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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO - PROGRAD


CENTRO DE HUMANIDADES – CH
LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA.
PROF.: ANTÔNIO DE PÁDUA ANTIAGO DE FREITAS

Resenha Globalização: as conseqüências humanas de Zygmunt Bauman.

RAONI LINHARES MACIEL

Fortaleza – CE
2021
Referências

Bauman, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Tradução Marcus


Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999

Referências bibliográficas

ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, Max. Dialética do Esclarecimento. Rio de


Janeiro, Zahar, 1985.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand Brasil, 1989.

_________________. A distinção. São Paulo: EdUSP, 2008.

DUARTE, Rodrigo. Teoria crítica da indústria cultural. Belo Horizonte: Ed. UFMG,
2003.

PESAVENTO, Sandra J; SOUZA, Célia F. de. (orgs) Imagens urbanas: os diversos


olhares na formação do imaginário urbano. Porto Alegre: Editora da
Universidade/UFRGS, 1997.

SOUZA, Jessé. A tolice da inteligência brasileira: ou como o país se deixa manipular


pela elite. Rio de Janeiro, Leya, 2018.

VASCONCELOS, Raquel C.S de; CHAGAS, E.; RECH, Hildermar; JOVINO,


Wildiana K.M. (orgs.) Indivíduo e educação na crise do capitalismo. Fortaleza:
EdUFC, 2012.

Referências audiovisuais

Marcelo Lins. Milênio: A fluidez do mundo líquido do Zygmunt Bauman. Youtube, 18


dez. 2018. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=KkoLYK2QRFc Acesso
em 02 jul. 2021.

Jornal Futura. Olho na escola. Especial Zygmunt Bauman - Canal Futura. Youtube, 25
set. 2015. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=TJG8lPcSUBw&t=3s
Acesso em 02 jul. 2021.

Educação 360. Zygmunt Bauman durante o evento Educação 360. Youtube, 28 jan.
2017. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=I-RUE60EwMs&t=413s
Acesso em 03 jul. 2021

Café filosófico. Estratégias para a vida - Encontro com Bauman. Youtube, 23 jul. 2011.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=7BbMKM1bcSw Acesso em 03 jul.
2021
Zygmunt Bauman, nascido na Polônia, na cidade de Poznan em 1925, faleceu
em 2017 aos 91 anos. Foi sociólogo e filósofo humanista. Escreveu mais de 50 livros e
só para o português, foram traduzidas 35 obras. Até o ano de 2015, segundo entrevistas,
havia vendido no Brasil mais de 600 mil exemplares de seus livros.
Disse em vida, ter sido comunista à época da Segunda Guerra Mundial, ter
fugido da invasão de tropas nazistas na Polônia em 1939 e aos 14 anos, ter ido para
URSS com a sua família. Chega a entrar para a Inteligência Militar da Polônia em 1945,
onde atuou por 3 anos. Será expulso do exército polonês e depois conclui seu mestrado,
e passa a lecionar na Universidade de Varsóvia, na Polônia.
Se exila com a esposa na década de 1960 em Israel. Nos anos 1970 vai para a
Inglaterra dar aulas na Univesidade de Leeds, onde dirige o departamento de
socioologia até os anos 1990. Bauman publica livros abordando questões de classe entre
os anos 1960 e 1980, chegando a definer-se como socialista neste período. Ele se
considerava um “pessimista em curto prazo e um otimista a longo prazo”, o que o
colocava entre os pensafores que preferem aguardar o curso da história seguir sua
trajetória para cravar suas perspectivas em obras sócio-filosóficas.

Nos últimos anos, seus trabalhos se notabilizaram no Brasil devido ao seu


bestseller intitulado Amor Líquido, onde versava sobre o conceito de “modernidade
líquida”. Nas palavras do próprio Bauman, ele escolheu “chamar de modernidade
líquida a crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a
incerteza, a única certeza.” E sobre as conexões pessoais, nos tempos atuais do pós-
modernismo, tinha a crença de que essa condição levava o indivíduo a associações
menos duradouras em suas relações, ou seja, “hoje os relacionamentos escorrem por
entre os dedos”, dizia ele.

