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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

FACULDADE DE DIREITO

VITÓRIA RODOVALHO - RA: 15588122

O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


E A EUTANÁSIA

CAMPINAS
2015
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
FACULDADE DE DIREITO

VITÓRIA RODOVALHO - RA: 15588122

O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


E A EUTANÁSIA

Trabalho apresentado para avaliação na


disciplina de Metodologia da Pesquisa
Científico-Jurídica II, do curso de Direito,
turno noturno, da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas ministrado pelo
professor Marcos José Alves Lisboa.

CAMPINAS
2015
SUMÁRIO

TEMA 4

PROBLEMA 4

HIPÓTESES 6

METODOLOGIA 8

OBJETIVOS 8

JUSTIFICATIVAS 8

CRONOGRAMA 9

REFERÊNCIAS 10
4

TEMA

O princípio da dignidade humana e a eutanásia.

PROBLEMA

Apesar de ser um fenômeno muito antigo, já praticado na antiguidade, a discussão


acerca da eutanásia teve início no século XX, sendo, até os dias atuais, um tema bastante
polêmico. A “boa morte” é a pratica da indução à morte de um paciente em estado terminal,
pondo fim a toda dor e sofrimento.
A eutanásia é classificada em “eutanásia ativa”, em que há a participação de um
médico para realizar a ação - planejada e negociada entre paciente ou representante legal e o
profissional - de por término à vida. E, por outro lado, a “eutanásia passiva”, que ocorre
quando há a interrupção de quaisquer cuidados médicos, levando, assim, à morte do paciente.
É também conhecida como ortotanásia, e é permitida no Estado de São Paulo através da Lei
“Mário Covas”, promulgada em 1999.
Vários países, no decorrer do tempo, propuseram a possibilidade de prever a eutanásia
em seus ordenamentos jurídicos, contudo, hoje em dia, são poucos os países que autorizam a
prática, entre eles o Uruguai, Colômbia, Bélgica, Holanda, Suíça, França, Alemanha, Áustria
e Luxemburgo e nos Estados Unidos somente cinco estados legalizaram a eutanásia: Oregon,
Washigton, Vermont, Montana, Texas. (MARINS, André Luis Fernandes, p. 01)
No Brasil, a eutanásia é ilegal e considerada antiética pelo código de medicina. O atual
Código Penal não especifica o crime da eutanásia, o médico que tira a vida do seu paciente
por compaixão comete o homicídio simples tipificado no art. 121, sujeito a pena de 6 a 20
anos de reclusão, e eventualmente tem tratamento penal privilegiado, atenuando-se a pena,
pelo relevante valor moral que motivou o agente, assim o juiz poderia reduzir a pena de um
sexto a um terço. (GOETTEN, Glenda Frances de Moraes, p. 01)
O debate entre os dois pontos de vista, a favor ou contra a legalização da eutanásia, é
movido por motivos de ordem ética, social, cultural e religiosa, e, desta forma, as opiniões
variam segundo os valores pessoais de cada um.
A Constituição Federal prevê a indisponibilidade da vida humana, mas até que ponto
pode-se considerar vida digna, em se tratando de paciente em estado vegetativo, ou em coma
irreversível? Não há um consenso acerca desta problematização.
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De um lado, há uma parcela da sociedade que parte da consideração do direito à vida


