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José Ricardo Beltramini de Melo RA: T499IC-5

Disciplina: Teoria Psicanalítica - 976P

Filme: Metrópolis (1927)

Introdução:
O filme “Metrópolis” (1927) não só faz parte de um movimento
cinematográfico, compondo um de seus principais ícones, mas também inicia
paradigmas que permanecem até os dias de hoje, balizando quase cem anos de produção
áudio visual. O filme de Fritz Lang não é apenas um dos filmes mais populares na
história do expressionismo alemão, mas também se coloca como a principal referência –
e consequentemente a principal fonte – de fonte científica. A parte de toda a
importância de outros filmais que detiveram maior prestígio em sua época, até mesmo
de outros filmes com maior bilheteria dentro do próprio estilo, Metrópolis trouxe
consigo quebra de paradigmas, postulando assim, novos paradigmas, fundados em sua
própria estética.

Sendo o primeiro filme a estabelecer a estética de um ciborgue, a desenhar as


formas humanoides para um robô, acaba por romper a métrica do que era um robô,
assim como redefinir a feição que a temática das máquinas poderia estabelecer. Rompe
com o paradigma da representação de robôs ao mesmo tempo que inicia a ideia de
representar uma máquina com a silhueta humana, traços e mimetização das ações do ser
humano.

Fruto de uma adaptação do romance homônimo de 1925 escrita por Thea von
Harbou, esposa do responsável pela direção e concepção do filme Fritz Lang. As
relações entre a psicanálise e o cinema advém desde os primórdios de suas criações: as
possibilidades de tantas imagens e situações oníricas que o cinema produziu detém
debates e discussões atemporais, por mais antigo ou datado que uma obra possa ser, há
possibilidades para diferentes interpretações de seu universo não só imagético, mas à
todo o universo social contido na película.

O filme não é consagrado apenas por suas inovações estéticas, mas também pelo
impacto de algumas de suas imagens. Toda obra é imbuída de simbolismos, como a
Torre de Babel, a concepção de duas cidades colossais coexistindo em um mesmo
espaço, a alusão ao deus Moloch1 incorporado em uma máquina, a transformação do
robô em humano, a apresentação do homem-máquina, a imagem bíblica da mulher da
Babilônia produzindo os pecados nos homens, enfim, a obra foi capaz de produzir
muitas cenas emblemáticas que perduram dentro da cultura pop e na cultura cinéfila
durante os quase cem anos de sua existência.

Metodologia:
Por mais vasta que seja a relação entre psicanálise e cinema, sempre se faz
presente a necessidade de estabelecer recortes para a análise. Recortes do material e da
metodologia que será utilizada para trabalhar esse objeto. Sendo assim, seguindo a
proposta da disciplina, o filme “Metropolis” estará sob a ótica dos autores trabalhados
em sala, a saber Melanie Klein e Donald Winnicott.

Assim, temos as elaborações de Klein sobre o Estado de aniquilamento. Sobre o


sentimento de angústia que não encontra maneiras de ser externalizado.

..

Análise:

De início somos apresentados a Freder, um jovem morador da cidade de


Metropolis. Freder é apresentado inicialmente como uma criança, não havendo
preocupações em suas atividades diárias, apenas o regozijo da diversão. Conforme
encontra Maria, inicia um processo de “tomada de consciência” do mundo a sua volta.
Inicia seus questionamentos, movimenta-se, sai em busca da mulher que acabará de se
apaixonar e descobre todo um novo universo de sentido, ampliando seu horizonte de
mundo, ou seja, adquire conhecimento dos processos sociais e estruturais que há ao seu
redor.

Tal transição é marca por Freder brincar com uma mulher, enquanto há também
uma sensualidade, um erotismo entre eles, ficando evidente ao aproximarem para
consumarem um beijo. No ato, aparece Maria em cena, acompanhada de crianças
dizendo que todos a sua volta são seus irmãos. Freder imediatamente leva a mão no
coração e logo é repreendido por seu empregado ao perguntar quem era tal mulher que

1
Moloch, ou Moloque, é um deus de origem hebraica, tornando-se assim um deus pagão para o
cristianismo.
aparecera diante de seus olhos. Ao correr em direção a entrada que Maria utiliza para o
ambiente, Freder em um ato de impulsividade acaba adentrando a cidade dos
trabalhadores.