Os trabalhos de Bauman estão entre os mais importantes da sociologia moderna,


e segundo ele, esta ciência deveria fugir do que havia sido a preocupação primeva entre
os sociólogos hodiernos ao seu tempo, que era “satisfazer a preocupação de
admnistradores em gerenciamento de pessoas”. Em sua perspectiva, a sua sociologia
deveria ter como ponto fulcra, atualizar o norteamento de seus pares. Ironicamente, o
próprio Bauman menciona que, o que mais o fez ser esse sucesso na venda de suas
obras e pensamento, teria sido “ter fugido da escrita para a sua díade”. Fato presente
também nas obras de historiadores. Portanto, depreendemos que quanto menos afeito a
desenfadar o seu leitor, melhor para o intento de seu trabalho.
Outro grande tema de seu pensamento é a globalização e suas conseqüências. O
que ela causa de transformações e mudanças para a vida das pessoas que nela se
inserem, mesmo que inadvertidamente. No livro que resenharemos a partir de agora
chamado Globalização: as conseqüências humanas (1999), Bauman trabalha olhares
diferenciados para este tema tão abordado pela ciência da Geografia e Sociologia
humanas, não deixando de ser objeto caro também à ciência histórica.
Na globalização é possível identificar um norte ansiado por alguns, enquanto
para outros ela mesma torna-se motivo dos maiores problemas sociais. O autor, ainda
que preveja essas relações dialéticas, anuncia que o fenômeno da globalização nos
atinge a todos, e seria como uma marcha inexorável e que não retrocederá, posto que
seu curso é uma “compressão de tempo/espaço” (1999, p. 6), onde essa mesma
globalização têm uma questão de mobilidade de certos grupos que lhes dão “liberdade
de movimentos, [como uma] mercadoria sempre escassa e distribuida de forma
desigual, logo se [tornando] o principal fator estratificador de nossos tardios tempos
modernos ou pós-modernos” (idem, p.7), portanto, denotando ai, uma perspectiva do
lado social da globalização a ser perscrutado.
O próprio autor adverte que a obra pode oferecer uma compreensão sobre esta
discussão que não são percebidos aprioristicamente, como, o espaço e o tempo, e as
noções de local e global contemporâneamente. O autor procura entender as inquietações
no contexto pós-moderno e a partir dai, sugere possibilidades de juízos para revermos as
ideias predominantes no mundo contemporâneo (ibidem, pp.7-10)

Nos dois primeiros capitulos, chamados Tempo e classe e Guerras espaciais: informe
de carreira, o autor nos faz ponderar sobre o papel das grandes corporações e sua
localização no tempo e no espaço, até mesmo as possíveis tensões geradas pela falta da
presença física dos investidores das empresas, posto que verdadeiramente a “companhia
pertence às pessoas que nela investem - não aos seus empregados ou à localidade em
que se situa” Bauman (1999, p. 13 apud DUNLAP 1996). Desta feita, pegamo-nos a
reflexionarmos sobre o papel que os empreendimentos trazem ao suposto
empoderamento e sustentabilidade social local, discurso da empresas que creem estarem
fazendo uma grande benevolência aos locais por aportarem com suas máquinas ali.
A circunstância factual é que a comunidade local e os empregados das empresas,
não têm sequer “voz ativa” para as tomadas de decisão que implicam transformações
nos entornos daquela população local (1999, p.32). As decisões que são tomadas, o são,
por pessoas investidoras “não locais”, portanto em muitas das vezes, as decisões não
atenderiam às verdadeiras necessidades locais e geralmente não há consulta prévia
acerca disto. Segundo Bauman, as pessoas que investem, o fazem para cada vez mais
acumular recursos e não cessam na busca pela incrementação dos seus lucros, pois não
passariam de apenas uma desculpa de que estariam preocupados com a possibilidade de
gerar desenvolvimento local, mas intrinsecamente, o objetivo não é este. Dá a ideia de
ser este, mas efetivamente não o é. (idid, p.13)

