao judeu, respectivamente, devem ser evitadas.

103) Faço serviço de informática, corto grama e poda de arbusto.

Com paralelismo sintático, ficaria: Faço serviço de informática, corte


de grama e poda de arbusto. Ou: Faço serviço de informática, corto
grama e podo arbusto.

104) O show é gratuíto.


Não há hiato na palavra “gratuito”; há um ditongo. Correto: O show é
gratuito.
105) A disputa judicial continua, e é instrutivo notar o quanto de
predisposição ideológica e alarido a acompanha.
Não há erro na frase.
106) O programa apresenta sempre um trabalho refinado de
interesse e respeito genuínos a respeito dos entrevistados.

Por elegância, deve-se evitar repetição de palavras na frase: a


palavra “respeito” aparece duas vezes. Pode-se substituir a primeira
ocorrência por sinônimo: “consideração” ou “deferência”. Se a opção
fosse por substituir a segunda ocorrência: poder-se-ia substituir “a
respeito de” por “no tocante a” ou “com referência a”. Portanto, fica:
O programa apresenta sempre um trabalho refinado de interesse e
consideração genuínos a respeito dos entrevistados. Outra forma: O
programa apresenta sempre um trabalho refinado de interesse e
respeito genuínos no tocante aos entrevistados.
107) Não sei se os acusadores dormem com a consciência tranquila
que eu durmo.

Para manter a redação, é preciso empregar a preposição “com”


antes do pronome relativo. Assim: Não sei se os acusadores
dormem com a consciência tranquila com que eu durmo. Mudando a
redação, e o segundo verbo subentendido: Não sei se os
acusadores dormem com a consciência tranquila como eu.

108) O sinal mandado pelo preso sugere que ele já não está afim de
ficar ferido na estrada.

“Afim” significa semelhante, tal. Aqui a inteção era usar a conjunção


“a fim de”. Correto: O sinal mandado pelo preso sugere que ele já
não está a fim de ficar ferido na estrada.

109) A grosso modo, esse sistema vigora desde a redemocratização


e favorece estruturas partidárias estabelecidas e seus respectivos
caciques.

Observe que nada se perde na frase eliminando o clichê “A grosso


modo”. Ficaria: Esse sistema vigora desde a redemocratização e
favorece estruturas partidárias estabelecidas e seus respectivos
caciques.

110) A temporada de furacão vai começar. Nós te ajudamos a se


preparar!

Os dois pronomes oblíquos da segunda frase não correspondem à


mesma pessoa: “te” [segunda pessoa] e “se” [terceira pessoa]. A
primeira frase permanece inalterada. Duas formas de redação da
segunda: Nós te ajudamos na preparação! Nós lhe ajudamos na
preparação!

111) “Exigir meus direitos é algo que não abro mão”.


“Abrir mão de algo”; a preposição “de” é exigida; correto: “Exigir
meus direitos é algo deque não abro mão”.
112) Charles pede Pikachu na Seleção e diz que ele é melhor que
Diego.

Frase ambígua: quem é melhor que Diego – Charles ou Pikachu?


Como se poderia tirar a ambiguidade: Charles pede que Pikachu
substitua Diego na Seleção, por considerá-lo melhor.

113) A análise apresentada no vídeo é um ponto de vista que


concordo plenamente.

Erro de regência: “concordar com” alguma coias. Frase correta: A


análise apresentada no vídeo é um ponto de vista com que
concordo plenamente.

114) Contudo, repitamos mais uma vez, não são inconvenientes ou


obstáculos, mas condições inaceitáveis.

“Repetir mais uma vez” é redundância; basta escrever “repetir”; Co


rreto: Contudo, repitamos, não são inconvenientes ou obstáculos,
mas condições inaceitáveis.

115) Uma empresa pode ter uma taxa de colaboração maravilhosa,


mas no modelo atual que temos hoje o gerente está em cima.

Correto sem redundância (atual – hoje) e com a colocação de


vírgulas: Uma empresa pode ter uma taxa de colaboração
maravilhosa, mas, no modelo atual, o gerente está em cima.

116) Enquanto isso, no cárcere de Curitiba, escasseia as


esperanças do preso de ser mandado para casa antes do Ano
Novo.
Correto: há erro de concordância verbal na frase: “as esperanças
escasseiam...”. Portanto:
– Enquanto isso, no cárcere de Curitiba, escasseiam as esperanças
do preso de ser mandado para casa antes do Ano Novo.
117) Desculpe a internet caiu na hora de carrega o boleto.
Correto: falta vírgula depois de “desculpe”; o correto é o infinitivo do
verbo carregar.
– Desculpe, a internet caiu na hora de carregar o boleto.
118) Se propaganda enganosa é crime porque existe horário
político?
Correto: falta vírgula separando as frases e, no exemplo, “porque”
não é conjunção causal e se trata de uma pergunta. Portanto:
– Se propaganda enganosa é crime, por que existe horário político?

119) Perceber a prática docente como um processo dinâmico,


carregado de incertezas e conflitos, um espaço de criação e
reflexão, onde novos conhecimentos são gerados e modificados
continuamente.

Correto: o pronome relativo “onde” não se refere a lugar; neste c


aso, deve ser substituído por “em que” . Forma correta: Perceber a
prática docente como um processo dinâmico, carregado de
incertezas e conflitos, um espaço de criação e reflexão, em que
novos conhecimentos são gerados e modificados continuamente.

120) A qualidade, a independência e a relevância da notícia está em


jogo.

Correto: a frase foi retirada de texto de jornalista experiente. Há erro


elementar de concordância verbal. Apesar de revisarmos nossos
textos, estamos sujeitos a este tipo de erro.

– A qualidade, a independência e a relevância da notícia estão em


jogo.
121) Nenhum governante resiste à tentação de tentar alterar a
realidade com uma canetada.
Não há erro gramatical na frase. A elegância determina uma
mudança, porém: substituir “tentação de tentar”. Mudanças
possíveis:
– Nenhum governante resiste à tentação de alterar a realidade com
uma canetada.
– Nenhum governante resiste à tentativa de buscar alterar a
realidade com uma canetada.
122) Como você tem gasto seu tempo?
Como apresentado, os verbos abundantes apresentam duas formas
para o particípio passado: neste caso, o verbo “gastar” admite
“gastado” (particípio regular) e “gasto” (particípio irregular). Foi
mostrado também que é válido o esquema: ser/estar particípio
irregular; ter/haver particípio regular. Por conseguinte, a forma
correta da frase é:

– Como você tem gastado seu tempo?


123) O material deve ser descrito informalmente para que o aluno
explore o mesmo da melhor maneira possível.
Palavra “mesmo” substitui o pronome oblíquo. Melhor redação:
– O material deve ser descrito informalmente para que o aluno o
explore da melhor maneira possível.
124) O curso foi ministrado pela autora em conjunto com a
professora Fulana de tal.

Note que: “em conjunto com” = “com”. Por concisão: “O curso foi
ministrado pela autora coma professora Fulana de tal”. Outra forma:
“A autora e a professora Fulana de tal ministraram o curso”.

125) Barroso voltou a repetir que a corrupção no Brasil foi endêmica


e que há uma aliança entre “corruptos, elitistas e progressistas” para
que o combate a ela seja interrompido.

A expressão “voltou a repetir” precisa ser analisada na frase: Barr


oso disse, depois repetiu, e agora voltou a repetir? Mas se ele disse,
mas não repetiu, então não se poderia afirmar que “voltou a repetir”.
O sentido aqui é que algo dito pode ser repetido; quem já repetiu
pode fazê-lo novamente. Na frase inicial, a impressão é que Barroso
havia dito que a corrupção foi endêmica, e agora tinha repetido a
afirmação; por isso, ficaria:

– Barroso repetiu que a corrupção no Brasil foi endêmica e que há


uma aliança entre “corruptos, elitistas e progressistas” para que o
combate a ela seja interrompido.

126) Há dez anos você já tinha vindo para Belém?


A frase está correta. Há um caso raro aqui: gerúndio e particípio do
ver “vir” são iguais (“vindo”). Na frase acima, a palavra “vindo” é
particípio o verbo “vir”. Exemplo com gerúndio do verbo “vir”:

– Estou vindo de Belém.


127) Dado a importância da etapa de planejamento, o Capítulo 5
retoma o assunto.

A palavra “dado” é particípio do verbo “dar”; concorda em gênero e


número com o substantivo a que se refere: neste caso o substantivo
“importância”. Frase correta: “Dada a importância da etapa de
planejamento, o Capítulo 5 retoma o assunto”. Não confundir com a
locução prepositiva “devido a”: esta é invariável. A locução
prepositiva “dado a” não existe.

128) Se não a luta não a vitória.


O autor não empregou o verbo “haver” e nem colocou a vírgula
entre as frases. Sua intenção era:
– Se não há luta, não há vitória.

129) Nunca é demais insistir que não se trata de incorporar


elementos da ciência contemporânea por conta de sua importância
instrumental utilitária.

O autor empregou a expressão “nunca é demais insistir”: trata -se


de um clichê– como tal, deve-se evitar; neste caso, pode-se eliminar
sem perda:

– Não se trata de incorporar elementos da ciência contemporânea


por conta de sua importância instrumental utilitária.
130) Hoje muitos terroristas da época da ditadura pousam de
vítimas.

Percebese que a intenção do autor da frase é utilizar o verbo “posar”


– fazer pose, ou assumir atitude para iludir ou impressionar, iludir. O
verbo “pousar” significa pôr algo no chão ou em outro lugar;
aterrissar, aterrar. Este caso ilustra a importância de se fazer revisão
cuidadosa da escrita para evitar semelhante lapso. Frase correta:
– Hoje muitos terroristas da época da ditadura posam de vítimas.
131) Doria cita Bolsonaro 14 vezes mais que Alckmin.

Lendo a frase que intitula uma matéria jornalística fica a questão: a)


Bolsonaro é citado 14 vezes mais por Doria do que por Alckmin, ou
b) Bolsonaro é citado 14 vezes mais que Alckmin por Doria?

Este é um caso em que a frase apresenta ambiguidade. A intenção


do redator é afirmar que Doria cita mais Bolsonaro do que ao ex-
candidato do seu partido, Alckmin. Como retirar a ambiguidade?
Basta escolher uma das alternativas: a) ou b). Provavelmente, o
redator pretendia expressar o que está se encontra em b).

132) A democracia está em risco quando líderes políticos se dispõe


ao papel de alimentar narrativas mentirosas.
Há erro de concordância verbal na frase (“líderes politicos”,
“dispõe”). Corrigindo:
– A democracia está em risco quando líderes políticos se dispõem
ao papel de alimentar narrativas mentirosas.
133) Um contingente interessante de alunos não responderam essa
questão da pesquisa.

