INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

AULA 1
TEXTO: COMPREENDER E INTERPRETAR

Professora VÂNIA ARAÚJO

 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O TEXTO
Uma frase pode ter significados distintos, dependendo do contexto
em que seja inserida. Por isso é que para entender uma passagem de um
texto, é necessário confrontá-la com as demais partes que o compõem,
para que não se dê a ela um significado diferente do que de fato tenha.
Não se pode isolar frase alguma de um texto e tentar conferir-lhe o
significado que bem se deseja.
O contexto é uma unidade linguística maior na qual se encaixa
uma unidade menor. Assim, a frase encaixa-se no contexto do parágrafo,
o parágrafo encaixa-se no contexto do capítulo e o capítulo, por sua vez,
encaixa-se no contexto da obra toda. Cabe explicar que nem sempre o
contexto vem explicitado linguisticamente, ou seja, o texto mais amplo
(dentro do qual se encaixa uma passagem menor) pode estar apenas
implícito. Neste caso, os elementos da situação em que se produz o texto
podem dispensar maiores esclarecimentos, já que dá como pressuposto o
contexto em que esse texto se situa.
Observe a importância do contexto para a compreensão da ideia apresentada na
tirinha do “Hagar, o terrível”:
 Na tirinha apresentada, a primeira informação de que se dispõe
para dar início ao raciocínio é a fala de Hagar esclarecendo que nem
todos os vikings usam chifres, já que chifres, em sua comunidade,
denotam importância. No último quadrinho, quando Helga, a esposa
de Hagar, é apresentada, podemos observar o tamanho de seus
chifres. Ora, se os chifres denotam importância e os de Helga são
evidentemente maiores que os de Hagar, então pode-se inferir
(concluir) que ela é mais importante do que ele. E veja que neste
caso os dados fornecidos pelo contexto são suficientes para que se
processe todo o raciocínio analítico.
Entretanto, o conhecimento sobre a realidade e a utilização do
bom senso no momento de análise dos dados tornam-se fundamentais
para garantir uma conclusão verdadeira (ou possível)!
 Nenhum texto é uma peça isolada, que não manifeste a individualidade
de quem o produziu. De uma forma ou de outra, as pessoas constroem textos
para marcar um posicionamento, para participar de um debate de escala mais
ampla que seja travado na sociedade. Precisamos entender que até mesmo
uma simples notícia jornalística, sob a aparência de neutralidade, tem sempre
alguma intenção escondida.
O texto que segue é uma notícia publicada na Revista IstoÉ e utilizada
em uma prova do Cebraspe. Veja que embora se trate de uma notícia (texto
narrativo, que não deve ter a pretensão de defender qualquer ponto de vista),
o autor, de maneira subliminar, apresenta certa parcialidade no tratamento da
matéria. Por isso, é preciso tomar muito cuidado ao ler os textos cobrados
em provas. Existem alguns que aparentemente têm predomínio de uma
tipologia, mas sua essência revela outra coisa.
Observe o texto a seguir. Você notará que ele manifesta, sub-
repticiamente, o posicionamento do autor.
 Santuário ameaçado
Iniciativa que pretende legitimar a ocupação irregular do Parque do Itatiaia põe em risco o pouco que
restou da mata atlântica
O Parque Nacional do Itatiaia, paraíso ecológico no estado do Rio de Janeiro criado por
Getúlio Vargas em 1937, está correndo sérios riscos. E a culpa, desta vez, não é dos incêndios,
tão comuns na região, que abriga maravilhas naturais como o rio Campo Belo, a Cascata do
Maromba e o famoso Pico das Agulhas Negras. Hoje, para muitos especialistas, o maior
problema é a ocupação irregular de áreas de preservação permanente por casas de veraneio
particulares. Concentradas em uma região de 1,3 mil hectares, as cerca de 80 residências são
uma pedra no sapato dos administradores da área. Essa pedra, porém, ganhou potencial para
virar uma avalancha. No dia 22 de outubro de 2008, a Associação dos Amigos de Itatiaia, que
desde 1951 reúne proprietários dessas terras irregulares, deu início a uma campanha para
regularizar o que não é regularizável: a presença de propriedades particulares dentro de um
parque nacional. Se aprovado, o projeto reclassificaria parte da área do parque, que passaria
a ser um “monumento natural”, e não só legitimaria os imóveis que já existem como abriria
caminho para a construção de outros dentro da área de preservação.
João Lopes. In: Revista IstoÉ, 25/2/2009, p. 52 (com adaptações).
As questões de compreensão textual exigem do candidato
uma postura voltada para o entendimento daquilo que
realmente está escrito, ou seja, da mera decifração do código.
Neste caso, o candidato precisa buscar no texto a informação
requerida na assertiva.

