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CARLOS VIDIGAL / GLOBAL IMAGENS
T U
AE
24 JULHO 2021
Suplemento integrante do Jornal de Notícias.
Não pode ser vendido separadamente.
Na hora / Equipamentos Jogar
de biquíni ou calções? Polémica
agita o andebol de praia P2/3
Entrevista / Paulo Machado
Internacional pendura as botas
e inicia carreira de treinador P6/7
Dossiê / Rui Costa presidente
Um caso raro nos principais
campeonatos europeus P4/5
LILLE AGUÇA INTERESSE
POR VLACHODIMOS
Campeão francês procura titular para a baliza e sonda encarnados, que
libertam o guarda-redes por 12 milhões. Grego em bom plano na pré-época
O Lille está interessado em
Vlachodimos, guarda-re-
des do Benfica, e já entrou
em contacto com os encar-
nados para avaliar as condi-
ções de uma eventual tran-
sação. Ao que o JN apurou,
o clube encarnado aceita
transacionar o jogador por
um valor na casa dos 12 mi-
lhões e já informou o cam-
peão francês dessa condi-
ção. O Benfica aguarda pela
proposta formal do Lille,
que curiosamente foi o úl-
timo adversário da equipa
de Jorge Jesus, no Estádio
do Algarve. O contacto e o
interesse dos gauleses é
anterior ao duelo ganho (1-
-0) pelas águias, com um
golo de Gonçalo Ramos. A
boa exibição de Vlachodi-
mos pode, inclusive, ter
contribuído para acentuar ta com a ideia de transacio-
o desejo do emblema de
Renato Sanches.
nar o jogador, que mani-
festou a intenção de deixar
O Lille, que venceu a Li- a Luz, depois de ter perdi-
gue 1, vendeu o guardião do a titularidade para Hel-
Mike Maigan ao Milan, por ton Leite.
13 milhões, e enfrentou o Nesta pré-época, Vlacho-
Benfica com Léo Jardim,
guarda-redes que esteve
dimos alinhou nos últimos
três duelos (Casa Pia, Al-
cedido ao Boavista. meria e Lille) a titular e
O Benfica encontra-se deu boa resposta. 
desde a temporada transa- LUÍS ANTUNES
2 ATAQUE
NA HORA
EQUIPAMENTOS
FEMININOS, UMA
POLÉMICA SEM FIM
Noruega foi multada por não querer jogar de biquíni
e descontentamento estende-se a outras seleções
Sofia Esteves Teixeira
desporto@jn.pt
CASO O Europeu de Ande-
bol de Praia, na Bulgária, fez
correr muita tinta graças à
seleção norueguesa. Não
por causa da medalha de
bronze conquistada pelas
nórdicas, antes pela tomada
de posição devido ao equi-
pamento: as atletas recusa-
ram jogar de biquíni e apre-
sentaram-se no último jogo,
diante da Espanha, com cal-
ções. A decisão acabou mes-
mo numa multa imposta
pela Federação Europeia de
Andebol (EHF), de 150 eu-
ros por jogadora – 1500 eu-
ros no total –, devido, se-
gundo este organismo, “ao
uso de roupa imprópria”.
As regras são claras: nesta
modalidade, os homens jo-
gam de calções e camisola de
manga cava, enquanto as
mulheres têm de jogar com
um top e a parte de baixo do
biquíni “justo e com um cor-
te num ângulo para cima em
direção ao topo da perna”. E
mais: “A largura lateral deve
ser no máximo dez centíme-
tros”. Descontente e consi-
derando que a diferença
nada mais é do que sexismo,
a equipa norueguesa tinha
pedido permissão à EHF para
usar calções, mas acabou
multada na mesma. Porquê?
Porque o pedido precisa do
aval da Federação Interna-
cional, a responsável pelas
regras de jogo, que pode, ou
não, pedir opinião às atletas
e respetivas federações.
“Os equipamentos fazem
parte das regras, que são da
responsabilidade da Federa-
ção Internacional. Não exis-
te autonomia para se fazer
diferente do exigido. Nor-
malmente, a Federação In-
ternacional pede opinião a
Federações, atletas e árbi-
tros, mas não é obrigada a fa-
zê-lo e pode mudar regras
sem questionar, o que já
aconteceu”, explicou, ao JN,
Pedro Sequeira, do Comité
Executivo da EHF.
As escolhas dos equipa-
mentos também se pren-
dem com questões técnicas
– o andebol de praia, por
exemplo, exige uma grande
liberdade de movimentos –
24 de julho de 2021 Jornal de Notícias
mas a maior diferença entre TESTEMUNHOS
ADAPTAÇÃO
os equipamentos masculi-
nos e femininos não é bem
vista por todos. “O que tem FOI DIFÍCIL
acontecido na Europa é que
algumas atletas não gostam Daniela Mendes e Catari-
que os equipamentos entre na Cunha são jogadoras
homens e mulheres sejam da seleção e não escon-
tão diferenciados. No ande- dem que a adaptação ao
bol de pavilhão, por exem- biquíni não foi fácil. “Já
plo, não acontece. Tem havi- estou tão habituada que é
do dúvidas se o que se está a indiferente, só que a pas-
valorizar é o jogo em si ou sagem para o biquíni foi
existe uma promoção do cor- bruta. Mas sinto-me con-
po da mulher”. fortável”, disse Daniela,
Ainda assim, pode haver ao JN. Já Catarina percebe
mudanças à vista. Depois da as norueguesas: “O equi-
Noruega já ter, antes da pamento tem muita ex-
competição, apresentado posição e é pior para as
uma proposta no congresso guarda-redes. Foi difícil
da EHF para a mudança de habituarmo-nos. No iní-
equipamentos, a Federação cio, sentia-me nua”.
Europeia já se mostrou dis-
ponível para debater o tema
“tendo em conta o interesse
das federações” e levar o as-
sunto mais além. “O con-
gresso da Federação Interna-
cional é no inverno e, prova-
velmente, esse assunto de-
verá ser discutido”, concluiu
Pedro Sequeira. 
Jornal de Notícias 24 de julho de 2021 ATAQUE 3