Dois pontos a destacar na frase acima: 1) há erro de concordância


verbal: “um contingente ... não responderam...”; corrigindo: “um
contingente ... não respondeu...”; 2) o adjetivo escolhido
(“interessante”) não informa apropriadamente o que se quer
expressar: seria “expressivo”, “significativo” o contingente? Ou o que
se quer é expressar exatamente o contrário: o contingente é
diminuto, é pequeno? Conferindo o texto de onde foi retirada a
frase, contata-se que a intenção do autor é informar que o
contingente é grande. Então, a frase ficaria:

– Um contingente expressivo de alunos não respondeu essa


questão da pesquisa.
134) São sinais de que você está prestes a repetir de forma
condensada aquilo que já disse antes detalhadamente.
O único ponto a registrar aqui é quanto à concisão: há palavra
dispensável na frase. Um dos dois advérbios, “já” ou “antes”, pode
ser suprimido sem perda de significado. Teríamos, então (na
primeira frase, suprimindo “já”; na segunda, eliminando “antes”):

– São sinais de que você está prestes a repetir de forma


condensada aquilo que disse antes detalhadamente.
– São sinais de que você está prestes a repetir de forma
condensada aquilo que já disse detalhadamente.
135) Como resposta, digo - lhe o seguinte: não vá.
O erro encontrado nesta frase é o espaço que antecede e sucede o
hífen. A frase correta:
– Como resposta, digo-lhe o seguinte: não vá.

136) É enfatizado a necessária reflexão sobre a Didática nas


escolas, percebendo a Educação num contexto social mais amplo
do qual está inserido.

Um erro a destacar é o de concordância nominal: “enfatizada a n


ecessária reflexão...”; outro ponto a registrar: a necessidade de
incluir o pronome reflexivo em “perceber”; mais: em vez de “do
qual... inserido”, como se refere à Educação, fica “na qual está
inserida”. Com os ajustes, teríamos:

– É enfatizada a necessária reflexão sobre a Didática nas escolas,


percebendo-se a Educação num contexto social mais amplo na qual
está inserida.

137) Libertese daquele “sentimento de vazio” e “solidão” que as


vezes te aprisiona e você nem sabe o porque.

Há correções a fazer na frase. De início, observe que há referências


àsegunda pessoa do singular (“te”) e a terceira pessoa (“você”). A
expressão “às vezes”. A colocação de vírgulas entre às vezes e
separando as duas frases finais. Por fim, o substantivo “porquê”.
Portanto, uma forma possível (na terceira pessoa do singular);
depois, outra forma (na segunda pessoa do singular):
– Libertese daquele “sentimento de vazio” e “solidão” que, às vezes,
lhe aprisiona, e você nem sabe o porquê.

Liberta-te daquele “sentimento de vazio” e “solidão” que, às vezes,
te aprisiona, e tu nem sabes o porquê.
138) Quebra de sigilo expõe empresas que teriam pago mesada ao
governador.

No português padrão, usa-se ter/haver acompanhado do particípio


reglar “pagado” e ser/estar acompanhado do particípio irregular
“pago”. Não é como se usa no português falado. Portanto, na norma
culta da língua fica:

– Quebra de sigilo expõe empresas que teriam pagado mesada ao


governador.
139) Entre 1998 e 2017 foram produzidas no Brasil 8.000 teses de
mestrado e 3.000 dissertações de doutorado.

Não há erro gramatical na frase. Nem de fonologia, nem de


morfologia, nem de sintaxe (estas são as três divisões da
gramática). Há erro de outra natureza na frase, como é explicado
adiante.

É ocasião para repassar estes elementos:

1) a fonologia cuida do estudo de fonemas ou sons da língua e as


sílabas formadas por tais fonemas. São partes da fonologia: a)
ortografia (estudo da escrita correta das palavras), b) ortoepia
(estudo da articulação e pronúncia dos vocábulos), c) prosódia
(estudo da acentuação tônica dos vocábulos);

2) A morfologia compreende o estudo das classes de palavras e


seus elementos constitutivos. Abrange análise da estrutura,
formação e mecanismos de flexão. As classes de palavras (ou
classes gramaticais) são dez: substantivo, adjetivo, artigo, pronome,
verbo, numeral, preposição, conjunção, advérbio, interjeição. São
variáveis (variam em gênero, número ou grau): substantivo, verbo,
adjetivo, pronome, artigo, numeral. São invariáveis: preposição,
conjunção, interjeição, advérbio (os advérbios têm flexão de grau–
comparativo e superlativo);

3) A sintaxe (pronunciase “sintásse”) concentra-se na análise


estrutural dos termos que compõem as orações e os períodos;
estuda as relações que se estabelecem entre os termos: sujeito e
predicado (chamados termos essenciais da oração); complementos
verbais, complemento nominal, agente da passiva (chamados
termos integrantes da oração); adjunto adnominal, adjunto adverbial,
aposto e vocativo (chamados termos acessórios da oração).

Foi afirmado acima que o erro é de outra natureza: não se trata de


erro gramatical. O erro é de informação. O redator da frase trocou
as palavras na sua frase: no mestrado, o trabalho produzido é uma
dissertação; no doutorado, há exigência de defesa de uma tese.
Para cursar o mestrado, basta ter graduação na área em questão;
para cursar doutorado em uma área, é necessário ser mestre (não
necessariamente na área do doutorado). A intenção do redator era
escrever:

– Entre 1998 e 2017 foram produzidas no Brasil 8.000 dissertações


de mestrado e 3.000 teses de doutorado.
140) As discussões de Bretton Woods concentraram-se
especialmente na discussão do modelo White.

Por questão de elegância da redação, é preciso eliminar a repetição


de palavra na frase: no caso em questão– “As discussões … na
discussão…”. Solução mais elegante (eliminar a segunda ocorrência
da palavra “discussão”):

– As discussões de Bretton Woods concentraram-se especialmente


no modelo White.
141) Miss diz porque adora dar escova de dentes como presente de
Natal.

O que temos na frase não é a conjunção causal (“porque”); como


também não é o substantivo (“porquê”), conclui-se que deve ser
escrito “por que”: está implícita a palavra “motivo”. Portanto, o
correro é:

– Miss diz por que adora dar escova de dentes como presente de
Natal.
142) Sucesso não tem haver com o dinheiro que você ganha.

Erro muito frequente: substituir “a ver” por “haver” (a pronúncia é


igual; e talvez o redator não seja leitor habitual, para assimilar a
escrita correta). Claramente, a intenção aqui é expressar que
sucesso “não tem relação com” dinheiro, que sucesso “não está
relacionado” com dinheiro, que sucesso “não tem a ver” com
dinheiro. Assim:

– Sucesso não tem a ver com o dinheiro que você ganha. 143) Os
interessados podem estar procurando as informações pertinentes na
secretaria do colégio.

A frase apresenta um e xemplo de gerundismo. A expressão “estar


procurando” denota atividade continua que é injustificável.
Eliminando o gerúndio, fica:

– Os interessados podem procurar as informações pertinentes na


secretaria do colégio.
144) Galheiros desrespeitou outra decisão do mesmo ministro, que
havia o afastado do comando da empresa por ser réu.
A conjunção subordinativa causal “que” atrai o pronome oblíquo
para antes do verbo. Desta forma, deve ficar:
– Galheiros desrespeitou outra decisão do mesmo ministro, que o
havia afastado do comando da empresa por ser réu.
144) Uma palavra para quem excedeu à mesa: não é o angú de um
dia que engorda o porco.

Neste caso, a forma correta do verbo “exceder” é a reflexive , pois


referese a uma pessoa (“exceder-se”); a palavra oxítona terminada
em “i” e “u” não leva acento. O malgosto da frase – associar uma
pessoa com um porco– permanece, já que é questão de estilo do
redator. Portanto, com a correção gramatical, temos:
– Uma palavra para quem se excedeu à mesa: não é o angu de um
dia que engorda o porco.

145) A ausência, morosidade ou fragilidade no controle das


condições de abertura e de oferta de cursos vem pondo em risco o
trabalho de construção da excelência do ensino pela nossa
entidade.

A frase não apresenta paralelismo sintático: esse é o ajuste a fazer.


Note que somente o primeiro substantivo que inicia a frase
apresenta artigo definido; “morosidade” e “fragilidade”, não. Para
que haja paralelismo sintático, é necessário retirar o artigo existente
ou pôr nos dois substantivos. Soluções:

– Ausência, morosidade ou fragilidade no controle das condições de


abertura e de oferta de cursos vem pondo em risco o trabalho de
construção da excelência do ensino pela nossa entidade.

– A ausência, a morosidade ou a fragilidade no controle das


condições de abertura e de oferta de cursos vem pondo em risco o
trabalho de construção da excelência do ensino pela nossa
entidade.

146) Eu tenho uma única decisão cujo o conteúdo e o próprio


processo são claramente ideológicos e que não dizem respeito a
nenhuma infração da minha parte.

O pronome relativo “cujo” assume gênero e número da palavra que


o segue. O artigo definido é incorporado ao pronome. Desta forma,
teremos:

– Eu tenho uma única decisão, cujo conteúdo e o próprio processo


são claramente ideológicos, e que não dizem respeito a nenhuma
infração da minha parte.

Dois outros exemplos para ilustrar gênero feminino e plural:


– O livro, cuja capa foi riscada, será descartado.
– Os livros, cujas capas foram riscadas, serão descartados.
147) Já nesta obra eu referia, corroborando com D´Amore, que ela
era a explicitação da relevância da Didática.

O verbo corroborar é transitivo direto, com a acepção de ratificar,


confirmar (algo), comprovar, concordar com. Este é um caso do
fenômeno chamado “contaminação sintática”, quando uma estrutura
é criada por confusão com estrutura válida existente. A
“contaminação” decorre da associação do verbo corroborar com
“concordar com”. Forma correta:

– Já nesta obra eu referia, corroborando D´Amore, que ela era a


explicitação da relevância da Didática.
Outro exemplo:– A pesquisa corroborou a hipótese do doutorando.

148) O empresário pode perguntar-se: quem sabe não está contido


nele a solução (tabajara) de todos os meus problemas? Há erro de
concordância nominal: a solução não está contida. Corrigindo:

– O empresário pode perguntar-se: quem sabe não está contida


nele a solução (tabajara) de todos os meus problemas?
149) Mesmo quando se considera serviços públicos, que deveriam
ser universais, o tempo é um problema.
Há erro de concordância verbal na frase. O verbo considerar deve
concordar com “serviços públicos”. Forma correta:
– Mesmo quando se consideram serviços públicos, que deveriam
ser universais, o tempo é um problema.
150) O pedagogo precisa ser envolvido com a construção de uma
sociedade includente, equânime, justa e solidária,...

Na frase acima ocorre o emprego de palavra que não consta do


vocabulário do português culto contemporâneo do Brasil: includente.
Como existe a palavra excludente, por associação, o redator criou a
palavra includente. Corrigindo (substituindo pela palavra cabível):

– O pedagogo precisa ser envolvido com a construção de uma


sociedade inclusiva, equânime, justa e solidária,...
151) Filmes institucionais apresentam as atribuições e iniciativas do
Inep.
Erro comum presente em manchete de revista universitária. Falta
paralelismo sintático na frase. Duas opções para correção: pôr o
artigo definido respectivo em iniciativas, ou suprimir o artigo de
atribuições. Teríamos então (a segunda opção fica melhor como
título):

– Filmes institucionais apresentam as atribuições e as iniciativas do


Inep.
– Filmes institucionais apresentam atribuições e iniciativas do Inep.

152) Ação militar dos EUA na Venezuela seria catastrófico.

