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campos elíseos

fotos matHeus urenHa e letícia lovo/especial


PÁGINA 31
Suplemento exclusivo do Jornal A cidade de 29 de julho de 2008 - distribuição gratuita somente para o bairro campos elíseos

nascer, viver e morrer


nos campos elíseos
Geraldo fez sorvete Soldado Chaguri Sujeira nas praças
de tomate com sal prendeu 26 alemães incomoda os moradores
PÁGINA 20 PÁGINA 15 PÁGINAS 16 e 17
2 A cidAde Julho de 2008

nossa opiniÃo cartas


A cidade chamada Segurança
Campos Elíseos Eu vim de São Paulo há
dois anos para os Campos
Elíseos e gosto muito
do bairro, fica perto do

O
corretor Samuel seja nas suas ruas tran- Centro e aqui tem de
Stein diz aqui ao qüilas, ainda com ar tudo. O que precisa tomar
lado o que o tí- das cidades ainda into- um cuidado, às vezes, é
tulo da capa desta edi- cadas do interior pau- com a segurança, mas
ção de A Cidade No lista. isso é em todo lugar.
Bairro sintetiza: nas- Ao mesmo tempo, é
Marialva Amarante, 57,
cer, viver e morrer nos possível sentir a força
dona-de-casa
Campos Elíseos. telúrica da comunida-
A expressão, mais de, do comércio vibran-
que qualquer outra, te, das sorveterias sem- J.f.pimenta

emblematiza o bairro
dos Campos Elíseos –
pre lotadas.
É esta pulsação dos
O bairro Campos Elíseos
uma cidade. Campos Elíseos que faz é uma cidade. Começa
Sim é possível nascer
no Campão, viver sem
de seus moradores eter-
nos apaixonados pelo
com a maternidade e
precisar deixá-lo – afinal bairro, mesmo que este- termina no cemitério.
não é no seu comércio jam a distância.
que é possível se encon- Como qualquer aglo- Samuel Stein, 74, corretor, que sempre
trar de alfinete a avião? merado urbano, seu cres- morou nos Campos Elíseos
– e morrer ali – o mais- cimento desordenado
que-centenário Cemité- trouxe, sim, inconvenien- J.f.pimenta

rio da Saudade é o maior


de Ribeirão Preto.
tes da modernidade, es-
pecialmente a violência.
Eu moro no bairro há
Os Campos Elíseos Mas sua comunida- 38 anos e lembro do
reservam a quem o vi-
sita pela primeira vez
de tem visível força pa-
ra transformar essa rea-
tempo que poucas ruas Melhor bairro
uma sensação de Itália, lidade e manter o status tinham asfalto. Eu moro em Ribeirão há
do já visto. Seja nas su- dos Campos Elíseos, on- 30 anos e já morei na
as avenidas movimen- de é possível nascer, vi- Antonia Pavani de Melo, 62, dona-de- cidade toda. Mudei para
tadas pelo comércio, ver e morrer. casa, moradora da rua Luiz Barreto os Campos Elíseos faz
um ano e acho o melhor
bairro. O que precisa

sua opinião J.f.pimenta letícia lovo/especial


melhorar é a sujeira da
praça Santo Antônio.

Eunice Oliveira Lopes, 70,


Autonomia Acesso Fácil doméstica
Os Campos Elíseos O bom dos Campos
melhorou muito, Elíseos é que tem de
principalmente o tudo, mas o bairro
comércio. Hoje não continua tranqüilo.
preciso ir no Centro Outra vantagem é que
para nada, nem para o acesso para o Centro
ir ao banco. O único é muito fácil. Eu moro
problema é que o aqui há 20 anos e gosto
bairro está cada vez muito da estrutura
mais sujo. do bairro. Aqui tem
muitas praças.
Marlene Krunas,
65, técnica de Lázaro Mathias
enfermagem Carvalhaes, 45,
funcionário da
Santa Casa

ediçãoMárioevangelista•ReportagemetextosJucimaradePauda,FabrícioFreireGomeseRenanGouvêa(estagiário)•Fotos LetíciaLovo/especial,MatheusUrenha,J.F.Pimenta,F.L.PitoneWeberSian•ediçãodearte Danieltorrieri•Revisão GideonFonseca


Diagramação eduardo P. de Carvalho • edição de fotografia Joyce Cury •tratamento edson Fabricio Bonora • Departamento Comercial (16) 3977 2172 • comercial@jornalacidade.com.br •Vendas Diego Marcon (16) 9235 5188 • comercialdiego@jornalacidade.com.br
Julho de 2008 A cidAde 3

Sofri muito na mão daquele crioulo [Pelé]. Mas ele me citou


como um dos seus melhores marcadores e fico feliz com isso.
eurípedes fernandes, 68, o rocha negra
quarto-zagueiro do comercial, ‘tinha o apelido não só pelo físico avantajado, quadrado de corpo e de cara, mas também pelas pauladas que dava’, escreveu Wilson roveri.

