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ASSOCIATIVISMO
Colectividades do
concelho sem apoios
sólidos do Estado
Falta dinheiro para que o
associativismo em Gaia tenha
outro protagonismo. Para já,
só a câmara ajuda > PÁG. 4-5
VINHO DO PORTO
Os segredos de uma Mil nomes de Canidelo
garrafa com mais reunidos num livro
de 200 anos Obra de Manuel do Carmo Ferreira
Vila Nova de Gaia é praticamente aborda a etimologia e explicação dos
sinónimo de caves do Vinho do topónimos da freguesia, baseado
Porto. Pela importância económica em trabalho feito no terreno > PÁG. 11
e pelo simbolismo, este é um local
que vale a pena descobrir. O VOZES
DE GAIA começa por uma das
Broa de Avintes:
garrafas mais antigas… > PÁG. 6 mais do que o símbolo
de uma freguesia
D. Dinis terá dado a ordem de
Pescadores da Aguda separar os locais de fabrico das
lutam pela sobrevivência broas de milho e de trigo para evitar
Custos cada mais elevados e menos incêndios no Porto. Foi só o início da
pescado nas redes. Assim se faz o história Broa de Avintes… > PÁG. 10
quotidiano difícil de quem sai para
o mar à procura de sustento > PÁG. 7
Centro Interpretativo
da Batalha de Grijó
ainda no papel
União das Freguesias quer manter
viva a memória da luta entre
invasores franceses e aliados
luso-britânicos. A proposta já foi Glória, queda e
apresentada, mas aguardam-se
recuperação da
novidades > PÁG. 7
cerâmica em Gaia
A indústria da cerâmica foi um dos
Gaia, uma cidade baluartes do concelho. Chegaram
heterogénea, em a ser duas dezenas de fábricas.
processo de mudança O tempo é de retoma > PÁG. 14-15
O historiador João Bonifácio Serra
sente-se atraído pela diversidade
de universos de Vila Nova de Gaia
Solidariedade SOS
e reflecte sobre as cidades na vida em formato Aldeia
comum > PÁG. 14 para crianças
Em Gulpilhares, há um sítio que
acolhe crianças órfãs, ou que venham
de famílias sem recursos. Com “mãe”,
irmãos, uma família nova > PÁG. 7
VOLUNTARIADO
A pandemia trouxe desaʠos para vá- proʠssionais de saúde. “Procedi- numa altura em que os cabeleirei-
rios sectores e serviços da sociedade, mentos que foram primordiais para ros também estavam encerrados,
mas nenhum se compara ao impac- que toda equipa adoptasse compor- foi o de apoio para o corte do cabe-
to identiʠcado nos serviços de saú- tamentos de segurança”, diz. lo e orientações em como cuidar do
de de qualquer país. Depois da gri- E que procedimentos eram esses? couro cabeludo, sobretudo as pro-
pe espanhola em 1918, o mundo não Acções tão simples em tempos nor- vas de prótese capilar (cabeleiras),
experimentava uma ameaça de saú- mais, mas que agora requerem cui- para os doentes oncológicos em tra-
de global como a que o SARS-COV-2 dados redobrados: dar de comer à tamento quimioterápico.
impôs de forma inesperada, expon- boca dos pacientes, ajudar na movi-
do fragilidades não só nos sistemas mentação daqueles com diʠculda- “Não somos bombeiros”
de saúde, como em todo o tecido so- des de mobilidade e outros “mimos”. Mesmo estando envolvidos em mui-
cial e económico de todos os países. tos procedimentos na chamada “li-
Os proʠssionais de saúde estive- Novos desafios sob nha da frente, Carolina Viana deixa
ram, e ainda estão, no “olho do fu- a capa do medo bem claro: “Não somos bombeiros
racão”, enfrentando desaʠos e ex- Além de conviver com o medo, o de- que socorremos todos os fogos”. Po-
perimentando aprendizagens diá- saʠo era buscar alternativas ao tra- rém, a adaptabilidade é o verdadei-
rias. O Vozes de Gaia foi ouvir um balho realizado no terreno. A par- ro espírito das ligas, do associativis-
dos inúmeros grupos de proʠssio- tir daquele momento, essas tarefas mo e das missões do voluntariado.