A frase está correta. A expressão “é catastrófico” (no exemplo, “s


eria catastrófico”) refere-se a nome sem elemento determinante e,
por isso, é invariável. Expressões como “é preciso”, “é proibido”, “é
bom”, “é necessário”, quando se referem a substantivos sem
elementos determinantes, ficam invariáveis. Se houver elemento
determinante do substantivo, a expressão concorda em gênero e
número com ele. Observe, agora, o exemplo:

– A ação militar dos EUA na Venezuela seria catastrófica. Com a


determinação do substantivo (“a ação” em vez de “ação”), o adjetivo
concorda com ele em gênero.
Outros exemplos (sem determinação e com determinação):
– É proibido parada de veículos neste local.
– É proibida a parada de veículos neste local.
– Ingestão de água é bom para a saúde.
– A ingestão de água é boa para a saúde.
– É necessário compreensão do problema.
– É necessária a compreensão do problema.
153) Vocês achavam há uns sete anos atrás que a TV Senado
algum dia bateria recorde de audiência?

Há redundância na frase: a forma verbal “há” denota tempo pass


ado; o mesmo acontece com o advérbio “atrás”. Uma ou outra
palavra deve ser suprimida para retirar a redundância. Assim,
teríamos:
– Vocês achavam há uns sete anos que a TV Senado algum dia
bateria recorde de audiência?
– Vocês achavam uns sete anos atrás que a TV Senado algum dia
bateria recorde de audiência?

154) A empresa Vale diz não saber porque sirenes não


funcionaram.
Há erro na frase. Não é situaçãopara a conjunção causal “porque”; é
caso para “por que”, pois está subentendida a palavra “motivo”. A
forma correta da frase é:

– A empresa Vale diz não saber por que sirenes não funcionaram.
Outra forma correta seria utilizar a forma substantivada (com
mudança na forma verbal para manter o mesmo sentido):

A empresa Vale diz não saber o porquê de as sirenes não terem


funcionado.

155) Craques de futebol que não conteram suas emoções. Há erro


na conjugação do verbo conter. A forma correta do pretérito perfeito
é contiveram.
– Craques de futebol que não contiveram suas emoções.

LEITURA E REFLEXÃO 13
Extraído de FURTADO, A. B. Crônicas do Limiar de um Novo Ano.
Belém: abfurtado.com.br, 2019.
“SE LIGA”

Texto no Facebook aponta certo e errado em três ou quatro


situações da escrita em Português. Tudo perfeito. Só que termina
com o que está no título da nota. Percebe-se que a intenção é usar
expressão do Português falado. A forma verbal está em
descompasso com o pronome pessoal do caso oblíquo. Duas
possibilidades de correção: “se ligue” ou “te liga”. Como não se trata
de fala, mas de escrita, seria melhor que o texto fosse finalizado
com uma das frases abaixo (para evitar iniciar a frase com o
pronome) – a primeira com verbo na segunda pessoa do singular
(tu); a segunda com verbo na terceira pessoa do singular (você):
– Fica ligado!
– Fique ligado!

O próximo Capítulo trata de um assunto cuja descrição é obrigatória


em qualquer artigo, dissertação ou tese– a metodologia. Em
essência, consiste em informar como o trabalho foi elaborado, quais
os procedimentos e os instrumentos de pesquisa empregados.
9. METODOLOGIA
Finalizamos o livro tratando da metodologia adotada para realizar a
investigação científica. A descrição da metodologia empregada na
pesquisa relatada no artigo, dissertação ou tese foi colocada na
Introdução [2], na estrutura descrita na Seção 4.4.

A metodologia apresenta os elementos necessários à elaboração do


artigo/dissertação/tese, englobando todos os passos realizados para
sua construção científica, que vai desde a escolha do procedimento
para obtenção dos dados, perpassa a identificação dos métodos,
técnicas, materiais, instrumentos de pesquisa e definição de
amostra/universo, até a categorização e análise dos dados
coletados (JUNG, 2004).
9.1 TÉCNICAS DE LEVANTAMENTO
DE DADOS
Para o levantamento de dados, são utilizados: pesquisa documental,
pesquisa bibliográfica, contato direto (entrevista, coleta conjunta),
aplicação de questionário e observação (FURTADO & COSTA JR,
2010).

9.1.1 PESQUISA DOCUMENTAL


A pesquisa documental é a técnica de
levantamento de dados que
se concentra na coleta e análise de documentos relacionados ao
objeto de investigação.
9.1.2 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
A pesquisa bibliográfica concentra-se
na identificação de obras
disponíveis na literatura da área em questão, relacionadas ao objeto
de interesse.
9.1.3 CONTATO DIRETO
O contato direto é a forma de
obtenção de informações por meio
da interação do pesquisador com pessoas que detenham
conhecimento de interesse para a pesquisa. Pode ser realizada por
meio de entrevista (individual) ou de forma conjunta (pesquisador e
entrevistados em sessões de seminários, para que ele obtenha as
informações de interesse da pesquisa).

9.1.3.1 Entrevista
A entrevista é a técnica mais
importante para coleta de informa
ções, em que o pesquisador formula perguntas diretamente a uma
pessoa que detenha informações relevantes para a pesquisa. É
preciso identificar, de alguma forma, o grupo de pessoas
representativo para a pesquisa em questão. Por exemplo, em
pesquisa que exija a interação com professores que atuam no
ensino fundamental de uma cidade normalmente não vai abranger
todo o corpo docente da cidade, mas uma amostra (um grupo)
representativa deste universo é suficiente, desde que adotado
critério válido para composição da amostra, como é feito em
pesquisa eleitoral, em que são identificados aleatoriamente eleitores
que representem os diversos perfis de que se compõe a população
considerada, pelo nível de instrução, pela classe social, pela cidade
de dado porte em que mora, etc.

Três tipos de perguntas podem ser feitas nas entrevistas [A. Dennis
& B. H. Wixom apud Furtado & Costa Jr (2010)]: perguntas
fechadas, perguntas abertas e perguntas analíticas.

As perguntas fechadas requerem resposta específica, como do teste


de múltipla escolha; estas questões não cobrem o porquê da
resposta. Por exemplo, qual é a média diária de processos novos
que são recebidos na repartição? A pergunta requer uma resposta
objetiva.

As perguntas abertas possibilitam margem de tolerância para


discussão por parte do entrevistado, permitindo-lhe opinar ao
responder. Exemplo de pergunta aberta: o que você acha do
sistema atual?

As perguntas analíticas são as que objetivam confirmar informações


dadas nas perguntas abertas ou fechadas. Exemplo de pergunta
analítica: você pode detalhar um pouco mais este conceito?
As entrevistas podem ser de dois tipos: estruturada ou não
estruturada [Dennis & Wixom apud Furtado & Costa Jr (2010)].

As entrevistas estruturadas são as em que há conjuntos específicos


de perguntas. As perguntas fechadas são muito usadas neste tipo
de entrevista.

As entrevistas não estruturadas são aquelas que buscam obter um


conjunto amplo e pouco definido de informações; elas são
exploratórias. Normalmente são realizadas no início da coleta de
informações.

São requisitos do entrevistador: habilidade de comunicação com o


entrevistado, diplomacia, habilidade de aprender conhecimentos
novos. Buscar evitar mal-entendidos; habilidade de separar fatos de
opiniões expressas pelos entrevistados.

William Davis apud Furtado & Costa Jr (2010) estabelece três partes
componentes da entrevista: 1) Preparação; 2) Realização; 3)
“Follow-up” (seguimento).

1) Preparação da entrevista

Na etapa de preparação da entrevista, o pesquisador deve


identificar claramente as informações que pretende obter e o grupo
de pessoas a ser entrevistada. Se forem pessoas pertencentes a
uma empresa, o organograma pode sugerir por quem começar as
entrevistas. Os gerentes podem indicar os subordinados em
condições de fornecer informações mais específicas sobre suas
áreas. Uma ordem a seguir pode ser dada pelo organograma: de
cima para baixo na estrutura.

Como parte da preparação, o pesquisador pode estudar os


documentos que conseguir coletar antecipadamente. É conveniente
preparar um roteiro com uma relação de perguntas específicas para
cada pessoa. Isto feito, ele pode marcar dia, hora e local da
entrevista, de comum acordo com o entrevistado. Os profissionais a
serem entrevistados precisam saber o objetivo da pesquisa, o que
se espera deles, o que precisam ter em mãos.

2) Realização da entrevista

William Davis apud Furtado & Costa Jr (2010) divide a realização da


entrevista em três partes: a) Abertura; b) Corpo; c) Fechamento.
a) Abertura: na abertura, o
pesquisador apresenta-se, e identifi
ca o objetivo da entrevista. A abertura destina-se a criar um
ambiente descontraído entre as partes.
b) Corpo: no corpo da entrevista, o
pesquisador faz as pergun
tas previstas no seu roteiro, anotando pontos-chave das respostas.
Atenção deve ser dispensada às respostas do entrevistao, pois
podem determinar perguntas não programadas ou esclarecimentos
adicionais. Outro ponto para atenção do pesquisador:
inadvertidamente o entrevistado pode sair do assunto de interesse.
Neste caso, com diplomacia, o pesquisador retoma o curso normal
de seu plano de entrevista.

As sessões de entrevista devem ter a duração de uma hora, uma


hora e meia. Sessões muito demoradas acarretam dificuldade de
retenção das informações abordadas. Dividir em duas ou três
sessões é desejável, pois há chance de repassar o que foi tratado,
permitindo notar omissões, erros e aspectos não esclarecidos.
c) Fechamento: o fechamento da
entrevista é para repassar o
que foi tratado, e marcar a próxima sessão, se o assunto a ser
abordado com o entrevistado não tiver sido esgotado.
3) Follow-up

A última parte da entrevista é o follow-up (seguimento). Esta parte


destina-se à confirmação do que foi abordado nas sessões de
entrevista: o pesquisador prepara um resumo do que foi coletado e
o entrega ao entrevistado para revisão. O pesquisador pede que o
entrevistado analise o relato feito, corrigindo erros existentes nas
anotações ou omissões, que podem ser sanadas neste momento. É
importante destacar que lacunas existentes ou erros cometidos
nesta fase, se não forem sanados, redundarão em algum retrabalho
posterior.

9.1.3.2 Coleta Conjunta de Informações

Uma alternativa à coleta individual (entrevista) é a coleta em grupo.


Nesta abordagem, todos os profissionais que tenham informações
de interesse do projeto de pesquisa são reunidos num seminário
para apresentação dessas informações ao pesquisador (FURTADO
& COSTA JR, 2010).

Uma das técnicas citadas na literatura de computação é a Joint


Application Design (JAD)– Projeto Conjunto de Aplicação – proposta
pela IBM.

Esta técnica de coleta apresenta algumas vantagens em relação à


entrevista individual: os participantes (detentores de informações a
serem fornecidas ao pesquisador) sentem-se prestigiados pela
participação nas reuniões e pelo fato de poderem dar sua
contribuição à pesquisa; os possíveis conflitos entre as áreas
participantes são resolvidos mais facilmente, já que todos os
envolvidos com poder decisório estão presentes. Havendo
objetividade na condução dos trabalhos, a abordagem colaborativa
pode levar à redução do tempo necessário para a coleta de
informações, quando comparado com o resultado obtido com o uso
das técnicas individuais (entrevista e observação).

