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Número de beneficiários do complemento solidário para idosos cai 4,6 por cento no distrito de Beja

Mortes e medo da covid-19 provocam


diminuição de apoio a idosos
Sociólogo preocupado com “perda de contactos familiares” devido às medidas de combate à pandemia |6

Sexta-feira
Semanário 23 JULHO 2021
Regionalista Diretor: Luís Godinho
Ano XC, N.º 2048 (II Série)
Independente Preço: € 1,00
JOSÉ FERROLHO

Surto de covid-19 transforma Sindicato dos Médicos Ana Cabecinha e João Miguel
Baleizão em “aldeia fantasma”. da Zona Sul diz que “erro” Torrão. A representação
Mais de uma centena deixa Ulsba sem vagas do Baixo Alentejo
de pessoas em quarentena | 7 em três especialidades | 8 nos Jogos Olímpicos | 16/17

ventura
Universitário diz que “não são os municípios com
mais pobreza que votam no Chega”. São aqueles
onde há maior comunidade cigana. “Moura é um
dos casos mais extremos desta relação” | 10/11
EDITORIAL
02 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

E
Funcheira m 1603, Jaime VI da Escócia torna-se também
rei de Inglaterra e muda de casa, passando a
viver em Londres. A mudança de ares não foi
está em fase de discussão pública – ontem realizou-se uma ses-
são na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional
do Alentejo, à semelhança do que está a ser feito por todo o País.
propriamente pacífica, tendo começado com Mas a verdade é que os projetos até agora conhecidos não tra-
duas conspirações para o arredar do poder. zem nada de novo para o Baixo Alentejo. Deles consta a eletri-
Escapou. Como também escaparia, dois anos ficação do troço entre Casa Branca e Beja, que permitirá encur-
mais tarde, a uma outra tentativa de assassi- tar o tempo de viagem até Lisboa, mas subsiste a ausência de
nato. Na noite de 4 para 5 de novembro, um qualquer compromisso relativamente à reativação da linha en-
tal de Guy Fawkes foi apanhado em flagrante tre Beja e Funcheira, que permitiria ligar as linhas do Alentejo
quando já tinha armazenado 36 barris de pól- e do Algarve, conferindo ainda “redundância na ligação ferro-
“A eletrificação da linha vora numa cave do parlamento, com os quais se pretendia ver li- viária do porto de Sines às regiões centro e norte de Portugal e à
entre Beja e Funcheira, vre dos deputados e, claro, da família real: “não apenas da mi- fronteira com Espanha”, que atualmente depende de uma única
nha pessoa, da de minha esposa e também da posteridade, mas via. Contas feitas, a eletrificação da linha entre Beja e Funcheira,
mais a supressão das também de todo o estado em geral”, escreveu o próprio Jaime. mais a supressão das passagens de nível, a construção de pon-
passagens de nível e a Fawkes acabou executado, na companhia de outros comparsas. tos de cruzamento para comboios de mercadorias e a renovação
A vida do rei não foi fácil. Terá sido por isso que um belo dia, em da via junto a Ourique custará qualquer coisa como 77 milhões
renovação da via junto a 1616, Jaime I de Inglaterra e VI da Escócia cunhou uma expres- de euros (ou 86 milhões se a linha for projetada para permitir a
Ourique custará qualquer são que ficaria célebre: “no news is better than evil news” (qual- circulação de comboios a 200 quilómetros por hora). Trata-se de
coisa como 77 milhões quer coisa como “a ausência de notícias é melhor que as más no- uma gota de água num oceano com mais de 10 mil milhões de
tícias”). A frase evoluiu e hoje o “no news is good news” (“não euros que o Plano Nacional de Investimentos (PNI) prevê para os
de euros (ou 86 milhões haver notícias é uma boa notícia”) é frequentemente empregue a transportes ferroviários. Estando assumida a execução da mo-
se a linha for projetada propósito das mais variadas circunstâncias. Sucede que isso nem dernização do troço Casa Branca/Beja, importa sublinhar que
sempre é verdade. Na frente ferroviária, por exemplo, a inexis- a reabertura das ligações à Funcheira é absolutamente decisiva
para permitir a circulação tência de notícias no que diz respeito ao Baixo Alentejo está longe para a mobilidade no Baixo Alentejo e pugnar pela sua inscrição
de comboios a 200 de constituir uma boa notícia. O Plano Ferroviário Nacional, que na versão final do Plano Ferroviário Nacional, que só será defini-
quilómetros por hora”. irá enquadrar o investimento na ferrovia nos próximos 10 anos, tivamente “fechado” lá para final do ano. LUÍS GODINHO

EM DESTAQUE
“Seria mais fácil fazer as malas e
partir, mas se todos pensarem assim,
a nossa cultura morre. Nem sempre
o mais fácil é o melhor, também
é importante ter desafios e fazer, PUBLICADO
muitas vezes, quase o impossível”. NOVO LIVRO
DE FRANCISCO
Carlos Amarelinho, maestro CANTANHEDE
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3 PERGUNTAS A...
A MeteoAlentejo instalou, recente - problemas técnicos. Quais as suas pre- registos, Amareleja é quente, mas não
mente, mais duas estações meteoroló- visões para esta estação, relativamente a mais quente.  Temos registado tempe-
gicas no Alentejo, em Alvito e Avis. Qual aos registos da temperatura estival? raturas igualmente, ou até mais, eleva-
a importância que estes novos equipa- Continuará a bater recordes nacionais, das, como por exemplo em Moura e em
mentos poderão ter no quotidiano des- de temperaturas máximas? Mértola. 
tas comunidades locais? A nossa estação meteorológ ica da
Com a instalação destas duas novas es- A ma releja está agora insta lada na E relativamente ao Alentejo, em geral e
tações meteorológicas, as comunida- junta de f reg uesia – agradecemos, para o período de verão, há alguma pre-
des locais passam a ter acesso a infor- desde já, aos seus responsáveis a dis- visão meteorológica que nos possa já
mações meteorológicas credíveis, em ponibilidade em colaborar connosco. adiantar?
LUÍS MESTRE tempo real, nomeadamente a tempe-
ratura, o vento, a humidade e a chuva
Amareleja ganhou a fama de locali-
dade mais quente do país, devido aos
A tendência para este verão é um pouco
o que temos vindo a assistir até agora.
FUNDADOR E COORDENADOR
acumulada.  Todas estas informações registos da anterior estação meteoro- Basicamente, não se prevê grande es-
DO PROJETO METEOALENTEJO –
estão acessíveis, a qualquer pessoa que lógica do Instituto Português do Mar tabilidade, ou seja: vão continuar es-
ASSOCIAÇÃO DE METEOROLOGIA
tenha acesso à Internet, no nosso site: e da Atmosfera (IPMA). No entanto, tas variações bruscas de temperaturas –
www.meteoalentejo.pt  não podemos afirmar que é a locali- dois ou três dias de calor na ordem dos
dade mais quente, uma vez que o IPMA 40°C e, depois, descidas acentuadas,
Para além destas novas estações tam- tem estações em poucas localidades do para a ordem dos 30°C.
b é m a e s t a ç ã o m e te o r o l ó g i c a d a Alentejo. O MeteoAlentejo tem esta-
Amareleja se encontra agora ativa, me- ções em praticamente quase todos os
ses após a sua desativação, devido a concelhos do Alentejo e, pelos nossos JOSÉ SERRANO
23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 03

IPSIS
“É completamente insensato construir um aeroporto comercial no
Montijo considerando os impactos que já sentimos das alterações
climáticas, considerando a subida do nível médio do mar, e

VERBIS
considerando outras alternativas como o aeroporto de Beja,
que com ligações rápidas de ferrovia e rodoviárias poderiam
ser uma opção. Agora falta essa visão de coesão territorial”.
Francisco Guerreiro, eurodeputado
Semanada
SÁBADO, 17
D.R.

ACIDENTE EM
ALVALADE DO SADO
Um homem morreu e quatro pessoas
ficaram feridas, entre as quais duas
crianças, na sequência de uma colisão
entre dois automóveis no IC1, no
concelho de Santiago do Cacém. O óbito
do homem, de 49 anos, foi declarado no
local, havendo ainda a registar quatro
feridos, dois deles com gravidade,
uma criança e um adulto, e dois
considerados feridos ligeiros. Segundo
a GNR, três feridos foram transportados
para o hospital de Beja, entre os quais
um menino de 7 anos, considerado
ferido ligeiro, e uma menina, de 10 anos,
ferida com gravidade, foi transportada
num helicóptero do Instituto Nacional
de Emergência Médica (INEM) para o
Hospital de Santa Maria, em Lisboa. O
acidente perto de Alvalade do Sado.

TERÇA-FEIRA, 20
INGLÊS CONDENADO A
CINCO ANOS DE PRISÃO
Um cidadão britânico que esfaqueou
duas pessoas junto a um café na

FOTO DA SEMANA
aldeia de Trindade, concelho de Beja,
foi condenado a cinco anos de prisão,
suspensa pelo mesmo período. O
coletivo de juízes do Tribunal de Beja
Os presidentes das Câmaras de Cuba e de Vidigueira, João Português e Rui Raposo, estiveram reunidos com a Empresa de considerou que “não houve intenção
Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) para “questionar a empresa sobre o atraso na construção do bloco de rega de matar”, deixando cair os crimes
de homicídio na forma tentada e John
de Vidigueira”. Na reunião as autarquias sublinharam a importância e a urgência de avançar com o projeto, já que este irá abranger
Clarke, de 30 anos, que estava em
cerca de 2 200 hectares, com 1400 prédios rústicos, em ambos concelhos, e “levará certamente a um aumento na produtividade prisão preventiva ficou em liberdade.
de diversas explorações agrícolas e, consequentemente, a uma maior dinamização da economia local”. A conclusão do projeto De acordo com o “Lidador Notícias”,
o arguido foi ainda condenado
estava prevista para o ano de 2021, mas até ao momento ainda não está no terreno. Esta reunião com a EDIA contou também com
a pagar cerca de 6500 euros em
a presença de José Miguel Almeida, presidente da Adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito, bem como de José Pinotes, um indemnizações a vítimas, serviços de
dos muitos produtores agrícolas que irão beneficiar com este alargamento do perímetro de rega de Alqueva. saúde, segurança social e militares
da GNR.

CARTAS AO DIRETOR aprendizagem. Este modelo contribuiu


também, como uma mais-valia, para a im-
plementação e desenvolvimento da ativi-
dade da Tutoria – um projeto pedagógico
permitiram a alguns cidadãos avaliar o fu-
tebol português. Afirmam, sem hesitações,
que é um verdadeiro e magistral retrato de
dependência intoxicante que este exerce no
que realizei, na nossa região (…) a tutoria nosso País. Algo depreciativo, insultuoso
DEBATE MAIS ABRANGENTE precisamos de intensificar a agricultura, funcionou como um apoio personalizado, e revelador de falta de nível educacional,
porque quem faz isso não pode produzir facultado aos alunos, tanto a nível do seu em meu entender, além de o futebol não
BERNARDO MARUJO FACEBOOK DO “DA” o seu próprio alimento. Precisamos de um desenvolvimento pessoal, como também no constituir um indicador na vertente ins-
debate mais abrangente, inclusivo, menos seu desempenho escolar. trutiva em qualquer país do mundo como
Sem negar que hoje se poderão utilizar téc- político e, verdadeiramente, científico... pretendem fazer crer. Ou será que os paí-
nicas agrícolas que possam levar à deser- Bom trabalho na transmissão da informa- ses como a França, a Alemanha, a Suécia,
tificação e extinção de espécies de plan- ção alentejana. a Dinamarca (…) são atrasados, pobres e
tas e animais, também isso aconteceu, por HAJA EDUCAÇÃO E CIVISMO poucos instruídos? Em suma, por mais es-
exemplo, na Mesopotâmia, onde, com su- tranho que pareça, para vencermos o de-
postas técnicas de agricultura tradicio- MANUEL VARGAS ALJUSTREL safio em causa basta haver essencialmente
nal, lavrando com um burro e um arado, A TUTORIA PEDAGÓGICA educação e civismo e isso faz toda a dife-
o Homem conseguiu construir um deserto. Sempre vi no futebol e na generalidade rença no âmbito dos valores a enaltecer.
Nem tudo o que se faz hoje estará correto, MARIA LUÍSA DA CÂMARA PEREIRA das modalidades desportivas uma porta
nem tudo o que se fez estará correto, seria RECEBIDA POR EMAIL aberta à inclusão. Porém, referente ao pri-
importante um debate menos populista e meiro, não deixo de reconhecer atitudes e As “Cartas ao diretor” devem indicar nome e contactos
mais abrangente. Não esquecer que para O acompanhamento dos alunos, por parte comportamentos reprováveis que prolife- do autor. Não devem exceder os 1 500 carateres e podem
podermos usufruir certas atividades fun- dos professores às várias disciplinas, ao ram ao seu redor e que lamentavelmente ser remetidas por email ou correio postal. O “Diário do
damentais à nossa sociedade, como a mú- longo de um triénio, a chamada conti- inquinam a ética e a verdade desportiva. Alentejo” reserva-se o direito de selecionar as cartas por
sica, o teatro, cinema, o sistema judicial, nuidade pedagógica, revelou-se como Mas, ainda assim, tenho imensas dificul- razões de atualidade ou espaço e, sempre que ultrapas-
comunicação social, entre tantos outros, uma estratégia de grande utilidade na dades em compreender os critérios que sem o tamanho estabelecido, de as condensar.
ATUAL
04 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

“É necessário contrariar a excessiva


artificialização do território”
Entrevista a Olga Martins, diretora regional
do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) do Alentejo
O Parque Natural do Vale do valores naturais (fauna, flora), três estatutos de proteção – a Zona e importante biodiversidade exis- estabelecidos com agricultores
Guadiana está a comemo- geomorfológicos, paisagísticos e de Proteção Especial do Guadiana, tente e, assim, o bom trabalho que para a conservação das aves este-
rar um quarto de século. A culturais aqui existentes permiti- a Zona Especial de Conservação tem vindo a ser realizado. párias – como a abetarda, o sisão,
este propósito o “Diário do ram que fosse possível a criação, do Guadiana e sítio Ramsar [zona o cortiçol-de-barriga-preta, águia-
Alentejo” entrevistou Olga em 1995, do Parque Natural do húmida de importância interna- Quais as vitórias ambientais mais -caçadeira – e para a recuperação
Martins, diretora regional do Vale do Guadiana. cional], que surgiram posterior- emblemáticas, deste período que do coelho-bravo, que veio permi-
Instituto da Conservação da mente graças à riqueza de valores decorreu? tir a reintrodução do lince-ibérico
Natureza e Florestas (ICNF) Um quarto de século depois, naturais em presença. A riqueza A maior vitória foi conseguir o en- (atualmente com cerca de 180 in-
do Alentejo, que enaltece o como classificaria o cumprimento de fauna – 173 espécies de aves e volvimento da comunidade, nas divíduos conhecidos) e a recupe-
envolvimento da comunidade desses propósitos? 44 espécies de mamíferos, para várias ações que têm vindo a ser ração da águia-imperial-ibérica –
neste projeto, “que reúne va- Acredito que estes propósitos têm além dos peixes, répteis e anfíbios realizadas: a participação das au- hoje com 21 casais nidificantes.
lores naturais de inquestioná- sido cumpridos. O PNVG existe e – e mais de 300 espécies de flora, tarquias, da população, dos agri- De referir, também, todo o traba-
vel importância, a nível nacio- todo o seu património está à vista com dois endemismos lusitanos, cultores, proprietários e gestores lho de conservação da única co-
nal e europeu”. A responsável de todos. Importa destacar que três endemismos ibéricos e cinco de zonas de caça, enquanto agen- lónia em meio urbano de penei-
do ICNF adverte para a neces- para além do parque natural con- espécies dos anexos da Diretiva tes dinamizadores, tem sido fun- reiro-das-torres, do saramugo
sidade de políticas que poten- tamos neste território com mais Habitats, demonstram a elevada damental. Relembro os acordos (conseguiu-se pela primeira vez
ciem a fixação de pessoas no
D.R.

território, conciliando “a ativi-


dade agrícola, silvícola e pas-
torícia com a conservação da
natureza” e para a urgência
“de contrariar a destruição do
mosaico de paisagens rurais,
a redução da diversidade e da
complexidade dos ecossiste-
mas, a fragmentação de habi-
tats e a excessiva artificializa-
ção do território”.

TEXTO JOSÉ SERRANO

O Parque Natural do Vale do


Guadiana (PNVG) comemorará,
em novembro próximo, 26 anos
de existência. Quais os pressupos-
tos que estiveram na génese da
sua criação, em 1995?
A intenção de criar uma área pro-
tegida associada ao PNVG come-
çou muito antes da sua formaliza-
ção: em 1986 a Câmara Municipal
de Mértola e a Associação de
Defesa do Património de Mértola
reconheceram a ameaça que o
abandono dos sistemas tradi-
cionais de uso do solo represen-
tava para o património natural,
cultural e paisagístico do vale
do Guadiana e propuseram que
este território fosse integrado
no Sistema Nacional de Áreas
Protegidas. Posteriormente outras
entidades se associaram, como o
Campo Arqueológico de Mértola
e a Associação Rota do Guadiana.
O caminho, nem sempre fácil, es-
teve sempre assente na impor-
tância de proteger os valores na-
turais e paisagísticos, ao mesmo
tempo que se pretendia assegurar
o desenvolvimento sustentável e a
qualidade de vida das populações.
O reconhecimento da riqueza dos
23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 05

As qualidades únicas da região, os riscos e ameaças


existentes e os desafios que se perfilam no presente
e para o imprevisível futuro aconselham estratégias
equilibradas e soluções baseadas na natureza para
o aproveitamento das potencialidades locais”.