arquivo pessoal

esQuadrÃo do comercial

O Rocha Negra
pelé temia a marcação do quartozagueiro piter

U
m dos atletas de fu- do Comercial, época em va em campo e logo procu-
tebol mais temidos que atuou em formações rava abraçar Piter”, escreveu
por Pelé mora nos memoráveis. o jornalista Wilson Rove-
Campos Elíseos. Eurípedes “Quase fomos cam- ri. “Sofri muito na mão da-
Fernandes, 68, o Piter ou peões paulista, mas no fi- quele crioulo, mas ele me
Rocha Negra. “Nos trancos nal ficamos em terceiro lu- citou como um dos marca-
eu ganhava a parada com gar. Naquele dia, o time dores e fico feliz por isto”,
os caras. Eu era fortinho e não jogou bem”, lembra. diz. Piter trabalha no Co-
isso ajudava”, diz. Fez parte Piter fazia marcação cerra- mercial, com as categorias
da célebre equipe de 1966 da contra Pelé. “Pelé entra- sub-17 e sub-15. Piter (à direita) e Pelé, no primeiro jogo em que marcou o rei, em 1963
 A cidAde Julho de 2008

como começou Números

O Barracão de Baixo
11.177
Residências

2.793
Estabelecimentos comerciais,
indústrias, prestadores de serviços
14.671
ligações de água
campos elíseos nasceu com a criação do núcleo antônio prado 14.650
ligações de esgoto
reprodução arquivo público municipal

307
A
área dos Campos Saudoso, que corta a aveni- telefones públicos
Elíseos começou a da Francisco Junqueira.
ser povoada a par- Com a avenida da Sau- 1 UBS
Nelson Barrionovo, na Avenida da
tir de 1887 com a criação dade como a principal li- Saudade, 1.452. Fone: 3961-4303
do Núcleo Antônio Prado, gação do Centro para o
primeira expansão urbana bairro, os Campos Elíseos 1Base da PM
Campos Elíseos, na avenida Saudade,
de Ribeirão Preto, que in- se desenvolveu como um 1.325. Fone: 3961-1024
cluía a área atual do bair- bairro independente, com
ro e o Ipiranga. um comércio forte, agên- Táxi
• Santa Casa, na rua Padre Euclides s/n.
O núcleo foi dividi- cias bancárias, escolas, in- Fone: 3625-0609
dos em lotes para abrigar cluindo ensino superior, e • Paulista, na rua Patrocínio, 775.
Fone: 3625-3329
os imigrantes, principal- hospitais. “Na região de • Chacrinha, na rua Antonio Milena,
mente os italianos, que Ribeirão Preto não há ne- 1.371. Fone: 3626-0299 • Praça Santo
vinham para a cidade pa- nhum bairro como Cam- Antonio s/n. Fone: 3625-0651
• Praça Rômulo Morandi na rua Luiz
ra trabalhar nas planta- pos Elíseos, pois seus atri- Barreto s/n.Tel: 3961-2379
ções de café. butos lhe permitem deter
O barracão que recebia, o título de bairro-cidade”, Ônibus
Campos Elíseos – Bonfim Paulista
na chegada à cidade, os afirma Rubem Cione, em Saída Campos Elíseos (Rua Antonio
imigrantes italianos ficava trecho do livro “História Milena com a Rua João Ramalho)
no Ipiranga. Por isso, a re- de Ribeirão Preto”. Vista dos Campos Elíseos em 1890: hoje, bairro é quase-cidade 00:00 06:10 06:37 07:04 07:32 07:50*
08:0008:2708:5409:2209:5010:1710:44
gião dos Campos Elíseos fi- 11:1211:4012:0712:3413:0213:3013:57
cou conhecida como “Bar- 14:2414:5215:2015:4716:1416:4217:10
racão de Baixo”.
A mudança do nome do
bairro para Campos Elíse-
As artesanais 17:37 18:04 18:32 19:00 19:27 20:05
20:55 21:45 22:35 23:20 • * - Horário Extra
Saída Terminal Bonfim Paulista

As primeiras fábricas de cerveja de Ribeirão


00:20G 00:45G 05:30 05:57 06:24 06:52
os, alusão a Champs-Ély- 07:00G 07:10* 07:14G 07:20 07:30G
07:34G 07:47 07:54G 08:04G 08:14
sées de Paris, aconteceu na 08:15G 08:24G 08:34G 08:42 08:44G
década de 40. O bairro Campos Elíseos fabricava cerveja, licores da Antarctica, em 1913. 09:00G 09:10 09:37 10:04 10:32 11:00
A ocupação dos Cam- abrigou as primeiras e xaropes, no cruzamento Preocupado com o bairro, 11:27 11:54 12:22 12:50 13:17 13:44
14:12 14:38 15:07 15:34 16:02 16:30
pos Elíseos foi acelerada na fábricas de cerveja da das ruas Capitão Salomão Bertoldi trabalhou, com 16:50G 16:57 17:24 17:25G 17:45G 17:52
primeira metade do século cidade. As primeiras eram e Marquês de Pombal. A o padre Euclides, na 18:20 18:21G 18:40G 18:47 19:00G 19:30
passado pela proximidade artesanais e duraram empresa ganhou prêmios instalação da Santa Casa e 19:31G 20:20 21:10 22:00 22:50 23:30
* - Horário Extra • G- Garagem
do Centro da cidade. pouco tempo. A 3ª foi estaduais pela qualidade com os padres Olivetanos,
As primeiras casas do fundada em 1900, por dos produtos, mas perdeu na construção da igreja Fontes: Secretaria da Fazenda, Secretaria
bairro foram construídas Quarto Bertoldi, que espaço com a chegada Santo Antônio. da Assistência Social, Secretaria da
Saúde, Transerp, Daerp e Telefônica
próximas ao córrego Retiro
Julho de 2008 A cidAde 