No entanto, os resultados das sessões do JAD podem ser


comprometidos se as pessoas selecionadas não tiverem poder de
decisão ou se não detiverem conhecimento sobre as áreas que
representam ou se não tiverem interesse de contribuir com a
pesquisa. Outro ponto que pode comprometer os resultados é o
número de participantes: para grupos iniciantes na aplicação da
técnica, recomendam-se até oito participantes; para grupos
experientes, até quinze participantes.

A aplicação da coleta colaborativa exige (da mesma forma que uma


entrevista) três etapas bem identificadas: 1) preparação; 2)
realização das sessões; 3) conclusão dos trabalhos.

A etapa de preparação consiste na identificação dos participantes,


na orientação a todos eles sobre o trabalho que vai ser realizado, na
informação sobre a importância da participação de cada um para o
sucesso do trabalho final. Escolha do período de realização, local
das reuniões (de preferência, num local fora do ambiente de
trabalho dos envolvidos, de modo que não haja interferências de
nenhum tipo durante as sessões – nem com telefonemas, nem com
visitas) e preparação do material que vai ser utilizado nas sessões.

A realização das sessões pode durar vários dias, dependendo da


abrangência do que tiver que ser repassado ao pesquisador. Exige-
se a participação de todos em tempo integral. Como mencionado,
interrupções não devem ocorrer.

Duas funções são destacadas para realização das sessões: o líder


da sessão e o relator. A função do líder (ou facilitador) é conduzir as
reuniões, buscando garantir harmonia do trabalho; o líder deve
procurar evitar dispersão e perda de tempo, como também deve
evitar que algum participante monopolize a palavra. Ele deve
procurar garantir a distribuição equitativa do tempo entre os
participantes. Os conflitos de opiniões (inevitáveis) entre os
participantes devem ser resolvidos harmonicamente. Isto exige
grande habilidade e diplomacia do líder. Cabe ao relator designado
registrar as conclusões da reunião, publicando-as em quadro de
aviso (no local das reuniões) e disseminando-as entre os
participantes por correio eletrônico.

A conclusão (fechamento) dos trabalhos é registrada por meio da


coleta do material produzido nas sessões, formalizado no relatório
final do JAD.

9.1.4 APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIO

A aplicação de questionário é outra forma de obtenção de


informações de interesse de uma pesquisa. É uma forma adequada
de coleta de informações quando não há tempo suficiente para
realizar entrevista com todas as pessoas que poderiam contribuir
com a pesquisa.

Outra situação para uso de questionários seria quando as pessoas


encontram-se dispersos geograficamente. Também é indicada esta
técnica quando as perguntas são muito objetivas ou quando suas
respostas exigem longo tempo para formulação.

Existem restrições ao uso de questionários: a resistência natural das


pessoas ao seu preenchimento. Qualquer falha no projeto do
questionário (questões mal-elaboradas, ou ambíguas, ou
incompreensíveis ao respondente) pode prejudicar os resultados da
coleta de informações.

9.1.5 OBSERVAÇÃO

A observação do local onde se encontra o objeto de interesse da


pesquisa oferece ao pesquisador oportunidade de perceber e
compreender, mais facilmente, aspectos não levantados com outras
técnicas de coleta. O trabalho cotidiano é observado.
Esta abordagem é também referida como etnografia. Há imersão do
pesquisador no ambiente de interesse. Segundo o dicionário Aurélio,
a palavra etnografia designa um ramo da antropologia que cuida do
estudo e da descrição dos povos, língua, raça, religião, etc.
(FERREIRA, 1975).

A etnografia possibilita a descoberta da maneira como as pessoas


realmente desenvolvem seu trabalho; às vezes, isto não se encontra
registrado em manuais. Da mesma forma, a etnografia permite
coletar conhecimento tácito (conhecimento não registrado) sobre o
objeto de interesse da pesquisa. Em todo ambiente de trabalho, há
conhecimento tácito (não explícito) que as pessoas aplicam, fruto de
suas vivências, de suas experiências ou do grupo a que pertencem.
9.2 TIPOS DE PESQUISA DE ACORDO
COM O PROCEDIMENTO TÉCNICO
O pesquisador deve mencionar o tipo de pesquisa que pretende
desenvolver, de acordo com o procedimento técnico a ser adotado:

– pesquisa empírica;
– pesquisa téorica;
– pesquisa teóricoempírica;
– pesquisa histórica;
– estudo de caso;
– revisão sistemática da literatura.

Dependendo da pesquisa a ser realizada, pode-se propor uma


abordagem resultante da combinação entre dois ou mais métodos
como forma de alcançar os objetivos pretendidos.

9.2.1 PESQUISA EMPÍRICA

A pesquisa empírica é aquela que busca a comprovação prática de


algo, por meio da realização de experimentos (em trabalho em
campo ou em laboratório) ou por meio de observação para coleta de
dados em campo.
A pesquisa empírica sustenta-se em
teoria que busca comprovar e validar.
Esta é a principal importância da
pesquisa empírica. Não há sentido em
realizar pesquisa empírica sem
sustentação teórica que fundamente
os experimentos e as observações.
9.2.2 PESQUISA TEÓRICA A pesquisa
teórica objetiva discutir e comprovar
a eficácia de uma teoria, ou rever a
validade e o alcance de uma teoria. A
pesquisa teórica não é um método
autossuficiente: com frequência ela é
sustentada em pesquisa empírica. Na
área da Filosofia a pesquisa teórica é
o método dominante e
autossuficiente, ou seja, não há
sustentação empírica. 9.2.3
PESQUISA TEÓRICOEMPÍRICA A
pesquisa teóricoempírica, como o
nome sugere, consiste em fazer uma
investigação que se desdobra em
duas: uma pesquisa teórica a respeito
de determinado objeto de interesse e,
em seguida, fazer pesquisa empírica
que sustente os resultados da
pesquisa teórica realizada.
9.2.4 PESQUISA HISTÓRICA A
pesquisa histórica objetiva conhecer
determinado objeto de estudo (seja
um evento, seja uma organização,
seja uma pessoa, seja uma
tendência), atrás de respostas para
questões propostas na investigação.
O pesquisador busca reunir
informações a respeito do objeto de
investigação, que possibilitem a sua
compreensão no momento presente.
9.2.5 ESTUDO DE CASO O estudo de
caso é o método de pesquisa cujo
foco é um fenômeno complexo, que
será investigado em seu contexto
real. É uma abordagem utilizada na
administração, na computação, na
engenharia, dentre outras áreas.
Como um caso é considerado, não é
possível fazer generalizações. Pode
ser tomado como um estudo
exploratório que, depois, pode ser
estendido para abarcar mais casos
que possibilitem generalizações. Um
caso pode ser um grupo de pessoas,
uma instituição, um bairro de uma
cidade, uma cidade, um evento. Por
exemplo, na área pedagógica pode
ser proposto um estudo de dado tema
tendo como caso uma determinada
escola. Com base neste estudo inicial,
pode-se extender para uma amostra
mais significativa, já agora com
possibilidade de fazer generalizações
e extrair conclusões aplicáveis à
totalidade das escolas de dada
cidade. No planejamento do estudo de
caso, são identificadas as questões
de pesquisa que serão consideradas,
os dados relevantes para o estudo, e
os dados que serão coletados e como
estes dados serão analisados. 9.2.6
REVISÃO SISTEMÁTICA DA
LITERATURA
A revisão siste mática de literatura, citada na Seção 2.3 (“Assunto
tratado no artigo científico, na dissertação ou na tese”), é uma forma
de pesquisa em que o foco é uma questão de investigação (definida
no início do processo) acerca de dado assunto, e com base em
palavras-chave, buscam-se identificar em bancos de dados
específicos de produção científica os trabalhos relevantes a respeito
do assunto de interesse, estes trabalhos são selecionados,
avaliados e sintetizados. Portanto, com esta modalidade de trabalho
são identificadas as pesquisas relevantes existentes na literatura
relacionadas ao assunto de interesse particular da pesquisa; os
trabalhos são selecionados, coletados, analisados e avaliados
adequadamente. Este assunto pode ser expresso por meio de uma
questão de pesquisa, pode limitar-se a um fenômeno de interesse
ou pode ter a abrangência de uma subárea temática
(KITCHENHAM, 2004).

Os estudos que, com base em algum critério de seleção, são


considerados para análise em uma revisão sistemática são
chamados de estudos primários; a revisão sistemática realizada,
consequentemente, é um estudo secundário por basear-se nos
estudos primários selecionados. Quando a revisão sistemática não
utiliza meta-análise para integrar os estudos primários, a revisão
sistemática é dita qualitativa; neste caso, a integração é feita por
síntese, e não estatisticamente. Meta-análise é a técnica estatística
usada para integrar os resultados de dois ou mais estudos
independentes que tenham como base mesma questão de
pesquisa; a integração produz um resumo que expressa uma
síntese dos estudos analisados.

A realização de revisões sistemáticas é indicada em alguns casos.


Por exemplo, para descobrir lacunas nas investigações efetuadas
em dada área, que podem ensejar novas pesquisas. Outra situação
em que a revisão sistemática é recomendada: extrair evidências
empíricas a respeito de benefícios e limitações da utilização de dado
procedimento ou tecnologia, que ainda careçam de posição
conclusiva. Outra possível justificativa para realização de revisão
sistemática é a consolidação dos resultados das pesquisas
realizadas acerca de uma temática para orientar adequadamente
novas pesquisas e evitar desperdício de recursos. Outra situação
ainda apontada por Kitchenham (2004) é quando se deseja verificar
se evidências empíricas apoiam ou contradizem hipóteses teóricas
que tenham sido formuladas, ou quando se buscam novas hipóteses
de trabalho.

A elaboração de um trabalho científico qualquer tem como atividade


inicial a realização de uma revisão da literatura (ou também referida
como pesquisa bibliográfica) da área. Esta atividade é executada
com o fim de levantar os trabalhos desenvolvidos. Uma questão
importante aqui é determinar o direcionamento correto da busca a
ser feita, de modo a não deixar escapar nenhum trabalho relevante
a respeito do assunto pesquisado, sejam os trabalhos que
sustentam as hipóteses de investigação, como os que as
contraditam. Esta não é uma tarefa fácil. É conveniente que se
identifiquem no texto do trabalho científico as bases de dados
utilizadas nas buscas e as respectivas palavras-chave empregadas,
como justificativa de possível omissão que venha a ocorrer.