Os sócios que investem nas empresas não se veem aprisionados ao local de seu
investimento, portanto seu capital investido não depende da sua localização, ao
contrário do que acontece aoss funcionários destas empresas, que tem vínculos
familiares e suas obrigações na própria região. Então, o empregado não pode se mudar
fisicamente de acordo com a necessidade da empresa, pois este encontra-se preso ao
espaço local. Assim, quando os investidores percebem grandes oportunidades em outros
lugares, prevendo maiores lucros, estes se mudam sem cerimônia (vide o caso da Ford
no Brasil)1 deixando a triste realidade de cuidar dos seus combalidos desempregados
após a empresa evadir-se após, inclusive, ter planos de renúncias fiscais e muitos outros2
oferecidos pelos Estados no anseio de receberem investimentos destas corporações
(ibidem, p.15-17).

Supostamente o investimento num determinado local não está abstraído de sua condição
global, principalmente a partir dos anos 1970, como nos referia o geógrafo brasileiro
Milton Santos. Este investimento constituir-se-á numa demonstração material de uma
nova realidade ditada pela importância do espaço, que na concepção baumaniana não
poderá ser usufruído por todos os entes, posto que são cismado pela importância social
que ocupam. Em outras palavras, “as elites escolhem isolamento e pagam por ele
prodigamente (…) o resto da população se vê afastado e e forçado a pagar o pesado
preço cultural, psicológico e politico do seu novo isolamento.” (ibidem, p.28)
1
MADUREIRA, Daniela. Prestes a deixar o Brasil, Ford liderou estilo de vida que vem sendo abandonado... BBC
News Brasil. Jan. 2021. Disponível em https://www.uol.com.br/carros/noticias/bbc/2021/01/14/ford-brasil-estilo-de-
vida.htm Acesso em 01 jul. 2021.
2
REIS, Tiago. Renúncia fiscal: para onde vai esse dinheiro? SUNO. Out. 2018. Disponível em
https://www.suno.com.br/artigos/renuncia-fiscal/ Acesso em 01 jul. 2021
Nesta perspectiva, quem está preso geograficamente, como dito pelo sociólogo Jessé
Souza (2018), é a “ralé” e esta estará destinada a cumprir as penalidades do processo
excludente da liberdade de movimento, que só pode ser experimentado justamente por
aquela elite que fora mencionada por Zygmunt Bauman.

O panorama atual impõe a possibilidade de locomoção e mobilidade como algo mais


que desejado (BOURDIEU, 1989), na relidade, um anseio de gosto distinguidor e
detratator, das camadas medias econômicas e culturais em relação aos que possuem
menos capitais (BOURDIEU, 2008), vide as piadas contadas pelo escritor brasileiro
Ariano Suassuna em suas palestras bem humoradas. Posto que viajar tornou-se um dos
pontos mais desejados pelas classes medias subalternas em suas tentativas de copier o
lado comportamental das elites, é dela que decorre a proeminente hierarquia social,
onde os padrões econômicos, sociais e políticos deixaram à esfera local e passaram a
agir mundialmente, sendo, portanto, indispensável esta liberdade de ajustamento, pois
dela deriva a eficácia do capital e dos investidores modernos. O que seria de prováveis
investimentos em outros países se não houvesse também o espraimento desta cultura da
atividade turística?