OUTROS CASOS

Ginastas REPORTAGEM
ponderam
apresentar-se
com fatos de
corpo inteiro
Elas defendem a
liberdade de escolha
Alemãs prometem
Obrigadas a jogarem resposta em Tóquio GRD Leça Atletas sentem-se confortáveis mas apelam
de biquíni em Sidney 2000 nos Jogos Olímpicos a novas regras. Preocupação extra com as mais jovens
VOLEIBOL DE PRAIA Nos Jogos Olímpicos de Sidney 2000,

a Federação Internacional de Voleibol (FIVB) obrigou as PROTESTO As ginastas da
atletas a jogarem de biquíni. A mesma regra acabou por Alemanha estão a ponderar
ser alterada nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, usar fatos de corpo inteiro
com as jogadoras a poderem escolher outra indumentá- nas qualificações, nos Jogos
ria e a atuarem, por exemplo, com calções. Olímpicos de Tóquio, de-
pois de terem recebido elo-
gios por o terem feito con-
tra a sexualização da moda-
lidade. A seleção alemã usou
unitards carmim (maiôs
combinados com leggings
até aos tornozelos) para o
treino, na véspera de aber-
tura dos Jogos, tendo infor-
mado que poderá optar por
usar o mesmo tipo de roupa
na competição.
“Queríamos mostrar que
cada mulher, toda a gente,
deveria decidir o que ves-
Pedido para atuarem tir”, explicou Elisabeth
Seitz, que marca presença
de vestido gera controvérsia pela terceira vez nos Jogos.
BADMINTION Em 2012, a Federação Mundial de Badmin- Nos últimos anos, o des-
ton deu que falar e não foi pelas melhores razões. O or- porto, a ginástica em parti-
ganismo estipulou que as jogadoras deviam disputar to- cular, tem sido abalado por
dos os jogos usando um vestido para “tornar o desporto casos de abuso sexual e físi-
e a modalidade mais atrativos”, o que resultou numa co, o que originou uma pro-
chuva de críticas. funda introspeção e a intro-
dução de novos protocolos
de segurança para proteger
as atletas.
“Não significa que já não
queiramos usar o maiô
normal”, disse Elisabeth
Seitz, 27 anos. “É uma deci-
são dia após dia, baseada em
como nos sentimos e no que
queremos. No dia da com-
petição, decidiremos o que
vestir”, concluiu. 
Federação propôs
equipamentos mais justos
BASQUETEBOL A Federação Internacional de Basquete-
bol (FIBA) esteve debaixo de fogo, depois de propor que
o equipamento feminino fosse mais justo. Patrick Bau-
mann, secretário geral, justificou a proposta com argu-
mentos como “são grandes atletas, mas também muito
bonitas e não há mal nenhum em demonstrá-lo”.
Elisabeth Seitz
Jogadoras do GRD Leça em ação num treino na praia da Madalena, em Gaia
José Pedro Gomes
desporto@jn.pt
PRAIA Apesar de se sentirem
adaptadas à atual indumen-
tária implementada para a
prática da modalidade, as jo-
gadoras portuguesas de an-
debol de praia defendem
que a regra deveria atender
a uma maior liberdade, dei-
xando ao critério da atleta a
escolha entre calções ou
cueca de jogo.
“O atual equipamento já
está em vigor em Portugal
há alguns anos, mas inicial-
mente foi um choque, por-
que é quase como nos ex-
pormos com a nossa roupa
íntima. Na altura, senti-me
desconfortável, mas depois
acabei por me habituar e
hoje já não penso nisso”,
confessou, ao JN, Catarina
Oliveira, jogador do GRD
Leça e capitã da seleção na-
cional.
A atleta, 30 anos, defende,
ainda assim, que “cada uma
deve jogar como se sentir
mais à vontade” e embora
compreenda que “tem de
haver uma uniformização
na equipa”, não considera
que a imposição seja bené-
fica para modalidade.
A mesma posição parti-
lhou Andreia Costa, guarda-
-redes, 28 anos, que apesar
de se sentir “confortável”
com o atual equipamento,
lembra que “há outras joga-
dores que não pensam da
mesma", levando até a de-
sistências”. “A regra tinha
de ser mais abrangente. Jo-
gar de cueca ou calção tinha
de ser uma opção pessoal,
até porque não interfere no
jogo em si e na capacidade
das jogadoras”, analisou a
guardiã do GRD Leça, que
também é internacional.
A jogadora reconhece que
o corpo feminino se torna
apelativo para a divulgação
da modalidade, mas garan-
te que “quando entram em
campo as atletas não pen-
JOSÉ CARMO
sam se estão a ser observa-
das pelo seu físico”. “Tenho
pena que este alarido possa
impedir a evolução da mo-
dalidade e, quem sabe, tra-
var a entrada de jogadoras”.
PROTEÇÃO ESPECIAL
Nuno Baptista, treinador da
equipa sénior, confirmou
que a questão de indumen-
tária “nunca foi algo que
criasse problema no clube”,
mas lembrou que as regras
contemplam que “se atleta
não se sentir bem, por uma
questão física ou psicológi-
ca, pode usar outro tipo de
equipamento, apresentan-
do um relatório médico”.
O técnico alertou que para
os escalões mais jovens há
que ter um cuidado espe-
cial. “Uma mulher já tem
outro entendimento do seu
corpo, mas no caso das atle-
tas mais jovens tem de ha-
ver mais proteção. Não que-
remos perder jogadoras por
esta questão”, vincou. 
4 ATAQUE
DOSSIÊ
“MAESTRO” A
LIDERAR BENFICA
FOGE À LÓGICA DA
MÚSICA PADRÃO
Rui Costa assume presidência depois de ter sido
jogador e é caso raro nas principais liga europeias
João Faria
joao.faria@jn.pt
BENFICA Há duas semanas
na presidência do emblema
encarnado, Rui Costa é um
dos raros líderes de clubes
em funções diretivas, após
ter sido futebolista. Entre os
clubes que, na última época,
ficaram no pódio nas cinco
principais ligas europeias,
apenas em Itália há um an-
tigo jogador com um cargo
importante na Direção: Ja-
vier Zanetti, vice-presiden-
te do Inter. Isto excluindo
diretores-gerais e membros
executivos, por não fazerem
parte dos órgãos sociais.
Em Portugal, no leque de
18 equipas que na próxima
semana inicia a disputa da
Liga de futebol, só há mais
um exemplo, de funções
equivalentes à de Rui Cos-
ta. É o caso do F. C. Vizela,
que está de volta ao escalão
maior, através de Eduardo
Guimarães, que é presiden-
te da Direção do clube mi-
nhoto, após ter sido jogador
dos vizelenses.
“De certo modo tenho
pontos em comum com
Rui Costa. E também não
estava previsto que fosse o
presidente. As circunstân-
cias e a falta de alternativas
é que me levaram a este
cargo”, diz, ao JN, Eduardo
Guimarães.
O líder do clube minhoto
entende que, quando um
ex-jogador chega à lideran-
ça de uma Direção, quem
mais beneficia são os pró-
prios atletas e a equipa téc-
nica.“É uma pessoa que
compreende muito melhor
as situações que surgem no
dia a dia. Entendo ser uma
boa solução”, frisa o diri-
gente, ressalvando que, no
Vizela há, desde 2016, uma
SAD que gere o futebol pro-
fissional, liderada por Dio-
go Godinho.
Os casos de Rui Costa e de
Eduardo Guimarães fogem
ao perfil padrão dos presi-
dentes, em Portugal. Na
Liga principal, 11 dos 18 lí-
deres de clubes são empre-
sários e a maioria partilha si-
multaneamente a liderança
da SAD. Há também quatro
advogados e um médico
(Frederico Varandas, Spor-
ting), isto além do caso par-
ticular do Belenenses, que
compete como SAD e é lide-
24 de julho de 2021 Jornal de Notícias
rada por um empresário e
está em litígio com o Bele-
nenses clube, presidido por
um advogado.
Há ainda três exemplos
de ex-jogadores que são
vice-presidentes. O antigo
guarda-redes Vítor Baía
(F. C. Porto) é o mais me-
diático, seguindo-se Hugo
Vieira (Braga) e António
Almeida, vulgo Almeidi-
nha (Boavista). Há depois
muitos antigos jogadores
como diretores-gerais, des-
portivos e até no scouting,
mas não fazem parte dos
órgãos sociais. O Arouca
tem ainda a curiosidade de
ter Paulo Cerqueira, joga-
dor de futsal do clube,
como vice-presidente.
O empresário António
Oliveira, ex-futebolista de Rui Costa era
F. C. Porto e Sporting, e an- vice-presidente
tigo selecionador, foi presi- do Benfica
dente do Penafiel, de 2003 e assumiu a
a 2006. Mas o primeiro caso liderança após
aconteceu em 1986, por in- a saída de Luís
termédio de Fernando Oli- Filipe Vieira
veira, que fizera parte da
carreira na CUF. O antigo
jogador assumiu a presi-
dência do V. Setúbal em
dois períodos: 1986-1991 e
2009-2017.
Jornal de Notícias 24 de julho de 2021 ATAQUE 5