Uma característica da revisão sistemática que a distingue da revisão


bibliográfica convencional é o rigor com que a questão de pesquisa
é construída, e a forma como o procedimento metodológico é
planejado, especificado e executado, de forma a garantir que (pelas
estratégias de busca adotadas) parte significativa da literatura
disponível seja identificada. Da mesma forma, há exigência de que
os critérios de inclusão e de exclusão de pesquisas que tenham sido
obtidas pelas buscas sejam explicitados para, assim, se poder
avaliar os estudos primários selecionados. Outra questão relevante
a ser observada pelo pesquisador é a que diz respeito ao viés na
publicação. Viés é a tendência de algo merecer determinada
consideração por justificativa externa. Chama-se viés na publicação
à tendência de as publicações científicas aceitarem, com maior
probabilidade, os trabalhos com evidências positivas do que os com
evidências negativas. Isto faz com que, ao serem confrontados
diferentes estudos, o resultado seja tendencioso para o lado das
evidências positivas. Se esta questão não for observada pelo
pesquisador ao conduzir sua revisão sistemática, os resultados
obtidos serão enganosos. Razões por que esta tendência ocorre:
muitos estudos não são publicados (às vezes, nem chegam a ser
submetidos para possível publicação), porque não há resultados
positivos a relatar, e o pesquisador julga que não são significativos.
De certa forma, os próprios periódicos têm maior inclinação de
publicar resultados positivos, pois há maior probabilidade de citação
de tais estudos, aumentando o impacto do periódico na comunidade
da área. Outra possível justificativa para viés: as fontes de
financiamento podem atuar no sentido de favorecer seus interesses,
retendo pesquisas que não lhes sejam favoráveis.

Os procedimentos metodológicos pressupõem descrever os estudos


exploratórios feitos antes da investigação e os que foram realizados
ao longo da pesquisa, e que justificaram a escolha do tema.
Também: a construção dos objetivos e/ou hipóteses de trabalho, a
delimitação da amostra (sujeitos da pesquisa), os procedimentos
que foram adotados para levantamento dos dados (entrevistas,
questonários, observação), a definição das técnicas utilizadas para
tratamento e análise dos dados coletados. Ainda: as limitações e as
delimitações das variáveis que foram controladas. Por fim, as
estratégias empregadas na análise dos dados coletados e as
providências para divulgação dos resultados. Consta também
destes procedimentos os registros relacionados a questões éticas
envolvidas com o desenvolvimento da pesquisa, como também o
registro do consentimento dos sujeitos em participar da pesquisa.
O estudo de caso (como apresentado na Seção 9.2.5) é a pesquisa
realizada para estudar um dado objeto de interesse (o caso), sobre
o qual o pesquisador vai debruçar-se para responder as questões
propostas.
9.3 NÍVEIS DE PROFUNDIDADE DA
PESQUISA
Dependendo do nível de profundidade da pesquisa, ela pode ser
enquadrada em um dos três tipos: exploratória, descritiva e
explicativa (JUNG, 2004) (ALVES, 2003).

Uma dada pesquisa pode ser iniciada como exploratória;


confirmando-se as premissas de sua proposição, caminhar para
uma pesquisa descritiva e em seguida passar a explicativa.

9.3.1 PESQUISA EXPLORATÓRIA

A pesquisa exploratória realiza estudos que possibilitem uma visão


geral sobre um fato ou fenômeno; representa um passo inicial para
a realização de estudos mais aprofundados. Buscam-se elementos
para formulação de hipóteses de trabalho, seguindo a intuição ou
alguma observação particular do pesquisador. Atem-se mais à
coleta de dados qualitativos do que quantitivos a respeito do
fenômeno investigado.

O caminho natural da pesquisa exploratória é a realização de


pesquisa mais aprofundada (descritiva ou explicativa) ou o descarte
da linha de investigação, com base nos resultados obtidos. Tem
como característica a flexibilidade, com a exploração de várias
linhas de abordagem. Novos produtos ou novos processos, cujas
características sejam a inovação, podem resultar de pesquisa
exploratória.

Uma pesquisa exploratória pode ser iniciada para lançar novo olhar
ou nova perspectiva sobre dado fenômeno.

São exemplos de pesquisas exploratórias: pesquisa bibliográfica e


estudo de caso, realizados para levantar conceitos, formulações e
ideias a respeito do fenômeno investigado (JUNG, 2004).
Grandes empresas de tecnologia incentivam que seus
pesquisadores utilizem alguma fatia de seu tempo para projetos
pessoais como forma de fazer prospecção de novos produtos ou
novos processos, e de incentivar a criatividade e a inovação; mais
adiante, dependendo dos resultados alcançados com protótipos ou
abordagens desenvolvidas, os projetos podem ser assumidos pela
organização com as devidas recompensas ao autor pela iniciativa.

9.3.2 PESQUISA DESCRITIVA

A pesquisa descritiva tem como objetivo analisar e descrever


fenômeno de interesse, identificando frequência com que ele
acontece, condições que o desencadeiam, características gerais
percebidas, variáveis envolvidas.

É uma pesquisa abrangente. Envolve análise aprofundada do


problema de pesquisa, enfocando aspectos sociais, econômicos,
políticos, dentre outros. Métodos e técnicas para coleta e análise de
dados são descritos rigorosamente, da mesma forma que tudo o
que fundamente e se relacione ao objeto de estudo (JUNG, 2004).

Busca observar e coletar dados quantitativos e qualitativos acerca


do fenômeno investigado. A intenção é que a coleta de dados seja
ampla. Por isso, deve-se evitar fazer suposições ou modelagens
preditivas a respeito dos dados.

9.3.3 PESQUISA EXPLICATIVA

A pesquisa explicativa aprofunda os estudos, buscando explicar


fatores contribuintes para que dado fenômeno ocorra. Demo (2005,
p. 134) ratifica a importância da pesquisa explicativa para a Ciência:
“Ciência não se basta com simples descrições (como as coisas
são), mas busca suas razões (por que são)”.

O objetivo é identificar e compreender as causas e os efeitos do


fenômeno estudado.
A pesquisa explicativa exige mais dedicação do pesquisador em
trabalho de reflexão, de síntese, de teorização a respeito do
fenômeno de interesse, afinal os resultados esperados são
explicações detalhadas de por que acontece. Neste esforço, o
pesquisador pode precisar recorrer a simulações ou a
experimentações.

A pesquisa explicativa conta especialmente com dados


quantitativos, valendo-se de métodos experimentais de coleta.

A pesquisa explicativa é conclusiva, com grande potencial de


produzir conhecimento relevante para a área que estuda o
fenômeno.
9.4 ABORDAGEM
QUANTITATIVA/ABORDAGEM
QUALITATIVA
A utilização de métodos em pesquisa significa a escolha de
procedimentos sistemáticos para descrição e explicação de
fenômenos. Esses procedimentos possibilitam duas formas de
abordar o fenômento que se pretende estudar: 1) Abordagem
quantitativa (emprega técnicas estatísticas); 2) Abordagem
Qualitativa16.
16 Texto extraído de FURTADO, Alfredo Braga. Avaliação do Uso de Tecnologias Digitais
no Apoio ao Processo de Modelagem Matemática. 2014. 186f. Tese (Doutorado em
Educação Matemática) – Instituto de Educação Matemática e Científica
– Universidade Federal do Pará, Belém.

9.4.1 ABORDAGEM QUANTITATIVA

A abordagem quantitativa é de mais longa tradição, remontando ao


século XVII, com as contribuições de Galileu Galilei (método
empírico), de Francis Bacon (raciocínio indutivo), de René
Descartes (método dedutivo), de Isaac Newton (união do raciocínio
indutivo e dedutivo).

Há prevalência da abordagem matemática, com a coleta dos dados


sendo realizada de forma sistemática, rigorosa, precisa e a análise
feita estatisticamente.

Nesta modalidade de pesquisa, há ênfase nos dados empíricos. As


inferências são extraídas das amostras e buscam-se objetivamente
as explicações dos fenômenos estudados (OLIVEIRA, 2008).

9.4.2 ABORDAGEM QUALITATIVA


Já a pesquisa qualitativa passou a ter crescente utilização no século
passado (a partir da década de 1970), na Antropologia e na
Sociologia, constituindo-se em nova vertente de pesquisa, e
estendeu-se depois para outras áreas como a Psicologia, a
Educação e a Administração (op. cit.).

A pesquisa qualitativa caracteriza-se por ser interpretativa,


descritiva, buscando compreender e interpretar o fenômeno em seu
contexto natural, sem o isolamento de variáveis. Outra característica
é que o pesquisador envolve-se com a pesquisa, não havendo a
isenção da pesquisa quantitativa. Seus métodos de trabalho são a
observação, a entrevista e a análise documental. Os dados
coletados são interpretados pelo pesquisador, normalmente sem
análise estatística (como ocorre na pesquisa quantitativa). Por fim, é
preciso acrescentar que estas formas de pesquisa não são
excludentes: o pesquisador pode utilizar ambas (op. cit.).
Uma das características da pesquisa qualitativa é o fato de
empregar diferentes concepções filosóficas, estratégias de
investigação e métodos de coleta, análise e interpretação dos
dados.

Creswell (2010, p. 206) afirma que “os procedimentos qualitat ivos


baseiam-se em dados de texto e imagem, têm passos singulares na
análise dos dados e se valem de diferentes estratégias de
investigação”.

O foco é “entender e interpretar dados e discursos, mesmo quando


envolve grupos de participantes” (D’AMBROSIO, 2006, p.10). E
“pesquisas que utilizam abordagens qualitativas nos fornecem
informações mais descritivas, que primam pelo significado dado às
ações” (BORBA e ARAÚJO, 2006, p. 24).

Uma virtude da pesquisa qualitativa é buscar “fazer jus à co


mplexidade da realidade, curvando-se diante dela, não o contrário,
como ocorre com a ditadura do método... que imagina dados
evidentes” (DEMO, 2000, p. 152).
Pressupõem abordagens qualitativas a pesquisa participante, a
pesquisa-ação, a história-oral, a observação de natureza
etnometodológica, a hermenêutica17, a fenomenologia18, os
levantamentos com questionários abertos ou gravados, as análises
de grupo (DEMO, 2005).

Dentre as características da pesquisa qualitativa, Creswell ( op. cit.)


cita:
O ambiente da pesquisa é natural;
O pesquisador é um agente fundamental;
Emprega múltiplas fontes de dados;
A análise dos dados é indutiva;
O significado que prevalece é o dos participantes; O projeto não
é prescritivo, ele emerge da pesquisa; Emprega lente teórica
explícita;
A pesquisa é interpretativa;
Compõe um quadro holístico.
17 Hermenêutica – ciência cujo objeto de investigação é a
interpretação de textos religiosos ou filosóficos.
18 Fenomenologia – é o estudo de um conjunto de fenômenos e

como se manifestam, seja através do tempo ou do espaço. Consiste


em estudar a essência das coisas e como são percebidas no
mundo.

A seguir, breve explicação destas características.


Na pesquisa qualitativa, o ambiente é natural: a coleta dos dados
feita pelos pesquisadores é realizada no local em que os parti

cipantes vivenciam a questão em estudo; eles não são levados para


um laboratório; a opção é pela conversa direta com as pessoas e
pela observação de como elas se comportam dentro de seu
contexto.

Na pesquisa qualitativa, o pesquisador é um agente fundamental: o


pesquisador coleta os dados pessoalmente por meio do exame de
documentos, por meio da observação do comportamento ou da
entrevista dos participantes.

A pesquisa qualitativa emprega múltiplas fontes de dados : na


pesquisa qualitativa não é utilizada uma única fonte de dados; ao
contrário, é comum o emprego de várias técnicas: entrevistas,
observação (etnografia), questionários, análise de documentos,
filmagens. Isto possibilita que algum aspecto não evidenciado em
uma fonte, possa ser esclarecido em outra.