Voltando à questão sobre os trabalhadores, não há mais, atitudes destes que tensionem
pressão ao donos do meios de produção, tidos aqui como o capital, pois como as
empresas perderam seu vinculo com o impulsionador local, tornou-se também,
resistente à pressão dos trabalhadores, que cada vez veem seus movimentos serem
talhados dentro das novas regras trabalhistas e previdenciárias, inclusive no Brasil3.
Trabalhadores estes, que nas palavras de Bauman são adestrados a não requerem
realizar suas reivindicações por direitos e, partem para uma competitividade
desenfreada que flagrantemente favorece apenas aos seus próprios dirigentes e os põe
em desarmonia.

3
A Reforma Trabalhista no Brasil de 2017 foi uma mudança significativa na consolidação das leis do
trabalho (CLT) instrumentalizada pela Lei nº 13.467 de 2017. Foram modificados mais de 117 artigos
tanto da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) quanto das Leis 8.213/91, 8.036/90, 13.429/2017. Já
quanto à Reforma da Previdência, se trata da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n° 6 de 2019,
enviada em 20 de fevereiro, pelo presidente Jair Bolsonaro ao Congresso. Que ao fim ficou a Emenda
Constitucional n° 103, de 12 nov. de 2019. A proposta de reforma foi elaborada pela equipe do Ministério
da Economia, chefiada por Paulo Guedes. Um dos pontos cruciais, é a proposta de transição do atual
regime de repartição para um regime de capitalização.
Dessa maneira, cada vez mais vemos o capital, sempre quando está sendo pressionado,
a utilizar da alternativa de procurar lugares mais calmos e menos radicais aos seus
intentos. Sendo assim, as distâncias já não importam mais, pois o que está sendo
apresentado é o fim da geografia espacialmente falando, ou seja, os liames fronteiriços
viraram apenas simbolismos, pois “a distância é um produto social; sua extensão varia
dependendo da velocidade com a qual pode ser vencida” (ibid, 1999 p. 19)

Encurtar distâncias e vislumbrar um limite à geografia é, na opinião baumaniana, efeito


da velocidade das informações e dos meios de comunicação, assim como um crescente
desenvolvimento de novas tecnologias que ao invés de diminuir os espaços das
diferenças acabam por acentuá-las.

“Diz-se com freqüência e com mais freqüência ainda é tido como certo que a idéia de
espaço social nasce na cabeça dos sociólogos” (ibidem, p. 34), mas o que é visto e
comprovado é o oposto. Os homens sempre se utilizaram de padrões e de limites,
especialmente de liames fronteiriços para provocarem dissensões entre as comunidades.
Tudo isso sem mencionar a afronta bélica que envolve toda a nossa história.
Assim, a partir dessa perspective, Bauman põe à emersão uma discussão da estrutura
proposta pelos homens em utlizar como comparatuvos, os espaços geográficos e a partir
deles construir espaços simbólicos e reais, de reprodução e homogeneidade entre os
indivíduos.

Em respeito às cidades, como as próprias construções humanas destas, o ser humano


tem como premissa, seguir os caminhos e os princípios da uniformização a todo custo,
produzindo assim cidades com estruturas similares ao que veem em sua própria
estrutura corporal, desejando seguir uma ideia utópica de “cidade perfeita”, “cidade
pulsante”, com “artérias”, etc. Uma busca por uma “perfeição” no que se refere aos
padrões arquitetônicos e urbanísticos vigentes (PESAVENTO; SOUZA, 1997).

Bauman nos apresenta que para construir uma “cidade perfeita” os homens são
obrigados a rejeitar a história que os dá identidade e que seus traços de demonstrações
das diferenças entre estes mesmos entes, ficam envoltos em mistérios, afinal, a
heterogeneidade deve ser ocultada e não evidenciada, posto que pode ensejar em
provisão para maiores conflitos sociais resultantes de incoformidade com a situação de
falta de congraçamento e solidariedade entre os indivíduos.
Essa transformação “destroi os laços humanos”, onde a vida seguirá em padrões lógicos
citadinos de indiferença e solidão, uma liquidez das relações, ainda que em grandes
centros urbanos, por exemplo. Portanto, essa mudança desnuda as dificuldades que as
relações sociaiss passam a sofrer e o impacto que a globalização exerce nas relações
humamas tornando-as cada vez mais fugazes.