LEONARDO NEGRÃO / GLOBAL IMAGENS

Herbert
Hainer
Cronologia
abre novo ciclo
Ex-jogadores na direção de clubes no Bayern
1981/82 Estreia-se com a camisola
do Benfica, pelos infantis Hugo Vieira
do clube. Colosso teutónico foi
 Idade: 44 anos liderado, durante 25
1990/91 Chega a sénior das águias,  Clube: Sp. Braga anos, por ex-jogadores
mas é cedido ao Fafe.  Cargo: Vice-presidente

1990/91 Ajuda Portugal a vencer O ex-central de clubes ALEMANHA Campeão nacio-

o Mundial de sub-20 e, como Braga, Sampdoria nal há nove anos consecuti-
na final com o Brasil, mar- e Sporting, é coordena- vos e com seis títulos de
ca o penálti decisivo. dor da formação do em- campeão europeu no pal-
blema bracarense. Nas marés, o Bayern Munique
1991/92 Estreia-se pela equipa recentes eleições no foi liderado, durante 25
principal do Benfica, à 5.ª clube, assumiu o cargo anos, por ex-futebolistas do
jornada: empate na Luz de vice-presidente. clube, mas, desde 2019, a si-
com o Estoril (2-2). tuação alterou-se, com o
empresário Herbert Hainer
1993/94 É campeão nacional, pelo Vítor Baía a assumir os destinos do
Benfica. emblema teutónico.
 Idade: 51 anos Em 1994, com a saída do
1994/95 É transferido pelo Benfica  Clube: F. C. Porto professor Fritz Scherer da
à Fiorentina, por 5,5 mi-  Cargo: Vice-presidente presidência do Bayern, o
lhões de euros. clube iniciou uma nova
O antigo guarda-redes, fase, chamando ex-jogado-
2001/02 Após sete anos em Floren- símbolo do F. C. Porto, res consagrados à principal
ça, sai para o AC Milan, venceu 33 troféus, pe- cadeira da Direção.
por 41 milhões de euros. los portistas e pelo Bar- Franz Beckenbauer, um
celona. Já foi diretor das dos melhores futebolistas
2002/03 É campeão europeu de relações externas e, de sempre do clube, assu-
clubes, pelo AC Milan. desde 2020, é vice-pre- miu a liderança em 1994.
sidente do clube. “Kaiser”, como é conheci-
2003/04 Sagra-se campeão italia- do, esteve 15 anos no cargo.
no, pelo AC Milan. Em 2014, foi a vez de Uli
António Almeida Hoeness, outro ex-jogador
2006/07 Deixa o AC Milan e volta do Bayern, a liderar o clube,
ao Benfica, a custo zero.  Idade: 61 anos função que exerceu em dois
 Clube: Boavista períodos distintos e culmi-
2007/08 Após dois anos nas águias,  Cargo: Vice-presidente nou em 2019, com a desi-
acaba a carreira de joga- ganção de Herbert Hainer,
dor. Conhecido por Almeidi- um empresário do ramo do
nha, o extremo boavis- vestuário desportivo.
2008/09 Assume, no Benfica, o car- teiro das décadas de 1970 O clube mantém ex-joga-
go de diretor desportivo. e 1980 continua ligado dores em cargos executivos
ao clube. Como vice-pre- importantes, mas não fa-
2011/12 Passa a administrador da sidente, dirige o futebol zem parte dos órgãos so-
SAD dos encarnados. de formação e o pelouro ciais, como são os caso do
dos antigos atletas. ex-guarda-redes Oliver
2020/21 É eleito vice-presidente Kahn e do ex-médio Hasan
do Benfica. Salihamidic, diretor-geral e
Eduardo Guimarães diretor desportivo, respeti-
2021/22 Com o espoletar do caso vamente. 
“cartão vermelho”,, assu-  Idade: 55 anos
esidên-
me a presidên-  Clube: F. C.Vizela
enfica
cia do Benfica  Cargo: Presidente