a sua reprodução em cativeiro e – como o barbo-de-cabeça-pe- “URGE TRAVAR melhorar a sua presença no ter- uma persistente tendência de
constituir reserva genética das quena, a boga-do-guadiana ou o ritório. Sabe-se que o abandono agravamento da aridez e de redu-
cinco populações endémicas) e do saramugo – até às espécies mais
A PERDA agrícola e do território é uma das ção das disponibilidades hídricas
abutre-preto, bem como a imple- emblemáticas, como a águia-im- DE POPULAÇÃO” principais ameaças à perda de bio- que perdurará no futuro. É, pois,
mentação de percursos pedestres perial-ibérica, a águia-de-Bone- Considera crucial o incre- diversidade e potenciadora de in- de temer uma intensificação dos
e sinalização, importantíssimos lli, a abetarda, o rolieiro, o pe- mento de políticas públicas cêndios rurais e esta realidade processos de degradação do terri-
para quem visita o parque. neireiro-de-dorso-liso e, claro, o capazes de fixar população, é cada vez mais uma preocupa- tório, designadamente, a destrui-
lince-ibérico, que tem catapultado no território? ção para todos os que se preocu- ção do solo por ação de proces-
Como definiria a importância o vale do Guadiana além-frontei- A perda de população dos ter- pam com a sustentabilidade do sos erosivos, o agravamento das
da biodiversidade existente no ras, pois este é um exemplo de su- ritórios do interior é uma rea- território. É muito importante ter secas e o aumento da pressão so-
PNVG? cesso de reintrodução de uma es- lidade que urge travar. Não pessoas no território e conciliar a bre os recursos hídricos cada vez
O PNVG enquadra um conjunto pécie selvagem. podemos ficar alheios ao atividade agrícola, silvícola e pas- mais escassos, a afetação de espé-
de ecossistemas aquáticos e ter- abandono agrícola, por perda torícia com a conservação da na- cies, habitats e ecossistemas com
restres que, pela sua diversidade e Com uma área aproximada de 70 de rendimento – fora de uma tureza, como sempre aconteceu. eventual perda de biodiversidade,
estado de conservação, reúne va- mil hectares, o PNVG engloba os área protegida, sem necessi- a diminuição da capacidade de
lores naturais de inquestionável concelhos de Mértola e de Serpa. dade de licenciamento e sem Quais as estratégias de políticas produção primária dos ecossis-
importância, a nível nacional e Qual a importância do patrimó- limitações às atividades prati- públicas que poderão proporcio- temas, o comprometimento das
europeu. A salvaguarda deste pa- nio natural no quotidiano destas cadas, ainda que menos sus- nar um aumento de população, condições necessárias para al-
trimónio natural é o resultado de comunidades? tentáveis, a atividade agrícola nestes territórios? cançar adequados níveis de saúde
um trabalho continuado de pro- Penso que quem aqui vive é que torna-se mais aliciante para Nas áreas protegidas existem, es- e de bem-estar das populações,
teção dos habitats e das espécies, poderá testemunhar com mais le- muitos. Existem já várias polí- sencialmente, atividades rela- bem como a intensificação de es-
onde se evidencia a implemen- gitimidade, mas considero que é ticas de valorização do interior cionadas com o setor primário e, trangulamentos produtivos com
tação de projetos direcionados um enorme privilégio poder vi- a serem implementadas, mas é nesse sentido, é fundamental exis- efeitos socioeconómicas.
para a sua conservação e valori- ver num parque natural. Acima necessário um maior apoio aos tir um reforço na articulação en-
zação. Temos, portanto, um ter- de tudo sinto um reconheci- que optam por se fixar e ter tre as políticas de conservação da De que forma poderão ser comba-
ritório diverso e bem conservado, mento enorme por todos os que atividade agrícola numa área natureza e agrícolas. As ativida- tidos esses processos de degrada-
onde se observa a presença de um trabalham e vivem neste territó- classificada. des agrícolas, silvícola e pastorí- ção do território?
conjunto excecional de espécies, rio, permitindo que seja possí- cia, têm um papel muito maior do É fundamental a conservação dos
que vão das espécies piscícolas vel continuar a usufruir dos valo- que apenas garantir rentabilidade sistemas agro-silvo-pastoris, no-
res naturais que aqui existem. As e a subsistência dos que dela vi- meadamente a proteção e promo-
qualidades únicas da região, os preocupação dos agentes locais vem – são responsáveis pelo con- ção dos povoamentos de sobreiro
riscos e ameaças existentes e os em produzir de acordo com estes trolo da erosão, a regulação do ci- de azinheira, a conservação e ges-
desafios que se perfilam no pre- princípios. clo hidrológico, a conservação da tão dos matagais mediterrânicos,
sente e para o imprevisível futuro biodiversidade, a redução da sus- a gestão florestal e defesa da flo-
aconselham estratégias equilibra- Qual a importância que o ICNF dá cetibilidade ao fogo, a qualidade resta, o controle de espécies inva-
das e soluções baseadas na natu- a ações de sensibilização, junto da paisagem, as oportunidades soras, a recuperação de áreas de-
reza para o aproveitamento das das populações, acerca da capa- de recreio e lazer ou a identidade gradadas e o restauro de habitats
potencialidades locais, nomeada- cidade do património ambiental cultural. Todos estes contributos e de ecossistemas. Tem-se pela
mente no que toca à agricultura, em criar riqueza económica, sus- dos ecossistemas para o bem-es- frente o desafio de gerir e conci-
pastorícia, floresta, cultura e tu- tentável, e bem-estar? tar humano, são atualmente en- liar, no mesmo espaço territorial,
rismo, e soluções assentes na uti- O PNVG tem trabalhado junto das quadrados no conceito de serviços as atividades humanas mais in-
lização eficiente e sustentável dos escolas e de associações locais, de dos ecossistemas. Estes apoios são tensivas e impactantes com as ati-
recursos naturais, com destaque modo a dar a conhecer os valores de longo prazo (20 anos) e já saiu vidades mais compatíveis com a
para a importância dos produtos naturais existentes, pois acredita- um aviso da 1.ª Fase do Programa conservação da natureza e promo-
silvestres como, por exemplo, a mos que é preciso conhecer para de Remuneração dos Serviços toras da biodiversidade.
caça, a pesca, o mel, os cogumelos, valorizar e proteger. Também dos Ecossistemas em Espaços
as aromáticas, entre outros. com o intuito de fomentar maior Rurais — Paisagem Protegida da Na Estratégia Nacional de
contacto com as entidades locais, Serra do Açor e Parque Natural Conservação da Natureza e da
De que forma se manifesta, ali, aumentámos o número de reu- do Tejo Internacional, que pre- Biodiversidade 2030, Portugal as-
essa relação entre o Homem e a niões do Conselho Estratégico do tende funcionar como piloto sume as suas áreas protegidas
natureza? PNVG, fórum onde se discute a es- para outros que lhe sucederão. como ativos de interesse nacional.
As exigências de proteção do am- tratégia de desenvolvimento para Também o Plano de Recuperação O que espera que, até 2030, possa
biente, de conservação da natu- a área protegida. Estamos a iniciar e Resiliência tem medidas pre- ser concretizado, na defesa e valo-
reza, de combate à desertificação, o processo de adesão ao novo mo- vistas que beneficiarão o interior, rização do PNVG?
de promoção da mitigação e da delo de cogestão do PNVG, com os nomeadamente no que diz res- É cada vez mais evidente a neces-
adaptação às alterações climáti- dois municípios, a partir do qual peito ao combate à desertificação. sidade de contrariar a destrui-
cas, da prevenção e gestão de ris- se pretende imprimir uma gestão Mas sem duvida que a Política ção do mosaico de paisagens ru-
cos naturais e de valorização da colaborativa, participativa e arti- Agrícola Comum e o Programa de rais, a redução da diversidade e
paisagem impõem abordagens culada. Consideramos que atra- Desenvolvimento Rural têm aqui da complexidade dos ecossiste-
conservadoras e sustentáveis na vés de uma maior proximidade e um peso importantíssimo. mas, a fragmentação de habitats
produção agrícola, pecuária, flo- melhor comunicação conseguire- e a excessiva artificialização do
restal, em todas as respetivas filei- mos dar a conhecer os valores na- Quais as principais ameaças que território. É necessário fomentar
ras, bem como nos outros setores turais, paisagísticos, geológicos existem atualmente, á salva- o restauro ecológico, a renatura-
de atividade económica. A pro- e culturais existentes, trazendo guarda do PNVG? lização de espaços degradados, a
dução de alimentos, fibras, mate- mais pessoas ao território. As circunstâncias geográficas implementação de estruturas sis-
riais lenhosos, essências e outras dos territórios meridionais da témicas de valorização ecológica,
substâncias, bem como a saúde Podemos dizer que as populações Península Ibérica, em particu- a valorização e proteção do mon-
e o bem-estar humanos, assen- dos concelhos abrangidos pelo lar do sul de Portugal, propor- tado, a proteção dos solos e o com-
tam e dependem, cada vez mais, parque são os efetivos guardiões cionam condições ambientais di- bate à desertificação. Espero ser
da boa gestão dos ativos naturais, do património de que dispõe o fíceis e exigentes no relativo aos possível, também, conseguir uma
permitindo que se consiga estan- PNVG? recursos solo, água e biodiversi- maior aproximação do PNVG à
car e reverter os processos de de- Sem dúvida, mas também o são dade. Na Europa, as áreas do sul academia e à investigação, refor-
gradação da paisagem, de forma a todos aqueles que visitam o PNVG da península Ibérica são já das çar o reconhecimento pela popu-
garantir a perpetuação da sua ca- e todos os que diariamente tra- mais afetadas pela desertifica- lação da importância do PNVG no
pacidade de regeneração e valori- balham para assegurar a conser- ção e pela seca e os diversos ce- território e melhorar a articulação
zação. Verifica-se que existe uma vação dos valores naturais e para nários de evolução apontam para com o setor agrícola.
06 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

Q
A Câmara de Mértola abriu inscrições para dois programas de ocupação
municipal temporária de desempregados de longa duração. Podem concorrer
os residentes no concelho de Mértola há mais de dois anos, com idades
compreendidas entre os 18 e os 65 anos, sendo que a duração dos programas
é de seis meses. A autarquia abriu 50 vagas e os inscritos “serão chamados
consoante a necessidade do município e de acordo com o seu perfil e interesse”.

Mortes e medo da covid-19


levam a diminuição de apoio a idosos
Em junho usufruíam do complemento solidário para idosos 2308 pessoas
no distrito de Beja, menos 4,6 por cento do que em período homólogo de 2020
JOSÉ FERROLHO

Os últimos dados da Segurança Por outro lado, “os efeitos das


Social relativos ao mês de ju- restrições impostas para evi-
nho indicam que há 2308 be- tar os contágios têm originado a
neficiários no distrito de Beja perda de contactos com familia-
a receber o complemento so- res e pessoas dos círculos de so-
lidário para idosos (CSI), com ciabilidade, a diminuição signi-
um valor médio de 97,40 euros. ficativa de locomoção, bem como
Em relação ao mês homólogo uma menor frequência de serviços
de 2020, verifica-se uma dimi- de saúde em situações não urgen-
nuição de 4,6 por cento. O au- tes”. Para além das “repercussões
mento da mortalidade neste negativas na saúde mental”, subli-
grupo etário devido à pandemia nha o investigador, “também têm
de covid-19 e a impossibilidade sido identificadas consequências,
de requererem a prestação po- tais como dificuldade na concen-
derão ser duas das explicações tração/atenção, perda de massa
para esta diminuição. muscular e perda ponderal, ori-
ginando que quando se pretende
TEXTO NÉLIA PEDROSA retomar as atividades anterior-
mente desenvolvidas a população

O número de beneficiários
do complemento solidá-
rio para idosos (CSI), um
apoio monetário pago mensal-
mente aos idosos de baixos recur-
idosa sinta uma sensação de fra-
queza, cansaço e diminuídos fí-
sica, mental e emocionalmente”.
Para o investigador do Centro
Interdisciplinar de Ciências
sos, continua a diminuir no dis- Sociais, “apesar do momento me-
trito de Beja, segundo os últimos nos bom que se vive”, aguarda-se
dados divulgados pela Segurança “com esperança que em breve seja
Social. possível ultrapassar muitas das
No mês de junho usufruíam dificuldades com que nos temos
desta prestação, no distrito, 2308 vindo a debater, para que seja pos-
idosos, menos 112 do que em pe- sível proporcionar à nossa popula-
ríodo homólogo de 2020 (- 4,6 por ção idosa melhores condições de
cento) e menos quatro do que no vida a que têm direito”. “Têm sido
mês anterior (- 0,3 por cento). O muito gravosos os efeitos da pan-
valor médio do subsídio no mês demia de covid-19 na população
de junho fixava-se em 97,40 eu- idosa”, conclui Marcos Olímpio
ros, menos 0,3 por cento do que dos Santos.
o registado no mês homólogo PSP SINALIZA SITUAÇÕES DE RISCO o investigador, o número de ido- O presidente da mesa do conse-
de 2020 e mais 0,06 por cento ENTRE A POPULAÇÃO IDOSA sos falecidos devido à pandemia lho geral do Núcleo Distrital de Beja
do que no passado mês de maio. de covid-19 “poderá explicar, em da EAPN Portugal/Rede Europeia
Comparando ainda os dados com A Polícia de Segurança Pública deu início na terça-feira, em todo parte, a constatação”. E adianta Anti-Pobreza, afirma, por sua vez,
o mês homólogo de 2019 (2494 o País, à operação anual para sinalizar situações de risco entre a que, segundo dados da Direção que a pandemia de covid-19 “afetou,
idosos em junho), verifica-se que a população mais idosa, uma iniciativa que vai decorrer até ao final de Geral de Saúde, do passado dia 2, em grande medida, a população
diminuição registada entre junho setembro. A operação, denominada “A solidariedade não tem idade – “do total de mortes a nível nacio- mais idosa, e mais vulnerável, um
de 2020 e junho de 2021 é mais A PSP com os idosos”, está inserida na estratégia global da Polícia de nal (17 108), 11 228 eram pessoas pouco por todo o mundo, e o Baixo
acentuada do que a registada entre Segurança Pública de policiamento de proximidade e tem como objetivo com mais de 80 anos, 3653 com Alentejo não foi exceção”.
2019 e 2020 (que foi de 74). principal contactar e dialogar com os cidadãos com mais de 65 anos. idades entre os 70 e os 79 anos e “Os centros de dia encerraram
Os dados de junho da Segundo a PSP, a iniciativa visa “detetar casos de fragilidade social, 1541 tinham entre os 60 e os 69 temporariamente, as visitas a la-
Segurança Social ainda não estão vulnerabilidade física e psíquica comprometedores da segurança e anos”. Incluem-se nestes números, res foram suspensas e vários fo-
disponibilizados por género, con- casos de suspeita de crimes de violência doméstica ou outros contra prossegue o sociólogo, “quem já cos de infeção foram registados
tudo, dos 2312 idosos com pro- a vida ou integridade física, promovendo de imediato o necessário era beneficiário(a) e também po- em vários lares, acarretando nal-
cessamento de CSI em maio deste apoio em articulação com outras entidades”. A PSP frisa que reforçou tenciais beneficiários(as) que po- guns casos mortes de idosos”, es-
ano, 1475 eram mulheres e 837 a articulação e coordenação com as delegações da segurança deriam vir a requerer a prestação”. pecifica João Martins.
homens. social principalmente desde o início da pandemia de covid-19. Em segundo lugar, refere O acesso a alguns serviços so-
Em termos anuais, o comple- Marcos Olímpio dos Santos, “po- ciais, saúde, entre outros, “fruto
mento solidário para idosos abran- derá ter sucedido que, mesmo ido- de períodos de confinamentos, te-
gia, em 2018, 2724 idosos, em 2019, sos e idosas, em condições de re- letrabalho, e demais regras sani-
2643 (menos 81) e, em 2020, 2534 DA DIMINUIÇÃO Marcos Olímpio explicações fundamentadas so- quer e beneficiar da prestação, tárias, causaram constrangimen-
(menos 109). Entre janeiro e abril dos Santos, sociólogo, investiga- bre esta realidade”, poder-se- mas sem conhecimentos e meios tos diversos”, prossegue ainda
deste ano contabilizavam-se 2370 dor do Centro Interdisciplinar -á, porém, deixar “algumas re- para o fazer, não tivessem ainda o responsável, frisando, no en-
beneficiários (menos 164). de Ciências Sociais (CICS. f lexões que contribuam para quem os auxiliasse nessa tarefa e, tanto, “que observou-se a manu-
NOVA.UÉvora), diz ao “Diário lançar pistas sobre essa diminui- por esse motivo, estejam a contar tenção das reformas, que foram
MORTALIDADE PODERÁ EXPLICAR PARTE do Alentejo” que, “não havendo ção”. Em primeiro lugar, avança para a diminuição verificada”. asseguradas”.
23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 07

Q
O concelho de Beja conta com mais de 70 casos ativos de covid-19, número que
tem vindo a aumentar nas últimas semanas. Desde o início da pandemia, e de
acordo com dados da Direção Geral de Saúde, o novo coronavírus provocou a
morte a 60 pessoas residentes no concelho. Sines e Aljustrel encontram-se entre
os concelhos do Baixo Alentejo com uma maior incidência cumulativa de casos a
14 dias – no caso de Aljustrel somam-se 22 casos ativos da doença.

Surto de covid-19 transforma Baleizão


em “aldeia fantasma”
Médico diz que surto resulta de um “encontro de cadeias epidemiológicas” com origem em Serpa e Beja
Uma centena de pessoas está [comerciais] têm funcionários infe- isolamento, à risca, para que este surto VARIANTE DELTA COM PREVALÊNCIA
confinada, e pelo menos 20 ca- tados perde-se um pouco o controlo” possa terminar o quanto antes”. DE 100 POR CENTO NO ALENTEJO
sos de infeção estão confirma- ao número de contactos que são fei- No seguimento das medidas de
dos em Baleizão. Ao que tudo in- tos. “Este número pode ainda con- prevenção da propagação da co- “Entre as novas sequências analisadas, a variante Delta é a mais prevalente
dica, o surto terá começado em tinuar a aumentar, nos próximos vid-19, nos últimos dias, tem existido em Portugal e no Alentejo tem uma frequência de 100 por cento”. Estes são
dois cafés daquela localidade e dias”, uma vez que estão a ser rea- uma forte aposta na limpeza e desin- os dados do relatório sobre a situação da diversidade genética do novo
ter-se-á alastrado à população. lizados testes à covid-19, a todas as feção de vários locais públicos, onde coronavírus, divulgado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge
pessoas que estiveram em contactos por norma existe maior afluência de (INSA) na passada terça-feira, dia 20. Até fecho desta edição do “DA”,
TEXTO MARTA LOURO com possíveis infetados. pessoas. Essa desinfeção é realizada tinham sido registados 32 671 casos de covid-19 na área da Administração
“Por enquanto”, diz, “é a camada através da aplicação de produtos não Regional de Saúde do Alentejo, de que resultaram 977 vítimas mortais.

O s dados não são oficiais. Os


casos positivos têm estado a
ser transmitidos à Junta de
Freguesia, através da população, que
à medida que vai sabendo dos re-
mais jovem que está afetada”, porque
“é a que frequenta” em maior número
os cafés e esplanadas. Por esse motivo,
a perspetiva é de que a “situação co-
mece a melhorar, e que os sintomas da
nocivos para a saúde.
Manuel Pica, morador, diz-se
surpreendido: “Nunca pensei que se
desencadeasse uma situação destas
dimensões” na localidade. Para já,
é muito escorregadio, que se safa e
consegue atacar-nos, mesmo que es-
epidemiológicas em Baleizão, com
origem em Serpa e Beja, e que tem
sultados dos testes de despistagem doença se mantenham leves, no sen- não tem nenhum familiar infetado, tejamos a cumprir todas as normas. provocado bastantes casos”. Segundo
“vai informado”, explica Maria João tido de não surgirem situações graves”. mas a esposa, auxiliar de ação edu- Na minha opinião, será uma situação refere, “nos próximos dias poderá
Brissos, vice-presidente da Junta de Baleizão transformou-se “numa al- cativa num estabelecimento de en- muito difícil de controlar”. originar ainda mais infeções, porque
Freguesia de Baleizão. deia fantasma”. O comércio fechou por- sino de Baleizão, é uma das cerca de Mário Jorge Santos, médico de existem pessoas a ser testadas. Não
A autarca informa que “não é pos- tas e a população, maioritariamente cem pessoas que está em quarentena. Saúde Pública na Unidade Local de é um surto de Baleizão, mas tem re-
sível precisar, com certeza absoluta o idosa “trancou-se” em casa. A Junta de “Independentemente de todas as re- Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) flexo naquele local, uma vez que já
início do surto”. Contudo, refere que Freguesia continua a apelar aos mora- gras que a Direção Geral de Saúde re- explica ao “DA” que este surto re- provocou um número de casos bas-
“quando os dois estabelecimentos dores para que continuem “a cumprir o comenda, falamos de um vírus que sulta de “um encontro de cadeias tante significativos”.
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08 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

Q
A Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal) lançou um portal na Internet
que dá acesso ao catálogo coletivo das bibliotecas municipais do território, que
contam com mais de 300 mil títulos e 500 mil exemplares. O portal, disponível em www.
bibliotecasbaixoalentejo.pt, possibilita ao utilizador conhecer e requisitar exemplares
das bibliotecas e, através do sistema de empréstimo, aceder ao título que pretende,
levantando-o posteriormente na biblioteca do seu concelho de residência.

Sindicato diz que “erro” deixa Ulsba


sem vagas em três especialidades
Sindicato dos Médicos da Zona Sul garante que hospital de Beja vai continuar, pelo menos
para já, sem novos médicos nas especialidades de radiologia, pedopsiquiatria e urologia
D.R.

A denúncia é feita pela Outra consequência da escas-


Sindicado dos Médicos da sez de recursos humanos é a so-
Zona Sul (SMZS), que con- brecarga de trabalho para os pro-
sidera existir “um boicote” fissionais que prestam serviço nos
no atual processo de recru- hospitais do interior. “Se as pes-
tamento de médicos para o soas já sabem que ao irem para
Serviço Nacional de Saúde um sítio carenciado vão ter de tra-
(SNS), pois o concurso “não balhar muito mais, optam por fi-
contempla as necessidades car nas zonas do litoral. É como a
identificadas” quer no Baixo pescadinha de rabo na boca”, su-
Alentejo, quer no resto do blinha Rui Algarvio, defendendo
País. O sindicato diz que “ape- a importância da “integração” en-
sar de o Ministério da Saúde tre cuidados de saúde primários
ter emitido um despacho a e hospitalares. “Esta integração
identificar os serviços e espe- pode ser, ainda, mais potenciada
cialidades carenciadas, mui- e melhorada, com vista a que os
tas destas não constam no profissionais se sintam mais moti-
mapa de vagas que foi colo- vados para trabalhar nestes sítios
cado a concurso”. havendo, assim, uma maior inte-
gração, uma maior proximidade
TEXTO MARTA LOURO entre as diversas especialidades e
entre os cuidados primários e os

E m declarações ao “DA”, Rui


Algarvio, membro da dire-
ção do sindicato considera
tratar-se de “uma incongruên-
cia” e critica a “falta de von-
secundários”.
Para efeitos de atribuição de in-
centivos à contratação, para o ano
de 2021, foram “atribuídas” a todo
o Alentejo 81 vagas para especiali-
tade política, por parte da tutela, dades hospitalares, três vagas em
para que os médicos sejam alo- saúde pública e 26 em medicina
cados às zonas mais carencia- geral e familiar, “destinadas ao re-
das”. No caso da Ulsba, o recruta- crutamento dos médicos que ad-
mento não inclui novos médicos quiriram o grau de especialista”.
nas especialidades de radiolo- De acordo com um despa-
gia, pedopsiquiatria e urologia, REABERTO POSTO MÉDICO fragilidades do Serviço Nacional cho ministerial publicado em
de que há carência no hospital de Saúde e pôr a nu a situação “Diário da República”, especifi-
de Beja. Da mesma forma, acres- DA MINA DE SÃO DOMINGOS difícil pela qual estamos a pas- cando áreas carenciadas em médi-
centa o SMZS, na Unidade Local Depois de nove meses encerrado, após a conclusão das obras de sar em termos de recursos e de cos, a Unidade Local de Saúde do
de Saúde do Litoral Alentejo fo- requalificação, o posto médico da Mina de São Domingos, em Mértola equipamentos”. Baixo Alentejo (Ulsba) tem carên-
ram identificadas como caren- reabriu, mas está longe de satisfazer a população local. O espaço esteve “Continuar a ignorar as neces- cias em 15 especialidades, que são
ciadas as especialidades de saúde encerrado para “adaptar o serviço de saúde às condicionantes de covid-19, sidades já identificadas e limitar identificadas.
pública, cardiologia, gastroen- com obras adequadas”. Mas, “por dificuldades por parte da Unidade a fixação de jovens médicos nes- Conforme referido ao “DA”, em
terologia, medicina física e rea- Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) em colocar pessoal, médico e tas áreas apenas contribuirá para agosto de 2020, pela presidente da
bilitação, neurologia, otorrino- auxiliar, esta unidade” manteve-se encerrada” por mais noves meses. o previsível insucesso do con- Ulsba, Conceição Margalha, den-
laringologia e urologia mas o Reabriu agora um único dia por semana, às quartas-feiras, das 09 às 19:00 curso. Além disso, a persistên- tro das especialidades médicas
Ministério da Saúde “não proce- horas, garantindo cerca de 35 consultas semanais. Joaquim Cavaco, cia na abertura de concursos que identificadas como carenciadas
deu á abertura de vagas” no atual membro da comissão de moradores, disse ao “DA” que o ideal seria a não vão de encontro às necessi- no hospital de Beja “as mais críti-
concurso de recrutamento. reposição de três dias semanais com consultas e serviço de enfermagem. dades identificadas apenas serve cas são as especialidades de anes-
Em Évora, no Hospital do A Câmara de Mértola reconhece que esta “não é ainda a situação ideal”, para acentuar as desigualdades no tesia, ortopedia, ginecologia/obs-
Espírito Santo, vão continuar a pelo que o objetivo “é aumentar o período já anunciado, para que todos acesso à saúde e contribuir para o tetrícia, pediatria e radiologia, e,
faltar médicos de infecciologia, os que pretendam consulta a possam obter em tempo adequado”. “De enfraquecimento do SNS”. na área de cuidados de saúde pri-
neurorradiologia e urologia. E a qualquer das formas temos de recolher que os tempos são difíceis e que O dirigente do SMZS garante mários, a medicina geral e fami-
Unidade Local de Saúde do Norte há bastante falta de médicos”, diz Jorge Rosa, presidente da autarquia. que esta realidade vai “infeliz- liar e a saúde pública”.
Alentejano, em Portalegre, con- mente continuar”, enquanto não De acordo a administração
tinuará, segundo o sindicato, a existirem estratégias de fixa- hospitalar, “as faltas destes pro-
apresentar carências ao nível de ção” de médicos nestas regiões. fissionais têm sido colmatadas ao
dermatologistas, gastroenterolo- entre o que foi definido pelo “A pandemia só veio agravar “Também é verdade”, prosse- longo dos anos pela enorme de-
gistas, imunoalergologistas, neu- Ministério da Saúde e as vagas que a situação, porque estas debilida- gue, “que os incentivos ajudam, dicação dos profissionais que tra-
rologistas, otorrinolaringologistas abriram”, sendo que este tipo de des já vinham de trás. O desinves- mas não são suficientes. Para fi- balham na Ulsba, com recurso a
e urologistas pela mesma razão: a decisões faz com que os médicos timento no SNS já é crónico e atra- xar médicos é preciso que exis- trabalho extraordinário destes
não abertura de vagas. “não tenham incentivos para se vessa os diversos governos”, diz tam condições de trabalho, profissionais e contratos de pres-
Segundo Rui Algarvio, “não fixarem no interior do País, aca- Rui Algarvio, acrescentando que bem como acesso a equipamen- tação de serviço, sobretudo para
são assim tão poucas as situações bando as áreas urbanas por dispo- “a pandemia veio revelar mais al- tos e tecnologias que não sejam a área da urgência e de médicos
em que existe uma incongruência nibilizarem mais vagas”. gumas debilidades, demonstrar as obsoletos”. para os centros de saúde”.
PUBLICIDADE | 23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 09
10 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

Q
O Nerbe tem inscrições abertas para entidades que queiram aderir ao projeto Alentejo Global
Export. Trata-se de uma iniciativa que visa criar visibilidade nos mercados da Alemanha,
Benelux e Espanha para os produtos e serviços do Alentejo e promover a sua venda direta
nesses mercados, nomeadamente, numa lógica de associação direta à gastronomia regional,
promovendo internacionalmente os produtos e recursos associados ao Alentejo numa lógica
integrada enquanto destino turístico.