como sendo o mais elementar dos direitos humanos, contemplado na Constituição Federal, no
título Dos Direitos e Garantias Fundamentais e, corroborando do entendimento de Alexandre
Moraes (2000), é reconhecido como o mais fundamental dos direitos, pois é dele que derivam
todos os demais direitos. É regido pelo princípio Constitucional da inviolabilidade, visto que a
vida não pode ser desrespeitada, e pelo princípio da irrenunciabilidade: nenhum indivíduo
pode renunciar esse direito e almejar sua morte.
Seguindo esta linha de raciocínio, a Constituição de 1988 afirma em seu artigo 5º,
caput:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade.
Desta forma, embasa-se na premissa de uma hierarquização de princípios, em que o
direito à vida se sobressai aos demais, sendo possível que outros direitos sejam violados em
virtude do direito de viver.
No mesmo contexto, assevera Ruy Samuel Espíndola (1999, p. 165)
Mesmo no nível constitucional, há uma ordem que faz com que as regras
tenham sua interpretação e eficácia condicionadas pelos princípios. Estes se
harmonizam, em função da hierarquia entre eles estabelecida, de modo a
assegurar plena coerência interna ao sistema.
Ademais, para sustentar esta tese, parte-se de uma enunciação religiosa, sobretudo
católica, em que se afirma que a vida provém de Deus e só a Ele lhe compete tirá-la.
Não obstante, do ponto de vista jurídico, há de se admitir que não há hierarquia entre
os princípios constitucionais, isto é, todas as normas possuem igual posição. Desta forma, não
há normas constitucionais meramente formais, nem hierarquia de supra ou infra-ordenação
dentro da Constituição, conforme sustentou Canotilho (1991).
De acordo com Alexandre de Moraes, em sua obra intitulada “Direitos Humanos
Fundamentais”, constitucionalmente o homem tem direito à vida e não sobre a vida. Desta
forma, cabe ao Estado assegurar o direito à vida, e este não consiste apenas em manter-se
vivo, mas sim ter vida digna quanto à subsistência.
Nestas circunstâncias, Moraes afirma (2000) “O Estado deverá garantir esse direito a
um nível adequado com a condição humana respeitando os princípios fundamentais da
cidadania, dignidade da pessoa humana e valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.”.
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Desta forma, deve haver uma ponderação de princípios e valores, de modo a


considerar-se um limite da vida digna para determinados casos concretos. Assim, deve ser
levado em conta um juízo de razoabilidade e proporcionalidade à soberania do direito à vida.