O antigo médio dos vi-

zelenses foi jogador do
clube, nos anos de 1970
e 1980. Está há 11 anos à
frente do emblema mi-
nhoto. Profissional-
mente é diretor finan-
ceiro de uma empresa. Herbert Hainer
6 ATAQUE
POR José Pedro Gomes
desporto@jn.pt
Depois de 23 anos a jogar futebol,
13 dos quais a atuar no estrangei-
ro, Paulo Machado decidiu pen-
durar as chuteiras e iniciar um
novo desafio como treinador-ad-
junto da equipa sub-23 do Lei-
xões. A ligação afetiva com o F. C.
Porto impulsiona a ambição de re-
gressar ao Dragão, onde como jo-
gador não teve as oportunidades
que desejava. Habituado a supe-
rar as dificuldades com que cedo
se deparou ao crescer num dos
bairros da Invicta, o ex-médio or-
gulha-se da carreira que fez e quer
continuar a deixar a marca no fu-
tebol português
Já interiorizou o final da carrei-
ra como jogador?
Acho que é algo gradual, por mais
que se diga que a carreira termi-
nou, na nossa cabeça ainda temos
essa ideia. Só depois da nova eta-
pa como treinador começar é que
vou perceber que chegou esse
momento. Para já, é mais ansieda-
de pelo novo desafio.
Porque decidiu deixar de jogar
aos 35 anos?
Não foi uma questão física, mas
sim de mentalidade. O Cristiano
Ronaldo, por exemplo, todos os
anos surge com a mentalidade de
continuar, mas nem todos os jo-
gadores têm essa força. Eu não
queria terminar em clubes de es-
calões inferiores, só a jogar pelo
vício. Achei que ao terminar a car-
reira no Leixões, saio num nível
elevado.
Mas quando veio para o Lei-
xões, já tinha a ideia de acabar
aqui a carreira e fazer esta tran-
sição?
Sim, já vinha com isso em mente.
Foram 13 anos a jogar no estran-
geiro e cheguei a um ponto em
que já nem sabia onde pertencia.
Senti que tinha de voltar a Portu-
gal para estar com a família, mas
também ajudar o Leixões, porque
é um clube que condiz com a mi-
nha personalidade.
Tinha propostas para continuar
a jogar?
Houve propostas do estrangeiro,
mas tinha decidido que era o mo-
mento de parar e não queria, no-
vamente, deixar a família. Quero
acompanhar melhor o crescimen-
to dos meus filhos, poder levá-los
à escola e ao futebol, porque tam-
24 de julho de 2021 Jornal de Notícias
ENTREVISTA
bém já estão a jogar. É algo que
“Sonho um dia durante 13 anos foi difícil fazer.
Os seus filhos herdaram o ta-
lento do pai para o futebol?
ser o treinador Herdaram pelo menos o gosto.
Um joga no Dragon Force e outro
já no F. C. Porto. Se vão ser joga-
dores? Isso não sei. Não os vou
do F. C. Porto” pressionar, é algo que tem de
acontecer naturalmente. Quero
que eles cresçam felizes e com
educação.
Sente que cumpriu os sonhos
como jogador?
Toda gente sabe que nasci no
bairro do Cerco, no Porto, e que
Paulo Machado prepara-se para uma nova etapa na carreira desde criança o meu objetivo era
ser jogador profissional. Conse-
gui-o bastante cedo, estive em
grandes clubes, disputei compe-
PEDRO GRANADEIRO/GLOBAL IMAGENS
tições europeias, e acho que fiz
uma carreira bonita com boas
conquistas. Agora é perseguir o
sonho de ser treinador.
Sempre teve essa ideia de ser
treinador, ou foi algo que se foi
desenvolvendo ainda como jo-
gador?
À medida que fui crescendo como
jogador, também comecei a sen-
tir que um dia queria ser treina-
dor. Senti que se encaixava no
meu perfil. Até deveria ter tirado
mais cedo o curso, e hoje em dia
digo isso a muitos colegas, que
devem fazer tudo para ter habili-
tações. Além de ter tirado o nível
II de treinador, também estou a
acabar o 12.º ano. É algo que não
pude fazer quando era mais novo,
mas sinto essa vontade em me
formar.
Para essa nova etapa como téc-
nico, vem com grandes refe-
rências. O José Mourinho será
a maior?
Claro que o Mourinho é uma das
maiores, foi ele que me lançou.
Mas ainda antes de ser treinado
por ele houve outros técnicos na
formação do F. C. Porto que mar-
caram, como Rolando, José Gui-
lherme, João Pinto ou o Ilídio
Vale. Com todos aprendi muito e
cabe-me agora tirar um pouco de
cada um, para poder também fa-
zer a minha história.
Sente que o futebol, e todas as
experiências que passou, vi-
vendo em França, na Grécia,
Croácia até na Índia lhe permi-
tiram crescer mais do que ima-
ginava?
Sem dúvida. Quem cresceu num
bairro como eu pode imaginar
Jornal de Notícias 24 de julho de 2021 ATAQUE 7

muitas coisas, mas é difícil sair

dali e ter outras vivências. Sem-
pre tive essa vontade, de conhe-
cer o mundo e sinto-me um feli-
zardo por o ter conseguido e po-
der, agora, passar isso aos mais jo-
vens.

É verdade que fala cinco idio-

mas?
Sim, português, espanhol, francês,
inglês e alguma coisa de grego. E se
me tivessem dado um professor
quando estive na Croácia também
ia conseguir falar a língua.

Nunca se deslumbrou com os

êxitos que conseguiu a nível
desportivo e financeiro?
Desde criança que nunca fui de
excessos. Primeiro, porque os
meus pais não tinham dinheiro
CV para isso, e muitas vezes tive de ir

