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Fundado em 1864

www.dn.pt / Segunda-feira 9.8.2021 / Diário / Ano 157.º / N.º 55 628 / € 1,30 / Diretor-geral editorial Domingos de Andrade / Diretora Rosália Amorim / Diretor adjunto Leonídio Paulo Ferreira / Subdiretora Joana Petiz

TÓQUIO 2020 DESPEDE-SE


Os Jogos Olímpicos em plena pande-
mia foram os melhores de sempre
para Portugal e viram a América bater
a China nos ouros por uma medalha.
PÁGS. 22-23

LEON NEAL/GETTY IMAGES


31 CÂMARAS NUNCA
MUDARAM DE COR
RIVAIS MAIS FORTES NÃO ARRISCAM CANDIDATAR-SE
AUTÁRQUICAS Há mais de três dezenas de concelhos que desde 1976 são geridos pelo mesmo partido. Sociais-democratas lideram 11 deles,
socialistas igual número e comunistas nove. CDS só não consegue o pleno em Ponte de Lima porque entre 2001 e 2005 a câmara esteve
nas mãos de independentes. O que explica a perpetuação no poder? Porque fracassam todas as oposições? Dirigentes políticos do PSD, PS,
PCP, CDS e investigadores em ciências políticas analisam um fenómeno que já atravessou 12 eleições autárquicas. PAGS. 4 A 7

Armando Mendes, Covid-19 Brasil Richard Osman


“A base das Lajes não Terceira dose em Lula e Bolsonaro “Ninguém lê livros
perdeu valor estratégico Portugal? “Antes, à procura aborrecidos, esse é o
com o fim da Guerra Fria, é preciso vacinar da cara metade maior crime que se
só ganhou” toda a população” para 2022 pode fazer aos leitores”
PÁGS. 8 A 10 PÁG. 12 PÁGS. 18-19 PÁGS. 26-27

PARQUE ARQUEOLÓGICO DO CÔA COMEMORA 25 ANOS E FAZ CONTAS A OLHAR PARA O FUTURO PÁG. 17
2 EDITORIAL Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

EDITORIAL
Leonídio
Paulo Ferreira
Diretor adjunto do Diário de Notícias

Os países medidos pelo medalheiro


O
s Estados Unidos bateram a Chi- tências, hoje entre Estados Unidos e China tal Unidos foram o país líder do medalheiro por Portugal obteve quatro medalhas, o seu
na, o Japão conseguiu um honro- como no tempo da Guerra Fria era entre Es- 18 vezes. Em Seul 1988, últimos Jogos da melhor resultado de sempre, graças ao ouro
so terceiro lugar como nação or- tados Unidos e União Soviética, a verdade é Guerra Fria, foram batidos pela União Sovié- de Pedro Pichardo, a prata de Patrícia Mamo-
ganizadora (como em Tóquio que países de várias dimensões jogam muito tica. Em Barcelona, uma equipa da Comuni- na e os bronzes de Jorge Fonseca e Fernando
1964), a Grã-Bretanha fez melhor do que do seu prestígio internacional na capacidade dade de Estados Independentes (todas as re- Pimenta. E o país também teve mais 11 resul-
qualquer outro país europeu, os Países Bai- de conquistar medalhas: por exemplo, a pe- públicas ex-soviéticas com exceção dos três tados até ao oitavo lugar, ou seja finalista, o
xos foram um excecional sétimo classificado quena Cuba costuma ser o único rival à altu- países bálticos) dominou o medalheiro, mas que é bem digno. No medalheiro significou a
tendo em conta a população, o Brasil conse- ra do gigante Brasil entre os latino-america- a partir daí nunca mais os Estados Unidos 56.ª posição, entre duas centenas de países,
guiu ficar à frente de Cuba na disputa entre nos, não o México, a Colômbia ou a Argenti- deixaram de exercer a supremacia em ter- mais do que os membros das Nações Unidas.
latino-americanos, a Nova Zelândia merece na. Este ano os brasileiros ficaram à frente, mos de número de medalhas, com a ressalva No Rio 2016 ficámos em 78.º, em Londres
ser um estudo de caso por obter 20 medalhas porque apesar de terem conseguido as mes- de em Pequim 2008 a China, cumprindo a re- 2012 em 69.º.
(e um 13.º lugar) apesar de só ter cinco mi- mas sete medalhas de ouro que os cubanos, gra da superação dos países organizadores, Em termos de PIB, Portugal é 49.º, no Índi-
lhões de habitantes. acumularam mais pratas e bronzes. Em ter sido líder nos ouros. Tóquio 2020 (na reali- ce de Desenvolvimento da ONU 38.º. Signifi-
O medalheiro dos Jogos de Tóquio, organi- 2016, os brasileiros a jogarem em casa, no Rio dade 2021) mostrou como a rivalidade sino- ca isto que vamos ter de investir muito mais
zado com base nos ouros conquistados, é de Janeiro, também bateram os cubanos, -americana (primeiro e segundo PIB mun- no desporto, a começar pelo escolar, se tiver-
uma forma de hierarquizar os países, embo- mas em Londres 2012 os ilhéus conseguiram diais) veio para ficar também no desporto e mos ambições de galgar lugares no meda-
ra mais simbólica do que o PIB ou que o Índi- ficar à frente deles no medalheiro. só no último dia de competição os Estados lheiro já em Paris 2024. Mesmo que até te-
ce de Desenvolvimento Humano da ONU. E Em 29 Jogos Olímpicos da era moderna Unidos conseguiram ultrapassar a China e nhamos mais medalhas per capita do que
se é evidente a disputa entre as grandes po- (ou seja, a partir de Atenas 1896), os Estados ser líderes. americanos e chineses.

FOTO DE 1954 OPINIÃO HOJE


“Os lisboetas olharam para
o céu com vidros fumados, Paulo Baldaia
mas pouco viram do Chega como barriga de aluguer só vai
eclipse do sol”. O parir violência
fenómeno de interceção da PÁG. 11
luz do Sol pela Lua
provocou frenesim entre
os lisboetas, conforme
Mounir Ben Rjiba
A democracia tunisina funciona
noticiava o DN a 1 de julho PÁG. 20
de 1954. Na rua, a
população tentou observar
o eclipse com artefactos Rita Nunes
improvisados, recorrendo Os Jogos Olímpicos Tóquio 2020, das
a “vidros fumados” entre incertezas aos melhores resultados!
as 12.17 e as 14.32 daquele PÁG. 23
dia. Houve até quem
alugasse esses Margarita Correia
“engenhos”, como “um Língua somos todos. Com muitos
vendedor de jornais junto à sotaques, pois claro!
paragem dos elétricos na PÁG. 28
Rua Alexandre Herculano”,
escrevia o jornal. No
telescópio do Observatório
da Ajuda, aí sim, o
fenómeno foi
acompanhado ao detalhe.

Diretor-geral editorial Domingos de Andrade Diretora Rosália Amorim Diretor adjunto Leonídio Paulo Ferreira Subdiretora Joana Petiz Secretário-geral Afonso Camões Diretor de arte Rui Leitão
Diretor adjunto de arte Vítor Higgs Editores executivos Carlos Ferro, Helena Tecedeiro, Pedro Sequeira e Artur Cassiano (adjunto) Grandes repórteres Ana Mafalda Inácio, Céu Neves e Fernanda Câncio
Editores Lina Santos, Ricardo Simões Ferreira, Rui Frias, Filipe Gil,João Pedro Henriques e Nuno Sousa Fernandes Redatores Carlos Nogueira, César Avó, David Pereira,Isaura Almeida, Paula Sá, Susete Francisco,
Susete Henriques, Susana Salvador e Valentina Marcelino Fecho de edição Elsa Rocha (editora) Arte Eva Almeida (coordenadora), Fernando Almeida, Maria Helena Mendes e Lília Gomes Digitalização Nuno Espada
Dinheiro Vivo Joana Petiz (diretora) Evasões Pedro Ivo Carvalho (diretor ) Notícias Magazine Inês Cardoso (diretora ) Conselho de Redação Ana Mafalda Inácio, Carlos Nogueira, Paula Sá, Susete Francisco
e Rui Frias Secretaria de redação Carla Lopes (coordenadora) e Susana Rocha Alves E-mail geral da redação dnot@dn.pt E-mail geral da publicidade dnpub@dn.pt

9.8.2021
Contactos RuaTomás da Fonseca, Torre E, 5.º – 1600-209 Lisboa. Tel.: 213 187 500. Fax: 213 187 515; Rua de Gonçalo Cristóvão, 195, 5.º – 4049-011 Porto. Tel.: 222 096 100;
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junho de 2021: 10 907 exemplares.
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 3

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ALMEIDA GARRETT RAUL BRANDÃO
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CAMILO CASTELO BRANCO ALMEIDA GARRETT
05/12/2020 16:04 06/12/2020 19:03

O arco de Sant’Ana Os pescadores O mandarim A queda de um anjo Falar verdade a mentir


JÁ NAS BANCAS JÁ NAS BANCAS 13 agosto 20 agosto 27 agosto
4 EM FOCO Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

AUTÁRQUICAS
“Concorrer para perder não atrai
candidatos que podiam ser fortes”
BASTIÕES Há 31 concelhos que desde 1976 são geridos pelo mesmo partido. Sociais-democratas lideram 11 autarquias,
comunistas nove e socialistas 11. CDS só não consegue o pleno em Ponte de Lima porque entre 2001 e 2005 a câmara
esteve nas mãos de independentes. O que explica a perpetuação no poder? Porque fracassam todas as oposições?
Dirigentes políticos do PSD, PS, PCP, CDS e investigadores em ciências políticas analisam um fenómeno que já
atravessou 12 eleições autárquicas. Nestes concelhos, as legislativas não provocam mossas nas lideranças locais.

TEXTO ARTUR CASSIANO

J
osé Silvano, secretário-geral nistrativa e financeira; a descentra- Só se fizer muitas asneiras”, ga- mais exigente se torna obter posi- ocupar, de forma tentacular, os de-
do PSD, está convicto de que lização e o reforço dos poderes re- rante José Silvano. ções maioritárias”. mais poderes ou forças vivas da co-
“a influência que o poder au- gionais e as políticas sociais de saú- Jorge Cordeiro, membro da Co- Outra leitura (um recado dirigido munidade local (misericórdias, clu-
tárquico tem no meio empre- de; habitação; emprego; transpor- missão Política e do Secretariado do aos socialistas?), é o facto de “em zo- bes de futebol, agremiações cultu-
sarial e social nos pequenos conce- tes e mobilidade; valorização do Comité Central do PCP, por seu lado, nas de maior influência da CDU ha- rais, bombeiros, etc)”.
lhos permite essa perpetuação” de espaço público e da qualidade de- considera que “os resultados eleito- ver a concentração do voto à direita “O próprio sistema eleitoral, na
um partido numa câmara munici- mocrática) pode justificar a manu- rais da CDU são inseparáveis da no PS, que conduz e obriga a que regra de conversão de votos em
pal. Um fenómeno nascido “nas pri- tenção de funções maioritárias por conjugação de factores de influên- em vários casos a CDU com 40% e mandatos, é bastante despropor-
meiras autárquicas onde existiu, tanto tempo” e explica que “no estu- cia política geral e do trabalho que mais de votação não consiga ser for- cional e penalizador das forças po-
claramente, uma empatia, entre o do que realizámos, é possível verifi- realizamos nas autarquias” e subli- ça maioritária”. líticas mais pequenas, portanto não
partido e o candidato, influenciada car que quando a população esco- nha que “sendo verdade que o valor Francisco Tavares, secretário-ge- é facilitador de mudança, mas ga-
pelas eleições para a Assembleia lhe os autarcas do PS, fá-lo depois do nosso trabalho autárquico e do ral do CDS, defende que “mais do rante de estabilidade e governabili-
Constituinte no ano anterior”. consecutivamente e por vários apoio que lhe é reconhecido con- que os partidos, o que conta aqui dade… e portanto de perpetuação
O social-democrata considera mandatos”. corre para manter posições maiori- são as pessoas. A população sente- no poder. A organização do poder
que os partidos na oposição, Outra explicação é a “matriz tárias, não é menos verdade que em -se representada por aquele que local também concentra demasia-
quaisquer que sejam, ficam colo- transterritorial socialista”, identifi- concelhos onde o diferencial entre apresenta obra”. dos poderes na figura do presidente
cados numa posição de desgaste cada por Raul Lopes, investigador influência nacional e local é maior, “Nos pequenos concelhos acre- de câmara. A omnipotência e omni-
porque “se cria um efeito psicoló- integrado do Centro de Estudos so- dito que seja mais valorizada a pes- presença dos presidentes de câma-
gico de perda”. “Aqui, por norma, bre a Mudança Socioeconómica e o soa do que o próprio partido, mas ra no sistema político local são tam-
não se fazem grandes apostas, Território e professor associado do haverá, certamente, alguns sítios bém dois fatores que gravemente
concorrer para perder não atrai departamento de Economia Políti- onde o hábito de votar num parti- prejudicam o pluralismo e alternân-
candidatos que podiam ser mais ca na Escola de Ciências Sociais e do, num símbolo, seja mais forte, cia no poder”, acrescenta.
fortes”, explica. Humanas no ISCTE-IUL, que José onde a matriz ideológica seja vinca- E o que explica o fracasso das
Em Boticas, por exemplo, autar- Luís Carneiro sintetiza numa frase:
O exercício tentacular da”, acrescenta. oposições, ano após ano – e já pas-
quia com sucessivas maiorias do “Somos o maior partido do poder do poder deixa pouca E é aqui que, segundo o dirigente saram 12 eleições autárquicas –, nas
PSD, o PS não tem candidato à pre-
sidência da câmara, “formalmente,
local e estamos em todos os territó-
rios. De norte ao sul. Do litoral ao
margem na sociedade centrista, estão as dificuldades para
a oposição porque “as pessoas não
31 câmaras que desde 1976 são ge-
ridas pelo mesmo partido? “O exer-
apoiam um independente”. interior. E nas regiões autónomas. civil para que possam estão disponíveis para ouvir outras cício tentacular do poder deixa pou-
“É exatamente isso”, diz Luís Sou- Nos centros urbanos e nos conce- ser discutidas ideias e propostas. Não querem saber de ca margem na sociedade civil para
sa, investigador do Instituto de lhos rurais”. outros partidos.” que possam ser discutidas ideias e
Ciências Sociais da Universidade de Raul Lopes acrescenta uma aná- projetos diferentes. O investigador Luís de Sousa projetos diferentes. As pessoas não
Lisboa. “Estruturas locais invadidas lise temporal. “O PSD há três elei- identifica vários factores que ali- estão para se chatear, outras re-
pelo partido no sentido de tornar o ções que perde influência... e per- mentam o perpetuar do poder: “O ceiam represálias. É mais fácil pac-
presidente de câmara omnipotente de para o PS. Ao contrário do que é momento de transição repleto de tuar com o poder instituído”, afirma.
e omnipresente, redes que se cria- vulgar ouvir-se, o PS não cresce à episódios que poderão ter marcado Mas, também existe a fraqueza
ram nesses primeiros anos, de que custa do BE e do PCP. Se somarmos o eleitorado numa determinada co- “muitas das vezes de organização,
as associações de estudantes dessa os votos dos três partidos, o bloco A omnipotência e munidade local e influenciado o de elites (de candidatos disponíveis,
altura são exemplo da partidariza- da ‘geringonça’, nas autárquicas, omnipresença dos voto”; o facto de que nem todos os com qualidade e as skills necessá-
ção, e que se espalhavam pelo resto”. verificamos que não existe uma partidos estavam devidamente re- rias), de apoio (financeiro, logístico,
Houve mudanças? “Ainda hoje é as- perda. E o PSD? Bom... o PSD ali- presidentes de presentados por todo o território e estratégico) das estruturas nacio-
sim”.
José Luís Carneiro, secretário-ge-
menta-se do CDS”.
E quando se perde um bastião,
câmara prejudicam em alguns casos as estruturas des-
centralizadas eram muito precá-
nais, que muitas das vezes olham
para um determinado município
ral adjunto socialista, afirma que “só uma autarquia histórica? “Recu- gravemente o rias, com fracos recursos e pouca como um caso perdido ou então
uma grande proximidade e confian- perar não é fácil. Transformam-se pluralismo e a capacidade para atrair “os melho- oferecem soluções com pouca acei-
ça da população nos projetos e nas em casos difíceis. O candidato res elementos da terra”; e a forma tação local”.
pessoas que interpretam as estraté- que ganhou só perderá, nas pró- alternância no poder. como o partido, depois de ter con- André Freire, professor catedráti-
gias socialistas (a autonomia admi- ximas eleições, se for muito mau. quistado a autarquia, procurou co em Ciência Política, explica que
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 5

as dificuldades das oposições as-


Autarquias desde VALPAÇOS
PSD 2011 / 2015 / 2019 sentam “no bom desempenho, na
gestão a longo prazo” de quem está
1976 geridas pelo ARCOS DE VALDEVEZ
PSD 2011 / 2015 / 2019 no poder, na “interdependência”
criada entre as “lideranças forte-
mesmo partido mente pessoalizadas” e as “estrutu-
ras locais”, as “redes políticas esten-
COMPARAÇÃO didas pelas forças sociais, económi-
ENTRE AUTÁRQUICAS cas e culturais”. Em síntese, afirma,
E LEGISLATIVAS as “relações consolidadas” numa
BOTICAS “proximidade de porta a porta”.
PSD 2011 / 2015 / 2019 O padrão eleitoral repete-se nas
PS legislativas? “Se houver, é uma fide-
lização ao partido, não havendo, es-
PSD tamos perante um poder local en-
raizado”, afirma. O conceito de que
os fatores nacionais têm um impac-
PCP te importante, persistente e estrutu-
PENEDONO
SANTA MARIA DA FEIRA PSD 2011 / 2015 / 2019 ral nas eleições de segunda ordem é
PSD 2011 / PSD 2015 / PS 2019 visível “nas áreas metropolitanas,
mas esbate-se no interior, nos
meios mais pequenos”, afirma.
“É preciso ter em conta, quem são
os cabeças-de-lista; qual é o histo-
rial das diferentes formações; quais
são as questões prioritárias na co-
munidade em questão; como é que
o poder é exercido e há quanto tem-
po o mesmo partido está no poder;
quais as ligações do partido com as
forças vivas da comunidade, etc.”,
CONDEIXA-A-NOVA considera Luís Sousa.
PSD 2011 / PS 2015 / PS 2019 Ou, como afirma Teresa Ruel,
PENELA professora de Ciência Política no
OLEIROS ISCSP - UL, é preciso compreender
PSD 2011 / PSD 2015 / PS 2019 PSD 2011 / 2015 / 2019 “as redes de relações estabelecidas
entre o presidente da câmara e as
FERREIRA DO ZÊZERE associações locais” .
PSD 2011 / PSD 2015 / PS 2019 MAÇÃO
PSD 2011 / 2015 / 2019 Dito de outra forma: “Quando es-
tamos a falar de municípios onde o
mesmo partido (que pode ou não
CARTAXO
PSD 2011 / PS 2015 / PSD 2019 GAVIÃO ser um partido de governo) se per-
PS 2011 / 2015 / 2019 petua no poder desde 1976, dificil-
LOURINHÃ AVIS mente se deve à influência dos ci-
PSD 2011 / PSD 2015 / PS 2019 PCP 2011 / 2015 / 2019 clos eleitorais a nível nacional”, nota
Luís Sousa.
TORRES VEDRAS CAMPO MAIOR De facto, nas nove câmaras histó-
PSD 2011 / PSD 2015 / PS 2019 PS 2011 / 2015 / 2019 ricas do PCP só em duas existe uma
plena fidelização partidária (voto no
ALENQUER mesmo partido nas autárquicas e
PS 2011 / 2015 / 2019 MORA nas legislativas); no PS, o valor é ligei-
PCP 2011 / 2015 / 2019 ramente superior: quatro câmaras
ODIVELAS em onze; e é no PSD que a fideliza-
PSD 2011 / PS 2015 / PS 2019 ARRAIOLOS ção é maior: oito concelhos em 11.
PCP 2011 / PCP 2015 / PS 2019 Avis e Mora fazem o pleno no
MOITA PCP; Alenquer, Campo Maior, Ga-
PCP 2011 / PS 2015 / PS 2019 REGUENGOS vião e Reguengo de Monsaraz no
DE MONSARAZ PS; Arcos de Valdevez, Boticas, Ca-
SEIXAL PS 2011 / 2015 / 2019
PS 2011 / 2015 / 2019 lheta, Câmara de Lobos, Mação,
Oleiros, Penedono eValpaços são as
PALMELA autarquias onde os eleitores votam
PSD 2011 / PS 2015 / PS 2019 PSD quer sejam eleições autárqui-
cas ou legislativas.
MONTEMOR-O-NOVO Explicação única? Não há. “É pre-
PCP 2011 / PCP 2015 / PS 2019
ciso também compreender se os
SANTIAGO DO CACÉM SERPA eleitores valorizam o pluralismo, a
PSD 2011 / PS 2015 / PS 2019 PCP 2011 / PCP 2015 / PS 2019 concorrência, a alternativa de poder
e a alternância como essenciais à
CALHETA democracia e se sim, porque é que
PSD 2011 / 2015 / 2019 decidem perpetuar os mesmos par-
tidos no poder quando têm a possi-
bilidade de mudar. Poderá ser o re-
ceio de mudar para pior, poderá ser
a sensação de insegurança, poderá
CÂMARA DE LOBOS ser a noção de que o poder instituí-
PSD 2011 / 2015 / 2019 do já gera suficiente alternância e re-
novação por dentro… é preciso
aprofundar estas possíveis explica-
PORTIMÃO
OLHÃO ções”, conclui Luís Sousa.
PSD 2011 / PS 2015 / PS 2019 PSD 2011 / PS 2015 / PS 2019
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6 EM FOCO Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

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Álvaro Beijinha Artur Ceia

O que separa os bastiões Candidato CDU


Santiago do Cacém
Candidato PS
Santiago do Cacém

PSD, PS e PCP? Qual é o


segredo da longevidade
autárquica?
CASOS Boticas é o concelho das maiorias absolutas PSD. No Cartaxo
nem as vitórias esmagadoras de Cavaco fizeram tremer o poder do
PS. Em Santiago do Cacém, os eleitores dividem-se: nas legislativas
votam PSD ou PS, nas autárquicas é sempre CDU.