JOSÉ FERROLHO
Um estudo da autoria de
Alexandre Afonso, professor
associado da Universidade
de L eiden, nos Países
Baixos, conclui que o can-
didato do partido Chega nas
presidenciais de janeiro ob-
teve mais votos nos conce-
lhos onde existe um maior
número de pessoas de etnia
cigana e onde há mais resi-
dentes a beneficiar da assis-
tência social.

TEXTO NÉLIA PEDROSA

N as presidenciais de ja-
neiro ú lt i mo, A ndré
Ventura, candidato do
partido Chega, obteve mais vo-
tos nos concelhos onde existe
um maior número de pes-
soas de etnia cigana, sendo
“Moura um dos casos mais ex-
tremos desta relação”. Esta é
uma das principais conclu-
sões do estudo “Correlações de
apoio agregado à direita radical
em Portugal”, da autoria do in-
vestigador Alexandre Afonso,
da Universidade de Leiden, nos
Países Baixos.
“O fator mais claramente as-
sociado com o voto no partido
Chega é a percentagem de indi-
víduos de etnia cigana”, reforça
o investigador em declarações
ao “Diário do Alentejo”, admi-
tindo que espera uma “tendência
similar” nas autárquicas de se-
tembro próximo, mesmo que “as
campanhas locais sejam diferen-
tes e menos centradas sobre um
candidato (Ventura) do que as
presidenciais”.
Outra das principais con-
clusões da investigação é que “o
Chega recebe mais votos em con-
celhos onde há mais residentes a

Ventura ganhou onde existe


beneficiar da assistência social”, o
que “pode significar que o voto no
partido cresce onde os grupos que
podem ser construídos como ‘out-

um maior número de pessoas


siders’ (o que se aplica também
aos ciganos) são maiores”, diz.
Contrariamente ao que se ve-
rifica com a comunidade de et-

de etnia cigana
nia cigana, o estudo revela que
a proporção de imigrantes não
tem um impacto significativo
na votação em André Ventura.
De acordo com o professor as-
sociado da Universidade de
Leiden, isso poderá dever-se ao Resultados das presidenciais poderão repetir-se nas eleições
facto de a comunidade cigana autárquicas, diz investigador Alexandre Afonso
“ser mais estigmatizada” e “so-
frer mais problemas de integra-
ção que muitas comunidades es- radical em Portugal”, esclarece controlando outros fatores, quais da habitação, entre outros, já que “percentagem de votos em conce-
trangeiras” e também porque Alexandre Afonso, teve como são as características de municí- o Chega diz querer representar lhos mais pequenos e com menos
“há maiores concentrações de objetivo “tentar explicar por pios que são associadas a maio- os ‘deixados para trás’ economi- densidade populacional” e que
comunidades ciganas em meio que é que o partido Chega ob- res proporções de votos para o camente”. Assim, afirma, “não “há maiores percentagens de vo-
rural, onde a convivência pode teve mais votos em certos mu- Chega”, acrescenta. são os municípios mais pobres tação no Chega onde há mais ido-
ser mais problemática do que em nicípios portugueses do que em O investigador adianta, ainda, ou com maior desemprego que sos”, o que não quer dizer, con-
meio urbano”. outros, usando métodos estatís- que ficou surpreendido por “não votam mais no Chega”. tudo, “que os idosos votam mais
O e s t udo “C or re l a ç õ e s ticos comuns, nomeadamente, haver relação com indicadores O estudo conclui igualmente no Chega”, sublinha o professor.
de apoio agregado à direita regressões”. “O objetivo é ver, económicos, como ganhos, preço que André Ventura recebe mais Recorde-se que nas
23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 11

Q
Foram aprovadas as primeiras três candidaturas, uma delas referente à Base Aérea n.º 11, em
Beja, apresentadas pela Defesa Nacional no âmbito do Programa para a Remoção de Amianto,
financiado pelo Fundo de Reabilitação e Conservação Patrimonial. O Governo frisa que a medida
visa apoiar as iniciativas de reabilitação e conservação do património público, através da
remoção de materiais com amianto, contribuindo para a melhoria das condições de segurança e
salubridade dos imóveis.

COMUNIDADE Chega “já tinha ganho votos nas A ativista defende que a ins-
CONTINUA A CRESCER legislativas” de 2019. “Não sei, se trução “é a melhor arma para a
calhar até poderão tirar um ve- igualdade”, ao permitir que a
De acordo com o último reador em Moura”. comunidade cigana “saiba com
Mapeamento das Comunidades E se “antes podia haver ra- mais clareza” quais os seus di-
Ciganas do Distrito de Beja, levado cismo, mas estava escondido”, reitos e deveres. “A escola é o
a cabo em julho de 2018 pela AMEC, diz o presidente da AMEC, melhor que se pode ter para nós
com o apoio do Núcleo Distrital atualmente, devido ao partido usufruirmos do nosso direito
de Beja da EAPN Portugal/Rede Chega, as pessoas falam “mais de igualdade, de cidadania por-
Europeia Anti Pobreza, e ao abrigo abertamente”, verificando-se tuguesa, porque somos portu-
de uma candidatura ao Programa “um aumento da discriminação” gueses desde o ano 1500. Toda
de Apoio ao Associativismo contra a comunidade cigana. a nossa descendência é portu-
Cigano do Alto Comissariado guesa. De outra forma é muito
para as Migrações, no distrito de INSTRUÇÃO “É A MELHOR ARMA PARA difícil”, acrescenta, frisando que
Beja viviam 3666 ciganos, o que A IGUALDADE Para Olga Mariano, a educação é a sua “luta”.
representava 2,4 por cento do ativista pelos direitos da comu- Para além disso, “o outro
total de habitantes no território nidade cigana e atualmente pre- também tem de nos aceitar como
nacional. Comparando esses dados sidente da Letras Nómadas – um cidadão de igual para igual,
com o estudo de caracterização da Associação de Investigação e porque o caminho faz-se dos
população cigana realizado em 2010 Dinamização das Comunidades dois lados. Não é só nós mudar-
pelo Centro Distrital de Segurança Ciganas, as conclusões do es- mos, porque não vamos mudar a
Social, contabilizavam-se mais tudo, relativamente à comuni- nossa cultura. Nós adoramos a
1618 pessoas, o que representava dade cigana, são fruto da “la- nossa cultura, como os alenteja-
um aumento de 79 por cento em vagem cerebral ” que André nos adoram a cultura alentejana.
oito anos. Desses 3666, 2065 Ventura tem vindo a fazer “às O que seria dos alentejanos sem
eram crianças e jovens e 1601 pessoas dos concelhos onde ha- as benditas açordas, as sopas de
adultos. Beja (com 1399), Moura bitam maiores comunidades tomate, sem as migas?”.
(983), Serpa (469), Aljustrel ciganas”. Mas a comunidade cigana só
(205) e Vidigueira (204) eram os “Fazer dos ciganos o bode será aceite, prossegue, quando
concelhos que apresentavam o expiatório foi a forma de ele “as entidades empregadoras,
maior número de elementos de chegar às pessoas indecisas numa procura ativa de emprego,
etnia cigana. Prudêncio Canhoto [quanto à votação], às pessoas numa entrevista de emprego,
diz que a comunidade “continua menos letradas, de comunida- não discriminarem os ciganos
a crescer ano após ano” e que des mais rurais. Aproveita-se quando eles têm as mesmas qua-
“todos os anos nota-se que há dos poucos benefícios que a co- lificações, ou superiores, do não
mais crianças”. O presidente munidade cigana tem a nível cigano”, e quando “acabar a dis-
da mesa do conselho geral do social e diz que são retirados criminação” no acesso ao arren-
Núcleo Distrital de Beja da EAPN aos salários dos trabalhadores damento ou compra de habita-
Portugal, João Martins, adianta rurais, dos que estão mais dis- ção, deixando se ser necessário
que os dados de 2018 já apresentam tantes dos grandes centros ur- recorrer “a mediadores ou a não
“alguma desatualização face à banos”, adianta a também co- ciganos”.
situação atual”, pois a comunidade fundadora da Associação para o Olga Ma ria no considera
cigana “cresceu ligeiramente Desenvolvimento das Mulheres ainda que a “figura do mediador
até à presente data, com maior Ciganas Portuguesas. ou mediadora deve ser reposta
expressão nos concelhos de No entanto, sublinha, no imediatamente nas várias ins-
Beja, Moura e Serpa e menor em universo dos beneficiários do tituições escolares”, para que as
Ourique, Odemira e Barrancos”. Rendimento Social de Inserção meninas, principalmente, pos-
(RSI), a comunidade cigana “re- sam prosseguir os seus estudos
presenta 3,8 por cento, sendo os no segundo ciclo. “Isso dá ou-
outros 96,2 por cento não ciga- tra respeitabilidade, porque os
presidenciais de janeiro o can- o estudo vem confirmar aquilo abandonou a viatura envolvida. nos, segundo os últimos dados nossos hábitos são diferentes.
didato do Chega teve a sua que já se sabia: “Tanto em Sobral “Hoj e [t e rç a-fe i r a , d i a disponibilizados pela Segurança Os pais dessas meninas teriam
maior votação na freguesia de da Adiça, como em Póvoa de São 20] André Ventura está em Social”. Olga Mariano admite muito mais confiança”.
Póvoa de São Miguel, no con- Miguel”, André Ventura – “um Reguengos. No norte também que essa percentagem tenha su- Para Prudêncio Canhoto, re-
celho de Moura, onde cerca de senhor que aparece do nada e houve desacatos, mas lá ele não bido com a pandemia de co- sume-se tudo a uma palavra:
metade votou (47,8 por cento) ataca os ciganos” – ganhou “por- vai. Vai a Reguengos porque a vid-19, mas mesmo assim conti- oportunidade. “É preciso dar
e, destes, 41,23 por cento deram que há uma comunidade cigana confusão foi com um rapaz de nua a ser reduzida, diz. aos ciganos as mesmas oportu-
o voto a André Ventura, que fi- muito grande”. Surpreende-o etnia cigana. Vai aproveitar-se E à semelhança do presidente nidades, em todas as áreas – es-
cou à frente de Marcelo Rebelo sim, diz, é que, em pleno século do povo, de quem está revoltado da AMEC, considera que a dis- cola, emprego –, para ver do que
de Sousa. Também na fregue- XXI, “se veja ainda muita discri- com o que aconteceu. Ele apro- criminação aumentou devido é que são capazes. Para verem
sia de Sobral da Adiça, dos 41,75 minação e muito racismo”. veita-se das situações para ga- a André Ventura. No seu caso que também há ciganos bons,
por cento de votantes, 34,05 por Prudêncio Canhoto acusa nhar apoiantes e votos. Atua na concreto, assume que, em “71 com muita qualidade, capaci-
cento escolheram Ventura, que, André Ventura de se aprovei- hora certa. Em Reguengos tam- anos de vida”, nunca se sentiu tados. É preciso apostar neles”.
assim, ganhou a Marcelo Rebelo tar de toda e qualquer situa- bém vai ganhar [nas autárqui- tão discriminada como atual- Porque, garante o presidente
de Sousa. Segundo os dados to- ção que envolva negativamente cas]”, afirma o responsável, sa- mente. “Em todos os lados que da AMEC, “há muitos ciganos
tais para o concelho de Moura, a comunidade cigana para ga- lientando que “na comunidade piso sou olhada como sendo à procura de trabalho, mas as
o candidato do Chega obteve nhar votos e dá como exem- cigana, como na comunidade uma coisa que os vai confrontar, portas fecham-se porque se vão
30,85 por cento dos votos e plo os desacatos que ocorre- maioritária, há bom e mau, há que lhes vai tirar a vez, que os dar emprego a um cigano per-
Marcelo Rebelo de Sousa 39,12 ram no final da semana passada de tudo”, sendo que “as autori- vai roubar, manipular, são mil dem logo os seus clientes”. Uma
por cento. numa esplanada em Reguengos dades têm competência para re- e um adjetivos. Antes do Chega, maior visibilidade da comuni-
de Monsaraz, no concelho de solver as situações”. se havia alguma população que dade cigana na sociedade, diz,
DISCRIMINAÇÃO AUMENTA O pre- Évora, que tiveram como con- Ainda em relação às próximas não gostava dos ciganos, estava levará a uma maior integração e
sidente d a A ssociaç ão de sequência três feridos, dois de- eleições autárquicas, Prudêncio muito camuf lada. Esse senhor aceitação. “É caminho para que
Mediadores Ciganos de Portugal les ligeiros, vítimas de atropela- Canhoto acredita que se vai ve- fez com que hoje em dia até seja se vá desconstruindo esta men-
(AMEC), que tem sede em Beja, mento por um homem de etnia rificar o mesmo que nas presi- uma coisa obrigatória falar mal talidade do ódio e do racismo”,
diz ao “Diário do Alentejo” que cigana que, posteriormente, denciais de janeiro, até porque o dos ciganos”. conclui.
12 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

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O Ministério do Ambiente e da Ação Climática assegurou que está a acompanhar de “forma
continuada” a situação que se vive nas Fortes, onde a população local se continua a queixar da
poluição provocada por uma unidade de transformação de bagaço de azeitona. Em declarações
à Rádio Pax, fonte do ministério assegurou que “não há registo de incumprimentos no que
respeita ao cumprimento dos valores limite das emissões atmosféricas, ao acondicionamento
das cinzas e escórias e ao armazenamento e espalhamento das águas residuais”.

A produção de vinho em talhas de barro está mais perto de ser

JOSÉ FERROLHO/ARQUIVO
inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial.
Aconteceu no passado dia 13 de julho, numa reunião institucional
que juntou os municípios e as entidades envolvidas no projeto
que visa salvaguardar este tipo de saber-fazer ancestral.

N a prática “está feito o re-


gisto”, diz a coordenadora
da candidatura do vinho
da talha a Património Imaterial
da Unesco. Explicando que o pro-
ano, fazia-se anunciar pela autar-
quia como “espaço de interpreta-
ção, difusão científica e tecnoló-
gica, e divulgação do património
imaterial relacionado com o saber
A CVRA adianta que a pro-
dução varia “ligeiramente” se-
gundo a “tradição local”, mas
que a forma referencial pouco
se alterou: “As uvas previa-
cesso se encontra “na fase de ter- fazer daquele produto ancestral”. mente esmagadas são colo-
minar a inscrição ou de sub- Além da Vidigueira, a can- cadas dentro das talhas de
missão do pedido”, dá conta de didatura envolve diversos mu- barro e a fermentação ocorre
alguma informação relevante que nicípios, como Aljustrel, Alvito, espontaneamente”.
acompanha os formulários rigo- Beja, Cuba, Ferreira do Alentejo, O processo acontece normal-
rosamente preenchidos, e fun- Moura e Serpa, no distrito de Beja, mente em 40 dias, segundo José
damenta e institucionaliza o que mas também de outras regiões Galante, que produz vinho para
é ‘requerido’. No caso, contex- como Borba, Estremoz, Évora, consumo próprio e já vende algum
tualizar historicamente e desta- Mora, Mourão, Reguengos de engarrafado. Agora, pretende pas-
car a importância que a preserva- Monsaraz e Viana do Alentejo, ou sar ao “escalão” seguinte: pro-
ção deste património cultural tem Arronches, Campo Maior, Elvas e duzir vinho com Denominação
para os municípios onde se desen- Marvão, no distrito de Portalegre. de Origem Controlada (DOC).
volve. As entidades envolvidas são o “Antes não tinha vinhas. Comecei
“Como já se percebeu, o vinho Centro de Formação Profissional a plantá-las. Quando as regis-
de talha acaba por ser um agrega- para o Artesanato e Património, a tar já se vê que é da minha pro-
dor, um elemento que identifica Comissão Vitivinícola Regional do dução e, aí, o vinho é certificado
as comunidades onde esta prá- Alentejo (CVRA), a Direção Geral pela CVRA”, explica. Detentor de
tica acontece”, observa Rosa Trole, de Agricultura e Desenvolvimento uma marca, o produtor de Vila de
em declarações ao “DA”. Lembra Rural, a Direção Regional de Frades conta neste momento com
que “toda a gente à volta” do mu- Agricultura e Pescas do Alentejo, “três pequenas adegas e 30 vasi-
nicípio de Vidigueira, por exem- a Direção Regional de Cultura do lhas de barro”, entre potes, talhas
plo, sabe que em Vila de Frades e Alentejo, a Entidade Regional de e tarecos.
na Vidigueira se faz vinho nos re- Turismo do Alentejo e Ribatejo Antigo funcionário público,
cipientes de barro e, quando é al- e a Vitifrades - Associação de viveu mais de 30 anos em Lisboa,
tura de o provar, procura partici- Desenvolvimento Local. “sempre com vontade de vir para
par no “ritual que se repete ano o Alentejo produzir” o seu pró-
após ano, através da cultura que TÉCNICA QUE SE MANTÉM IMUTÁVEL prio vinho. O momento chegou
ali está instalada”. Uma prova que De acordo com a Comissão há pouco anos, mas já faz vinho
proporciona à população local e a Vitivinícola Regional do Alentejo há cerca de 15. Transformou a
quem visita o território “uma ex- (CVRA), em Portugal, o Alentejo casa de família em alojamento lo-
periência que não é comum”, entre tem sido “o grande guardião dos cal, e virou-se para adega, tam-
talhas e petiscos. E que também vinhos de talha”, tendo sabido bém de família, sem talhas, por-
“não acontece em todo o Alentejo, preservar o método de vinifica- que as que havia tinham sido há
mas apenas em alguns concelhos”. ção concebido pelos romanos há muito destruídas. Não sabe se
No âmbito desta candida- mais de 2000 anos. “Seguindo os pelo próprio avô, quando a Adega
tura liderada pela Câmara da processos mais clássicos ou ado- Cooperativa da Vidigueira pas-
Vidigueira, e cuja ideia surge por tando alguma modernização” su- sou a comprar as uvas e os produ-
volta de 2018, o município criou blinha, “o vinho de talha man- tores deixaram de produzir o vi- com o surgimento de uma asso- quando começou a produzir, em
em 2020 o Centro Interpretativo tém-se como um produto único, nho, prática ali instalada desde o ciação destinada a “promover, “pequenas quantidades”, estra-
do Vinho de Talha (CIVT) em sublime representante da mile- tempo do império romano. “Pelo dignificar e valorizar” a produ- gou muito vinho. Entretanto, ga-
Vila de Frades, instalado na an- nar cultura do vinho no Alentejo.” menos restaram poucos, na al- ção milenar de vinificação típica nhou “alguma técnica e sabedo-
tiga Casa dos Almeidas, requali- A técnica foi passando ao longo tura.” Corriam os anos 60 do sé- de algumas zonas do Alentejo: a ria”, conseguindo “vinhos bons
ficada e de arquitetura romana. de diferentes gerações, de “forma culo XX. A situação só se vi- Vitifrades. e em quantidade”. Vai nos dois
Inaugurado em novembro desse quase imutável”. ria a inverter a partir de 1998, José Galante lembra que mil litros por ano. Mas, de início,

Produção de vinho de talha quer ser Património Imaterial da Humanidade

património
TEXTO JÚLIA SERRÃO
23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 13

Q
A Câmara de Alvito revelou ter investido cerca de 2,5 milhões de euros na recuperação
total de um edifício que irá acolher, já no próximo ano letivo, a Escola Profissional de
Alvito. A obra contemplou a recuperação de um espaço localizado à entrada da sede
de concelho e, neste momento, reúne todas as condições para a instalação da Escola
Profissional de Alvito, segundo António João Valério, presidente do município, segundo
o qual a obra estará totalmente terminada até final do próximo mês de agosto.

