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TENDÊNCIA TEMPORAL DOS DISTÚRBIOS DA NUTRIÇÃO EM ADOLESCENTES DO


MUNICÍPIO DE PITIMBÚ – PARAÍBA: ANÁLISE DO PERÍODO DE 2004 A 2007

LUCIANO MEIRELES DE PONTES1


JOSÉ EDNALDO ALVES DE SENA2
URIVAL MAGNO GOMES FERREIRA2
1
POSCA – Dept. Materno Infantil – Universidade Federal de Pernambuco – Recife – PE –
Brasil;
2
Programa Euro-americano de Pós-graduação Stricto Sensu em Saúde – Medicina do Esporte
– Universidade Católica Nuestra Señora de la Assunción – UC – Paraguai.
mslucianomeireles@gmail.com

RESUMO
O objetivo deste estudo foi analisar a tendência temporal de distúrbios nutricionais em
adolescentes do município de Pitimbú (PB) durante 2004 a 2007. Material e métodos:
Participaram 1093 adolescentes na faixa etária de 10 a 17 anos de ambos os sexos. Os
instrumentos para coleta de dados foram: balança digital Camry e estadiômetro modelo
Personal Sanny para mensurar a massa corporal (MC) e estatura (EST), respectivamente. O
estado nutricional foi equacionado através do Índice de Massa Corporal (IMC) e adotado os
percentis (P) do CDC (2000) e a classificação da OMS (1995): <P5=baixo peso; entre P10 e
P85=eutrofia; e P>85=excesso de peso. A análise dos dados utilizou o SPSS versão 13.0.
Resultados: Durante 2004–2007 não houve mudanças significativas (p>0,05) nas médias da
MC, EST e IMC. Não obstante, do ponto de vista da tendência nutricional, observou-se no
masculino que a MC aumentou entre 2004 e 2007; a EST dos rapazes não foi alterada no
mesmo tempo e o IMC apresentou uma sensível elevação entre 2004 a 2007 em ambos os
sexos ( de 17,8kg/m2 para 18,0 kg/m2; de 18,8kg/m2 para 19,1 kg/m2). No feminino, houve
aumento nas médias da MC de 2006 e 2007; quando analisado a EST observou-se a
manutenção da mesma de 2004 a 2006 com aumento em 2007; o IMC mostrou oscilação com
tendência ao aumento gradual. Quando visto em ambos os sexos e estratificado por faixa etária
foi detectado entre 10 e 14 anos nos meninos valores significativamente inferiores ao feminino
(p<0,05); entre 15 e 17 anos, os rapazes foram estatisticamente mais altos (p=0,01) do que as
moças, sem diferença no IMC (p=0,72). Em relação aos distúrbios nutricionais foram
observadas situações distintas, com uma tendência do masculino para o baixo peso e do
feminino a obesidade. Conclusão: Independente do valor estatístico, os jovens de ambos os
sexos investigados apresentaram uma curva ascendente em seu estado nutricional durante o
período analisado. A ocorrência de agravos nutricionais foi presente nos últimos quatro anos
com destaque para o aumento do excesso de peso na adolescência.
Palavras-chave: Transição Nutricional. Saúde do adolescente. Obesidade.

TEMPORARY TENDENCY OF NUTRITION DISTURBANCES IN ADOLESCENTS IN THE


MUNICIPAL DISTRICT OF PITIMBÚ - PARAÍBA: ANALYSIS PERIOD FROM 2004 TO 2007

ABSTRACT
The objective of this study was to analyze the temporary tendency of nutritional disturbances in
adolescents of municipal district of Pitimbú (PB) during 2004 to 2007. Material and methods:
They announced 1093 adolescents in the age group from 10 to 17 years of both sexes. The
instruments for collection of data were: balances digital Camry and estadiometer model
Personal Sanny to measure the body mass (BM) and stature (STA), respectively. The nutritional
status was set out through the Body Mass Index (BMI) and adopted the percentis (P) of CDC
(2000) and the classification of WHO (1995): <P5=low weight; between P10 and P85=euthrofic;

