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A História do Brasil 1964

O golpe militar de 1964


A crise política se arrastava desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961. O vice de
Jânio era João Goulart, que assumiu a presidência num clima político adverso. O
governo de João Goulart (1961-1964) foi marcado pela abertura às organizações
sociais. Estudantes, organização populares e trabalhadores ganharam espaço,
causando a preocupação das classes conservadoras como, por exemplo, os
empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média. Todos temiam
uma guinada do Brasil para o lado socialista. Vale lembrar, que neste período, o
mundo vivia o auge da Guerra Fria.
Este estilo populista e de esquerda, chegou a gerar até mesmo preocupação nos
EUA, que junto com as classes conservadoras brasileiras, temiam um golpe
comunista.

Os partidos de oposição, como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido


Social Democrático (PSD), acusavam Jango de estar planejando um golpe de
esquerda e de ser o responsável pela carestia e pelo desabastecimento que o Brasil
enfrentava.
No dia 13 de março de 1964, João Goulart realiza um grande comício na Central do
Brasil ( Rio de Janeiro ), onde defende as Reformas de Base. Neste plano, Jango
prometia mudanças radicais na estrutura agrária, econômica e educacional do país.

Seis dias depois, em 19 de março, os conservadores organizam uma manifestação


contra as intenções de João Goulart. Foi a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade, que reuniu milhares de pessoas pelas ruas do centro da cidade de São
Paulo.

O clima de crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia. No dia 31 de


março de 1964, tropas de Minas Gerais e São Paulo saem às ruas. Para evitar uma
guerra civil, Jango deixa o país refugiando-se no Uruguai. Os militares tomam o
poder. Em 9 de abril, é decretado o Ato Institucional Número 1 ( AI-1 ). Este, cassa
mandatos políticos de opositores ao regime militar e tira a estabilidade de
funcionários públicos.

GOVERNO CASTELLO BRANCO (1964-1967)


Castello Branco, general militar, foi eleito pelo Congresso Nacional presidente da
República em 15 de abril de 1964. Em seu pronunciamento, declarou defender a
democracia, porém ao começar seu governo, assume uma posição autoritária.
Estabeleceu eleições indiretas para presidente, além de dissolver os partidos
políticos. Vários parlamentares federais e estaduais tiveram seus mandatos
cassados, cidadãos tiveram seus direitos políticos e constitucionais cancelados e os
sindicatos receberam intervenção do governo militar.
Em seu governo, foi instituído o bipartidarismo. Só estavam autorizados o
funcionamento de dois partidos : Movimento Democrático Brasileiro ( MDB ) e a
Aliança Renovadora Nacional ( ARENA ). Enquanto o primeiro era de oposição,
de certa forma controlada, o segundo representava os militares.
O governo militar impõe, em janeiro de 1967, uma nova Constituição para o país.
Aprovada neste mesmo ano, a Constituição de 1967 confirma e institucionaliza o
regime militar e suas formas de atuação.

GOVERNO COSTA E SILVA (1967-1969)


Em 1967, assume a presidência o general Arthur da Costa e Silva, após ser eleito
indiretamente pelo Congresso Nacional. Seu governo é marcado por protestos e
manifestações sociais. A oposição ao regime militar cresce no país. A UNE ( União
Nacional dos Estudantes ) organiza, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil.
Em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operários paralisam fábricas em
protesto ao regime militar.
A guerrilha urbana começa a se organizar. Formada por jovens idealistas de
esquerda, assaltam bancos e seqüestram embaixadores para obterem fundos para o
movimento de oposição armada.
No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decreta o Ato Institucional Número 5
( AI-5 ). Este foi o mais duro do governo militar, pois aposentou juízes, cassou
mandatos, acabou com as garantias do habeas-corpus e aumentou a repressão
militar e policial.

GOVERNO DA JUNTA MILITAR (31/8/1969-30/10/1969)


Doente, Costa e Silva foi substituído por uma junta militar formada pelos ministros
Aurélio de Lira Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de
Sousa e Melo (Aeronáutica).

Dois grupos de esquerda, O MR-8 e a ALN seqüestram o embaixador dos EUA


Charles Elbrick. Os guerrilheiros exigem a libertação de 15 presos políticos,
exigência conseguida com sucesso. Porém, em 18 de setembro, o governo decreta a
Lei de Segurança Nacional. Esta lei decretava o exílio e a pena de morte em casos
de "guerra psicológica adversa, ou revolucionária, ou subversiva".
No final de 1969, o líder da ALN, Carlos Mariguella, foi morto pelas forças de
repressão em São Paulo.