PRIMEIRO VINHO DE TALHA COMERCIALIZADO


Onze anos depois da sua criação, a Vitifrades começou a afirmar-se
como associação de desenvolvimento local (ADL). Em 2009, lançou no
mercado o primeiro vinho comercializado em pequenas talhas de 0,75
litros, que “serviu de estímulo aos produtores alentejanos” que ainda
hoje o comercializam dessa forma, segundo a Comissão Vitivinícola
Regional Alentejana. Foi igualmente com esse “espírito de inovação
permanente” e com a “intenção de dar o exemplo” aos agentes
económicos e, simultaneamente, promover a sua viabilização como
associação de desenvolvimento local, que levou a CVRA a “disponibilizar
pela primeira vez”, no País, um vinho numa “garrafa em forma de
‘amphora’ romana, a que deu o nome de Amphora: o “Vinho de Talha DOC
Alentejano”, certificado pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana.

produção milenar, impulsionada tem vindo a apoiar os produto-


pelo projeto de candidatura à res e a incentivar a preservação
Unesco, medida pelo crescimento das adegas. Neste, mas também
do setor, pela maior procura de nos outros concelhos parceiros
vinho e até subida de preço. da candidatura, “há pessoas que
Rosa Trole admite a existência têm novos projetos, e há muita
de “um nicho”, que são as adegas gente a movimentar-se à volta
grandes, que estão a aproveitar deste património”. O movimento
o facto de o vinho de talha estar trouxe também informação sobre
na moda, e também por isso que- outro conjunto de patrimónios,
rem “tirar partido deste patrimó- “pois o vinho acaba por agregar
nio”. Um pouco à semelhança do vários, do material ao imaterial,
que já “aconteceu com o fado e do móvel ao imóvel”. Rosa Trole
com o Cante”. Compram talhas e diz que o associado a este tipo de
fazem vinho deste tipo, “porque produção é “imenso”, e tudo isso
também querem ter parte deste acabou por ganha uma vida nova.
património cultural e imaterial “O movimento criou uma espécie
incluído nos seus negócios”. De de despertar para tudo o que lhe
qualquer forma, assegura que “a diz respeito”.
tradição está assente sobretudo A coordenadora defende que
no autoconsumo, na economia a liderança da Vidigueira no pro-
familiar e doméstica”. A produ- cesso de candidatura é “algo na-
ção teve “uma perspetiva econo- tural”, uma vez que o concelho
micista” até ao aparecimento das “é expressão” de uma produção
adegas cooperativas, “quando a maior. Continua a ter mais pro-
única forma de produzir era a ta- dutores do que os outros municí-
lha, que tinha uma certa escala a pios, o que se prende com vários
nível económico no concelho da aspetos. “A divisão da proprie-
Vidigueira”. dade, o facto de termos proprie-
dades pequenas, e estarmos junto
SALVAR O PATRIMÓNIO VINÍCOL A à serra. Aqui houve sempre esta
Quando em setembro de 2016 potencialidade vinícola, sendo
se percebeu que muitas talhas que alguns autores defendem que
e outros utensílios vinários na a vinha permitiu a fixação da po-
Vidigueira estavam a ser vendi- pulação, porque era uma cul-
“não foi fácil, porque o vinho de mais este vinho”, que ao longo de liso e que se limpa facilmente”. dos, acordou-se para uma reali- tura rentável”. O concelho sem-
talha não é um vinho fácil de fa- décadas foi “vendido a um va- Por outro lado, o engarrafamento dade inesperada: estava a perder- pre foi uma zona vinhateira, “até
zer”, desabafa, explicando que a lor irrisório, quase não dava lu- é feito à mão, uma rolha de cada -se um importantíssimo e raro naturalmente definida”. A serra
sua produção é “muito artesanal, cro”, tendo em conta que é “muito vez. Mas, quando a fermentação património vinícola. Rosa Trole permitiu que naquele sopé se
tal como se fazia antigamente”. trabalhoso de fazer” e fica signi- se conclui, e o momento da prova conta que se tentou gerir a situa- plantasse e cuidasse da vinha.
Para otimizar a “arte” de trans- ficativamente “caro”. Diz que os do vinho de talha acontece, o re- ção com uma classificação das “Manteve-se mais a tradição,
formar as uvas em vinho ao longo produtores esperam aumentar sultado é uma experiência ímpar. talhas, mas logo se evoluiu para aqui neste território”
de todo o processo, inscreveu-se a produção e o valor de venda, o José Galante assegura tratar- uma ideia mais ambiciosa, “ba- Alguns municípios envolvidos
numa formação de um ano: “Um que também vai dar “maior in- -se de um vinho “único” em tex- tendo à porta” da Direção Geral na candidatura não estão a pro-
curso de adegueiro para apender centivo” para continuar. tura, cor, aroma e sabor, pro- do Património Cultural (DGPC). duzir neste momento, mas vão
algumas técnicas”, entre outras, A rentabilidade económica vocando todos os sentidos. “De Já com um quadro de “tudo o que começar já este ano. Entretanto,
a de “engarrafamento para man- da produção artesanal é frágil início estranha-se, depois entra- se estruturava à volta das talhas também se sabe que “há mui-
ter a longevidade do vinho”. Tem porque todo o processo é mo- nha-se, como é costume dizer- e do vinho”, o município avançou tas adegas que estão fechadas,
sede de aprender mais. roso e caro comparado com o vi- -se. E cada talha tem uma iden- com a deia de inscrição da pro- que as pessoas têm esse patrimó-
nho produzido em recipientes ou tidade própria, produz um vinho dução artesanal no Inventário nio”, mas não há certeza de vi-
MAIOR VISIBILIDADES José Galante cubas de inox. Este último é feito específico, dá-lhe uma identi- Nacional. A coordenadora, com rem a produzir. Tudo depende
fala da importância da candida- com “máquinas”, enquanto no dade única”, observa, lembrando formação em História, explica da decisão dos produtores, que
tura da produção artesanal a pa- primeiro “é tudo feito manual- o ritual associado à prova do vi- que essa possibilidade surgiu na é seguramente influenciada por
trimónio da Unesco, na pers- mente”, explica o produtor de nho novo, que reúne os amigos à sequência de uma reunião com fatores como a quantidade e qua-
petiva dos produtores: “Se o Vila de Frades. Também é mais volta de um petisco, e muitas ve- a DGPC: “A partir daí, quando se lidade da uva colhida ou adqui-
processo for aprovado, vamos ter trabalhoso porque “exige mais zes é acompanhado pelo Cante lança a ideia publicamente, o mo- rida. Sobretudo, tem que “haver
mais visibilidade no mundo”. Diz higiene, pois as talhas são rugo- alentejano. vimento começa a surgir à volta vontade, porque o vinho da ta-
que estão “com grande expeciata- sas, necessitam de mais cuida- De qualquer forma, fala-se deste objetivo maior”. lha é trabalhoso”, não se cansa de
tiva que isso vá valorizar cada vez dos, ao contrário do inox que é numa espécie de renascimento da O município da Vidigueira dizer.
14 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

OPINIÃO
NOTAS À ESQUERDA
Presente envenenado

F
JOSÉ FILIPE MURTEIRA PROFESSOR

oi há pouco mais de três meses (no dia 2 de


D.R.

abril) que se comemorou o 45.º aniversário


da aprovação da Constituição da República
Portuguesa (CRP), que substituiu a de 1933,
que suportou a ditadura derrubada em 25 de
abril de 1974.
De entre os vários artigos que desman-
telaram a constituição do Estado Novo, havia um (o
236.º) que estabelecia a nova forma de organização do
território, expressa no seu número um: “No Continente
as autarquias locais são as freguesias, os municípios e
as regiões administrativas”.
Se, sobre as duas primeiras, com mais ou menos pro-
blemas, o estipulado na CRP tem sido cumprido, o mesmo
já não se passa com o estabelecimento das regiões. Sobre
as várias vicissitudes por que tem passado este processo,
não me vou pronunciar agora; sobre a regionalização, tive
oportunidade de dar a minha opinião, nas páginas do
“Diário do Alentejo”, no dia 24 de novembro de 2017.
A implementação desta nova estrutura territorial
implicaria, obviamente, uma redistribuição de atribui-
ções e competências, acompanhadas, claro, dos meios
humanos e financeiros para fazer face ao novo quadro
legal. Nenhuma autarquia do País – freguesia ou muni-
cípio – seria capaz de fazer face aos novos desafios com
os meios de que dispunha em abril de 1974. do rendimento social de inserção (…), a conservação sendo municipais uma pequena parte. A própria pista
Daí que ao longo dos anos se tenha assistido a essa dos imóveis [da saúde], a gestão dos assistentes opera- de atletismo inaugurada em 2016 foi construída pelo
transferência, do poder central para o local, incluindo cionais, o pagamento de rendas, limpeza e desinfeção, Instituto Português do Desporto e da Juventude (a
ainda a passagem de competências dos municípios fornecimento de serviços essenciais e arranjos exterio- de Beja, que data de 1999, foi da responsabilidade da
para as freguesias. Quanto às transferências para as res”. (LUSA, 30 março 2021). Por exemplo, no site da autarquia).
regiões, como estas não existem, o que se tem verifi- Câmara de Portel já podemos ver que tem sob a sua al- Para além destes equipamentos, refiram-se tam-
cado são transferências do poder central para os seus çada, além do centro de saúde, mais sete extensões no bém os culturais, de cuja rede Beja deve sentir um le-
órgãos desconcentrados (como no caso da gestão de al- concelho. gítimo orgulho, desde a Casa da Cultura, à Biblioteca
guns museus nacionais que passou para as direções re- Perante este acréscimo de competências, não ad- Municipal, ao Pax Julia, ao Museu Jorge Vieira e, mais
gionais de cultura). mira, por isso, a contestação que alguns autar- recentemente, ao Centro Unesco ou ao Centro de
Um aparte para mencionar uma situação um pouco cas e a própria Associação Nacional de Municípios Arqueologia e Artes. E, se no caso dos equipamentos
aberrante, que foi a criação, no Plano Rodoviário Portugueses (ANMP) têm vindo a manifestar. Por desportivos, são os clubes os seus grandes dinamiza-
Nacional (versão de 1998) das “estradas regionais”, tal- exemplo, Rui Moreira já terá feito contas e, no caso do dores, no caso dos culturais, não obstante o bom tra-
vez inspiradas nas ‘carreteras’ autonómicas dos nossos Porto, só a Ação Social irá significar um aumento de balho dos agentes e associações dessa área, tem de ser a
vizinhos, prevendo a criação, a curto/médio prazo das despesa da autarquia em sete milhões de euros, já que, autarquia a grande dinamizadora de uma política cul-
regiões no nosso País. Por exemplo, o troço Aljustrel- para uma despesa nessa área de nove milhões, irá ape- tural coerente e consistente (algo que não se tem visto
Castro Verde, recentemente requalificado, afinal não nas receber cerca de dois milhões de euros (“Jornal de no mandato que está a terminar), com a afetação dos
integra a já mítica EN 2, mas sim a (quase desconhe- Notícias”, 3 maio 2021). meios humanos, financeiros e técnicos que tal acar-
cida) ER 2. Na Educação, é a própria ANMP a denunciar, num reta, acrescidos dos necessários em outras áreas, como
No caso das transferências do poder central para inquérito que fez, que “… as Câmaras Municipais estão a limpeza urbana ou a manutenção das ruas e estradas
os municípios, o mínimo que se pode dizer é que tem a gastar em Educação o dobro das verbas que o Estado municipais.
sido um processo atribulado, não isento de críticas por dá (…) As autarquias acusam o governo de calcular em Sem as devidas contrapartidas financeiras, o que
parte de muitos autarcas, que veem em algumas des- baixa o valor a atribuir. Em 2020, mais de 180 municí- espera os autarcas que vão ser eleitos em 26 de setem-
sas transferências não um reforço da intervenção do pios gastaram com Educação 160 milhões de euros a bro não é nada animador, já que a partir de 2022 irão
poder local, mas sim o descartar de serviços e pessoas mais do que os cerca de 100 milhões que receberam do receber um pacote de novas competências, nas áreas
dos vários ministérios para as autarquias, numa pri- Estado (…) a associação acusa o governo de estar a fa- atrás indicadas e em outras que, mais do que um si-
meira fase com a aprovação destas, a partir de 2022, zer as contas por baixo nos últimos anos e de não cum- nal da importância reconhecida ao poder local e aos
por imposição. prir os mínimos” (TSF, 5 maio 2021). seus atores (funcionários incluídos), mais não é do que
Entre as várias áreas, destacam-se, sem dúvida, as Depois, há ainda algumas particularidades que um presente envenenado que o poder central lhes atri-
transferências na Educação, na Saúde e na Ação Social. muitas vezes não são tidas em conta e que não se refle- bui, em nome de uma descentralização apregoada, mas
Se no caso da primeira em 2021 já havia 123 municí- tem nas verbas a atribuir às autarquias. Vejamos o caso pouco executada.
pios que aceitaram as novas competências, na segunda de Beja, por exemplo. Fruto de circunstâncias várias Uma nota final, ainda em relação a Beja. Não deixa
foram apenas 20 (um dos quais o de Portel), segundo que não interessa aqui e agora abordar, a rede de equi- de ser estranho (no mínimo) que a área em que a autar-
dados da Direção Geral das Autarquias Locais (DGAL). pamentos desportivos na cidade é quase toda ela mu- quia recebeu mais competências em 2021 – a Educação
No caso da Ação Social, cujo processo está mais atra- nicipal (situação que vem até de antes do 25 de Abril), – seja a única que não tenha, até ao momento, dirigente
sado, só em 2022 é que essa transferência se verificará. com todos os custos de funcionamento a isso inerentes. intermédio nomeado, ao contrário de todas as outras
Apenas como indicação refiram-se algumas das com- Em outros municípios (Évora, por exemplo), sucede o em que decorreram concursos na mesma altura. Numa
petências que passarão para as autarquias nas duas úl- contrário: a grande maioria dos equipamentos – está- área tão complexa, não se compreende que tal não te-
timas áreas: “… o acompanhamento dos beneficiários dios, pavilhões, piscina coberta – pertence aos clubes, nha ainda acontecido.
23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 15

D.R.
Expiação e catarse:
há desastres da guerra
que não se apagam

R
MÁRIO BEJA SANTOS JURISTA

ui de Azevedo Teixeira operação feita, tornava-se, cada vez Envelhecer


nas comunidades
foi oficial de comando em mais, melhor operacional e, cada vez
Angola, doutorou-se em menos, crente na guerra que fazia. A
Língua Portuguesa e pos- violência já era benfeita, desinteres-

portuguesas
sui bibliografia ligada à sada e só a estritamente necessária.
investigação sobre a li- E ocorria-lhe cada vez mais a ima-
teratura da guerra colo- gem do digno homem preto que, enco-
nial, ficção e ensaio. O seu “O Elogio lhido, desceu do passeio, em Luanda,

D
da Dureza” (Gradiva, 2021) conta- para ele poder passar à larga”. DANIEL BASTOS PROFESSOR
-nos a história de Paulo de Trava Lobo Voltamos ao processo revolucioná-
Ferreira, alguém com sérios proble- rio, Paulo voltou aos estudos, foi ga- entro dos desafios e proble- emigrantes portugueses em França, des-
mas de identidade familiar, dado nhando a pulso os seus títulos uni- máticas que as sociedades tino europeu mais antigo. Essa percenta-
desde a juventude à leitura, que passou versitários, mas neste formato de enfrentam na atualidade, o gem duplicou, passando de 8 para 16 por
meteoricamente pela Universidade de montanha-russa voltamos a Angola, envelhecimento populacio- cento””.
Coimbra, onde se aborreceu de morte Paulo agora anda no Mayombe, fala- nal assume uma cada vez É neste contexto de populações na-
e ofereceu-se como voluntário para a -nos nos estouros metálicos dos tro- maior premência, dadas as cionais emigradas mais envelhecidas,
tropa, seguindo para o curso de ofi- vões, na espessa massa vegetal, de suas implicações coletivas que ganha especial relevância a iniciativa
ciais milicianos. cheiro intenso e meio adocicado, nos e multidimensionais, como é o caso do que está a ser por estes dias dinamizada
Como tinha poucos recursos, ficava temíveis campos de minas, estamos mercado laboral, da proteção social, das no seio da comunidade portuguesa em
por lá aos fins de semana. A palavra há vários dias na Operação Pantufada. estruturas familiares ou dos laços inter- Toronto, onde vive a maioria dos mais de
“comando” galvanizou-o. Entretanto “Cinco metros à frente de Paulo, a mi- geracionais. 500 mil compatriotas e lusodescendentes
começou a escrever um diário a que nha rebentou levando com ela as per- Como apontam as Nações Unidas, o presentes no Canadá. Designadamente,
apodou de diário incerto, com muitos nas do furriel Tavares. O sangue es- número de idosos, com 60 anos ou mais, o projeto de construção, a breve prazo,
comentários literários e apreciações guichava das femorais. Tinha lido deve duplicar até 2050 e mais do que tri- de um centro, orçado em vários milhões
do meio regional de onde provinha. algures que o coração bombeia com plicar até 2100, passando de 962 mi- de dólares, capaz de acolher mais de 200
Nisto, damos um salto, Paulo já vol- tanta força que pode atirar o sangue lhões em 2017 para 2,1 mil milhões em idosos, especialmente direcionado para a
tou da guerra em Angola, regressou com dez metros de distância (…) A 2050 e 3,1 mil milhões em 2100. Se o en- comunidade portuguesa.
a Vila Velha do Mar. “A guerra, como consciência do furriel Tavares dissol- velhecimento populacional é um fenó- Este projeto, há muito ambicionado
uma forma de iniciação, tinha-o me- via-se. Em menos de meia hora, fi- meno mundial, na Europa assume maio- pelos emigrantes lusos na maior ci-
tamorfoseado. Dera-lhe dureza, um cou enrugado como um velho. O olhar res proporções, até porque, hoje em dia, dade canadiana, está a ser dinamizado
código de silêncio e um sentimento de apagou-se. Morreu docemente, nem o velho continente tem a maior percenta- pela Magellen Community Charities
superioridade em relação aos não ini- sequer teve um estremeção final”. gem da população com 60 anos ou mais (Instituição de Caridade Comunitária
ciados”. Refugia-se no diário incerto, Apanhou-se muito armamento nesta (25 por cento). Magalhães). Trata-se de uma organiza-
anda à deriva, não tinha verdadeira- operação. Enquanto eles progrediam No quadro do inverno demográfico ção sem fins lucrativos, em homenagem
mente regressado. no Mayombe, o Estado Novo caíra em mundial e europeu, a sociedade portu- ao navegador português, que através da
(…) E saltamos para a operação 25 de Abril. guesa é uma das mais afetadas, apon- colaboração do poder politico e da soli-
“Empurra Tudo”, temos escalpes, fa- Já bacharel, visita em Vila Figueira tando mesmo o Instituto Nacional de dariedade da comunidade luso-cana-
cas na barriga a girar como o corno de Luís Pereira de Sá e Souza, descen- Estatística (INE) que quase metade da diana, pretende construir um lar cultu-
um touro numa colhida, gente dego- dente da mais antiga nobreza de es- população portuguesa terá mais de 65 ralmente específico que terá que cumprir
lada, um pequeno massacre. Paulo ex- pada, Paulo prepara-se para voos mais anos dentro de meio século. Este cená- as seguintes condições: profissionais de
tasia-se com a natureza esplendente, altos enquanto ensina; e novo voo me- rio de envelhecimento da população saúde que falem português; atividades
sente-a como o princípio do mundo, morial até Angola, onde se entrou que reside no território nacional tam- culturais e espiritualmente desenvolvi-
mais guerra, mais tiros, Paulo aca- na guerra civil. Deu aulas na ilha da bém é visível no seio das comunida- das em ambiente cultural sensível; pro-
salou com a Luxa e com a empregada Madeira, aqui se vai apaixonar. Volta des lusas, em particular nos países com moção de programas sociais e recrea-
desta. Saberemos muito mais sobre a casa dos pais, sentiu motivos de so- maior e mais antiga tradição de emigra- tivos em português e alimentação, que
a vida operacional que leva na Zona bra para nunca mais voltar a falar de- ção portuguesa. deve incluir pratos tradicionais.
Militar Leste. Há interrogatórios vio- les. E há uma bala furada, acompanha Segundo o estudo sociológico “A emi- Numa época de galopante envelheci-
lentíssimos, mais orelhas cortadas, Paulo como uma graça do destino. gração portuguesa no século XXI”, a mento da população, e em que os efeitos
sucedem-se as operações e as notas ín- Talvez este elogio da dureza seja uma percentagem dos idosos entre os emi- da pandemia de covid-19 têm acarretado
timas no diário incerto, pois certezas catarse depois de tantos horrores da grantes lusos aumentou, por exemplo, graves consequências socioeconómicas,
já há muito poucas, crescem as dúvi- guerra ter encontrado o fundo da sua no Canadá “11 pontos percentuais, pas- a construção de uma “casa” para os mais
das do que por ali anda a fazer: inutilidade. sando de 17 para 28 por cento, entre 2001 velhos da comunidade luso-canadiana
“Na noite de despedida daquelas Um testemunho símbolo para as e 2011, e nos EUA aumentou sete pon- demonstra que o espírito de solidarie-
terras do calor e dos pretos, Paulo sen- novas gerações, para saberem o que tos percentuais, de 16 para 23 por cento. dade e entreajuda ainda é uma das prin-
tiu como nunca o Império a começar viveu a de Paulo e todos os outros que Crescimento elevado da percentagem cipais marcas da diáspora, em particular,
a desfazer-se e a morrer dentro de si. experimentaram o mal e foram tenta- dos idosos é ainda observável entre os da comunidade portuguesa em Toronto.
A ironia partia-o por dentro – a cada dos por instintos sanguinários.