nais que actua na retaguarda, rea- não poderiam mais ser realizadas. Muitas associações fecharam as
lizando um trabalho não menos Inicialmente, com a produção das portas durante esse período por-
importante daquele que é efectua- próprias máscaras de tecido, com as que não inovaram, pois continua-
do pelos médicos, enfermeiros, orientações recebidas pela comissão ram a fazer incidir o foco apenas
auxiliares de enfermagem e tantos de infecção do hospital. Posterior- no serviço que estavam acostu-
outros. São eles os Voluntários. mente, numa altura em que ainda mados a fazer. E sendo o público
Carolina Viana, directora técnica as máscaras era ainda um acessó- que caracteriza o corpo do volun-
da Liga dos Amigos do Centro Hos- rio escasso no mercado, disponibi- tariado constituído por pessoas já
pitalar de Gaia (LACHG), explica ao lizar essa ferramenta de protecção aposentadas das suas proʠssões,
Vozes de Gaia os desaʠos enfrenta- à comunidade. esses locais acabam por ser centros
dos pelos voluntários. Uma equipa Em Abril do ano passado, durante de convívio, que auxiliam no enve-
essencialmente formada por senio- o período de conʠnamento, os vo- lhecimento activo, em que as pes-
res que, a despeito dos receios com a luntários, mesmo aqueles que não soas ajudam… ajudando-se.
chegada das primeiras notícias do se deslocavam para a sede da Liga, Portanto, “a LACHG procurou sem-
SARS-COV-2 no mundo, e não muito colaboravam na confecção das más- pre manter o relacionamento com
tempo depois em Portugal (Feverei- caras comunitárias. esse grupo que foi orientado a ʠcar
ro de 2020), mantiveram as activi- Esse mutirão possibilitou que, em casa”. “Tínhamos a perfeita no-
dades do voluntariado nas três das em Maio seguinte, pudessem, por ção do que esse isolamento repre-
quatro unidades do centro hospita- orientação do hospital, entregar aos sentava para essas pessoas ao ní-
lar funcionando. doentes de risco (oncológicos, imu- vel de saúde mental. E como temos
Precisamente, a 17 de Março de nodeprimidos e de cuidados palia- um espaço privilegiado com acesso
2020, por determinação das auto- tivos) que tinham que deslocar ao diferenciado do hospital, passámos
ridades de saúde, em ofício envia- hospital, um kit com duas másca- a buscar muitos voluntários a casa
do aos conselhos de administração ras e embalagens de álcool em gel. para que pudessem continuar parti-
dos hospitais, foram suspensos os “A Liga nunca fechou as portas e cipando nas actividades com toda a
trabalhos de voluntariado nestas sempre teve o cuidado de não colo- segurança”, explica Carolina Viana.
unidades de saúde. car os voluntários em risco”, adian-
Até àquele momento, revela ta Carolina Viana. Cientes da im- Uma aula de ginástica
Carolina Viana, “o espírito de missão portância do trabalho que realizam, financeira
não considerava ser o momento de “procuraram sempre, com o apoio A pandemia trouxe vários constran-
abandonar o barco quando ele esta- do hospital, desenvolver novos ser- gimentos à actividade normal dos
va a afundar”. O medo natural dian- viços que pudessem atender e/ou voluntários do hospital. Para evitar
te do desconhecido foi, aos poucos, auxiliar nos cuidados com os doen- danos maiores, a LACHG foi forçada
dando lugar à conʠança com os tes”. Um serviço, por exemplo, que a reduzir o número de voluntários
esclarecimentos e orientações dos sempre existiu, mas ganhou escala, de 100 para cerca de 30, assim que
Segunda-feira, 9 de Agosto, 2021 | Vozes de Gaia | Destaque | 3
os sinais de alarme começaram a de chás e distribuição de bolachas. vidades regulares da Liga, o dinhei- Mente sã em corpo são, os elemen-
soar, no ano passado. Estas três de- A acção dos voluntários estende- ro escasseia… Feitas as contas, são tos necessários para poder cuidar
zenas actuam na Unidade I, apoian- -se ao apoio às solicitações do hos- cerca de 1 000 euros por mês que a do outro”, diz Carolina Viana.