TEXTO ARTUR CASSIANO

O
pluralismo partidário, tificam nas autarquias portugue- bre as demais forças, porque, boa te de câmara de 1976 a 1993, se
a alternância e as alter- sas, garantindo que “aqui trata- ou má, apresenta obra feita. No prolongou no tempo, deixou mar-
nativas de poder consi- mos todos de forma igual, o gran- entanto, existe também a outra cas. “Ele teve que fazer tudo, criar
derados como essen- de e o pequeno empresário, a pe- face da moeda: a obra que, apesar as infraestruturas básicas”. E cita
ciais à democracia não estão pre- quena e a grande associação”. de todas as condições, podia e de- outros nomes, José Conde Rodri-
sentes em 31 câmaras. Os E porque razão a oposição nun- via ter sido feita, mas não foi”. gues, e Paulo Caldas, que segui-
candidatos dos maiores partidos, ca ganhou? “As pessoas daqui não O candidato acredita que “estas “O segredo? Nada de ram essa linha da proximidade.
em três concelhos, explicam por- gostam de chicana política. Não eleições serão marcadas por cir- promessas vãs, só nos E recorda que a questão local é
que razão os eleitores decidem tenho tido muitas razões de quei- cunstâncias especiais. As ques- comprometemos com de tal forma forte – “um enraiza-
perpetuar as mesmas formações. xa, mas já aconteceu. Aqui, quem tões, os problemas locais, bem mento” – que o PS até conseguiu
fizer isso não terá sucesso. O que como os de índole mais pessoal, li- o que conseguimos resistir a pesadas derrotas em le-
Santiago do Cacém as pessoas querem é os seus pro- gados às diversas lideranças, à realizar.” gislativas. “Aqui o Cavaco chegou
“Aqui, o normal, desde os anos 80, blemas resolvidos” e “além do obra concretizada e as alternativas a ter vitórias esmagadoras, mas
é o PCP eleger quatro, o PS dois e mais”, explica, “as pessoas sepa- locais são fatores que poderão de- Álvaro Beijinha nas autárquicas tudo mudava”.
o PSD um vereador. Já houve uma ram muito bem legislativas de au- terminar a escolha do eleitorado”. Candidato CDU Pedro Ribeiro concorda com a
altura, em 1985, em que se junta- tárquicas. 20% nas legislativas e Outra questão é a separação de leitura de José Silvano, secretário-
ram, numa frente unida contra o 45% nas autárquicas traduzem águas que os eleitores fazem das -geral do PSD, de que "a influên-
PCP, mas voltaram a perder”, re- bem a confiança no nosso traba- distintas eleições. O que no caso cia que o poder autárquico tem
corda Álvaro Beijinha, presidente lho”. de Santiago de Cacém é muito no meio empresarial e social nos
da câmara de Santiago do Cacém, Artur Ceia, candidato socialista evidente. “Existem muitos eleito- pequenos concelhos permite a
que é candidato pela terceira vez à presidência da câmara, prefere res que votam em partidos, inde-
“Uma força politica que perpetuação” de um partido no
– um não militante do PCP que não se alongar em leituras “que pendentemente do candidato, se mantém por tantos poder, mas “é para o bem e para o
“está aqui de camisola vestida” e explicam esta situação até por ser mas a maioria, nas eleições autár- anos no poder acaba mal”, diz.
que explica as vitórias sucessivas a vez que é candidato a eleições quicas, vota em candidatos mais “É preciso ter um trabalho sério
com “o trabalho de décadas, de autárquicas pelo PS”, confiando do que em partidos. Um bom por ter uma vantagem junto das associações locais, se-
inúmeros autarcas”. antes numa mudança. “É certo exemplo é que o PS tem sido, por acrescida sobre as jam elas de caráter social, despor-
“É o reconhecimento, um fenó- que em muitas regiões do nosso regra, a força partidária mais vo- demais forças, porque, tivo, cultural... e repare que desde
meno relacionado com o reconhe- país ainda existe uma espécie de tada nas eleições legislativas, mas 16 de outubro de 2013 que não
cimento. A população confia no tradição em termos de tendência em Santiago do Cacém, até à data, boa ou má, apresenta dou um cêntimo para o associati-
nosso trabalho. E naturalmente, de voto, mas julgo que em Santia- este domínio não teve qualquer obra feita.” vismo, não há dinheiro... e apesar
uma política de proximidade num go do Cacém as próximas eleições influência”. disso fui reeleito”, enfatiza.
concelho que é disperso. O segre- ditarão uma prevalência do pro- Artur Ceia “E nenhuma associação fe-
do? Nada de promessas vãs, só nos jeto em detrimento da tradição”. Cartaxo Candidato PS chou. Tiveram que se reinventar.
comprometemos com o que con- E o fracasso sucessivo das opo- “É um concelho de matriz de es- Multiplicaram-se as iniciativas
seguimos realizar”, afirma. sições? “Julgo que, em alguns ca- querda, existe uma base sociológi- para angariar verbas. Nós apoiá-
Álvaro Beijinha recusa a ideia sos, definir o trabalho da oposição ca de esquerda, mas não explica mos com o que podíamos, equi-
de uma gestão pessoalizada que como fracasso pode ser manifes- tudo. Se fosse só a fidelização pura pamento, meios... dinheiro é que
garanta a perpetuação do poder. tamente exagerado. Nas ultimas de votar sempre na mãozinha, não “Há uma fidelização ao não há”, explica.
“Aqui não há dinossauros políti- eleições autárquicas, por exem- resultaria, não teria o PS tantas vi- A câmara do Cartaxo chegou a
cos, sempre houve alternância. plo, a coligação atualmente no tórias desde 1976”, explica Pedro partido nas autárquicas estar entre as três mais endivida-
Não é um rosto, é um projeto poder perdeu a freguesia de Alva- Ribeiro, presidente de câmara e desde o 25 de Abril, mas das do país com um buraco finan-
alongado no tempo que envolve lade e perdeu a maioria nas fre- candidato pela terceira vez. há também o voto na ceiro de 63 milhões de euros. As
muitas pessoas, militantes e não guesias de Santo André e na “Há uma fidelização ao partido receitas de “13 milhões de euros
militantes. Eu, por exemplo, não União de Freguesias de Santiago nas autárquicas desde o 25 de pessoa, mais forte até são basicamente consumidas
sou militante”. do Cacém, Santa Cruz e São Bar- Abril, fruto de um trabalho de pro- do que as marcas pelo pagamento de juros, seis mi-
O autarca também afasta como tolomeu da Serra”. ximidade. Mas há também o voto ideológicas.” lhões, e pelos sete milhões em sa-
argumento as “redes de relações Artur Ceia reconhece que “uma na pessoa, mais forte até do que as lários”. A autarquia é o maior em-
estabelecidas entre o presidente força política que se mantém por marcas ideológicas”, afirma. Pedro Ribeiro pregador do concelho, quase 350
da câmara e as associações lo- tantos anos no poder acaba por O autarca sublinha que o lega- Candidato PS pessoas – um terço no sector da
cais”, que os investigadores iden- ter uma vantagem acrescida so- do de Renato Campos, presiden- Educação.
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 7

Pedro Ribeiro João Heitor Fernando Queiroga Xavier Barreto


Candidato PS Candidato PSD Candidato PSD Candidato independente
Cartaxo Cartaxo Boticas Boticas

João Heitor, candidato social- “Atualmente, as ligações econó- com quem as pessoas mais se conduzem a uma atividade arbi-
-democrata, afirma que “as pes- micas entre autarquia e associa- identificam.” trária e ilusória, ao propagar só o
soas daqui são resistentes à mu- ções serão poucas, até porque em Sobre o fracasso sistemático da que é abonatório”, afirma.
dança, ainda existe o estigma do alguns casos as empresas do con- oposição, Fernando Queiroga O candidato fala de uma gestão
partido dos ricos”. E conta que até celho nem sequer são consulta- apresenta uma justificação simé- autárquica pessoalizada, concen-
“amigos lá de casa me disseram das para fornecimento à autar- trica. “Provavelmente, porque a trada numa única pessoa. “Tem
que não votavam em mim, di- quia, ainda assim poderá haver “As pessoas aqui são população não se identifica com havido evidentemente a implan-
ziam: ‘somos amigos, mas não empresários ou dirigentes que se resistentes à mudança, os candidatos nem lhes reconhe- tação de um sistema autocrático
consigo votar em ti, estás no par- possam sentir condicionados ce valor. É preciso trabalhar cons- do qual não sou fã. Evidentemen-
tido do ricos’”. pelo receio de perder a possibili- ainda existe o estigma tantemente em prol do desenvol- te, é muito mais fácil administrar
O líder da concelhia local do dade de negócio ou benefício. Te- do partido dos ricos. vimento da nossa terra e não ape- quando uma única cabeça orien-
PSD, aproxima-se da leitura do mos que acreditar que, nesta altu- Olham o partido como nas de quatro em quatro anos, ta. Contudo, não será a forma
candidato socialista – a da matriz ra, não será um fator decisivo”, quando há eleições autárquicas”. mais honesta, nem a mais justa,
histórica de esquerda – e explica afirma Jorge Heitor. se fosse um clube de “O nosso povo quer ver trabalho nem a mais democrática, nem a
que nos mais velhos ainda existe “Quem está na governação tem futebol, é para a vida.” e identifica-se com quem trabalha mais correta”.
a crença ideológica. “Olham o a facilidade de estar permanente- e não com quem, demagogica- Xavier Barreto, que em 2013 foi
partido como se fosse um clube mente próximo das populações, João Heitor mente, promete aquilo que sabe candidato pela CDU e durante al-
de futebol. É para o resto da vida, coisa diferente de quem está fora, Candidato PSD não poder cumprir”, garante. guns anos presidente de junta na
independentemente de quem lá que tem um trabalho e uma vida Fernando Queiroga que asse- freguesia de Dornelas, elenca as
está ”. que não permitem ter tempo para gura não ter tido a direção nacio- particularidades de uma política
“Há questões sociológicas e esse trabalho político”, e essa tem nal do partido qualquer interfe- local “especial e sui generis”, do
ideológicas que explicam de algu- sido uma “dificuldade do PSD”, rência na escolha do candidato a “contacto pessoal, a referência
ma forma esta perpetuação de conclui. “O nosso povo quer ver presidente de câmara – “Rigoro- pública, famílias numerosas que
poder. Muitas vezes, a decisão de trabalho e identifica-se samente nenhuma. As escolhas devidamente integradas podem
voto é tomada olhando apenas ao Boticas são feitas localmente pela Comis- ser as decisoras do futuro destes
partido e não aos resultados da Fernando Queiroga, candidato a com quem trabalha e são Política de Secção” –, não vê territórios, integrando listas que
governação”, considera. um terceiro mandato pelo PSD, e não com quem, qualquer influência de resultados são transformadas numa espécie
Jorge Heitor admite que esta que em 2017 obteve mais de 77% das legislativas nas eleições locais. de tronos que vão sendo alterna-
pode ser uma dificuldade, a par dos votos, encontra na “perpetua-
demagogicamente, “São atos eleitorais completa- dos entre si”.
da tradicional elevada abstenção ção no poder” uma explicação promete aquilo que sabe mente distintos e que não têm in- “Um jogo de cadeiras entre
– “a descrença no sistema político, simples. “O PSD tem desde sem- não poder cumprir.” fluência um no outro”. amigos, colaborantes que dificul-
leva a que muita gente insatisfei- pre apresentado os melhores pro- Xavier Barreto, engenheiro flo- tam a pluralidade de opiniões e
ta não exerça o seu direito de jetos para a nossa terra e os me- Fernando Queiroga restal, que lidera a lista de inde- até de decisões”, salienta.
voto” –, mas “não quer fazer disto lhores candidatos, que represen- Candidato PSD pendentes, e que tem apoio do PS E porque não consegue a oposi-
uma questão ideológica, mas sim tam de forma intransigente os que nestas eleições não apresen- ção chegar à liderança da autar-
uma plataforma de entendimen- interesses da população, seguin- tou candidato, afirma que a “per- quia? Xavier Barreto considera
tos”. E dá como exemplo o facto do uma política aberta e de diálo- petuação acontece, muitas das que “a história diz-nos isso muito
de ter nas suas listas “95% de pes- go permanente com os muníci- vezes, pela dependência que se bem: as minorias que lutam con-
soas que não são militantes nem pes e direcionando os recursos da “Um jogo de cadeiras cria nos cidadãos e empresas pela tra poderes pseudo instalados
tinham quaisquer ligações ao autarquia para as reais necessida- tutela da câmara ou entidades têm um caminho sinuoso, árduo
PSD... e muita gente das associa- des das pessoas”. entre amigos, co-ligadas. O grande desafio é ge- e difícil. Primeiro, porque quem
ções locais, pessoas desiludidas “A população identifica-se com colaborantes que rir o dinheiro público de outra está no poder tem sempre a opor-
com o que se tem passado”. os candidatos e confia-lhes, atra- dificultam a forma”. tunidade de poder decidir e exe-
O candidato acredita que “essa vés do voto, a gestão dos destinos “E aqui temos, por exemplo, a cutar, o que não é análogo a quem
rede [a ligação da câmara às asso- do concelho”, afirma. pluralidade de opiniões falta de uma forma de governar está na oposição. Quantas ideias
ciações], essa malha se está a es- Para o candidato, o que impede e até de decisões.” clara e transparente, onde os cida- levadas pela oposição para o bem
bater”, mas não esquece os “qua- a alternância política tem a mes- dãos sejam conhecedores do que comum, são pura e simplesmen-
se 350 empregos que a câmara ma explicação. “O PSD apresenta Xavier Barreto realmente é a gestão autárquica, te chumbadas por uma questão
dá... e depois há que fazer contas sempre os melhores candidatos, Candidato independente temos a falta de avaliação pública partidária? Muitas”.
aos indiretos”. os melhores projetos e aqueles das iniciativas e resultados que artur.cassiano@dn.pt
8 POLÍTICA Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

Armando Mendes
“A base das Lajes não perdeu
valor estratégico com o fim
da Guerra Fria, só ganhou”
GEOPOLÍTICA “Entre o carro de bois e o avião: uma pequena comunidade no centro de uma
rivalidade global” foi a tese do jornalista açoriano Armando Mendes que lhe deu o doutoramento
pelo ISCTE em História, Defesa e Relações Internacionais. Mas mais do que olhar para o passado
da base das Lajes, o investigador tenta agora perceber porque razão nunca os EUA desistirão dela.

ENTREVISTA LEONÍDIO PAULO FERREIRA FOTOS LEONARDO NEGRÃO na Terceira

A base das Lajes perdeu valor estra- Diminuta em relação ao antes… não podes ter hostilidade aqui, daí a sar problemas ao controlo que a
tégico com o fim da Guerra Fria ou Não sei. Neste momento temos os explicação para a negação de aces- Royal Navy tinha do Atlântico e das
essa perda é mais recente? P8 Poseidon que substituem os P3 so. Ou seja, os norte-americanos e a entradas e saídas do Mediterrâneo.
A base das Lajes não perdeu valor Orion a fazerem operações de bus- NATO, mas sobretudo os norte- Portanto, nós vivemos as três cir-
estratégico, só ganhou. A base das ca de submarinos, porque os russos -americanos no caso dos Açores, cunstâncias. Agora, ninguém tenha
Lajes na Guerra Fria tinha um papel estão no Atlântico com submarinos não querem nem podem ter potên- ilusões: quando nós fizemos o Acor-
na realidade bipolar e agora tem de ataque de alta performance. Con- cias concorrentes nos Açores. É isso do das Lajes de 1995 – um outro
muitos papéis na nova realidade, tinua intacta a capacidade de com- a negação de acesso. Posso explicar mito, que é bom que fique claro –, a
que é uma realidade assimétrica, bustível da base das Lajes e conti- de uma forma muito prática com a ideia vigente em Portugal era a de
dispersa, ainda com pouco conhe- nua-se a manter uma série de ope- História: no final do século XIX Por- que a base das Lajes tinha deixado
cimento sobre a evolução das coi- rações na base que nós, tugal meteu-se numa dívida brutal, de ter importância uma vez que ti-
sas, mas a verdade é que já não vive- obviamente, não sabemos muito aliás como é costume, e para resol- nha acabado a Guerra Fria. Era essa
mos numa realidade bipolar, vive- bem para que são, quais são as fina- ver o problema havia várias hipóte- a ideia corrente em Portugal, e foi
mos numa situação multipolar. As lidades. Continua a haver os siste- ses. A que estava mais em cima da com base nessa ideia que Portugal
pessoas fazem uma confusão que é: mas de comunicação, os sistemas mesa era dividir Portugal entre algu- negociou. O Prof. Medeiros Ferreira
se se faz um downsizing numa base, de redundância das comunicações. mas potências. Ora, a solução que explicou que cada vez que há nego-
pensam que se fez esse downsizing Está tudo operacional. Ou seja, vol- foi encontrada foi a de entregar os ciações com potências estrangeiras,
porque ela perdeu importância, não tando novamente ao problema da Açores a Inglaterra para que esta tra- em Portugal há ideias muito estra-
pensam que o downsizing foi feito visibilidade: é mais importante a tasse dessa dívida. Assim, os Açores nhas, como, por exemplo, desvalo-
porque há outras realidades, há operação que hoje se faz na base das estiveram entregues a Inglaterra en- rizarmo-nos a nós próprios, even-
outras formas de fazer a guerra, ou- Lajes com pouca visibilidade? É tre o final do século XIX e o fim da se- tualmente a soldo das potências es-
tras formas de estar e de ocupar o mais indispensável a operação que gunda Guerra Mundial – depois trangeiras – é uma hipótese, isso
espaço. há hoje na base, eventualmente in- houve passagem de mão para os Es- poderá ter acontecido em Portugal.
Está a dizer que os americanos não visível, ou a operação que se fazia de tados Unidos – e, praticamente, não A verdade é que enquanto Portugal
deixaram de valorizar as Lajes, só reabastecimento no solo que agora se sabia. Foi preciso alguns investi- andava a negociar a base das Lajes,
que não as usam como usavam du- se pode fazer no ar? O problema é gadores irem a arquivos ingleses assumindo que isto não era impor-
rante a Guerra Fria e portanto preci- que se faz no ar, mas tem de ser a para se saber o que se tinha passado. tante, os americanos – isto está es-
sam de menos pessoal? partir daqui. Ou de outra maneira: E o que é que se passava aqui: passa- crito em documentação que eu pró-
Usar, usam, eu já explico. Há três va-se que a Inglaterra nem sequer prio descobri e usei na minha tese
formas de ter um espaço: uma é de precisava de usar os Açores, precisa- de doutoramento – estavam a dizer:
uma forma muito visível, para a va era de que outros não usassem os Acabem lá com essa negociação
ação; outra é de uma forma absolu- Açores. Então, os açorianos ficaram porque nós precisamos de usar isso
tamente invisível, que é para nega- impedidos de desenvolver os seus rapidamente com liberdade, por-
ção, ou seja, não se quer estar ali, “A verdade é que se portos, de ter contactos e contratos que o mundo pós-Guerra Fria vai
mas também não se quer que nin- com as potências marítimas em as- ser um mundo mais complicado do
guém esteja e se ninguém estiver
se fizer projeção censão e que se afirmavam, como a que aquele que existia durante a
está tudo bem porque não precisa de força dos EUA França, a Alemanha, etc. Portanto, Guerra Fria.
de se estar lá; a terceira, é ter aquilo para espaços da ficámos aqui numa situação de po- É um mundo mais complicado, mas
reservado para si. Os Açores funcio- breza por não nos podermos rela- provavelmente não vai haver aque-
nam das três maneiras, por isso é Europa, Médio cionar internacionalmente, porque las operações como o apoio a Israel
que muitas vezes se torna invisível a
importância do espaço geoestraté-
Oriente, África, etc., os Açores estavam a ser usados
numa estratégia de negação. Quer
na Guerra do Yom Kippur que fize-
ram as Lajes míticas. É tudo mais
gico dos Açores. não se pode ter a zona isto dizer que embora eu não quei- discreto hoje em dia. Armando Mendes
Em que situação estão os Açores dos Açores degradada ra usar, os outros também não po- Por enquanto, são mais discretas. junto à estátua
neste momento? dem usar porque isto é demasiado Há potências em ascensão que se de Vasco da Gama
Nas três. Temos a base das Lajes em com inimigos aqui.” estratégico e vão-me causar proble- estão a posicionar. Como eu disse, em Angra do Heroísmo.
ação… mas se o usarem. No caso, era cau- os russos estão no Atlântico, eles
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 9