Estatuto editorial do “Diário do Alentejo” 2.  O “Diário do Alentejo” é um jornal semanário independente através de um trabalho eficaz, criativo e interativo, com o objetivo 5.  O “Diário do Alentejo” considera que os factos e as opiniões
cuja linha editorial é submetida a critérios de total rigor e de bem informar e esclarecer um público plural. devem ser separadas com evidência: os primeiros são intocáveis
1.  O “Diário do Alentejo” é um jornal semanário regionalista, de seriedade, recusando quaisquer influências ideológicas ou dos 4.  O “Diário do Alentejo” não estabelece quaisquer hierarquias e as segundas são livres.
informação geral, que pretende através do texto e da imagem dar poderes político, económico e religioso. para as notícias e pretende contribuir para o debate e a reflexão 6.  O “Diário do Alentejo” determina como únicos limites para
cobertura aos acontecimentos mais relevantes da região, e que sem se 3.  O “Diário do Alentejo” produz um jornalismo transparente, sobre as grandes questões da região e do País, pelo que cria a sua intervenção aqueles que são determinados pela lei, pela
remeter a posições de neutralidade proporciona espaço ao pluralismo abrangendo os mais variados campos da sociedade portuguesa espaços apropriados para expressão de opiniões e não estabelece deontologia jornalística e ética profissional e por tudo aquilo que
político e de ideias, e aos valores da democracia e da liberdade. em geral e da alentejana em particular, com exigência e qualidade, barreiras a qualquer corrente de comunicação. diga respeito à vida privada de todos os cidadãos.
DESPORTO
16 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

A marchadora Ana FPA

Cabecinha (de Baleizão)


e os cavaleiros João
Miguel Torrão (Serpa),
Rodrigo Torres e Maria
Caetano (Monforte)
serão os “porta-
estandartes” do Alentejo
nos Jogos Olímpicos
de Tóquio, que se
deveriam ter realizado
em 2020 mas que só
começam esta sexta-
feira, dia 23, devido à
pandemia de covid-19.
Ana Cabecinha, que vai
disputar a prova de 20
quilómetros marcha,
diz estar nos Jogos
com “muita ambição,
determinação, garra e,
acima de tudo, muita Ana Cabecinha (marcha) e João Miguel Torrão (equitação)
vontade de competir”. preparados para disputar as olimpíadas de Tóquio.
João Miguel Torrão Perfil dos dois atletas nascidos no Baixo Alentejo

olímpicos
irá disputar a prova de
ensino. “Pertencer à
equipa portuguesa que já
arrecadou três medalhas
de bronze na equitação
é um feito extraordinário
e um grande orgulho”,
assegura. TEXTO FIRMINO PAIXÃO

“O importante é competir”,
uma expressão inspira-
dora, atribuída a Pierre
de Coubertin, considerado o impul-
sionador dos Jogos Olímpicos da “era
Foi também o barão de Coubertin
o inspirador deste símbolo, a que se
atribui a união dos continentes através
do desporto, e a representação dos va-
lores humanitários e universalistas. Os
20 participantes (sete masculinos
e 13 femininos), seguida do ande-
bol, modalidade que faz a sua estreia
a este nível, com 14 atletas e da nata-
ção (com nove). O ‘skateboarding’,
em que os atletas olímpicos lhe apre-
sentaram cumprimentos, estão qua-
tro embaixadores do Alentejo. Desde
logo, Ana Cabecinha, nascida em
Baleizão há 37 anos, que vai competir
morte do meu pai. Recuperar de tudo
isto não foi um processo fácil nem nor-
mal, mas consegui retomar alguma
forma e, por isso, irei dar o meu me-
lhor, aliás, como sempre, e sair de lá
moderna” e fundador do Comité jogos, como se sabe, deveriam ter sido o ‘taekwondo’ e o tiro com armas de naqueles que são os seus quartos Jogos com melhor resultado”.
Olímpico Internacional, enquanto realizados no verão de 2020, mas a gra- caça terão representação única. Olímpicos, para os quais se qualificou Na sua bagagem, garante levará
elo de união entre os povos e da ce- vidade da crise pandémica determi- “Vós sois dos melhores dos nossos em dezembro de 2020 no Campeonato “muita ambição, determinação, garra
lebração da paz. A primeira edição nou o seu adiamento para este ano – a embaixadores”, afirmou o Presidente Nacional de Marcha, realizado na ci- e, acima de tudo, muita vontade de
dos Jogos Olímpicos, da dita “era mo- cerimónia de encerramento está mar- da República, Marcelo Rebelo de dade de Olhão, sede de concelho do competir”. A preparação para este
derna”, foi realizada em Atenas, em cada para 9 de agosto de 2021, embora Sousa, no momento em que se despe- clube que representa (Clube Oriental desafio não foi fácil. “Obrigou-me a
abril de 1896. A cerimónia oficial de algumas modalidades tenham já ini- diu dos desportistas que integram a de Pechão). Competirá nos 20 quiló- muitas mudanças, por ter sido in-
abertura dos de 2020, por causa da ciado a sua atividade na última quarta- missão olímpica aos Jogos de Tóquio. metros em marcha atlética, disciplina fetada com a covid-19. A recupera-
pandemia de covid-19, acontecerá -feira (beisebol e futebol). Uma mensagem em que a tónica foi a em que é várias vezes campeã e recor- ção do vírus foi fora do normal; de-
apenas esta sexta-feira, momento em A missão olímpica portuguesa in- afirmação da esperança no futuro, em dista nacional. A atleta referiu, em ex- pois, em abril, a morte do meu pai
que a tocha da pira olímpica será mais tegra um total de 92 atletas, de 17 di- contraponto com as dificuldades do clusivo ao “Diário do Alentejo”, quais fez-me, de novo, mudar o programa
intensa e as bandeiras com os cinco ferentes modalidades, que compe- presente, e em que não deixou de agra- as suas expetactivas: “Este ano não são de treinos, mas nestes últimos me-
anéis entrelaçados (azul, preto, ver- tirão em 67 eventos de medalhas, e decer “o que farão por Portugal”. tão elevadas como nos Jogos do Rio ses já consegui pôr a cabeça no lugar,
melho, amarelo e verde) terão maior em 20 locais diferentes. O atletismo Nesta missão, pegando na deixa de Janeiro, pois tive um ano diferente, sair de casa e de Portugal, e focar-me
significado e simbolismo. é a delegação mais numerosa, com do Presidente da República, na sessão marcado pelo novo coronavírus e pela a 100 por cento. Prepararei esta parte
23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 17

UVP/FPC
final entre Madrid (Navacerrada), a marcha: Pequim/2008 (8.º lugar), que a sua treinadora Coralie Baldrey,
1880 metros de altitude, e depois, em Londres/2012 (8.º lugar) e Rio de com quem trabalha em Arraiolos, tem
França (Font Romeu) a 1800 metros, Janeiro/2016 (6.º lugar). A prova em sido a chave do seu sucesso. “Estar nos
e já estou fora de casa há dois meses, que a Ana Cabecinha competirá rea- Jogos Olímpicos já é um objetivo con-
em estágios, para preparar-me mais liza-se no próximo dia 6 de agosto, pe- cretizado. É claro que vou lá tentar dar
afincadamente e adaptar-me ao calor las 8:30 horas. o meu melhor e fazer a melhor prova
e humidade que iremos apanhar em possível. Como equipa, era ótimo ir-
Tóquio/Sapporo”. PROVAS DE EQUITAÇÃO Os outros “embai- mos à final, e também tentar ir à final
Os objetivos são claros, e Ana xadores” alentejanos são os cavaleiros como individual, isso era um sonho”,
Cabecinha revela-os: “Depois de três que constituem a equipa equestre que assumiu o cavaleiro em declarações à
edições de Jogos, com diplomas olím- se vai estrear na competição de ‘dres- Lusa, garantindo sentir “um grande
picos, tenho na minha cabeça, e foi sage’ (ensino), modalidade em que orgulho e uma grande adrenalina,
para isso que treinei, lutar por mais Portugal é uma das grandes potên- apesar de um pouco de nervosismo”,
um diploma olímpico. Se conseguir fi- cias europeias. A equipa portuguesa, e frisando que “a equipa está prepa-
car nos oito primeiros, ou melhorar o que se qualificou na sequência do oi- rada, tal como o cavalo Equador”, com
sexto lugar do Rio de Janeiro, seria ex- tavo lugar conseguido no Campeonato o qual já trabalha há oito anos.
celente, mas, para já, não quero criar da Europa que, em agosto de 2018, se Segundo o cavaleiro serpense,
expetactivas, quero lutar e voltar a sair realizou em Roterdão (Países Baixos), “pertencer à equipa portuguesa
feliz de um grande campeonato”.
As dificuldades, porém, estão iden-
é formada por João Miguel Torrão, jo-
vem de 28 anos, natural de Serpa, e
de ensino em Jogos Olímpicos,
numa modalidade que já arrecadou Luís Costa
também pedala
tificadas. Para além das adversárias pelos monfortenses Rodrigo Moura três medalhas de bronze, nas edi-
que, certamente lhe darão muita luta, Torres e Maria Moura Caetano. ções de Paris/1924, Berlim/1936 e
a atleta do Clube Oriental de Pechão, João Torrão nasceu em maio de Londres/1948 é um feito extraordiná-

para Tóquio
treinada por Paulo Murta, sabe que, 1993, em Serpa, como já aqui referido rio e um grande orgulho”.
“para além da alimentação”, no seu e, aos 28 anos consegue a sua primeira Além de João Torrão, integram
caso, “as principais adversidades serão participação nos Jogos Olímpicos, in- a equipa lusa os cavaleiros Rodrigo
o calor e a humidade, apesar de terem tegrado da equipa nacional que irá de- de Moura Torres e Maria de Moura
mudado as provas de marcha e mara-
tona para Sapporo, por ter um clima
mais fresco do que Tóquio. Apesar do
que temos treinado na câmara de ca-
lor e humidade, será na mesma uma
fender o prestígio do nosso País nesta
modalidade. O Alentejo, o campo e os
cavalos foram sempre a paixão deste
promissor cavaleiro que fez o ensino
secundário em Serpa e depois se li-
Caetano, um trio que em agosto de
2018 se classificou no oitavo lugar do
Campeonato da Europa de Dressage,
realizado em Roterdão (Países Baixos)
e que preencheu a quota atribuída a
O Comité Paralímpico de Portugal também já
apresentou a missão portuguesa paralímpica
a Tóquio 2020, que será constituída por 32
atletas entre os quis se inclui o paraciclista alentejano
Luís Costa, nascido na região do Campo Branco, que
prova dura e, se não tiver o devido cui- cenciou em equinocultura na Escola Portugal. Rodrigo de Moura Torres irá disputar o contrarrelógio e a prova em linha, na
dado na parte inicial da prova, a fatura, Superior Agrária de Elvas. Foi criado nasceu em Monforte há 44 anos, é em- classe H5. O atleta, com estatuto de alta competição,
no final, será enorme. Competir com no campo e tinha, apenas, 10 anos presário agrícola e cavaleiro, monta inspetor da Polícia Judiciária, na cidade de Portimão,
cabeça será uma vantagem”. quando o pai lhe ofereceu um cavalo. habitualmente o Fogoso. Tem no seu compete numa ‘handbike’, pedala com os braços e
Seja qual for o resultado, no re- Não admira, portanto, o seu percurso palmarés várias participações nos participa pela segunda vez nos Jogos Olímpicos de-
gresso ao nosso País a atleta do Baixo académico na área dos equinos. E ra- concursos internacionais em Alter do pois de se ter estreado em 2016, no Rio de Janeiro.
Alentejo iniciará mais uma olim- pidamente aprendeu que a ‘dressage’ Chão, Abrantes e Lisboa, na Taça das Para os Paralímpicos de Tóquio, que vão decorrer en-
píada (ciclo de preparação entre jo- exige “uma harmonia perfeita entre o Nações (Hisckstead/Inglaterra), e no tre 23 de agosto e 5 de setembro, tem boas expetati-
gos) porque, admite, tem no hori- cavaleiro e o cavalo, entre dois seres vi- Campeonato da Europa de Roterdão, vas, admitindo que “o nível está muito alto, a com-
zonte “fazer mais uns Jogos e estar vos”, reconhecendo que se não tivesse onde a equipa se qualificou para esta petitividade na minha classe aumentou muito nos
em Paris em 2024”, mas primeiro um bom cavalo, “se calhar não teria os estreia absoluta, dos três conjun- últimos anos e em Tóquio vão estar os melhores do
quer cumprir a prova que agora está bons resultados que tenho”. tos, nos Jogos Olímpicos. Maria de mundo, mas sinto-me bem e sei que posso alcançar
no horizonte. “Tudo dependerá de fa- A sua montada é Equador e foi com Moura Caetano, também natural um bom resultado”. Luís Costa acrescenta: “A mi-
zer uma paragem, depois de Tóquio, ele que, em conversa com o “Diário do de Monforte, vila onde nasceu há 34 nha preparação para estes Jogos sofreu alguns per-
para engravidar, e só depois veremos Alentejo”, revelou que o seu sonho é ser anos, é cavaleira profissional, na espe- calços. Fiquei quase um mês confinado devido ao ví-
se regresso em condições de competir sempre o melhor profissional possível, cialidade de ‘dressage’. No seu currí- rus da covid-19 e o mês passado fraturei duas costelas
em 2024”, concluiu. admitindo que representar Portugal culo constam vários títulos nacionais no Campeonato Nacional de Fundo. Mas nunca deixei
No seu palmarés estão as partici- nos Jogos Olímpicos seja “o auge” da na categoria de seniores, várias partici- de treinar. Cerrei os dentes e aguentei as dores, mas
pações nos em três edições de Jogos sua carreira. pações em jogos equestres mundiais e atrasou a preparação, logicamente. Neste momento
Olímpicos, sempre nos 20 quilómetros Mas o jovem cavaleiro reconhece campeonatos da Europa. já estou a realizar um treino em altitude na Serra de
Guadarrama, em Espanha, e voltarei a Portugal só de
REVISTA “EQUITAÇÃO”

passagem, para embarcar para Tóquio”.


O atleta sente-se recompensado pelo esforço: “Foi
muito trabalho e muito suor derramado. Mas quando
se alcança um objetivo tão importante, compensa
sempre”. Apesar de já possuir algumas conquistas,
o paraciclista diz que gostaria de juntar ao seu pal-
marés “algo muito especial, uma medalha nos Jogos”.
Mas sublinha: “Sou realista, não sou um dos favori-
tos ao pódio, mas em 2017 também não era e ganhei a
medalha de bronze no Campeonato do Mundo. Quem
sabe se não volto a contrariar as estatísticas”.
Queixa-se das elevadas temperaturas e humidade que
os atletas vão encontrar, mas admite que depois destes
Jogos de Tóquio gostaria de “ter condições financeiras
para estar presente nos Jogos de Paris, em 2024”. Não será
fácil: “Terei que pensar seriamente no assunto, pois, neste
momento, não tenho clube e não sei se aguento fazer mais
três anos sem apoios mais fortes. Embora tenha algumas
ajudas, ainda há quem pense que ser atleta de alto rendi-
mento custa meia dúzia de euros por mês e não têm noção
do quanto é necessário gastar”.
18 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

Q
O ciclista cubense João Letras, corredor da Asfic, conquistou o título de campeão
nacional de fundo, em elites amadoras. Os Campeonatos Nacionais de Estrada de
2021 disputaram-se, no passado fim de semana, em A-do-Barbas, Maceira (Leiria),
com organização do clube local e da Federação Portuguesa de Ciclismo. João Letras
já tinha conquistado idêntico título na época de 2019.

“O meu sonho de infância era ser agricultor, e acabei por entrar no atletismo pela ‘porta
do cavalo’, porque é uma atividade muito difícil em Inglaterra, para qualquer pessoa que
não tenha terras. Então, tive muita sorte em ter chegado aqui e ter encontrado um terreno
abandonado, permitindo-me montar um negócio que, felizmente, foi um grande sucesso”.

“A ll’s well that ends well” ou


“tudo está bem quando
termina bem” é o nome
de uma peça de teatro escrita por
William Shakespeare, o poeta, dra-
escalão dos atletas na camisola, tal e
qual como o dorsal. Estou sempre a
dizer isso às pessoas daqui. Quando
vou a Inglaterra fazer provas, mesmo
com os veteranos, qualquer atleta
Por isso mesmo, aos 60 anos, con-
tinua a treinar intensamente. “Treino
todos os dias e faço-o com muito
gosto, logo pelas seis da manhã corro
10 quilómetros e volto a treinar à
maturgo e ator inglês nascido em tem, na parte posterior da camisola, noite. Quando temos este ‘bichinho’
Warwickshire, terra natal tam- a identificação do escalão, e isso faz cá dentro, se não treinarmos não nos
bém do seu contemporâneo, em- uma grande diferença para quem sentimos bem, a atividade física é es-
presário e atleta, Peter Knight, de está a correr, porque ajuda a perce- sencial para o corpo e muito impor-
60 anos, licenciado em Biologia, ber quais são realmente os nossos ad- tante para a mente. É isso que me faz
Agronomia e Economia. Vamos co- versários e a posição em que estamos correr e gostar muito de participar em
nhecê-lo melhor: nasceu, em 1961, na corrida. Não sei porque é que aqui competições, porque a vertente social
no centro de Inglaterra, na zona não adotam essa prática”. também é muito importante”.
de Stratford-Upon-Avon, no con- Contudo, em Inglaterra, como Sempre bem disposto, e com uma
dado de Warwickshire, a terra do no Alentejo, a modalidade atravessa sonora gargalhada, adianta: “Tenho
Shakespeare. Em 1983, com 22 anos, tempos difíceis. “As pessoas não que- alguns títulos, sim, mas isso conta
veio para Portugal, mais concreta- rem treinar, os jovens com 14 ou 15 pouco, quero é participar e, de vez
mente para o concelho de Odemira, anos, a idade em que realmente co- em quando, ainda vou aos campeo-
“ensaiar” a cultura de alfaces. meçam a fazer a diferença, não trei- natos da Grã-Bretanha. Ganho sem-
“Quando cheguei a Portugal, de- nam, e um bom, ou uma boa, atleta é pre o bronze, e aqui é a mesma coisa”.
pois de ter acabado a licenciatura aquele que aceita treinar com intensi- Pudera, com estes calores na planí-
em Biologia e ter fundado a Iberian dade e com uma boa frequência diá- cie, quem é que não fica bronzeado?
Salads, comecei a fazer ensaios de ria. Mas os jovens, hoje em dia, não Já enraizado na região e com dupla
cultura de alfaces. Conhecia uma ca- estão para isso, porque existem mui- nacionalidade, o atleta do Núcleo
deia de supermercados (a Marks & tas alternativas e muitos ecrãs, e de- Desportivo e Cultural de Odemira
Spencer) que não estava muito fe- pois, infelizmente, perdem-se alguns não esconde as suas convicções: “O
liz com o seu fornecedor de alfaces valores nesta modalidade”. Núcleo é um grande clube, mas te-
de inverno, instalado em Espanha. Entretanto, corria o ano de 1992, mos falta de atletas, os jovens não
Tive sorte, eles escolheram os produ- Peter Knight montou uma nova em- vêm da escola com aquele incen-
tos deste clima, que é único na costa presa, no litoral alentejano, que pro- tivo de gostarem de treinar”. E deixa
alentejana. Como certamente viu, tem duzia relva; e que vendeu em 2018. a receita: “Precisamos de dinamizar
existido agora toda esta polémica das “Com a empresa Camposol, colocá- mais as competições para os miúdos,
estufas, porque é um território com mos relvados em todos os principais com uma boa interação entre a es-
um clima fantástico e com uma tem- estádios europeus, os do Real Madrid, cola e os clubes. As provas locais são
peratura amena, sem calor exces- do Barcelona, e outros… foi um bom muito importantes, porque estão lá
sivo no verão, nem frio extremo no negócio. Como disse, vendi aquilo as famílias a apoiar as crianças. Mas
inverno… é realmente um paraíso, em 2018 e agora estou a montar uma esperamos voltar aos bons velhos
o problema, daqui para a frente, vai companhia de cenouras, cuja fábrica tempos”.
ser a água. Vim por um ano e ainda fica sedeada em Almeirim, por causa Voltar ao que era antes, quando
cá estou, principalmente por ter des- da logística, mas a produção será no não existia pandemia? A pande-
coberto esta região do Baixo Alentejo litoral alentejano e será vendida por mia, como Peter Knight observou,
que é um paraíso; ainda é um paraíso toda a Europa. Vamos ver se teremos na área desportiva, “foi difícil, por-
para viver. Até já criei aqui família e te- Pereira, onde estavam ainda o Carlos a montar a empresa em Boavista dos sucesso”. que não existiam provas e é muito di-
nho quatro filhos”. Lopes e o Fernando Mamede, o Pinheiros, e fiquei com menos tempo Peter Knight não sabe se as doutri- fícil qualquer atleta de alto nível con-
No seu país sempre fez cor- Ezequiel Canário e muitos outros”. para treinar”. nas económicas o ajudam a ser atleta e tinuar a treinar no mesmo ritmo sem
rida, principalmente corta mato e, Estamos, portanto, perante um Já veterano, mas ainda habitual a fazer melhor gestão dos recursos físi- ter competições. Já na área da agri-
uma vez em Portugal, entrou para atleta de eleição? “Sabe, no Sporting, concorrente (com títulos conquis- cos, mas, com alguma graça, avança: cultura, acho que foi a melhor coisa,
o Núcleo Desportivo e Cultural nessa época, qualquer atleta que fosse tados) dos campeonatos regionais, “Isso deve estar mais ligado à música, porque as pessoas ganharam a cons-
e Odemira “para correr as pro- bom, ou mau, era sempre da equipa Peter Knight deixa uma sugestão aos porque para sermos um bom corre- ciência de que as coisas boas estão na
vas populares”, tendo disputado no bê. Mas, sim, ganhámos vários títu- organizadores de provas: “Uma coisa dor, de meio fundo e fundo, temos que sua própria terra, não vêm da China,
Sporting Clube de Portugal as pro- los, vencemos um Campeonato da muito boa que se faz em Inglaterra, fazer uma boa gestão das energias, nem de outros lados”. E a concluir:
vas federadas, “numa equipa de so- Europa com os gémeos Castro, e eu em termos de organização de pro- sendo que o mais importante é encon- “Deixem-me dizer-lhes, o povo alen-
nho treinado pelo professor Moniz estava em forma… depois, comecei vas, é que temos a identificação do trar um bom ritmo”. tejano é excelente”.

empreendedor
Peter Knight

TEXTO E FOTO FIRMINO PAIXÃO


23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 19

Q
O Núcleo de Árbitros Armando Nascimento, de Beja, em parceria com o
Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Beja, abriu inscrições
para a realização de um curso de candidatos a árbitros de futebol. Os
promotores procuram pessoas com idades compreendidas entre os 14 e os
38 anos e desejam a maior abrangência possível no distrito de Beja.

