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O CUIDAR E EDUCAR: CONCEPÇÕES DE QUEM TRABALHA COM

CRIANÇAS EM UM CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL

TAKEMOTO, Denise Tomiko Arakaki1 - UCDB

LIMA-SANTOS, Carla Graciete2 - UCDB

Grupo de Trabalho - Educação da Infância


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Durante muito tempo o atendimento à criança fora da idade escolar foi pautado no
assistencialismo, instituições foram criadas decorrentes de vários fatores, dentre elas a
Revolução Industrial, quando as mulheres adentraram o mercado de trabalho. Com a
promulgação da Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9394/96), que
reconhece o nível de ensino denominado Educação Infantil, como parte integrante da
educação básica, o atendimento as crianças de 0 a 6 anos passa a ser de caráter educacional.
No entanto, esse nível de ensino, devido a suas raízes históricas é relacionado
equivocadamente, mais como sendo de função assistencialista do que educativa. O binômio
cuidar e educar são ações interligadas nessa fase de ensino e não podem ser dissociadas, pois
são atividades essenciais para o desenvolvimento integral das crianças. Nesse contexto este
trabalho, fruto da inquietação de duas pesquisadoras acerca do cuidar e educar na Educação
Infantil busca desvelar quais as concepções do cuidar e educar dos profissionais que
trabalham diretamente com a Educação Infantil. Esse questionamento é o ponto central a ser
desvelado e discutido na pesquisa realizada com professores e assistentes de um Centro de
Educação Infantil no município de Campo Grande/MS. Essa pesquisa define-se do ponto de
vista metodológico como uma investigação com abordagem qualitativa, com delineamento
descritivo e explicativo. A fim de contextualizar o estudo, no texto buscou-se fazer um resgate
histórico do atendimento assistencialista vinculado a apenas ao cuidar até a conquista de
garantir efetivamente a Educação Infantil, por meio das leis. Os resultados apontam que as
professoras graduadas reconhecem que cuidar e educar são indissociáveis enquanto as
assistentes, com formação de nível médio, em sua maioria, fazem a distinção e apontam em
quais atividades acontece cada uma das ações. O que deixa claro a necessidade de investir na
formação desses profissionais.

Palavras-chave: Assistencialismo. Educação Infantil. Cuidar e Educar.

1
Especialista em Tecnologias em Educação – Pontifícia Universidade Católica/RJ. Mestranda em Educação pela
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail:denise_arakaki@hotmail.com.
2
Especialista em Educação Infantil Psicopedagogia - Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande-
Anhanguera Educacional. Mestranda em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). E-mail:
carlagraciete47@hotmail.com.
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Introdução

Durante muito tempo o atendimento às crianças pequenas foi permeado pela visão
simplista de assistencialismo, isto é, cuidar das crianças para que os pais pudessem trabalhar,
evitando assim que as mesmas ficassem nas ruas. As creches eram locais onde as crianças
estariam seguras, recebendo alimentação, cuidados relativos à higiene e também se
prevenindo contra acidentes. Nestes locais não eram oferecidos nenhuma orientação que
pudessem levá-las a formação intelectual.
Pode-se considerar a educação da criança em instituições de ensino um fato recente,
antes essa educação era de responsabilidade da família e do grupo de pessoas que conviviam
com ela. Com eles, ela aprendia praticamente o que era necessário para lidar na vida adulta,
pois as crianças eram percebidas apenas como um adulto em miniatura.
Com o reconhecimento garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), sancionada em 20 de dezembro de 1996, que assegura a Educação Infantil como
primeira etapa da educação básica, para atender a crianças de 0 a 6 anos, faz-se necessário
investigar quem são os indivíduos desta faixa etária e como proporcionar uma educação de
qualidade para eles, a fim de garantir o desenvolvimento em todos os seus aspectos, de forma
integral e integrada, constituindo-se no alicerce para o pleno desenvolvimento, sendo
imprescindível a indissociabilidade das funções de educar e cuidar. As instituições que
atendem a esse público tem pela frente o desafio de inovar com a finalidade de assegurar os
direitos adquiridos ao longo dos tempos.
Sendo a Educação Infantil um processo que viabiliza não só a cidadania da criança,
mas também oportuniza a sua socialização e a convivência com seus pares, é preciso pensar
nos profissionais que lidam com elas. Será que eles têm acompanhado as transformações
sociais em relação à forma de assistir as crianças da educação infantil?
A partir desse questionamento procuramos desvelar as concepções de profissionais
que atuam na educação infantil acerca do processo de cuidar e educar. Para tanto, convidamos
as profissionais que atuam em um Centro de Educação Infantil (CEINF) no município de
Campo Grande-MS para responderem a um questionário com questões abertas sobre o tema
Cuidar e Educar.
A perspectiva é compreender as concepções dos educadores referentes ao cuidar e
educar na Educação Infantil na tentativa de contribuir para que eles reflitam sobre suas
práticas ao buscar subsídios para responder aos nossos questionamentos, dessa forma,
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acreditamos que estamos contribuindo de forma indireta com as formações desse profissional,
acerca do tema.