Os itens das questões de compreensão de textos trazem,

geralmente, assertivas como:
 Segundo o texto...
 De acordo com o texto...
 O texto mostra que...
 O autor do texto afirma que...
As questões de interpretação textual visam a avaliar a
capacidade do leitor de extrair conclusões plausíveis a partir
daquilo que está efetivamente escrito no texto. Estão
associadas ao “julgamento da intenção do autor” e, neste caso,
não se pode chegar a conclusões pessoais sem considerar o
texto e o contexto.

Os itens das questões de interpretação de textos trazem

geralmente assertivas como:
 Depreende-se das estruturas linguísticas do texto que...
 Subentende-se do texto que...
 Pode-se inferir das ideias do texto que ...
 O autor do texto sugere que...
 ERROS CLÁSSICOS DE INTERPRETAÇÃO DOS TEXTOS
Em provas de concursos, se o candidato fizer uma leitura superficial pode ser levado
a cometer um destes três tipos de erros:
1º) EXTRAPOLAÇÃO – que consiste em
 dizer mais do que o texto; ou
 generalizar o que é particular. Veja:
TEXTO: A maioria dos comentários sobre crimes ou se limitam a pedir de volta o
autoritarismo ou a culpar a violência do cinema e da televisão por excitar a
imaginação criminosa dos jovens.
ASSERTIVA DA PROVA: Muitos acreditam que a censura aos meios de
comunicação seria uma forma de reduzir a violência entre jovens.
Observe que, em nenhuma parte do texto, está implícita (muito menos, explícita) a
informação de que muitos acreditam que a censura aos meios de comunicação seria uma
forma de reduzir a violência: o texto afirma, apenas, que a maioria dos comentários se
limita a pedir de volta o autoritarismo ou a culpar a violência do cinema e da televisão
(não se menciona absolutamente nada de censura).
2º) REDUÇÃO – que consiste em
• particularizar o que é geral;
• ater-se apenas a uma parte do texto, esquecendo outras mais
importantes;
• desprezar o contexto, prendendo-se a uma parte que tenha outro
significado. Observe:

TEXTO: Na casa todos dormiam. Todos, menos a irmã. Era quieta, essa irmã. Não
cantava, não ria; mal falava. Trazia água do poço, varria o terreiro, passava a
roupa, comia — pouco, magra que era — e ia para a cama sem dar boa-noite a
ninguém. Dormia num puxado, um quartinho só dela; tinha nojo dos irmãos.
ASSERTIVA DA PROVA: De acordo com o texto, “a irmã” permanecia acordada
enquanto o resto da família dormia.

Neste caso, observe que a informação de que a irmã dormia “num puxado”, ou seja,
fora da casa, é crucial para o candidato marca a assertiva como errada!
3º) CONTRADIÇÃO – que consiste em:
 concluir contrariamente ao texto;
 omitir passagens importantes que ocasionem fuga ao sentido original.
Veja:

TEXTO: O homem, que é racional, quando sob o domínio do ódio, pode agir
como um animal selvagem.
ASSERTIVA DA PROVA: O homem é racional, porque pode agir como um
animal selvagem.

Observe que a assertiva da prova subverteu a informação do texto, uma vez que foi
excluída a noção de condição representada pela oração “quando sob o domínio do ódio”
e essa exclusão altera, de forma drástica, a informação da oração principal. Além disso,
há uma interpretação equivocada da ideia de explicação da oração “que é racional” como
se de uma oração adverbial causal se tratasse: “porque é racional”. Em suma, toda a
ideia apresentada na assertiva da prova é contraditória em relação ao que efetivamente
afirma o texto.
ATENÇÃO!

No momento da prova, regra geral, os candidatos se

preocupam excessivamente com o tempo, razão pela qual leem
rapidamente o texto e vão diretamente às perguntas. É
exatamente esse descuido na leitura, tanto do texto quanto das
assertivas, que pode ocasionar os três problemas mencionados.
Evite essa atitude imediatista! Lembre-se de que o tempo gasto
com uma leitura bem feita é compensado na hora de responder
aos itens.
Principalmente no caso da interpretação das ideias do texto,
a atenção ao que lê é o grande trunfo de um candidato.