Paulo Machado
 Data de nascimento:
31.03.1986
 Nacionalidade:
Portuguesa
 Profissão: Treinador-adjun-
to do Leixões sub-23
 Clubes como jogador: F. C.
Porto, Estrela da Amadora,
Leixões, Saint-Étienne (Fran-
ça), Toulouse (França), Olym-
piacos (Grécia), Dínamo Za-
greb (Croácia), D. Aves e
Mumbai City (Índia)
 Palmarés: Campeão da Eu-
ropa Sub-17, Bi-campeão da
liga croata, Bi-campeão da
liga grega, vencedor da Taça
da Croácia (duas veces), ven-
cedor da Taça da Grécia, ven-
cedor da Taça de Portugal
“Não queria terminar nos
escalões inferiores, só
a jogar pelo vício. Saio
num patamar elevado”
“Veja o exemplo do João
Félix. É um craque, mas
não sabemos o que
vai dar no futuro”
“Mourinho é a maior
referência como
treinador, foi ele me
lançou, mas há outros”
trabalhar com o meu pai para po-
der ter umas sapatilhas. Depois,
porque fui habituado a valorizar
o que conseguia. Como me casei
cedo e tive filhos, desde novo
senti a responsabilidade da famí-
lia. Hoje muitos jovens jogadores
não pensam nisso, e tento passar-
-lhes a ideia que têm que acaute-
lar o futuro. Espero que um dia se
lembrem de mim.
Sente que por ter crescido num
bairro e por ser produto do fu-
tebol de rua ganhou mais pre-
paração?
Acho que sim, vemos muitos ca-
sos de bons jogadores, que até
chegaram ao topo, mas não sabem
lidar com a pressão que existe.
Não é uma crítica, mas veja o
exemplo do João Félix, que é um
craque mas não sabemos o que vai
dar no futuro. Cresceu muito rá-
pido e muito protegido, e talvez
não saiba lidar com a pressão. Eu
passei uma infância na rua, com
todos os perigos, e que, não sendo
o ideal, ajudou-me a crescer.
E o futuro como treinador,
como perspetiva?
A minha mente está sempre a
pensar mais à frente. Gosto de
trabalhar para chegar ao mais alto
nível.
O mais alto nível é o sonho de
ser treinador do F. C. Porto?
Claro. O meu primeiro sonho é
treinar a equipa principal do Lei-
xões e pô-la na Liga. Mas depois
temos de pensar em grande. Toda
a gente sabe que quero um dia
treinar o F. C. Porto e se aconte-
cer vai ser uma alegria para a fa-
mília toda. 
“Paguei 100 mil euros
por fazer um gesto”
Os êxitos que tem na carrei-
ra são bem conhecidos, mas
queria que contasse alguns
momentos menos bons.
Não foram muitos, mas houve
alguns. Um dos piores foi na
Croácia, com o Dínamo de Za-
greb, num jogo de apuramento
para a Liga dos Campeões, em
que fui substituído e fiz um
gesto com o dedo do meio para
os adeptos, que me valeu uma
multa de 100 mil euros. No
Toulouse também me deu um
desses momentos que não con-
sigo explicar, e depois de ter
sido substituído ao intervalo
fui-me embora do estádio. Cla-
ro que se fosse hoje não o repe-
tiria, mas deu para aprender.
Tem algum arrependimento
nas escolhas que fez?
Não digo arrependimento,
mas, por exemplo, quando re-
gressei a Portugal para jogar no
Aves, tinha a possibilidade de
renovar pelo Dínamo de Za-
greb por mais três anos. Decidi
voltar, já pela questão familiar,
e não foi, em termos de clube,
a melhor opção.
Mas ainda assim ganhou uma
Taça de Portugal pelo Aves…
Sim, isso foi bom porque ga-
nhei uma Taça onde menos es-
perava. Podem dizer que o
Sporting estava mal nessa fi-
nal, mas o que fica para história
é que ganhei uma taça pelo
Aves e nunca o consegui pelo F.
C. Porto, por exemplo.
Há desalento por não ter ido
mais além no F. C. Porto?
Joguei lá 10 anos e toda a gen-
te sabe que o meu clube é o F. C.
Porto. Por isso, fica sempre al-
guma tristeza. Não tanto na
minha subida aos seniores, por-
que no meio-campo havia cra-
ques como o Costinha, Mani-
che, Deco ou Alenichev, mas
depois mais tarde. Quando fui
emprestado ao Saint-Etienne
fiz uma época incrível e pensei
que no regresso me iam dar
uma oportunidade, mas cha-
maram-me a dizer que não iam
ter lugar para mim.
“Fica para a história que
ganhei uma Taça pelo
Aves e nunca o consegui
pelo F. C. Porto”
“O meu primeiro sonho
é treinar a equipa
principal do Leixões
e pô-la na Liga”
Sentiu que merecia essa
oportunidade?
Achei que podia ter, porque ti-
nha mostrado qualidade. Mas é
algo que não me atormenta. É
como estarmos chateados com
a mulher por uma coisa peque-
na e passado algum tempo já
estamos bem. Não posso ficar
magoado com o clube que for-
mou durante 10 anos.
Quais são os adeptos mais
fervorosos que encontrou?
Em Portugal, e especialmente
no F. C. Porto, os adeptos são
incríveis, mas na Grécia vivem
o futebol de uma forma como
nunca vi. Alguns preferem gas-
tar dinheiro para ver um jogo
do que para comer. São obceca-
dos pelos clubes e pelos jogado-
res. Íamos a restaurantes, paga-
vam-nos as contas e nem sabía-
mos quem era.
E a experiência da Índia foi a
mais exótica de todas?
Foi uma lição de vida. Cheguei
a dizer aos meus amigos do
Bairro do Cerco que se eles
pensavam que eram pobres, é
porque nunca tinham ido à Ín-
dia. Depois de ter visto essa
realidade, com situações de ha-
bitação chocantes, senti-me
um sortudo por ter crescido
em Portugal. 
8 ATAQUE 24 de julho de 2021 Jornal de Notícias

DIA
DO CLUBE

RUI MANUEL FONSECA/GLOBAL IMAGENS

PLANTEL Guarda redes: Vasco e Pinha Defesas: Didi, Fábio, Benathia, Nuno Ramos, Diogo Apolinário, Dário, Tico e Casal Médios: Maia, André Patrão, Venú, Rúben Gomes,
Jardel, Miguel Fernandes e Márcio Avançados: Nuno Simões, Pauleta, Moreira, Dani Maciel e Miguel Manso Treinador: Carlos Viana Adjunto: Orlando Silva Preparador
físico: Luís Miranda Treinador guarda-redes: Nelson Correia Fisioterapeuta: Pedro Correia Presidente: Jorge Oliveira

UMA VILA RENDIDA

nha vida. Serei mais um a torcer
de fora e apoiar o clube do meu co-
ração. Esta será para sempre a mi-
nha segunda casa”.