Ferróbico vai regressar, na próxima época, ao futebol sénior distrital

SEJA BEM-VINDO...
Se existem clubes que têm lugar
reservado na história do futebol
alentejano, o Ferróbico é um de-
les. Pelo seu prestígio, pela sua
mística, pelas suas conquistas e
pelas estórias que soube asso-
ciar ao seu historial.

TEXTO E FOTO FIRMINO PAIXÃO

O C lube Rec re at ivo e


Desportivo de Cabeça
Gorda foi fundado, ape-
nas, em 1976, mas não há quem,
em tão curta existência e tendo tão
pouco, tenha conquistado tanto
protagonismo. As estórias são
muitas, mas sobressai o tal golo
de Pepe que, naquela tarde de ja-
neiro de 1981, eliminou o Penafiel
(de António Oliveira e Zandinga)
da Taça de Portugal. Os tem-
pos são outros, as gerações ro-
dam e os clubes rejuvenescem.
Sérgio Jacinto, atual presidente do
Ferróbico, é filho do primeiro pre-
sidente do clube, o histórico di-
rigente Manuel do Sacramento
Jacinto. Há três anos, a saída pre-
matura do treinador José Luís
Prazeres e a debandada de joga-
dores que o acompanharam para que entusiasma os adeptos e os or- movermos qualquer tipo de sangria
Serpa levaram os dirigentes do gulha por pertencerem a este clube. O que lhe foi pedido em termos nos seus plantéis.
Cabeça Gorda a fecharem as por- Como o clube é muito conhecido, as desportivos?
tas ao futebol sénior, mantendo-se pessoas interessam-se muito. Tudo indica que o campeonato será A aposta na formação vai manter-se?
apenas na formação. O regresso, muito competitivo. Muitas equi- Sim, já fizemos uma ação de cap-
tão desejado por sócios e simpa- É o futebol sénior que leva os adeptos pas estão a reforçar-se bem e até tação e faremos ainda mais duas
tizantes, acontece já na próxima ao campo de jogos José Agostinho de com outro poder financeiro. Nós até final do mês, para perceber-
época desportiva. “Sejam bem- O que pedimos foi que a Matos… não queremos enveredar por esse mos com o que poderemos con-
-vindos”. Sérgio Jacinto justifica equipa fosse competitiva O nosso intuito em manter o futebol caminho e o que pedimos foi que a tar, porque nós trabalhamos sobre-
aqui o que motivou esta decisão. sénior e apostar nos jogadores da equipa fosse competitiva e que en- tudo com miúdos da Cabeça Gorda
e que entrasse em todos
terra tem muito a ver, também, com trasse em todos os jogos para ven- e da nossa vizinha Salvada, ou de
A novidade é o regresso do Ferróbico os jogos para vencer. O aquele ambiente familiar que se vi- cer. O clube tem um nome e um pas- Quintos. Temos que perceber por
ao futebol sénior na próxima época. E clube tem um nome e um via ali no campo de futebol e que foi sado a defender, e o nosso objetivo é onde poderemos avançar, mas que-
esta é a altura ideal para o fazerem? ganhando força através dos tempos. atingir a segunda fase do campeo- ríamos, pelo menos, fazer equipas
passado a defender”.
Sim, nós suspendemos a atividade Estava ali a família do Ferróbico, nato e chegar o mais longe possível em dois escalões.
há três ou quatro anos, por termos que também dava muita dinâmica à na Taça de Honra e na Taça Distrito.
entendido que não tínhamos con- freguesia, e isso é muito importante A população da Cabeça Gorda está a
dições para continuarmos com o fu- do ponto de vista social. E o plantel? Quase todos os dias têm reagir bem a esta atual dinâmica do
tebol sénior. Agora percebemos que apresentado jogadores. São todos re- clube?
existem condições para retomar- A equipa técnica será formada pelo forços porque a equipa será nova… Sim, reagiram maioritariamente
mos a atividade. O clube tem um Luís Lebre e pelo Francisco George, Formar um plantel para a II Divisão bem, somos uma freguesia pequena,
peso importante na freguesia e na dois homens que conhecem os can- é sempre diferente do que fazê- temos cerca de 1500 habitantes, mas
região. Mantivemos o futebol de for- tos da casa… -lo para a I Divisão. O nosso intuito existe um grande interesse e cari-
mação e já temos dois ou três miú- No ano em que suspendemos o fu- foi convidar todos os jogadores da nho pelo associativismo e a ativi-
dos capazes de jogar pelos seniores. tebol sénior, e antes de essa decisão terra e os que tinha passado por cá dade desportiva faz parte da rotina
Entretanto, conseguimos resolver ser tomada, tínhamos convidado noutras épocas… e partirmos daí. das pessoas. Os treinos, os jogos, os
alguns problemas que existiam em o Luís Lebre para comandar uma Muitos jogadores da terra, que es- convívios na sede, têm uma função
termos da sede, e decidimos que es- possível equipa, projeto que depois tavam dispersos por alguns clubes, social importante e as pessoas fica-
tava na altura de avançar de novo não se concretizou. Por isso, agora, incentivaram-nos a avançarmos ram felizes com este regresso do fu-
com o futebol sénior. Surgiu a pan- entendemos que ele deveria ser a com a equipa, prometendo que re- tebol sénior. Temos também a sec-
demia que obrigou ao encerramento zia pouco sentido? primeira pessoa a ser convidada. Ele gressariam ao clube. Portanto, que- ção de BTT, que tem uma dinâmica
de algumas coletividades mas, se Claro. As pessoas da nossa fregue- aceitou e ficou feliz com o convite. O remos ter o maior número de atletas própria e promove iniciativas de que
calhar, ao reequilíbrio de muitas sia, quer sejam os residentes, e até Francisco George também foi nosso aqui da terra, isso faz todo o sen- as pessoas também gostam muito,
outras, porque, pelos vistos, além os ausentes no estrangeiro e noutras atleta, foi capitão de equipa, achá- tido. Depois, “atacámos” alguns que mas a pandemia não lhes tem per-
de nós, regressarão muitos outros partes do País, estavam sempre a mos que seria a pessoa ideal para já foram nossos jogadores e que fo- mitido organizar as suas habituais
clubes. questionar sobre o regresso do fute- dar uma ajuda ao Luís Lebre e for- ram referenciados pelo ‘míster’, e o provas. E também temos a colum-
bol sénior. As equipas de formação mámos uma dupla que conhece plantel está praticamente fechado. bofilia, modalidade que está a criar
Face ao historial deste clube, a inexis- geram algum interesse, mas o fute- bem o clube e sabe com o que po- Mas tentamos ter uma relação cor- uma aldeia columbófila junto ao
tência de uma equipa de seniores, fa- bol sénior é o que gera aquela paixão derá contar da nossa parte. dial com os outros clubes, sem pro- campo de futebol.
20 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021 | PUBLICIDADE
23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 21

Q Q
O paraciclista ermidense Flávio Pacheco (Santa Cruz/ O paraciclista alentejano Luís Costa, nono classificado na prova
Botelhos) conquistou a Taça de Portugal 2021 em de fundo, da classe H5, no Campeonato Mundial de Paraciclismo,
paraciclismo na classe H4. A competição disputou-se, disputado no Estoril, e vencedor da Taça de Portugal 2021, é um dos
no passado sábado, em Torres Vedras, integrada no atletas qualificados para integrar a missão portuguesa aos Jogos
programa do Troféu Joaquim Agostinho. Paralímpicos Tóquio 2020, em contrarrelógio H5.

Ultra Maratona Atlântica e Corrida Atlântica disputam-se no próximo domingo

MARÉ CHEIA NA COSTA ATLÂNTICA


A Ultra Maratona Atlântica
Melides-Tróia e a Corrida
Atlântica vão reunir, na ma-
nhã do próximo domingo, dia
25, mais de 650 participantes,
numa desafiante aventura a
correr pela espuma das ondas.

TEXTO E FOTO FIRMINO PAIXÃO

A Ultra Maratona Melides-


Tróia e a Corrida Atlântica
Comporta-Tróia, competi-
ções organizadas pela Câmara de
Grândola, que se realizam no pró-
ximo domingo, registaram um re-
corde de inscrições no conjunto
das duas provas, superando lar-
gamente os registos das edições de
2019. São cerca de duas centenas
os atletas que se propõem cumprir
a distância de 43 quilómetros pe-
los areais dourados da costa atlân-
tica, entre as praias de Melides e
do Bico das Lulas, em Tróia.
A partida para esta desafiante
aventura na areia será dada pelas
09:00 horas, e a chegada do pri-
meiro concorrente à meta deverá
ocorrer cerca de três horas de-
pois. O recorde da distância, no
setor masculino, está na posse do VENCEDORES DA ULTRA O palco onde as competi- realizou-se em 2014 e veio tornar o
atleta Eusébio Rosa, que corria MARATONA MELIDES-TRÓIA ções decorrem, principalmente evento mais abrangente, também
pelo Sport União Caparica e que, a Ultra Maratona, é a terceira mais participado no conjunto das
na edição de 22 de julho de 2012, 2005: Pedro Pessoa (3h11’21) e Chantal Xervelle (4h26´48); 2006: maior extensão de areia contí- duas distâncias, tendo permitido
cumpriu a distância em 2h46’30. Pedro Pessoa (3h15’58) e Amélia Costa (4h56’30); 2007: Eusébio Rosa nua do mundo e a prova de 43 a alguns atletas fazerem a transi-
Eusébio Rosa já não participa no (2h51’11) e Chantal Xervelle (3h44’55); 2008: Eusébio Rosa (3h14’03) e quilómetros é única no con- ção dos 25 para os 43 quilómetros
evento, desde o ano de 2013. No Verónica Correia (4h20’57); 2009: Custódio António (3h03’41) e Chantal tinente europeu, sendo su- já com mais experiência e segu-
setor feminino, a recordista é a Xervelle (3h57’32); 2010: Eusébio Rosa (3h00’40) e Chantal Xervelle cessora do Raide Pedestre de rança. O inverso também é ver-
atleta Patrícia Serafim, do Beja (4h22’56); 2011: Eusébio Rosa (3h08’01) e Gema Borgas (3h42’44); 2012: Grândola, cuja primeira edição dade. Note-se, por exemplo, que o
Atlético Clube, que, no dia 24 de Eusébio Rosa (2h46’30) e Gema Borgas (3h33’48); 2013: Eusébio Rosa foi posta no terreno pelo muni- atleta grandolense Mário Cassaca,
julho de 2016 fixou a marca em (3h04’49) e Patrícia Serafim (4h04’54); 2014: Igor Timbalari (3h18’57) cípio da Vila Morena no ano de vencedor da Ultra Maratona em
3h30’46 e que, este ano, voltará a e Patrícia Serafim (4h08’40); 2015: José Gaspar (2h58’46) e Patrícia 1987, num sistema de pura au- 2017 e 2018, vai este ano competir
competir. Serafim (3h33’01); 2016: José Gaspar (3h04’32) e Patrícia Serafim tossuficiência (hoje já existem na Corrida Atlântica.
O numeroso pelotão que vai (3h30’46); 2017: Mário Cassaca (3h10’09) e Patrícia Serafim (3h32’’55); dois abastecimentos de líqui- Um registo curioso desta prova
largar de Melides passará pelas 2018: Mário Cassaca (3h33’23) e Patrícia Serafim (3h46’56); 2019: José dos) e seria realizada alterna- é o facto de cinco das seis edi-
praias da Aberta Nova (5,5 qui- Gaspar (2h59’40) e Palmira Quinhama (3h48’42). damente entre Melides e Tróia ções já disputadas terem sido gan-
lómetros), Galé (8,5), Pinheiro da Recordistas: Eusébio Rosa (2012) 2h46’30. Patrícia Serafim (2016) e no sentido inverso. O vence- has por atletas que vestiram, ou
Cruz (14,5), Pego (18.5), Carvalhal 3h30’46. Maior número de vitórias: Eusébio Rosa: 6; Patrícia Serafim (6). dor dessa primeira edição foi o ainda vestem, a camisola do Beja
(20), Comporta (28,5) Soltróia atleta Fernando Fernandes, com Atlético Clube. Na primeira edi-
(37,5) e Bico das Lulas (43). Cerca a camisola do Clube de Futebol ção venceu João Cruz (presidente
de 30 minutos após a saída do Os Belenenses. Recorde-se que o do clube), sucedeu-lhe Rui Fontes
areal de Melides dos 200 ultra- VENCEDORES DA CORRIDA atual recordista da prova cum- (atleta já retirado) e, após um in-
maratonistas, sairá da praia da ATLÂNTICA COMPORTA-TRÓIA priu já a mesma distância em terregno com o triunfo de Jorge
Comporta a Corrida Atlântica, menos uma hora (2h46’30), Robalo, o cetro voltou ao emblema
que tem meta comum à ultrama- 2014: João Cruz (54’25) e Inês Marques (1h07’43); 2015: Rui Fontes (55’35) sendo certo que o rendimento bejense com a vitória de Pedro
ratona, e que contará com cerca de e Inês Marques (1h06’35); 2016: Jorge Robalo (55’31) e Inês Marques dos atletas é sempre condicio- Arsénio em 2017 e 2018 (fixando
450 participantes, conjunto que (1h06’35); 2017: Pedro Arsénio (52’25) e Sofia Argentina (1h08’09); 2018: nado pelas marés e pela consis- o recorde em 51’58) e, na edição
reúne atletas formais com concor- Pedro Arsénio (51’58) e Alexandra Alves (1h06’31); 2019: Bruno Paixão tência da areia onde decidem de 2019, surgiu então o triunfo de
rentes que apenas procuram uma (50’17) e Inês Marques (1h00’35). realizar o percurso. O Raide Bruno Paixão, coroado com um
atividade física saudável, ou ex- Recordistas: Bruno Paixão (2019) 50’17. Inês Marques (2019) 1h00’35. Pedestre decorreu entre 1987 e novo recorde horário (50’17).
perimentar a sua capacidade de Maior número de vitórias: Pedro Arsénio (duas) e Inês Marques (quatro). 1981 altura em que a competição Os antigos atletas Paulo Guerra
superação. foi suspensa, sendo retomada no e Manuela Machado são os pa-
O primeiro atleta demorará en- ano de 2005 até que, dois anos drinhos do evento, participando
tre os 50 minutos e a uma hora, mais tarde, surgiu então a com também na Corrida Atlântica. A
consoante o setor, sendo que na feminino pertence a Inês Marques também atletas vencedores de denominação de Ultra Maratona organização está fortemente em-
edição de 2019 o vencedor, Bruno (individual) que, na mesma edi- outras edições, como Custódio Atlântica Melides-Tróia e sem- penhada no cumprimento de to-
Paixão (Beja Atlético Clube), esta- ção, baixou a marca para 1h00’35. António, José Gaspar, Mário pre no sentido sul norte. das as regras de segurança e hi-
beleceu um novo recorde, com a Ambos estão inscritos na edi- Cassaca, Palmira Quinhama e A primeira edição da Corrida giene recomendadas pela Direção
marca de 51’58. O melhor registo ção deste ano, em que competirão Chantal Xervelle. At lâ nt ica Compor ta Tróia Geral de Saúde.
22 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

BOLA DE TRAPOS
JOSÉ SAÚDE

A partida
de um amigo

A
partida de um amigo e antigo companheiro de
balneário deixou-me surpreso. Uma doença der-
radeira levou-o à morte. Dois meses que não
lhe deram tréguas e que o encaminharam, ine-
vitavelmente, para a tal viagem sem regresso.
Reconheço a dor extrema que deixastes a fami-
liares e amigos. Familiares que se remeteram
compreensivamente a um silêncio profundo. Respeito es-
ses valores sentimentais. O momento era sobretudo de um
enorme pesar e aceita-se em pleno a sua opção. Os amigos, ros-
tos que expeliam uma profunda saudade, disseram-lhe o úl-
timo adeus na manhã do passado dia 9 de julho, segunda-feira. Centro de Cultura Popular de Serpa está na II Divisão Nacional
Joaquim Manuel Gonçalves Graciano nasceu em Beja, fre-
guesia de Salvador, a 6 de dezembro de 1949 e morreu a 18 de
julho de 2021. Conhecido, vulgarmente por Quinelas, fora ou-
trora um jogador de futebol que passou pelo Despertar e pelo
SOUBE A POUCO...
Desportivo de Beja. Aliás, o Quinelas foi meu companheiro
de balneário e de equipa, no Despertar, no escalão de juvenis. O Centro de Cultura Popular de numa partida extremamente com- de divisão, finalmente conse-
Rapaz calmo, com uma educação que fazia parte integrante da Serpa conseguiu a promoção petitiva. “É uma modalidade espe- guimos, agora vamos descansar,
sua forma de estar na vida, o nosso condiscípulo legou-nos va- ao Campeonato Nacional da tacular, muito emotiva, e ficou de- porque, no final de agosto, já te-
lores morais que honraremos eternamente. II Divisão de andebol, em se- monstrado aqui neste jogo que os mos que estar outra vez prontos
Como juvenis do Despertar tivemos como treinadores dois niores masculinos, mas o téc- nossos jogadores têm um coração para voltarmos a luta”. Quanto ao
seres humanos inesquecíveis: O “tio” Sioga e o Dionísio, popu- nico Manuel Ramos, estando enorme. Não há dúvida de que o plantel, é um misto de juventude
larmente conhecido por Macarrão. Com o Quinelas fomos cam- feliz por este sucesso, sente- mérito é inteiramente destes atle- com atletas mais experientes.
peões distritais com as cores do velhinho “Rasga”. Mais tarde -se algo injustiçado por não tas, porque o trabalho foi todo de- “Conseguimos juntar um con-
o meu velho amigo defendeu o emblema do Desportivo, clube ter sido permitido ao clube o les”, comentou o treinador. junto de jogadores mais jovens
onde veio, ‘à posteriori’, a integrar uma comissão para o futebol acesso à fase final. Os locais até nem entraram com outros mais experientes, mas
de formação. Formação esta que obteve excelentes resultados bem no jogo. No primeiro tempo sofremos de um mal que não é
desportivos e que elevou o grémio da Rua do Sembrano ao cume TEXTO E FOTO FIRMINO PAIXÃO permitiram que a equipa de Torre exclusivo nosso, que é o facto de
máximo do fenómeno futebolístico bejense. da Marinha estivesse quase sem- não termos um leque muito alar-
O Quinelas fora, ainda, antigo funcionário do Banco de
Portugal, em Beja. Mas o desporto preencheu-lhe a vida.
Integrava o grupo de antigos companheiros que foram, tão-
-só, a tal suprema comissão para o futebol dos mais novos
que tanto brado dera na velha Pax Julia e que, semanalmente,
F oi uma época, a todos os títu-
los, brilhante para o andebol
serpense. A equipa venceu a
Série 7 da fase preliminar, etapa
que concluiu apenas com uma der-
pre na frente do marcador, mas
ao intervalo o Serpa vencia por
13-12 e não mais se deixou ultra-
passar. “A segunda parte foi real-
mente melhor do que a primeira.
gado de jogadores, não consegui-
mos ter as hipóteses de recruta-
mento que outras equipas têm.
Temos também que pensar que
possuímos nesta altura três joga-
se juntavam, e juntam, e se divertiam com as reviravoltas da rota (no pavilhão do Torrense) e, Conseguimos assentar mais o dores com muitos jogos de castigo
vida, principalmente as desportivas. Uma vida que é, somente, na segunda fase, sofreu uma der- jogo, conseguimos também de- por cumprir, um tem 10 jogos e os
uma curta passagem ao cimo deste vastíssimo globo terrestre. rota em casa (por um golo) com a fender melhor, porque era im- outros dois têm cinco, é quase a
Tudo é, no fundo, laivos avulsos de uma fugaz presença ter- equipa bê do Belenenses. Uma der- portante defendermos bem, e de- fase inicial da próxima época na
rena que acaba num horizonte onde a sua magnitude é e será rota contestada porquanto, nos pois era esperar, porque a equipa II Divisão. Temos que ajustar isto,
infindavelmente desconhecida. Partiste para o “além” meu instantes finais, a equipa alente- que cometesse menos erros sai- para vermos com quem podemos
amigo, mas a tua presença, não sendo física, ser-nos-á per- jana marcou o golo do empate, que ria vencedora. Fomos nós, esta- contar, porque os jogadores mais
petuamente inesquecível. Somos, afinal, matéria volátil que, a dupla de arbitragem reverteu mos de parabéns”, referiu Manuel novos também não se conseguem
inesperadamente, se esvazia num universo que vive em per- para uma falta ofensiva, acabando Ramos, considerando ter-se tra- fixar em Serpa… uns vão estudar,
manentes sobressaltos. Quinelas, somos oriundos de uma ge- por afastar o Serpa da fase de deci- tado de um campeonato muito outros trabalhar, vamos ver o que
ração onde o futebol foi, para nós, um átrio de magníficas ca- são do título. bem-sucedido, apesar das di- conseguimos”.
maradagens e onde também se cimentaram imortalizadas Manuel Ramos, o treinador do ficuldades. “O nosso sucesso, a Agora é tempo de celebrar a
amizades. Não te vou dizer um até amanhã, apenas um até conjunto da “Terra Forte” assinala nossa promoção à II Divisão é in- promoção “muito mais saborosa
logo, Quinelas, porque a vida sendo tão curta obedece a parâ- essa injustiça, apesar de estar or- teiramente merecida, mas sabe a porque tivemos mérito para su-
metros de uma profunda cautela. Descansa em paz e prometo- gulho pela promoção conseguida pouco e digo isso porque se não perar todas essas contrarieda-
-te que um dia voltaremos a dar uns chutos na bola num dos pelos seus atletas. E lembrou: “Este nos tem sido negado o empate des”, confessou Manuel Ramos,
mais insólitos campos galácticos que supostamente prolife- trabalho começou no início de se- com o Belenenses (golo anulado assumindo que, se depender de
ram na universalidade deste sistema sobrenatural. tembro. Foi uma época muito difí- nos últimos instantes e transfor- si, continuará à frente da equipa.
cil, por tudo aquilo que passámos, mado em falta ofensiva), a esta “As pessoas de Serpa gostam
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com todos estes problemas da co- hora estaríamos qualificados para muito das modalidades e o ande-
vid-19. Antes deste jogo com o a fase final do campeonato, porque bol é aqui muito querido e muito
Torrense, que foi decisivo, tivemos o Belenenses perdeu em Samora apoiado. Hoje só conseguimos ter
VENDE-SE uma semana muito difícil, porque
24 horas antes da partida castiga-
Correia. É ingrato, por tudo aquilo
que nos fizeram nesse jogo. Foi um
33 por cento da lotação [do pavi-
lhão], mas certamente, que ha-
300 OVELHAS ram-nos três jogadores, quando o jogo em que recuperámos de uma vendo mais lugares, estaria mais
castigo podia ter saído muito mais desvantagem de sete golos, chegá- gente e o pavilhão estaria cheio”.
Contactar tm. 962318741 cedo. Tivemos uma situação in- mos ao último lance e empatámos O futuro passará também pela
feliz, que foi um jogador que per- e, por isso, sentimos que nos foi re- formação, que tem nestes joga-
deu o pai na sexta-feira, o funeral tirada essa fase final. Estamos fe- dores seniores um bom exemplo
realizou-se no sábado e, mesmo lizes pela subida de divisão, mas
CEDE-SE LOJA assim, ele dispôs-se a jogar. Esta sabe a pouco, porque podíamos ter
de dedicação ao clube. “Sim te-
mos que nos preparar para o fu-
Com terminal de jogos SCML em Beja vitória é dele, é de todos os joga- ido mais além”. turo. Seria bom que conseguimos
dores, mas também do público que Ainda assim, objetivo cum- ter também mais jovens nos esca-
esteve connosco”. prido: “Este era, sem dúvida, o ob- lões de formação e que eles con-
Aos interessados contactar Neste último jogo, com o jetivo desta direção, era o objetivo seguissem chegar a este patamar,
961067024/964695790 Torrense, ao Serpa bastaria um em- de toda a equipa, há alguns anos que hoje lhes deram um tão bom
pate, mas acabou por vencer (29/26) que vínhamos a preparar a subida exemplo”, concluiu.
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24 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021
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SAÚDE | INSTITUCIONAL | DIVERSOS 23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 25