Percurso histórico: do assistencialismo à educação

A educação para as crianças pequenas começou a ser pensada na década de 70, com a
percepção de que o alto índice de evasão e reprovação das crianças da classe baixa, nos
primeiros anos da educação básica era devido ao baixo nível de alfabetização de seus pais,
que não conseguiam auxiliar os filhos nas atividades escolares. Como forma de compensar
essa deficiência, criou-se a Educação Pré-escolar, com o intuito de suprir as carências dessas
crianças no que diz respeito aos conhecimentos prévios necessários para frequentar a
educação básica.
O percurso histórico do atendimento às crianças na fase anterior ao ensino
fundamental pode ser dividido em três etapas, iniciando-se com o atendimento
assistencialista, posteriormente compensatório ou preparatório e hoje o que vigora é a sua
inserção como primeira etapa da educação básica. Os estudos de Kramer (2011) nos
propiciam a conhecer um pouco sobre a história do atendimento à criança brasileira,
retratando os acontecimentos entre 1500 a 1980.
A pesquisadora divide a história em duas fases, a primeira entre 1500 a 1930 que trata
dos caminhos trilhados para valorização da infância, da necessidade de atendimento a elas,
bem como, descreve a ênfase dada à assistência médico-sanitária para as crianças de zero a
seis anos. A segunda fase, entre 1930 a 1980, expõe os trabalhos de assistência social à
infância, considerando principalmente o “desenvolvimento nacional”.
Durante essas duas fases, destacam-se os períodos que demarcam a história que valem
a pena serem citados. O período de 1500 a 1874 é marcado pela pouca preocupação com a
criança e seu atendimento. Revelando que até 1874 a casa dos Expostos ou RODA era a única
instituição existente e tinha como finalidade cuidar das crianças abandonadas.
Entre 1874 a 1899, pode ser caracterizado pelo atendimento de caráter médicos-
higienistas devido à preocupação com a alta mortalidade infantil, surgem às creches com a
finalidade principal de proporcionar cuidados de higiene, alimentação e proteção para
crianças oriundas de famílias de baixa renda, portanto de caráter assistencial.
O período entre 1899 a 1930, é apontado como a época em que o atendimento às
crianças começa a ganhar destaques, devido ao surgimento de instituições particulares
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denominadas jardins de infância para atender as classes mais altas e também de


implementação de ações que demonstram maior atuação da administração pública voltada
para a criança. Nesse período foi fundado o Instituto de Proteção e Assistência à Criança do
Brasil, sendo um dos seus objetivos, criar creches e jardins de infância.
Após esse período vem a segunda guerra mundial que de certa forma também
influenciou no atendimento à Educação Infantil. De acordo com Kramer (2011, p. 27):

a segunda guerra mundial provocou um novo impulso ao atendimento pré-escolar,


voltando-se principalmente para aquelas crianças cujas mães trabalhavam em
indústrias bélicas ou naquelas em que substituíam o trabalho masculino [...]. Por um
lado, foi introduzido o conceito de assistência social para as crianças pequenas,
sendo ressaltada a sua importância para a comunidade na medida em que liberava a
mulher para o trabalho.

