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ARQUIVO Textoparaanpuhse
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Resumo: Itabaiana localiza-se na região central do Estado de Sergipe e ocupa uma área de 364
quilômetros quadrados. É o mais importante município da microrregião do Agreste Sergipano.
Atualmente a cidade com 125 anos de emancipação política passa por inúmeras iniciativas de resgate
da memória e do seu patrimônio. O presente texto apresenta os principais patrimônios dessa cidade e
sua ligação com o museu municipal dando ênfase à política de valorização do patrimônio do
município através da implantação dessa instituição. E de como esse processo é contaste e continuo
através da comunicação entre os diferentes atores culturais. Pois, o principal objetivo do museu é ser
uma ponte entre a identidade cultural e a memória dos seus cidadãos que buscam através da instituição
uma forma de rememorar esse legado.
Introdução
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Museóloga e Gestora do Museu Artístico e Histórico de Itabaiana “Antonio Nogueira”, Mestranda de
Ciência da Religião da Universidade Federal de Sergipe. ludmilla.silvadeoliveira@gmail.com
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Identidade e cultura2
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Texto retirado e adaptado do blog Pesquisa Folclore Serrano de Wanderlei Menezes, historiador do
município. In: culturaitabaiana.blogspot.com (Acesso outubro/2011).
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Para Beatriz Góis Dantas (1994), que é uma estudiosa da cultura popular sergipana, a
busca das origens tem sido uma das vertentes interpretativas mais freqüentes nos estudos do
Folclore tentando filiar traços culturais às diferentes etnias que entraram na composição do
povo brasileiro.
A cultura popular sergipana é carente de estudos aprofundados. As atividades
modernas estão sendo “descentradas”, ou seja, deslocadas ou fragmentadas. Como agravante
dessa descentralização, a cultura nacional contribui para criar padrões de alfabetização
universais que favorecem para que as culturas populares percam suas características ao longo
do tempo.
Marcos Ayala e Maria Ignez Novais Ayala (1987), partindo do ponto de vista de
vários estudiosos da cultura popular brasileira, salientam a concepção de que a cultura popular
é rústica, ingênua e algo primitiva. Além disso, há a preocupação do registro das
manifestações para evitar o desaparecimento, já que as obras do passado são de fundamental
importância para a sobrevivência das culturas e servem para a análise e o seu estudo posterior.
Segundo os autores, há uma hegemonia étnica nos grupos culturais brasileiros, demonstrando
a identidade típica de um país influenciado por diferentes nações. Na concepção de Carlos
Rodrigues Brandão (1982), a cultura popular é assim justamente porque há nisso um forte e
dinâmico teor de resistência política às inovações impostas pelo colonizador ou pelas classes
dominantes. O conteúdo e a forma tradicionais dos modos de “sentir”, pensar e “agir” do
índio, do povo colonizado da comunidade camponesa são uma forma de resistir a padrões
equivalentes, modernos e incorporados à força como instrumentos de dominação através da
distribuição de valores próprios de cultura.
Quando cientes das transformações que as culturas sofrem de geração a geração,
percebemos um quadro preocupante na sua manutenção, pois uma sociedade que não se
reconhece está fadada à perda de sua identidade e ao enfraquecimento de seus valores mais
intrínsecos. O envolvimento da sociedade no processo de fortalecimento de uma cultura é
fundamental para a construção de uma opinião consciente e ativa na evolução de sua
cidadania.
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aquilo que é considerado patrimônio cultural; trata-se de uma verdadeira ‘luta’ para que se
mantenham vivos e influentes.
Partindo do pressuposto de que a cultura popular também faz parte de uma vertente
política, se faz necessário que os órgãos públicos elaborem ações no sentido de resgatar e
preservar os folguedos, as danças, os rituais, os mitos, lendas em fim, tudo aquilo que é
considerado patrimônio cultural de um povo para que haja uma continuidade destes para
gerações e que, se houver influência dos meios externos, que estes não sejam
descaracterizados em sua totalidade.