em outro campo
Harê Krishna,
Nas ondas de Krishna Harê Krishna,
Krishna
Krishna, Harê
o cabeleireiro danilo nicolacce, 47, diz estar na ‘vida transcendental’
letícia lovo/especial Harê/ Harê
O Rãma, Harê
cabeleireiro Da- cimento da verdade abso-
nilo Nicolacce, 47 luta sobre Deus”, diz.
anos, foi radialis-
ta durante 15 anos e em
Nicolacce trabalha co-
mo cabeleireiro e no do- Rãma, Rãma
1993 mudou o rumo da
vida após conhecer a fi-
mingo, às 19h30, partici-
pa das reuniões no tem- Rãma, Harê
losofia védica.
“Sempre pesquisei so-
plo, que fica na rua Carlos
Gomes, 231. Harê.
bre Deus e li sobre todas as “Abandonei a vida ma-
religiões, mas apenas o Ha- terial e estou na transcen- diz a filosofia védica que,
re Krishna descreve Deus dental. Corto o cabelo pa- se cantado três vezes ao
detalhadamente”, diz. ra viver e vivo para divul- dia durante 10 minutos, o
Nicolacce coordena gar a filosofia védica”. mantra traz paz espiritual
um templo Hare Krish- Nicolacce não sabe e controle da mente.
na nos Campos Elíseos e quantas pessoas fazem
mantém uma rádio que parte do movimento em
divulga a filosofia na inter- RP, mas garante que são
net (www.radioharekrish- milhares. “A pessoa não Santa Casa é referência em
na.blog.br). “A única fina- precisa ir ao templo, bas- atendimento médico.
um pouco de história na página 6
O cabeleireiro Danilo Nicolacce: ‘conhecimento da verdade absoluta’ lidade é divulgar o conhe- ta praticar em casa”.

Posto BR
6 A cidAde Julho de 2008

Nos anos 60, a enfermaria das mulheres


f.l.piton

ficava de um lado e a dos homens de outro.


terezinha de jesus coutinho, 63
chefe do serviço pessoal da santa casa, começou a trabalhar há mais de 40 anos no hospital, quando ele era ‘bem menor’

elas faZem a história

Mulheres de branco
terezinha coutinho e helena fávero trabalham há 40 anos na santa casa
reprodução arquivo público Virou referência

A
chefe do serviço Os pacientes ficavam todos
pessoal, Terezinha juntos nas enfermarias. De- Santa Casa atende, por
de Jesus Coutinho, pois que teve a divisão dos mês, uma média de 12,5
63, e a auxiliar do Depar- quartos”, afirma Terezinha. mil pacientes – mais de
tamento Pessoal, Helena Helena Fávero, que co- 70% do atendimento
Fávero, 65, trabalham há meçou trabalhando na lim- são pelo SUS. O
mais de 40 anos na Santa peza do hospital, disse que hospital, referência no
Casa e estão entre os três já atuou em quase todos os atendimento de média e
funcionários mais antigos setores. “A Santa Casa mu- alta complexidade, conta
da instituição, que conti- dou muito. Quando eu co- com 280 leitos, incluindo
nuam em atividade. mecei aqui, o hospital tinha a UTI (Unidade de Terapia
A história do hospital, três parteiras. O médico era Intensiva) de adultos, a
criado em 1896, se confun- só para casos graves que neonatal e a pediátrica. A
de com a própria história do precisavam de cirurgia.” média mensal de cirurgias
bairro dos Campos Elíseos. A auxiliar disse que era da Santa Casa é de 970.
“Comecei na Santa Ca- muito curiosa e que desco- O hospital filantrópico foi
sa, em 1966, como escritu- briu um jeito de acompa- criado, em 1896, como
rária e entrei para fazer a fo- nhar as cirurgias. “Eu co- Sociedade Beneficente de
lha de pagamento do pesso- nhecia o hospital inteiro. As RP e se fortaleceu, a partir
al que estava trabalhando na salas de cirurgia ficavam no de 1902, com a chegada
construção do pavilhão no- segundo andar e no andar do padre Euclides Gomes
vo. Naquela época, o hospi- de cima tinha uma espécie Carneiro, que se tornou o
tal era menor e bem diferen- de visor que dava para ficar 1º provedor da entidade.
te. A enfermaria das mulhe- vendo as operações. Falava A mudança oficial para
res ficava de um lado do cor- que ia limpar, mas o que eu Santa Casa de Misericórdia
redor e a ala masculina do queria mesmo era saber o aconteceu em 1915.
outro, não podia misturar. que estava acontecendo.” A Santa Casa em construção: no começo, três parteiras e um cirurgião
Julho de 2008 A cidAde 

Morreram no incêndio meu pai, minha


letícia lovo/especial

mãe, meus dois irmãos e quatro irmãs.


valdecir aparecido de jesus
ele diz ter se escondido em um ônibus para chegar a ribeirão e é atendido há um ano pelo cetrem.

cetrem

Por uma família


V
aldecir Aparecido de em Ribeirão e me trouxe- cura de trabalho. “Além das
Jesus é atendido no ram para o Cetrem”, afirma. orientações, eles tomam
Cetrem (Centro de Desde que chegou, Je- banho, recebem quatro re-
Triagem de Encaminha- sus recebe alimentação e feições e são encaminha-
mento do Migrante e Itine- faz tratamento médico – dos para tratamento mé-
rante e Morador de Rua), tem problemas mentais – dico.” O Cetrem está loca-
há um ano. Veio para RP, e freqüenta a escola Egydio lizado na rua Pernambuco
após perder a família em Pedreschi. “Ganhei uma fa- 1.055 (fones: 16 - 3961-2373
um incêndio em São Pau- mília”, festeja. ou 0800 771 55 24).
lo. “Morreram meu pai, mi- Marlene Gentil, coorde-
nha mãe, meus dois irmãos nadora do Cetrem, diz que
e quatro irmãs.” 60 pessoas por dia passam Os bichos já invadiram o
“Um dia entrei escondi- pelo local. A maioria é mi- quintal de Maria Clementina.
a revolução dos bichos na página 9
Valdecir de Jesus, no Cetrem: um ano de atendimento ininterrupto do no ônibus e vim parar grante e itinerante à pro-
8 A cidAde Julho de 2008
letícia lovo/especial

