Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
*Esta conferência contém as ideias fundamentais que desenvolvi em artigo a ser incluído num livro em preparação no Brasil.
1
Professora Titular da Faculdade de Letras Universidade de Lisboa
Não obstante a clara afirmação da separação entre deixou de ser o estudo do comportamento linguístico
língua, raça e cultura, Sapir foi um lingüista “mentalista” ou os produtos desse comportamento para passar a
ser os estados da mente/cérebro que fazem parte de
(por oposição ao mecanicismo reinante na época na
tal comportamento (Chomsky, 1986: 23),
linguística norte-americana) preocupado com a face oculta
da língua, ancorada no subconsciente do homem. Também é compreensível que as características particulares do com-
neste aspecto Sapir difere do relativismo lingüístico portamento de uma sociedade, habitualmente denominadas
whorfiano. A relação que estabelece entre língua e pensa- cultura, tenham sido afastadas dos interesses dos linguistas.
mento funda-se no conceito de que existe um nível abstracto Estamos, portanto, longe de um relativismo psico-
e “profundo” do sistema linguístico subjacente à superfície linguístico – ou seja, o homem é um produto da cultura
apreensível. Este conceito está patente, por exemplo, nas
envolvente, logo, as diferenças culturais espelham-se nas
reflexões sobre os “valores” fonéticos de uma língua:
diferentes línguas que por sua vez denunciam formas dife-
por trás do sistema de sons puramente objectivo, pe- rentes de estar no mundo – e mais longe ainda da perspecti-
culiar a uma língua e a que só se chega por laboriosa va romântica que entendia a língua como um produto da
análise fonética, há um sistema mais restrito, ‘íntimo’ cultura de um povo.
ou ‘ideal’, que, igualmente inconsciente talvez como O espaço de discussão sobre as relações entre língua
sistema aos homens em geral, pode muito mais facil- e identificação cultural tem sido progressivamente preen-
mente ser trazido para o campo da consciência, à ma-
neira de um padrão definido, de um mecanismo psi- chido pelas preocupações dos sócio-linguistas no que res-
cológico (p. 63). peita às questões da variação linguística. A grande impor-
tância atribuída à variação das línguas, em interacção com a
A perspectiva da linguística mentalista inflectiu, nos variação das sociedades, abriu campo para o estudo dos
últimos quarenta anos, para o desenvolvimento da linguística factores intervenientes nessa variação, internos e externos,