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26 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021
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†. Faleceu a Exma. S Sra. D. MAR RIA †
†. Faleceu a Exm ma. Sra. D. †. Faleceu o Exmo.. Sr. MA ANUEL
F
FLORES RO ODRIGUES S SOUSA, de 85 F
FRANCISCA A MARIA COSSANNO SEQUEIRA
S DA COSTA A, de 97 anos,
a
anos, natural de Albernôa
a - Beja, viúvva. M
MARQUES, de 89 ano os, natural de natural de SãoS João dos
d Caldeireeiros -
O funeral a cargo d desta Agência M
Marmelar - V
Vidigueira, viiúva. O fune
eral Mértola,
M viúvvo. O funeraal a cargo desta
re
ealizou-se no
o passado d
dia 15, da Ca asa a cargo dessta Agência realizou-se no Agência
A realizzou-se no passado dia 17, da
M
Mortuária de Albernôa, para o cemitéério passado dia 16, da Casa Mortuária de
p Casa
C Mortuá ária de Alcaria Ruiva, para
p o
lo
ocal. M
Marmelar, pa
ara o cemitérrio local. cemitério Sãoo João dos Caldeireiros.
C

BEJA BALEIZÃO
O SALVAD
DA

MISSA


†. Faleceu a Exma. Sra. D. CIPRIAN NA †. Faleceu a Exma. S
Sra. D. MAR
RIA †. Faleceu a Exma. Se enhora D. MARIA
M
D
DA CONCEIÇ ÇÃO DA SIL LVA MENDE ES, EEMÍLIA BAP PTISTA RA AFAEL, de 74 ASSUNÇÃO
A FIGUEIRA A, de 88 anos,
d
de 80 anos, natural de S Santa Maria da aanos, naturaal de Baleizzão - Beja. O natural de Trindade - Bejaa, viúva. O funeral
f
F
Feira - Beja,, viúva. O fu
uneral a carrgo ffuneral a carrgo desta Aggência realizo
ou- a cargo des sta agênciaa, realizou-sse no
d
desta Agência realizou-sse no passa ado sse no passad do dia 19, n
no cemitério de passado dia 21, das Cas sas Mortuárias de
d
dia 18, das CCasas Mortu uárias de Be
eja, BBaleizão. B
Beja, para o cemitério
c da Salvada.
S
p
para o cemité
ério desta cid
dade.
PENEDO GOR
RDO BEJA
A

António Henrique Campos


Quinta Queimada Campaniço

26 Anos de Eterna Saudade

Há 26 anos que partiste mas continuarás para sempre junto


de nós, vives nas nossas memórias e nos nossos corações.
†. Faleceu a Exma. Sraa. D. MARIAN
NA Teus pais e irmãs, que pensam em ti todos os dias com a in-
D
DA PALMA, de 101 an nos, natural de finita saudade que a tua partida deixou.
Santiago Maiior - Beja, viiúva. O fune
S eral
a cargo desta Agência realizou-se no Será rezada missa pelo seu eterno descanso no dia 26
passado dia 21, da Casa
p a Mortuária de de Julho de 2021, segunda-feira, às 19 horas, na Igreja do
P
Penedo Gorddo, para o cemitério local..
Salvador, em Beja, agradecendo desde já a todas as pessoas
que compareçam no piedoso acto.

SENHOR
Pretende companheira para futuro
MISSA compromisso que tenha gosto
pela vida no campo.

Contactar tm. 962318741

Arlete de Jesus Lucas Lampreia


VENDE-SE
Virgílio José Silvestre
6.º Ano de Eterna Saudade
6º Ano de Eterna Saudade Motorizada marca Zundapp, fabrico
Mulher, filha e genro mandam celebrar missa pelo eterno alemão, 4 velocidades. Com mais de
descanso do seu ente querido, no dia 27/07/2021, às 18.30 Filhos, noras, netos e restante família, recordam com muito 60 anos, impecável e poucos kms.
horas, na Igreja da Sé, em Beja. Agradecem desde já a quem amor e profunda saudade a sua ente querida, falecida em 24
nela participe.
de Julho de 2015. Contactar tm. 927187666
INSTITUCIONAL | DIVERSOS 23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 27

Diário do Alentejo n.º 2048 de 23/07/2021 Única Publicação


ETC.
28 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

D.R.
À MESA
ANTÓNIO CATARINO

O LAVRADOR
DE ALMOGRAVE
COM PRODUTOS DO MAR
A proximidade do oceano proporciona marisco e peixe fresco e
ementas com sabor a mar nos restaurantes do litoral. É o caso da
Praia de Almograve, no Parque Natural do Sudoeste Alentejano
e Costa Vicentina, um rincão de grande beleza. Ao redor, não
faltam outros recantos encaixados nas falésias, pequenos
VINHOS
areais abrigados dos ventos, convidativos a uma incursão MANUEL BAIÔA
descontraída, mesmo fora da época balnear. Uma escapadinha
mais tranquila e retemperadora, sem a confusão dos dias de
verão.
No acesso à Praia de Almograve, um café-restaurante, junto
UM CLÁSSICO ALENTEJANO,
à rotunda, desperta a atenção. É uma moradia de piso térreo,
com um alpendre que funciona como esplanada coberta,
envolta em trepadeiras. Trata-se do restaurante O Lavrador,
QUE SOUBE REINVENTAR-SE
harmonioso com os restantes ‘habitats’ da herdade, para
curiosamente, muito conhecido pelo peixe fresco, às vezes A Herdade de Coelheiros situada na Igrejinha,
assim desenvolverem todo o seu potencial, facilitando
acabadinho de pescar. Os sargos figuram de algum modo concelho de Arraiolos, tem uma longa história ligada
a conversão para o modo de produção biológico e para
como uma especialidade da casa, onde impera a simplicidade, à agricultura. No entanto, foi nos anos 90 que ganhou
uma agricultura regenerativa e sustentável. Neste
de resto traduzida na parca ementa. O capítulo marisqueiro grande notoriedade com o aparecimento do vinho
momento também estão a realizar várias experiências
é parte significativa da lista e serve de base a propostas mais Tapada de Coelheiros, que se transformou numa das
em biodinâmico e a proceder a enxertias e
petisqueiras, apetecíveis a qualquer hora. grandes referências dos vinhos alentejanos devido
replantações de castas maioritariamente
Perceves, navalheiras, amêijoas à Bulhão Pato e santolas, à intuição do seu proprietário, Joaquim Silveira,
portuguesas. A filosofia de Coelheiros passa pela
quando o mar está mais pródigo, têm em comum a frescura, e ao saber do enólogo António Saramago. Após
mínima intervenção humana no “trabalho” da
o sabor marinho que delicia os apreciadores, por vezes a morte do seu proprietário, passou por uma fase
natureza. Desta forma, garante-se uma expressão
protagonistas de autênticos “festins”. Do oceano ali tão perto de algum apagamento.
mais natural do potencial das castas. A herdade
vem algo mais que sargo: robalo, besugo, dourada e, na época, Em 2015 os brasileiros Alberto Weisser e
situa-se numa latitude um pouco acima de Lisboa
a sardinha, alargam o leque de escolhas e a grelha é ponto de Gabriela Mascioli apaixonaram-se pela riqueza
e numa cota acima dos 300 metros, pelo que
passagem de tais espécies antes de rumarem à mesa, regra geral, e biodiversidade e adquiriram a propriedade.
apresenta características mais frescas do que
acompanhadas de batata cozida e salada. Por encomenda, há Alberto tem uma longa carreira de executivo em
outras zonas do Alentejo.
outras propostas, nomeadamente, sopa de peixe, caldeirada, várias multinacionais. Começou pela BASF e em
peixe assado no forno e arroz de marisco. 1993 mudou-se para a Bunge, uma das maiores O relançamento da marca “Tapada de Coelheiros”
A escolha no capítulo de pratos de carne pode recair em empresas mundiais de óleos alimentares e trouxe consigo uma série de mudanças e algumas
lombinhos de porco com amêijoas, costeletas ou bife de produtos agrícolas. De 1999 a 2013 passou a ser o continuidades, mas mantendo a identidade da
novilho, secretos de porco alentejano. Nas propostas diárias, presidente executivo desta empresa e mudou-se casa. Os novos vinhos têm uma nova imagem,
sempre variáveis, destaca-se o cozido de grão, um dos ícones da para Nova Iorque. Atualmente continua a ser mas a ligação ao passado mantém-se com a
gastronomia do sul, um tanto ou quanto calórico, é certo, mas consultor de várias empresas internacionais, mas permanência da marca e dos rótulos ligados à
com adequado tratamento culinário. a sua nova casa passou a ser a Herdade de Coelheiros. arte do bordado de Arraiolos, embora numa versão mais
O destaque nas sobremesas vai para as tartes de figo e alfarroba Gabriela Mascioli é apaixonada por gastronomia, foi modernista.
ou de amêndoa e gila. curadora do evento Casa Boa Mesa e proprietária da Em 2016 entrou Luís Patrão, já com larga experiência na
Garrafeira adequada às características deste restaurante. Os livraria Mille Foglie, em São Paulo, especializada em Herdade do Esporão, para assumir a enologia, contanto
vinhos alentejanos estão em maioria, mas os verdes marcam boa gastronomia e vinhos. com a colaboração de João Raposeira na viticultura, e
presença em O Lavrador, casa simples e despretensiosa, onde a O casal decidiu que queria ter um projeto pessoal na de António Saramago, que ainda mantém uma ligação à
frescura dos produtos do mar é imagem de marca. área agrícola e começou a ver terrenos na Europa em empresa, fazendo a ponte entre o passado e o futuro. A
2014. Depois de algumas visitas a herdades e quintas aposta na excelência levou a uma redução da produção
D.R.

decidiram adquirir a Herdade dos Coelheiros devido ao de 400 mil para 120 mil garrafas/ano, mas com um
seu ecossistema único e ao facto de já ser uma marca reposicionamento para um segmento alto ao nível
consolidada no mundo dos vinhos, que necessitava apenas dos preços. Portanto, com a redução das quantidades
de uma renovação para brilhar bem alto no firmamento dos produzidas, o foco passou a estar na qualidade.
vinhos portugueses. O número de referências também baixou
Esta propriedade ainda mantém o quadro clássico das significativamente, avançando-se para uma simplificação
grandes herdades alentejanas, uma vez que preserva uma do portefólio. Na base da pirâmide temos a marca
grande multiplicidade de culturas agrícolas nos seus 800 Coelheiros que é produzida com castas típicas portuguesas,
hectares, entre os quais 40 de pomar de nogueiras (seis por num estilo regional, mas elegante, fresco e sofisticado.
cento da produção nacional) e uma vasta área de montado O vinho Coelheiros branco 2019 foi elaborado com as
(600 hectares) onde pastam livremente 1000 ovelhas, castas Arinto (85 por cento) e Antão Vaz (15 por cento). A
veados e gamos. A riqueza da sua biodiversidade inclui fermentação iniciou-se em depósitos de inox, passando
ainda uma parte de olival, barragem e outros animais como posteriormente 30 por cento do lote para barricas de 500
patos, lebres e coelhos. litros, onde estagiou seis meses. O vinho é marcado pelo
As vinhas totalizam 50 hectares, divididas em nove Arinto, num registo contido, citrino, fresco e mineral, onde
pequenas parcelas, com partes regadas e outras de se deteta alguma pólvora. A sua bela acidez permite-lhe
sequeiro, implantadas em solos com diferentes texturas uma grande versatilidade a nível gastronómico e bom
de origem granítica. As vinhas estão misturadas de modo potencial de envelhecimento. PVP: 10 euros.
23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 29

ARTES
LUÍS MIGUEL RICARDO

“SERIA MAIS FÁCIL FAZER AS MALAS E PARTIR,


MAS SE TODOS PENSAREM ASSIM, A NOSSA CULTURA MORRE”
Carlos Amarelinho nasceu Das várias intervenções artísticas no em busca da forma sonora final
D.R.

em 1977, em Serpa. Os estudos universo da música, alguma que seja e perfeita. A verdade é que um
musicais começaram aos 14 anos, a de eleição? concerto é uma paleta de cores
como saxofonista, na Escola de Seria uma tortura, se tivesse de musicais que nos transportam para
Música da Sociedade Filarmónica optar apenas por um dos campos telas de arte sensoriais capazes de
de Serpa. Quatro anos depois, da música. Sinto que todos eles nos fazer viver sensações que de
entrou para o Conservatório me completam. Não conseguiria outra forma não conseguimos.
Regional do Baixo Alentejo, tendo ser maestro, se não fosse músico
concluído o curso de saxofonista executante; ou compositor, se Como tem sido vivido este período de
no ano letivo de 2000/01. não fosse maestro para poder ‘stand by’ no mundo?
Posteriormente licenciou-se em interpretar as minhas obras. Foram momentos difíceis para
saxofone na Escola Superior de Adoro tocar, amo dirigir e sou um todos. Como orquestra é sinal de
Música de Lisboa, e, mais tarde, apaixonado em compor. Embora aglomerado de pessoas, tudo ficou
em direção de orquestra de as palavras possam ter cargas parado. Acabei por continuar
sopros pela Associated Board of emocionais diferentes, eu gosto de a exercer a função de docente
the Royal Schools of Music, em todas por igual. à distância, pelas plataformas
Londres. Em 2012, frequentou digitais, e ficar-me mais no
o mestrado em composição, na Ser alentejano e viver no Alentejo saxofone… criei álbuns novos
Universidade de Évora, e em 2013 representa uma fonte de inspiração (instrumentais), o que me permitiu
concluiu a profissionalização em ou de limitações para a carreira abrir a minha primeira conta
saxofone e música de câmara pela artística? artística enquanto executante de
Universidade Aberta. O facto de ser alentejano não saxofone, em várias plataformas
Ao longo do seu percurso e para me limita em nada. Já o viver de música digital, como o Spotify,
além dos estudos académicos, no Alentejo, a nível musical Youtube Music, Apple Music, entre
lecionou a disciplina de saxofone de orquestras e bandas, limita outras [nome artístico: Mr. Sax C].
em diversas escolas, foi convidado, o meu trabalho. Este tipo de
como formador, a realizar cultura musical está muito mais Que sonhos artísticos moram no
‘masterclasses’ de saxofone e de custado umas belas negativas. Na nos mais variados cursos e desenvolvida de Lisboa para cima, âmago de Carlos Amarelinho?
direção de orquestra nas mais escola da banda, o instrumento ‘masterclasses’ e acabei por fazer mas temos de ser gratos com o Os sonhos sempre foram muitos. O
variadas cidades do País; escreveu, que me atribuíram foi o saxofone. a licenciatura em direção de que temos… ainda assim poder maior de todos é ir para os Estados
como compositor, para o Festival O instrumento deveria ter uns orquestra, em Espanha. trabalhar e tentar evoluir nesse Unidos estudar composição
RTP da Canção, ganhou prémios, 80 anos, mas como o que conta sentido. Seria mais fácil fazer de música para filmes/bandas
dirigiu bandas e orquestras. é o valor que atribuímos ao que Dos vários trabalhos desenvolvidos, as malas e partir, mas se todos sonoras, e entrar nesse mundo.
Atualmente leciona a disciplina gostamos a não a idade que tem, algum a destacar? pensarem assim, a nossa cultura Ainda o tentei fazer ‘online’, tive
de saxofone no Conservatório ficou o meu amor durante algum Já foram tantos e tão bons que é morre. Nem sempre o mais fácil é uns meses de aulas pela Berklee
Regional do Baixo Alentejo e é o tempo, até o ter trocado por outro complicado escolher alguns. Vou, o melhor, também é importante College of Music, em Boston, mas as
maestro da Banda da Sociedade mais novo. no entanto, fazer referência a um ter desafios e fazer, muitas vezes, propinas eram tão caras que tive de
Filarmónica de Serpa. dos meus últimos trabalhos, que quase o impossível. desistir. É neste campo que me sinto
Dos vários projetos realizados ao Como foi o percurso até à ascensão era um grande sonho, e que a capaz de fazer um grande trabalho,
longo da carreira, destacam-se, como maestro? muito custo consegui concretizar: a Como é sincronizar uma multidão de pois tenho muita facilidade
no âmbito da música de câmara, O percurso até chegar a maestro formação de uma banda sinfónica músicos e de instrumentos em prol em olhar para uma imagem e
o ter sido membro fundador do foi natural. Ainda só tinha dois semiprofissional. A Banda da música? descrevê-la musicalmente.
quarteto de saxofones de Lisboa, anos na escola de música e já Sinfónica do Sul (BSS) nasceu Enquanto maestro, conseguir
assim como do quarteto Alen andava armado em maestro, a dar em outubro de 2015 e teve o seu moldar uma massa sonora ao meu E o que está na “manga”?
Sax; e o ter fundado em 2010, aos braços. Assim que comecei a concerto inaugural no Pax Julia, gosto e poder ouvir o resultado é Dizem que um mágico nunca
em conjunto com o maestro Luís evoluir no instrumento, comecei em Beja. A banda é constituída algo maravilhoso. Claro que há revela os seus segredos. Isso é o
Clemente, a Big Alen Band, da qual a procurar novos desafios. Dentro por músicos de todo o sul do País, obras que nos dão mais prazer segredo do seu sucesso. Por isso,
foi maestro. de mim existe uma imensa sendo, a sua maioria, profissionais em dirigir e “espremer sumo vou encarnar essa personagem de
vontade de fazer música e isso na área, o que a torna num projeto musical” de todo aquele ensemble. mágico, por enquanto. No entanto,
Quando e como surgiu o gosto pela acabou por se manifestar no de extrema qualidade, digno de Não é algo que possa descrever posso revelar que um grande
música? interesse de “comandar” uma orgulhar o Alentejo. Infelizmente, facilmente, já que vivo cada música sonho, daqueles que vinham a
O gosto pela música foi algo orquestra. Comecei a procurar a logística de uma orquestra com individualmente, conforme a seguir ao de estudar nos EUA, foi
bastante casual. Tinha um amigo cursos de direção de orquestra cerca de 80 elementos – arranjar magia que ela tem. Uma banda concretizado este ano. Consegui
que andava na escola de música da onde pudesse fazer alguma os instrumentos, organizar sonora, capaz de descrever imagens entrar, como compositor, para uma
Banda da Sociedade Filarmónica formação nesse sentido. O meu concertos, encontrar salas de através de sons, é sempre diferente das mais prestigiadas editoras do
de Serpa. Então, um dia, o primeiro curso foi no Inatel, com ensaio – deixou o projeto em de uma valsa, que nos remete para mundo para bandas/orquestra de
Francisco convidou-me para entrar o maestro José Matos, que era pausa por tempo indeterminado, movimentos subtis e elegantes. sopros e percussão, a Molenaar, que
na escola de música e o “bichinho” também o maestro da banda de já que não temos uma estrutura Cada género musical possui a sua fica situada em Amesterdão. Eles
foi começando a crescer. Cresceu Serpa. A partir daí, foi sempre profissional e não dispomos de energia, e essa energia leva a uma estão, neste momento, a gravar as
tanto que, às vezes, estudava muito a querer fazer mais e melhor. qualquer apoio institucional, para forma diferente de trabalhar com minhas obras e, em breve, ficarão
mais música do que os conteúdos Trabalhei com imensos maestros fazer face aos elevados custos do cada músico individualmente disponíveis para todas as bandas/
escolares, o que me poderá ter nacionais e internacionais, mesmo. e com a orquestra no seu todo, orquestras do mundo.
30 | Diário do Alentejo | 23 julho 2021