Na carteira
Trabalhar na Matarazzo era a Complexoindustrial
coisa mais sólida que tinha. Em 1945, a empresa
Matarazzo adquiriu
osório carlos do nascimento um terreno com 151
durante 32 anos, trabalhou nas duas indústrias nos campos elíseos. mil metros quadrados
nos Campos Elíseos
para instalação de
um grande complexo
emprego de grife industrial; o projeto

Ecos dos
de construção era de
autoria do engenheiro
civil Mário Calore. Foi
instalada na cidade duas
fábricas, a Algodoeira

Matarazzo
Matarazzo, na rua
Saldanha Marinho, e
a fábrica de tecidos
Matarazzo, na avenida
Costa e Silva. Na década
de 70, a futura herdeira
nos tempos da irfm e da cianê; 80% do clã Matarazzo, Maria
Pia, veio à cidade para
dos funcionários tinham casa participar de um desfile
dos tecidos da empresa,
na Recreativa (foto).

V
icenteBertanhaNe- gados por dia. Os ônibus Em 1981 a Fiação e
to relembra a épo- de funcionários paravam Tecelagem Matarazzo
ca em que as In- aqui em frente”, diz. foi à falência. Foi então
dústrias Reunidas Fran- Segundo Osório Car- Osório Carlos Nascimento: 32 anos de Matarazzo e Cianê adquirida pela CIANÊ
cisco Matarazzo (IRFM) e los do Nascimento, que (Companhia Nacional
a Cianê funcionaram nos trabalhou durante 32 de Estamparia), que no
Campos Elíseos. anos nas duas empresas, A empresa fazia fes- “Entrei lá no cargo ano de 1994 também
Ele vende salgados, 35 mil pessoas foram fun- tas em datas especiais mais humilde e cheguei decretou falência.
água de coco e refrige- cionárias da IRMF e da para os funcionários e às a ser encarregado. Gra-
rante em uma barraca Cianê entre 1945 e 1990. famílias. ças aos funcionários de reprodução

em frente ao prédio on- “Trabalhar na Mata- “Era uma coisa mui- lá consegui ser vereador
de estavam instaladas as razzo era a coisa mais to boa e difícil de se ver durante 17 anos. Tive o
indústrias. sólida que existia. Era hoje em dia. Tinha mui- privilégio de um dia al-
“Meu sogro tocou o emprego dos sonhos ta confraternização”, moçar com o Conde Chi-
aqui durante 30 anos, do ribeirão-pretano. Te- afirma. quinho (Francisco Ma-
mas eu assumi há pou- ve uma época, que 80% Nascimento diz que tarazzo Júnior) e ele me
co tempo. Naquela épo- dos funcionários tinham tudo o que tem na vida tratou com uma fineza
ca vendia 20 caixas de casa própria”, conta Nas- deve à Indústria Mata- difícil de se encontrar
refrigerante e até 150 sal- cimento. razzo. em patrões”, diz.
Julho de 2008 A cidAde 9

A maioria dos animais fica no quintal. Alguns gatos e galinhas


entram na casa para caçar escorpiões. O que é muito bom.
idalina pontes da silva, 79
ela mora com a filha maria clementina, na rua tamandaré, e seu quintal está sempre repleto de animais.

Que george orWell Que nada


Reino animal
A revolução dos bichos Bush e Obama se
dão muito bem

começou no quintal
Quase todos os
gatos, cachorros,
galos e galinhas da
casa têm nome. A
lista inclui Pelé, Zico,
quintal de maria clementina e idalina abriga animais de todos os tipos Bush o Obama. “O
meu Bush [galo] é
fotos letícia lovo/especial
muito tranqüilo, não

O
quintal da casa de tal. Para mim é um prazer tem nada a ver com
Maria Clementina cuidar dos animais”, afirma
o presidente. Agora
da Silva, 58, e Idali- Maria Clementina.
na Pontes da Silva, 79, pa- A aposentada Idalina eu tenho também
rece uma extensão do Bos- Pontes da Silva, 79, conta o Obama, mas é um
que Fábio Barreto. que mudou para os Campos gatinho bem loirinho”,
Mãe e filha cuidam dia- Elíseos há 59 anos quando diz Maria Clementina.
riamente de 17 gatos, dois se casou e que hoje não sai
cachorros, 20 galinhas e do bairro por nada.
galos, sem contar os ma- “Meu marido era aqui
cacos e outros animais do dos Campos Elíseos e
bosque que vêm se ali- quando casei mudei para
mentar na casa, que fica cá. Gosto muito daqui. Os
na rua Tamandaré. vizinhos são muito bons.
“O bosque fica aqui no A casa está sempre cheia
fundo de casa e sempre de gente”, diz.
vem um animal de lá. Já Idalina diz que a maioria
veio pavão e gambá. Tem dos animais fica no quintal
um macaquinho que vem da casa, mas alguns gatos
todo dia. Ele adora comer e galinhas entram na casa Olga costura 13 horas por
jabuticaba, caju e fruta do para “caçar” escorpiões. dia para doar aos carentes.
conde das árvores do quin- “O que é muito bom.” Maria Clementina com e seus gatos: vão ser amigos para sempre ponto por ponto na página 11
10 A cidAde Julho de 2008

letícia lovo/especial

tutti buonna gente

Amor viajou
em 2 navios
anibal greggi conheceu a esposa,
também imigrante, no brasil