Historicamente a creche se vincula à história da mulher ao mundo do trabalho,


caracterizando-se por muito tempo, como instituição substituta do lar materno. Esse percurso
histórico das creches revela uma dinâmica de altos e baixos: ora de ampliação, ora de
retraimento, em geral com recursos insuficientes, como atendimento paliativo que contou com
grande expansão nos anos 1980 pela força de movimentos sociais de luta por creches,
destacando os movimentos de bairros, sindical e feminista.
Enfim, após anos de luta as conquistas começam a surgir. No Brasil, o direito à
educação para as crianças de zero a seis anos foi reconhecida no final dos anos de 1980, com
a promulgação da Constituição Federal que designou ao Estado o dever de oferecer a
Educação Infantil em creches e pré-escolas às crianças até 6 (seis) anos de idade (art. 208/IV).
Essa idade foi alterada para até 5 (cinco) anos pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006.
Oliveira (2008, p. 115) ressalta que:

lutas pela democratização da escola pública, somadas a pressões de movimentos


feministas e de movimentos sociais de lutas por creches, possibilitaram a conquista,
na Constituição de 1988, do reconhecimento da educação em creches e pré-escolas
como um direito da criança e um dever do Estado a ser cumprido nos sistemas de
ensino.

Logo após a promulgação da Constituição Federal, é lançado o Estatuto da Criança e


do Adolescente - ECA de 1990, que em seu artigo 53, reforça os direitos da criança em
relação à Educação. Mais tarde, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB de
1996 (Lei n° 9394/96) estabeleceu para o município a responsabilidade constitucional e legal
em relação à Educação Infantil. É a primeira vez que a expressão “Educação Infantil” aparece
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na LDB, sendo definida como a primeira etapa da educação básica, tendo como finalidade o
desenvolvimento integral da criança até 5 (cinco) anos de idade, dividindo a oferta dessa etapa
em creches para crianças de até 3 (três) anos de idade e em pré-escolas para as crianças de 4
(quatro) a 5 (cinco) anos, conforme alteração pela Lei nº 12.796, de 2013. Ressalta-se que a
distinção entre creches e pré-escolas se refere apenas pelo critério de faixa etária, sendo
ambas vinculadas a instituições de Educação Infantil.
Em atendimento à Lei, as creches passaram a integrar-se ao Sistema Municipal de
Educação, deixando assim de ser um espaço de “guarda”, de caráter assistencial para
caracterizar-se como agência de educação.
Neste sentido, as instituições de Educação Infantil (creches e pré-escolas) se veem
frente ao desafio de integrarem as funções de educar e cuidar, comprometidas com o
desenvolvimento integral da criança nos aspectos físico, intelectual, afetivo e social,
compreendendo a criança como um ser total, completo, que aprende a ser e conviver consigo
mesma, com o seu semelhante, com o ambiente que a cerca de maneira articulada e gradual.

Cuidar e educar na Educação Infantil

Ao propor a Educação Infantil como primeira etapa da educação básica com a


finalidade de desenvolvimento integral da criança até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físicos,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e comunidade, a LDB
induz a pensar para esse nível de ensino que o cuidar e educar devem ser ações interligadas.
Segundo Bujes (2001, p. 16):

a educação da criança pequena envolve simultaneamente dois processos


complementares e indissociáveis: educar e cuidar. As crianças desta faixa etária,
como sabemos, têm necessidades de atenção, carinho, segurança, sem as quais elas
dificilmente poderiam sobreviver. Simultaneamente, nesta etapa, as crianças tomam
contato com o mundo que as cerca, através das experiências diretas com as pessoas e
as coisas deste mundo e com as formas de expressão que nele ocorrem. Esta
inserção das crianças no mundo não seria possível sem que atividades voltadas
simultaneamente para cuidar e educar estivessem presentes. O que se tem verificado,
na prática, é que tanto os cuidados como a educação têm sido entendidos de forma
muito estreita.