Como observa Itaqui (2000) a cultura é um espaço privilegiado que nos permite, de
forma crítica, trabalhar nos contrastes, nas diferenças para possibilitar aos sujeitos desse
processo rever-se, e nesses espelhos se entenderem individual e coletivamente. A política
cultural para este autor é sempre um ato de iluminação, de transformação. Não é um processo
de contemplação ou de afirmação de uma situação dada, mas de enfrentamento: é a criação de
espaços sociais de construção de cidadania, de participação, de libertação.
Terra de ceboleiros3
Quem nunca ouviu falar na terra da cebola, nos ceboleiros ou nos papa-cebolas? Essas
expressões populares ligadas a Itabaiana atualmente – bastante utilizadas e difundidas em
todo Estado de Sergipe - constituem parte do patrimônio cultural imaterial de Sergipe sem o
reconhecimento oficial.
Ao que tudo indica segundo Carvalho (1996), a expressão papa-cebola remota os
tempos imperiais. Em meados do século XIX, as principais feiras de Sergipe estavam
concentradas na região do Cotinguiba. O itabaianense, considerado um comerciante nato,
comercializava nas ricas regiões dos canaviais por não ter um centro comercial estruturado e,
os comerciantes se abasteciam em outras vilas e cidades de Sergipe e Bahia. Dizem que não
havia, como até nos dias atuais, uma só feira em Sergipe que não tivesse um itabaianense. A
histórica e cultural cidade de Laranjeiras chamava atenção na segunda metade do século XIX
pela pujança econômica e cultural. A feira de Laranjeiras, pela proximidade e importância, era
para onde afluíam caravanas de itabaianense que dominavam a feira de tal forma que eram
hostilizados pelos habitantes locais. Nessa época, a sociedade itabaianense era formada,
sobretudo, por humildes comerciantes, lavradores e criadores. Homens rudes intelectualmente
pela falta de instrução pública, porém espertos e aventureiros. Laranjeiras era o berço da
intelectualidade sergipana, terra de João Ribeiro e de refinada elite açucocrata. Os gêneros
alimentícios de primeira necessidade consumidos em Laranjeiras eram produzidos em
Itabaiana. As férteis terras margeadas pelo Cotinguiba eram destinadas à plantação de cana
para exportação. Eram os sítios serranos que abasteciam o comércio interno sergipano, daí o
rótulo de cidade celeiro de Sergipe. Ainda segundo esse mesmo autor, a forma que os
laranjeirenses usaram para ferir o orgulho dos itabaianenses foi de denominá-los de papa-
cebolas.
Por que papa-cebolas? Itabaiana tinha produção razoável nas férteis encostas serranas
da verdura acre de cheiro forte. Chamar os itabaianense de papa-cebolas era o mesmo que
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Texto retirado e adaptado do blog Pesquisa do Folclore Serrano de Wanderlei Menezes historiador
do Municipio. In: culturaitabaiana.blogspot.com (Acesso em outubro/2011).
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linguajar itabaianense que, praticamente, se tornou sinônimo de todos aqueles que nascem ou
moram em Itabaiana. Se no passado seu uso era uma forma pejorativa, no presente a função é
outra: tornou-se um elogio, uma forma de identificação dos itabaianenses, um patrimônio
cultural. Contribuiu decisivamente para o fortalecimento de terra da cebola a construção do
Mercado de Hortifrutigranjeiros, nosso famoso Mercadão, em 1989. Nesse grande empório
comercializam-se volumosas quantidades de cebolas produzidas em Itabaiana e,
principalmente, provenientes de outros estados.
O apelido adentrou de tal forma o imaginário social itabaianense que o mascote da
Associação Olímpica de Itabaiana, principal clube de futebol da cidade e um dos mais
tradicionais do Estado de Sergipe, é uma cebola vestida com o uniforme tricolorido de azul,
vermelho e branco. Até mesmo o universo acadêmico sofreu a ação do acebolamento social.
O Campus Universitário “Prof. Alberto Carvalho” (UFS) tem como mascote, escolhido em
votação, uma cebola – o cebolufs.
Portanto, a palavra ceboleiro, usada no contexto de identificação do itabaianense, é um
patrimônio cultural imaterial sergipano por ser uma expressão cultural que gera identidade e
continuidade para a comunidade itabaianense e sergipana.