O
s Greggi foram uma Meu pai chegou a traba-
das famílias italia- lhar numa fazenda em Du-
nas que se estabe- mont e vim para os Cam-
leceram no Barracão de pos Elíseos quando tinha
Baixo, um dos núcleos da sete anos”, conta Emília.
Colônia Antônio Prado, Emília diz que o pai, Aní-
que deu origem aos Cam- bal Greggi, teve por muito
pos Elíseos. tempo um armazém na rua
Aos 90 anos, Emília Gre- Capitão Salomão.
ggi Estevão viveu 83 anos no “Primeiro era só arma-
bairro, na rua 11 de Agosto. zém, depois ficou o arma-
“Meu pai e minha mãe zém e bar. Ele trabalhou lá
vieram da Itália no final até morrer. Funcionou qua-
do século 19, mas em na- se setenta anos e hoje meu
vios diferentes. Eles se co- sobrinho tem um escritório
nheceram aqui no Brasil. de advocacia no local.” Emília Greggi, 90 anos: ‘lembro que para ir à quermesse do asilo parecia tão longe e hoje é tão pertinho’

reprodução arquivo público municipal

Um túnel de árvores
Saudade da antiga avenida Saudade
A antiga moradora do bairro lembra do tempo em que um trecho da avenida da Saudade era dividido
por um canteiro de flores no meio por árvores que formavam um túnel da Capitão Salomão até o
cemitério. “Era tudo muito diferente. Na rua 11 de Agosto tinha umas quatro casas quando meu pai
veio. Depois de um tempo, que instalaram o poste de luz em frente da minha casa. Eu lembro que para
ir na quermesse do asilo parecia tão longe e hoje é tudo tão pertinho. Gostava tanto de ir no bosque,
quando tinha a entrada pela rua Tamandaré.”
Julho de 2008 A cidAde 11
letícia lovo/especial

Quanto mais costuro, mais feliz fico e não


me canso, mesmo costurando a noite toda.
olga cardoso dos reis, a baianinha dos campos elíseos
ela costura até 13 horas por dia e não sabe porque tem o apelido de baianinha já que nasceu em andradina.

tecido social

Pesponto do bem
olga, a baianinha, faz roupinhas e doa aos carentes

O
lga Cardoso dos mesmo tempo ajudar ou- também dou. Não escolho
Reis, a Baianinha tras crianças e desde então é meu coração que percebe
dos Campos Elíse- não parei mais”, conta. Ela a necessidade”, diz.
os, passa até 13 horas por está preparando uma cai- Olga já doou centenas
dia costurando roupinhas xa com roupinhas de bebês de peças para o HC e para o
de bebê para doar. para dar à comunidade ca- Centro de Adoção de RP.
O desejo de ajudar as rente de RP.
pessoas nasceu há 13 anos “Vou aos bairros e en-
quando ela pensou em trego às famílias carentes. Ele vendeu pára-raios e
adotar uma criança. “Pen- Muitas vezes passo na rua inventou o plano funerário.
a história de seu rosa na página 12
Olga na máquina de costura em sua casa: ‘meu coração percebe’ sei que poderia adotar e ao e vejo alguém que precisa e
12 A cidAde Julho de 2008

Naquela época, ninguém pensava nisso e ele acreditou. Hoje,


o Brasil inteiro tem plano funerário. Meu pai era inteligente.
jorge francisco rodrigues rosa
um dos filhos de francisco que seguiu no mesmo ramo , conta que, no começo, o pai vendia pára-raios

Na família perseverança

Os filhos de
Francisco Ele vendeu pára-raios, mas
inventou o plano funerário
Francisco Jorge Rosa foi
casado com Therezinha
Rodrigues e teve seis
filhos.“Apenas quatro
seguiram o mesmo ramo
do pai, dois, meu irmão e
minha irmã preferiram ser francisco jorge rosa, da funerária campos elíseos, foi um empreendedor
profissionais da saúde”, arquivo de família

O
conta Francisco.
empresário Fran- rário. Meu pai era muito
Todos os filhos têm uma
cisco Jorge Rosa inteligente e fez um con-
profunda admiração pelo
foi o fundador da trato muito bem elabo-
pai. “Era uma pessoa que
Funerária Campos Elíse- rado que foi seguido por
sabia lidar com pessoas.
os e o terceiro do Estado outras empresas do país”,
Ele era incrível. Qualquer
a crer no sucesso dos pla- conta Jorge.
lugar que chegava fazia
nos funerários. O empresário era pro-
amizade”, diz Jorge.
“No começo meu pai fessor e começou venden-
vendia pára-raios e mi- do os planos funerários
nha mãe ficava na fune- para os amigos, sem fazer
rária e às vezes havia ape- propaganda do negócio.
nas três serviços por mês. Meu pai dizia que muitas
Em 1967 ele teve a idéia vezes para esquecer as dí-
inovadora”, conta o em- vidas ele ia à matinê para
presário Francisco Rosa. distrair os pensamentos”,
Para Jorge Francisco conta Francisco.
Rodrigues Rosa, empre- Segundo Jorge, a per-
sário, o pai foi um empre- sistência do pai foi pri-
endedor. “Naquela época mordial para o sucesso
ninguém pensava nisso e do negócio. “Ele demorou
ele acreditou e hoje o Bra- um ano para formar um
sil inteiro tem plano fune- grupo de 500 pessoas.” O empresário Francisco Jorge Rosa: ele acreditou na idéia do plano