Nesse contexto, novos desafios têm se colocado aos profissionais que lidam com essa
etapa de ensino, cujas funções principais devem ser permeadas pelo cuidar e educar. No
entanto, para que isso aconteça a prática pedagógica deve ser entendida como ações e
reflexões sobre essas ações, por meio de diálogos, trocas de experiências, avanço, retrocesso,
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construção e reconstrução. Rosemberg (2010, p. 173) ressalta que, “acolher crianças tão
pequenas, especialmente bebês e assumir a integração entre educar e cuidar, é uma
experiência nova para o sistema educacional brasileiro”. Assim, os profissionais desse nível
de ensino devem conciliar a teoria às experiências das práticas cotidianas com vistas a
descobrir caminhos que levem efetivamente a educação infantil a cumprir sua função na
sociedade.
Em vigor a partir de 1998, o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil
(RCNEI) enfatiza a necessidade da integração entre educar e cuidar como função da Educação
Infantil associados a padrões de qualidade e propõe uma educação na qual aprendizagem e
desenvolvimento são processos interligados e dependentes.

Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e


aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o
desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com
os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas
crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste
processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de
apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais,
estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e
saudáveis [...]. Contemplar o cuidado na esfera da instituição da educação infantil
significa compreendê-lo como parte integrante da educação, embora possa exigir
conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica.
(BRASIL, 1998, p. 23-24).

Apesar de trazer os conceitos de forma separada, eles são apresentados de forma que
um está relacionado com o outro, reafirmando assim sua indissociabilidade.
É compreensível que as ações de educar e cuidar, vistas como unidades estruturantes
da prática pedagógica na Educação Infantil ainda sejam vistas de forma dicotomizadas e com
concepções reducionistas, pois essas práticas demandam da integração de vários campos de
conhecimentos e profissionais preparados para criarem espaços e momentos de aprendizagem.
Isso nos leva a refletir sobre a identidade desse nível de ensino. Nesse viés de pensamento,
Bujes (2001, p. 17) considera que

a educação infantil envolve simultaneamente cuidar e educar, vamos perceber que


esta forma de concebê-la vai ter consequências profundas na organização das
experiências que ocorrem nas creches e pré-escolas, dando a elas características que
vão marcar sua identidade como instituição diferente da família, mas também da
escola.

Portanto, é preciso que investimentos sejam realizados para que as instituições e


principalmente os profissionais responsáveis pelas crianças percebam que as atividades de
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cuidar podem e devem ser permeadas por momentos de situações educativas. Nessa
perspectiva, Didonet (2003, p. 9) contribui pontuando que:

[...] o ato de dar banho, trocar a fralda, vestir e pentear o cabelo são gestos de
comunicação humana entre o adulto e o bebê nos quais há uma troca profunda de
sentimentos e, portanto, de organização mental, de estruturação interior, de
formação da autoimagem, do desenvolvimento do ‘eu’ da criança: o modo como se
encara as manifestações de birra, de desagrado, de curiosidade das crianças, como se
busca a superação de comportamentos de ‘agressão’ e como se promove a interação
social determina o tipo de educação que se está dando a elas: a fala do adulto inicia a
criança na linguagem, pois vai dizendo o que ela faz, o que as outras estão fazendo,
o que sentem e, assim, vai mediando os atos por meio da linguagem. Não há um
conteúdo educativo na creche desvinculado dos gestos de cuidar. Não há um ensino,
seja um conhecimento ou um hábito, que utilize uma via diferente da atenção
afetuosa, alegre, disponível e promotora da progressiva autonomia da criança.