têm uma boa tradição de marinha e, jeção de força dos EUA para espaços
no caso, estão aparentemente a da Europa, Médio Oriente, África,
evoluir bem na arma submarina etc., não se pode ter a zona dos Aço- “Há aqui uma outra
que os americanos, ou a NATO, ten- res degradada com inimigos aqui. dimensão da base
tam controlar com os P8. Os chine- Daquilo que tem investigado, não
ses têm a frota no Mediterrâneo e já exclui que um dia possa haver um das Lajes que eu
se preparam para ter bases no reinvestimento americano, até em tenho de contar:
Atlântico, sobretudo na costa de termos humanos, nos Açores?
África e, obviamente, vão querer su- Será sempre variável de acordo com é que a base trouxe
bir. Pelo menos, passam a degradar as necessidades, de acordo com as outro mundo à ilha
a situação no Atlântico a partir da formas de fazer a guerra, de acordo
costa de África. Há as novas rotas com as tecnologias presentes e de
Terceira. A primeira
que se vão abrir com o crescimento acordo com os desafios que forem vez que há televisão
do comércio no Atlântico através da sendo colocados. O que eu defendo
rota do norte e das rotas que os chi- é que o espaço geoestratégico dos
em Portugal é a partir
neses estão a preparar. O controlo Açores é absolutamente essencial da base das Lajes,
dos Açores é absolutamente essen- para o controlo do Atlântico, funda- metade da ilha
cial. Ou seja, a importância geoes- mentalmente desta zona do Atlân-
tratégica de um lugar não é pelo tico, mas também para intervir no Terceira começa a ver
aparato, é pelas funções que ele de- Atlântico Sul. As formas de uso, é televisão antes
sempenha, é se as funções são im- que umas vezes nós percebemos,
portantes, se são decisivas ou se não outras vezes não percebemos. Para de Portugal sonhar
são importantes e não são decisivas. percebermos, por exemplo, a forma sequer, lá fora em
As funções do espaço geoestratégi- de uso das Lajes, temos de perceber
co dos Açores são importantes e de- as novas formas de fazer a guerra, te- Lisboa, que havia
cisivas. mos de perceber muito bem os no- televisão.”
Então o downsizing está a ser mal vos desafios, temos de perceber que
interpretado. No fundo, afirma que a realidade bipolar bruta da Guerra
estamos a valorizar muito o impac- Fria acabou e que o mundo hoje é
to humano, ou seja, o número de multipolar. Isto significa desafios
americanos que havia cá e o empre- que envolvem várias potências e já
go que isso criava na comunidade percebemos alguns deles e outros
local, e estamos a interpretar isso ainda não. Já percebemos que a
como uma perda de importância Rússia, ao contrário do que se dizia,
geoestratégica da base? pode ser um problema; já percebe- jes com a perda significativa de em-
São novas formas de fazer a guerra, mos que o Médio Oriente, afinal, é prego, com a perda significativa de
são novos desafios que os EUA e a sempre um problema; já percebe- negócios que estavam agregados à
NATO, mas, no caso, sobretudo os mos que determinadas zonas de base e a funcionar à volta das Lajes.
EUA, têm e são formas de dar res- África são problemas recorrentes, Tudo isso sem substituição porque
posta a esses novos desafios. É pos- etc. Enfim, nós já começámos a per- nós não estávamos preparados.
sível dar resposta, hoje, com as tec- ceber isto tudo que se dizia que ti- Nunca pensámos que a Guerra Fria
nologias existentes, etc., com me- nha acabado com o fim da Guerra ia acabar, que existiriam novas for-
nos gente e com outro tipo de Fria, afinal não acabou, continua a mas de pensar a guerra, que existi-
recursos. Isto não quer dizer que o existir e os espaços geográficos em riam novas tecnologias, que a utili-
espaço geoestratégico seja menos determinadas zonas da Terra conti- zação dos espaços seria subordina-
importante, o que quer dizer é que é nuam a ser muito importantes para da às novas tecnologias, que os
usado de outra forma, e o que quer o controlo destas coisas. O que é in- desafios da rivalidade que aí vinha
dizer também é que do ponto de concebível é controlar esta zona do iriam ser diferentes. Nunca pensá-
vista dos EUA o espaço não pode ser Atlântico, fazer a ligação entre o ter- mos porque nunca quisemos estu-
é usado por outros. Já imaginou o ritório continental norte-america- dar nada disso. É uma característica
que seria os Açores fazerem acor- no, a Europa, África, etc. e não con- dos Açores e de Portugal também.
dos, por exemplo, com os chineses, trolar o espaço geoestratégico dos Uma ou outra pessoa estuda isto,
e que estes colocassem nos Açores Açores. mas em termos de massa crítica,
uma força chinesa qualquer, que te- Até agora tem estado a falar como nós não estudamos estas coisas.
ria de ser “civil”, entre os EUA e a Eu- académico, agora vou-lhe fazer Está a dizer que o famoso downsi-
ropa? uma pergunta como açoriano, zing poderia ter sido antecipado?
Há quem diga que os EUA nunca como terceirense. Sente um vazio Fomos apanhados de surpresa. A
poderiam prescindir nem do Havai grande nesta redução das Lajes, grande lição que nós tiramos disto,
(que é um estado americano) nem por aquilo que as Lajes representa- da base das Lajes, é que não pode-
dos Açores. Isso significa que essas vam no dia a dia da população? mos voltar a ser apanhados de sur-
são as duas fronteiras distantes dos Sim, mas nós temos de ver isto pela presa. Nós não temos de pensar em
Estados Unidos? seguinte perspetiva: temos de falar voltar a ter uma base com a dimen-
Eles encararam sempre isso como um pouco dos impactos das bases. são da base das Lajes. Há quem faça
as suas duas fronteiras distantes, Os impactos das bases, sobretudo vida a pensar nisto, mas isso não vai
como duas zonas de contenção. bases com a dimensão das da Guer- provavelmente acontecer e, se
E isso não mudou? ra Fria, que eram equiparadas a pe- acontecer, é por pequenos perío-
Não. E também como zonas de pro- quenas cidades norte-americanas – dos. O que nós temos de pensar é
jeção. Por exemplo, podemos dizer cidades dos subúrbios norte-ame- em montar uma economia que seja
que hoje em dia os aviões podem ricanos – era um impacto ilusório, alternativa e que não seja depen-
passar por cima e fazer projeção de porque essas bases tenderam sem- dente de uma base militar.
força, mas não é bem assim porque pre a congregar a economia das zo- A base das Lajes, durante uns anos,
depende do que queremos pôr den- nas onde se implantaram e no caso foi como se houvesse petróleo aqui
tro do avião – se queremos carregar de uma ilha isso era verdadeira- na ilha Terceira. Não vale a pena
o avião muito ou se queremos car- mente evidente. Depois, ou com pensar que se vai descobrir outro
regar o avião pouco. Isso tem que processos de downsizing por algu- poço de petróleo…
ver com a otimização da platafor- ma razão, ou até com o encerra- Não. Nós temos de pensar efetiva-
ma. Muitas vezes, para ser bem oti- mento de bases, deixam uma situa- mente numa economia sem uma
mizada, ela terá de ser abastecida ção de terra queimada que, econo- base militar, desligada de uma base
efetivamente em terra ou abasteci- micamente, é extremamente militar, e tudo o que vier da base mi-
da no ar a partir de uma zona qual- complicada. Foi efetivamente o
quer. A verdade é que se se fizer pro- caso que aconteceu na base das La- continua na página seguinte »
10 POLÍTICA Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

“Nunca ninguém nos Açores pensou que a Guerra Fria ia acabar, que existiriam
novas formas de pensar a guerra, que existiriam novas tecnologias”

» continuação da página anterior

litar vem por bem. Ou seja, nós te-


mos de negociar esta base, aliás está
na altura de renegociar porque o
contrato é de 1995 e em relação a
outra base completamente diferen-
te. Só que nós temos aqui um pro-
blema: para negociar temos de ter
conhecimento, ou seja, nós temos
de saber efetivamente, inquestiona-
velmente, para que é que esta base
serve. Mais importante ainda:
quando nós estamos a falar da base
das Lajes, ela representa o espaço
geoestratégico dos Açores. Portan-
to, temos de saber, inquestionavel- Base Aérea N.º 4, mais conhecida por base das Lajes, tem
mente, para que é que serve o espa- longo historial de presença americana. Portugal, hoje, usa-a
ço geoestratégico dos Açores, para essencialmente para operações de busca e salvamento.
que é que as potências querem esse
espaço, para sabermos o que é que
isto vale para cada uma das partes biental, que tem levantado agora
que vão estar em negociação. E nós especiais dúvidas. Pode explicar?
não sabemos. Nós, pura e simples- Todas as bases da dimensão da base
mente, não sabemos. Nunca estu- das Lajes vão criando, nas zonas
dámos estes fenómenos. Qual é o onde estão implementadas, um le-
exemplo que eu posso dar? Imagine gado ambiental complicado. A base
que tem uma casa em Lisboa, mas das Lajes criou um legado ambien-
não é de Lisboa e nunca estudou o tal extremamente complicado, cha-
mercado em Lisboa, e quer vender mado crosscontamination. Porque
a sua casa. Se não conhecer o mer- é contaminação a partir de vários
cado, não falou com ninguém que elementos: hidrocarbonetos, me-
conheça o mercado, qual é o preço tais pesados e mais uma série de
que vai pedir pela casa? Nem sequer coisas, que afetou e afeta os aquífe-
sabe o que é que casa vale para o ou- ros, os solos e também afeta o ar
tro que vai para lá… Portanto, não através da emanação a partir dos so-
sabe muito bem como é que vai ne- los. É um problema que foi trazido
gociar. A base das Lajes é a mesma para a opinião pública em 2008 pela
coisa. Por exemplo, em 1995 nós as- primeira vez por mim. Através de
sinámos um acordo que, pela docu- documentos que me foram entre-
mentação que é pública e que eu gues por norte-americanos que me
trabalhei, foi assinado no pressu- disseram que não havia maneira de
posto de que o espaço geoestratégi- resolver este problema e, portanto,
co dos Açores não valia nada para os se eu queria pegar no assunto no
Estados Unidos. Diário Insular e na Antena 1 Açores.
Desvalorizámos o nosso produto? Eu disse que sim e os americanos
Desvalorizámos. Agora está na altu- entregaram-me primeiramente o
ra de voltar a um acordo, mas eu te- relatório de uma empresa alemã e
nho muito medo de que voltemos a quando se foram embora um deles
um acordo, porque nós queremos virou-se para trás, apontou-me o
outras coisas dos EUA, queremos mensão da base das Lajes que eu te- nhar sequer, lá fora em Lisboa, que za diferente, tanto em termos eco- dedo, e perguntou-me assim: ‘Do
pequenas coisas dos EUA. Podemos nho de contar: é que a base trouxe havia televisão. Há a estação de rá- nómico-financeiros como em ter- you have balls for this?’. Se tinha co-
dar o espaço geoestratégico dos outro mundo à ilha Terceira. A pri- dio americana. Alguns dos melho- mos culturais. ragem. Respondi: ‘vou tentar’. De-
Açores em troca dessas pequenas meira vez que há televisão em Por- res grupos de música rock, pop, jazz, A Terceira é uma ilha mais aberta, pois juntei a este processo um pro-
coisas – como habitualmente acon- tugal é a partir da base das Lajes, vieram aqui à ilha. Nós temos aqui mais tolerante, mais cosmopolita? fessor da Universidade dos Açores,
tece, como tem acontecido – e de- metade da ilha Terceira começa a discografia muito antes de aparecer Não tenho dúvidas nenhumas. Félix Rodrigues, com conhecimen-
pois quem vai perder outra vez vão ver televisão antes de Portugal so- a música anglo-saxónica, sobretu- E é por causa da base? tos mais técnicos, pois a minha for-
ser os Açores. do americana, no espaço europeu. É por causa da base das Lajes. Aliás, mação é nos Estudos de Defesa e Se-
É óbvio que a base afetou a sua vida Nós sempre usufruímos disto tudo, uma das coisas que estamos a ten- gurança e Relações Internacionais.
porque investiga a relação de defe- criámos uma cultura que é efetiva- tar estudar é precisamente esse im- E conseguimos que fosse feita uma
sa dos EUA com Portugal, mas de mente portuguesa, mas com toque pacto em várias vertentes. Uma das abordagem nas comissões que ge-
um ponto de vista mais íntimo: foi anglo-saxónico. minhas ideias, por exemplo, é ten- rem o acordo das Lajes, pelos ame-
uma criança que cresceu na ilha Isso distingue a Terceira das outras tar perceber se o impacto da cultu- ricanos, pelos Ministérios da Defe-
Terceira, o que é que esta presença ilhas dos Açores? ra americana à volta da base das La- sa e dos Negócios Estrangeiros em
dos americanos lhe dizia? Eram os Isso distingue a Terceira das outras jes mudou a perspetiva das pessoas Portugal, mas o assunto não tem
jeans que podia ter, era a Coca-Cola “Já imaginou ilhas dos Açores e não só. Isto es- expostas. Por exemplo, eu sei que sido resolvido. Sei que o atual gover-
que bebia, como é que isso lhe che-
gava a si?
o que seria os Açores praia-se pelos Açores porque nas
primeiras décadas da base há mui-
para os açorianos, a pena de morte
não é aceitável. Será que é aceitável
no regional quer encarar isto numa
perspetiva que leve a alguma forma
O meu pai trabalhou desde sempre fazerem acordos, ta gente das outras ilhas que vem para aqueles que andaram décadas de resolução. E se houver renegocia-
na base das Lajes e o meu irmão por exemplo, trabalhar para as Lajes e que leva expostas à cultura americana e à te- ção do acordo das Lajes entre os
também trabalha na base, portanto esta cultura consigo. As consequên- levisão americana? EUA e Portugal esse terá de ser um
a minha ligação às Lajes é muito im- com os chineses?” cias são, efetivamente, um modo de Falando dos muitos legados dos dos pontos fortes.
portante. Há aqui uma outra di- vida diferente e, de facto, uma rique- americanos da base, há um, o am- leonidio.ferreira@dn.pt
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 11

popularidade do Chega para “es- gados a reforçar a vigilância para nófoba, chegada de todos os par- comportamento muito grave a
palhar o ódio racial”. As autori- perceber quando é que os ditos tidos, incluindo muitos que se afirmação de orgulho em ser dife-
dades, também elas infiltradas legais podem e devem ser consi- afirmavam de esquerda e defen- rente e pertencer a uma minoria.
por movimentos extremistas derados ilegais. sores da tolerância. É aqui que Por tudo o que está a ser cria-
como o Movimento Zero nas po- Percebia-se desde o início que estamos, num tempo em que se do a partir deste partido homo-
lícias, lembram que os aquela conversa xenófoba e ra- admitem comportamentos à fóbico, racista e xenófobo, se
Hammerskins partilham muitas cista, travestida de combate ao margem da lei, a caminho de exige da Justiça uma atenção re-
ideias com o Chega, “nomeada- politicamente correto, para falar uma violência que se tornará dobrada e uma exigência que
mente na discriminação de imi- do que ninguém queria falar, ser- normal e para a qual não faltará não permita desculpas esfarra-
grantes e minorias étnicas”. via era apenas para tornar legal o gente a tentar convencer-nos padas. Espero bem que levem a
Quando a explicação que nos que todos sabemos ser crime. que se justifica pelo comporta- sério a ameaça que representa
dão para que tudo isto pareça Não se estranha, por isso, que a mento das vítimas. Sendo que um partido que acolhe racistas,
normal é a de que os grupos de barriguinha de aluguer, criada por comportamento das vítimas fascistas e nazis.
extrema-direita se diluíram nou- por um ex-militante racista do se deve entender também a cor
Opinião tros legais, “com especial inci- PSD, acabaria por servir para tra- da pele, a escolha da roupa ou a
dência no Chega”, estamos obri- zer à luz do dia gente racista e xe- pertença a uma comunidade. E Jornalista
Paulo Baldaia
PUB

Chega
como barriga
de aluguer
só vai parir
violência

Q
uando um ministro
mergulha para nadar
com as amêijoas ou
uma ministra vai bus-
car neve à Serra da Estrela para
levar até Lisboa, isso diz muito
sobre a forma como estes gover-
nantes veem as pessoas para as
quais governam mas diz muito
mais sobre a infinita estupidez
que habita os gabinetes de
marketing político. Basta dar
uma vista de olhos pelos carta-
zes das autárquicas para confir-
mar que a maioria dos candida-
tos não tem nada de muito sério
para dizer aos eleitores.
Temos os políticos que mere-
cemos, mas o atestado de estu-
pidez que nos querem passar é
sobre matéria bastante mais
grave e bastante mais perigosa,
para a qual se pede a ação con-
creta da polícia e da justiça. Fon-
tes judiciais e policiais disseram
ao Expresso que há neonazis a
infiltrar-se no Chega, mas o par-
tido afirma desconhecer essas
infiltrações, garantindo que não
há nenhum infiltrado em cargos
dirigentes. Não há para já, por-
que candidatos homofóbicos,
racistas e xenófobos é coisa que
não falta no partido de Ventura.
E adeptos da violência como for-
ma de fazer prevalecer as suas
ideias militam há muito no Che-
ga, como se viu em Viseu.
São sobretudo os membros
mais antigos do grupo de
Hammerskins que estão a infil-
trar-se no partido do ex-comen-
tador da CMTV. Este grupo, que
tem vários membros acusados
de espancar negros, comunistas
e homossexuais e que vão ser jul-
gados por tentativa de homicí-
dio, discriminação racial e ofen-
sa à integridade física qualifica-
da, aproveita a crescente
12 SOCIEDADE Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

Até terça-feira passada


Portugal tinha 5 851 054 de
pessoas com vacinação
completa (57%) e 7 059 701
(69%) só com uma dose.

superior ao que estamos a ter”.


O médico sublinha que os núme-
ros atuais provam que “a vacina fun-
ciona”. Por isto, “não me parece que
uma decisão sobre uma terceira
dose seja tomada já. Não quer dizer
que não se venha a tomar no futuro.
A terceira dose, provavelmente, será
inevitável - há estudos que nos vão
dizer certamente quando é que esta
deverá acontecer –, mas temos de
investir na vacinação completa da
população e o Governo tem de con-
tinuar a passar a mensagem que,
mesmo vacinados, há que cumprir
as regras básicas de proteção”.
Para o bastonário, a iniciar-se um
processo de reforço de vacinação.
há que olhar primeiro para o que es-
tão a fazer os outros países, que ini-
ciaram a terceira dose “pelas pes-
soas mais idosas, mais frágeis, com
comorbilidades complexas associa-
das, que são os que podem ter um
desfecho fatal, e pelos profissionais
de saúde e cuidadores que são os
que estão mais expostos ao vírus”.

Terceira dose em Portugal? “Antes, O presidente da APMSP, Ricardo


Mexia, considera importante que à
medida que o processo de vacina-
ção avança se vá tendo dados sobre

é preciso vacinar toda a população” a imunidade adquirida, à seme-


lhança do que está a acontecer em
outros países, pois tais dados “serão
úteis para tirarmos conclusões”,
COVID-19 Médicos concordam que reforço na vacinação poderá ser inevitável, mas dizem embora sublinhe que “há um fator
importante a ter em conta”. “Nós
ser preciso mais evidência científica e proteger todas as pessoas com as duas doses. podemos ter um indicador de des-
cida de anticorpos, mas não quer di-
TEXTO ANA MAFALDA INÁCIO zer que não estejamos protegidos,
porque há uma imunidade humo-
ral, mas também a imunidade celu-

H
á países, como a Hungria, mente consolidados e só depois po- dose foi mesmo um dos laborató- “Portugal tem de aguardar mais al- lar, que também permite responder
Turquia, Israel, Rússia e demos ouvir os nossos organismos rios, a Pfizer, que desenvolveu uma gum tempo”. Miguel Guimarães ar- a uma eventual infeção”.
República Dominicana, técnicos, nomeadamente, a Dire- das vacinas aprovadas para comba- gumenta que “é necessário ter a no- Para Ricardo Mexia, os dados al-
que já avançaram com a ção-Geral da Saúde (DGS) e depois, ter a covid-19, depois de acompa- ção, através de estudos mais abran- cançados são importantes para se
terceira dose para a população mais em conformidade com as decisões nhar a evolução da eficácia da vaci- gentes, não só de imunidade tomarem decisões, mas também “é
idosa, vulnerável e profissionais de tomadas com o órgão técnico, po- na na população em geral, mas, por humoral, mas também de imunida- muito importante percebermos
saúde. Outros, como a Alemanha e a dermos planear e atuar”, disse Antó- agora, ele próprio considera que de celular, que também é protetora, que ainda nos falta vacinar muita
França, já anunciaram que vão avan- nio Lacerda Sales. sobre o estado de imunidade geral gente com a primeira dose e com a
çar em breve, apesar de a Organiza- Um estudo serológico realizado após a vacinação”. Ou seja, “é preci- segunda para completar a vacina-

1982
ção Mundial de Saúde (OMS) ter so- pelos serviços de Patologia Clínica e so aumentar a evidência científica ção. E este deve ser o foco. Se, entre-
licitado aos países mais ricos que não de Saúde Ocupacional do Centro sobre esta questão, como é preciso tanto, tivermos dados robustos que
o façam e que disponibilizem essas Hospitalar Universitário de Coim- aumentar o nível de vacinação da apontem para a necessidade de
vacinas para os países mais pobres. bra (CHUC), divulgado ontem pelo população”, sustenta. uma terceira dose, então devemos
Em Portugal, o bastonário dos médi- DN, vem demonstrar que a presen- Casos. Este é o número Miguel Guimarães salienta que ponderar a situação, mas, como
cos e o presidente da Associação Por- ça de anticorpos desce para um sex- de infeções positivas Portugal já tem neste momento um digo, primeiro temos de concluir a
tuguesa de Médicos de Saúde Públi- to em relação ao valor inicial, ao fim registadas no dia ontem. nível confortável de população va- vacinação de toda as pessoas”.
ca (APMSP), apesar de aceitarem que de três meses da vacinação comple- Há ainda a destacar dez cinada com a primeira dose, mas O médico e epidemiologista con-
a terceira dose deverá ser inevitável, ta, e que a tendência de descida se mortes. Lisboa e Vale do Tejo que as próprias “autoridades de saú- corda que, em relação aos últimos
defendem que, “neste momento, é mantém ao fim de seis meses, em- foi a região com mais casos, de já perceberam que só com a se- surtos conhecidos em lares portu-
preciso vacinar primeiro toda a po- bora de forma mais atenuada, para 742, e mais mortes, seis. gunda dose é que a resposta à doen- gueses, as vacinas estão a cumprir
pulação com as duas doses”. cerca de um terço em relação aos ça é mais robusta. Portanto, é preci- os seus objetivos. “As vacinas foram