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and weight P>85=excess. The analysis of the data used SPSS version 13.0. Results: During
2004-2007 there were not significant changes (p>0,05) in the averages of BM, STA and BMI. In
spite of, of the point of view of the nutritional tendency, it was observed in the masculine that
BM increased between 2004 and 2007; was not the boys' STA altered in the same time and
BMI presented a sensitive elevation among 2004 to 2007 in both sexes ( of 17,8kg/m2 for 18,0
kg/m2; of 18,8kg/m2 for 19,1 kg/m2). In the feminine, there was increase in the averages of
BM of 2006 and 2007; when analyzed STA the maintenance of the same from 2004 to 2006
was observed with increase in 2007; IMC showed oscillation with tendency to the gradual
increase. When seen in both sexes and stratified by age group was detected significantly
between 10 and 14 years in boys values lower to feminine (p <0,05); between 15 and 17 years,
the boys were higher estatisticament (p=0,01) than the girls, without difference in IMC (p=0,72).
In relation to the nutritional disturbances different situations were observed, with a tendency of
masculine for the weight lower and of feminine for obesity. Conclusion: Independent of the
statistical value, the youths of both investigated sexes presented an ascending curve in his/her
nutritional status during the analyzed period. The occurrence of nutritional offences was present
the last four years with prominence for the increase of the weight excess in the adolescence.
Key word: Nutrition transition. Teen Health. Obesity.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, transformações demográficas, econômicas, sociais, culturais e


tecnológicas vêm propiciando mudanças significantes no perfil de morbidade das sociedades
modernas. Desta forma, o desenvolvimento econômico na maioria dos países favoreceu a
urbanização das cidades e êxodo rural, determinando modificações substanciais no estilo de
vida, refletindo padrões alimentares discutíveis e modelos de ocupação predominantemente
sedentários favorecedores de balanço energético positivo e, conseqüentemente, a tendência à
diminuição de déficit pôndero-estatural e o desenvolvimento de excesso de peso tanto em
crianças como em pré-adolescentes e adolescentes (SUÑE et al., 2007).
Recentemente, os padrões nutricionais constituem um dos instrumentos mais
amplamente utilizados na assistência à saúde dos jovens, tanto na área clínica, como no
âmbito da saúde pública. Em síntese, a avaliação nutricional envolve comparação de medidas
físicas observadas com valores de referência expressos em tabelas e curvas. Como em outros
países, o Brasil tem apresentado profundas modificações no perfil nutricional de sua
população, fruto de um processo conhecido como transição nutricional ou mudança secular
(POPKIN, 2001).
Para Batista Filho; Rissin (2003), a partir de 1980, começou-se a ter consciência de
que outros problemas nutricionais estavam se expandindo, caracterizados como: sobrepeso e
obesidade. Assim, a monitorização do status nutricional é uma importante ferramenta para se
detectar precocemente alterações por baixo peso ou excesso (obesidade), e implicam em
riscos potenciais de agravos à saúde individualmente e coletivamente. Tanto no Brasil, como
na América Latina, estudos que monitoram as prevalências nutricionais têm merecido especial
atenção por parte de alguns especialistas. Contudo, em se tratando da regionalização da
amostra destes estudos, percebe-se que grande parte dos trabalhos sobre essa temática
(ANJOS et al., 2003), tem privilegiado a população proveniente da região sul e sudeste do país,
ficando as regiões Norte e Nordeste, alheios ao processo de construção de referencias sobre
esta temática.
Nesta perspectiva, o conhecimento da tendência do padrão nutricional durante a fase
da adolescência poderá contribuir para um melhor entendimento destas condições, propiciando
informações para intervenções precoces e promoção da saúde da população jovem. Desta
forma, a partir de tudo o que foi exposto torna-se imprescindível neste contexto, dispor de

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informações básicas sobre a tendência temporal de distúrbios da nutricional em adolescentes
residentes no município de Pitimbú (PB) durante o período de 2004 a 2007.
MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa epidemiológica de base escolar e corte transversal


múltiplo por analisar a tendência temporal dos distúrbios da nutrição em quatro períodos de
tempo distintos e uma abordagem quantitativa sob seleção probabilística. De acordo com
Pereira (2006) este delineamento apresenta o status de exposição pontual do agravo num
determinado período de tempo.

POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população teve base escolar devido à facilidade de se agrupar os jovens e foi


estimada aproximadamente em 2.000 adolescentes. A amostra foi constituída por 1093 sujeitos
entre 10 e 17 anos de ambos os sexos, matriculados na rede de ensino municipal de Pitimbú
durante de 2004 a 2007. A amostragem foi selecionada pelo método probabilístico a partir da
listagem das escolas e de matriculados. Foram utilizados os cálculos para população finita com
p=50% e erros de estimação de 4%, nível de confiança de 95% (RICHARDSON et al.,1999).

INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA PESQUISA

Para a avaliação antropométrica foi utilizado uma balança da marca Camry


(capacidade máxima de 150kg e divisão em 0,1g) para mensurar a massa corporal e um
estadiômetro portátil modelo Sanny (América Medical do Brasil – capacidade máxima de 204cm)
para a estatura. Por meio dessas medidas foi equacionado o Índice de Massa Corporal (IMC). A
classificação do estado nutricional seguiu o CDC (2000) considerando a idade e o sexo. Os
pontos de corte dos percentis (do IMC) seguiram às recomendações da OMS (1995):

Baixo Peso: <P5; Eutrofia: entre o P10 e P85; Excesso de peso: >P85.

PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS

Anualmente, desde 2004 até 2007 foi feito contato com a Secretaria de Educação e
Cultura de Pitimbú, onde foi solicitada a autorização para as avaliações antropométricas, sendo
esta realizada sempre no horário da manhã no momento das aulas de educação física. Todos
os pais/responsáveis foram informados dos procedimentos e objetivos da avaliação para a
pesquisa, também dos possíveis desconfortos, riscos e benefícios, autorizando por escrito
conforme a Resolução nº196/96. As medidas necessárias para a avaliação nutricional foram
realizadas por dois professores especialistas na rotina de avaliação física, e todos os
instrumentos foram previamente calibrados para minimizar os vieses de aferição. A análise dos
dados foi realizada a partir de estatística descritiva. A comparação inferencial entre sexos foi
realizada através do teste t e a análise de variância (ANOVA) com post hoc Sheffé para dados
interperíodos. Os dados foram processados no SPSS versão 13.0; e o nível de significância foi
de p<0,05.

RESULTADOS

Na tabela 1 é visto os valores descritivos de tendência central. As mudanças não


apresentaram significância estatística, no entanto observa-se uma disposição ao aumento
ponderal no estado nutricional dos adolescentes investigados.

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Tabela 1 – Média, desvio padrão (DP), mínimo, máximo e mediana da massa corporal,
estatura e índice de massa corporal (IMC) dos adolescentes de ambos os sexos de
Pitimbú durante o período de 2004 a 2007.
Masculino Feminino
Massa corporal (kg)
Ano n Média±D Mínim Máxim Median n Média±D Mínim Máxim Median
P o o a P o o a
200 10 41,4±10, 23,6 70,2 38,5 11 44,2±8,8 26,6 62,5 43,4
4 8 0 2
200 88 42,3±10, 23,7 64,4 41,7 15 44,1±9,2 26,7 64,9 43,4
5 2 9
200 17 42,7±10, 21,7 68,7 41,0 20 44,4±9,4 23,6 71,0 45,0
6 5 5 6
200 10 42,7±10, 23,6 78,4 40,7 14 45,2±11, 28,1 76,9 44,1
7 4 8 1 1
p 0,739 0,803
Tota 47 42,3±10, 21,7 78,4 40,7 61 44,5±9,6 26,2 68,8 44,1
l 5 4 8
Estatura (m)
Ano n Média±D Mínim Máxim Median n Média±D Mínim Máxim Median
P o o a P o o a
200 10 1,51±0,1 1,27 1,75 1,50 11 1,52±0,0 1,36 1,65 1,54
4 8 0 2 7
200 88 1,52±0,1 1,27 1,76 1,52 15 1,52±0,0 1,26 1,79 1,54
5 1 9 8
200 17 1,52±0,1 1,22 1,83 1,52 20 1,52±0,0 1,26 1,71 1,54
6 5 1 6 9
200 10 1,52±0,1 1,26 1,84 1,50 14 1,53±0,0 1,31 1,73 1,53
7 4 2 1 9
p 0,462** 0,983**
Tota 47 1,52±0,1 1,22 1,84 1,51 61 1,52±0,0 1,29 1,72 1,54
l 5 1 8 8
Índice de Massa Corporal (kg/m2)
Ano n Média±D Mínim Máxim Median n Média±D Mínim Máxim Median
P o o a P o o a
200 10 17,8±2,5 14,2 27,1 17,6 11 18,8±2,8 14,1 28,1 18,4
4 8 2
200 88 17,9±2,3 13,9 24,2 17,6 15 18,9±2,9 13,9 28,6 18,6
5 9
200 17 18,0±2,4 10,2 18,1 17,7 20 18,9±2,8 13,6 28,7 18,8
6 5 6
200 10 18,4±2,9 14,2 28,4 17,8 14 19,1±3,1 13,8 28,1 18,7
7 4 1
p 0,326** 0,900**
Tota 47 18,0±2,6 10,2 28,4 17,6 61 18,9±2,9 13,8 28,4 18,7
l 5 8
* Na análise de variância (ANOVA), se p <0,05 significativo.
** Não foi encontrado significância na antropometria nutricional durante 2004-2007.