As considerações apontadas no trecho acima citado nos leva a concluir que a


possibilidade de integração entre o cuidar e educar encontra-se em várias situações vividas
diariamente e aproveitá-las para o desenvolvimento da criança cabe a todos quem convivem
com elas.

Metodologia e lócus da pesquisa

A pesquisa define-se do ponto de vista metodológico como uma investigação com


abordagem qualitativa, de caráter descritivo e explicativo. Foi realizada em um Centro de
Educação Infantil (CEINF) do município Grande–MS, localizado na região Noroeste da
cidade. O referido CEINF atende a 145 (cento e quarenta e cinco) crianças, de quatro meses a
quatro anos de idade, distribuídos em turmas de acordo com a faixa etária, conforme mostra o
Quadro 1.

Quadro 1 - Distribuição de crianças por turma no CEINF.


Turma Idade
Berçário 1 A 4 meses a 18 meses
Berçário 2 A/B 18 meses a 2 anos
Creche 1 A/B/C 2 a 3 anos
Creche 2 A/B/C 3 a 4 anos
Fonte: Organizado pelas autoras, com base nas informações obtidas no CEINF.

O horário de funcionamento é das 6h30min às 17h30min, de segunda a sexta feira e


conta com 9 (nove) professoras e 16 (dezesseis) assistentes.
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Para atender ao objetivo da pesquisa aplicamos um questionário com questões abertas


para as professoras e as assistentes (também denominadas de recreadoras) que trabalham com
as crianças, a fim de identificar suas concepções acerca do cuidar e educar nas suas práticas
diárias.
Das 9 (nove) professoras, 4 (quatro) responderam e das 19 (dezenove) assistentes,
apenas 5 (cinco) nos deram o retorno. Acreditamos que houve por parte das profissionais que
não responderam certo receio quanto à exposição de seus conhecimentos sobre o assunto.
É relevante pontuar que em relação a formação dessas profissionais que atuam neste
CEINF, 9 (nove) professoras são pedagogas, e que entre as assistentes, 1 (uma) é pedagoga, 9
(nove) cursam Pedagogia, 7 (sete) possuem o Normal médio e 2 (duas) possuem apenas o
ensino médio. Das assistentes que responderam ao questionário, apenas 1 (uma) possui
graduação em pedagogia. As idades das professoras e assistentes estão na faixa de 25 a 45
anos.
Outro fato a ser destacado é de que em alguns momentos as crianças são atendidas
somente pelas assistentes, pois as professoras têm horários destinados ao planejamento.

Análise dos resultados

Compreender como o binômio cuidar e educar são trabalhados ainda é uma das
preocupações constantes da Educação Infantil, pois a prática requer conhecimentos que
muitas vezes o profissional que atua nesse nível de ensino desconhece. Situação essa
decorrente não só do fato de que em muitas instituições esse profissional nem sempre é
formado na área ou até mesmo não possui graduação, mas também pela visão reducionista de
alguns em pensar que o cuidar se restringe a família e o educar a escola.
Nesse contexto e na perspectiva de contribuir para que os participantes da pesquisa
reflitam sobre suas concepções e, consequentemente sobre suas práticas foi aplicado um
questionário, contendo perguntas acerca do fazer dos profissionais da educação infantil.
Dentre os questionamentos dois abordavam diretamente o tema cuidar e educar, foco de nossa
investigação neste trabalho. São eles: Qual a sua concepção sobre o cuidar e o educar na
Educação infantil? Na sua prática no CEINF, você consegue distinguir quando está cuidando
e quando está ensinando a criança?
Nos Quadros 2 e 3 apresentamos as respostas fornecidas pelas professoras, as quais
denominaremos para preservar suas identidades, de P1, P2, P3 e P4 e pelas assistentes
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denominadas de A1, A2, A3, A4 e A5. É relevante pontuar que as respostas das participantes
foram transcritas na íntegra.