GOVERNO MEDICI (1969-1974)


Em 1969, a Junta Militar escolhe o novo presidente : o general Emílio Garrastazu
Medici. Seu governo é considerado o mais duro e repressivo do período, conhecido
como " anos de chumbo ". A repressão à luta armada cresce e uma severa política
de censura é colocada em execução. Jornais, revistas, livros, peças de teatro, filmes,
músicas e outras formas de expressão artística são censuradas. Muitos professores,
políticos, músicos, artistas e escritores são investigados, presos, torturados ou
exilados do país. O DOI-Codi ( Destacamento de Operações e Informações e ao
Centro de Operações de Defesa Interna ) atua como centro de investigação e
repressão do governo militar.
Ganha força no campo a guerrilha rural, principalmente no Araguaia. A guerrilha
do Araguaia é fortemente reprimida pelas forças militares.

O Milagre Econômico
Na área econômica o país crescia rapidamente. Este período que vai de 1969 a
1973 ficou conhecido com a época do Milagre Econômico. O PIB brasileiro crescia
a uma taxa de quase 12% ao ano, enquanto a inflação beirava os 18%. Com
investimentos internos e empréstimos do exterior, o país avançou e estruturou uma
base de infra-estrutura. Todos estes investimentos geraram milhões de empregos
pelo país. Algumas obras, consideradas faraônicas, foram executadas, como a
Rodovia Transamazônica e a Ponte Rio-Niteroi.
Porém, todo esse crescimento teve um custo altíssimo e a conta deveria ser paga no
futuro. Os empréstimos estrangeiros geraram uma dívida externa elevada para os
padrões econômicos do Brasil.

GOVERNO GEISEL (1974-1979)


Em 1974 assume a presidência o general Ernesto Geisel que começa um lento
processo de transição rumo à democracia. Seu governo coincide com o fim do
milagre econômico e com a insatisfação popular em altas taxas. A crise do petróleo
e a recessão mundial interferem na economia brasileira, no momento em que os
créditos e empréstimos internacionais diminuem.

Geisel anuncia a abertura política lenta, gradual e segura. A oposição política


começa a ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o MDB conquista 59% dos votos
para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganha a prefeitura da maioria das
grandes cidades.
Os militares de linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel,
começam a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Em 1975, o
jornalista Vladimir Herzog á assassinado nas dependências do DOI-Codi em São
Paulo. Em janeiro de 1976, o operário Manuel Fiel Filho aparece morto em
situação semelhante.
Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho para a
volta da democracia no Brasil.

GOVERNO FIGUEIREDO (1979-1985)


A vitória do MDB nas eleições em 1978 começa a acelerar o processo de
redemocratização. O general João Baptista Figueiredo decreta a Lei da Anistia,
concedendo o direito de retorno ao Brasil para os políticos, artistas e demais
brasileiros exilados e condenados por crimes políticos. Os militares de linha dura
continuam com a repressão clandestina. Cartas-bomba são colocadas em órgãos da
imprensa e da OAB (Ordem dos advogados do Brasil). No dia 30 de Abril de 1981,
uma bomba explode durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O
atentado fora provavelmente promovido por militares de linha dura, embora até
hoje nada tenha sido provado.

Em 1979, o governo aprova lei que restabelece o pluripartidarismo no país. Os


partidos voltam a funcionar dentro da normalidade. A ARENA muda o nome e
passa a ser PDS, enquanto o MDB passa a ser PMDB. Outros partidos são criados,
como : Partido dos Trabalhadores ( PT ) e o Partido Democrático Trabalhista ( PDT
).

A Redemocratização e a Campanha pelas Diretas Já


Nos últimos anos do governo militar, o Brasil apresenta vários problemas. A
inflação é alta e a recessão também. Enquanto isso a oposição ganha terreno com o
surgimento de novos partidos e com o fortalecimento dos sindicatos.
Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de
brasileiros participam do movimento das Diretas Já. O movimento era favorável à
aprovação da Emenda Dante de Oliveira que garantiria eleições diretas para
presidente naquele ano. Para a decepção do povo, a emenda não foi aprovada pela
Câmara dos Deputados.