849
O secretário de Estado Adjunto e valores anteriores. A médica res- so ir mais longe e vacinar mais desenhadas para evitar a doença
da Saúde, na sexta-feira passada, ponsável laboratorial pelo diagnós- rapidamente”. grave e a mortalidade e mesmo no
questionado pelos jornalistas sobre tico covid-19 desta unidade hospi- De qualquer forma, sublinha que contesto dos lares, que é dos mais
a necessidade de uma terceira dose talar referiu ao DN que estes resul- a vacinação já está a ter o seu impac- vulneráveis, isso está a acontecer,
para as populações mais suscetíveis, tados são significativos e que, mais Internamentos. Este é o to na população, “no que é a gravi- porque, apesar de tudo, do ponto de
confirmou que a questão ainda não tarde ou mais cedo, a terceira dose número de hospitalizações dade da doença, sobretudo nos la- vista da severidade da doença e da
está em cima da mesa. “Não deve- será “inevitável”. registadas no dia de ontem, res, porque com a incidência que te- mortalidade estamos longe do que
mos abrir expectativas em relação a O bastonário Miguel Guimarães, menos 11 do que no mos provavelmente teríamos foi a realidade de janeiro e de feve-
algo que ainda não está sobre a em declarações ontem dadas ao sábado. Do total, 184 são muitas mais pessoas internadas em reiro. A questão também tem de ser
mesa. Precisamos de robustez cien- DN, lembra que quem começou internamentos em enfermarias e em cuidados intensi- colocada nesta perspetiva”.
tífica, precisamos de dados devida- por colocar a questão da terceira cuidados intensivos. vos, e um número de óbitos muito anamafaldainacio@dn.pt
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 13

Marie Tharp, a geóloga que mergulhou


carregava travo a cárcere. Uma
vez mais, a condição feminina
impunha-se. Às mulheres, era-
-lhes interdito o trabalho de cam-

a cartografia no fundo dos oceanos po. Marie Tharp compunha os


seus dias com um terceiro curso
superior, o de Matemática, na
Universidade de Tulsa.
CIÊNCIA VINTAGE Estudou Inglês, Geologia, Matemática, antes de ingressar no projeto Mil novecentos e quarenta e
oito, a cidade de Nova Iorque e o
na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, que representou visualmente territórios norte-americano Maurice Ewing,
geólogo e oceanógrafo, teceram a
inexplorados. Na década de 1950, Marie Tharp ofereceu ao Mundo um novo olhar sobre trilogia que abriu um novo cami-
os fundos oceânicos e revelou as extensas cordilheiras que estes ocultam. nho a Marie e que a levaria na dé-
cada seguinte a resgatar do ano-
nimato os fundos oceânicos. Em
1948, a geóloga rumou à Big
Apple onde, na Universidade de
Columbia, integrou a equipa de
Ewing. Marie, conhece aí um jo-
vem geólogo, Bruce Heezen. Jun-
tos, trabalham sobre dados foto-
gráficos para a localização de ae-
ronaves militares abatidas na
Segunda Guerra Mundial. A du-
pla faz um primeiro “mergulho”
nos oceanos. Segue-se-lhe uma
missão sob as águas que se pro-
longará por quase três décadas.
Heezen embarcou em mais de
LAMONT-DOHERTY EARTH OBSERVATORY E PROPRIEDADE DE MARIE THARP

três dezenas de expedições a bor-


do do navio de pesquisa Vema.
Em alto mar, com base na bari-
metria, método que permite a
medição da profundidade dos
oceanos, o geólogo coletou cen-
tenas de milhares de dados cien-
tíficos. Tharp, a quem foi negada
autorização para se juntar às
missões oceânicas, traduzia em
terra, sob a forma de mapas, a in-
formação matemática e os dados
sismográficos de terramotos
submarinos. Nascia um padrão
de relevos que, em 1957, originou
o primeiro mapa fisiográfico do
Atlântico Norte seguido, em
1961, do mapa do Atlântico Sul,
mais tarde, em 1964, o do Ocea-
no Índico.
TEXTO JORGE ANDRADE Marie Tharp tratou de Um gigantesco puzzle que re-
tornar em objeto visual o velava todo um sistema de cordi-
fundo do Oceano Atlântico, lheiras submarinas. No final da

E
leva-se 2351 metros aci- montanhas submersas, o rifte, obreira do seu primeiro década de 1950, Marie extraiu ao
ma do nível do mar, sobe- sulco central, liberta continua- mapa científico. “novo” mundo subaquático a
rana em todo o Atlântico Heinrich Berann mente lavas, construtoras da matéria-prima que fundamentou
adjacente. Para encontrar e o desafio da crusta oceânica. a hipótese que, havia anos, ron-
gigante que ombreie com a Mon- Não obstante o seu gigantismo, dava a cartilha de um grupo de
tanha do Pico, no arquipélago dos representação as dorsais oceânicas (o sistema geólogos. Em 1967, Dan McKen-
Açores, há que viajar mais de 1400 global do fundo global de dorsais estende-se por zie, professor de geofísica da Uni-
Km para sueste, rumo ao Roque do mar 64 mil Km), mantiveram-se des- versidade de Cambridge, no Rei-
de los Muchachos, pico com 2426 conhecidas até à década de 1950. 1940, se sentar como geóloga no no Unido, sustentou num artigo
metros, no arquipélago das Caná- Em 1977, a revista National Como também o era a generalida- Observatório Geológico Lamont, publicado na revista Nature a teo-
rias. Abaixo da superfície, sob as Geographic sintetizou num único de dos fundos oceânicos. Coube à na Universidade de Columbia, ria da Tectónica de Placas. Esta,
águas do Atlântico Norte, a Mon- mapa a cores o trabalho de décadas dupla de geólogos norte-ameri- em Nova Iorque, Marie teve de assenta em dois princípios: um, a
tanha do Pico não é, contudo, da dupla Tharp e Heezen. Ao pintor canos, Bruce Heezen e Marie superar o preconceito da época: deriva continental, e outro, a ex-
monólito solitário. A queda e cartógrafo austríaco Heinrich Tharp, revelar ao mundo um ter- às mulheres não lhes estava re- pansão dos fundos oceânicos,
abrupta de cinco mil metros Berann, coube a tarefa de ritório que, então, se apresentava servada carreira na geologia. responsável pela geração do sis-
rumo ao abismo, tem raízes na apresentar visualmente o fundo dos menos mapeado do que a Lua. Tharp, nascida em 1920, contra- tema de dorsais oceânicas, iden-
cordilheira subaquática que se es- oceanos terrestres. The World Marie, em particular, tratou de riou o destino, terminou o bacha- tificadas por Tharp e Heezen.
tende por mais de 11 mil Km. São Ocean Floor, implicou milhares de tornar em objeto visual o fundo relato em Inglês, recusou o cami- Heezen faleceria em 1977 víti-
poucos os locais onde a dorsal horas de trabalho ao artista que, na do Oceano Atlântico, obreira do nho de docência, enveredou num ma de ataque cardíaco no decor-
mesoatlântica se revela. A altura época, trazia um invejável currículo seu primeiro mapa científico. Ta- novo curso superior, a Geologia, rer de uma das expedições ocea-
média dos picos da cumeada, en- na criação de mapas panorâmicos. refa meticulosa que careceu tan- foi contratada pela American Oil nográficas de mapeamento do
tre os dois e três mil metros, que- Entre eles, a representação de 1962 to de conhecimento científico Company, petrolífera a operar no fundo marinho. Tharp manteria
da-se abaixo das ondas. A Islân- da cordilheira dos Himalaias, na como de labor de artesã, na mi- estado do Oklahoma. A Marie, jo- até 1983 a sua ligação à Universi-
dia, a Ilha de Ascensão e Tristão Ásia. Para a conclusão do mapa núcia de reproduzir à escala, com vem que correra os horizontes dade de Columbia. Em 1995,
da Cunha, juntam-se aos Açores monumental, Heinrich baseou-se tinta-da-china e aguarela uma largos dos estados do Iowa, Mi- doou a sua coleção de mapas à
no rol de territórios que revelam a em centenas de fotos dos picos área com mais de cem milhões de chigan e Alabama, a par de seu Biblioteca do Congresso. Faleceu
atividade subaquática conturba- montanhosos e sobrevoou em quilómetros quadrados. pai, agrimensor, o trabalho de es- em 200, aos 86 anos.
da da dorsal. No seio da cadeia de aeronave o Monte Evereste. Antes de no final da década de critório, na avaliação de mapas, dnot@dn.pt
14 QUESTIONÁRIO DE PROUST Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

O famoso questionário respondido pela historiadora Ana Paula Pires

“Os meus heróis da ficção? Harry Potter.


E a inteligência da Hermione Granger”
A sua virtude preferida? Os heróis da vida real?
A tenacidade que nos permite sermos capa- Os meus avós, que me incutiram os valores
zes de defender os princípios e valores em que por que procuro reger a minha vida: lealdade
mais acreditamos. e honestidade.

A qualidade que mais aprecia num homem? As heroínas históricas?


A integridade é a qualidade que mais aprecio Todas as mulheres que,
em qualquer ser humano. de uma ou outra for-
ma, desafiaram os
A qualidade que mais aprecia numa mulher? seus limites procuran-
A integridade. do quebrar conven-
ções, desconstruindo
O que aprecia mais nos seus amigos? aquilo que seria um “típi-
O humor mordaz aliado a um sentido crítico co papel feminino”: Frida
muito apurado. Kahlo,VirgíniaWoolf, Rosa Parks e Madonna.

O seu principal defeito? Os pintores preferidos?


Costumam dizer que é a teimosia…. Frida Kahlo e todas as cores com que escolheu
retratar uma vida de superação e de desafios
A sua ocupação preferida? físicos constantes.
Ler, mas não considero que seja uma ocupa-
ção, é algo que faz parte de quem sou desde Compositores preferidos?
que a minha avó me ensinou a juntar as pri- Brandi Carlile, uma can-
meiras letras. Nunca se está sozinho quando tora e compositora nor-
se tem um livro por perto. te-americana que ad-
miro e que já tive o pri-
Qual é a sua ideia de “felicidade perfeita”? vilégio de ver ao vivo,
A perfeição é algo que não existe, mas a minha diversas vezes.
ideia de felicidade passa por um final de tarde
na praia, em boa companhia. Os seus nomes preferidos?
Mateus, Rita e Matias.
Um desgosto?
Perceber que as pessoas mais importantes da O que detesta acima de tudo?
nossa vida não são imortais. O vazio deixado A hipocrisia.
por essas ausências é algo que nunca se con-
segue preencher. A personagem histórica que mais despreza?
As personagens históricas são a matéria-pri-
O que é que gostaria de ser? ma como que trabalho, diariamente, há per-
Gostaria de nunca deixar de evoluir, procu- sonagens que nos são, mais ou menos simpá-
rando ser, sempre, uma melhor versão de ticas, mas é preciso sempre enquadrá-las no
mim. contexto em que viveram.

Em que país gostaria de viver? O feito militar que mais admira?


Países são unidades geográficas muito distin- A revolução de Abril de 1974 que permitiu, en-
tas, prefiro cidades. Não me importava de mo- tre outras coisas, a democratização do acesso
rar em Palo Alto, uma cidade no norte da Ca- ao ensino superior. A educação é, para mim,
lifórnia onde vivi quando realizava o pós-dou- o melhor elevador social.
toramento na universidade de Stanford.
A cor preferida? cuja ironia mordaz traçou, talvez, o melhor re- O dom da natureza que gostaria de ter?
Todos os tons de azul. trato do que significa ser português. Mas, A liberdade, nunca se é verdadeiramente livre.
também,VirginiaWoolf, BrunoVieira Amaral
A flor de que gosta? cuja biografia genial de José Cardoso Pires Como gostaria de morrer?
Todas aquelas que nos são acabei de ler. Com a ausência de degradação física e inte-
oferecidas no momento cer- lectual que, em muitos casos, antecede a
to, por alguém que admira- Poetas preferidos? morte.
mos e que significa algo para Sophia de Mello Breyner
nós. Andresen. Estado de espírito atual?
Uma curiosidade inquieta, sempre.
O pássaro que prefere? O seu herói da
A andorinha, porque sim- ficção? Os erros que lhe inspiram maior indulgência?
boliza a mudança de esta- Harry Potter. Todos os que no momento em que os come-
ção e a chegada dos dias temos não tivemos capacidade para fazer me-
longos e quentes. Heroínas favoritas na lhor.
ficção?
O autor preferido em prosa? A inteligência da Hermione Granger. Gosto A sua divisa?
Philip Roth, Julian Barnes, Eça de Queiroz, muito do universo que a J.K. Rowling criou. Trabalho, rigor e perseverança.
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021
DINHEIRO 15

Constituição de empresas imobiliárias


aumentou 37% em seis meses
SECTOR Lisboa, Porto e Setúbal foram os distritos onde nasceram mais sociedades imobiliárias no primeiro
semestre deste ano. Principais redes estão a reforçar a sua presença: já há 30 mil consultores no país.

TEXTO SÓNIA SANTOS PEREIRA

O
setor imobiliário está a
puxar pela recupera-
ção da atividade em-
preendedora do país.
Nos primeiros seis meses deste
ano, foram constituídas 2278 em-
presas para operar nas áreas da
compra e venda de imóveis, me-
diação e arrendamento, um au-
mento de 37% face ao mesmo pe-
ríodo de 2020. A resiliência que
este negócio tem apresentado
face à crise sanitária poderá ex-
plicar esta aceleração na criação
de sociedades imobiliárias, mas,
ainda assim, foram fundadas me-
nos 63 empresas que no primeiro
semestre de 2019. No global, o
país viu nascer 20.926 novas em-
presas nos primeiros seis meses
de 2021, mais 14,4% que no ho-
mólogo do ano passado.
Segundo dados disponibiliza-
dos pela Informa D&B, na área da
atividade de compra e venda,
contabiliza-se a criação de 1.432
sociedades entre janeiro e o final
de junho deste ano, um cresci-
mento de 47% face ao homólogo
2020 e 6% mais que no mesmo
período de 2019. Já para operar ao
nível da angariação, avaliação e
medição imobiliária foram cons-
tituídas 591 sociedades, um incre-

GLOBAL IMAGENS
mento de 30%, mas ainda longe
das 705 registadas no ano anterior
à pandemia. No segmento do ar-
rendamento, registaram-se 183
firmas, um aumento de 20%. Na
atividade da administração de
condomínios verificou-se a entra- rios foram constituídas mais so- em igual período do ano passado. presa mantém o objetivo de fe-
da de 72 novos operadores, tendo ciedades nesta primeira metade A maior rede imobiliária do país char 2021 com 52 hubs a nível

371
sido a única área dentro do subse- de 2021 do que em igual período incrementou também o número ibérico e cerca de 1500 colabora-
tor atividades imobiliárias a apre- de 2019. Em Lisboa, o aumento de consultores, contabilizando dores.
sentar uma quebra na formação foi de 29% face aos primeiros seis no final de junho 9.754 profissio- A Engel & Völkers, especializa-
de empresas (menos 6%). meses do ano passado e no Porto nais, um aumento de 839 agentes da na mediação de imóveis de
Em termos absolutos, os distri- de 28%. Localizações Só a Remax face ao período homólogo. luxo, abriu recentemente um
tos que apresentaram um maior Portugal fechou a primeira A Keller Williams Portugal tam- processo de recrutamento em
dinamismo empreendedor fo- Redes crescem metade do ano com 371 agências, bém comunicou ao mercado que Portugal, visando a integração de
ram Lisboa (criadas 791 empre- No primeiro semestre do ano, as mais 21 do que em igual período no primeiro semestre abriu três 30 novos agentes imobiliários. A
sas dentro do subsetor atividades principais redes imobiliárias a do ano passado. No país, há mais novos market centers, asseguran- empresa de origem alemã está
imobiliárias), Porto (398), Braga operar em Portugal estiveram de 3600 empresas de mediação do agora 28 espaços, e aumentou otimista quanto à evolução do
(181), Setúbal (175), Faro (161) e bastante ativas quer no reforço imobiliária. o número de associados para mercado imobiliário no país, mas
Aveiro (108), segundo os dados de do número de agências em terri- mais de 2400, um crescimento de também a nível internacional.

15
nascimento de empresas com tório nacional quer no incremen- 31%. A marca já revelou que até Nos seis primeiros meses deste
publicação de constituição no to do número de consultores. A ao final de 2023 quer ter em ope- ano, a Engel & Völkers abriu 33
portal de atos societários do Mi- Century 21 iniciou a operação de ração uma rede de 50 market cen- novas agências no mundo e cap-
nistério da Justiça. Analisando o mais 15 agências neste período, ters e 10 mil consultores. tou mais de 800 profissionais
crescimento a nível percentual, respondendo agora por 174 uni- Agências A Century 21 iniciou a Por sua vez, a Zome tem agora para trabalhar com o apoio da
destaca-se o aumento de 72% na dades e uma equipa de 3105 con- operação de mais 15 agências no 19 hubs em funcionamento no marca.
criação destas empresas em Bra- sultores imobiliários. A Remax primeiro semestre de 2021, país, o que compara com os 15 de No país, há mais de 3600 em-
ga, de 50% em Aveiro, de 103% em Portugal fechou a primeira meta- respondendo agora por 174 igual período do ano passado, e presas de mediação imobiliária e
Santarém e de 100% em Viseu, de do ano a contabilizar 371 espa- unidades. Ao todo, há cerca de está a preparar a abertura de mais cerca de 30 mil consultores.
sendo que em todos estes territó- ços de mediação, mais 21 do que 30 mil consultores no país. três nos próximos meses. A em- sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt
16 DINHEIRO Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

Uma competição, CARREIRAS


EM ALTA
visibilidade global ANA PAULA VITORINO
Presidente
TECNOLOGIA KPMG Private Enterprise Tech da Autoridade
da Mobilidade
Innovator quer premiar soluções inovadoras. e dos
Transportes
Antiga ministra
TEXTO ALEXANDRA COSTA do Mar assume a

RUI COUTINHO/GI
presidência da AMT na
segunda-feira, para um

A
ligação da KMPG com isso, capacitando as empresas mandato de seis anos.
o empreendedorismo de maior possibilidade de aces- É licenciada em Engenharia
com a Web Summit so a novas formas de financia- Civil e tem o grau de
Preços do Mercado Ibérico regressam a máximos históricos. vem de longe. Mais mento. especialista em Transportes
precisamente da primeira edi- O lançamento oficial da ini- e Vias de Comunicação pela
ção – que foi feita através do fi- ciativa, ou, por outras palavras, Ordem dos Engenheiros.