Com base no exame de todos os dados disponíveis, o pesquisador


extrai sentido deles, organiza-os em categorias ou temas que
cubram todas as fontes.

O pesquisador enriquece seu texto com trechos de entrevistas, com


registros de diálogos, excertos de anotações, exemplos de trabalhos
de estudantes, enfim, lançando mão das várias fontes disponíveis,
entremeados com comentários, “buscando apresentar evidências
que suportem sua interpretação e, ao mesmo tempo, permitam ao
leitor fazer julgamentos de modo a concordar ou não com as
asserções interpretativas do pesquisador” (MOREIRA, 2011, p. 51).

Na pesquisa qualitativa, a análise de dados é indutiva : o


investigador qualitativo não trabalha com teorias ou variáveis a
priori; ele espera que elas emerjam a partir da investigação.

Os dados recolhidos no campo devem ser analisados


indutivamente: unidades específicas de informação em estado bruto
são sumarizadas em categorias de informação, a fim de definir
hipóteses de trabalho ou questões de investigação (LINCOLN &
GUBA, 1985).

O pesquisador cria seu próprio padrão de baixo para cima,


organizando os dados em unidades de informação cada vez mais
abstratas. Isto pode envolver a colaboração interativa com os
participantes, para dar forma aos temas ou abstrações que
emergem do processo. (CRESSWELL, 2010).
Na pesquisa qualitativa, o significado que prevalece é o dos
participantes: é crucial o foco do pesquisador na percepção que o
participante dá ao problema em questão, e não no significado que
ele traz para a pesquisa ou o que é expresso na literatura.

O projeto não é prescritivo, ele emerge da pesquisa: o processo de


pesquisa qualitativo não é prescritivo (ou seja, estabelecido a priori):
ele emerge a partir da aprendizagem sobre o problema,
proporcionado pela interação com os participantes. Como não há
prescrição (aliás, firma-se o convencimento de que a prescrição não
é desejável em Educação porque cada turma de uma disciplina é
diferente de qualquer outra), só o trabalho de pesquisa, minuciosa e
cuidadosamente registrado é considerado, para, a partir daí, ser
analisado à luz da base teórica adequada.

A pesquisa qualitativa emprega lente teórica explícita : com


frequência, a pesquisa qualitativa usa alguma lente teórica para
enxergar seu estudo. Por exemplo, o conceito de cultura, a
identificação do contexto social, político ou histórico do problema em
estudo.

A pesquisa qualitativa é interpretativa : a pesquisa qualitativa é


essencialmente interpretativa – os pesquisadores interpretam o que
veem, ouvem e entendem. Estas interpretações não se dissociam,
por certo, da origem do pesquisador, de sua história, de seus
entendimentos anteriores. Outras interpretações podem ser
produzidas pelos leitores do relato de pesquisa, ou pelos
participantes, pois múltiplas visões podem emergir do problema.

Certamente, o pesquisador traz da sua vivência, da sua experiência,


o conhecimento de todos os fatores que induzem sua hipótese de
trabalho. O investigador interpretativo faz uma imersão no ambiente
estudado, anotando o que acontece e providenciando os registros
possíveis dos eventos (áudio, imagem), e coleta documentos –
trabalhos de estudantes, materiais distribuídos pelo professor. Ele
cuida de uma amostra, não no sentido quantitativo, mas de grupos
ou indivíduos, com o objetivo de descobrir o que há de único nela e
aquilo que pode ser generalizado de situações similares.
(MOREIRA, 2011).

Na pesquisa qualitativa, a interpretação dos dados é o aspecto


crucial do domínio metodológico, realizado do ponto de vista dos
significados – tanto do pesquisador quanto dos sujeitos da pesquisa.

A pesquisa qualitativa compõe um quadro holístico : a pesquisa


qualitativa busca desenvolver um quadro abrangente do problema
em estudo, com múltiplas perspectivas e variados fatores
envolvidos, o que leva à produção deste quadro holístico. A
formulação de um quadro holístico buscado pela pesquisa
qualitativa decorre da necessidade de identificar e classificar os
fatores que contribuem para a questão em análise

Adicionalmente às características da pesquisa qualitativa


apontadas, deve-se comentar a questão da validade dos resultados
obtidos, a confiabilidade e a generalização dos resultados. A
validação dos resultados é efetuada em todos os passos do
processo, de modo a assegurar precisão e credibilidade, com base
em múltiplos procedimentos. A confiabilidade qualitativa exige que a
abordagem do pesquisador seja consistente com a de diferentes
pesquisadores e de diferentes projetos, com a documentação
detalhada dos procedimentos adotados, assegurando-se que erros
de transcrição e de codificação não ocorram e que verificações
cruzadas sejam efetuadas. A generalização na pesquisa qualitativa
é limitada,
pois a intenção dessa forma de investigação não é generalizar os resultados para os
indivíduos, os locais ou as situações fora daqueles que estão sendo estudados... Na
verdade, o valor da pesquisa qualitativa está na descrição específica e nos temas tratados
no contexto de um local específico. (CRESWELL, 2010, p. 227).

Cresswell (op cit.) acrescenta que, mais que a generalizabilidade, é


a particularidade que marca a pesquisa qualitativa.

As múltiplas fontes de dados possibilitam a chamada triangulação,


que consiste na utilização de vários procedimentos para obtenção
dos dados, permitindo checar as informações obtidas em uma
entrevista, por exemplo, com as atas de uma reunião– este é um
caso de triangulação de fontes.

Pode-se fazer também triangulação de métodos: quando se observa


o trabalho de um grupo de estudantes e depois eles são
entrevistados sobre o que fizeram, isto possibilita extrair conclusões
mais precisas, já que detalhes que expliquem um dado fato, não
perceptíveis em um instrumento, podem sê-lo em outro, garantindo
maior credibilidade e consistência quando se adota a abordagem
qualitativa (ARAÚJO e BORBA, 2006). A triangulação é “uma
resposta holística à questão da fidedignidade e da validade dos
estudos interpretativos” (MOREIRA, 2011, p. 105).

LEITURA E REFLEXÃO 14
Algo para aprender ainda?

Na graduação cursei disciplina de metodologia científica. Na


pósgraduação lato sensu (especialização), novamente. No
mestrado, idem. No doutorado, lá estava ela de novo no rol de
disciplinas a cursar.

Há esta exigência nos regimentos acadêmicos: os aproveitamentos


de estudos só são aprovados (respeitados a carga horária e o
conteúdo), se passados de um curso de graduação para outro. E na
pós-graduação? Leva-se em conta o nível do curso: especialização–
nível mais baixo; mestrado– intermediário; doutorado – nível mais
alto. Se a disciplina foi cursada no mestrado (respeitados a carga
horária e o conteúdo), o aproveitamento de estudos pode ser
concedido para outro mestrado ou para especialização; o inverso
não é permitido.

Além disso, eu tinha passado a lecionar a disciplina na graduação e


na especialização. Mas tinha que cursá-la novamente.
Seria a terceira vez. Há algo para aprender ainda? Foi como me
questionei.
Conclusão a que cheguei: há. Até poderia afirmar: sempre há.
Porém, pode representar perda de tempo. Fiquei atento aos
detalhes apresentados pela professora, à sua forma de abordar os
assuntos, aos seus critérios de apreciação de artigos do ponto de
vista dos avaliadores. Aproveitei para refinar meus critérios de
avaliação da redação científica, de como avaliar rapidamente um
artigo submetido por um estudante, que orientações passar-lhe. Por
fim, uma questão sempre presente: na falta de definição de algum
ponto em editais de periódicos ou de eventos, o que fazer? Sua
orientação sábia: adotar um procedimento e ir com ele até o fim.

LEITURA E REFLEXÃO 15
Maquiavel e a mudança

A frase abaixo de Nicolau Maquiavel, historiador e escritor italiano


(1469-1527), aplica-se ao trabalho do profissional de tecnologia,
tanto com relação à repercussão da mudança proposta quanto com
respeito às barreiras a serem enfrentadas até que a mudança
efetuada se estabilize.

Em todas as ocasiões em que o propósito seja implantar nova


tecnologia, espera-se, confrontando custos e benefícios, que ela
mude para melhor um negócio ou uma área da organização (se isto
não acontecer, deve ser desativada).

Mas será necessário enfrentar o status quo e tudo o mais que está
apegado a ele. Note que Maquiavel prevê os obstáculos que se tem
à frente; ele não esquece os que serão beneficiados com a
mudança. Não se deve contar com eles. Nada ou pouco farão pelo
novo, apesar da presunção de serem beneficiados. Implícito na
frase de Maquiavel para o agente da mudança: vire-se sozinho!

– “Nada é mais difícil de realizar, nada é mais incerto para se ter


sucesso do que quando se toma a iniciativa para implantar uma
mudança, pois, o inovador terá como inimigos todos os que se
davam bem debaixo das velhas condições, e defensores sem
entusiasmo naqueles que podem darse bem debaixo das novas”.

A obra de Maquiavel induziu a criação do adjetivo “maquiavél ico”,


com o significado de ardiloso, velhaco, astucioso, pérfido, desleal.
Seu livro mais conhecido é “O Príncipe”: a primeira edição foi
publicada postumamente em 1532; trata-se de um guia de como
chegar ao poder e manter-se nele. Pelas ideias expressas na obra,
deduziu-se a frase que passou a ser creditada a Maquiavel, e
traduzem a negação da moral: “os fins justificam os meios”.

Duas outras frases de Maquiavel:


– “Aos amigos, os favores; aos inimigos, a lei”;

– “Quando fizer o bem, faça-o aos poucos; quando for praticar o


mal, façao de uma vez só”.

LEITURA E REFLEXÃO 16
Motivos para fracasso de implantação de tecnologia

Para resposta a uma questão de um exercício de fixação, eu


precisava listar cinco motivos por que a implantação de uma
tecnologia pode fracassar, sem considerar a razão de fundo
apontada por Maquiavel na nota anterior (o fato de que toda
mudança tem oposição compreensível de quem vai ser prejudicado
por ela e defensor tépido em quem vai beneficiar-se dela). Acabei
fazendo um rol com dez possíveis motivos (a lista não esgota as
possibilidades; as razões são listadas sem sequência lógica).

Motivo 1: estudos de custos e benefícios da utilização não terem


sido feitos adequadamente antes da aquisição da tecnologia.

Motivo 2: estudos de custos e benefícios não avaliaram


adequadamente as exigências da tecnologia adquirida em face da
cultura e das condições particulares da empresa.

Motivo 3: dada a aquisição da tecnologia, se ela não for


disseminada adequadamente, depois de amplo programa de
treinamento dos seus usuários para obtenção dos resultados
esperados.

Motivo 4: dada a aquisição da tecnologia, o estudo prévio não levou


em conta nível de conhecimento ou de instrução do pessoal da
empresa previsto para utilizá-la; pode haver descompasso entre o
que a tecnologia exige e o que a empresa dispõe para utilizá-la.

Motivo 5: a tecnologia adquirida pode ser inovadora, mas não foi


ainda testada suficientemente, e comprova-se na prática que não é
adequada para a empresa.