No dia 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheria o deputado Tancredo


Neves, que concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Ele
fazia parte da Aliança Democrática – o grupo de oposição formado pelo PMDB e
pela Frente Liberal.
Era o fim do regime militar. Porém Tancredo Neves fica doente antes de assumir e
acaba falecendo. Assume o vice-presidente José Sarney. Em 1988 é aprovada uma
nova constituição para o Brasil. A Constituição de 1988 apagou os rastros da
ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no país.

Após as eleições de 1985, Tancredo Neves foi vítima de uma enfermidade inesperada, e
seu vice José Sarney assumiu a presidência.
A partir deste ano iniciava-se a Nova República, um novo regime que substituía a
Ditadura Militar.

Em 5 de outubro de 1988 foi oficializada a nova Constituição Brasileira.

A partir dessa nova Constituição, muitas reformas foram feitas, como o mandato
presidencial que foi estendido por 5 anos. O voto passou a ser uma obrigatoriedade para
todos aqueles que tivessem entre 18 e 70 anos, sem exceção, e facultativo para as
pessoas entre 16 e 18 anos. E as eleições começaram a ser realizadas em dois turnos.

Os direitos dos trabalhadores foram ampliados, como exemplo a ampliação da licença


maternidade para 120 dias.

1. Governo Sarney (1985 a 1990)

José Sarney, natural do estado do Maranhão, tinha em


seu registro o nome de José Ribamar Ferreira de Araújo
Costa, mas no ano de 1965 mudou seu nome de forma
legal para José Sarney de Araújo Costa. Em sua carreira
na política conseguiu exerceu vários cargos, como
deputado, governador do estado do Maranhão, senador
pelo estado do Maranhão, quando em 1985 chegou a
presidência da república, onde governou até 1990.

A sociedade não estava muito contente com o novo


presidente, pois o seu passado tinha marcas negativas,
como a sua participação em partidos como: UND,
ARENA, PDS, o apoio ao regime militar, e sua
oposição à emenda Dante de Oliveira, que assegurava
as eleições diretas de 1985. Mesmo assim, o povo tinha
a esperança do crescimento econômico e da redução da
desigualdade social.
Para vencer essa má impressão, Sarney prometeu cumprir todas as promessas feitas por
Tancredo, como por exemplo, consentiu que a população fosse às urnas para eleger o
prefeito de sua cidade, nas eleições que ocorreria em 1985.

Objetivando combater a inflação, Sarney desenvolveu um plano econômico, o Plano


Cruzado. Este novo plano resultou na substituição do cruzeiro pelo cruzado na
proporção de mil para um, na erradicação da correção monetária, na fixação dos valores
das mercadorias, e no reajuste de salários sempre que a inflação chegasse a 20%.

Este plano não foi muito aceito principalmente pelos empresários que foram os mais
prejudicados e, portanto, fracassou. Assim logo foram criados outros dois planos: o
Plano Bresser e o Plano Verão, mas como o primeiro, esses também fracassaram e a
inflação continuou a prejudicar o país.

Em 1990 termina o mandato de José Sarney, e neste ano a população teve finalmente o
direito de ir às urnas para votar no seu candidato à Presidência

Governo Collor de Mello (1990-1992)


Presidente renuncia
* Renato Cancian
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Collor não completou o mandato


Em 1989 ocorreu a primeira eleição direta para presidente da República no Brasil.
Depois de quase três décadas de interrupção do processo eleitoral democrático, os
brasileiros voltaram às urnas para escolher o sucessor de José Sarney.

Concorreram ao pleito candidatos de vários partidos políticos, a maioria eram líderes


políticos influentes como Mário Covas, do PSDB; Paulo Maluf, do PDS; Ulisses
Guimarães, do PMDB; Leonel Brizola, do PDT; Luiz Inácio Lula da Silva, do PT;
outros eram menos conhecidos da população, tais como Roberto Freire, do PCB; e
Fernando Collor de Mello, do PRN.
As eleições presidenciais foram realizadas em dois turnos. Os candidatos que
conseguiram chegar ao segundo turno foram Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando
Collor de Mello. Lula era representante das forças políticas de esquerda, recebeu apoio
dos movimentos populares e sindicais. Defendeu um programa de mudanças na
estrutura socioeconômica do país a fim de implementar um modelo socialista.