Preço da eletricidade nanciamento disponibilizado


pela consultora. A ideia por de-
trás do KPMG Private Enterpri-
a abertura das inscrições, tem
início hoje, 9 de agosto, e decor-
re até ao dia 22 de setembro. Os
Desde 2005 que exerce as
funções de deputada eleita
pelo PS.

volta hoje se Tech Innovator in Portugal -


que deriva da iniciativa Best Bri-
tish Tech Pioner – pretende ser
vencedores serão anunciados
entre 1 e 4 de novembro, na Web
Summit, dando ainda mais di-
SÍLVIA BARATA
Presidente da bp

a bater recorde uma iniciativa transversal e glo-


bal que permite, por um lado
responder às novas necessida-
vulgação a ideias e soluções
com provas dadas no mercado
(mas sem atingirem a dimensão
em Portugal
Substitui
Pedro Oliveira
ENERGIA Preços do gás e das emissões de CO2 des e ter visibilidade global, ou,
por outras palavras, colocar a
e o estatuto de grandes empre-
sas).
na liderança
da bp em
também provocam subida no preço da energia. rede da KPMG ao serviço do Neste momento, segundo a Portugal e irá acumular a
ecossistema empreendedor e, KPMG, já está confirmada a presidência com a direção
por outro, usar essa mesma rede participação de empresas da de Operações de Retalho.
como “montra”. Uma rede que África do Sul, Alemanha, Ango- Há 30 anos na empresa,
TEXTO FILIPE MORAIS está presente em mais de 50 paí- la, Arábia Saudita, Bahrein, desempenhou várias
ses e que permite o acesso a Botswana, Brasil, Canadá, Egip- funções na área financeira
mercados mais maduros no que to, Emiratos Árabes Unidos, Es- da bp Portugal, e desde

A
última vez tinha sido a 21 mais baixos; fora isso, este mês a concerne ao empreendedoris- panha, Estados Unidos da Amé- 2000 passou a ocupar
de julho; hoje repete-se: o média de rpeços tem sido de 92,4 mo e a formas de o financiar. rica, Etiópia, Gana, Índia, Irlan- cargos de dimensão Ibérica.
preço da eletricidade no euros MW/h. Mas mais do que isso. Como da, Israel, Marrocos, Maurícias, Em 2018, foi nomeada
mercado grossista bate No mercado grossista, os produ- refere Nasser Sattar, head of ad- México, Nigéria, Peru, Portugal, European Assets Portfolio
um novo recorde: 106,74 euros por tores lançam as suas ofertas para o visory da KPMG Portugal e pre- Qatar, Quénia, Reino Unido, Manager.
megawatt/hora, superando assim dia seguinte, fixando os preços para sidente do júri que avaliará as Taiwan, Zâmbia e Zanzibar.
os 106,57 euros MW/h de dia 21. cada hora do dia. candidaturas, a iniciativa acaba A candidatura é simples. Bas- RAÚL GRIJALBA
Os dados são doMIBEL, o Merca- A justificar a subida de preços está por ser mais “um reforço na re- ta preencher o formulário no si- Diretor-Geral da
do Ibérico de Eletricidade, que on- a pressão dos preços de gás nos lação com os empreendedores”. te da KPMG. Os candidatos de- Região
tem fixava os preços da eletricidade mercados internacionais, mas tam- Isto porque o executivo reco- vem ser uma empresa registada Mediterrânica
que entram hoje em vigor. O peço bém os preços dos direitos de emis- nhece que a empresa está em- em Portugal e operar no merca- da Experis
que entra hoje em vigor triplica as- sões de CO2, tal como já tinha acon- penhada em “mostrar ao mun- do há cinco anos ou menos. De- Ingressou no
sim no mercado grossista face à se- tecido em julho. Uma tendência do o que de melhor e mais ino- vem ainda ser um negócio na ManpowerGroup
gunda segunda-feira de agosto, que a Associação de Comercializa- vador se faz no nosso país, de área da tecnologia, cujo maior há mais de duas décadas,
quando estava nos 38,09 euros dores de Energia no Mercado Libe- forma a contribuir também acionista não seja uma grande tendo sido nomeado, em
MW/h. Por períodos horários, o pre- ralizado (ACEMEL) já admitia no úl- para a consolidação do nosso empresa e que tenha gerado re- 2006, diretor de Operações
ço máximo será de 114,07 MW/h timo mês, quando Ricardo Nunes, ecossistema e aumentar mais o ceitas entre 850 mil e12,75 mi- da Manpower. Chegou
entre as 21:00 e as 22:00 e o mínimo presidente da ACEMEL, dizia ao DV nível de atração de Portugal lhões de euros; ou ter captado depois a diretor-geral da
entre as 16:00 e as 17:00 , quando que estes valores se iam “agravar para acolher novos negócios”. pelo menos 425 mil euros em empresa em Espanha. Em
será de 97,95 euros MW/h. mais ainda” nos próximos tempos. Ou seja, por um lado dar visi- equity. Acresce ainda a obriga- 2012 assume a presidência
Como adiantava ontem o espa- “À medida que, na Europa, vamos bilidade a soluções inovadoras, toriedade de todos os partici- do grupo naquele país.
nhol Cinco Dias, a semana arranca desenvolvendo cada vez políticas de capazes de dar resposta às no- pantes em nome de uma em- Toma agora conta da
com um novo máximo histórico, transição [energética] mais poten- vas necessidades do mercado, presa terem de ser residentes Experis, a marca tecnológica
depois dos primeiros dias de agos- tes, sem que exista ainda suficiente dando, ao mesmo tempo, uma em Portugal e maiores de idade. do grupo Manpower.
to, em que os preços se mantiveram penetração de energias renováveis, publicidade, no mundo e, com dnot@dn.pt
nos 100 euros MW/h: apenas na é natural que o preço continue a su- ANTÓNIO MARTINS
sexta-feira dia 6 e aos fins de sema- bir até que tenhamos condições téc- DA COSTA
na os preços da eletricidade foram nicas para sermos abastecidos ape- Diretor
nas por produção de tecnologia não executivo do
poluente”, afirmava então. MBA do
PUB Quanto à fatura final dos consu- ISCTE EE
midores, o Ministério do Ambiente O assessor do
explicava em jullho que a subida do conselho de administração
preço da eletricidade no mercado executivo da EDP é o novo
grossista ibérico tem um “duplo diretor executivo do MBA
efeito” no preço final pago pelas (EMBA) do ISCTE Executive
empresas e famílias: “por um lado
REINALDO RODRIGUES/GI

Education (ISCTE EE) e


agrava a componente de energia, Professor Catedrático da
mas, por outro lado, alivia a compo- mesma instituição,
nente de acesso às redes”, a qual, re- substituindo António
lembra, representa cerca de 60% do Gomes Mota, que se
preço final da eletricidade antes de mantém como docente
impostos. desta escola superior na
filipe.morais@dinheirovivo.pt Empresas premiadas vão ter acesso ao palco da Web Summit. área de Finanças.
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021
LOCAL 17

Parque Arqueológico do Côa comemora


25 anos e faz contas a olhar para o futuro
GRAVURAS A área considerada Monumento Nacional e Património da Humanidade soube promover-se e impor-se
ao avanço do betão. Neste quarto de século recebeu 271 mil visitantes e foram descobertas 1200 rochas com gravuras.

O
Parque Arqueológico do jeto consolidado e assim deverá
Vale do Côa (PAVC) assi- continuar nos próximos anos, sem
nala amanhã o 25.º ani- sobressaltos de maior: “Basta que se
versário e apresenta uma continue a gerir bem o que foi con-
atividade marcada pela investiga- quistado nos últimos 25 anos.”
ção, que sustentou a descoberta de O também arqueólogo João Zi-
1200 rochas com gravuras rupes- lhão, outro nome ligado à criação do
tres, e acolheu 271.626 visitantes. PAVC, ex-diretor do antigo Instituto
“O PAVC recebeu ao longos destes Português de Arqueologia, primei-
25 anos de existência 271.626 visi- ro diretor do parque, que foi respon-
tantes e foram descobertas 1200 ro- sável pela elaboração do processo
chas sendo 45 visitáveis em quatro de candidatura à classificação de
núcleos: Penascosa, Fariseu, Cana- Património Mundial, concorda que
da do Inferno e Ribeira de Piscos”, não há qualquer dúvida sobre o si-
disse à Lusa a presidente da Funda- gnificado científico e valor patrimo-

PEDRO GRANADEIRO / GLOBAL IMAGENS


ção Côa Parque, Aida Carvalho. nial da arte rupestre doVale do Côa.
Em 10 de agosto de 1996, o então “Hoje, chegamos a Vila Nova de
primeiro-ministro António Guter- Foz Côa e a primeira coisa que ve-
res inaugurava formalmente o pri- mos são os cartazes do município e
meiro parque arqueológico portu- de outras entidades proclamando
guês, assegurando uma virtual pro- com orgulho que Foz Côa é o único
teção legal ao que já então concelho do país com dois monu-
constituía o complexo de arte ru- mentos do património mundial, o
pestre do Vale do Côa. Douro vinhateiro e a sua arte paleo-
Aida Carvalho destaca os muitos lítica. Acho que isso diz tudo sobre o
trabalhos em curso, no local, e uma quão de bom senso foi a decisão de
agenda de investigação a decorrer. Um arqueólogo junto a uma das milhares de gravuras. Em baixo a paisagem inconfundível do Côa. abandonar o projeto de construção
“Nos próximos tempos as escava- da barragem, e conservar as gravu-
ções vão continuar no sítio de arte ras como Parque Arqueológico”,
paleolítico do Fariseu [rocha 9] e na adaptar-se às novas procuras, diver- vincou.
Cardina-Salto do Boi, onde foi evi- sificando as modalidades de visita- Para Zilhão, as vicissitudes políti-
denciada recentemente uma ocu- ção: viatura todo-o-terreno, caia- cas dos últimos anos, nomeada-
pação pelo Homem de Neandertal ques, passeios a cavalo e, recente- mente as políticas de austeridade,
desde 100 mil anos. Alargar-se-á as mente, através da embarcação tiveram “um impacto muito negati-
sondagens e as escavações ao terri- eletrosolar. “Depositámos uma vo sobre a capacidade do PAVC, hoje
tório que fica entre o baixo Côa e Sie- grande esperança na retoma turís- Museu/Fundação, para prestar um
PEDRO GRANADEIRO / GLOBAL IMAGENS

gaVerde [Espanha], para tentar per- tica, porque acreditamos que existe serviço de qualidade tanto no que
ceber as formas de ocupação hu- um enorme potencial com base em respeita à organização das visitas,
mana neste território contíguo”, valores culturais como as Gravura como à conservação e estudo do pa-
explicou a responsável. do Côa”, afirmou. trimónio a seu cargo”. “Nos últimos
Para a presidente da Fundação anos, tem-se assistido a um melho-
que gere o PAVC, este espaço ar- Gravuras venceram betão ramento consistente da situação,
queológico tem um papel funda- O antigo diretor do PAVC, António mas, para se reporem níveis ade-
mental no desenvolvimento do ter- Martinho Batista, lembra que, após quados de serviço, é necessário que
ritório, na afirmação das suas popu- a revelação pública dos achados ru- esse investimento continue de for-
lações e na criação de serviços, na pestres do Vale do Côa, em novem- ma sustentada”, disse.
região, nomeadamente de hotelaria bro de 1994, a aceleração da histó- A arte do Côa foi classificada
e restauração. “Assistimos a uma ria, nascida de um inusitado me- como Monumento Nacional em
contínua evolução e transformação, diatismo em que se contrapunham 1997 e, em 1998, como Património
ao longo dos 25 anos, e a uma diver- a salvação das gravuras rupestres concessão de uma grossa indemni- da Humanidade, pela Organização
sificação do perfil dos visitantes”, frente à construção de uma barra- zação à empresa construtora. das Nações Unidas para a Educa-
observou. gem no Baixo Côa, levou à identifi- “Depois desta fase, a sociedade ci- ção, Ciência e Cultura (UNESCO).
Aida Carvalho refere que atual- cação de um vasto grupo de sítios,
Presidente da vil e os movimentos de massas que Como uma imensa galeria ao ar
mente, o visitante já não é um mero na sua maioria com arte paleolítica, Fundação Côa Parque então nasceram, impuseram aos livre, o Vale do Côa apresenta mais
consumidor de produtos fechados, o que desde logo passou a ser uma acredita na retoma governos uma paragem reflexiva de 1.200 rochas, distribuídas por 20
oferecidos pelas agências, é muito das grandes descobertas arqueoló- nas políticas expansionistas com mil hectares de terreno com mani-
participativo, quer na programação gicas mundiais, em finais do milé- turística do local base no betão e nas grandes obras festações rupestres, sendo predo-
da sua viagem, quer no tipo de pro-
dutos que consome, procurando
nio.
Após estas relevantes descober-
devido ao enorme que pouco tinham em conta as ne-
cessidades de uma população cada
minantes as gravuras paleolíticas,
executadas há mais de 25 mil anos,
novas ofertas culturais, novos terri- tas serem reconhecidas em todo o potencial com base vez mais envelhecida, num interior e distribuídas por quatro concelhos:
tórios e, acima de tudo, experiências mundo, rapidamente também a em valores culturais cada vez mais desertificado”, recor- Vila Nova de Foz Côa, Figueira de
marcantes e desafiantes. barragem em construção no Baixo dou o arqueólogo. Castelo Rodrigo, Pinhel e Meda.
De acordo com a responsável, o Côa passou à história, em finais de do Parque. Para Martinho Batista, o PAVC e o LUSA
PAVC e a Fundação souberam 1995, o que implicou mais tarde a Museu do Côa constituem um pro- dnot@dn.pt
18 INTERNACIONAL Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias
ANTONIO SCORZA / AFP)

Lula e Bolsonaro à procura


manos] Damares Alves, da mesma
forma que em 2018 quis alguém
[Mourão] para sinalizar o apoio do
exército”, diz ao DN o cientista polí-

da cara metade para 2022


ticoViníciusVieira.
Todos os outros nomes especula-
dos pela imprensa como candida-
tos a vice na lista de Bolsonaro são
membros do governo: Fábio Faria,
o ministro das comunicações, e Ci-
BRASIL O atual presidente busca alternativas a Mourão, o vice-presidente com “a síndrome ro Nogueira, o recém-empossado
ministro da Casa Civil, ambos com
do cunhado”. Já o antigo chefe de Estado quer ter novamente “o melhor vice do planeta Terra”. o bónus de serem do Nordeste, re-
No Brasil, diz a história, o número dois é decisivo. gião onde o presidente fraqueja e
Lula domina.
Lula tem a mesma estratégia. Pri-
meira prioridade: alguém que some
TEXTO JOÃO ALMEIDA MOREIRA, São Paulo uma base social à candidatura. Se-
gunda prioridade: se esse alguém
vier de uma região eleitoralmente

A
redemocratização do Bra- o ex-sindicalista e o capital, ao longo fora do baralho na lista de Bolsona- interessante, melhor.
sil, em 1988, começou dos dois mandatos no cargo, de 2003 ro em 2022. Foi até especulada uma “Lula, em 2003, pensou num vice
com um vice-presidente, a 2010. “O José Alencar foi o melhor saída de cena antecipada, desmen- da área do capital e agora tende a fa-
José Sarney, no lugar do vice que um presidente já teve no tida pelo próprio. “Muitas pessoas zer o mesmo movimento, embora
presidente morto antes da posse, planeta Terra”, disse o líder das son- falam que votaram na lista Bolsona- tenha em consideração sempre al-
Tancredo Neves. Quem concluiu o dagens nos últimos dias. ro-Mourão por confiar em mim, por guém de um colégio eleitoral forte,
mandato do primeiro presidente Já Bolsonaro, no mesmo dia, la- respeito a essas pessoas e a mim Lula quer, pois, repetir como [o presidente do Senado] Ro-
eleito no voto popular, Collor de mentou a relação estremecida com mesmo, pois nunca abandonei uma drigo Pacheco, de Minas Gerais, ou
Mello, foi o seu vice, Itamar Franco. o general Hamilton Mourão, esco- missão, não importam as intercor-
o casamento feliz como [o ex-presidente da Câmara
E o país ainda não cicatrizou a troca lhido em 2018 após se equaciona- rências, sigo neste governo até o fim”, que teve com José dos Deputados] Rodrigo Maia, do
em 2016 de Dilma Rousseff por Mi- rem os nomes de Janaína Paschoal, respondeu Mourão. Alencar durante Rio de Janeiro”, continua Vinícius
chel Temer, o número dois que cons- a co-autora do texto do impea- Lula quer, pois, repetir o casamen- Vieira.
pirou nos bastidores para se tornar chment de Dilma, de Luiz Phelippe to feliz. Bolsonaro sonha com a feli- os seus oito anos “Tenho que encontrar alguém
número um. Ao contrário do que o
nome pressupõe, o vice-presidente
de Orléans e Bragança, pretendente
ao título de príncipe brasileiro, e de
cidade em segundas núpcias. Qual a
receita?
na presidência. que tenha afinidade económica e
social comigo, que conheça como é
não é ator secundário. E Lula da Sil- Magno Malta, pastor e vocalista da “No Brasil, é importante ter um Bolsonaro sonha que vive o povo pobre desse país”, re-
va e Jair Bolsonaro, principais candi- banda de pagode gospel Tempero vice-presidente que, mais do que com a felicidade em sumiu o antigo presidente. A empre-
datos em 2022, sabem-no. do Mundo. “O Mourão por vezes uma região, agregue uma base so- sária Luiza Trajano, uma milionária
Por experiência própria: Lula teve atrapalha um pouco a gente, mas cial, por isso Bolsonaro pensa num segundas núpcias, com forte atuação social, vem sendo
um “casamento” feliz com o vice Jo- vice é igual a cunhado, quando a vice da área do agronegócio, como [a com Mourão fora apontada como tendo um perfil
sé Alencar, um bem-sucedido em- gente casa, tem de aturar”. ministra da Agricultura] Tereza Cris- próximo de José Alencar, mas preci-
presário, falecido em 2011, que ser- Depois desta frase, de 26 de julho, tina, ou do segmento evangélico, do baralho. saria de ser convencida a entrar na
viu de para-choque na relação entre o “cunhado”, logicamente, é carta como [a ministra dos Direitos Hu- política.
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 19

Lula (na foto com José


Alencar) e Bolsonaro (com
Mourão) procuram um vice
capaz de somar uma base
Cinco capitais provinciais
social à candidatura. Se vier
de uma região eleitoralmente
interessante, melhor.
em três dias: o avanço
José Luiz Datena, popular apre-
imparável dos talibãs
sentador de programas de crime re-
cém filiado ao PSL, ex-partido de
AFEGANISTÃO Este é o avanço mais importante desde o início da ofensiva militar dos
Bolsonaro, foi dado como candida- talibãs, em maio. “É o caos total”, descreve à AFP um morador de Kunduz.
to a vice do atual presidente e de ou-
tro pré-candidato, Ciro Gomes, que

K
sugeriu o nome. unduz, Sar-e-Pul e de- cia de mesmo nome. Mais tarde, e concentram agora a ofensiva nas
“Fico muito lisonjeado com a pos- pois Taloqan, todas no os insurgentes apoderaram-se de grandes cidades.
sibilidade de parceria com o Ciro norte do Afeganistão, Taloqan, na província de Tajar. E Os insurgentes assumiram no
mas sou candidato à presidência”, caíram ontem sob con- um residente local, Zabihullah sábado o controlo da cidade de Si-
deixou claro. “Quanto a ser vice do trolo dos talibãs, com os rebeldes Hamidi, disse à AFP por telefone bargan (noroeste), capital da pro-
Bolsonaro, como posso ser vice de a tomarem cinco capitais provin- que viu as forças de segurança dei- víncia de Jawzjan, um dia depois
alguém que passa o tempo a dizer ciais em três dias. Este é o avanço xarem o local num comboio de da tomada de Zaranj (sudoeste),
que não vai haver eleição?”, pergun- mais importante desde o início da veículos.“Os talibãs estão por toda capital de Nimroz, perto da fron-
tou-se Datena, a propósito das re- ofensiva militar dos talibãs, em a parte.” teira com o Irão.
correntes dúvidas presidenciais so- maio, quando as forças estrangei- Nos últimos três meses, apro- “É o caos total”, afirmou Abdul
bre a fiabilidade do voto eletrónico. ras presentes no Afeganistão co- veitando a retirada das tropas es- Aziz, morador do centro de Kun-
Em época de especulações, cau- meçaram o processo de retirada trangeiras, os talibãs assumiram o duz que falou à AFP por telefone.
sou alvoroço nas redes sociais a su- do país. controlo de enormes zonas rurais
gestão do jornalista Miguel de Al- “Após combates intensos, os Centro nevrálgico
meida, no jornal O Globo, de Lula mujaedines, pela graça de Deus, No fim de junho, os talibãs con-
EVARISTO SA / AFP

concorrer como vice-presidente de capturaram a capital da província quistaram os distritos que cercam
Tasso Jereissati, outro presidenciá- de Kunduz”, anunciaram os tali- Kunduz e o importante posto fron-
vel pelo PSDB, ao lado de Doria e bãs em comunicado. “Kunduz
Nos últimos três teiriço de Shir Khan Bandar, próxi-
Leite. “Faça um gesto e candidate-se caiu. Os talibãs tomaram o contro- meses, perante a mo do Tajiquistão, um centro ne-
a vice-presidente nas próximas elei- lo de todos os edifícios importan- retirada das tropas vrálgico nas relações económicas
ções, surpreenda, como Pelé, o ad- tes da cidade”, confirmou um cor- com a Ásia central.
versário com um drible seco e ines- respondente da AFP na cidade, estrangeiras, os Nas redes sociais foram publica-
Márcio França, ex-governador de
São Paulo pelo PSB, partido de cen-
perado”, pediu o colunista.
Outra conjetura que fez furor na
300 km a norte da capital Cabul e a
50 km da fronteira com o Tajiquis-
talibãs assumiram o das imagens no fim de semana do
que pareciam ser prisioneiros tali-
tro esquerda que o PT quer trazer internet foi a da eventual reunião de tão. controlo de bãs libertados nas cidades em que
para a sua órbita, também. Mas o Hamilton Mourão e Sergio Moro, o Em Sar-e-Pul, “os talibãs cerca- enormes zonas os insurgentes acabaram de assu-
político parece mais interessado em ex-juiz da Operação Lava-Jato e ex- ram um batalhão do exército nas mir o controlo.
reconquistar o governo do estado -ministro de Bolsonaro, na mesma proximidades da cidade e todos os rurais e concentram Muitos afegãos vivem com o
mais rico do país na eleição paralela lista. “Moro, Mourão... só falta o [trei- prédios do governo estão sob con- agora a ofensiva nas fantasma de um regresso ao poder
à presidencial. nador de futebol José] Mourinho”, trolo” dos rebeldes disse Moha- dos talibãs, que governaram o Afe-
Alternativas à esquerda – como parodiou o humorista Renato Terra. mad Hussein Mujahidzada, grandes cidades. ganistão entre 1996 e 2001, com a
Fernando Haddad, segundo mais “O eleitor comum presta pouca membro do conselho da provín- imposição de um severo regime is-
votado em 2018 e sucessor natural atenção ao vice, apesar de logo o pri- lâmico, antes da sua expulsão por
de Lula, como Manuela D’Ávila, meiro vice, Floriano Peixoto, ter as- uma coligação liderada pelos EUA.
candidata a vice de Haddad naque- sumido no lugar de Deodoro da As tropas estrangeiras estão no
la eleição, ou como Flávio Dino, o go- Fonseca”, adverte Vinícus Vieira. Os país há quase duas décadas, desde
vernador do Maranhão considera- casos sucedem-se: “Depois, Rodri- a invasão que se seguiu aos atenta-
do presidenciável antes de Lula se gues Alves, vitimado pela gripe espa- dos de 11 de setembro de 2001,
tornar elegível – não faltam. Porém, nhola, não toma posse no segundo que fizeram quase 3000 mortos
não somam votos ao centro ou até mandato, a seguir, temos Getúlio nos EUA.
na direita moderada que o antigo Vargas, que, ao se suicidar, dá lugar O acordo assinado em fevereiro
presidente acredita ser capaz de ao vice Café Filho e, finalmente, há o de 2020 em Doha pelos talibãs
conquistar. caso do Jango [alcunha de João Gou- com o governo dos Eu, que prevê a
Na terceira via, como não há se- lart], que sucede ao populista de di- retirada de todos os soldados es-
quer candidato a presidente, a es- reita Jânio Quadros”. trangeiros do Afeganistão, impede
peculação em torno de eventuais “Mas nesse tempo havia a ano- – pelo menos em tese – os insur-
duplas é ainda mais difícil. “Para a malia de a eleição para vice ser inde- gentes de executar ataques nas
terceira via ter competitividade pendente da eleição para presiden- grandes cidades afegãs.
acho que vai seguir o modelo ame- te, só a partir de 1989, se inicia a ‘lista Mas perante os avanços dos úl-
ricano de ter um presidente de uma casada’, ou seja, em que se vota pre- timos dias, as tropas norte-ameri-
costa e um vice de outra costa, ou sidente e vice juntos mas, nem por canas, que devem concluir a reti-
seja, não me surpreenderia se [o go- isso, a instabilidade diminuiu”. rada no fim de agosto, intensifica-
vernador de São Paulo] João Doria Para o politólogo, “o vice, quando ram os ataques aéreos.
concorresse com [o governador do deixa de ser leal, passa a ser perigoso Pouco antes do início da tomada
Rio Grande do Sul] Eduardo Leite, para o titular e eventual fator de ins- das capitas provinciais, os talibãs
como vice”. tabilidade, não foi o caso de Itamar, reivindicaram o assassinato do di-
Mas como Doria e Leite, ambos que ao substituir Collor gerou um retor de comunicação do governo
do PSDB, disputam primárias no governo de união nacional e permi- afegão. Na quarta-feira, promete-
NASEER SADEQ / AFP

seu partido, caso ganhe o segundo já tiu um período de prosperidade e de ram novas “operações de represá-
é discutida na imprensa uma even- consolidação democrática, mas foi lia” contra nomes importantes do
tual dupla com Luiz Henrique Man- o de Temer, cujo governo, combali- governo, após um ataque à residên-
detta, o ex-ministro da Saúde que é do com as denúncias de corrupção, cia do ministro da Defesa do qual o
do DEM, partido que se divide entre precipitou este clima de instabilida- general Bismillah Mohammad es-
o apoio à terceira via, a Bolsonaro e de que estamos vivendo”. Esforços – também de milícias – para travar os talibãs têm sido capou ileso, mas no qual oito pes-
até a Lula. dnot@dn.pt vãos: “Estão por toda a parte”. soas morreram. DN/AFP
20 INTERNACIONAL Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