A UM FEITO HISTÓRICO
Época de sonho culmina com subida ao Campeonato
de Portugal. Forjanenses ainda festejam a conquista
Ricardo Rocha Cruz
desporto@jn.pt
FORJÃES As paredes do museu do
Estádio Horácio Queirós estão
forradas de história. No interior,
os troféus, galhardetes, cache-
cóis e fotografias recordam me-
mórias e guardam segredos de
um clube que tem dado passos
seguros numa constante cami-
nhada de evolução.
A subida ao Campeonatode Por-
tugal, conseguida no mês passado,
é só mais uma prova do excelente
trabalho que tem sido executado.
“A época 2020/21 vai ficar para
sempre na história do Forjães.
Dentro do mesmo ano tivemos de
fazer duas ou três pré-épocas de-
vido às condicionantes criadas
pela covid-19. Foi duro, mas no fi-
nal valeu muito a pena”, diz Jorge
Oliveira, ou Joca, como é carinho-
samente conhecido no clube.
Com anos e anos de casa, Joca já
fez tudo o que podia ter feito. Foi
jogador, treinador das camadas jo-
vens, diretor desportivo e, nas úl-
timas duas épocas, presidente.
Agora, aos 37 anos, e depois de
uma temporada verdadeiramente
gloriosa, chegou o momento da
despedida. “Fui campeão em 2001
da primeira distrital, com 17 anos,
com este mesmo símbolo ao pei-
to, mas sem dúvida que a época
que passou foi a mais bonita da mi-
Quem percorrer as ruas da vila
forjanense ainda pode observar as
várias tarjas e cartazes que foram
estrategicamente expostos. Afi-
nal, não é todos os dias que se faz
história, e a primeira subida ao
Campeonato de Portugal jamais
será esquecida. “No primeiro dia
da época escrevi no quadro: ‘va-
mos fazer história’. As semanas
foram passando e, em silêncio, os
jogadores alimentaram esse so-
nho. Mentalmente foram muito
CAPITÃO fortes. Tivemos, acima de tudo,
grandes homens. Porque com
bons jogadores podes fazer bons
jogos, mas com grandes homens
fazes conquistas e ganhas títu-
los”, salienta Carlos Viana, que se
mantém no leme do Forjães pela
quarta época consecutiva.
Em 2021/22, o Forjães será o úni-
Miguel Fernandes co clube do concelho de Esposen-
Médio de no Campeonato de Portugal.
Uma responsabilidade que não as-
Mais que um médio multi- susta. “Vamos respeitar os adver-
posições, desdobra-se em sários, mas sem medo de nin-
termos emocionais. Foi guém. Vai ser uma descoberta.
elo de ligação entre equi- Para mim e para o clube. Espera-
pa, treinador e Direção. -nos uma viagem bonita e cheia de
desafios”, remata o técnico. 
BILHETE
DE IDENTIDADE
Fundação: 15-04-1967
Local de jogos: Estádio Horácio
Queirós
Sócios: 600
Palmarés: Campeão 1.ª distrital AF
Viana do Castelo (1974/75 e
1977/78); Campeão 1.ª distrital AF
Braga (2001/02 e 2009/10);
Campeão Divisão Honra (2014/15);
Campeão Série Pro Nacional
(2020/21); Campeão da Pró-
-Nacional (2020/21)
CURIOSIDADES
Apoio em cima do camião
Com cerca de 70 membros, a cla-
que “Ultras Forjães” tem sido um
apoio incansável à equipa e, in-
clusive, chegou a acompanhar al-
guns jogos em cima de um ca-
mião no exterior do estádio.
Muralha de betão
É preciso recuar até março de
2019 para encontrar uma derrota
do Forjães a jogar em casa.
Jornal de Notícias 24 de julho de 2021
INQUÉRITO
DA SEMANA
POR Ricardo Rocha Cruz
O que João Mário
pode acrescentar
à equipa do Benfica?
Tiago Moutinho
Treinador
Diferentes
funções em
diferentes
estruturas
Tive a felicidade de treinar o
João, em 2011/12, nos sub-19
do Sporting. Já na altura era
muito profissional e com
uma maturidade acima dos
outros jogadores. Tem uma
excelente relação com a bola
e é muito inteligente nos
comportamentos em todos
os momentos do jogo. Será
essa leitura e a capacidade de
interpretar e desempenhar
diferentes funções em dife-
rentes estruturas que serão
uma mais-valia para o Benfi-
ca. Será fundamental na ca-
pacidade de gerir ritmos e irá
permitir ter mais bola e
maior ligação entre setores.
Toma sempre boas decisões.
Em zonas mais baixas cria
sempre linhas de passe e so-
luções ao portador da bola.
Sem bola irá ajudar no equi-
líbrio defensivo principal-
mente nas perdas de bola
em zonas mais ofensivas.
Henrique Calisto
Treinador
Demonstra alto
nível em todos
os vetores de
análise
O João Mário é um jogador
tecnicamente evoluído e
além disso tem uma grande
cultura tática. No meio-
-campo funciona como
orientador tático para os res-
tantes colegas, marca o
ritmo e oferece muita inteli-
gência ao jogo. Não é mera-
mente ofensivo. Sabe traba-
lhar nas ações defensivas,
nomeadamente em termos
posicionais. Sempre gostei e
admira-me como não teve
sucesso em Itália. No fundo
demonstra um alto nível em
todos os vetores de análise.
Uma das principais caracte-
rísticas é que pode jogar em
várias posições e isso acaba
por ser muito importante
para um treinador. Não há
equipas fortes sem um
meio-campo forte. Nesse
sentido penso que vai ser
uma peça fundamental no
esquema de Jorge Jesus.
Vítor Manuel
Treinador
É um jogador
de último passe
e é difícil
tirar-lhe a bola
É o tal médio de ligação e
transição que o Benfica tan-
to tempo andou à procura.
Sabe temporizar, acelerar e
congelar o jogo. Faz muitas
combinações no lado es-
querdo. É um jogador de úl-
timo passe, muito difícil de
lhe tirar a bola e que tanto
encaixa no 4x4x2 como no
3x4x3. Atingiu uma fase de
maturidade muito grande e
vai ser uma mais valia num
setor que na época passada
foi muito questionado. O
Jorge Jesus conhece-o bem e
penso que foi o casamento
perfeito. Tirando para os
adeptos do Sporting que não
devem ter achado piada. Vai
ter que demonstrar que é o
grande João Mário de 2016,
que brilhou no Europeu ao
serviço da seleção portugue-
sa. Tem de se reencontrar
com o melhor futebol. Qua-
lidade não lhe falta.
Carlos Azenha
Treinador
Tem qualidade
técnica de
sobra e grande
plasticidade
O João Mário é um médio
que dentro da equipa do
Benfica pode fazer diversas
posições. Se o Jorge Jesus
quiser mudar o sistema de
jogo tem no João Mário uma
multidisciplinariedade que
lhe permite fazer posições
interiores e exteriores. Con-
segue jogar na ala, por den-