Por outro lado, Fernando Collor de Melo era um político alagoano pertencente a uma
família de políticos tradicionais, mas seu partido, o PRN, era uma agremiação
insignificante. O candidato Collor de Mello recebeu apoio das forças conservadoras de
direita, que congregava desde os interesses mais retrógrados, como o grande latifúndio,
até interesses dos grandes industriais e banqueiros. Por conta disso, o pleito ficou
fortemente polarizado ideologicamente.

A Campanha eleitoral de 1989

Durante a campanha eleitoral, Collor de Mello usou todos os recursos disponíveis do


que poderíamos chamar de apelo demagógico para derrotar o candidato adversário.
Com seu estilo personalista e exibicionista, Collor conseguiu passar para a população a
imagem de um político que lutava incessantemente contra a corrupção. Por conta disso,
ficou conhecido como o "caçador de marajás", ou seja, uma referência a sua oposição
aos políticos e outros servidores públicos que recebiam salários extremamente altos.

Collor de Mello conseguiu ainda apresentar-se como o candidato das camadas populares
mais pobres, que em sua campanha foram denominados de "descamisados". Além disso,
ao veicular falsas idéias sobre o candidato adversário e o cenário político nacional num
provável governo Lula, conseguiu amedrontar a população.

Na área econômica, o programa de governo do candidato Collor de Mello era


explicitamente de tendência neoliberal e previa uma extensa reforma do Estado,
privatização das empresas estatais e abertura da economia à competição internacional.
Collor de Mello venceu as eleições com 35 milhões de votos, Lula obteve cerca de 30
milhões de votos.

A economia e a governabilidade

O Ministério da Fazenda foi ocupado por Zélia Cardoso de Mello, que colocou em
prática o chamado Plano de Reconstrução Nacional, ou Plano Collor. Logo no início do
governo, foram tomadas medidas econômicas drásticas e de grande impacto a fim de
solucionar a grave crise da hiperinflação.

Os salários e os preços foram congelados, os depósitos bancários foram confiscados por


um período de 18 meses. Apenas por um breve período de tempo, a inflação ficou sob
controle. A recessão e o agravamento da crise economica afetou a popularidade do
presidente Collor de Mello. No Congresso Nacional, Collor foi perdendo apoio
parlamentar com o conseqüente enfraquecimento político de seu governo.

Denúncias de corrupção
Além da queda de popularidade do presidente e a erosão acentuada da base parlamentar
de apoio político, o governo Collor de Mello começou a ser alvo de denúncias de
corrupção. Vários dos ministros e assessores do presidente, além de sua própria esposa,
a primeira-dama Rosane Collor, foram acusados de desvio de verbas públicas.

Em maio de 1992, porém, um desentendimento familiar levou o irmão do presidente,


Pedro Collor, a denunciar um extenso esquema de corrupção existente no governo,
comandado pelo então tesoureiro da campanha presidencial, e empresário Paulo César
Farias.

O Congresso Nacional foi pressionado a instalar uma Comissão Parlamentar de


Inquérito (CPI) a fim de investigar as denúncias. O relatório final da CPI apontou
vínculos entre o presidente e empresário Paulo César Farias. Em seguida, foi aberto o
processo de impeachment (que significa impedimento) do presidente da República.

A CPI e o processo de impeachment paralisaram o país por meses. Nas ruas, setores
mais organizados da sociedade começaram a se manifestar em favor do afastamento de
Collor da presidência. As maiores manifestações foram promovidas pelos estudantes
(universitários e secundaristas) que ficaram conhecidos como os "caras-pintadas", por
pintarem listras verde e amarelas no rosto.

A renúncia de Collor

Enfrentando a oposição de parlamentares do Congresso e manifestações de rua cada vez


mais expressivas, o governo Collor ficou completamente isolado política e socialmente.
Numa sessão histórica, em 29 de setembro de 1992, o Congresso Nacional decidiu-se
pela aprovação do impeachment do presidente Collor de Mello.

Para evitá-lo, o presidente renunciou em 30 de dezembro. Foi a primeira vez na história


republicana do Brasil que um presidente eleito pelo voto direto era afastado por vias
democráticas, sem recurso aos golpes e outros meios ilegais.

Governo Itamar Franco (1992-1994)


FHC inicia Plano Real
* Renato Cancian
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Contando com o apoio de todos os partidos políticos, o vice-presidente, Itamar Franco
foi empossado na presidência da República após a renúnica de Fernando Collor de
Melo. O governo Itamar Franco foi marcado por dois acontecimentos importantes na
área política e econômica.