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Opinião
Mounir Ben Rjiba

A democracia tunisina funciona

FETHI BELAID / AFP


O
dia 25 de julho de Estado, as suas instituições e a duziram, nomeadamente, na
2021, dia da comemo- integralidade do processo de- paz social na Tunísia.
ração da festa da Re- mocrático. Também é importante reiterar
pública, constituiu Ao tomar essas decisões histó- o compromisso irreversível da
uma viragem no processo de ricas, o Presidente da República Tunísia a favor da proteção dos
construção de uma democracia protegeu, não só o Estado, mas direitos e liberdades e do respei-
sólida na Tunísia. também retificou a trajetória do to do Estado de direito. O Presi-
O Presidente da República, processo democrático no senti- dente da República lecionou ao
Kaïs Saied, decidiu a destituição do de uma maior consolidação. longo de toda a sua vida profis-
do chefe do Governo, a suspen- É importante sublinhar a am- sional o Direito Constitucional e
são provisória das atividades do pla adesão popular a essas deci- continua fortemente ligado no
Parlamento tunisino e o levanta- sões e o efeito positivo que pro- respeito da Constituição e dos
mento da imunidade dos seus princípios e valores nela conti-
membros. Trata-se de medidas dos e não tem qualquer intenção
excecionais e temporárias, to- de retroceder nessas conquistas
madas de acordo com a Consti- Neste momento particular da
tuição tunisina, para responder sua história, a Tunísia necessita
à vontade do povo tunisino, que do apoio dos seus amigos e par-
reclama, através das múltiplas ceiros, incluindo Portugal, para
manifestações que decorrem há que a experiência democrática
vários meses, a mudança e, em Neste momento, a tunisina se consolide ainda mais
particular, a dissolução do Parla- e possa produzir uma melhoria
mento. Tunísia necessita do visível na vida quotidiana dos ci-
O apelo persistente do povo apoio dos seus dadãos.
surge num contexto marcado A história das transições de-
por uma crise política, económi- amigos e parceiros, mocráticas em todo o mundo,
ca e social profunda, que impos- incluindo Portugal, incluindo em Portugal, ensinou-
sibilitou a vida quotidiana dos -nos que nenhuma experiência
cidadãos, e pela má gestão da para que a escapou às trepidações. O es-
crise sanitária, que resultou em experiência sencial é ter a determinação e a
recordes de óbitos sem prece- coragem de tomar as decisões
dentes. E sem a ajuda de muitos democrática tunisina certas para transformar essas
países amigos, incluindo Portu- se consolide ainda trepidações em oportunidades
gal, a situação teria sido ainda no sentido de um maior fortale-
pior. mais e possa produzir cimento da construção demo-
Assim, estava claro de que a uma melhoria visível crática.
Tunísia enfrentava, nos termos
do artigo 80 da Constituição, um
na vida quotidiana
perigo iminente que ameaçava o dos cidadãos. Embaixador da Tunísia em Portugal
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 21

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22 DESPORTO Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

Os Jogos do sucesso Luz e festa


na cerimónia
de encerramento
dos Jogos onde

português, da saúde Pichardo foi


porta-estandarte
de Portugal.

mental e de algumas
grandes surpresas
TÓQUIO2020 Na hora do balanço, José Manuel Constantino,
líder do COP, lembrou que os objetivos foram atingidos e até
ultrapassados, deixando um puxão de orelhas a Nelson Évora.
Os fantasmas de Simon Biles e a velocidade do italiano Jacobs
foram alguns dos momentos marcantes.

TEXTO NUNO FERNANDES

Q
uatro medalhas, 15 di- Constantino, presidente do Comité tração de apoios, recursos e medi-
plomas e 35 classifica- Olímpico de Portugal, em jeito de das que ajudem ao desenvolvimen-
ções até ao 16.º lugar. A balanço ao desempenho dos 92 to do desporto nacional. E que pos-
missão portuguesa dei- atletas, recordando que o contrato sam ser um sinal para a sociedade
xou os Jogos Olímpicos Tóquio2020 programa com o Estado previa que, portuguesa de que temos, no con-
com razões para sorrir, numa edi- a troco de 18,5 milhões de euros texto do sistema desportivo interna- deve exigir de todos um sentido de
ção que marcou a melhor participa- (ME) para a preparação, fossem cional, valor e competitividade que companheirismo, de colaboração e
ção de sempre. O ouro de Pichardo atingidas um mínimo de duas posi- jamais tinha sido alcançada. [Os fei- de entreajuda. Porque quem sai a
no triplo salto foi o resultado mais ções de pódio, quando Portugal tos] Melhoram a nossa autoestima ganhar é Portugal. Independente-
marcante para Portugal, nuns Jogos conquistou quatro (além do ouro de e a capacidade de nos valorizarmos mente dos estados de alma que
que sobreviveram à pandemia, e Pichardo, a prata de Patrícia Mamo- e apreciarmos a nossa capacidade e Presidente do COP cada um tenha relativamente aos
que ficaram marcados pela discus- na (triplo salto) e os bronzes de Jor- talento”, assinalou. seus colegas. O chefe de missão
são em torno da saúde mental, te- ge Fonseca (judo) e Fernando Pi- Constantino fez ainda referência
aproveitou a boa Marco Alves teve uma conversa
mática lançada para discussão pela menta (canoagem). em jeito de puxão de orelhas a Nel- campanha da missão com Nelson Évora”, disse, acrescen-
ginasta norte-americana Simone O dirigente destacou ainda os di- son Évora, pelo facto do atleta, que portuguesa em tando que “Portugal só tem de estar
Biles. Os Estados Unidos termina- plomas, as classificações até ao 16.º se despediu dos Jogos Olímpicos, ter grato por um atleta [Pichardo] de
ram a competição na liderança do lugar e a obtenção de três recordes dado o seu apoio a Hughes Fabrice Tóquio para reclamar tão elevado talento ter escolhido
medalheiro.
“Os objetivos desportivos foram
nacionais e cinco pessoais. Por isso
acredita que o Governo vai rever as
Zango, do Burkina Faso, bronze na
final, na prova em que Pichardo
mais apoios, recursos Portugal para viver”.
Ainda a este propósito, lembrou
plenamente atingidos e, em algu- verbas de apoio à missão olímpica. venceu o ouro. e medidas para o que a missão portuguesa tinha 92
mas circunstâncias, até ultrapassa- “Esperamos que este esforço dos “Estamos aqui a representar Por- desenvolvimento do atletas e que muitos não nasceram
dos. São os melhores resultados al- nossos atletas, das federações, das tugal, não nos estamos a represen- em Portugal. “Mas vieram porque
cançados de uma representação modalidades, do COP possa ter ga- tar a nós próprios. E nessa circuns- desporto nacional. os pais procuraram Portugal. A for-
nacional”, elogiou José Manuel nhos do ponto de vista da concen- tância uma representação nacional mação desportiva é feita em Portu-

MEDALHEIRO País Ouro


O P
Prata B
Bronze Total País Ouro
O P
Prata B
Bronze Total País Ouro
O P
Prata B
Bronze Total
1 Estados Unidos 39 41 33 113 20 Noruega 4 2 2 8 39 Irlanda 2 0 2 4
2 China 38 32 18 88 21 Jamaica 4 1 4 9 40 Israel 2 0 2 4
Estados Unidos 3 Japão 27 14 17 58 22 Espanha 3 8 6 17 41 Qatar 2 0 1 3
ultrapassam 4 Grã-Bretanha 22 21 22 65 23 Suécia 3 6 0 9 42 Bahamas 2 0 0 2
5 ROC 20 28 23 71 24 Suíça 3 4 6 13 42 Kosovo 2 0 0 2
China 6 Austrália 17 7 22 46 25 Dinamarca 3 4 4 11 44 Ucrânia 1 6 12 19
Depois de duas semanas 7 Países Baixos 10 12 14 36 26 Croácia 3 3 2 8 45 Bielorrússia 1 3 3 7
sempre atrás da China e do 8 França 10 12 11 33 27 Irão 3 2 2 7 46 Roménia 1 3 0 4
Japão, os Estados Unidos 9 Alemanha 10 11 16 37 28 Sérvia 3 1 5 9 46 Venezuela 1 3 0 4
conseguiram terminar 10 Itália 10 10 20 40 29 Bélgica 3 1 3 7 48 Índia 1 2 4 7
Tóquio 2020 à frente do 11 Canadá 7 6 11 24 30 Bulgária 3 1 2 6 49 Hong Kong 1 2 3 6
medalheiro, com um total 12 Brasil 7 6 8 21 31 Eslovénia 3 1 1 5 50 Filipinas 1 2 1 4
de 113 metais, dos quais 39 13 Nova Zelândia 7 6 7 20 32 Uzbequistão 3 0 2 5 50 Eslováquia 1 2 1 4
ouros, 41 pratas e 33 de 14 Cuba 7 3 5 15 33 Geórgia 2 5 1 8 52 África do Sul 1 2 0 3
bronze. A Team USA 15 Hungria 6 7 7 20 34 Taipé Chinês 2 4 6 12 53 Áustria 1 1 5 7
dominou a tabela de 16 Coreia do Sul 6 4 10 20 35 Turquia 2 2 9 13 54 Egito 1 1 4 6
medalhas pela 18.ª ocasião 17 Polónia 4 5 5 14 36 Grécia 2 1 1 4 55 Indonésia 1 1 3 5
em 29 edições de Jogos 18 Rep. Checa 4 4 3 11 36 Uganda 2 1 1 4 56 Etiópia 1 1 2 4
Olímpicos. 19 Quénia 4 4 2 9 38 Equador 2 1 0 3 56 Portugal 1 1 2 4
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 23

nadador, medalha de ouro nos sal-


tos para a água, aproveitou a consa-
gração para anunciar publicamente
que era gay. “Sinto-me incrivelmen-
te orgulhoso por dizer que sou um
homem gay e também um campeão
olímpico. Quando era mais novo,
achava que nunca poderia alcançar
nada por ser quem era”, referiu. Fica- Opinião
ram ainda célebres em Tóquio as fo-
tografias onde surgia nas bancadas
Rita Nunes
da piscina a fazer tricô.
Em termos desportivos, muitas e
grandes surpresas. A começar pelo
italiano Lamont Jacobs, que sur-
preendeu na final dos 100 metros ao Tóquio2020, das incertezas
conquistar a medalha de ouro, suce-
dendo ao lendário Usain Bolt. O atle- aos melhores resultados
ta nascido no Texas, filho de mãe ita-

O
liana e pai norte-americano, tornou- s Jogos da XXXII Olim- lidade após os sucessos de Nuno
-se no primeiro europeu campeão píada começaram, Delgado (Sidney 2000) e Telma
no hectómetro olímpico desde 1992, como todos sabemos, Monteiro (Rio 2016).
ano do sucesso do britânico Linford com um ano de “atra- Na Canoagem, na prova de K1
Christie. so”. Os atletas qualificados, à se- 1000m, Fernando Pimenta su-
Se os 100 metros sem ouro dos melhança de qualquer um de biu ao pódio para receber a Me-
americanos foi uma surpresa, os nós, adaptaram-se, geriram o dalha de Bronze, tornando-se
EUA desiludiram também noutra seu espaço e o tempo, focaram- duplamente medalhado, após a
modalidade do atletismo – na esta- -se no que podiam controlar e medalha de prata alcançada
feta dos 4X100 metros masculinos prepararam-se o melhor possí- com Emanuel Silva, em Londres
nem sequer se qualificaram para a fi- vel face às circunstâncias e à im- 2012. Ele que, na meia-final,
nal de uma vertente que domina- previsibilidade vividas. com o tempo de 3:22.942 fixou
vam há décadas. A prova foi ganha Para uns, estes Jogos foram um novo Record Olímpico.
pela Itália, e outra vez com a partici- uma prova de superação, com No Atletismo, no triplo salto,
pação de Lamont Marcell Jacobs. metas e objetivos alcançados, destaca-se o Título de Campeão
Uma palavra também para a nor- para outros, um misto de emo- Olímpico e a Medalha de Ouro
te-americana Allyson Felix, que aos ção de darem o seu máximo e de Pedro Pichardo alcançado
35 anos, e depois de ter sido mãe, en- apesar de tudo, esse máximo com a marca de 17,98 metros
gal, não fora. Isto significa que 88% piso o tatami, sou só eu e a minha trou para a história dos Jogos como não chegar para alcançarem o que é também o novo record na-
da nossa missão olímpica tinha atle- cabeça a lidar com demónios. Te- a atleta de pista mais medalhada de “seu” sonho olímpico. cional. Na mesma disciplina e
tas cuja formação desportiva foi em nho de fazer o que é certo para mim sempre, com 11 metais, ultrapassan- Todos, sem exceção estão de também com novo máximo na-
Portugal”, lembrou. e focar-me na minha saúde mental. do a jamaicana Merlene Ottey. Em parabéns! Deram o seu melhor, cional, Patrícia Mamona con-
A participação de Portugal em Tó- Temos de proteger a nossa saúde e Tóquio 2020, a velocista conquistou deram tudo o que tinham e to- quistou a Medalha de Prata,
quio 2020 elevou para 28 o número o nosso bem-estar e não fazer o que um bronze nos 400 metros e o ouro dos nós, nos orgulhamos da com um salto de 15,01 metros.
de medalhas conquistadas desde o mundo quer que façamos”, desa- na estafeta 4X400 metros. Missão Portuguesa Para a nossa história olímpica
que em Paris 1924 a equipa eques- bafou na altura. Os Estados Unidos terminaram a #EquipaPortugal que esteve em fica também a estreia da equipa
tre de obstáculos conquistou no Simone desistiu depois de várias competição na liderança do meda- #Tóquio2020(1). de Andebol e as primeiras parti-
Prémio das Nações o bronze. provas e voltou na final da trave, lheiro (repetiram o feito de Lon- Os resultados superaram am- cipações femininas no ciclismo,
conquistando o bronze (a que jun- dres2012 e Rio2016), um feito alcan- plamente o previsto, contratua- nas provas de XCO e Omnium
A saúde mental e destaques tou uma prata). Mas a sua atitude foi çado apenas no último dia de provas lizado através de contrato-pro- (pista). Nas novas modalidades
Estes Jogos Olímpicos de Tóquio fi- um chamar de atenção para um depois de o anfitrião Japão e a China grama com o Governo, publica- olímpicas, Portugal fez-se repre-
cam definitivamente marcados pela problema que afeta centenas de terem dominado ao longo de duas do em Diário da República, a 25 sentar no skate e de surf, com a
discussão sobre a saúde mental, um atletas, e que por isso recebeu elo- semanas. O primeiro lugar da Team de janeiro de 2018, onde se pre- portuguesa Teresa Bonvalot a
tema levantado pela ginasta norte- gios de todos os quadrantes. USA foi garantido graças às presta- via obter no mínimo: 2 meda- surfar a primeira onda, do pri-
-americana Simone Biles, quando Nuns Jogos que marcaram tam- ções nas modalidades de pavilhão, lhas [alcançaram-se 4 medalhas: meiro heat da primeira competi-
no dia 26 de julho desistiu da final bém a igualdade de género, desta- desta feita no setor feminino. 1 Ouro, 1 Prata e 2 Bronze], 12 di- ção de surf olímpica!
feminina por equipas. “Assim que que para o britânico Tom Daley. O nuno.fernandes@dn.pt plomas [atingiram-se os 15] e 26 Para além dos 92 Atletas Olím-
classificações até 16.º lugar [no picos, que constituíram a tercei-
total foram 36]. Dos restantes ra maior Missão Olímpica por-
objetivos definidos previa-se au- tuguesa, estiveram em Tóquio
mentar os 40 pontos nas classifi- diversos elementos das equipas
País Ouro
O P
Prata B
Bronze Total País Ouro
O P
Prata B
Bronze Total cações até 8.º lugar [somaram-se técnicas e multidisciplinares,
58 Tunísia 1 1 0 2 77 Bahrein 0 1 0 1 57], uma subida de modalidades mas também voluntários que
59 Estónia 1 0 1 2 77 A. Saudita 0 1 0 1 para 19 [aqui ficámos pelas 17] e contribuíram para o sucesso dos
59 Fiji 1 0 1 2 77 Lituânia 0 1 0 1 o aumento para 40% de atletas Jogos, oficiais, árbitros e juízes ao
59 Letónia 1 0 1 2 77 Macedônia N. 0 1 0 1 femininas [apesar da maior par- serviço de várias Federações In-
59 Tailândia 1 0 1 2 77 Namíbia 0 1 0 1 ticipação de sempre, as 36 atle- ternacionais e treinadores que
63 Bermudas 1 0 0 1 77 Turcomenistão 0 1 0 1 tas representam 39,1%]. acompanharam e enquadraram
63 Marrocos 1 0 0 1 83 Cazaquistão 0 0 8 8 E se esta edição dos Jogos atletas de outros países.
63 Porto Rico 1 0 0 1 84 México 0 0 4 4 Olímpicos já era por si só históri- TODOS dignificaram o nosso
66 Colômbia 0 4 1 5 85 Finlândia 0 0 2 2 ca, para os portugueses será país, a nossa bandeira, a nossa
67 Azerbaijão 0 3 4 7 86 Botswana 0 0 1 1 lembrada como a melhor de história e o nosso desporto. E se
68 R. Dominicana 0 3 2 5 86 Burkina Faso 0 0 1 1 sempre com a conquista de para alguns o “sonho” não se
69 Arménia 0 2 2 4 86 C. Marfim 0 0 1 1 quatro medalhas e um título de concretizou,… haverá outro dia,
70 Quirguistão 0 2 1 3 86 Gana 0 0 1 1 Campeão Olímpico, o 5.º da his- outro ano e outra oportunidade
71 Mongólia 0 1 3 4 86 Granada 0 0 1 1 tória olímpica portuguesa, to- para sorrirem. Portugal e os Por-
72 Argentina 0 1 2 3 86 Koweit 0 0 1 1 dos no Atletismo (maratona, tugueses estão orgulhosos! Obri-
72 San Marino 0 1 2 3 86 Moldávia 0 0 1 1 10.000m e triplo salto). No Judo, gada!
74 Jordânia 0 1 1 2 86 Síria 0 0 1 1 nos -100kg, Jorge Fonseca con-
74 Malásia 0 1 1 2 quistou a Medalha de Bronze. A
74 Nigéria 0 1 1 2 terceira (de bronze) alcançada Investigadora do HTC-CEF da Nova-
pelos portugueses nesta moda- -FCSH
24 DESPORTO Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

ESTÁDIO DRAGÃO BREVES


ÁRBITRO GUSTAVO CORREIA (PORTO)
FC PORTO BELENENSES SAD Marque segura a
amarela apenas
2 0
por 5 segundos
DIOGO COSTA LUIZ FELIPE
JOÃO MÁRIO TROVA BONI O corredor português
MBEMBA CHIMA AKAS Frederico Figueiredo (Efapel)
PEPE TOMÁS RIBEIRO venceu ontem a quarta etapa
ZAIDU DIOGO CALILA (59’) da Volta a Portugal em
OTÁVIO (82’) SITHOLE (60’) bicicleta, disputada entre
SÉRGIO OLIVEIRA (62’) LUKOVIC (69’) Belmonte e a Guarda, na qual
BRUNO COSTA CAFÚ PHETE o espanhol Alejandro Marque
LUIS DÍAZ (90’) NILTON (70’) (Atum General-Tavira-Maria
TONI MARTÍNEZ (90’) CASSIERRA (82’) Nova Hotel) manteve a
TAREMI (82’) NDOUR camisola amarela por apenas
TREINADOR cinco segundos.
TREINADOR
Frederico Figueiredo
SÉRGIO CONCEIÇÃO PETIT cumpriu os 181,6 quilómetros
SUBSTITUIÇÕES SUBSTITUIÇÕES da etapa em 4:28.25 horas,
URIBE (62’) JOJÓ (59’)

IVAN DEL VAL / GLOBAL IMAGENS


batendo sobre a meta o
FÁBIO VIEIRA (82’) AFONSO SOUSA (60’) companheiro de fuga Amaro
PEPÊ (82’) PEDRO NUNO (69’) Antunes (W52-FC Porto), que,
EVANILSON (90’) CHICO (70’) deste modo, ascendeu ao
FRANCISCO CONCEIÇÃO (90’) MOTA (82’) segundo lugar da geral, a
apenas cinco segundos de
GOLOS: TONI MARTINEZ (19’), LUIS DÍAZ (65’) Alejandro Marque, que,
AÇÃO DISCIPLINAR: CARTÃO AMARELO PARA SÉRGIO OLIVEIRA apesar de ter entrado mais
(26), TROVA BONI (36), CALILA (47), LUIS DÍAZ (52) E CHICO (83) atrasado, conseguiu segurar
Luis Díaz fez o segundo golo dos dragões, a cruzamento de João Mário. o primeiro lugar conquistado
na véspera, na subida à Torre.
Depois de disputadas quatro

Magia de João Mário projeta


etapas, a Volta cumpre esta
segunda-feira um dia de
descanso, regressando na
terça-feira para a quinta

FC Porto para arranque vitorioso etapa, uma tirada de 171,3


quilómetros, que vai ligar
Águeda a Santo Tirso.