tro, pode ser um médio de
recuperação e de construção
caso a equipa também neces-
site e ainda consegue jogar a
dez, nas costas dos avança-
dos. Tem uma plasticidade
incrível e qualidade técnica
de sobra. O facto de saber de-
fender é uma característica
muito útil. Conhecendo o
Jorge Jesus como conheço te-
nho a certeza que o João Má-
rio vai jogar a titular. Foi um
pedido do treinador e isso
quer dizer muito. Além dis-
so, é um jogador que não sai
barato ao Benfica.
ATAQUE 9
OPINIÃO
NORBERTO A. LOPES
Editor
Um carro
utilitário nos
Jogos Olímpicos
Estão em marcha os Jogos Olímpicos mais bizar-
ros de sempre, fechados numa bolha de segu-
rança sanitária, sem a luz de Usain Bolt e de Mi-
chael Phelps, duas das maiores lendas da histó-
ria do desporto mundial. Vai ser estranho. Mas
vai ser ainda mais estranho ver a final dos 100
metros livres de atletismo ou as míticas provas
de natação sem o frenesim do público, um vul-
cão em movimento a impulsionar os atletas
para superarem todos os limites. Independente-
mente do pano de fundo de Tóquio 2020, há um
cenário bem pintado e repetido em todos os ci-
clos olímpicos: o desejo legítimo português de
conquistar medalhas.
As expectativas são muitas quando temos uma
das maiores delegações de sempre e alguns dos
mais credenciados atletas como Jorge Fonseca
e Telma Monteiro, no judo; como Fernando Pi-
menta na canoagem; como Pedro Pichardo no
triplo salto; como Auriol Dongmo no lançamen-
to do peso; ou como uma seleção de andebol que
é capaz de superar todos os obstáculos à custa
de uma alma monstruosa. Mas é bom olhar para
além da imagem de cada um dos nossos atletas
em comparação com os adversários. Muitos de-
les são como carros utilitários a acelerar numa
estrada cheia de curvas para tentar ultrapassar
automóveis de luxo e com motores de alta ci-
lindrada. Chegam a onde chegam à custa do ta-
lento natural e da capacidade dos treinadores,
porque Portugal não oferece apoios milionários
nem tem centros de alto rendimento que reu-
nam simultaneamente valências na área da me-
dicina, nutrição e psicologia.
Há dias, José Manuel Constantino, presiden-
te do Comité Olímpico Português, dizia que o
apoio do Estado ao Desporto representava 59
euros por habitante, enquanto a média europeia
é superior a 100 euros. Não podemos esperar mi-
lagres. Por isso, se a conquista de medalhas ficar
aquém das expectativas, devemos sempre lem-
brarmo-nos que um carro utilitário não pode ser
comparado a um topo de gama.
10 ATAQUE
DESPORTO
JUVENIL
Xico Andebol conta com 200 atletas nos escalões jovens e orgulha-se de ser uma referência a formar andebolistas
FORMAR
Vítor Jorge Oliveira
desporto@jn.pt
ANDEBOL Clube de referên-
É A GRANDE
cia na cidade de Guimarães
e com uma aposta forte na
formação de jogadores –
Rui Silva, ao serviço da se-
BANDEIRA
leção nacional nos Jogos
Olímpicos de Tóquio, é um
bom exemplo –, o Xico An-
debol é um nome incontor-
nável da modalidade no pa-
DO XICO
norama nacional. Neste
momento, conta com 200
atletas na formação e numa
altura par tic ularmente
ANDEBOL
sensível por causa da pan-
demia da covid-19.
“O ADN do clube é a for-
mação e a nossa aposta e
missão passará sempre pela
juventude”, começou por
dizer o presidente Mauro
Fernandes. “A pandemia
trouxe problemas a todos
os clubes. Tivemos um de-
Clube de Guimarães luta créscimo por ausência e não
por desistência, mas agora
para remodelar o pavilhão registámos um aumento na
e assim poder dar passos procura, quer nos escalões
mais baixos, quer no femi-
de crescimento mais firmes nino”, adiantou.
Face à ausência de com-
petição para os mais no-
vos, a criação da equipa sé-
nior feminina e da equipa
B masculina minimizou
alguns dos problemas.
Contudo, embora a procu-
ra seja elevada, a falta de
espaços tem condicionado
o crescimento. O dirigen-
te acredita que brevemen-
te o problema pode ser so-
lucionado, pois a remode-
lação do pavilhão é a pró-
xima meta.
“A procura tem sido ele-
vada, mas não consegui-
mos receber todos os miú-
dos, porque temos as in-
fraestruturas no máximo e
assim não crescemos”, la-
mentou. “Esta Direção
tem como grande meta a
remodelação do pavilhão.
É um edifício que está no
centro da cidade e que tem
de merecer a atenção do
clube e da cidade. É um
equipamento com 30 anos,
mas com muita potenciali-
dade. O clube quer alicer-
çar boa parte da sustenta-
bilidade financeira por via
24 de julho de 2021 Jornal de Notícias
MIGUEL PEREIRA/GLOBAL IMAGENS
Os atletas
Eduardo Almendra
4 anos
“Andava na ginástica e
como já tinha visto um
jogo de andebol decidi
experimentar e gostei.
Gosto de desporto
e é fixe jogar
no Xico Andebol”
Ana Afonso
12 anos
da remodelação do pavi-
lhão. Queremos tornar o “Joguei futebol, mas
pavilhão mais atual e mais não gostava de jogar
económico”, justificou. com rapazes. É uma
A Câmara Municipal de experiência divertida
Guimarães, no entender e para continuar.
de Mauro Fernandes, tem Quero chegar à equipa
revelado sensibilidade e sénior”
poderá tornar-se parceira
na obra. “Precisamos do
apoio da Autarquia e tere-
mos de ter a sensibilidade
do município para a remo-
delação deste equipamen-
to. Há apoios nessas áreas,
recorreremos a elas, sendo
que a corrida por este pro- João Martins
jeto também tem demons- 18 anos
trado interesse até da ini-
ciativa privada. Certamen- “Jogo no Xico desde
te que o município terá o os cinco anos e o gosto
gosto e o prazer de estar foi aumentando.
connosco neste projeto”, Estreei-me pela
perspetivou.  equipa sénior e
vou fazer tudo para
integrar o plantel”
BILHETE
DE IDENTIDADE
Nome: Clube Desportivo
Xico Andebol
Fundação: 24-06-2009
Atletas na formação: 200
Jornal de Notícias 24 de julho de 2021
INTERNACIONAL
KANE, GOLOS SEM A
COMPANHIA DE TÍTULOS
Avançado é o maior goleador ativo no futebol
inglês e City pode oferecer 187 milhões
Avançado pode estar a caminho do Manchester City por 187 milhões de euros!
Vasco Samouco
desporto@jn.pt
INGLATERRA Os 275 golos já
fazem dele o maior goleador