Na Tabela 2 observa-se a diminuição do baixo peso e aumento do excesso de peso


em ambos os sexos durante os quatro anos investigados.

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Tabela 2 – Distribuição (%) do estado nutricional dos adolescentes de ambos os sexos (2004 –2007).
Masculino Feminino
Ano (tempo) Baixo Eutrófico Excesso de Baixo Eutrófico Excesso de
peso peso peso peso
% %
2004 11,1 82,4 (n=89) 6,5 (n=7) 10,7 78,6 (n=88) 10,7 (n=12)
(n=12) (n=12)
2005 11,4 83,0 (n=73) 5,7 (n=5) 8,2 (n=13) 78,0 13,8 (n=22)
(n=10) (n=124)
2006 9,7 (n=17) 83,4 6,9 (n=12) 7,3 (15) 77,2 15,5
(n=146) (n=159) (n=32)
2007 7,7 (n=8) 83,7 (n=87) 8,7 (n=9) 6,4 (n=9) 79,4 14,2 (n=20)
(n=112)
*Dif (%) -3,4% + 1,3% + 2,2% - 4,3% + 0,8% + 3,5%
Total 9,9 (n=47) 83,2 6,9 (n=33) 7,9 (n=49) 78,5 13,6 (n=84)
(n=395) (n=485)
*Diferença entre a prevalência final – inicial.

Nas Figuras 1 e 2 observa-se em ambos os sexos a transição nutricional durante


2004-2007.

TRANSIÇÃO NUTRICIONAL EM ADOLESCENTES


DO SEXO MASCULINO

11,1 11,4

9,7
Status nutricional

8,7
7,7
6,9
6,5 Baixo peso
5,7 Excesso de peso

2004 2005 2006 2007

Figura 1 – Transição nutricional nos adolescentes do sexo masculino.

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TRANSIÇÃO NUTRICIONAL EM ADOLESCENTES


DO SEXO FEMININO

15,5
13,8 14,2

Status nutricional
10,7
Baixo peso
8,2
7,3 Excesso de peso
6,4

2004 2005 2006 2007

Figura 2 – Transição nutricional nos adolescentes do sexo feminino.

Na Tabela 3 os dados estão estratificados por sexo e idade. Nota-se que entre 10 e
14 anos há diferenças significantes entre os sexos na antropometria. Entre 15 e 17 anos
observou-se que as moças são mais baixas, porém mostram um IMC superior aos seus pares
masculinos.

Tabela 3 – Média, DP e valor p da antropometria em adolescentes de ambos os sexos


estratificado por faixa etária.
Masculino Feminino
Antropometria
2004 – 2007 10 – 14 anos 15 – 17 anos 10 – 14 anos 15 – 17 anos
Média ± DP (valor p entre sexos) Média ± DP (valor p entre sexos)
Massa corporal 39,9±9,2 55,6±7,7 42,9±9,3 52,4±6,9
(kg) (p=0,00*) (p=0,09) (p=0,00*) (p=0,09)
Estatura (m) 1,49±0,10 1,66±0,08 1,51±0,08 1,61±0,07
(p=0,01*) (p=0,01*) (p=0,01*) (p=0,01*)
2
IMC (kg/m ) 17,7±2,5 20,0±1,7 18,6±2,9 20,2±2,6
(p=0,00*) (p=0,72) (p=0,00*) (p=0,72)
% %
Baixo peso 11,8 (n=46) – 9,1 (n=48) 3,7 (n=1)
Eutrofia 81,7 (n=318) 91,2% (n=31) 77,5 (n=410) 88,9(n=4)
Excesso de 6,4 (n=25) 8,8 (n=3) 13,4 (71) 7,4 (n=2)
peso
*p < 0,05 (significativo) – Teste t para grupos independentes.