Quadro 2 - Transcrição das respostas das professoras e assistentes para a questão: Qual a sua concepção sobre o
cuidar e o educar na Educação infantil?
P1 – Para mim educar e cuidar caminham juntas na EI, Para isso é muito importante que a professora junto
com as recreadoras entendam as necessidades da criança tanto física, como psicológica e social e juntas façam
a interferência necessária.
P2 – Cuidar e Educar é impregnar a ação pedagógica de consciência, estabelecendo uma visão integrada do
desenvolvimento da criança com base em concepções que respeitem a diversidade, o momento e a realidade
peculiares a infância. Cuidar e educar implica reconhecer que o desenvolvimento, a construção dos saberes, a
constituição do ser não ocorre em momentos e maneira compartimentada.
P3- Na EI a ação de educar e de cuidar é desenvolvida simultaneamente, visto que a construção do ensino
dentro da educação é ampla, onde os momentos de cuidados proporcionam oportunidades de educar
atendendo as necessidades e interesses das crianças.
P4– Educar é cuidar, é mais, educar no sentido mais amplo pedagógico, moral e os ensinamentos da vida.
Educar é transmitir conhecimentos e todo principio para que a criança se torne um cidadão completo. Por
isso, a escola a família, a sociedade, todos juntos somos responsáveis para cuidar educar as crianças.
A1 - Querendo ou não, nós educamos com nossa maneira de ser, pensar, falar, agir e com certeza com as
atividades pedagógicas, que os fazem crescer no campo da formação e informação. E o cuidar é necessário e
faz parte nesse processo, mas sozinho se torna algo somente físico.
A2- Educar –Envolve um todo amplo, ensinar, disciplina, boas maneiras, comportamento, gentilezas,... cuidar
– Proteção, alimentação, hora de remédio, disputa de brinquedo, hora do banho, carinho.
A3 – O Educar e o cuidar são interligados.
A4- Educar: Através de atividades pedagógicas, ludicamente falando, interagindo diariamente,
proporcionando aprendizado de forma coorporativa. Cuidar- Cuidados pessoais, higienização e alimentação.
A5- Educar é interagir diariamente com as crianças proporcionando um aprendizado global, com atividades
pedagógicas. Cuidar é fazer a higienização, alimentação e proporcionar amor e muito carinho.
Fonte: Organizado pelas autoras, com base no questionário aplicado.

A primeira questão teve a intenção de levantar qual a concepção das professoras e das
assistentes do CEINF, em relação ao cuidar e educar na Educação Infantil. Ao analisar as
respostas percebemos que as professoras concebem o cuidar e o educar como ações
complementares, que devem caminhar juntas, devem acontecer de forma simultânea. Já para
as assistentes, apenas 1 (uma) responde de forma sucinta que estas ações estão interligadas,
nas respostas das outras 4 (quatro), percebe-se a concepção de que as ações podem ser
separadas, pois nas respostas elas iniciam “educar é...”, “educar: ..:”, “cuidar é...” ou “educar:
...”.
Essa diferente forma de pensar pode ser justificado pelo fato do nível de ensino das
profissionais serem diferentes e o seu vínculo de trabalho exigir tipos específicos de atuação
junto às crianças.
Segundo Rossetti-Ferreira (2003), “as educadoras infantis não admitem o cuidado por
considerá-lo uma ação desvalorizada, relacionando-o basicamente a higiene e a alimentação,
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mas felizmente não é isso que evidenciamos nas respostas, principalmente das profissionais
graduadas”.
Nesse sentido, no CEINF onde se realizou a pesquisa, as professoras concebem assim
como Assis (2008, p. 98) que “[...] o cuidado é, portanto, considerado tão importante quanto à
educação, pois a professora que cuida, educa, e a que educa cuida, ambas são inerentes à
profissão docente na Educação Infantil”.
Na segunda questão, cujas respostas encontram-se no Quadro 2 (dois), sobre a
percepção da distinção do cuidar e educar nas ações práticas das professoras e das assistentes
detectamos que as professoras realmente não dissociam o cuidar do educar, mas as assistentes
concebem que há a distinção entre as ações, induzindo-nos a pensar que em suas práticas há
os momentos de cuidar e os de educar.

