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A autodeterminação dos povos indígenas no Brasil e o direito à diferença: De

Vladimir Lenin a Kaká Werá Jecupé.

Max Lanio Junio ; Poliene dos Santos Bicalho²


ˡDiscente do Curso de História, PIBIC/CNPq, Unidade Universitária de Ciências
Socioeconômicas e Humanas e-mail:maxjunio8@gmail.com
²Orientadora e docente no curso de História, Universidade Estadual de Goiás,
Anápolis/GO

INTRODUÇÃO
O presente relatório tem como principal objetivo apresentar os resultados dos
primeiros seis meses de pesquisa. O projeto, que se iniciou oficialmente em Agosto
de 2020, teve a orientação da Prof.ª Dr.ª Poliene dos Santos Bicalho, que conduziu
rigorosamente o projeto e os seus desdobramentos até o presente momento. Isto
posto, aqui serão expostas todas as atividades e leituras realizadas, bem como
todos os resultados obtidos e as dificuldades encontradas no decorrer dessa
pesquisa.
O projeto de pesquisa tem como proposta entender as questões que
envolvem o conceito de autodeterminação dos povos indígenas no Brasil, tendo
como base referencial a literatura índigena, os documentos políticos não indígenas e
autores marxistas-leninistas que se propuseram a estudar o tema em outras
oportunidades e contextos. Para tanto, far-se-á necessário a introdução desses
estudos perante ao contexto que estão inseridos os indígenas no Brasil e a forma
com que expressam na literatura a autodeterminação de seus povos. A
autodeterminação dos povos Indígenas no Brasil surge totalmente contraposta a
denominações impostas pelo encontro com os colonizadores durante o período
colonial. Porém, ao pesquisar além das propostas iniciais expostas no plano de
trabalho, encontrou-se no tema uma oportunidade para que se pudesse elencar
objetos da teoria do direito que ajudasse a compreender de maneira mais assertiva
a questão da autodeterminação dos povos. Fora do alcance das terras brasileiras, o
tema foi abordado por um frade dominicano espanhol, que comprometeu-se ao
longo de sua vida a defender os indígenas que tiveram as suas terras usurpadas
pelos colonizadores espanhóis, na matéria de direito o trecho que será apresentado
a seguir, contribui para o entendimento da autodeterminação dos povos indígenas
como essencial, quando relacionado e inserido também ao Brasil e os povos
originários brasileiros. Portanto, sobre a questão da autodeterminação dos povos
ameríndios LAS CASAS, Bartolomeu em “Algunos principios que deben servir de
punto de partida en la controversia destinada a poner de manifiesto y defender la
justicia de los indios”, defende:

Quaisquer nações e povos, por infiéis que sejam, possuidores de


terras e de reinos independentes, nos quais habitavam desde o princípio,
são povos livres e que não reconhecem fora de si nenhum superior, exceto
os seus próprios, e este superior ou estes superiores têm o mesmo pleno
poder e os mesmos direitos do príncipe supremo em seus reinos, que os
que agora possui o imperador em seu império. [...] E a razão disso [regime
temporal de poder] é que todas estas nações e povos são livres e também
as terras que habitam, e não reconhecem fora de si nenhum senhor nem
superior, tanto de suas pessoas como de suas terras e coisas particulares.
[...] Têm igualmente regiões e reinos independentes, e nestes exercem
desde tempo imemorial domínio e jurisdição livres e direitos de mando; e
tais regiões as ocuparam e as habitaram por autorização e concessão
divinas, desde o princípio, por tê las encontrado desocupadas e sem que
fizesse parte dos bens e posses de ninguém [...]
LAS CASAS, 1997b, p. 1251, tradução livre.

O frade em sua reflexão aborda a situação dentro de um contexto diferente ao


que se pretende discutir aqui, mas não é necessário muito esforço para que se veja
uma notável relação com a questão índigena nacional. O objeto de estudo faz-se
presente em diversas fontes, a maioria delas foram apresentadas no plano de
trabalho mas outras, descobertas e exploradas, como a teoria do direito começam
a se mostrar cada vez mais claras e úteis, corroborando para um acelerado
entendimento do objeto de estudo proposto. Porém, urge a necessidade de explorar
a descrever sobre as principais fontes e real objeto de estudo. A literatura índigena
cumpre um papel esplendoroso nesse entendimento, uma vez que é nela, onde os
povos encontram espaço para que possam se expressar e reafirmar as suas
próprias identidades e particularidades, oriundas frequentemente do direito de
autodeterminação. Para tanto, as análises e reflexões obtidas parcialmente na obras
prontamente direcionadas a este projeto apontam indubitavelmente para que o
direito à autodeterminação dos povos seja encarado como um direito a diferença,
uma vez que a oficialização desse direito realça grandiosamente as particularidades
e a forma de lidar com a vida de cada etnia. Os textos literários que foram utilizados
como material corroboram imensamente com o propósito introdutório do projeto,
pois, são uma fonte imensurável de conhecimento, uma vez que são escritos por
aqueles que o vivem. Sobre a autodeterminação dos povos, Jecupé sublinha:
Para o índio, toda palavra possui espírito. Um nome é uma alma provida de
um assento, diz-se na língua ayvu. É uma vida entonada em uma forma.
Vida é o espírito em movimento. O Espírito, para o índio, é silêncio e som. O
silêncio-som possui um ritmo, um tom, cujo corpo é a cor. Quando o espírito
é entonado, torna-se, passa a ser, ou seja, possui um tom. Antes de existir a
palavra ‘índio’ para designar todos os povos indígenas, já havia o espírito
índio espalhado em centenas de tons. Os tons se dividem por afinidade,
formando clãs, que formam tribos, que habitam aldeias, constituindo
nações. Os mais antigos vão parindo os mais novos. O índio mais antigo
desta terra hoje chamada Brasil se autodenomina Tupy, que na língua
sagrada, o abanheenga, significa: tu = som, barulho; e py = pé, assento; ou
seja, o som-de-pé, o som-assentado, o entonado. De modo que índio é uma
qualidade de espírito posta em uma harmonia de forma.
Jecupé (1998, p.13)