Conforme a Tabela 4 não foi evidenciada diferença significativa entre os sexos na


presença de baixo peso; condição contrária foi vista no excesso de peso, superior nas
meninas.

Tabela 4 – Comparação entre os sexos da prevalência de baixo peso e excesso de peso


(n=1093).
Prevalência (%)
Sexo Baixo peso x2 (valor p)
Masculino 9,7
Feminino 7,9 1,06 (p=0,302)

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Total 8,7
Excesso de peso (%)
Masculino 6,7
Feminino 14,1 14,92 (p=0,000*)
Total 10,9
*p<0,05;Teste do qui-quadrado (x2).

DISCUSSÃO

O município de Pitimbú está localizado no litoral Sul do estado da Paraíba, a uma


distância linear de 40km da capital João Pessoa e 85km de Recife (PE), sendo a atividade
econômica predominante dos seus moradores a pesca A extensão territorial é de 136 km2 e a
população estimada é de 13.927 habitantes (BELTRÃO et al., 2005). A realização desse
estudo com escolares, permitiu a determinação de um padrão de prevalência de distúrbios
nutricionais e tendência de agravos nesta população local. Considerando que a transição
nutricional vem sendo documentada internacionalmente na literatura epidemiológica
principalmente na América Latina (FRENK; FREJKA; BOBADILLA, 2001) e a tendência na
diminuição da desnutrição e aumento da obesidade vem sendo observada em diversos países
(CALIMAN; FRANCESCHINI; PRIORE, 2006), faz-se oportuno a realização deste trabalho
direcionado para o adolescer de Pitimbú.
O Brasil tem apresentado profundas modificações no perfil nutricional de sua
população, fruto de um processo conhecido como “mudança secular” ou “transição nutricional”.
A respeito da “transição nutricional”, Popkin (2001) utiliza este conceito para caracterizar a
mudança no perfil nutricional das populações na atualidade. Pressupõe a transição dos
indicadores nutricionais como reflexos das transformações vividas pelas sociedades nas
últimas décadas em seu contexto demográfico e epidemiológico como conseqüência do
processo de modernização mundial.
As médias da antropometria incluindo o IMC expostas nos resultados do presente
trabalho, não mostraram significância estatística durante os quatro anos investigados, não
obstante, do ponto de vista da tendência nutricional, observou-se no sexo masculino que a
massa corporal apresentou um aumento entre 2004 e 2007, sendo similar em 2006-2007; a
estatura dos meninos não foi alterada entre o mesmo tempo e o IMC apresentou um perfil
ascendente entre 2004 a 2007. No feminino, houve igualdade nas medianas do peso entre
2004 e 2005, com aumento nas médias de 2006 e 2007; quando analisado o crescimento,
observou-se que a estatura se manteve a mesma de 2004 até 2006, com aumento no ano de
2007; o IMC mostrou oscilação com tendência ao aumento gradual. No tocante aos distúrbios
nutricionais, notou-se situações distintas entre os sexos, com o masculino apresentando maior
prevalência de agravos por baixo peso; e as meninas mais acometidas pela condição de
sobrepeso. Coelho, Sichieri e González (2002) publicaram resultados semelhantes ao obtido
neste trabalho, os autores encontraram para adolescentes do sexo masculino do Rio de
Janeiro maior prevalência de baixo peso em relação ao sobrepeso. Em contrapartida, Vieira et
al. (2002) analisando o perfil nutricional de adolescentes universitários, encontraram para o
sexo masculino 2,5% e 6,3% de baixo peso e sobrepeso, respectivamente. No entanto, quando
levado em consideração a tendência na ocorrência dos distúrbios nutricionais, ambos os sexos
mostraram maior disposição para a diminuição do déficit ponderal e incorporação do excesso
de peso em seu estado nutricional. Sabe-se que uma das possíveis causas do aumento da
obesidade, particularmente, entre os adolescentes consiste na incorporação da prática
alimentar dos lanches rápidos, conhecidos como fast foods, que muitas vezes substituem as
principais refeições (ANDERSEN et al., 1995). Em pesquisa com adolescentes da cidade de
São Paulo, Vitolo et al. (2007), encontraram valores prevalentes de excesso de peso superiores
aos jovens de Pitimbú, este fato possivelmente pode está associado com o melhor padrão
socioeconômico e o padrão alimentar com maior ingestão de lanches rápidos.