HIPÓTESES

Consideremos um paciente com 90 anos de idade, sofrendo de um câncer que já se


alastrou para diversos órgãos, sentindo dores terríveis, as quais nem remédios são mais
capazes de diminuir. Não poderia este paciente ter a liberdade de decidir por cessar todo este
sofrimento? Seria ele obrigado a suportar toda a dor por dias ou até meses a fio, até que sua
morte chegue? Desconsidera-se, aqui, o direito à dignidade humana, sendo o indivíduo
obrigado a submeter-se a situações desumanas.
O conceito de dignidade da pessoa humana pode ser observado através de diversos
sentidos. Partindo-se de um sentido religioso, oriundo da Bíblia Sagrada, Ingo Wolfgang
Sarlet (2001) indica uma definição que traz em seu corpo a crença em um valor intrínseco ao
ser humano, não podendo ser ele transformado em mero objeto ou instrumento.
Por outro lado, em um sentido filosófico, o pensador Immanuel Kant afirmava que
“dignidade significa que toda pessoa é um fim em si mesma, consoante uma das enunciações
do imperativo categórico.” (BARROSO, Luís Roberto, p. 83)
O Princípio da dignidade da pessoa humana não está elencado entre os direitos e
garantias individuais no artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Está incorporado
expressamente no artigo 1º, inciso III. A Constituição define a Dignidade da Pessoa Humana
como um dos fundamentos da República Federativa (art. 1º, III), e configura-se como objetivo
maior e alicerce do Estado Democrático de Direito, estando, portanto, acima de qualquer
outro princípio. Assim, este princípio é um piso mínimo existencial que não pode ser abolido
e nem suprimido.
O doutrinador Rizzatto Nunes afirma, em seu livro O Princípio Constitucional da
Dignidade da Pessoa Humana, que dignidade é um conceito que foi sendo elaborado no
decorrer da história e chega ao início do século XXI repleta de si mesma como um valor
supremo, construído pela razão jurídica. Segundo ele, a dignidade humana deve ser
considerada como um “supra-princípio” constitucional, e, portanto, está acima dos demais
princípios.
Conforme sustenta Mariel Trouva (2015), a dignidade é fundamentalmente um
atributo da pessoa humana, que não leva em consideração sua procedência, raça, sexo, idade,
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estado civil ou condição social e econômica, e, portanto, merece ser respeitada por sua
condição de ser humana.
Marcos Aurélio, ex-ministro do STF, referia que viver é um direito e não uma
obrigação, e que não há dignidade em uma vida vegetativa.
A consideração de vida digna não pode ser feita por alguém senão o próprio ser
humano que se encontra em estado vegetativo ou em coma irreversível, ou seu representante
legal.
O direito à morte digna parte do princípio da autonomia, ou da dignidade com
autonomia, a qual é definida por Luis Roberto Barroso como sendo um poder individual,
afirma o autor (p. 85, 2010)
A dignidade como autonomia envolve, em primeiro lugar, a capacidade de
autodeterminação, o direito de decidir os rumos da própria vida e de
desenvolver livremente a própria personalidade. Significa o poder de realizar
as escolhas morais relevantes, assumindo a responsabilidade pelas decisões
tomadas. Por trás da ideia de autonomia está um sujeito moral capaz de se
autodeterminar, traçar planos de vida e realizá-los.
Este princípio tem a sua razão ser devido à alteração da relação entre médico e
paciente. Atualmente, o médico não tem poder supremo sobre seus pacientes. Pois estes tem
capacidade para se autodeterminar e realizar suas escolhas segundo suas próprias concepções
e interesses.
Neste sentido, aponta Mariel Trouva de Cenço (2015):
O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, a
autodeterminação e o fim do sofrimento de indivíduos enfermos, formam a
base da teoria defendida para a aplicação do instrumento da eutanásia no
ordenamento jurídico brasileiro. A autonomia do paciente é um direito
assegurado pela Constituição Federal, e que, portanto, deverá ser respeitado.
Desse modo, é o paciente quem efetua suas escolhas no tocante ao tratamento médico,
podendo optar, inclusive, pela interrupção ou não execução de tratamento médico específico.
Para isso, o médico deve fornecer aos seus pacientes todas as informações (de modo claro e
acessível aos leigos que não têm acesso a conhecimentos específicos da área médica)
relevantes a respeito do estado de saúde. Acrescenta-se ainda que a escolha não pode ser fruto
de nenhuma pressão externa, ou seja, deve estar de acordo com as convicções do paciente.
Em se tratando de paciente em estado vegetativo, ou em coma irreversível, não se
pode considerar vida digna, uma vez que nenhum ser humano pode ser obrigado a se
submeter a situações agonizantes de extrema dor e sofrimento, tendo, portanto, o cidadão, o
direito de escolha para dar término à sua própria vida.
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METODOLOGIA

A metodologia adotada para a elaboração desse projeto é baseada na dedução, isto é,


para se fundamentar as hipóteses levantadas, parte-se de uma premissa geral (Princípio da
Dignidade da Pessoa Humana) para se chegar a uma premissa particular (eutanásia como
causa supralegal de exclusão da culpabilidade).
O levantamento bibliográfico consistiu em uma vasta pesquisa em banco de dados e
bibliotecas digitais, optando-se por artigos, teses e dissertações sobre diversos temas
relacionados à eutanásia, como a dignidade da pessoa humana, a bioética, considerações
penais e um caso concreto.

OBJETIVOS

A partir da elaboração desse projeto, pretende-se apresentar uma visão favorável à


legalização da eutanásia no Brasil, com base no Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, o
qual é definido como fundamento da República Federativa, e configura-se como objetivo
maior e alicerce do Estado Democrático de Direito, estando, portanto, acima de qualquer
outro princípio.
Para tanto, o presente trabalho tem como objetivo definir o conceito de Dignidade da
Pessoa Humana e examinar quais são as razões pertinentes à legalização da eutanásia para a
fundamentação das hipóteses levantadas.

