Você está na página 1de 2

Faculdade de Arquitectura

Mestrado Integrado em Arquitectura

Dissertação de Mestrado

Proposta de campo temático


Manuel Augusto Soares Mendes, professor auxiliar convidado

1
(d)a invenção (e) da arquitectura
a
Reyner Banham que se revelou polemista nas permutações poéticas entre art brut e cultura pop, escreveu, faz
anos, a home is not a house. Na perspectiva, a casa será provavelmente a geometria de um dispositivo sobre/para um
complexo de geometrias de relações e medidas, de categorias e figuras, de significados e sentidos. Ao contrário da
Farnsworth (1945-50) – casa de todos os habitantes/casa de nenhum habitante, espécie de recinto imóvel a sugerir um
congelamento do quotidiano – as casas dos Schindler-Chase (1921-22), a casa dos Eames (1947) ou a casa dos
Smithson são o problematizar do contentor como (des)locação (des)focagem sobre o banal, sem retórica: de que se faz
uma casa? “A casa/lar não é um espaço físico, mas uma necessidade inconstante/instável; onde quer que se esteja
(onde quer que nos encontremos), a casa/lar está sempre noutro local” (R. Sennett).
b
Enquanto saber ou síntese de saberes que tem por finalidade a "casa do homem", na prática do projecto, o sujeito
investiga-informa-conflitua a partir do real, a partir das condições materiais de produção dos fenómenos: no mundo
empírico circunstante recolhe os materiais a interpretar para a construção da arquitectura, pelo que esta resulta antes de
mais como modificação do contexto ambiental. Processo gerado num diálogo entre sentimento e razão, o acto criativo
interroga e estabiliza, caso a caso, a expressão propositiva do desenho, valorizando a ordem da individualidade do
gesto e, simultaneamente, o conhecimento como inteligência prática do sentido oficinal do projecto que, na distância à
realidade, orienta e provoca o espaço (d)e invenção.
Assim, aceita-se a arquitectura como partilha livre de registos de disciplina, método, vocação: disciplina, como
instrução, argumentação da especificidade das habilidades do exercício do arquitecto, interdisciplinaridade-
segmentação do saber e redisposição das técnicas do território da arquitectura, a individualidade do acto criativo e o
ordenamento do corpo de saber da arquitectura na projectação, na formação, na investigação; método, como recurso,
como relação pela qual a intuição, a razão e a imaginação abrem a componente artística do desenho a uma tolerância
discursiva, numa plataforma de observação, de formação, de conhecimento; vocação para traduzir uma energia, uma
capacidade de reconhecer, esquecer, expor, tematizar a complexidade do desenho como um gesto de cognoscibilidade,
descoberta do interdito pelo culto da aprendizagem da inteligência, projecção do finito ao infinito.
No recurso à prática da arquitectura do século XX, as hipóteses de argumento abrem-se a partir das palavras-
tópico: 1 Arquitectura, autonomia e heteronomia. 2 Arquitectura, convenção e desenho. 3 Arquitectura e técnica. 4
Arquitectura e indeterminação. 5 Arquitectura e conhecimento. 6 Arquitectura e invenção. 7 Arquitectura
performatividade e experiência. 8 Arquitectura e hospitalidade.

2
Arquitectura, projecto e conhecimentos
“Que diferença entre um pilar de pedra de um dólmen e uma coluna de cimento armado. Enquanto naquele tudo é
natureza neste tudo é homem. Enquanto naquele a interferência do homem como ser pensante (e não propriamente
como ser dotado de força motriz) é nula, esta é o resultado de um estudo e de um cálculo que representa um apogeu na
história do homem”. (F. Távora)
“Se a arquitectura é criada pelo homem e tem por fim servi-lo, não pensemos em regras novas de arquitectura,
mas sómente no homem novo. Com efeito se ela é uma projecção do homem, de nada vale pedir novidade ao reflexo
da velhice; e não digo apenas novidade mas qualidade: se o homem actual não a possui certamente que ela estará
também alheada da sua arte. Para quê pois falar tanto em Arquitectura Nova, sem que seja por nós sentida a presença
do Homem Novo? Para quê exigir à sombra a rectidão que não possui a vara que a produz?” (F. Távora)
Considera-se que a construção sobre o passado deve entender-se a partir da contemporaneidade como a
reconstrução de algo que inclusivamente pode não ter existido como tal, da memória apenas desvelada pelos nossos
actos. “O projecto de uma nova arquitectura não só se aproxima fisicamente da já existente relacionando-se visual e
espacialmente com esta, como estabelece uma interpretação exacta do material histórico com o qual se confronta.
Assim, este é objecto de uma leitura que, explícita ou implicitamente, acompanha a nova intervenção no seu
significado global” (F. Sandino). Ao projecto caberá redefinir outra ideia de tempo, porquanto é encruzilhada onde
confluem memória, história e contemporaneidade. “A arquitectura será útil quando arroje sobre o património outras
luzes e outras sombras. Quando abra o jogo de outra representação que vincule de outra forma todas as dimensões da
temporalidade da memória – passado, presente e futuro –, quando permita celebrar uma nova representação do Anjo da
História” (Sola-Morales).
O desenvolvimento das hipóteses de argumento abrem-se, cruzam-se, projectam-se a partir das coordenadas-
tópico:1 Arquitectura. Fernando Távora. 2 Viagem. Le Corbusier, Louis Kahn, Alison Smithson, Aldo Rossi. 3
Projecto. Eames, Friedman, Price. 4 Figuras da ruína. Edíficio, arquivo, museu, écran. 5 Repetição e diferença. Porto e
módulo de contiguidade. 6 Ambiente construído. Habraken. 7 Informação e Indeterminação. Yago Conde.

FAUP, 06 de Novembro e 2008


Manuel Augusto Soares Mendes

Você também pode gostar