Na área política, o governo aplicou o dispositivo constitucional que previa a realização


de um plebiscito em que os eleitores brasileiros deveriam decidir qual o regime político
(monarquia ou república) e qual a forma de governo (parlamentarismo ou
presidencialismo) o Brasil deveria adotar. A consulta popular ocorreu em abril de 1993,
e o resultado das urnas confirmou a preferência da população pela permanência da
república presidencialista.
Ainda na área política, sob incentivo do Governo Federal, foi criada uma CPI para
investigar denúncias de corrupção envolvendo irregularidades no orçamento da União.
A CPI desvelou esquema de corrupção que ficou conhecido como o caso dos "anões do
orçamento", uma referência a parlamentares, ministros e ex-ministros e governadores
estaduais.

Durante os trabalhos da CPI, o país ficou ameaçado de paralisia do processo legislativo.


Houve até mesmo rumores de conspirações militares diante da crise parlamentar.

Plano Real

Na área economica o governo implementou o Plano Real. O Ministério da Fazenda


havia sido ocupado por três ministros, porém, em maio de 1993, foi empossado no
cargo o senador Fernando Henrique Cardoso. Implementado sob a coordenação de
Fernando Henrique Cardoso, o Plano Real previa o controle inflacionário e a
estabilização econômica.

Para sua concretização e eficiência, o governo adotou medidas visando conter os gastos
públicos, privatizar uma série de empresas estatais, reduzir o consumo com o aumento
das taxas de juros e baixar os preços dos produtos por meio da abertura da economia a
competição internacional.

Em curto prazo, o Plano Real ocasionou a queda da inflação e o aumento do poder


aquisitivo da população. Mas a longo-prazo, os economistas já previam um processo
recessivo bastante acentuado que geraria enorme desemprego. Mas, enquanto isso não
ocorria, o governo obteve expressiva popularidade. Foi nesta conjuntura política que foi
articulada a candidatura oficial do senador e ministro Fernando Henrique Cardoso, para
concorrer à sucessão presidencial de 1994.

História do Brasil 1994


Depois de enfrentar o processo que causou o impeachment do presidente
Fernando Collor de Melo, o cenário político nacional parecia combalido com
o desastroso governo eleito pela população. Em um primeiro instante, vários
analistas acreditavam que o setor de esquerda e, principalmente, o PT de
Luis Inácio Lula da Silva teria a grande oportunidade de chegar ao poder. No
entanto, em maio de 1993, uma ação tomada pelo governo Itamar Franco
mudou essa situação.

Nessa época, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso foi nomeado para


ocupar a cadeira de Ministro da Fazenda. Na direção desse importante
cargo, o novo ministro deveria combater a inflação e promover a
reorganização da economia. Para tanto, convocou um grupo de economistas
formados pela PUC do Rio de Janeiro que participaram ativamente na
elaboração do Plano Real, anunciado em 28 de fevereiro de 1994.
A criação de uma nova moeda, a contenção dos índices inflacionários e a
explosão de consumo causaram uma grande euforia na população. Depois
de vários anos, a economia ganhava estabilidade e amplos setores da
sociedade sentiram em curto prazo uma série de benefícios nunca antes
experimentados. Com isso, além de superar problemas históricos, o ministro
FHC ganhou uma imensa projeção política que o transformou em candidato
natural do PSDB às eleições de 1994.

Ao redor de sua candidatura se reuniram diversas figuras políticas


tradicionais que buscaram aproveitar do momento favorável. O escolhido
para vice-presidente foi Marco Maciel do PFL, figura historicamente ligada às
oligarquias nordestinas e que deu apoio ao regime militar. Apesar disso, a
candidatura de FHC conservou enorme prestígio ao defender a tese de que
somente ele teria as condições políticas e, principalmente, intelectuais para
dar prosseguimento ao já consagrado Plano Real.

Deixando de lado outros candidatos de menor expressão, os setores de


oposição insistiam na candidatura de Lula pelo Partido dos Trabalhadores.
Apesar de seu partido ter grande projeção e oferecer um modelo de
desenvolvimento relativamente distinto, a grande maioria da população
decidiu confiar nos benefícios imediatos trazidos por Fernando Henrique
Cardoso. No fim da apuração, o candidato do PSDB venceu com 54, 27% dos
votos. Em 1º janeiro de 1995, FHC recebeu a faixa presidencial de Itamar
Franco.