do as visitas aos doentes (dois pital, no provimento de roupas para entidade recebe dos seus associa- É com base no princípio da per-
voluntários, por sala), com apoio à doentes sem familiares, que preci- dos – a um euro mensal de quo- severança que esta instituição tem
desinfecção das mãos e supervisão sam ir para lares e serviços de cui- ta. “É uma verdadeira ginástica ʠ- feito o seu percurso. Nos primeiros
na partilha do telemóvel dos visi- dados continuados. Fornece ainda nanceira para dar conta de todas as tempos, ocupava um espaço tími-
tantes com os doentes. ajudas técnicas gratuitas, como ca- demandas que são colocadas ao do, onde hoje funciona o Hospital
O pessoal da Liga interveio ainda mas articuladas, andarilhos, cana- trabalho de voluntariado da Liga”, de Gaia (Unidade II), nascida a par-
no Centro de Reabilitação do Norte dianas e cadeiras-sanitas. lamenta. tir de pessoas ligadas ao hospital:
(Valadares), cuidando dos ʠlhos de É muito comum a Liga contar É que a Liga tem o encargo das médicos e enfermeiros preocupados
funcionários que provavam não ter com a colaboração de proʠssionais doações de medicação e suplemen- em oferecer cuidados diferenciados
rectaguarda para os deixar em casa, da área de saúde que, depois da re- tos alimentares a doentes sinaliza- na humanização dos serviços. O es-
por ocasião do encerramento dos in- forma, sentem falta do convívio dos pelo Serviço Social do hospital. paço actual da Liga tem apenas um
fantários. “Esse apoio permitiu que com os seus pares e se apresentam Apesar destas e de outras diʠcul- ano de funcionamento. Hoje, é uti-
os pais pudessem dar continuidade para o voluntariado. dades na gestão corrente, os 32 anos lizado prioritariamente por doen-
aos serviços essenciais nas institui- A grande preocupação de Caro- de existência da LACHG não desiste tes em tratamento – com serviços
ções em que trabalhavam”, adianta lina Viana acaba por ser mesmo a de ajudar os outros. “Ter disponibi- como educação física para doentes
a directora técnica da Liga. No servi- questão ʠnanceira. Mesmo tendo lidade para fazer o bem ao outro e oncológicos.
ço de Oncologia, a actuação está res- em conta que praticamente todos a si, são condições fundamentais
trita à cozinha, com a preparação os voluntários colaboram nas acti- para se ser um voluntário da Liga. Carlos Caldas
4 | Entrevista | Vozes de Gaia | Segunda-feira, 9 de Agosto, 2021
ENTREVISTA
Que planos têm? las, mais vocacionadas para a área
OPINIÃO EDITORIAL
VINHO DO PORTO
Todos os vinhos, num só local
Um segredo guardado Para quem quiser conhecer de per- Como degustar
SOLIDARIEDADE MEMÓRIA
Agostinho Mendes
Chegada do
carteiro para trazer
“notícias do mundo
exterior”. Há
sectores de trabalho
que continuam a
ser essenciais e
que mantiveram a
sua actividade no
confinamento
Caria de Oliveira
A volta às compras numa loja em Pedroso, Uma balança Medines antiga é utilizada pelo dono
Carvalhos. O comércio local foi uma das áreas de uma loja de rua em Pedroso, nos Carvalhos,
mais afectadas pela pandemia Gaia, para fazer as pesagens dos artigos
Aida Soares
Fotografar bem é
“Acção real”.