Na troca
Na troca de
de óleo
óleo do
do motor,
motor, MECÂNICA MULTIMARCAS
ganhe um
ganhe um alinhamento
alinhamento de
de direção
direção
validade 31/08/08
validade 31/08/08

INJEÇÃO ELETR. ALINHAMENTO


FREIOS/SUSPENSÃO BALANCEAMENTO
ACEITA
MOTOR/CÂMBIO TROCA DE ÓLEO
ESCAPAMENTOS PNEUS
FONE/FAX: (16) 3612 6181 / (16) 3612 1362 - R. José de Alencar, 920/930 - Campos Elíseos Rib. Preto-SP - www.mecanicazezinho.com.br
Julho de 2008 A cidAde 13

letícia lovo/especial circulando em sentidos opostos

Elas e eles na praça


do ritual do ‘footing’ nas praças saíram até mesmo casamentos
letícia lovo/especial

A
s praças dos Cam- Todos os dias às 18h,
pos Elíseos são tes- formavam-se dois grupos –
temunhas de namo- de um lado os homens e do
ros, noivados e casamen- outro, as mulheres.
tos. Foram também palco Os grupos passavam
de decepções amorosas e então a circular pela pra-
de paixões intensas. ça. Se os homens andas-
Correio elegante Especialmente nas dé-
cadas de 50 e 60 do sécu-
sem no sentido anti-horá-
rio, as mulheres passeavam
“Quando cheguei em lo 20, os jovens tinham no sentido horário.
1958, Ribeirão respirava nas praças do bairro os Quando se cruzavam,
os encantos de cidade do pontos preferidos para se era a chance de um aceno
interior. Era comum ver encontrar. ou de um olhar e até mes-
nas praças dos Campos Mas havia o ritual do mo de uma arriscada e en-
Elíseos os famosos “footing”, obrigatório pa- tão ousada piscadela.
correios elegantes e as ra quem quisesse fisgar Normalmente, eram de
apresentações da banda seu par. 30 a 40 minutos de passeio
da Polícia Militar agitavam até que os pares começas-
o bairro”, lembra reprodução arquivo público municipal
sem a se formar, primeiro
Waldomira Guidett Couto, em conversas tímidas.
72 anos, quatro netos. “A gente não podia dizer
“Amo aqui, só precisam para os pais que iríamos
cuidar da praça Santo paquerar. Aí a gente dizia
Antônio, nosso cartão que ia no footing, que pa-
postal. Quem reparar vai ra eles era ir a pé na praça
perceber que a praça tem para passear”, conta Deize
o formato da bandeira Luci Germano Flauzino, 53
nacional. Com a sujeira, anos. Ela garante que já ar-
parece reflexo do Brasil. rumou namorado no “foo-
Lembro com carinho do ting”, mas acabou se casan-
cinema que funcionava do com outra pessoa.
na Patrocínio com a
Saudade. Gostava do
Gordo e Magro e dos Ângelo Chaguri saiu de RP
filmes do Tarzan.” para o front da guerra.
Acima foto dos anos 60, da praça Santo Antônio; no alto, Deize Flausino que arrumou namorado no footing e prendeu 26 alemães na página 15
1 A cidAde Julho de 2008

Pela educação
Sempre peço para os vizinhos ajudarem a LBV.
Todos ajudaram na campanha do kit escolar. todo mundo ajuda
adelar umberto pereira pinto, 45 Os 150 meninos e meninas
morador há um ano dos campos elíseos, diretor de relacionamento interno da lbv. e conta sempre com auxílio dos vizinhos. que freqüentam o centro
comunitário Legião da Boa
Vontade (LBV) nos Campos
Elíseos se beneficiam com as
eureKa atividades socioeducacionais

Obrigado, seu Vicente!


realizadas pela instituição.
No início do ano, as crianças
receberam um kit de
material escolar. A ação
teve a participação dos
moradores dos Campos
Elíseos. Adelar Umberto
aos 79 anos, ele diz ter sido o mentor da idéia da drogaria 24 horas, Pereira Pinto, 45 anos,
mora no bairro há um
idéia que já salvou literalmente muita gente e aliviou outras tantas ano e é o atual diretor de
relacionamento interno da
letícia lovo/especial
LBV. “Sempre peço para

Q
uem já passou mal na loteria e ganhou em os vizinhos ajudarem a
durante a madru- 1943 cerca de 30 contos de LBV. A campanha do kit
gada, mas foi salvo réis. Aí ele comprou uma escolar é um exemplo de
graças ao “santo” remédio farmácia e a deixou em que eles participaram”, diz.
comprado com urgência na minhas mãos”, disse. Também este ano, as 18
drogaria deve, e muito, a A drogaria da famí- meninas do curso de balé
Vicente Travesso, 79 anos, lia passou a ser exclusiva- da instituição receberam o
morador dos Campos Elí- mente dele em 1957 quan- convite da coordenação do
seos há meio século. Ele do Travesso a comprou do Dança Ribeirão, importante
se diz o mentor da idéia da irmão com os trocados que evento de dança do Brasil,
drogaria 24 horas. ganhava na madrugada. para fazer a segunda
Na verdade, seu Traves- “Percebi que muita gente apresentação do festival.
so é farmacêutico por pai- nos procurava após o fecha-
xão. Nunca freqüentou a fa- mento. Resolvi trabalhar na divulGação

culdade, mas desde os 15 madrugada e os outros fun-


anos trabalhava em uma cionários ficavam pela ma-
drogaria em Flórida Pau- nhã. Deu certo!”, explica.
lista, interior de São Paulo. Com o sucesso das ven-
Aos 17 anos era gerente. das noturnas, Travesso abriu
Com esse currículo, outras cinco drogarias em
ele passou a administrar Ribeirão Preto que também
a farmácia da família que funcionavam 24h por dia. “A
apostou no talento de me- concorrência viu o resultado
nino. “Meu irmão jogou e copiou.” Vicente Travesso trabalhava na drogaria de madrugada: deu certo
Julho de 2008 A cidAde 1