Os indivíduos, hodiernamente, esqueceram da dependência recíproca que possuem de


seus convívios sociais, a não ser quando servem para uma demonstração de vitalidade e
sucesso em seu mundo idílico virtual, portanto em suas “redomas online”. As pessoas
criam maneiras das mais diversas de serem fugidios das suas relações à longo prazo e
das estruturas que os circundam. Cobrem-se de veus de ignorância e de isolacionismo
que dá seus sinais diários de serem ineficazes para uma vida com um mínimo de
dignidade, e porque não dizer, de felicidade, embora o termo seja controverso.
As sociedades podem ter a oportunidade apriorística de uma harmonia, mas a
conciliação entre estes homens, pois são eles, e somente eles, que devem se beneficiar
destas relações, não aprenderam a dominar o mínimo da percepção crítica do entorno
que os oprime, posto que “os homens não se tornam bons simplesmente seguindo as
boas ordens ou o bom plano de outros” (ibidem, p. 54), mas exercendo a relação calcada
no vislumbre de um organism que o forja, e que ele molda também o seu entorno.

As urbes que outrora foram projetadas para preservar o coletivo dos males vindos de for
a, de invasões, etc., preservam os seus moradores dos seus próprios patrícios, tidos
como um inimigo interno a ser combatido. Veículos blindados, condomínios
residenciais, sistemas de vigilância e monitoramento, escolta pessoal, etc. Desta forma,
a percepção da clivagem social só aumenta, e o fosso da desigualdade social bate
recordes cada vez mais expressivos.4

Por meio dessas condições, o autor enxerga um novo sentido à existência do Estado. Em
seu terceiro capitulo, chamado Depois da Nação-estado, o quê?, o autor trabalha com a
nova perspectiva do Estado, onde ele vê uma divisão econômica.
Com a velocidade dos novos acontecimentos, a economia ganha um impulso

4
O VÍRUS da desigualdade. OXFAM Brasil. Disponível em https://www.oxfam.org.br/justica-social-e-
economica/forum-economico-de-davos/o-virus-da-desigualdade/ Acesso em 02 jul. 2021
determinante, que acaba por romper com as últimas barreiras de proteção do Estado a
indivíduo, ficando aquele condicionado ao fator econômico, que é uma visão unilateral
e muito evidenciada por outros de seus colegas sociólogos, como percebido pelo
também sociólogo brasileiro, Jessé Souza (2018).

Zygmunt Bauman, em sua obra aqui resenhada e em ocasiões de entrevista, diz que o
Estado vem sofrendo um definhamento, ou seja, existe uma forte tendência à eliminação
da ideia de Estado-Nação. Esta circunstância leva ao que o autor chama de “nova
desordem mundial” (1999, p. 64). Hoje não sabemos controla, ou pior, não existe
ninguém no comando da situação, sendo assim, não existe um consenso global dos
rumos que a humanidade deve seguir e por onde percorrer novos rumos, mas o fato é
que há um grande aproveitamento dos setores corporativos na avant garde de “soluções
de sustentabilidade planetária, desde que os cidadãos do mundo enquadrem-se em suas
perspectivas modernas de trabalho precarizado.5 Estes processos estão cada vez mais
abertos e a globalização está constituída por seu “caráter indeterminado, indisciplinado
e de autopropulsão dos assuntos mundiais” (ibidem, p.66), portanto, a nova desordem
mundial é uma seqüência de ações, que parte da falta de definição dos rumos a serem
tomados e quem está no controle, assim como, a falta um centro que una os interesses
da civilização.
Dessa forma, a globalização nada mais seria que o processo de desordem da economia e
das relações sociais. A globalização diz respeito a todos e leva a percursos inesperados,
não há como planejar os caminhos a serem almejados, simplesmente eles acontecem,
como uma fisionomia disforme que introduz mudanças em uma época sem lei.