Durante a visita
uma arte. Para fazer
ao quartel, os jornalismo é preciso
bombeiros tiveram um pouco mais.
mesmo de sair para
uma emergência,
O Vozes de Gaia deu
numa ambulância. essas ferramentas.
A realidade é
sempre mais forte Saber captar em imagens o que
que a ficção os olhos vêm sob a perspectiva do
jornalista. Este foi o desaʠo lan-
Ronaldo Neves çado aos participantes do Vozes de
Gaia. Nenhum deles é proʠssio-
nal, poucos são experimentados
na arte da imagem fotografada.
Os obstáculos pareciam gigantes,
mas aos poucos a montanha foi
sendo escalada. As imagens des-
ta fotogaleria revelam alguns dos
melhores momentos apanhados
nas reportagens feitas no terreno.
“A água é a Desde o acompanhamento de
nossa arma”, na um dia no quartel dos Bombeiros
demonstração Voluntários dos Carvalhos, até à
de utilização do saída para a rua pra fotografar
equipamento momentos do (des)conʠnamen-
de combate às to, passando pela viagem que le-
chamas pelos vou os “peregrinos” do Vozes de
Bombeiros Gaia a fazer os Caminhos de San-
Voluntários dos tiago e o deixar para posteridade
Carvalhos as locomotivas agora desactiva-
das e que um dia foram a glória
Ronaldo Neves do progresso nacional.
Num tempo o telemóvel é o
meio preferido para fotografar o
mundo nas mãos dos cidadãos-
-jornalistas, era importante que
soubessem aproveitar todas as
potencialidades destas máqui-
nas fotográʠcas em miniatura.
Por isso, conceitos como o enqua-
dramento das imagens, a luz, o
melhor ângulo para fotografar, a
A majestade das “Equipa sempre paciência e o sentido de oportu-
locomotivas a pronta”. nidade para registar “o” momen-
vapor na Estação Bombeiros dos to, ʠzeram parte desta caminha-
das Devesas. O fim Carvalhos numa da de três meses.
da linha em cima simulação de E como para se fazer fotograʠa
dos carris que uma saída de não basta disparar o botão, é fun-
servem de pódio. emergência, com damental saber quais os preceitos
Muitas destas o protagonismo éticos e deontológicos que fazem
campeãs puxaram do momento da proʠssão de fotojornalista um
pelo progresso entregue a meio fundamental para retratar
nacional no século uma viatura de a realidade. O que pode fotogra-
passado. Agora, combate a fogos far, em que circunstâncias, o que
ninguém lhes sabe e os “homens é informação… O modo de os par-
o futuro. Para ser da acção” ticipantes deste primeiro módu-
redundante, só lo do Vozes de Gaia olharem para
falta a placa “Fora Xavier Neves a realidade enquanto ela aconte-
de serviço” ce alterou-se. É um facto.
m histórias
10 | VNG | Vozes de Gaia | Segunda-feira, 9 de Agosto, 2021
VIDAS GASTRONOMIA
Recebeu o nome de Joaquim San- Reza a história que o seu apareci- rinhas misturadas do fornecedor.
tos. Os Estados Unidos da Améri- mento se deve a uma decisão do rei Depois, ligam o fermento, a água
ca transformaram-no em “Joe”. Da D. Dinis que, para tentar reduzir os e o sal, com as mãos ou em amas-
Miami das celebridades do cinema incêndios que deʡagravam no Porto sadeiras. Se o trabalho for manual,
e da música, à Granja que um dia por causa dos fornos, separou as pa- juntam a massa a um canto e fazem
foi palco para alguma da realeza de darias. As das broas de trigo foram uma cruz, dividindo-a em quatro.