I LIGA Duas assistências do ala convertido em lateral ajudaram a equipa de Sérgio Conceição Miguel Oliveira
a quebrar a resistência de uma Belenenses SAD que quase não incomodou. desistiu no
GP da Estíria
TEXTO NUNO COELHO
O piloto português Miguel
Oliveira (KTM) desistiu ontem

S
em espinhas. O FC Porto da defesa da Belenenses SAD e deixado o espanhol em posição dos 11 metros – mas, alertado do Grande Prémio da Estíria
também entrou a ganhar para rematar da entrada da área, privilegiada para receber o centro pelo VAR Manuel Mota, acabou de MotoGP, 10.ª prova do
na Liga, ultrapassando obrigando Luiz Felipe a defesa de João Mário. Três minutos de- por alterar bem a decisão e ainda Mundial, no qual o
sem grandes dificuldades apertada (4'); o espanhol teve pois, aos 22, novo susto para o puniu o colombiano com um regressado espanhol Jorge
uma Belenenses SAD que nunca nova ocasião, depois de um belo guarda-redes brasileiro dos visi- amarelo por simulação. Martin (Ducati) somou a
mostrou argumentos para deter cruzamento de João Mário, com tantes, com Luis Díaz a não che- A fazer o seu primeiro jogo ofi- primeira vitória na classe
o maior poderio da equipa da o cabeceamento a sair rente ao gar por pouco a um centro de To- cial da época, o FC Porto não con- rainha. Oliveira partiu do 12.º
casa, onde o jovem João Mário se poste (10'); e Luis Díaz, na se- ni Martínez. seguiu, ainda assim, manter o lugar de uma corrida que foi
destacou com duas assistências, quência de um belo lance indivi- A partir daqui, os homens de ritmo muito alto – nota-se que interrompida logo à quarta
sendo o principal vértice de um dual, viu o guardião visitante des- Sérgio Conceição baixaram o nem todos os jogadores estão no volta, após um choque entre
triângulo de ouro completado viar-lhe o remate com o pé (11'). ritmo e os lisboetas puderam fi- mesmo patamar a nível físico –, a KTM do espanhol Dani
por Toní Martínez e Luis Díaz. É certo que, pelo meio deste fu- nalmente respirar um pouco e embora sem nunca perder o con- Pedrosa e a Aprilia do italiano
Isto no dia em que Pepe se tor- racão ofensivo, o conjunto de Pe- tentar sair em tímidos contra- trolo dos acontecimentos. Díaz Lorenzo Salvadori, que se
nou, aos 38 anos e cinco meses, tit teve uma ocasião clamorosa, -ataques condenados ao insuces- começou a aparecer com mais fre- incendiaram. No reatamento,
no mais velho jogador a repre- com Ndour a falhar incrivelmen- so pela falta de gente na frente. Já quência em zonas de finalização e Miguel Oliveira chegou ao
sentar o clube do Dragão. te num lance iniciado numa per- os dragões podiam ter aumenta- acabou mesmo por sair da sua ca- 10.º posto, mas foi obrigado
Frente a um adversário que da de bola de Taremi a que Cas- do a vantagem em duas ocasiões beça o segundo golo dos dragões, a desistir na volta 14 de 27,
perdeu mais de meia equipa titu- sierra deu seguimento, mas a ver- quando a cabeça de Luiz Felipe – novamente depois de um excelen- devido a problemas num
lar em relação ao ano passado e dade é que a jogada dificilmente que compensou a sua má saída te trabalho de João Mário à direita, pneu, a que se somavam as
se apresentou num 5x3x2 de tra- passaria no crivo do VAR, uma vez da baliza – e um remate de longe culminado com um cruzamento dores na mão direita
ção atrás, o FC Porto não foi de que o avançado senegalês pare- de Sérgio Oliveira deixaram Petit de pé esquerdo (65'). provocadas pela fissura no
modas e iniciou a partida a todo o cia estar adiantado em relação à arrepiado no banco. Com 2-0 no marcador, a vitória pulso sofrida na sequência
gás, para gáudio dos cerca de 16 linha da bola. ficou entregue – os dragões ainda da queda de sexta-feira. Com
mil adeptos que puderam marcar Com o FC Porto confortavel- Díaz “mata” o jogo criaram mais um par de ocasiões este resultado, o piloto de
presença no estádio. mente instalado no comando do Para o segundo tempo, as equi- para ampliar o triunfo e os azuis Almada manteve o sétimo
Quando o golo inaugural sur- embate, o 1-0 acabaria por surgir pas surgiram sem alterações e, conseguiram sair uma ou duas posto do campeonato, com
giu, aos 19 minutos, já os azuis e com naturalidade, num belo sem surpresa, a toada do jogo não vezes da “casca”, destacando-se 85 pontos. O francês Fábio
brancos tinham desperdiçado pontapé de Toni Martínez ao ân- se alterou. Os adeptos voltaram a um remate de Afonso Sousa a que Quartararo (Yamaha), que foi
uma série de oportunidades para gulo, depois de uma simulação animar-se bem cedo, quando Diogo Costa se opôs com uma terceiro, aumentou a
abrir o marcador: Toni Martínez de Sérgio Oliveira ter confundido Luis Díaz caiu na área e Gustavo bela defesa já na compensação. vantagem na liderança,
aproveitara um corte incompleto as marcações da defesa visitante Correia apontou para a marca dnot@dn.pt tendo agora 172 pontos.
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021
VIVER 25

A primeira moto de água 100%


elétrica, a Narke, promete resolver
um dos maiores problemas destas
máquinas: o ruído.

Motos de água.
de água. Por isso, terá sempre de verifi-
car o caso concreto.

Dificuldade III

Um superdivertimento
– cuidado com os banhistas
O bom senso (e o civismo) já exigiriam,
mas seja como for, a lei impõe que não
se ande de moto de água a uma distân-

com muitas obrigações cia inferior a 300 metros da praia, pelo


menos. Sendo que este espaço pode a
qualquer momento ser ampliado por
questões ambientais pelas autoridades
competentes.
VERÃO. Se andar de jet-ski é sem dúvida um passatempo apelativo nestes dias Também é interdita a utilização des-
de praia, o sonho de ter um na garagem – porque é preciso ter onde guardá-lo tes aparelhos em fundeadouros, os lo-
cais próprios para as embarcações an-
– não é objetivamente para todos. A começar pela documentação exigida. corarem.

Mas mesmo assim...


Todas as ditas dificuldades são superáveis
com alguma paciência e vontade. Depois,
só é preciso ter poder de compra...
TEXTO RICARDO SIMÕES FERREIRA Grosso modo, uma moto de água nova
tem preços entre os 10 mil e os 25 mil eu-
ros, dependendo da potência e, natural-

F
ossem todas as decisões huma- 5 – só podem navegar até uma milha da mente, dos acessórios escolhidos.
nas tomadas de forma racional linha de baixa mar e entre o nascer do A este preço terá, obviamente, de acres-
e, provavelmente, nenhum indi- sol e uma hora antes do pôr do sol. centar o custo do reboque para a transpor-
víduo compraria uma moto de Como a regra geral é “quem pode o tar no seu carro (serão mais uns 300 ou 600
água em Portugal. As restrições de utili- mais, pode o menos”, se já possui carta euros, consoante o peso da moto).
zação são muitas, é preciso tirar uma de marinheiro está também habilitado A maior reclamação de quem assiste a
carta especial para a conduzir e o custo a pilotar uma moto de água. uma destas máquinas em funcionamen-
ainda é grande. Quem emite a carta é a Direção-Geral E que tal alugar? to é o ruído que fazem. Mas isso pode estar
Mas a paixão não é racional. Feliz- de Recursos Naturais, Segurança e Ser- em vias de extinção, com a eletrificação.
mente. E quando a emoção fala mais viços Marítimos (DGRM), que disponi- Se o objetivo é só dar uns passeios de Por um preço...
alto, parece que tudo vale a pena. Quan- biliza no seu site a lista de entidades for- verão, alugar simplesmente umas
to ao custo... surge agora uma solução madoras. voltinhas de moto de água pode bem Silêncio 100% elétrico
elétrica que, apesar de ser um investi- ser uma solução mais sensata. Há Vem da Hungria o primeiro jet-ski total-
mento inicial enorme, a longo prazo Dificuldade II várias empresas que se dedicam a esta mente elétrico. Narke, the Electrojet é uma
poupa-se no consumo de combustível. – o modelo atividade, pelo país fora. A Odisseias moto de água de luxo, totalmente feita à
Por outro lado, permite evitar todos os Na escolha do seu modelo de jet-ski, reúne umas quantas no seu site. mão, que é baseada num motor a baterias
problemas de ruído que os tradicionais opte sempre por um que tenha motor Além de permitir a experiência por um de lítio capaz de debitar 95 cavalos.
jet-skis trazem (ler mais à frente). a 4 tempos. Mesmo que lhe apareça, preço comportável, a opção de alugar É um facto que esta potência fica
no mercado de usados, por exemplo, um passeio tem ainda uma vantagem muito aquém dos duzentos e tal anun-
Dificuldade I uma boa pechincha com motor a 2 relativamente à documentação ciados por outros fabricantes, como a
– a carta tempos, pense bem. É que estes apare- exigida: uma vez que o percurso é Yamaha, a Kawasaki ou a See-Doo, mas
O que a lei obriga para ter uma moto de lhos são, desde 2006 (Portaria n.º (pelo menos em teoria) feito sempre aqui o que essencialmente conta é.... o
água? Desde logo, carta de navegador 127/2006), proibidos de navegar nas sob supervisão de uma pessoa silêncio.
de recreio, pelo menos. Pense no jet-ski albufeiras. credenciada, não é preciso ter carta Os 75 km/h de velocidade máxima
como num automóvel ligeiro. Se vai Mesmo comprar um modelo que, em de marinheiro ou de navegador. atingida são conseguidos sem ruído de
com ele para a estrada, neste caso, para teoria, possa navegar em albufeiras não Quem sabe, depois de experimentar, motor. No passeio estão só o piloto, o(a)
a água, tem de ter carta. E também pre- é garantia de que na realidade lhe seja pode ser que não queira outra coisa e passageiro(a), a natureza e a velocida-
cisa de ter seguro, já agora... permitido fazê-lo, uma vez que a Porta- vá mesmo tirar uma destas licenças e de. Que maior prazer se pode querer?
Além disso, fique sabendo que, se- ria n.º 783/98 (revista pela referida por- começa já a poupar.... Para o ano Isto, desde que se tenha uns 48 mil
gundo o Decreto-Lei nº 124/2004, de 25 taria de 2006), prevê que, caso a caso, compra mesmo uma moto de água só euros para se fazer a encomenda... Por-
de maio, que regula as motas de água, cada autoridade local tenha competên- para si – e para todos os novos amigos que o luxo nunca sai barato.
estas embarcações de recreio – do tipo cia para proibir a navegação de motos que vai de repente fazer. ricardo.ferreira@dn.pt
26 CULTURA Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

Richard Osman
“Ninguém
lê livros
aborrecidos,
esse é o maior
crime que se
pode fazer
aos leitores”
POLICIAL Em Inglaterra, o apresentador de
televisão Richard Osman teve um sucesso tão
gigantesco como inesperado com o seu
primeiro livro. Um policial com quatro
protagonistas de 80 anos que faz lembrar os
de Agatha Christie e que se tornou no mais
recente best-seller em Portugal.

TEXTO JOÃO CÉU E SILVA

O nome de Richard Osman era muito suspeita aos livros de Agatha ceita está em colocar quatro prota- Não foi difícil, pois qualquer que
desconhecido da quase totalidade Christie”. gonistas que rondam os oitenta seja a idade que tivermos o nosso
dos portugueses, mas essa “falha” O primeiro livro de Richard Os- anos como detetives que utilizam cérebro permanece sempre vinte
está a desaparecer a cada dia que man surpreendeu também os lei- todos os recursos aprendidos ao ou trinta anos mais novo. Percebi
passa. Afinal, o seu primeiro livro, tores ingleses, mais acostumados a longo da vida para resolver um cri- isso através da minha mãe, que se
O Clube do Crime das Quintas-Fei- vê-lo no pequeno ecrã do que nas me que acontece sob os seus olhos. sente como se tivesse 35 anos e não
ras, chegou há poucos dias às nos- estantes das livrarias. É produtor e Acrescenta uma boa pitada de hu- os 79 que tem. Se quanto mais ve-
sas livrarias e já atingiu o primeiro apresentador de vários programas mor, recupera o cenário de um lar lho se fica, mais problemas de saú-
lugar das vendas. Não é situação há vários anos, o que lhe terá facili- onde a mãe vive, e mostra que o cri- de se tem a nível físico, contudo o
única, em Inglaterra aconteceu o tado o início de uma carreira de su- me – ou a sua investigação – não espírito aventureiro permanece e
mesmo, tendo vendido mais de cesso, com números das vendas tem idade. É o que Elizabeth, Joyce, deseja-se fazer novos amigos e vi-
milhão e meio de exemplares nas excecionalmente altos até para o Ibrahim e Ron provam neste poli- ver coisas diferentes. No entanto, a
semanas após o lançamento. O po- seu país e com bastantes traduções cial bem divertido, que também se sociedade trata essas pessoas de
licial, em que os quatro protagonis- em curso. Após este primeiro su- tornou um sucesso em Portugal. maneira diferente, como que se es-
tas são idosos e vivem num lar, tem cesso não perdeu o embalo e du- quecendo delas. Escrever sobre os
muito humor e ação e até foi consi- rante o confinamento devido à Este livro foi um sucesso tão gran- mais idosos faz com que deixem de
derado um sucesso como o de pandemia já escreveu a continua- de que já tem pronta uma conti- ser tão invisíveis.
Harry Potter. Mas não é J.K. ção, O Homem que Morreu Duas nuação. Esperava por isto? Escrever sobre este grupo de per-
Rowling a senhora com quem Os- Vezes. “Quem sobrevive ao primei- Não, tinha esperança de que as sonagens foi uma escolha natural?
man é comparado, antes com a ro livro, regressa sempre!”, diz. pessoas gostassem do livro e, se as- Sim, mesmo correndo o risco de ter
Dama do Crime, a célebre escrito- Não nega que a sua profissão, até sim fosse, a editora quisesse um se- de saber como as pessoas de idade
ra Agatha Christie. Quem lê este li- agora principal, tenha facilitado a gundo livro, mas não esperava que pensam. Como acho que sempre
vro sente grandes vibrações de escrita de um livro que mantém os se vendessem tantos exemplares… raciocinei como eles, a estrutura
Miss Marple, até de Hercule Poirot, leitores em suspense do princípio Foi uma grande surpresa, porque dos personagens veio ter comigo
uma situação que o marketing edi- ao fim. É essa a obrigação de um adoro os personagens, idosos ar- de uma forma muito natural.
torial imediatamente aproveitou. produtor, considera. Agora, dividi- mados em detetives, que me entu- Não precisou de fazer alguma in-
O autor não se importa com a com- do entre a produção e apresenta- siasmam com o que posso fazer vestigação para os construir desta
paração, afinal considera-a a me- ção na televisão britânica, não pre- com eles. O CLUBE DO CRIME forma?
lhor escritora de policiais de sem- vê tornar-se apenas autor. No en- Creio que prefere escrever sobre DAS QUINTAS-FEIRAS Volto à minha mãe, que vive num
pre e no Twitter pode ler-se esta sua tanto, garante “nunca tive tanto pessoas mais velhas. Como é que Richard Osman centro comunitário para idosos; foi
afirmação sobre O Clube do Crime orgulho na vida como de ter sido entra nesse mundo muito próprio Editora Planeta a sua situação que me inspirou
das Quintas-Feiras: “Soa de forma capaz de escrever este livro!” A re- que é o delas? 383 páginas para escrever o livro. Eu vou vê-la,
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 27