O autor apresenta a expiação do Estado, abrirá mão do seu controle para privilegiar a
nova ordem mundial, dentro da lógica da globalização. Portanto, o Estado não
permanecerá com a sua atribuição anterior, posto que este que surge é deveras
dependente dos processos produtivos abaixo da qualidade de sustentáveis socialmente, e
é profundamente dependente também das relações de lobby com os grandes
conglomerados, mesclado a isso uma política cada vez menos eficiente e corrupta.

Hoje, a exemplo da China, não se imagina um Estado que vise uma política fechada
5
AMAZON é acusada de se aproveitar de trabalho precarizado na China. Época Negócios Online. 11 jun.
2018. Disponível em https://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2018/06/amazon-e-acusada-de-
se-aproveitar-de-trabalho-precarizado-na-china.html Acesso em 3 jul. 2021
protecionista que não anseie por participação no mercado globalizado. O poder
econômico foi extremamente abalado e não existem maneiras de se governar a partir de
ideologias políticas e interesses soberanos da nação como no século XIX.
A globalização impõe-se seus preceitos de forma totalitária e indissolúvel, impondo
pressões que o Estado não é capaz de dirimir, ou seja, para o autor alguns minutos
bastam para que as empresas e a Nação entrem em colapso por meio das subjetivações
do Mercado da bolsa de valores.

O Estado está despido de seu poder e de sua autoridade, somente lhe restou ferramentas
básicas para manutenção do interesse das grandes organizações empresariais. Cabe,
desta maneira, enfatizar que toda essa desorganização tem como ponto culminante, as
regras de livre mercado, políticas especulatórias, capital global e um Estado cada vez
menor e mais fraco, que tem como única função a manutenção e criação de processos
que mantenham a estabilidade financeira e econômica.

Hoje as grande corporações possuem liberdade para realizar manobras que tornam o
Estado um mero espectador, dominado por elas e sem poder verdadeira de provocar
mudanças. A própria incerteza mercadológica é uma arma de armotização dos possíveis
atos de revolta e distúrbios sociais. O Estado é um verdadeira refém do império do
capital.
O livre Mercado, a desenvoltura econômica rentável e a diminuição das desigualdades
sociais, tem se mostrado uma falácia empresarial, o que se apresenta é um aumento cada
vez mais elevado da riqueza dos mais ricos e uma diminuição drástica das condições de
vida dos mais pobres.6 Condições estas que estão imobilizadas exatamente pela
“imobilidade dos miseráveis” (Ibidem, p.79) em suprimir as pressões da globalização e
a liberdade dos opressores, em seus discursos que dão legitimidade ao modelo proposto
de sociedade moderna e mundo globalizado, ou seja, um mundo econômico,
tecnológico, científico, extremamente desigual e excludente.

Vivemos diante de um número estarrecedor de fome, pobreza e miséria, em pleno


século XXI, com um mundo que têm potencial para alimentar três populações

6
ROSSI, Marina. Seis brasileiros concentram a mesma riqueza que a metade da população mais pobres.
El Pais. 25 set. 2017. Disponível em
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/22/politica/1506096531_079176.html Acesso em 02 jul. 2021
planetárias7, mas onde 800 milhões de pessoas ainda estão em condições de subnutrição
e 4 bilhões de pessoas vivendo na miséria (ibidem, p. 81). O autor indica que a pobreza
leva ao processo de degradação social que nega as condições mínimas de vida humana.
A soma do resultado, deriva de outros fatores que enfraquecem os laços sociais e
passam a destruir também, os laços afetivos e familiars, conforme mencionada
anteriormente. Portanto, as tentativas de mudança encontram barreiras e sua eficiência é
fugaz pois, este sofrimento da sociedade humana tem como precedente, amarras, que
são facilmente replanejadas na globalização e pelo sistema capitalista.