Portugal não houve estranheza. Aʠ- para Valongo e as das broas de milho Colocam-lhe por cima uma man-
nal, foi naquela pequena freguesia para Avintes, aproveitando o elevado ta, abafando-a, para levedar. Por
de Vila Nova de Gaia que Joaquim número de moinhos no rio Febros. ʠm, enformam a broa em escude-
Santos nasceu. Agora, Joe tem um Mas, só em 1563, o fabrico da broa las ou tigelas.
bar na pacatez e simpatia da terra de Avintes é citado pela primeira Antes de fechar a porta do forno,
natal, o “American Club”, onde mos- vez num alvará. Em ofício datado a padeira empunha a pá e com ela
tra a sua curiosidade pela vida. Via- de 12 de Dezembro de 1811 lê-se: “É faz o sinal da cruz, pronunciando
jou muito e do mundo trouxe ou- um pão santo e bendito, símbolo de a frase: “Deus te acrescente dentro
tras tantas histórias e delícias gas- paz, pioneiro da alegria, apóstolo do forno e fora do forno como pelo
tronómicas. As tertúlias de poesia do amor, criador e fomentador de mundo todo!”. Estes rituais e ora-
e de leituras fazem parte do menu. civilizações”. ções dão-lhe um cunho religioso,
O Vozes de Gaia foi encontrá-lo no A broa de Avintes é presença diá- de crenças cristãs.
seu habitat natural, envolto pelas ria à mesa dos avintenses. Fabrica-
paredes onde é impossível ʠcar in- -se a partir da mistura das farinhas A confraria
diferente às bandeiras dos Estados de milho branco e de centeio. A res- A Confraria da Broa de Avintes foi
Unidos da América e da Monarquia ponsabilidade da sua cor morena criada em 1997, após a primeira fes-
Portuguesa, entre guitarras e ou- é da farinha de centeio. De textu- ta da broa, em 1989. Além da preser-
tros adereços. Assim se faz o mun- ra húmida e macia, com pouca cô- vação dos valores tradicionais da
do de Joe, que sente “a falta do esti- dea, em forma de um cilindro con- confecção, dos ingredientes e das
lo de vida de Miami”. vexo na parte superior, salpicada raízes culturais, a ligação às gentes
O regresso às origens, é fácil de de farinha à saída do forno, deixa locais é fundamental para a preser-
explicar. “A Granja é um lugar nos- um intenso travo agridoce. O sabor vação da genuinidade da broa – “na
tálgico, de noites boémias das eli- é mais ou menos forte conforme o maioria das grandes superfícies é
tes de outros tempos… Durante dé- gosto dos fabricantes, que guardam falsiʠcada”, alerta o confrade Paulo
cadas, entre o hotel e a ‘Assembleia’, os segredos da receita, transmitin- Sá Machado. Esse laço explica o su-
foi palco de convívios, tertúlias de do-os apenas aos seus. cesso do Concurso de Quadras desde
elites da sociedade portuguesa e in- há 24 anos – a Associação Avinten-
ternacional”, diz Joe. De imediato A broa feita no feminino se, organizadora do evento, recebe
lhe saltam à memória nomes de A broa de Avintes tem uma forte liga- entre 700 a 800 quadras de cada vez.
gente ilustre que frequentava os ção à mulher. Na maior parte das ve-
ares frescos da Granja: o Rei D. Car- zes eram as próprias padeiras quem “Morena de pele dura
los, a Rainha D. Amélia, os escrito- fazia o transporte para o Porto, nos Desdenhei, quando te vi.
res Ramalho Ortigão, Eça de Quei- barcos “Valboeiros”. “Eram mulheres Provei-te, broa de Avintes.
roz e Almeida Garrett, Anselmo Jo- Joe já correu parte do mundo, mas não resistiu ao robustas, muito bonitas, sendo reco- Não posso viver sem ti”
sé Braancamp (ministro do Reino apelo da sua Granja natal | Michelle Bernachon nhecida a sua fama por todo o lado”,
José Vaz, Concurso de Quadras
e deputado, em meados do século diz Paulo Sá Machado, presidente da
XIX), além de ʠguras mais recen- Confraria da Broa de Avintes.