Antes de se tornar É o seu primeiro romance. Como Uma das frases que elogiam o livro ta português no livro…
escritor de policiais, foi encontrar o registo e montar a pertence a Val McDermid, uma óti- É verdade, lembrei-me dele porque
Richard Osman teve história que desejava? ma autora deste género. Essa opi- uma amiga é casada com um por-
uma carreira de Foi muito difícil. O momento do nião foi positiva? tuguês.
produtor e de arranque de um livro é muito Gosto muito dela, do que escreve, e Todas as personagens vivem bem
apresentador de complexo e exige muita disciplina esse comentário foi muito bom e gostam do lar onde vivem. Se
televisão. Pretende pois demora a encontrar o modo para mim. fossem pobres, seria mais difícil
continuar com as duas. de o fazer. Enquanto escrevia, Como foi balancear tudo o que escrever o livro?
muitas vezes considerava que es- está no livro: mistério, drama, hu- Com certeza, mesmo que dois de-
tava péssimo e que ninguém que- mor? les, Joyce e Ron, venham de situa-
reria ler aquilo. Perdemos a con- Não foi difícil fazê-lo, porque que- ções menos confortáveis. Esse é
fiança frequentemente, mas se ria que toda a narrativa tivesse ori- um mundo que eu conheço bem,
sucesso com o que escreveu. não aproveitarmos o embalo nun- gem nos personagens. Eles não são aquele em que não se tem dinhei-
Qual é a sua história preferida de ca mais terminamos a escrita, por- cinzentos nem pouco definidos, ro, mas no segundo livro essa reali-
Agatha Christie? tanto sentava-me e escrevia mil portanto a história ia crescendo em dade aparece de uma forma mais
O Convite Para A Morte (And Then palavras diárias, dia após dia. É função deles. O humor era fácil de concreta. Gosto de misturar as vi-
There Was None). Passa-se numa como ir ao ginásio! Com a certeza aparecer, mesmo que se pense que das das pessoas na narrativa, umas
ilha, para onde todos os persona- de que se escrevesse um livro que os idosos nem sempre são diverti- vindas de camadas mais pobres,
gens são convidados e durante a não conseguisse ler, então nin- dos ou apesar de lhes acontecerem outras que sempre viveram sem di-
estada vão morrendo uns atrás dos guém o iria comprar também. situações pouco agradáveis. Posso ficuldades financeiras. Em Ingla-
outros. Quis provar a mim mesmo que se- dizer que escrevi aquilo que gosta- terra houve sempre a questão das
A sua história tem mais parecen- ria capaz de o fazer e esse é o espí- ria de ler, um argumento e um mis- classes e da riqueza, e eu gosto de
ças com as que são protagoniza- rito necessário. tério à medida de fazer o leitor cho- explorar as possibilidades literárias
das por Miss Marple, uma idosa Qual foi a maior dificuldade que rar devido à forma como olham o de quem veio das classes trabalha-
demasiado curiosa? encontrou? mundo, mas fazer rir também pelo doras e dos que vêm das classes
Eu nunca tinha pensado nessa si- O maior problema era encontrar o mesmo motivo. médias.
tuação, só mesmo depois de o livro tom da narrativa, não o chegar ao São quatro os protagonistas… Sempre quis escrever um livro,
estar pronto é que quem o leu no- fim. E agora, ao deparar-me com … sim, quatro, que veem o mundo mas não se ficou pela primeira ex-
tou essa parecença. Enquanto es- estas vendas muitos boas, as tradu- de formas muito diferentes e com periência. Também sofreu a an-
crevia nunca reparei em qualquer ções por todo o mundo, confirmo humores diversos. Cada vez que eu gústia do segundo livro após um
semelhança, o que queria era ser que aquele meu sonho estranho de queria alterar a situação ou a sua grande sucesso?
capaz de acabar um livro em que escrever um livro se realizou. disposição, o que fazia era dar iní- Não, já acabei o segundo, que é
desejava retratar a nossa sociedade Tem o benefício de ser produtor, cio a um novo capítulo e dar voz a uma continuação deste. Foi mais
e as atitudes das pessoas. Portanto, apresentador e autor de textos, outro personagem. uma vez uma ótima experiência,
nada mais me importava, nem a em programas de televisão. Essa Tem alguma preferência entre os que animou o meu confinamento
Agatha Christie, além de poder experiência facilitou a tarefa de quatro protagonistas ou todos são durante a pandemia. Deu-me a hi-
descrever o mal terrível de um as- captar a atenção contínua dos lei- do seu agrado? pótese de criar uma rotina que fa-
sassinato e os segredos à sua volta. tores? A maior parte da narrativa cabe a cilitou o estar fechado. Eu aprendi
Era sobre esse tema que eu queria Creio que sim, mesmo que esta fos- Joyce liderar, sob a forma de um muito a escrever o primeiro, já ti-
escrever. se uma intenção de há muito tem- diário, e reparei que a minha forma nha os personagens de que preci-
Então não se importa que o marke- po. Um produtor televisivo está de ser é muito parecida com a dela. sava, sabia como eles reagiam aos
ting em torno do seu livro refira sempre preocupado que o espec- Portanto, para mim, foi a persona- imprevistos, portanto era mais fá-
sempre a escritora? tador mude de canal e por essa ra- gem mais fácil de desenvolver. Ela cil escrever este segundo livro. Não
Nem por isso, penso que qualquer zão é obrigado a criar o programa fazia-me rir também, tendo-se tor- foi nenhuma angústia!
coisa que encoraje os leitores a pe- de forma a atraí-lo o tempo inteiro. nado a que estava mais próxima de Pode deduzir-se que a pandemia
garem num livro é importante. Já Foi a minha tentativa, escrevendo mim e, porque não confessar, à não lhe estragou a vida?
percebi que está a acontecer em to- capítulos curtos e com ação o tem- imagem da minha mãe. De uma certa maneira foi um tem-
dos os países do mundo uma reali- po inteiro, fazendo com que os lei- Não deixa de colocar um motoris- po mau para toda a gente, mas o
dade, de que só se vendem os livros tores se divertissem. Ou seja, eu confinamento foi-me muito útil
falo com ela e com os amigos, e foi que foram recomendados pelos não aceitava que interrompessem porque tive tempo para me dedicar
assim que formei as minhas perso- amigos aos leitores, daí que todas a leitura e o fizessem capítulo após à escrita. Ao estar mais livre de
nagens. Creio que se escrevesse so- as situações que beneficiem a ven- capítulo, isso era muito importan- compromissos, escrevi com outra
bre pessoas mais jovens, seria des- da de livros sejam boas. Até porque te para mim. Ninguém lê livros disponibilidade.
te modo também porque, afinal, não se entra em nenhum Top de aborrecidos, esse é o maior crime Vai abandonar a sua profissão
não somos assim tão diferentes vendas se a maioria dos leitores de que se pode fazer aos leitores. Por- após este sucesso do livro ou divi-
uns dos outros. cada país não ler esse livro. Não se tanto, o meu desejo era nunca dirá o tempo entre ambas?
Pode dizer-se que a criação deste pode desperdiçar o conselho dos aborrecer as pessoas, mas mantê- Eu ainda adoro apresentar progra-
livro se deve à sua mãe? amigos para se ser mais lido e se -las entusiasmadas e isso aprende- mas de televisão, tal como gosto
Sim, eu visitava-a e pensei que nesse alerta está a referência a -se muito a fazer televisão. bastante de escrever. Creio que te-
aquele lar lembrava uma daquelas Agatha Christie, não existe um pro- A conceção de um livro é muito di- rei de conviver com as duas situa-
povoações em que Agatha Christie blema para mim. Depois logo se vê ferente da de um programa de te- ções pelos próximos tempos, dez
situava os seus livros. Isso fez-me o que acontece ao livro, o que no levisão. Como encontrou o seu ou quinze anos pelo menos.
pensar: e se alguém fosse assassi- meu caso está a ser um percurso próprio estilo? Após escrever-se um policial com
nado aqui? Enquanto conversava muito bom em vários países. É verdade que são coisas muito di- um crime perfeito, o autor fica ha-
com os idosos que lá viviam e ouvia A última pergunta com Agatha ferentes daquilo que habitualmen- bilitado a cometer situações se-
as suas vidas interessantes, a histó- Christie. O que diria a escritora te produzo. No entanto, sou um melhantes?
ria foi-se montando, com eles a re- deste seu livro? grande leitor de policiais e queria “O confinamento Um escritor de policiais necessita
solverem o caso que criava. Foi as- Ó meu Deus, essa é uma pergunta encontrar no primeiro livro a mi- foi-me muito útil de uma imaginação muito fértil
sim que tudo nasceu. complicada. Primeiro, nem imagi- nha voz, o que não é fácil. Enquan- para cumprir o objetivo de realizar
Está sempre a ser comparado a no o que seria saber que ela estava to escrevia, sentia que não era pa-
porque tive um assassinato perfeito. Voltemos
Agatha Christie. Essa situação in- a ler o meu livro. Segundo, acho que recido com o que já tinha lido. A ra- tempo para me a Agatha Christie; ela tinha uma
comoda-o? iria gostar, até porque perceberia o zão poderia ser uma de duas: não dedicar à escrita. grande capacidade para elaborar
É verdade, essa comparação está quanto seria difícil estar a fazer um prestar ou ter a minha voz. Ao fim as suas histórias com crimes quase
sempre a aparecer. Mas, por outro livro como ela era capaz. Eu queria de muitos anos de leitura, de dese- Ao estar perfeitos, mas apesar de parece-
lado, na literatura as comparações
surgem sempre e prefiro que seja
escrever um livro que explicasse
um pouco do mundo em que vive-
jar escrever um livro, de tentar en-
contrar o registo certo para os per-
mais livre de rem inatacáveis há sempre uma fa-
lha. A maioria dos escritores de po-
com ela, porque é a melhor roman- mos através de um policial, em que sonagens, este era um projeto que compromissos, liciais são muito bons a fazer essas
cista de todos os tempos ao nível ao longo da narrativa os leitores ris- já estava a meio do meu caminho. escrevi com outra histórias, mas tenho a certeza de
do policial. Isso agrada-me bastan- sem e chorassem, além de haver O que faltava era sentar-me todos que no fim todos os criminosos
te, pois se tiver de ser comparado um mistério para resolver. E o livro, os dias a escrevê-lo e depois logo se disponibilidade.” acabam por ser apanhados.
que seja com ela, que teve muito acho, tem essas situações todas. veria. dnot@dn.pt
28 CULTURA Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

Opinião
Margarita
Correia

Língua somos todos.

SARA MATOS / GLOBAL IMAGENS


Com muitos sotaques,
pois claro!

U
m sotaque é uma for- Todos temos um sotaque mas
ma de pronunciar precisamos de um outro que o
particular de um in- ouça e no-lo identifique.
divíduo, ou dos falan- Ontem terminaram os Jogos
Exposição vai incluir cerca de 40 artistas e estará patente até 9 de janeiro de 2022. tes de determinada localidade, Olímpicos de 2020, em Tóquio,
região ou país. O sotaque per- e Portugal obteve os melhores
mite identificar com relativa fa- resultados de sempre: ouro no
cilidade, em quem fala, o local triplo salto masculino, prata no

A luz no centro de nova onde reside, ou o seu estrato so-


cioeconómico, a sua etnia, ou
até a sua classe social. Quando
a língua que fala não é, para o
triplo salto feminino, bronze no
judo e no remo, e ainda 11 di-
plomas nas modalidades lan-
çamento do peso, lançamento

exposição no Museu Berardo indivíduo, a sua língua mater-


na, é possível também identifi-
car o lugar de onde provém, pe-
do disco, ciclismo, canoagem,
vela, marcha, dressage, skate-
board e surf. A delegação portu-
las influências da sua língua guesa aos Jogos de Tóquio teve
LISBOA “Matéria Luminal” estava prevista para julho de 2020, mas a materna que transparecem na gente com muitos e variados
sua fala, que se manifestam na percursos de vida, muitas his-
pandemia obrigou ao seu adiamento. Inaugura a 15 de setembro. forma como pronuncia deter- tórias, ligações diversas com
minados sons, no seu sotaque. Portugal e com a língua portu-
Além dos sons propriamente guesa. A nossa delegação foi
ditos, o sotaque dos indivíduos bem representativa do povo
manifesta-se também na pro- que fomos e somos: um povo

U
ma exposição com 40 ar- e declinações enquanto matéria e A obra mais antiga nesta exposi- sódia, ou seja, na entoação que descobriu e colonizou ou-
tistas que exploram a te- meio de expressão plástica e visual, ção é de 1965, Sombra projetada de dada ao discurso, às palavras e tras regiões e outros povos, que
mática da luz, através de enquanto motivo estético, poético e Ana Castro – contorno azul, de às frases, no ritmo, em suma, na se mestiçou, que espalhou a
um percurso pelas práti- simbólico, e enquanto elemento Lourdes Castro, “obra paradigmáti- musicalidade da própria lín- sua língua pelos quatro cantos
cas artísticas em Portugal, desde fundamental na experimentação ca de uma época fértil em reformu- gua. Acontece por vezes ouvir- do mundo e igualmente a mes-
meados de 1960 até à atualidade, é dos fluxos energéticos e percetivos”. lações culturais na qual progride mos alguém falar uma determi- tiçou, cuja história teve pontos
inaugurada a 15 de setembro no Francisco Tropa, Jorge Molder, Ju- um vasto horizonte de miscigena- nada língua com toda a corre- altos e outros de que não se or-
Museu Coleção Berardo, em Lisboa. lião Sarmento, Leonor Antunes, ções e hibridismos que irão conta- ção (pronúncia dos sons, gulha, que foi forçado a emigrar
“Matéria Luminal” é o título desta Lourdes Castro, Luís Noronha da minar as práticas artísticas”, desta- escolha das palavras, constru- em busca de vida digna e lá fora
exposição que estava prevista para Costa, Luísa Correia Pereira, Manuel ca Mah. ção das frases, organização e teve filhos, netos e bisnetos. Foi
julho de 2020, mas acabou por ser Rosa, Miguel Palma, Jorge Pinheiro, O curador considera ainda que, eficácia do discurso), mas ter- também a delegação represen-
adiada devido às restrições impos- José Luís Neto, Miguel Soares, Paulo “de forma mais explícita ou subli- mos a sensação de ela ser falada tativa do povo que acolhe e in-
tas pela pandemia covid-19. Nozolino, Pedro Morais, René minar, a luz como tema ou meio foi mecanicamente, de continuar tegra aqueles que vêm em bus-
Com cerca de 40 artistas, a exposi- Bertholo, Rui Chafes, Sérgio Tabor- um fator relevante nesta conjuntu- “a ser estrangeira”, porque lhe ca de refúgio, de abrigo.
ção tem curadoria de Sérgio Mah e da, Silvestre Pestana,Vasco Lucena e ra reflexiva e renovadora, a ponto de falta a melodia própria da lín- Em Tóquio falou-se portu-
reúne um conjunto diversificado de Rui Toscano são outros dos artistas se tornar matéria significante para gua, melodia que é parte inte- guês, com muitos sotaques: o
suportes – pintura, desenho, escul- representados na exposição. compreender o feixe de estratégias grante dela. do Pichardo e o do Pimenta, o
tura, instalação, fotografia, e vídeo –, e inflexões desencadeadas pelas O sotaque é sempre do outro dos irmãos Sousa, o da Mamo-
“permitindo discernir a amplitude vanguardas artísticas que irão pro- (nunca do próprio), é a marca na e o da Liliana Cá, o da Roche-
de tendências, atitudes e processos tagonizar a segunda metade do sé- da sua diferença, da sua alteri- le e o da Auriol Dongmo, o da
estéticos e conceptuais que têm culo XX”. dade. Ninguém tem sotaque, ou Yolanda Hopkins, o da Fu Yu e o
marcado a arte contemporânea na- A exposição inclui A exposição inclui um número si- melhor, ninguém ouve o seu da Jieni Shao, o da Tamila Ho-
cional”. gnificativo de obras que recorrem a próprio sotaque; é sempre o ou- lub e o do Anri Egutidze. E o dos
Até 9 de janeiro de 2022, o público obras que recorrem a um largo espectro de materiais e tro que o tem. Lembro sempre Pedros, Paulos, Joões, Marcos,
poderá encontrar, nesta mostra co- um largo espectro de aparelhos de iluminação, como um adolescente do meu tempo, Marias, Catarinas, Telmas, Joa-
letiva, figuras centrais da arte con- lâmpadas de incandescência, fluo- tomarense de gema, comentar, nas, Gustavos. E até o da jovem
temporânea em Portugal, como Ale-
materiais e aparelhos rescentes ou LED, caixas de luz, ve- com o seu inconfundível sota- japonesa que em português ex-
xandre Estrela, Pedro Cabrita Reis, de iluminação, como las, candeeiros e projetores de luz. que ribatejano: “Eles lá nos Aço- plicou ao repórter da RTP por-
Ana Jotta, Eduardo Nery, Ângelo de O sol e o fogo, a claridade, o céu e res têm muito sotaque, nã ei?” que os japoneses gostam tanto
Sousa, Diogo Evangelista, Fernando
lâmpadas de os corpos celestes, mas também a Da sua perspetiva, este rapaz de assistir a maratonas.
Brito, Gilberto Reis, Helena Almeida, incandescência, noite, a escuridão, o negro e a som- não tinha sotaque; só os açoria- Foi lindo ouvir falar portu-
João Maria Gusmão e Pedro Paiva,
Fernando Calhau, João Paulo Feli-
fluorescentes ou LED, bra, “são abundantemente repre-
sentados e evocados como realida-
nos é que tinham.
O certo é que todos temos um
guês em Tóquio. Com muitos
sotaques, pois claro!
ciano e Jorge Martins. caixas de luz, velas, des concretas ou mediante as suas sotaque particular, até os lis-
Como tema transversal a toda a candeeiros e projetores diversas declinações figurais, mas boetas das classes mais letradas
história da arte e a toda a história da também através das suas ressonân- quando usam a língua em regis- Professora e investigadora,
imagem, a luz é explorada, nesta de luz. cias poéticas, históricas e alegóri- to formal, ou seja, quando se ex- coordenadora do Portal
mostra,“nos seus múltiplos sentidos cas”, salienta o curador. DN/LUSA primem em português-padrão. da Língua Portuguesa
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021
CARTOON E PASSATEMPOS 29

CARTOON POR RAFAEL COSTA

PALAVRAS CRUZADAS SUDOKU

11. Salmo. Ornar.


Horizontais: Aba. 9. Lu. Curar. ET. 10. Áspero. Orla.
1. Sereno. Cor arroxeada. 2. Junta. Alforreca. 3. Magnésio (símbolo químico). Planta de folhas 6. Mesquinho. 7. Leva. Ao. 8. Ido. Dia.
trifoliadas. Plural (abreviatura). 4. Popular (abreviatura). Pega. Dez vezes dez. 5. Antes de Cristo Pardo. Ca. 4. Mat. Cio. Iam. 5. Ra. Alce.
(abreviatura). Rijo. 6. Moreno. 7. Cada uma das partes articuladas com que terminam as mãos 1. Campo. Drama. 2. Algo. Teimar. 3. Li.
e os pés. Palavra havaiana que designa um tipo de lava viscosa que solidifica de forma áspera. Verticais:
8. Curso natural de água. Nome feminino. Grande porção (popular). 9. Antes do meio-dia. 11. Arame. Catar.
Mulher das ilhas. Rádon (símbolo químico). 10. Símio. Linda. 11. Fio metálico. Espiolhar. Ror. 9. AM. Ilhoa. Rn. 10. Macaco. Bela.
Verticais: 6. Trigueiro. 7. Dedo. Aa. 8. Rio. Ana.
1. Espaço plano. Acontecimento comovente. 2. Alguma coisa. Insistir em. 3. Rio chinês muito Trevo. Pl. 4. Pop. Asa. Cem. 5. AC. Duro.
visitado por turistas. Cinzento-escuro. Cálcio (símbolo químico). 4. Matemática (abreviatura). 1. Calmo. Lilás. 2. Alia. Medusa. 3. Mg.
Apetite sexual dos animais nas épocas próprias da reprodução. Avançavam. 5. Rádio (símbolo Horizontais:
químico). Espécie de veado das regiões do Norte. 6. Mísero. 7. Grupo. Redução das formas Palavras Cruzadas
linguísticas “a” e “o” numa só. 8. Passado. Espaço de 24 horas. Rebordo do chapéu. 9. Lutécio
(símbolo químico). Restabelecer a saúde de. Extraterrestre. 10. Que tem superfície desigual. SOLUÇÕES
Fímbria. 11. Cântico sagrado de louvor ou agradecimento a Deus. Enfeitar.

O que tem de novo o “novo” Diário de Notícias


O ESSENCIAL DA INFORMAÇÃO, TODOS OS DIAS EM BANCA
30 ACONTECEU EM Segunda-feira 9/8/2021 Diário de Notícias

O DN
DE HÁ CEM
ANOS

AS NOTÍCIAS
DE 9 DE AGOSTO
DE 1921
PARA LER HOJE
SELEÇÃO DO ARQUIVO DN
POR CRISTINA CAVACO, LUÍS MATIAS E SARA GUERRA
Diário de Notícias Segunda-feira 9/8/2021 31
ÚLTIMA
BREVES

Exército moçambicano
recupera Mocímboa da Praia
O Ministério da Defesa de Moçambique
confirmou ontem a reconquista, aos rebeldes
islâmicos, da vila portuária de Mocímboa da
Praia, em Cabo Delgado, pelas forças conjuntas
moçambicanas e ruandesas, avançando que os
combates continuam para a “consolidação das
zonas que prevalecem críticas”. O porta-voz do
Ministério, o coronel Omar Saranga, adiantou
que as duas forças recuperaram o controlo de
infraestruturas públicas e privadas, incluindo a
sede do governo distrital, o porto, aeroporto,
hospital, mercados e estabelecimentos de
restauração. “Neste momento, as operações
continuam na vila de Mocímboa da Praia com o
objetivo de consolidar o controlo sobre as zonas
que prevalecem críticas, nomeadamente, alguns
bairros periféricos e a zona onde se localiza a
estação de tratamento de água”, acrescentou.
Mocímboa da Praia, por muitos apontada como
a “base” dos insurgentes, é uma das principais
do norte da província de Cabo Delgado, situada
70 quilómetros a sul da área de construção do
projeto de exploração de gás natural conduzido
por várias petrolíferas internacionais e liderado
pela Total. Desde junho que a vila era

AFP
Jogador argentino emocionou-se várias vezes no adeus ao clube onde se encontrava há 21 anos. considerada sob controlo jihadista.

Padrão dos Descobrimentos


Messi despediu-se em lágrimas vandalizado em Lisboa
O Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, foi

e está a caminho de Paris ontem vandalizado com um ‘graffiti’ numa das


laterais do monumento, com uma extensão de
cerca de 20 metros e escrito em inglês. Na
BARCELONA O craque deu uma conferência de imprensa onde garantiu que mensagem lê-se “Blindly sailing for monney
[sic], humanity is drowning in a scarllet [sic]
estava disposto a baixar o salário em 50%. Esta semana assina pelo PSG. sea”, o que, numa tradução livre, pode ser lido
como “Velejando cegamente por dinheiro, a
humanidade afunda-se num mar escarlate”.
TEXTO NUNO FERNANDES A ocorrência foi registada pela PSP ainda
durante a manhã, cerca das 11:30, tendo o facto
sido comunicado à Câmara Municipal de

L
ionel Messi despediu-se ontem para mim, depois de toda uma vida. Não lona por cinco anos, no qual iria “baixar Lisboa, que tutela o monumento. A PSP disse
do FC Barcelona, 21 anos depois, estava preparado”, frisou o salário em 50%”. ainda não ter identificado qualquer suspeito.
numa cerimónia em Nou Camp O argentino disse que estava prepara- O destino será quase de certeza o PSG.
em que não conseguiu evitar cho- do para sair há um ano, que então “sabia De acordo com a edição de ontem do
rar, várias vezes, confessando estar a vi- o que tinha de dizer”, quando, em confli- jornal francês L’Équipe, a transferência
ver um momento “muito difícil”. “Não es- to com o anterior presidente, enviou um está praticamente fechada e o jogador
tava preparado para isto, pensava que ia ‘burofax’ para o clube a anunciar a saída, hoje mesmo deverá realizar testes médi-
continuar em casa”, confessou o futebo- mas que “este ano não”: “Estávamos cos no clube gaulês, devendo ser apre-
lista de 34 anos, acrescentando ter feito convencidos de que íamos continuar sentado nos próximos dias – há quem
“tudo o que era possível para continuar”, aqui, em casa, era o que queríamos. diga que o clube já reservou a Torre Eiffel
até mesmo baixar o seu salário em 50%. Sempre colocámos em primeiro lugar o para o apresentar.
O argentino chegou muito emociona- nosso bem-estar, estar em nossa casa e Questionado ontem se o PSG era o seu
do ao Auditório 1899 do Camp Nou e, desfrutar da vida em Barcelona, que é destino, o argentino foi categórico: “É
ANTÓNIO COTRIM/LUSA

antes de conseguir dizer as primeiras pa- maravilhosa.” uma possibilidade. Sinceramente, no dia
lavras, esteve vários minutos a chorar. O seis vezes Bola de Ouro e outras tan- de hoje, a esta hora, não tenho nada
“Bons dias. Não sei se consigo falar. Esti- tas Bota de Ouro fez questão de agrade- acertado com ninguém. Tive muitos te-
ve a pensar nestes dias, dando voltas a cer “tudo o que viveu” em Barcelona e lefonemas, vários clubes interessados,
ver o que podia dizer, mas estava blo- deixou claro que tinha acordo para uma mas ainda não tenho nada fechado”.
queado e continuo. Isto é muito difícil renovação do contrato com o FC Barce- nuno.fernandes@dn.pt

Conselho de Administração Marco Galinha (Presidente), Domingos de Andrade, Guilherme Pinheiro, António Saraiva, João Pedro Rodrigues, José Pedro Soeiro, Kevin Ho
e Phillippe Yip Secretário-geral Afonso Camões Data Protection Officer António Santos Propriedade Global Notícias Media Group, SA; Matriculada
na Conservatória do Registo Comercial de Almada. Capital social: 28 571 441,25 euros. NIPC: 502535369. Sede: Rua Gonçalo Cristóvão,195-219 – 4049-011 Porto.
Tel.: 222 096 100. Fax: 222 096 200 Filial: Rua Tomás da Fonseca, Torre E, 3.º – 1600-209 Lisboa. Tel.: 213 187 500. Fax: 213 187 501 Marketing e Comunicação Carla Ascenção
e Patrícia Lourenço Direção Comercial Frederico Almeida Dias e Pedro Veiga Fernandes Detentores de 5% ou mais do capital social: KNJ Global Holdings
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