JUSTIFICATIVAS

Apesar de ser um tema antigo, a discussão da eutanásia deve ser ampliada, por se
tratar de um tema de extrema relevância tanto no âmbito social quanto jurídico.
O ato da escolha por uma morte digna ou uma “boa morte” devem ser direito dos
cidadãos, podendo estes decidirem quando cessar o sofrimento.
Na esfera jurídica, a possibilidade da adoção da inexigibilidade de conduta diversa na
eutanásia como causa supralegal de exclusão da culpabilidade deve ser levada em
consideração.
Assim, partindo-se do pressuposto de que todos os seres humanos irão morrer um dia,
e, além disso, estão sujeitos ao desenvolvimento de alguma doença irreversível, a eutanásia
9

torna-se interesse de todos os indivíduos, em especial aqueles que já possuem alguma doença
terminal ou, ainda, possuem um ente querido passando por tal situação de sofrimento.

CRONOGRAMA

Mês | 2015

ATIVIDADES

Agosto Setembro Outubro Novembro

Delimitação do
tema

Pesquisa
bibliográfica

Desenvolvimento
da problemática

Desenvolvimento
das hipóteses

Entrega pré-
projeto
(versão 1)
Entrega pré-
projeto
(versão final)
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REFERÊNCIAS

BARROSO, Luís Roberto; MARTEL, Letícia de Campos Velho. A morte como ela é: dignidade e autonomia
individual no final da vida. Revista Panóptica, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p.69-104, jun. 2010. Disponível em:
<http://app.vlex.com/#WW/search/jurisdiction:BR+content_type:4/eutanasia/vid/222852401>. Acesso em: 26
ago. 2015.

CENÇO, Mariel Trouva de. Eutanásia no Ordenamento Jurídico Brasileiro: Eutanásia x Suicídio Assistido.
2015. Disponível em: <http://marieltrouva.jusbrasil.com.br/artigos/183869629/eutanasia-no-ordenamento-
juridico-brasileiro>. Acesso em: 22 nov. 2015.

COSTA, Flavio Ribeiro da. A questão jurídica da eutanásia como causa supralegal de exclusão da
culpabilidade. Revista Jurídica Eletrônica Unicoc, São Paulo, v. 6, n. 1, p.1-7, out. 2009. Disponível em:
<http://app.vlex.com/#WW/search/jurisdiction:BR+content_type:4/eutanasia/WW/vid/69836595/graphical_ver
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CRUZ, Maria Luiza Monteiro da; OLIVEIRA, Reinaldo Ayer de. A licitude civil da prática da ortotanásia por
médico em respeito à vontade livre do paciente. Revista Bioética, Brasília, v. 21, n. 3, p.405-411, dez. 2013.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-
80422013000300004&lang=pt>. Acesso em: 26 ago. 2015.

FELIX, Criziany Machado. Eutanásia: reflexos jurídico-penais e o respeito à dignidade da pessoa humana
ao morrer. 2006. 142 f. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, 2006. Disponível em:
<https://docs.google.com/viewerng/viewer?url=http://tede2.pucrs.br:80/tede2/bitstream/tede/4758/1/383739.pdf
>. Acesso em: 15 set. 2015.

GOETTEN, Glenda Frances de Moraes. O DIREITO A VIDA x EUTANÁSIA. 2013. Disponível em:
<http://www.advogado.adv.br/estudantesdireito/contestado/glenda/eutanasia.htm>. Acesso em: 10 nov. 2015.

GOMES CANOTILHO, J. J. Curso de Direito Constitucional. Coimbra : Almedina, 1991.

GUIMARÃES, Marcello Ovideo Lopes. Eutanásia - Novas considerações penais. 2008. 339 f. Tese
(Doutorado) - Curso de Direito, Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Cap. 4, 5
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Acesso em: 10 set. 2015.

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MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. P.91
11

NUNES, Rizzatto. O Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana: doutrina e jurisprudência.


2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 48.

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1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 32-33.

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