Governo Fernando Henrique Cardoso


(1995-2002)
Recessão e reeleição
Renato Cancian*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

FHC, do sucesso do Real ao desgaste do segundo mandato


Fernando Henrique Cardoso ocupou o cargo de ministro da Fazenda no governo Itamar
Franco. A estabilidade econômica e o controle da inflação advindas com o Plano Real
abriram caminho para sua candidatura à Presidência da República.

Sua candidatura foi efetivada pela aliança partidária formada majoritariamente pelo
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Partido da Frente Liberal (PFL).
Fernando Henrique, sociólogo e respeitado intelectual, elegeu-se presidente no primeiro
turno com 55 por cento dos votos válidos.

Popularmente chamado de FHC, Fernando Henrique assumiu a presidência em 1º de


janeiro de 1995. A ampla aliança partidária que sustentou a candidatura e o governo
possibilitou ao novo presidente contar com uma sólida base de apoio parlamentar. Isso
permitiu a continuidade da política econômica e a aprovação de inúmeras reformas
constitucionais.

Continuidade do Plano Real e reforma do Estado

No que se refere a essas reformas, o governo conseguiu que o Congresso Nacional


aprovasse a quebra dos monopólios estatais nas áreas de comunicação e petróleo e a
eliminação de restrições ao capital estrangeiro.

Paralelamente, o governo executou uma ampla política de privatização de empresas


estatais. Projetos de mudanças mais consistentes na estrutura e no funcionamento do
Estado brasileiro foram encaminhados a partir da discussão das reformas tributária e
fiscal, previdência social e direitos trabalhistas.

O governo Fernando Henrique Cardoso argumentava que essas reformas e mudanças


administrativas tinham por objetivo fomentar a modernização das estruturas estatais
para sustentar o desenvolvimento econômico e a integração do país ao mercado
mundial.

A política econômica teve continuidade com o Plano Real. A nova moeda, o real,
manteve-se estável e em paridade com o dólar americano. A inflação ficou sob rígido
controle. Porém, o prosseguimento do Plano Real ocasionou uma brutal recessão
econômica que se refletiu nos baixos índices de crescimento da economia e desemprego
em massa.

Todos os setores da economia foram afetados. Os grandes centros urbanos, onde se


localizavam importantes parques industriais, foram mais afetados pelo fechamento de
fábricas, comércio e quebras de bancos.

Oposição versus Governo


A crise do desemprego foi uma das marcas mais negativas da gestão Fernando Henrique
Cardoso. No Congresso Nacional, as oposições, porém, não tiveram forças para se opor
a política governamental. Acusaram o governo Fernando Henrique Cardoso de
"neoliberal", isto é, de defender os interesses do capital estrangeiro, dos grandes
industriais e banqueiros, de transferir para a iniciativa privada o patrimônio público
através da venda de empresas estatais, eliminação de direitos trabalhistas e prosseguir
com uma política econômica que prejudicava as camadas populares mais pobres.
O governo Fernando Henrique Cardoso rebateu as críticas, argumentando que foram
implementadas uma série de políticas sociais de transferência de renda para as
populações mais pobres através de programas como o bolsa-escola, o vale-gás e o
bolsa-alimentação.

Avanços significativos foram alcançados nas áreas da educação, saúde (com a


distribuição gratuita de medicamentos contra a AIDS) e principalmente na questão
agrária (com a implementação de um sólido programa de reforma agrária).

Com relação à questão agrária, durante toda a gestão Fernando Henrique Cardoso, o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pressionou o governo a
avançar com o programa de assentamentos rurais, promovendo por todo o país
numerosas manifestações e invasões de propriedades agrárias produtivas e
improdutivas.

Estabilidade política e governabilidade

As oposições criticaram a aliança entre as forças políticas conservadoras que elegeu e


sustentou o governo Fernando Henrique Cardoso. Entretanto, a forte base parlamentar
de apoio ao governo Fernando Henrique Cardoso contribuiu decisivamente para a
estabilidade política. Essa estabilidade foi um dos traços mais importantes da gestão
Fernando Henrique Cardoso, pois, além de assegurar a governabilidade também
beneficiou a consolidação da jovem e frágil democracia brasileira.