Quadro 3 - Transcrição das respostas das professoras e assistentes para a questão: Na sua prática no CEINF, você
consegue distinguir quando está cuidando e quando está ensinando a criança?
P1 – As duas funções estão permeadas, entrelaçadas, pois no cuidado, toque; tom de voz; devo fazer com
“sentido” fundamentada em uma teoria do desenvolvimento infantil.
P2- Não, o cuidar e o educar “ensinar” andam juntos, não tem como distinguir, pois em todo o momento no
trocar no alimentar, na roda de história , na atividade do dia , estamos cuidando e ensinando.
P3- Sendo professora procuro manter o foco no desenvolvimento geral das crianças, onde busco manter o
cuidado e o ensino sejam desenvolvidos juntamente. Assim em todos os momentos a contribuição do ensino
no cuidado e vice e versa acontecem tranqüilamente.
P4 – As duas coisas, educar e cuidar devem andar juntas. Porque automaticamente esta educando.
Transmitindo valores, conhecimento, assim promovendo o bem estar estamos promovendo seu
desenvolvimento físico, motor, intelectual emocional, moral e social.
A1- Vejo que o cuidar se torna mais visível quando a gente está em uma sala que não é a nossa cotidiana, e na
hora do sono.
A2 - Sim, mesmo que tudo que envolve cuidado também tem como manter o ensinamento, o cuidado está
relacionado com o banho, não se machucarem e no momento de carinho. O ensinamento ocorre com tudo que
envolve durante o dia e com parlendas e brincadeiras dirigidas, músicas....
A3 - Existe um aprendizado por parte das crianças enquanto o educador cuida.
A4 - O cuidado ocorre a todo o momento: no horário da alimentação, das brincadeiras, da higiene e até na
hora do sono. Ensinar: ensinamos ludicamente através das atividades geralmente em grupo, brincando,
pintando, ensinando as cores, números, nomes,...
A5 - Sim. Pois o cuidar ocorre em todos os momentos a partir do momento que os pais nos entregam seus
filhos, cuidamos no banho, sono, alimentação, nas brincadeiras e no ensinar isso fazemos através de
brincadeiras lúdicas, atividades em grupo, como pintar, ensinar as cores, números e através de músicas e
historinhas.
Fonte: Organizado pelas autoras, com base no questionário aplicado.

Segundo Bujes (2001, p. 16), “cuidar tem significado, na maioria das vezes, realizar as
atividades voltadas para os cuidados primários: higiene, sono, alimentação”. Esse significado
foi identificado nas respostas da maioria das assistentes. Esse fato pode ser relacionado à
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forma como é conduzido os trabalhos no CEINF, uma vez que as assistentes são vistas como
auxiliares, ou seja, ajudam nos cuidados das crianças.

Considerações finais

É fato que a Educação Infantil nos últimos anos tem demonstrados avanços
significativos, principalmente no que diz respeito à legislação. Mas infelizmente, as garantias
previstas nas leis nem sempre se apresentam na realidade como deveriam ser. Para Kramer
(2011, p. 109) “existe uma enorme discrepância entre a valorização dada à criança a nível do
discurso, e a situação real da infância brasileira”.
Neste contexto, a luta por melhorias no atendimento às crianças na Educação Infantil
deve continuar de forma que prevaleça a formação de acordo com suas reais necessidades
para o desenvolvimento intelectual e cognitivo, superando assim o caráter assistencialista
enraizado ao longo dos tempos. A fim de trilhar novos caminhos, Angotti (2008, p. 17),
ressalta que:

elementos da história do atendimento à infância precisam e merecem ser conhecidos,


entendidos e analisados, para que se possa elaborar e manter luta pelas condições
educacionais que favoreçam a inserção da criança na sociedade a qual pertence sua
condição de direito em ser pessoa, em ser e viver as perspectivas sociopolítico-
histórico-culturais que sustentam as bases do sujeito, protagonista da história e do
seu próprio desenvolvimento,interlocutora de diálogos abertos com e em um mundo
em permanente e absoluta dinamicidade.