Motivo 6: houve investimento apressado na aquisição da tecnologia,


sem que tivesse sido precedido de projeto-piloto para avaliá-la
consistentemente na prática, antes da implantação em todas as
unidades da organização.

Motivo 7: o estudo de custos e benefícios não avaliou


adequadamente o fornecedor (e sua capacidade técnica e de
suporte) e as condições de manutenção necessárias ao
funcionamento da tecnologia no âmbito da organização.

Motivo 8: a aquisição da tecnologia não foi antecedida de contato


com usuários que tenham adquirido antes a tecnologia para ter
ciência da sua utilização e de possíveis problemas de instalação, de
funcionamento, de manutenção e de suporte, de modo a valer-se da
experiência desses usuários quanto a estes pontos antes dos
investimentos serem feitos.

Motivo 9: o estudo de custos e benefícios não avaliou


adequadamente a carga de transações admitida pela tecnologia
para seu funcionamento apropriado ou os tempos de resposta
oferecidos por ela na prática não são aceitáveis para a organização.

Motivo 10: o estudo de custos e benefícios não avaliou


adequadamente a necessidade de ajustes na tecnologia para sua
implantação na organização, ou a exigência de que a empresa
antes se adaptasse às condições impostas pela tecnologia para uso
adequado.

O que pode em uma tese19


Um doutorando elabora uma tese em que propõe uma metodologia
aplicada em dada abordagem de ensino de matemática. A questão
em discussão na defesa era se a tese poderia cingir-se à proposição
de uma metodologia, apesar de ele ter ido muito além da simples
proposta ao analisar a aplicação da sua abordagem e mostrar sua
pertinência.

Como sugestão final, decidiu-se tãosó retirar a palavra


“metodologia” do título.
19Nota extraída de “Um Pouco da Minha Vida: Novos Casos e Percepções”, livro de
crônicas publicado em 2018.
10.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este livro apresentou elementos que devem ser considerados na
elaboração de textos científicos ou acadêmicos, em especial artigos,
dissertações e teses. Não há pretensão de esgotar o assunto, mas
tão-somente de oferecer orientações gerais para quem vai
empreender tais tarefas.

A redação científica pressupõe clareza, objetividade, concisão,


precisão; há algo a comunicar e isto deve ser feito de forma
imparcial, sem ambiguidade, sem prolixidade, de forma que suas
partes sejam consistentes, coerentes. Argumentamos por que não é
recomendável, por exemplo, que haja a utilização de construções
estilísticas usuais no texto literário – figuras de linguagem,
adjetivação excessiva, sentido denotativo das palavras, frases
longas, ordem indireta das frases – visto que é primordial a
precisão.

Outro procedimento que é preciso referir aqui neste fechamento diz


respeito à revisão do texto científico antes da submissão à
organização do evento ou ao periódico (artigo) ou ao orientador
(dissertação ou tese). É conveniente que seja feita por colega que
atue na área em questão: lacunas existentes, erros cometidos na
redação, possíveis redundâncias ou inconsistências podem ser
sanadas a tempo.

LEITURA E REFLEXÃO 18
Deming define gerência
Uma forma de definir a gerência com “nãos”:

“Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se


define, não se define o que não se entende, não há sucesso no que
não se gerencia” (William Edwards Deming, estatístico americano,
professor, 1900-1993).
Lidando com carência e/ou insuficiência de recursos Uma
questão frequente que o gestor enfrenta é a insuficiência de

recursos para dar conta de tudo o que a organização precisa. Que


fazer para lidar com esta questão? Uma avaliação que pode ser
feita de início é quanto aos custos da organização, tentando diminuí-
los, de modo a poder dispor de mais recursos para investimento.
Ações como eliminação de desperdícios, renegociação de contratos
existentes, renegociação com fornecedores. Provavelmente, isto
não será suficiente para garantir o início de todos os projetos de
interesse da empresa.

Consideradas todas as ações referentes à correta aplicação dos


recursos disponíveis, segundo as prioridades estabelecidas pela
organização com base em plano elaborado e aprovado pela
comissão de representantes das unidades, a gerência de tecnologia
deve atuar para conseguir recursos adicionais, seja recorrendo a
fontes não exploradas (por exemplo, com a submissão de projetos
específicos para essas fontes de financiamento), seja com a criação
de tecnologia ou a oferta de serviço (consultoria, treinamento, etc.)
ao alcance da área de tecnologia que possibilitem entrada de
recursos complementares ao orçamento da unidade. A criatividade
do gestor é exigida em máxima medida na busca de alternativas,
para garantir recursos adicionais ao orçamento. Pois, só não cabe
ficar acomodado a ele.

Desta forma, a eliminação ou a atenuação da carência de recursos


poderia ser atendida com base em iniciativas como as
mencionadas, ou outras que venham a ser identificadas.

Balizamento ético

Às vezes, ficamos em dúvida se tal ou qual comportamento é ou


não ético, se tal ou qual posição que precisamos tomar é ou não
ética.

Masiero (2000), professor titular do ICMC-USP (São Carlos),


apresenta quatro testes para saber se dado comportamento deve
ser adotado ou não.

O teste da família: você contaria para sua família que fez tal coisa?
O teste da empatia: como lhe pareceria se você se colocasse na
posição da pessoa atingida pela ação?
O teste do sentimento: como você se sente agindo desta forma?
Intranquilo? Causa-lhe incômodo?
O teste do repórter investigativo: que lhe parece se sua ação fosse
veiculada em noticiário na televisão?

Se a intuição nos diz que alguma ação não é ética, ou não é


moralmente correta, é melhor fazer antes os testes para seguir com
a consciência tranquila.
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VEJA. Vida Digital– Ciência: Retrospectiva 2016. São Paulo: Abril,
ed. 2510, 28/12/2016.
ANEXO A– MODELO DE
PROJETO DE MONOGRAFIA,
DISSERTAÇÃO OU TESE20
1) Identificação do aluno (matrícula e nome)
2) Título da Monografia/Dissertação/Tese
3) Tema (Ex.: Engenharia de Software)
4) Delimitação do tema (Ex.: Metodologias Ágeis)
5) Motivação (apresentar a motivação inicial para o trabalho)

6) Justificativa (apresentar justificativas da pertinência,


exequbilidade e oportunidade do trabalho)
7) Objetivos (objetivo geral e objetivos específicos; os objetivos
específicos levam ao objetivo geral do trabalho)
8) Procedimentos metodológicos (métodos que serão aplicados para
elaboração do trabalho)
9) Etapas/cronograma (Por ex.:)
20 Modelo proposto por Arnaldo Prado Júnior, ex-professor da Faculdade de
Computação/ICEN/UFPA.
Etapas 1º. 2º. 3º. 4º. 5º. 6º. ... mês mêsmês Mêsmês mês
1. Elaboração do projeX to
2. Pesquisa bibliográfiX X X X ca
3. Desenvolvimento X X
3.1 Etapa 1
3.2 Etapa 2
... ...
n-1. Redação da MonoX X grafia
n. Defesa da MonograX fia
10) Recursos (humanos, materiais)

11) Bibliografia (listar a bibliografia de partida para elaboração do


trabalho; depois outras referências podem ser acrescentadas).
12) Data e assinatura do discente e do orientador.
Comentários: 1) Metodologia: conjunto de métodos ou caminhos
que são percorridos na busca do conhecimento;

2) Objetivo geral: define o propósito do estudo – é a “espinha


dorsal” do trabalho; deve-se usar verbo no infinitivo que indique uma
ação intelectual (mapear, descrever, conhecer, explicar, relacionar,
analisar, inferir, interpretar, concluir, resumir, identificar, etc.);

3) Objetivos específicos: qualificam, quantificam, operacionalizam,


especificam o modo como se pretende atingir os objetivos gerais.
Objetivo geral => vários objetivos específicos.

4) Justificativa/relevância do estudo: é o convencimento de que o


trabalho é fundamental de ser efetivado para a sociedade ou para
alguns indivíduos;

5) Justificar é apresentar razões para a própria proposta do estudo


(importância, oportunidade e viabilidade).
RELAÇÃO DE OBRAS DO AUTOR
LANÇADOS EM 2019
01) 2019: “Em Busca da Excelência como Professor”. O livro
apresenta visão panorâmica sobre o trabalho docente, descrevendo
seus métodos e técnicas. São descritos vinte métodos ou técnicas
de ensino que o professor pode considerar para utilização. A obra
finaliza com a listagem de 22 posturas, muitas das quais certamente
já são utilizadas pelo professor em sua prática didática; quanto às
demais, o docente pode avaliar a pertinência de adotar quando
julgar que seja o caso. A busca da excelência como professor é alvo
a perseguir ao longo de toda a carreira. O livro destina-se a
professores de ensino de graduação ou de pós-graduação sem
formação pedagógica, interessados em avaliar práticas de ensino
com o objetivo de aperfeiçoar seu trabalho;

02 ) 2019: “Elementos de Didática do Direito”; ISBN: 978-65-80325-


06-1; o livro apresenta elementos de Didática voltados para o
desenvolvimento de habilidades e de competências exigidas nas
profissões da área do Direito; além da aula expositiva, descreve
dezesseis outros métodos ou técnicas de ensino que o professor de
disciplina de curso de graduação em Direito pode utilizar;

03 ) 2019: “Elementos de Didática de Arquitetura e Urbanismo”; ”;


65-80325-07-8; o livro apresenta elementos de Didática voltados
para o desenvolvimento de habilidades e de competências exigidas
na profissão de arquiteto; além da aula expositiva, descreve
dezenove outros métodos ou técnicas de ensino que o professor de
disciplina de curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo pode
utilizar;

04 ) 2019: “Elementos de Didática da Administração”; ”; 00-9; o livro


apresenta elementos de Didática voltados para o desenvolvimento
de habilidades e de competências exigidas nas profissões da área
de Administração (e Administração Pública); além da aula
expositiva, descreve dezessete outros métodos ou técnicas de
ensino que o professor de disciplina de curso de graduação em
Administração (e Administração Pública) pode utilizar;

05 ) 2019: “Elementos de Didática das Ciências Contábeis”; ”;


80325-01-6; o livro apresenta elementos de Didática voltados para o
desenvolvimento de habilidades e de competências exigidas nas
profissões da área das Ciências Contábeis; além da aula expositiva,
descreve dezessete outros métodos ou técnicas de ensino que o
professor de disciplina de curso de graduação em Ciências
Contábeis pode utilizar;

06 ) 2019: “Elementos de Didática da Psicologia”;”; 4; o livro


apresenta elementos de Didática voltados para o desenvolvimento
de habilidades e de competências exigidas nas profissões da área
da Psicologia; além da aula expositiva, descreve dezessete outros
métodos ou técnicas de ensino que o professor de disciplina de
curso de graduação em Psicologia pode utilizar;

07) 20 19: “Elementos de Didática da Pedagogia”; ”; 7; o livro


apresenta elementos de Didática voltados para o desenvolvimento
de habilidades e de competências exigidas nas profissões da área
de Pedagogia; além da aula expositiva, descreve dezessete outros
métodos ou técnicas de ensino que o professor de disciplina de
curso de graduação em Psicologia pode utilizar;