De acordo com estudiosos e pesquisadores do assunto, a forma de governo em vigor, ou


seja, o sistema presidencialista, o multipartidarismo e o voto proporcional dificultavam
enormemente a obtenção de maioria parlamentar estável no Congresso Nacional.

Essa situação foi apontada como a principal causa das constantes crises de
governabilidade que impediam a continuidade administrativa e a implementação de
reformas e programas políticos consistentes, prejudicando o avanço da
redemocratização e consolidação da democracia no país.

Evidentemente, a plena consolidação da democracia brasileira exige mais do que a


estabilidade política e econômica e todos os avanços na área institucional que se
tornaram marcas do governo Fernando Henrique Cardoso necessitam também da
solução das enormes desigualdades sociais que ainda fazem com que o Brasil seja
apontado como um dos países mais ricos, porém, mais injusto do mundo, devido à
permanência da fome e a excessiva concentração de renda nas mãos de poucos.

A reeleição de Fernando Henrique CardosoContando com maioria parlamentar, o


governo FHC conseguiu que o Congresso Nacional aprovasse uma Emenda
constitucional permitindo a reeleição do presidente da República. Desse modo,
Fernando Henrique Cardoso disputou o pleito de 1998. A aprovação da emenda da
reeleição sofreu severas críticas da oposição que acusou o governo de FHC de compra
de votos.

Houve tentativas por parte dos partidos oposicionistas de abertura de uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denúncias. Não obstante, os
governistas conseguiram barrar a abertura da chamada "CPI da compra de votos".
No final do primeiro mandato governamental de Fernando Henrique Cardoso, uma
grave crise afetou a economia brasileira e forçou o governo a mudar a política cambial.
A principal conseqüência foi uma forte desvalorização da moeda. Também foi
necessário ao governo recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) a fim de obter
um empréstimo recorde para evitar o desequilíbrio financeiro e desestabilização total da
economia.

Mesmo nessa situação, FHC habilmente conseguiu se reeleger novamente em primeiro


turno. Fernando Henrique Cardoso se reelegeu presidente com o apoio das mesmas
forças políticas que sustentaram seu primeiro mandato governamental. A aliança
política congregava o PSDB, PFL e parte do PMDB.

O segundo mandato

Um dos trunfos da propaganda eleitoral do governo para reeleger FHC foi a defesa da
manutenção da política econômica. O governo prosseguiu com o programa de
privatizações das empresas estatais e com o Plano Real. A estabilidade econômica
dependia de uma política fiscal e tributária complexa.

Um dos pontos centrais para a manutenção da estabilidade econômica duradoura foi o


controle dos gastos públicos. Foi visando esse objetivo que o governo FHC aprovou, em
maio de 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal. Tal Lei impede que prefeitos e
governadores, e também o governo federal, gastem mais do que a capacidade de
arrecadação prevista no orçamento dos respectivos Estados, municípios e da União.

A manutenção do Plano Real e das elevadas taxas de juros, as metas de ajustes fiscais e
o controle dos gastos governamentais provocaram um déficit de investimentos do
Estado em setores "chave" da economia. Quando o país começou a sair da recessão e a
economia cresceu, embora a partir de índices inexpressivos, a falta de investimentos em
infra-estrutura impediu o desenvolvimento do país.

No setor elétrico, por exemplo, os baixos investimentos estatais e a ocorrência de longa


estiagem (falta de chuvas) levou ao colapso as centrais hidroelétricas ameaçando o país
com o chamado "apagão". O racionamento de energia elétrica foi imposto sobre a
população e a economia brasileira sofreu grande estagnação.

A reorganização das oposições

No primeiro mandato governamental, Fernando Henrique Cardoso conseguiu conter as


oposições políticas ao seu governo e aprovar com facilidades projetos políticos e
reformas constitucionais. Porém, no segundo mandato, o presidente teve maior
dificuldade de governar devido à reorganização das oposições.

No Congresso Nacional, o Partido dos Trabalhadores (PT) liderava a oposição ao


governo. O PT articulou os movimentos sociais e sindicais e as esquerdas de modo geral
formando uma ampla frente de oposição parlamentar. O MST continuou a pressionar o
governo a partir da iniciativa de invasão de propriedades agrárias e ocupação de sedes
de órgãos burocráticos governamentais.

Em muitas ocasiões, as invasões agrárias desencadearam conflitos armados no campo.