Durante a viagem, os americanos jogaram


letícia lovo/especial

a carne seca e os cigarros Iolanda ao mar.


ângelo chaguri, 86
morador da 11 de agosto, soldado brasileiro na 2ª guerra, prendeu sozinho 26 soldados alemães

memórias da 2ª guerra

O expedicionário
A
os 86 anos, Ânge- ra a guerra sem saber. Saiu A gente ia descer no Porto
lo Chaguri, mora do Brasil, em 2 de julho de Gênova, mas como ele
na rua 11 de Agos- de 1944, a bordo do navio estava todo minado, acaba-
to e ainda lembra das suas norte-americano General mos indo para Nápoles.”
aventuras de expedicioná- Mann e desembarcou em O expedicionário lem-
rio na 2ª Guerra. Nápoles, no dia 16. “Não fa- bra até hoje da primeira
Filho do libanês Demé- laram para a gente que es- noite na guerra.
trio Chaguri e da descen- távamos embarcando para “Logo que a gente che-
dente de italianos Caroline a guerra. O navio estava no gou, recebemos muito ti-
Millani Chaguri, ele nasceu Rio e a gente pensou que ia ros de morteiro. Para me li-
nos Campos Elíseos e só para Pernambuco. Durante vrar, entrei no meio do ma-
deixou o bairro, em 1942, a viagem, os soldados ame- to e passei a noite toda so-
para se apresentar ao Exér- ricanos jogaram no mar to- zinho. De manhã reencon-
cito, em São Paulo. da a carne seca e os cigar- trei a Companhia, que esta-
Ângelo Chaguri, aos 86 anos, memórias límpidas sobre a Guerra Chaguri diz ter ido pa- ros Iolanda dos brasileiros. va bem à frente.”
fotos arquivo pessoal

Ato de coragem
‘Fui o primeiro que cheguei em cima do morro e prendi 26 alemães’
Chaguri não lutou diretamente em Monte Castelo, mas ajudou a render uma tropa alemã. “Combatemos o
exército alemão vários dias. Quando a gente conseguiu dominar o morro, eu fui o primeiro que cheguei e prendi
26 alemães.”Após a guerra, ele retornou a RP e voltou a ser “caixeiro”na Galeria das Sedas, no Centro. Depois,
entrou nos Correios. “Trabalhei dez anos como carteiro, inclusive aqui nos Campos Elíseos.” A mulher de Chaguri,
Maria Anastácia, 79, só conheceu o marido após a guerra. “A gente se casou, em 1947. Logo que ele voltou da
guerra, ele namorava a minha prima. O pai dele vendeu os carneiros para a festa de casamento dos meus pais.”
16 A cidAde Julho de 2008

dez minutos de reclamação letícia lovo/especial

iluminação pública
é fraca e dá medo
andar na rua à noite
Para a professora Maria Ribeirão Preto fechou
Helena Garcia Bossa, em março um termo de
44, muitas ruas dos compromisso com a CPFL
Campos Elíseos têm uma para substituir todas as
iluminação pública muito lâmpadas da iluminação
fraca. “Aqui mesmo na rua pública de mercúrio por
Goiás, fica superescuro sódio. No total, devem ser
em frente de casa. Dá trocados 6.000 conjuntos
medo de andar à noite na cidade até o final de
no bairro. Acho que agosto. “Todos os pontos Entrada do Bosque Municipal Fábio Barreto pela rua Tamandaré: saudade do corredor de bambus
a iluminação precisa de iluminação antigas
melhorar.” A comerciante estão sendo trocados e
Landa Lei Leonet Pereira,
69, disse que a falta de
iluminação do bairro
esse processo está bem
adiantado. A lâmpada
de sódio aumenta a
Moradores pedem reabertura da
prejudica inclusive o
funcionamento das
lojas. “Depois das 17h30
capacidade de iluminação
em até 30%, além de ser
mais econômica. Essa
entrada do Bosque pela tamandaré
fica tudo escuro. Não substituição vai melhorar A professora universitária Liberdade tem que pegar o disse que a entrada pela rua
tem a menor condição significativamente a Ruth Estevão, 65, defende carro”, diz Ruth, moradora da Tamandaré deve voltar a
de ficarmos abertos segurança das ruas”, a reabertura da entrada do rua 11 de Agosto. funcionar ainda neste ano.
até um pouco mais afirma Baroni. Bosque pela rua Tamandaré Para Maurício Morgado, “A entrada da Tamandaré
tarde. Nós não nos para facilitar o acesso dos 45, diretor da ONG Asas está fechada desde a
sentimos seguros.” moradores dos Campos da Liberdade, que atende reabertura do Bosque, em
Segundo o secretário de Elíseos. “A entrada da rua pessoas com deficiência 1999. É uma reivindicação
Infra-Estrutura Nilson Tamandaré ficou aberta física nos Campos Elíseos, a antiga dos moradores e
Baroni, a Prefeitura de por décadas e não sei entrada pela rua Tamandaré estamos buscando vigias e
Toda iluminação será porque fechou. Seria muito é muito mais acessível funcionários para reabrir essa
trocada. A lâmpada interessante para o bairro a para cadeirantes, grávidas portaria. Além de facilitar o
de sódio aumenta a reabertura. Eu cansei de ir e idosos. “A entrada da acesso dos moradores dos
ao bosque pela entrada da Liberdade é uma rampa, não Campos Elíseos, a entrada da
Aqui na rua Goiás, fica iluminação em até 30%. Tamandaré, que tinha um é uma rua. Dificulta muito o Tamandaré é menos íngreme
superescuro em frente bonito corredor de bambus. acesso.” O Chefe de Divisão do que a da Liberdade.”
de casa. Dá medo andar Todas as crianças que de Planejamento e Educação
vinham em casa eu levava no Ambiental do Bosque Fábio
de noite no bairro. bosque. Para entrar pela rua Barreto, Alexandre Gouvêa,
Nilson Baroni, Estamos buscando
secretário vigias e funcionários
Maria Helena
municipal de Seria muito para reabrir essa
Infra-estrutura
Garcia Bossa, 44, interessante para o portaria.
que quer, sim, bairro a reabertura
mais e melhor
iluminação.
da entrada pela rua Alexandre Gouvêa,
Tamandaré. chefe da Divisão
de Planejamento e
Educação Ambiental
Ruth estevão, do Bosque Municipal
65, professora
universitária, que
não entende o
fechamento
Julho de 2008 A cidAde 1