tes como o do antigo primeiro-mi- do navio para embarcar! O meu so- periência aterradora!”, lembra. Da Agora, as padeiras recebem as fa- Dalila Garcia
nistro Francisco Sá Carneiro ou da nho acontecia”, recorda. passagem pela China e Hong Kong
escritora Sophia de Melo Breyner. Desembarcou em Fort Lauderdale, diz ter sido “fantástico”. Ainda teve
A aventura de Joe começa em 1974, Florida, mas Nova Iorque foi o desti- tempo para visitar “os principais lu-
“no dia 25 de Abril”. De repente, “tu- no ʠnal. Teve “muito sucesso” como gares sagrados do mundo, ou con-
do mudou”. A Revolução alterou os gerente de casino até 2011, ano em siderados como tal, de Israel (Jeru-
hábitos dos antigos frequentado- que, por motivos familiares, regres- salém), à Arábia Saudita (Meca) e,
res da Granja e surgiu a oportuni- sou. “Um regresso temporário que de novo, Índia, à festa das cores e
dade de ir para Londres. Lá, estu- se transformou em permanente.” chegada da Primavera, com a vitó-
dou e trabalhou, abriu horizontes. Os ensinamentos que ganhou ao ria do bem sobre o mal”.
Fez formação em vinhos franceses. longo da vida levaram-no, também, De tudo o que viveu, Joe guarda
“Tinha em vista um navio que dava a optar pelo budismo e por ser ve- duas palavras: “orgulho e gratidão”.
a volta ao mundo, o Queen Elizabe- getariano. Fez vários retiros espiri- Do que agora sente, não tem dúvi-
th II, o meu sonho. Passei pelas zo- tuais, com formação em Hatha Yo- das: “Sem o conhecimento de outras
nas vinhateiras francesas, em tra- ga e Ashtanga e Reiki, percorreu de culturas nunca poderia ter cons-
balhos precários, pelo sul de Espa- autocarro a ligação entre Mumbai truído uma vida tão rica e versátil”.
O fabrico da broa de Avintes é citado pela primeira vez
nha, e, em meados dos anos 1980 (Índia) até ao Tibete, passando pe-
num alvará datado de 1563 | Rui Farinha/PÚBLICO
fui contactado pela empresa dona la fronteira do Paquistão. “Uma ex- Michelle Bernachon
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TRANSPORTES ROTEIRO
SAÚDE
LAZER BEM-ESTAR
Indústria da cerâmica,
um coração que (quase) parou
Chegaram a ser cerca de duas tarde o Mercado Ferreira Borges –
dezenas. Depois, veio o declínio. ambos na Invicta. A inauguração do
Ficaram várias ruínas, mas só dos trabalho foi a 21 de Junho de 1987.
edifícios. Ainda restam muitos A indústria da cerâmica teve, em
vestígios da força que a indústria meados do século passado, grande
da cerâmica em Vila Nova de Gaia fulgor em Gaia: chegaram a ser
conheceu no século passado. cerca de duas dezenas de unidades.
É uma resistente. Porém, antes dessa “explosão”,
O painel Ribeira Negra, do pintor a cerâmica era pouco mais do que
Júlio Resende, é um dos trabalhos um trabalho sazonal, feito no Verão
mais icónicos saídos dos fornos da pelos trabalhadores agrícolas, já que
Cerâmica do Fojo, em Vila Nova a telha e as louças preta e vermelha
de Gaia. Já lá vão 35 anos desde secam melhor com sol forte.