Temos na abertura do filme a descrição de Metropolis como uma cidade na


superfície, enquanto há também a cidade baixa, onde os responsáveis por erigir e manter
Metropolis vivem. Diante da chegada de Freder a cidade baixa, vislumbramos suas
formas. No momento em que uma máquina apresenta problemas de funcionamento e
causa uma explosão, o jovem protagonista se vê horrorizado, tendo visões de alucinação
em que pessoas eram sacrificadas ao deus Moloch que tomava contorno de uma face
com a boca aberta nas ferragens do maquinário.

Na abertura: “O mediador entre a cabeça e as mãos tem que ser o coração”

Mora na “Nova Torre de Babel” que é de seu pai; simbólico relacionado a Torre

Maneira que fica surpreso/ansioso ao chega na sala do pai; figura paterna lhe inspira um
misto de terror

Pai é a figura de autoridade que causa medo no empregado do escritório também

Pai permanece seco perante a descrição/narrativa emocionada do filho sobre suas


experiências recentes

Freder diz querer olhar nos olhos dos homens cujos filhos são meus irmãos e irmãs... –
rapidamente estabelece um vínculo de empatia com as crianças, e com os trabalhadores visto
sua reação a explosão.

A cidade é do pai. E ele é o “cérebro” da cidade, quanto “nós” somos a luz

Pai permanece indiferença pelos clamores do filho a respeito daqueles que construíram a
cidade. E ao ser confrontado perguntando se o lugar deles era nas profundezas, o pai afirma

Filho fica em estado catatônico ao vislumbrar o pensamento de que eles poderiam se revoltar,
enquanto o pai aparenta cinismo a respeito de tal ideia

Pai perde o ar altivo ao que o capataz da cidade baixa lhe diz haverem “planos”

Joseph está suando frio, com a confrontação do chefe alegando sua incompetência
novamente. É demitido, o que causa o espanto de Freder e de Joseph, onde ambos abaixam a
cabeça perante o pai.

Filho confronta o pai Fredersen a respeito de sua decisão e as implicações que isso gera:
significa ir direto para a cidade das profundezas. Freder sai correndo da sala e vai em busca de
Joseph que está para cometer o suicídio com uma arma de bolso.
Josaphat inicia o choro. Freder se comove e pergunta se Josaphat quer trabalhar para ele.

Fredersen diz a um novo funcionário que quer ser informado de todos os passos do filho

Freder avista um funcionário exausto e vai ao seu encontro, exclamando “irmão”. Assume o
cargo do trabalhador, dizendo que quer trocar de vida com ele.

Trabalhador que trocou de lugar com Freder tem um vislumbre da vida de “luxúria” e prazer
que está inserido, tendo imagens de festas, danças e mulheres, e decide não seguir com o
plano de Freder

Fredersen se depara com um busto encoberto por grandes cortinas e chora. É identificada
como a esposa de Fredersen e mãe de Freder. Morreu após dar a luz a Freder. Inventor
energicamente o afasta da escultura quando Fredersen tenta aproximar-se.

Fredersen diz ao inventor Rotwang que ele deveria ser capaz de esquecer, ao passo que o
inventor retruca: só me esqueci de algo apenas uma vez na vida: que Hel era uma mulher e
você um homem. Fredersen apresenta uma aceitação maior, e diz para que Rotwang a deixe
em paz, pois está morta para nós. Rotwang fica mais energético ainda e responde
enfaticamente que para ele não existe morte e que para ele Hel está viva.

Com isso, aponta para sua mão e questiona se Fredersen acha que Rotwang perder uma mão
fora um preço alto a se pagar para recriar Hel. Rotwang demonstra estar agitado e nervoso,
mas acalma-se e pergunta com um semblante tranquilo se Fredersen quer vê-la.

Surge por de trás de uma nova cortina uma figura humanoide feita de metal

Ao que Fredersen está visivelmente incomodado, Rotwang enfatiza a pergunta que fizera: não
valeu realmente perdeu uma mão para construir o ser do futuro, o homem-máquina? Diz que
em 24 horas ninguém será capaz de distinguir as diferenças de um homem-máquina e um
outro ser humano

Há uma distância no semblante de cada um ao se incarar. Fredersen apresenta um rosto com


expressões de pesares, enquanto Rotwang mantém uma postura e expressão impositiva,
perguntando o que traz o empresário até ele. É respondido que está ali atrás de seu
conhecimento, indaga a respeito dos planos dos operários.