no ativo e um dos maiores
da história do futebol in-
glês. Desses, 166 são na Pre-
mier League, registo só su-
perado – por enquanto – por
seis jogadores, sendo que
nenhum deles tem melhor
média (0,68), e 38 foram
com os três leões a pesar-lhe
no peito, número que faz
dele o sexto melhor marca-
dor da seleção inglesa. E só
precisou de 24 jogos para
chegar aos 20 golos na Liga
dos Campeões. Aos 27 anos,
Kane é também o jogador
mais valioso da Premier
League (120 milhões de eu-
ros, diz o Transfermarkt).
Mas a contrastar com a
exorbitância de golos, há
um vazio que se tornou
maior após a final do Eu-
ro2020. Para mal dos peca-
dos de Nuno Espírito Santo.
Harry Kane é, provavel-
mente, o melhor jogador do
Mundo sem qualquer título
no currículo. Nunca foi
campeão, nunca ganhou
uma taça, por mais insigni-
ficante que fosse, e agora
também sofre por não ga-
nhar com a Inglaterra, ape-
sar de ter estado tão perto.
Supera-se ano após ano, só
que o Tottenham não se
chegou à frente para lhe dar
esse prémio, desaproveitan-
do, só nos últimos anos,
uma final da Champions e
outra da Taça da Liga ingle-
sa, que, assim tivessem des-
fechos diferentes, talvez
evitassem a novela que tem
animado a Premier League.
BOMBA DO MERCADO
Ao fim de 17 anos, o avança-
do está disposto a cortar a li-
gação com os Spurs em
nome dos troféus que ain-
da só viu nas mãos de ou-
ANÁLISE
Futebol não profissional
POR Vasco Oliveira
Treinador
Invasão alienígena
ao futebol
O futebol moderno existe desde 1863 e
as regras concebidas à data da sua ori-
gem, ainda hoje são a base da modalida-
de. A génese e a essência da entidade fu-
tebol não deve ser alterada nem testa-
da, o futebol é um privilégio do povo e
por direito, uma primazia para os seus
praticantes, os verdadeiros artistas des-
ta nobre arte.
ANDY RAIN / POOL / EPA
Foi com base nesta fórmula que o fu-
tebol se transformou num organismo
de referência, relevo e importância
mundial. Contudo, a natural evolução
dos tempos tem vindo a provocar alte-
rações dramáticas na génese do futebol,
convertendo direitos e primazias dos
que praticaram durante anos a modali-
dade, em desordem e inquietação, dan-
do prioridades a quem nunca sentiu
uma carga de ombro, ou mesmo o suor
do seu adversário, muito menos o háli-
to de um árbitro.
Nos dias que correm, muitos jovens já
não querem ser jogadores, querem ser
“Guardiolas, Mourinhos, ou Klopps”
optam pela via do treino desde muito
cedo, seguindo formações académicas
na área do Desporto ou pela rota asso-
ciativa e federativa no que diz respeito
a cursos de treinador, sem nunca terem
praticado a modalidade. Com isto, quan-
do um jogador de futebol termina a car-
reira e decide dar continuidade ao seu
tros. Os rumores que come- percurso no futebol enquanto treina-
çaram a circular no final da dor, é intuitivo e explícito que estes jo-
temporada deixaram de o vens mencionados anteriormente, tem
ser durante o defeso e, por supremacia formativa, pois enquanto
muito que Nuno Espírito uns jogavam outros estudavam.
Santo insista que conta Existe uma brecha para os que nun-
com Kane, o mais certo é a ca praticaram a modalidade e uma
transferência acontecer obstrução resistente para aqueles que
mesmo e estabelecer um
novo recorde no futebol in- Positivo & Negativo
glês, com o Manchester
City disposto a oferecer 187
milhões (!) para tornar o go-
leador no jogador mais caro
da história do clube.
O 23 de maio de 2021 deve
ficar, então, como a data do
último jogo de Kane com a  Reconhece-se à Federação Portu-
camisola do Tottenham. guesa de Futebol uma grande quali-
Dias antes já havia sido dade formativa nos seus cursos ní-
aplaudido de pé pelos com- veis III (UEFA A) e IV (UEFA Pro),
preensivos adeptos do clu- tendo em conta a escolha dos seus
be, no derradeiro jogo em formadores para o efeito.
casa de 2020/21. Eles tam-
bém sabem que golos já ele
tem de sobra; faltam os títu-
los e esses, provavelmente,
só chegarão com outra ca-
misola vestida. 
ATAQUE 11
dedicaram uma vida inteira à prática
do futebol.
O nosso futebol de formação está em
larga maioria entregue ao comando de
pseudoconhecedores da modalidade,
teóricos exímios, mas de um vazio tre-
mendo no que diz respeito ao conheci-
mento prático do jogo. Uma estirpe
nova de teóricos invadiu por completo
o futebol, ensinando aquilo que não se
ensina, impedindo e reprovando os mo-
vimentos inatos do futebol de rua, a
magia do drible.
Poderá um simples cozinheiro ensinar
um samurai a manusear uma espada, só
porque leu e entendeu o manual de ins-
truções? O futebol é uma ciência estu-
dada e com enormes variantes e domí-
nios, por isso, é obviamente importante
e fundamental o estudo académico no
desporto, licenciaturas e mestrados. No
entanto, um diploma não significa au-
toridade máxima nem prioridade abso-
luta, sem a mestria e domínio da moda-
lidade, a teoria torna-se caduca, arcaica,
isenta de “savoir-faire”.
A meritocracia começa a ser escassa no
circuito dos treinadores, existe uma for-
te tribo que adquiriu vantagens forma-
tivas nos últimos 10 anos e que agora do-
mina as vagas existentes, alguns por te-
rem os níveis III (UEFA A) e IV (UEFA
Pro) são escolhidos para integrarem
equipas técnicas com lacunas formati-
vas. Estamos a dar de bandeja o domínio
do futebol a elementos que não são do
futebol, aproveitaram uma físsura para
entrar, corremos o risco de dentro de 15
anos os treinadores nunca terem prati-
cado futebol e os futebolistas não quere-
rem ser mais treinadores.
 A limitação em exclusivo a 30 vagas
nos cursos é inexplicável, gerando
motivo para grande debate e discus-
são. As faculdades não limitam os es-
tudantes ao estudo, por isso existe o
conceito “turmas”, neste sentido, rei-
vindica-se à FPF o direito livre e aber-
to aos treinadores para progredirem
nas carreiras. Começa a ser mais fácil
ser médico em Portugal do que treina-
dor de futebol.
12 ATAQUE 24 de julho de 2021 Jornal de Notícias

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