FILATELIA
GEADA DE SOUSA

O VALE DO GUADIANA preparados com todas as de Música Calouste Gulbenkian

D.R.
medidas de segurança e, embora de Braga, tendo ingressado,
EM SELO DE CORREIO de acesso livre, com limitação posteriormente, na Universidade
de público, obrigatoriedade de do Minho e prosseguido os estudos
No princípio deste mês (dia 2) entrou em circulação uma uso de máscara e controlo de na Hanns Eisler Hochschule fur
emissão sobre as áreas protegidas em Portugal. Foram entradas”. Musik em Berlim e em Antuérpia.
cinco as áreas distinguidas: Parque Natural de Montesinho
(selo de 0,54 euros), Parque Natural da Serra da Estrela
(0,54), Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros “MÚSICA CHEGA “FÁBULA RASA”
(0,84), Parque Natural do Vale do Guadiana (0,88) e Parque
A TODOS” NA BIBLIOTECA
Natural da Ria Formosa (0,91).
No comunicado de imprensa distribuído, num texto da NA FREGUESIA JOSÉ SARAMAGO
responsabilidade de Nuno Miguel Soares Banza, presidente CUCA MONGA DE MÉRTOLA
do conselho diretivo do Instituto da Conservação da NO PAX JULIA Mantendo as lições intemporais
Natureza e das Florestas lê-se que “a Rede Nacional de Depois de uma interrupção, da fábula, é possível redefini-la
Áreas Protegidas é o repositório da biodiversidade (…) No solitário confinamento devido à pandemia, a freguesia e adaptá-la ao tempo atual,
no continente português existem 48 áreas protegidas, deu-se um processo criativo de Mértola volta a acolher, até recomeçando com uma folha
distribuídas por um parque nacional, 14 parques naturais, particular que reuniu ao próximo mês de agosto, a de papel em branco e partindo
11 reservas naturais e 14 paisagens protegidas, de âmbito remotamente 20 músicos e iniciativa “Música Chega a Todos”. de uma “narrativa raspada”.
nacional e regional, sete monumentos naturais e uma área colaboradores da Cuca Monga Trata-se de um projeto promovido Podemos assim dizer que na
protegida privada”. (com membros de Capitão pela Junta de Freguesia de Mértola fábula nada se cria, nada se
Esta área privada é vulgarmente conhecida como reserva Fausto, Ganso, Luís Severo, que tem como objetivo levar a perde, tudo se transforma.
da Faia (no sentido de escarpa) Brava, reserva que não Rapaz Ego, Zarco, entre outros). música tradicional, na voz de Luís E essa transformação faz-se
deixa de surpreender o visitante com uma paisagem muito Desse processo, resultaram, Simenta, a todas as localidades através da nossa circunstância,
rica, bem dentro do que é o Parque Arqueológico de Foz em menos de dois meses, da freguesia, numa versão mais da nossa interpretação e da
Coa, que alberga as famosas pinturas rupestres do vale, “e da forma mais natural e intimista. Esta iniciativa está nossa experiência sensorial. Na
também elas já filatelizadas num selo de 350 $ 00 (1998 e espontânea”, 19 canções que a ser realizada num formato fábula, nada é definitivo. Nem
desenho de Vítor Santos) emitido apenas num bloco. compõem “Cuca Vida”, um diferente, dinâmico, apostando as ilustrações, nem as palavras,
A preservação da natureza nos seus múltiplos aspetos tem álbum assinado pelo Conjunto na proximidade com segurança e nem a história, nem a sua moral.
sido, desde há várias décadas, uma constante nas emissões Cuca Monga e que hoje, dia cumprindo as restrições existentes Foi este o ponto de partida para
de selos, pois encontramos várias emissões que lhe 23, passa pelo palco do Teatro devido à covid-19. a exposição “Fábula Rasa”, com
respeitam, tal como a qualidade do ar, da água, a terra, os Municipal Pax Julia (20:00 ilustrações de Joaquim Rosa
bosques, a proteção contra o fogo, enfim, a preservação do horas). Por ter começado e textos de Vítor Encarnação,
meio ambiente em que todos queremos viver com o máximo como uma brincadeira, que se ODEMIRA patente ao público até dia 16 de
de qualidade ambiental. manteve despretensiosa durante agosto na Biblioteca Municipal
Cada selo mostra-nos três aspetos da região representada, todo o confinamento, o álbum ATRIBUI APOIOS José Saramago, em Beja.
entre eles um exemplar de um espécime selvagem que a “Cuca Vida” tem de tudo um A ASSOCIAÇÕES
habita. pouco, tanto no género, como na CULTURAIS
D.R.

O ‘design’ dos selos esteve a cargo de Carla Caraça estética e no léxico. Ao mesmo
Ramos e houve carimbo de primeiro dia de circulação tempo, é um disco em que A Câmara de Odemira aprovou
nas localidades habituais: Lisboa, Porto, Funchal e Ponta transparece a amizade, risota e a atribuição de 132 mil euros
Delgada. liberdade com que foi forjado, e às associações e coletividades
talvez seja esse o seu tema: não do concelho que apresentaram
DOMINGO HÁ NOVOS SELOS O 440.º aniversário da Batalha fala sobre estar fechado – pelo candidaturas ao Programa de
da Salga é o motivo para uma emissão de novos selos que contrário – é aberto e livre. Apoio às Atividades Culturais
entrarão em circulação depois de amanhã, dia 25. Esta e Recreativas. Dos apoios
batalha, que aconteceu em 1581 nos Açores (Terceira), atribuídos, 50 mil euros
opôs o exército de D. António I, o Prior do Crato, aclamado ADIADOS destinam-se a atividades de
rei em Santarém a 19 de março 1580, ao exército do então produção cultural e 45 mil à
já escolhido como rei pela junta governativa, Filipe II de ESPETÁCULOS promoção de atividades culturais e
Espanha (Filipe I de Portugal; de 1580 a 1598) cujo exército DO LITORAL EMCENA recreativas. Segundo a autarquia, FESTIVAL TERRITÓRIO
tentou ali desembarcar. o programa “insere-se no âmbito HOSPITALÁRIO
Os espetáculos de ar livre do trabalho desenvolvido
programados pelo Litoral junto das associações culturais REGRESSA A SERPA
EmCena para os meses de e recreativas do concelho de
julho e agosto nos concelhos de Odemira e visa promover A segunda edição do Festival
Santiago do Cacém e de Sines atividades de índole cultural e Território Hospitalário irá
foram adiados por decisão das recreativa e à dinamização do decorrer em agosto nos municípios
respetivas câmaras municipais território”. de Serpa, Aracena e Aroche. O
e das autoridades de saúde, festival terá início em Aracena com
devido ao aumento de casos a “Muestra de Música Antigua”,
positivos de covid-19. Segundo RECITAL DE ÁLVARO de 4 a 8 de agosto, seguindo-se a
a organização do festival, as “Noche de las Velas”, em Aroche,
apresentações de “Sorriso”, pelo CORTEZ EM ALCÁCER a 14 de agosto. No dia 21, em
Teatro Só, que já fora adiado Serpa, irá realizar-se a iniciativa
pelo mesmo motivo, “Sou Eu”, O percussionista Álvaro Cortez “Hospitalários em Serpa”, com
pela ESTE – Estação Teatral, atua, no próximo dia 30, às 21:30 visitas teatralizadas baseadas na
e o espetáculo “Mutabilia”, horas, no Auditório Municipal história da presença da Ordem
pelo Teatro do Mar, num total de Alcácer do Sal, num concerto do Hospital naquele concelho.
de 17 representações, “estão com entrada livre. Álvaro Cortez, Trata-se de uma iniciativa da
assim adiadas para novas em 2014, foi o primeiro português Câmara de Serpa em parceria
datas a anunciar”. O diretor do a vencer o Concurso Musical com os municípios espanhóis de
evento, Mário Primo, diz ter Europeu «Citta di Filadélfia”, em Aracena e Aroche e integrada
“dificuldade em compreender Itália. O músico iniciou os estudos no projeto de turismo cultural
esta decisão”, pois trata-se musicais aos 13 anos e, aos 14, “A Raia: Festival do Território
de “espetáculos ao ar livre matriculou-se no Conservatório Hospitalário”.
23 julho 2021 | Diário do Alentejo | 31

LIVROS CRÓNICA
JOÃO MÁRIO CALDEIRA

AFONSO VALENTE
D.R.
BATISTA PUBLICA
“A GALERIA
DOS NOTÁVEIS
INVISÍVEIS”
O escritor de Moura Afonso Valente Batista publicou um novo
livro, “A Galeria dos Notáveis Invisíveis”, no qual reuniu 35 contos,
sobressaindo a ”originalidade de uma narrativa autêntica”, como
escreve no prefácio o autor Carlos Bueno Guedes, autor e crítico
literário brasileiro que realça a “originalidade de uma narrativa
autêntica, mesclada de uma inusitada poesia em cada situação
vivida, em que não existe desperdício de palavras, todas as
necessárias para criar um clima onírico e sensual”. Afonso Valente
Batista, nesta obra, “vai explorando todas as nuances da solidão
física e espiritual”, afirma o crítico brasileiro.
Já o editor da obra, Marcelo Teixeira, chamou a atenção para “a
riqueza vocabular e a elegância do autor, num verdadeiro hino à
língua, com metáforas brilhantes, numa economia de palavras, com a
MALHAR NO ÓCIO
utilização rara de termos que [se foram] esquecendo, mas que trazem
quanto ao modo como se apresentam. Ninguém se
vivacidade” ao texto. “Na sua narrativa perpassa um certo tom de Atirar com um pedaço de ferro ao ar pode não ser ao uso
lembraria de vestir traje desportivo adequado, como,
tristeza, até desencanto com um mundo em que vivemos, assente da Póvoa. Afirmam as más-línguas que os da Póvoa de S.
de imediato, teriam feito os ingleses. Já se imaginou
numa crítica social, por vezes servida em fina ironia, não deixando Miguel, no termo de Moura, é que atiravam com bicos de
o nosso patrício de calça justa abotoada abaixo do
o Afonso de refletir sobre alguns dos temas que ancestralmente têm charrua à cabeça uns dos outros e, quando acertavam,
joelho, de boné de pala, sapatos e meias de lã, casaco
inquietado o Homem, entre outros, a consciência da finitude da vida diziam que era brincando.
desportivo com emblema a condizer, pegando com toda a
ou o direito à desobediência”. Jogar ao ar uma redondela de ferro, da conformidade da
fleuma na malha de ferro? O seu a seu dono. O aficionado
Carlos Bueno refere que há uma “inquietação [que] acompanha tampa de um cântaro, contra um pino de madeira ou prego
daqui joga como vem vestido, mais asseado ou menos
em permanência uma narrativa rica em personagens e uma crítica espetado no chão à distância de 15 passos, pode ser
limpo, de acordo com a esquisitice da mulher que cuida
social servida por uma subtil (e, por vezes, surpreendente) ironia outra coisa. É, efetivamente, uma forma de competir. No
dele. Estou em crer que se um dia alguém lhe falasse
denunciadora de injustiça”. Como escreve, Afonso Valente Batista Alentejo chamam-lhe jogo da malha. Malha é, assim, a tal
em envergar equipamento para jogar à malha nunca
revela uma “incrível versatilidade” e faz o leitor “pasmar a cada redondela muito diferente de um bico de charrua.
mais poria o pé no local da refrega. Se querem gente
pequena estória”, com “um filosofar que restaura o humano dentro Por quase todo o Alentejo generalizou-se o jogo entre os
suscetível procurem-na no Alentejo. Como alentejano
do seu próprio mundo”. homens, já que as mulheres não têm ócio onde malhar.
que sou reconheço que não há nada a fazer. Somos assim,
Afonso Valente Batista é “o grande invasor das nossas totalidades Todavia joga-se de diferentes maneiras e até recebe
casmurros e convencidos. Para o bem e para o mal. É uma
existenciais”, atesta Bueno Gomes, para quem a obra do autor, diferentes nomes conforme os sítios. A modalidade mais
questão de feitio ganho à nascença.
natural de Moura, tem “a maturidade de estar presente pela força de vulgar é jogar a malha a pinos de madeira mas em certas
uma escrita única e contemporânea”, num “estilo próprio e único”. povoações raianas da Margem Esquerda do Guadiana O “jogo da malha” é o jogo de ar livre mais comum em
Afonso Valente Batista, de 74 anos, é autor, entre outros títulos, utilizam-se grampos de ferro, os malhões, que se espetam terras do sul. De acordo com os folhetos de promoção
de “O Fadário das Mulheres Insolentes”, “Rebelião”, “A Voz das no chão. Neste segundo caso é jogar ferro contra ferro, a turística é um jogo tradicional. Parece não haver dúvidas.
Pedras”, “A Indiferença é Morrer com a Solidão aos Pés da Cama”, malha contra o malhão. Não que aqui as gentes acusem Na verdade, muitos anos deve ter, já que contínuas
“O Muro” ou “A Liturgia do Silêncio”. mais bruteza, só que assim as obriga a tradição de malhar gerações o praticam com paixão. Que aqui colheu uma
em ferro frio. apetência superior a qualquer um dos antigos jogos,
D.R.

Seja como for, a malha é um jogo corriqueiro cujos também não restam dúvidas.
princípios ninguém conhece. Entretém os homens desde Em algumas terras do Alentejo, naquelas onde a malha
tempos imemoriais enquanto os ajuda a confrontarem-se é lançada a um malhão de ferro, chamam-lhe, por vezes,
uns com os outros, duas coisas de que precisam como do jogo do envido. A coisa tem explicação. A páginas tantas,
pão para a boca. se numa jogada uma das equipas (normalmente de
Como se chama o espaço da disputa, também ninguém dois jogadores) fica em posição favorável com a malha
sabe. Locais com nomes esquisitos, em geral ingleses, próxima do malhão, envida ou desafia a outra a aceitar,
há muitos no Alentejo turístico para modalidades mais em seu proveito, um ganho antecipado de pontos. Se
sofisticadas: ‘rings’, ‘courts’, ‘greens’ e assim por diante. sim, inicia-se nova jogada. Se não, continua a disputa.
Sobre isso, os naturais do sul interior coçam a cabeça Daí o nome da variante, com mais esse passo emotivo a
e deixam passar. O terreiro pelado e batido onde se quebrar o ramerrão. Todavia estamos ainda nos domínios
joga à malha não tem nome. Podia cair-se na tentação do jogo da malha que ocorre sempre nas imediações
de chamar-lhe em bom português malhal ou malhadal de uma venda de vinho. As partidas não se disputam a
mas estes termos designam, desde há muito, coisas dinheiro mas a copo. Ocorrem por isso sobre a tarde,
diferentes. Os residentes tomam a parte pelo todo e preferencialmente em dias com bom tempo após o
chamam jogo da malha ao local da disputa. É quanto trabalho, horas em que o nosso patrício costuma molhar o
basta. bico antes do jantar,
A ele se chegam amiúde para jogar ou ver jogar. A malha é, assim, além de um murro no ócio, uma forma do
Encegueirados na sua prática, mas sem pretensões alentejano aperitivar em companha dos amigos.
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NADA MAIS HAVENDO A ACRESCENTAR...


VÍTOR ENCARNAÇÃO CÂMARA DE ALVITO DIZ QUE
O exame Quando as coisas são profundas, à memória tanto da minha tia, por entre caracóis, acho que ainda não eram
se lhe dá que tenham passado três meses ou cinquenta anos brancos, a forçar uma marrafa, eu a ter vergonha de me olhar ESTAÇÃO NÃO SERÁ DEMOLIDA
porque a memória tem um tempo próprio e as emoções é ao espelho, nem parecia eu, a minha tia a desviar-me o cabelo,
A Câmara de Alvito diz que o edifício da estação
que mandam nele. Eram oito horas de um dia antigo, terá deixa lá ver se te lavaste bem atrás das orelhas, depois umas
de caminhos de ferro de Alvito não vai ser
provavelmente sido ontem de manhã, e o sabão azul e branco pinguinhas de perfume, depois um fio de prata. Eram oito e
demolido. Contrariando uma informação oficial
voltava uma vez e outra às minhas orelhas, lava-te bem atrás meia quando a minha tia desligou o ferro, acabei agora mesmo
da Infraestruturas de Portugal (IP), a autarquia
das orelhas, disse-me a minha tia na noite anterior, parece-me de ouvir o sino da igreja, a bata branca imaculada, eu ainda
revelou ter reunido com a empresa e recebido a
que foi anteontem à noite antes de me ir deitar, esfrega essas não conhecia a palavra, tanto que se aprende de um dia para
garantia de não demolição deste edifício, tendo
pernas, lava bem esse cabelo. Eram oito e dez, mais década o outro, três botões à frente, as mangas compridas, um bolso
ficado assente o compromisso de, “até final deste
menos década, quando eu me comecei a vestir, trusses de do lado esquerdo. E lá fui eu, rua fora, os sapatos de verniz a
ano”, a Câmara e a União de Cooperativas do Sul
algodão, calção de fazenda, meia branca, camisa creme de escorregarem na calçada, fazer o exame da quarta classe,
(Ucasul), empresa responsável pela fábrica de
golas imensas, lencinho de assoar. Depois o pente na mão meninos a um lado, meninas a outro.
bagaço de azeitona que labora junto à estação,
“encontrem uma solução para a utilização daquele
espaço, dando-lhe uma nova vida”.

QUADRO DE HONRA FRANCISCO CANTANHEDE 68 ANOS, MONTEMOR-O-NOVO


NUNO BLOCO
Foi professor de História (3.º ciclo) e de História e Geografia de Portugal (2.º ciclo) durante mais
de 25 anos. Autor de manuais escolares de História e Geografia de Portugal e de História, desde
MASCARENHAS DE ESQUERDA
há cerca de 25 anos. Formador de professores no âmbito da didática da História. Tem participado RECANDIDATO APRESENTA
com comunicações em escolas, nomeadamente sobre o Estado Novo e o 25 de Abril, e em À CÂMARA PROPOSTAS
colóquios, sobre educação. É colaborador, desde janeiro de 2017, do jornal “O Setubalense”. DE SINES SOBRE SAÚDE
O presidente da Câmara de O Bloco de Esquerda (BE)
Sines, Nuno Mascarenhas, apresentou dois projetos de
vai recandidatar-se ao resolução, onde recomenda
“É preferível morrer a gritar ‘Viva a Liberdade’ cargo nas próximas
eleições autárquicas. O
a gestão pública do
Hospital de Serpa e a

do que viver numa ditadura” autarca socialista diz que


se recandidata porque
construção de um novo
edifício para a instalação
“este é um momento que do Serviço de Urgência
requer o empenho de Básica (SUB) de Castro
“O Cavador que lia Livros no Tempo de Salazar”, um romance de Francisco Cantanhede todos” para se ultrapassar Verde. Em causa, no caso
“esta fase complexa” de Serpa, está a alegada

F oi apresentado, recentemente,
na sede do Grupo Coral Os
Ceifeiros de Cuba, o livro “O
Cavador que lia Livros no Tempo
de Salazar”, da autoria de Francisco
“tendencialmente gratuita”, di-
reito à educação, a igualdade de
género tem dado passos significa-
tivos... Contudo, o medo está de
volta: medo de perder o emprego,
O que diria o cavador, persona-
gem principal do seu livro, ao ouvir,
hoje, alguém dizer: “Portugal pre-
cisa é de um novo Salazar”?
Diria, obviamente, que “os deuses
da vida em comunidade.
Para o candidato, o
concelho de Sines tem
de “continuar a ser um
destino de investimento”,
“instabilidade em que [o
hospital] foi lançado, assim
como, a constante ameaça
sobre o serviço de urgência
e sobre a prestação de
Cantanhede. medo de não ter dinheiro para co- devem estar loucos”. Quem esteve de continuar a “valorizar” cuidados à população”.
mer ou para ir à farmácia, medo preso em Caxias, por se ter mani- os seus ativos turísticos, O BE “faz um balanço
Do que nos fala este seu livro? provocado pela mensagem de cer- festado a pedir trabalho, preferiria “apostar” nos produtos extremamente negativo”
O livro começa por desmontar a tas forças políticas que, travestidas perder a vida a gritar na rua “Viva locais, na inovação, da gestão da Santa Casa e
imagem do “santo” Salazar, divul- de “modernidade”, não passam de a Liberdade!” do que voltar a viver no desenvolvimento e, defende a gestão pública e
gada pela propaganda da ditadura. herdeiras de um passado de dor, numa ditadura. sobretudo, continuar a ter integrada no SNS, segundo
Nos capítulos seguintes descreve a sofrimento e morte. Nas escolas no “centro das políticas” o referiu o deputado Moisés
vida quotidiana daqueles que, nos existe igualdade, mas pouca equi- O que mais gostaria que este livro emprego e as pessoas. Ferreira.
latifúndios alentejanos, passavam dade e a classe docente, envelhe- despertasse, a quem o ler?
os dias com “os corpos colados à cida, está exausta. A fome voltou, O amor pela “liberdade, igualdade,
terra”, recebendo em troca o “pão envergonhada ou à vista de todos, fraternidade”, os ideais dos revolu- CÂMARA DE MOURA
que o diabo amassou”. provocada pelo desemprego, pelos cionários franceses que, em 1789, ADJUDICA ZONA INDUSTRIAL
ordenados e reformas miseráveis. abriram as portas à democracia.
Diria que algumas das suas inquie- A indiferença de parte da classe Recordo que Jesus Cristo afirmou,
DE AMARELEJA
tações, reveladas neste seu ro- política e do cidadão comum é, por há cerca de 2021 anos, que somos A Câmara de Moura aprovou a proposta de adjudicação
mance, nomeadamente o medo, a vezes, arrepiante. Veja-se o exem- todos iguais – ricos e pobres, escra- da empreitada de obras de urbanização da primeira
miséria, a indiferença, continuam plo dos trabalhadores sazonais vos e senhores, homens e mulheres fase da Zona Industrial de Amareleja. De acordo
contemporâneas? em várias regiões do país. É pre- – e que pediu: “amai-vos uns aos com o município, esta empreitada “representa um
Graças ao 25 de Abril de 1974 – é ciso voltar a gritar bem alto: “ve- outros, como Eu vos amei”, ape- investimento superior a 1 milhão e 450 mil euros, tem um
bom recordar –, foi sendo cons- mos, ouvimos e lemos, não pode- lando à fraternidade entre todos os prazo de execução de 450 dias e contempla a instalação
truído um Portugal novo: habita- mos ignorar”, de modo a espicaçar povos do mundo. de 22 lotes afetos a espaços de atividades económicas,
ções condignas, assistência médica consciências. JOSÉ SERRANO de comércio e serviços”, bem como a atividades “que
lhes sejam complementares ou compatíveis”.
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