As centrais sindicais promoveram diversas marchas e manifestações de trabalhadores
em defesa de reajustes e aumentos salariais para o funcionalismo público e a iniciativa
privada.

Vitória histórica da oposição

Ao se aproximar do pleito que escolheria o sucessor de Fernando Henrique Cardoso, o


governo apoiou a candidatura do ministro da saúde, José Serra, do PSDB em aliança
com o PMDB. Os outros candidatos que disputaram o pleito foram: Luiz Inácio Lula da
Silva (PT / Pc do B / PL / PMN / PCB), Anthony Garotinho (PSB / PGT / PTC), Ciro
Gomes (PPS / PDT / PTB), José Maria de Almeida (PSTU) e Rui Costa (PCO).

Nenhum obteve índice de votação suficiente para se eleger no primeiro turno. Os dois
candidatos mais votados foram Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra. No segundo
turno das eleições, Lula obteve 61,3 por cento dos votos; e José Serra, 38,7 por cento.

A expressiva vitória de Lula foi um marco para o Brasil, pois, além de ser um
representante das forças políticas de esquerda, Lula é um líder popular carismático que
construíu sua trajetoria política no movimento sindical. Enormes expectativas foram
depositadas na vitória eleitoral de Lula.

O governo Lula representa uma nova etapa na democracia brasileira.

No ano de 2002, as eleições presidenciais agitaram o contexto político nacional. Os


primeiros problemas que cercavam o governo FHC abriram brechas para que Lula
chegasse ao poder com a promessa de dar um outro rumo à política brasileira. O
desenvolvimento econômico trazido pelo Plano Real tinha trazido grandes vantagens à
população, entretanto, alguns problemas com o aumento do desemprego, o
endividamento dos Estados e a distribuição de renda manchavam o bloco governista.

Foi nesse contexto que Lula buscou o apoio de diversos setores políticos para
empreender uma chapa eleitoral capaz de agradar diferentes setores da sociedade
brasileira. No primeiro turno, a vitória de Lula sobre os demais candidatos não foi
suficiente para lhe dar o cargo. Na segunda rodada da disputa, o ex-operário e retirante
nordestino conseguiu realizar um feito histórico na trajetória política do país.
Lula se tornou presidente do Brasil e sua trajetória de vida fazia com que diversas
expectativas cercassem o seu governo. Seria a primeira vez que as esquerdas tomariam
controle da nação. No entanto, seu governo não se resume a essa simples mudança.
Entre as primeiras medidas tomadas, o Governo Lula anunciou um projeto social
destinado à melhoria da alimentação das populações menos favorecidas. Estava lançada
a campanha “Fome Zero”.

Essa seria um dos diversos programas sociais que marcaram o seu governo. A ação
assistencialista do governo se justificava pela necessidade em sanar o problema da
concentração de renda que assolava o país. Tal medida inovadora foi possível graças à
continuidade dada às políticas econômicas traçadas durante a Era FHC. O combate à
inflação, a ampliação das exportações e a contenção de despesas foram algumas das
metas buscadas pelo governo.

A ação política de Lula conseguiu empreender um desenvolvimento historicamente


reclamado por diversos setores sociais. No entanto, o crescimento econômico do Brasil
não conseguiu se desvencilhar de práticas econômicas semelhantes às dos governos
anteriores. A manutenção de determinadas ações políticas foram alvo de duras críticas.
No ano de 2005, o governo foi denunciado por realizar a venda de propinas para
conseguir a aprovação de determinadas medidas.

O esquema, que ficou conhecido como “Mensalão”, instaurou um acalorado debate


político que questionava se existia algum tipo de oposição política no país. Em meio a
esse clima de indefinição das posições políticas, o governo Lula conseguiu vencer uma
segunda disputa eleitoral. O novo mandato de Lula é visto hoje mais como uma
tendência continuísta a um quadro político estável, do que uma vitória dos setores de
esquerda do Brasil.

Independente de ser um governo vitorioso ou fracassado, o Governo Lula foi uma


importante etapa para a experiência democrática no país. De certa forma, o fato de um
partido formalmente considerado de esquerda ascender ao poder nos insere em uma
nova etapa do jogo democrático nacional. Mesmo ainda sofrendo com o problema da
corrupção, a chegada de Lula pode dar fim a um pensamento político que excluía a
chegada de novos grupos ao poder.

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