Portanto, a valorização de cada diferença entre as diversas etnias indígenas,


costumes e crenças é o que fortalece o senso de pertencimento de cada um, a
autodeterminação dos povos aqui estudada tem como principal objetivo realçar
essas características únicas e valorizar uma paleta com centenas de tons e não algo
uniforme, como os colonizadores impuseram como classe intelectual dominante.
OBJETIVO GERAL
Compreender a importância do direito de autodeterminação dos povos
indígenas, bem como a exaltação da diferença entre eles, no que tange a
linguagem, os costumes, rituais e demais características. Para tanto, as fontes
indígenas fazem se ideais, uma vez que expressam em sua totalidade as
especificidades de cada povo. Um dos objetivos dessa pesquisa também é contribuir
para que esse direito seja melhor entendido em todas as camadas da sociedade,
pois, mesmo com diversos estudos, obras e avanços, os povos indígenas ainda
estão à margem da sociedade e por vezes são julgados e desrespeitados. Para
tanto, a contínua leitura das obras faz-se necessária para compreender como a
autodeterminação dos povos e a oralidade contribui para a autonomia e o
fortalecimento do senso de pertencimento dos povos indígenas no Brasil.

METODOLOGIA
Foi utilizado como objeto de estudo para compreensão do direito à
autodeterminação dos povos desta pesquisa, diversas obras da literatura índigena
(poemas, artigos, livros, contos, jornais, trabalhos acadêmicos) que foram
complementadas por obras de autores marxistas, como Vladimir Lenin, Leon Trotsky
e Mariátegui, que também foram lidos e discutidos. Diante das sessões de leitura e
discussão, traçou-se relações entre os autores marxistas, os documentos
encontrados sobre o tema e as obras literárias indígenas. Para a finalidade, é
imprescindível a realização de uma comparação entre os dois lados já apresentados
por meio de bibliografias históricas, geográficas, literárias e documentos políticos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nesta primeira etapa do projeto verificamos que o estudo dos textos indígenas
reforçam a necessidade de se entender e valorizar a oralidade. A garantia da
autodeterminação dos povos indígenas é também, dentro dessa perspectiva, a
garantia da autonomia dos povos. Dois resultados em dois aspectos foram
alcançados no decorrer da pesquisa. O aspecto externo, que utiliza-se da
autodeterminação para repudiar a dominação estrangeira e do próprio país em
período colonial, e o interno, que lida inteiramente com a representatividade
índigena dentro de seu próprio território e que trata de preservar a sua própria
identidade única e soberana. Sendo assim, a obtenção de relatos encontrados nos
textos indígenas evidencia o segundo fator com exatidão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reconhecendo devidamente o momento em que vivemos devido a pandemia
causada pelo novo coronavírus, o COVID-19 e o estado de calamidade nacional,
nota-se que os esforços demandados nesse projeto de pesquisa coordenado pela
Prof.ª Dr.ª Poliene dos Santos Bicalho corroboraram para o sucesso parcial do
projeto e dos resultados aqui apresentados parcialmente. 14 anos após a declaração
dos direitos humanos da ONU que garantiu aos povos indígenas o direito à
autodeterminação, o caminho para o respeito e a garantia desse direito ainda é
longo e portanto, pesquisas e estudos desenvolvidos nesta temática, como esse
projeto, visam corroborar para um melhor entendimento e finalmente a garantia
plena do direito à diferença presentes no anseio de cada povo índigena.
REFERÊNCIAS

JECUPÉ, Kaka Werá. A terra dos mil povos: história indígena do Brasil contada por
um índio. 3.ed. São Paulo: Peirópolis, (1998, p.13)

LAS CASAS, Bartolomé de. Tratados, vol. II. Fondo de Cultura Económica, México,
2ª reimpressão, (1997b, p.1251). tradução livre.

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