Freder descobre um dos planos no bolso de seu recém descoberto operário

Grita em busca do pai diante da exaustação máxima na função do operário, momentos antes
da troca de turnos

A loira aparece novamente diante os olhos de Freder, que fica mais uma vez impressionado e
sem reações, ajoelhando-se perante a ela e a cerimônia que está professando.

Marie exclama que um mediador necessita do cérebro e das mãos. E o media entre a cabeça e
as mãos deve ser o coração. Todos se ajoelham perante ela. Ao ser interrogada onde está o
mediador, Marie diz que ele em breve chegará, e Freder é iluminado, apertando o peito.

Freder é o único a permanecer-se de joelhos. Exclama por Marie no momento em que ela está
para sair do recinto. Marie vai até ele e indaga se o mediador enfim chegará. Freder a
responde: você me chamou, aqui estou”. Há o beijo entre eles. Tudo presenciado por Rotwang

Fredersen pede para Rotwang colocar o rosto de Marie no homem-máquina, para destruir a fé
dos funcionários nela
Freder experiência uma missa sobre o apocalipse e sua vinda através da figura de uma mulher,
babilônia. diz em face as esculturas dos sete pecados capitais e de uma estátua da morte: se
você tivesse vindo antes, não teria me assustado. Mas agora peço que se afaste de mim e dos
meus amados.

Diz a Josaphat acordar Georgy, e fica surpreso com a negativa de Josaphat. Diz que precisa
cumprir seu destino, ao que Josaphat exclama positivamente que será a pessoa de confiança
que Freder procura.

Freder escuta Marie gritar por socorro. Desespera-se até conseguir abrir a porta da casa de
Rotwang. Lá, de encontro com o desconhecido, fica desconfiado por portas abrirem e
fecharem indicando-lhe uma direção.

Indaga Rotwang onde está Maria, ao que o inventor responde que ela está com Fredersen.

Rotwang escreve uma carta a Fredersen dizendo que ela é “a mais perfeita e obediente
ferramente que o homem já teve”

Freder encontra o protótipo e Fredersen se abraçando. Há imagens de clarões representando


sua surpresa e desespero. Freder passa por vertigens, alucinações e desmaia.

Freder tem alucinações enquanto está se recuperando do desmaio. Suas alucinações são com
o monge da missa profetizando a chegada do apocalipse

Os homens no jantar de Rotwang ficam em êxtase ao ver o homem-máquina dançar

Freder continua alucinando, enxergando a estátua da morte da igreja se movendo e diz que a
morte chegou na cidade

Maria é a causa por sucessivas disputas e mortes entre os homens ricos.

Maria , que está aprisionada, demonstra estar atormentada com a situação que Fredersen
deseja criar e com o que Rotwang está realizando com seu homem-máquina utilizando-se da
face e vida de Marie

Frederson se desespera ao que Magro o diz que os trabalhadores estarão exigindo seus filhos.
Frederson está com medo pela vida de seu filho, e ao se confrontar com a realidade de que
crianças possivelmente morrerão no confronto, balança a cabeça em negação

Frederson ao ver o filho lutando pela vida se desespera novamente, entrando em um estado
sem expressar reações. Após a garantia que seu filho está seguro, sai em disparada para
dentro da Igreja, saindo junto de seu filho e Maria, sente-se receoso em apertar a mão do
carrasco, não rompendo a barreira da luta de classes. Coube a Freder realizar a união de seu
pai, intitulado por Maria de cérebro, e o carrasco, dito por ela de mãos. Assim, Freder realiza
seu destino enquanto mediador, seu papel de coração na equação cabeça - mão

Os funcionários não são imbuídos de nenhuma profundidade, no sentido de que não


apresentam profundidade psíquica. São identificados apenas de acordo com sua ocupação. E
suas representações correspondem, pois aparecem como semi-mortos, andando em hordas,
sem expressão, sem dispersão, apenas um movimento cadenciado em sentidos definidos
A constante transformação e associação da figura de Marie com o profano. Continuamente até
o ápice dela representar a apoteose da profanação do sagrado: despertou os pecados nos
homens ricos do jantar, finalizando na pose de babilônia, a detentora dos pecados e
anunciadora do apocalipse

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