08 ) 2019: “Elementos de Didática da Enfermagem”;”; 02-3; o livro


apresenta elementos de Didática voltados para o desenvolvimento
de habilidades e de competências exigidas nas profissões da área
de Enfermagem; além da aula expositiva, descreve dezessete
outros métodos ou técnicas de ensino que o professor de disciplina
de curso de graduação em Enfermagem pode utilizar;

09 ) 2019: “Elementos de Didática da Medicina”; ISBN: 978-65-


80325-03-0; o livro apresenta elementos de Didática voltados para o
desenvolvimento de habilidades e de competências exigidas na
profissão de médico; além da aula expositiva, descreve dezessete
outros métodos ou técnicas de ensino que o professor de disciplina
de curso de graduação em Medicina pode utilizar;

1 0) 2019: “Crônicas da Política Nossa de Cada Dia”; ”; 08-5; o livro


é uma coletânea de crônicas políticas escritas de 2009 até 2019,
extraídas dos livros “Páginas Recolhidas” lançado em 2009, de
“Casos e Percepções de um Professor” de 2016, de “Outros Casos
e Percepções”,“Um Pouco da Minha Vida: Novos Casos e
Percepções” de 2018, e de “Crônicas do Limiar de um Novo Ano” de
2019. As crônicas se encontram em sequência, de modo que é
possível observar o avanço da história relatada;

11 ) 2019: “Crônicas do Limiar de um Novo Ano”; ”; 8; o livro contém


crônicas escritas nos dois últimos meses de 2018 e nos dois
primeiros de 2019;

12 ) 2019: “Saúde e Vida em Crônicas”; ISBN: 978-65-80325-09-2; o


livro é uma coletânea de crônicas a respeito de saúde e de formas e
experiência de vida escritas de 2009 até 2019, extraídas dos livros
“Páginas Recolhidas” lançado em 2009, de “Casos e Percepções de
um Professor” de 2016, de “Outros Casos e Percepções”,“Um
Pouco da Minha Vida: Novos Casos e Percepções” de 2018, e de
“Crônicas do Limiar de um Novo Ano” de 2019.

13) 2019 : “Como Escrever Artigos Científicos, Dissertações e


Teses”, 2ª edição; ISBN. 978-65-80325-11-5; esta edição, ampliada
(são quase 100 páginas a mais que a anterior), mostra como
estruturar artigo acadêmico (seção a seção), dissertação ou tese,
capítulo a capítulo; como evitar plágio; apresenta erros mais comuns
de redação cometidos pelos estudantes;

14) 2019 : “Como Escrever Trabalhos de Conclusão de Curso


(Graduação)”, 2ª edição; ISBN: 978-65-80325-12-2; esta edição,
ampliada (são quase 100 páginas a mais que a anterior), mostra
como estruturar TCC, capítulo a capítulo; como evitar plágio;
apresenta erros mais comuns de redação cometidos pelos
estudantes;
15 ) 2019: “Elementos de Didática das Engenharias” (2ª edição);
ISBN: 978-85-455122-6-4; o livro apresenta elementos de Didática
voltados para o desenvolvimento de habilidades e de competências
exigidas nas profissões da área de Engenharia; além da aula
expositiva, descreve dezenove outros métodos ou técnicas de
ensino que o professor de disciplina de curso de graduação em
Engenharia pode utilizar;

16 ) 2019: “Elementos de Didática da Química”” 455122-7-1; o livro


apresenta elementos de Didática voltados para o desenvolvimento
de habilidades e de competências exigidas nas profissões da área
de Química (bacharel e licenciado); além da aula expositiva,
descreve dezenove outros métodos ou técnicas de ensino que o
professor de Química pode utilizar;

17 ) 2019: “Elementos de Didática da Matemática”” 85-455122-3-3;


o livro apresenta elementos de Didática voltados para o
desenvolvimento de habilidades e de competências exigidas nas
profissões da área de Matemática (bacharel e licenciado); além da
aula expositiva, descreve vinte e um outros métodos ou técnicas de
ensino que o professor de Matemática pode utilizar;

18 ) 2019: “Elementos de Didática da Física”” 455122-4-0; o livro


apresenta elementos de Didática voltados para o desenvolvimento
de habilidades e de competências exigidas nas profissões da área
de Física (bacharel e licenciado); além da aula expositiva, descreve
dezenove outros métodos ou técnicas de ensino que o professor de
Física pode utilizar;

19 ) 2019: “Elementos de Didática das Ciências Naturais” (2ª


edição); ISBN: 978-85-455122-5-7; o livro apresenta elementos de
Didática voltados para o desenvolvimento de habilidades e de
competências exigidas na Licenciatura de Ciências Naturais; além
da aula expositiva, descreve dezenove outros métodos ou técnicas
de ensino que o professor de matemática pode utilizar;

20 ) 2019: “Elementos de Didática da Computação” (2ª edição); ” (2ª


edição); 85-913473-8-4; o livro apresenta elementos de Didática
voltados para o desenvolvimento de habilidades e de competências
exigidas nas profissões da área de computação; além da aula
expositiva, descreve dezenove outros métodos ou técnicas de
ensino que o professor de computação pode utilizar;
LANÇADOS EM 2018
21 ) 2018: “Para Quem Gosta de Gerenciar”; ISBN: 978-85-455122-
8-8; o livro contém notas curtas que abordam tópicos de gerência
(Habilidades do administrador, Força do capitalismo, Maquiavel e a
mudança, Exemplos de persistência, Segredo da mestria, Quando
Direito é prioridade, As fases de um projeto, A lei de Parkinson,
Princípio de Pareto, Preço do pioneirismo, Como ficar rico?,
Conceituando visão de futuro e 113 outras notas);

22 ) 2018: “Mais Casos e Percepções de 2018”; ISBN: 978-85-


455122-9-5; o livro é uma continuação do livro “Casos e Percepções
de um Professor” (publicado em 2016); contém crônicas escritas no
segundo semestre de 2018;

23 ) 2018: “Para Ensinar Melhor”; ISBN: 978-85-455122-2-6; o livro


contém notas curtas que abordam tópicos de didática, docência
superior, experiência didática;

24 ) 2018: “Outros Casos e Percepções”; ISBN: 978-85-455122-0-2;


o livro é uma continuação do livro “Casos e Percepções de um
Professor”, publicado em 2016; contém crônicas escritas em 2017;

25 ) 2018: “Um Pouco da Minha Vida: Novos Casos e Percepções”;


ISBN: 978-85-455122-1-9; o livro é uma continuação do livro “Casos
e Percepções de um Professor”, publicado em 2016; contém
crônicas escritas em 2018;

26 ) 2018: “Empreender é a Questão”; ISBN: 978-85-913473-9-1; o


livro apresenta elementos para o empreendedorismo, abordando os
principais conceitos de interesse de quem pretende empreender.
LIVROS LANÇADOS ENTRE 2017 E
2009:
27 ) 2017: “Como Escrever Artigos Científicos, Dissertações e
Teses”; ISBN. 978-85-913473-7-7; o livro mostra como estruturar
artigo acadêmico (seção a seção), dissertação ou tese, capítulo a
capítulo; como evitar plágio; apresenta erros mais comuns de
redação cometidos pelos estudantes;

28 ) 2017: “Como Escrever Trabalhos de Conclusão de Curso


(Graduação)”; ISBN: 978-85-913473-7-7; o livro mostra como
estruturar TCC, capítulo a capítulo; como evitar plágio; apresenta
erros mais comuns de redação cometidos pelos estudantes;

29) 2017: Adilson O. Espírito Santo; Alfredo Braga Furtado; Ednilson


Sergio R. Souza (org.). “Modelagem na Educação Matemática e
Científica: Práticas e Análises”. Belém: Açaí, 2017; ISBN: 978”.
Belém: Açaí, 2017; ISBN: 978 4; contém artigos produzidos pelos
participantes do Grupo de Estudos em Modelagem Matemática
(GEMM do PPGECM do IEMCI da UFPA) em 2016;

30 ) 2016: “Tópicos de Modelagem Matemática” (com Manoel J. S.


Neto); ISBN: 978-85-913473-4-6; contém tópicos constantes das
teses dos autores;

31 ) 2016: “Casos e Percepções de um Professor” (livro de crônicas;


contém casos engraçados ou que levam a aprendizagem para a
vida; contém percepções do autor); ISBN: 978-85-913473-5-3;

32 ) 2015: “Questões de Concursos Públicos para Analistas de


Sistemas”; ISBN: 978-85-913473-2-2; preparatório para concurso
público – contém mais de 300 questões de concursos públicos, com
respostas e comentários, sobre os assuntos que constam dos
programas de concursos para analistas de sistemas (assuntos das
questões: engenharia de software, bancos de dados, redes de
computadores, etc.); a maior parte das mais de 300 questões que
constam do livro foi elaborada por mim mesmo para concursos
públicos reais, de cujas bancas elaboradoras participei nos últimos
anos; a propósito, com a publicação do livro, decidi não mais
participar destas bancas; além das questões próprias, incluí também
umas poucas questões do Enade (Exame Nacional de
Desempenho) realizado pelo INEP/MEC e do POSCOMP
(Sociedade Brasileira de Computação);

33) 2015: “A Volta da Tartaruga Sapeca” (livro infantil); ISBN: 978”


(livro infantil); ISBN: 978 913473-3-9;

34 ) 2013: “Curso de Construção de Algoritmos (com Java)” (com


Valmir Vasconcelos); ISBN: 978-85-913473-1-5; todos os algoritmos
construídos ao longo do livro são codificados em Java;

35) 2012: “A Tartaruga Sapeca” (livro infantil): ISBN: 978-85-


913473-0-8;

36 ) 2010: “Prática de Análise e Projeto de Sistemas” (com Júlio


Valente da Costa Júnior); ISBN: 978-85-61586-15-7; apresenta, em
496 páginas, conteúdo básico sobre engenharia de software (com
UML); no fim de cada capítulo, lista de exercícios (incluindo
questões do Enade e do POSCOMP) com respostas.

37 ) 2009: “Páginas Recolhidas: Política, Educação, Administração,


Artigos, Valores, Crônicas e outros temas”; ISBN: 978-85-61586-08-
9; crônicas sobre vários assuntos são reunidas no livro.

38) 1997: “Catálogo do Curso de Bacharelado em Ciência da


Computação”. Furtado, A. B. & Abelém, A. (org.). Belém:
Universitária/UFPA, 1997.

39) 1985: “Programação Estruturada em COBOL”. Rio de Janeiro:


Campus, 1985. ISBN: 85-7001-193-8.
AQUISIÇÃO DE EXEMPLARES DOS
LIVROS ACIMA
Exemplares dos livros – formato e-book e capa comum–, (com
exceção dos livros“Modelagem na Educação Matemática e
Científica: Práticas e Análises”, “Catálogo do Curso de Bacharelado
em Ciência da Computação” e “Programação Estruturada em
COBOL”) podem ser comprados por meio de www.amazon.com.br.

Informações complementares a respeito dos livros podem ser


encontradas em www.abfurtado.com.br.
Contatos com o autor podem ser feitos por meio de abf@ufpa.br e
abf2000@uol.com.br

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