Rua Boanarges Pinheiro. Em 2010 com o falecimento do seu filho o professor de geografia
José Nogueira, as peças são doadas pela família à Prefeitura Municipal de Itabaiana, nesse
mesmo ano é criado o cargo de museóloga pelo município e a Secretaria Municipal de Cultura
começa a empreender ações em prol da criação do museu e da preservação da cultura e
memória.
Outra iniciativa se deu no fim da década de 90 quando o governo do Estado de Sergipe
com a ação de muitos colaboradores, entre eles moradores da cidade, foi aberto o Memorial
da Serra. Conforme Menezes, acima citado, o espaço teve vida curta e as peças ou foram
devolvidas aos proprietários ou algumas foram até extraviadas.
diferentes segmentos, com destaque para Etelvina Amália da Siqueira poetisa, professora e
escritora considerada símbolo da intelectualidade sergipana.
Outras ações também estão sendo realizadas como distribuição de solicitações as
famílias mais tradicionais para arrecadação de peças para o acervo, seja em forma de
empréstimos ou doação; espera-se que esta ação leve à sensibilização da sociedade e a maior
interação com o projeto, enriquecendo a iniciativa. Outra expectativa é o museu incremente,
mesmo que indiretamente, o movimento do comércio já que pode atrair visitação à cidade.
No entanto, a principal missão do museu é promover a apropriação do patrimônio
cultural, por meio das ações museológicas de pesquisa, preservação e comunicação, tornando
possível ao cidadão considerá-lo como um referencial para o exercício da cidadania,
democratizando o conhecimento produzido nos museus, nas escolas e nas instituições afins.
Para comunicação das atividades desenvolvidas pelo museu sempre usamos o radio e a
internet como meio de divulgação visto que são os mais utilizados pelos Itabaianenses. Já
foram concedidas duas entrevistas em duas rádios locais pela direção do museu e há várias
noticias, desde a criação do museu, em sites diversos entre eles o da Secretaria de
Comunicação do Município.
Pierre Nora nos ensina que sem o engajamento e respeito do passado com o presente e
o futuro não há pertencimento de um grupo, objetivo buscado pelo museu para seu
amadurecimento com instituição e seu reconhecimento como pertencente ao povo.
Com isso o museu busca no ensino formal parcerias para que essas instituições/
patrimônios e os itabaianenses se sintam inseridos na construção desde conhecimento e de sua
identidade local. O museu, como instituição histórica- social não pode ser considerada um
produto pronto, ele é o resultado das ações dos sujeitos que o estão construindo e
reconstruindo. (SANTOS, 1987)
São as nossas concepções de museologia e de museu que estarão atribuindo à
instituição diferentes perfis, que deverão ser adaptados aos diversos contextos. Daí a
necessidade de uma avaliação constante, principalmente em parceria com outras instituições
existentes, que deverá fornecer dados significativos para os objetivos/metas. O que implica a
necessidade de abertura, por parte de seu corpo técnico, manifestada em atitudes que
demonstrem o desejo da mudança, pois, só desenvolvendo o pensamento critico
compreenderemos a sistematização do processo.
Sendo assim, esperamos através da exposição desses objetos alusivos da memória
Itabaianense que o museu sirva como observatório de pesquisa com fins educativos, um local
de lazer das famílias e uma pratica social que esta colocada a serviço da comunidade para o
seu desenvolvimento. O museu foi inaugurado no dia 26 de agosto do presente ano em meio
as comemorações de 123 anos de emancipação política da cidade.
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Referencias
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Laranjeiras 20 anos. Governo do Estado de Sergipe: Secretaria Especial da Cultura, 1994. p.
125.
AYALA, Marcos; AYALA, Maria Ignez Novais. Cultura Popular no Brasil. São Paulo: Editora
Ática, 1987.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Folclore. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. p. 40.
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75-80;
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_________. Vila de Santo Antonio de Itabaiana. Aracaju: J. Andrade, 2009;
DÉDA, José de Carvalho. Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano. Aracaju : Livraria
Regina, 1967
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26 jan. 1944, p.1. Transcrito em SEBRÃO, SOBRINHO.Fragmentos de histórias municipais e
outras histórias. Org. Vladimir Souza Carvalho. Aracaju: Instituto Luciano Barreto Júnior,
2003. P. 253-256.