Romper com as práticas do assistencialismo, principalmente nas creches requer


investimento na formação e valorização dos profissionais que lá atuam.
A criança hoje passa grande parte de sua vida, cerca de oito a dez horas em uma
instituição de Educação Infantil, onde professoras, assistentes e crianças constroem vínculos
afetivos e de aprendizagens. O professor tem como papel principal planejar no seu cotidiano
ações pedagógicas voltadas para o desenvolvimento pleno e integral da criança, fazendo desse
trabalho, momentos agradáveis e de proveito, de modo que ao mesmo tempo em que as
crianças são cuidadas, elas também aprendam. Não se pode ignorar que a criança é um ser
social, pensante, que age e interage com a sociedade em que vive e também constrói e
reconstrói conhecimentos.
A busca do conhecimento se faz necessário ao educador infantil, compete a ele
interrogar, investigar, explorar, analisar o que propõe como prática pedagógica em seu
cotidiano nas salas de educação infantil de modo a aprimorar seu fazer pedagógico.
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O desafio é ter atuando na Educação Infantil um professor competente, com saberes


que propiciem a formação integral da criança e não atue como um mero cuidador, que perceba
em suas práticas momentos que contribua com o processo educativo. Se não é possível
investir 100% (cem por cento) em profissionais graduados, é necessário criar políticas de
formação e valorização para os profissionais de nível médio responsáveis pela formação das
crianças pequenas.
Na pesquisa realizada, acerca do binômio cuidar e educar, percebemos que há certo
descompasso no entendimento entre o cuidar e o educar, pelas professoras e assistentes que
atuam com as crianças do CEINF. As professoras tem claro que o cuidar e o educar são
indissociáveis, mas as assistentes ainda concebem que, de certa forma, pode se separar essas
ações. Ao refletir sobre os resultados encontrados sugerimos que os responsáveis pelo
acompanhamento pedagógico das instituições de Educação Infantil, propiciem momentos de
formação conjunta entre professores e assistentes, para que as mesmas possam ter um mesmo
entendimento quanto aos encaminhamentos realizados junto às crianças, a fim de evitar
conflitos no processo educacional.
A perspectiva é que as crianças percebam nas ações desses profissionais um trabalho
integrado falas e atitudes harmônicas para que não se sintam perdidas. Devemos lembrar que
essas crianças estão em processo de construção de conhecimentos e as pessoas que as rodeiam
influencia na sua formação.

REFERÊNCIAS

ANGOTTI, Maristella (Org.). Educação infantil: para que, para quem e por quê? 2. ed.
Campinas: Alínea, 2008.

ASSIS, Muriane Sirlene Silva de. Práticas de cuidado e de educação na instituição de


educação infantil: o olhar das professoras. In: ANGOTTI, Maristela (Org.). Educação
infantil: para que, para quem e por quê? 2. ed. Campinas: Alínea, 2008. p. 87-104.

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Curricular Nacional para Educação Infantil – RCNEI. Brasília, DF: MEC, 1998. v. 1.
Disponível em:
<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/pcns/educacao_infantil/volume1.PDF>. Acesso em:
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BUJES, Maria Isabel Edelweis. Escola infantil: pra que te quero. In: CRAIDY, Carmem
Maria; KAERCHER, Gládis Elise P. da Silva (Orgs.). Educação infantil: pra que te quero?
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24498

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