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Os achados desse estudo corroboram com os resultados de outras pesquisas como
a de Vasconcelos; Silva (2003), que analisaram adolescentes de 10 estados do nordeste
brasileiro, em termos gerais encontraram uma curva ascensional mostrado que a curva foi
crescente para o sobrepeso e obesidade durante 1985 a 2000. Este comportamento parece ser
um fenômeno visto em toda a América Latina. Albala et al. (2002) em estudo populacional
realizado no Chile analisaram os determinantes e conseqüências nutricionais e também
identificaram a diminuição do baixo peso durante os anos 80, e o aumento da obesidade em
todas as faixas etárias, com prevalência de 17,5% nos maiores de seis anos. Outros
epidemiologistas como Oliveira e Fisberg (2003), enfatizam o crescimento intenso e presente
de excesso de peso na adolescência, e afirmam que esta tendência pode persistir na vida
adulta. Ainda foi documentado no presente estudo transversal, uma diminuição percentual de
3,4% e 4,3% de baixo peso e aumento de 2,2% e 3,5% de excesso de peso em rapazes e
moças, respectivamente. Este perfil fruto da transição nutricional vem sendo relacionado há
alguns fatores como o aumento do fornecimento de energia pela dieta, e redução da atividade
física, o que se pode chamar de estilo de vida ocidental contemporâneo (TARDIDO; FALCÃO,
2006). Quando visto a antropometria nutricional em ambos os sexos e estratificada por faixa
etária foi detectado que os pré-adolescentes (<15 anos) masculinos apresentaram valores
significativamente inferiores ao feminino (p<0,05), condição que provavelmente é explicada
pela maturação puberal das meninas acontecerem primeiro com o aparecimento da menarca
(CASTILHO; BARRAS FILHO, 2000). Entre 15 a 17 anos, os rapazes foram estatisticamente
mais altos (p=0,01) do que as moças, característica atribuída à equivalência no estirão de
crescimento que acontece nesta faixa etária nos meninos (DUARTE, 1993). Entre os pré-
adolescentes o sexo masculino apresentou maior freqüência (11,8%) de baixo peso em relação
às moças e menores percentuais de excesso de peso (6,4%); na faixa entre 15 e 17 anos
observou-se situação inversa, com maior baixo peso no feminino (9,1%) e maior presença de
excesso de peso nos rapazes (8,8%). Na análise dos distúrbios nutricionais em relação ao
sexo, não foi evidenciada diferença significativa entre meninos e meninas no tocante a
presença de baixo peso (p=0,302). Entretanto, quando observado o excesso de peso, notou-se
significância (p=0,000) na superioridade da ocorrência deste agravo nas meninas. Este perfil é
contrário ao publicado por Amaral; Pereira; Escoval (2007) que encontraram prevalência de
excesso de peso superior nos adolescentes do sexo masculino (20,0% vs. 14,4%). Outros
estudos (BEJARANO, 2005; SANIGORSKI et al., 2007) vêm identificando o declínio da
prevalência do baixo peso e o crescimento do excesso de peso na adolescência.

CONCLUSÃO

Independente do valor estatístico, os jovens de ambos os sexos investigados


apresentaram uma curva ascendente em seu estado nutricional durante o período analisado. A
prevalência de agravos nutricionais foi presente nos últimos quatro anos com destaque para o
aumento do excesso de peso na adolescência. Cabe ressaltar que apesar das preocupações
atuais com a obesidade na adolescência, o baixo peso deve ser motivo de preocupação e
também ser evidenciado tanto em pesquisas epidemiológicas quanto na saúde pública. Nesta
perspectiva, o conhecimento da tendência secular do padrão nutricional durante a fase da
adolescência poderá contribuir para um melhor entendimento destas condições, propiciando
informações para intervenções de prevenção e promoção de políticas de saúde minimizando
vários agravos na idade adulta.

REFERÊNCIAS

ALBALA, C. et al. Nutrition transition in Chile: determinants and consequences. Public Health
Nutrition, v.5, (1A), p.123-8, 2002.

ISBN: 85-85253-69-X - Livro de Memórias do IV Congresso Científico Norte-nordeste - CONAFF


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