Para o penúltimo capítulo, entitulado Turista e vagabundos, Bauman nos põe a refletir
sobre o que move as pessoas no coetâneo. Expõe o quanto estamos sempre nos
movendo, mesmo quando não viajamos, e esse movimento poderia ser caracterizado
pelo consumo. Liberdade mesmo, para Bauman, nesse ponto da obra, seria poder estar
onde quiser e comprar o que quiser. Nessa perspectiva, a diferença entre “turistas” e
“vagabundos”, seria onde o primeiro, o “turista” teria essa dita liberdade de movimento
e consumo e o segundo tipo, o”vagabundo”, que seria composto pela maior parte da
população, não possui essa liberdade ou, se a possuir, essa liberdade não existe na
mesma extensão do que a do turista, numa condição social, econômica e cultural e nem
é pode ser exercida da mesma maneira. A sociedade globalizada impõe o consumo
como referencial cidadão. Somos todos potenciais consumidores. Vivemos sob uma
cultura de busca por satisfação instantânea e pela comodidade que as tecnologias
prometem (ibidem, p. 93), por isso, mais uma vez a liquidez pós-moderna.
Sequer não poder consumir, pode nos instar a ocupar espaços na realidade atual se não
atendermos a essa premissa.

Esse eterno movimento em torno de bens que devem ser adquiridos a todo instante pois
carregam a felicidade momentânea também funda a divisão entre duas classes de
indivíduos: turistas e vagabundos conforme nos referimos. Em resumo: os turistas
movem-se sem culpa enquanto acreditam que os vagabuns têm também ao seu alcance
todas as possibilidades de também tornarem-se turistas; o que fecharia o ciclo, segundo
Bauman, é que a sociedade de consumo reforça no vagabundo a vontade de tornar-se
turista (ibidem, p. 102), como torna a classe média ansiosa por tornar-se elite (SOUZA,
7
MUNDO produz comida suficiente, mas fome ainda é uma realidade. Nexo Jornal. Disponível em
https://www.nexojornal.com.br/explicado/2016/09/02/Mundo-produz-comida-suficiente-mas-fome-ainda-
%C3%A9-uma-realidade Acesso em 02 jul. 2021
2018).

No último capitulo, Lei global, ordens locais o autor trabalha questões sobre a
lei global e a ordem local. Neste contexto, o autor nos transmite a idéia que todos os
processos mundiais têm as mesmas características, ou seja, as metodologias que os
governos discernem sobre os problemas locais transcendem os mesmos objetivos, pois
todos aplicam leis que garantem a classe média às condições mínimas e que penitencia
com leis severas as classes desfavorecidas. Mesmo que o Estado esteja a cada dia
perdendo seu espaço e tornando-se mais fraco, para o autor, ele ainda se utiliza de
forças preventivas para minimizar alguns setores sociais, em contra partida, este mesmo
Estado, cria condições para o mercado financeiro e investidores.

Este Estado tem como modelo um maior controle dos gastos públicos, redução de
impostos, reformulação dos sistemas de proteção social e diminuição da rigidez das leis
trabalhistas, no que conhecemos com neoliberalismo. Portanto, prioriza os setores do
capital financeiro e bloqueia os poucos recursos destinados aos setores sociais em nome
de maior controle dos gastos públicos.

Assim sendo, este livro traz consigo a reflexão teórica das conseqüências da
globalização para os seres humanos. Onde a cada momento temos um aumento da
pobreza, diminuição das condições mínimas de sobrevivência. Em contrapartida, existe
um aumento das grandes potências empresarias e da exploração advinda do seu modelo
desvinculado do local, tendo na sua visão e modelo global, um alicerce para sua
manutenção e precarização da vida humana.

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