que os 40 painéis em azulejos A antiga Cerâmica do Fojo é apenas
foram concebidos como forma de um dos casos de sucesso e que
homenagear a vida das gentes da depois caíram em desgraça. Restam
Ribeira do Porto. Realizados em cerca quase só ruínas ou meros vestígios
de dez dias, tiveram como primeiro da sua actividade… Fundada por José
destino a Cooperativa Árvore e mais Maria Rodrigues Ascensão, em 1896,
fabricava telha, tijolo, grés, faiança Na década de 1950, ergueu novas de máscaras para purificação do
decorativa. Em 1929, acrescentou instalações e nisso se reflectiu o ar nos sítios mais sujeitos à silicose,
materiais de construção à lista. aumento do volume de vendas para à criação de uma cantina, posto Em Valadares
As portas fecharam nos finais os mercados português, de França, médico, chuveiros e lavatórios. mora a ambição
do século passado. Reino Unido, Angola e Moçambique. Foram edificadas instalações para
Também a Fábrica do Carvalhinho Os azulejos da Carvalhinho ganharam a prática de futebol, atletismo, Há um bom exemplo de internacional pela qualidade
(13 de Novembro de 1841) fama, entre as décadas de 1930 e de basquetebol, voleibol, natação renascimento e de superação na da sua produção.
desempenhou um papel relevante 1960, em inúmeros edifícios públicos e um pavilhão. Na cultura, um grupo indústria da cerâmica de Vila Nova A Cerâmica de Valadares resistiu
no mundo da cerâmica. Instalada na e privados, em pavimentos e paredes coral e teatral encenava e levava de Gaia. A Cerâmica de Valadares, a falências e pandemias. Chegou
Capela do Senhor do Carvalhinho um pouco por todo o Norte do país. a palco diversas peças. As portas que este ano festeja o seu a fechar, entre 2012 e 2014,
(daí o nome), tinha os fornos e as Para este crescimento contribuíram fecharam em 1977. Resta a sua centenário, é um marco histórico mas renasceu. Para isso, os 130
oficinas em alguns barracões anexos artistas como Paulino Gonçalves, grandiosa chaminé… do concelho. Foi fundada em 1921 trabalhadores e o director dos
à fábrica. Erguida entre a Calçada da Francisco Macedo (painéis da As fábricas de cerâmica possantes por um grupo de seis homens, novos proprietários, a ARCH,
Corticeira e o Passeio das Fontaínhas, Câmara de Espinho, do Colégio de em Gaia foram, em certo sentido, dedicando-se à produção de barro uniram forças e retomaram
foi transferida para Gaia em 1923. Nossa Senhora da Bonança, da Igreja o coração da actividade industrial vermelho, tijolos, telhas, fornos de a actividade. Em 2020, teve
A Quinta do Arco do Prado oferecia, de Vilar do Paraíso e da Capela de do concelho. De oleiros artesanais, cozer pão, garfos, sifões, azulejos uma facturação de 5,8 milhões
então, mais espaço e uma localização S. João Baptista, Vilar do Paraíso), passando pelas peças de cariz e louça sanitária. de euros; aponta para os sete
privilegiada: estava a poucos metros ou Fernando Gonçalves (painéis do meramente utilitário, até às obras Na década seguinte inicia a milhões de euros no final deste
da Estação das Devesas e foi criado escadório do Santuário de Nossa de arte espalhadas por diversas produção de faiança, destacando- ano. Exporta para mais de 40
um cais ferroviário exclusivo. Senhora dos Remédios, em Lamego). latitudes, este ofício deixou marcas -se pelas peças decorativas países e projecta recuperar e
O crescimento desta unidade profundas no território e um legado portuguesas. Em 1949, no auge do rentabilizar as instalações perdidas
Um contributo para a cultura traduziu-se, também, na melhoria artístico invejável, reflexo da sua sucesso, expande as instalações. pela antiga empresa, bem como
A Fábrica do Carvalhinho foi um da qualidade das instalações para época de ouro. Três décadas depois, consegue erguer um parque industrial e o
dos grandes expoentes da pujança os trabalhadores. Desde iluminação o reconhecimento nacional e Museu de Valadares.
da indústria cerâmica em Gaia. apropriada, aquecimento geral, uso Amadeu Iglésias e Suzana Castro
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