Um semáforo, por favor Aumento da violência preocupa


O aposentado Miguel Oseás, Oséas também reclama A dona-de-casa Sônia voltou já tinham levado Marcelo Antonio Jeronimo
61, diz que já viu muitos da falta de sinalização no de Oliveira, 54, disse que o rádio.”A pensionista de Melo, disse que os
acidentes no cruzamento bairro.“Faltam placas de falta policiamento nos Leonilda de Freitas Colli, índices de criminalidade
da rua Paraíba com a rua pare.” O superintendente Campos Elíseos. Para ela, 78, que mora há 51 anos nos Campos Elíseos estão
Patrocínio.“Aqui é um dos da Transerp, Antonio Carlos uma ocorrência cada vez nos Campos Elíseos, diz controlados.“É lógico que o
cruzamentos mais perigosos Muniz, disse não haver mais comum no bairro é que a segurança no bairro morador que está no bairro
de Ribeirão Preto. demanda para um semáforo o furto de aparelhos de piorou muito nos últimos há muito tempo sentiu
O pessoal que vem da no cruzamento da Paraíba CD de carros que ficam anos.“Moro aqui desde que uma diferença, mas isso é
Paraíba não tem paciência com a Patrocínio.“Já fizemos parados à noite, próximo me casei e lembro que era resultado do crescimento
para esperar e acaba medições de fluxo e não há do Centro Universitário supertranqüilo. A gente da cidade. A PM inaugurou
batendo. Passou da hora necessidade técnica. Nesse do Moura Lacerda, na rua colocava as cadeiras na uma base na avenida da
de ter um semáforo aqui.” caso, o semáforo pode até Padre Euclides.“Moro frente da garagem e ficava Saudade, que reduziu
Nascido nos Campos Elíseos, dificultar o trânsito.” na Capitão Salomão e o conversando. Hoje não dá ainda mais os índices de
negócio está feio. Meu mais para fazer isso. Outro criminalidade.” “As pessoas
filho deixou o carro em dia mesmo entraram numa precisam tomar cuidados
O cruzamento da Não há necessidade frente de casa apenas para casa aqui da rua”, afirma e evitar deixar objetos de
Paraíba com a técnica de semáforo. tomar banho. A hora que Leonilda, que mora na João valor dentro dos veículos.”
Patrocínio é perigoso. No caso, ele pode até Ramalho. O comandante
Antonio da 1ª Companhia do 3º
É preciso um semáforo. dificultar o trânsito. Carlos Muniz, A PM inaugurou uma
A violência cresceu. Batalhão da PM, capitão
superintendente
da Transerp.
A gente colocava cadeiras base na avenida da
na rua para conversar. Saudade e os índices de
Hoje não dá mais. criminalidade caíram.
Miguel Oséas, 62,
aposentado, para Leonilda de
quem o cruzamento Freitas Colli, 78, Capitão PM Marcelo
é um dos mais pensionista que Antonio de Melo,
perigosos da ainda lembra do comandante da
cidade. bairro tranqüilo. 1ª Companhia.

letícia lovo/especial

Pombas‘carimbam’pedestresnapraça
Os moradores dos Campos andarilhos. Tem uma árvore ali voltam para dormir à tarde
Elíseos reclamam da sujeira que não dá para passar perto tem que ficar esperto se não
da praça Santo Antônio, por causa do cheiro de xixi”, você vai ser atingido”, afirma.
provocada pelas aves e por afirma o taxista Paulo Sérgio O secretário de Infra-Estrutura,
grupos de andarilhos que Alvarenga, 42. O aposentado Nilson Baroni, disse que a
passam à noite no local. Antonio Esteves, 70, que prefeitura realiza diariamente
“Expulsaram as pombas da mora há 50 anos nos Campos a manutenção e limpeza da
praça da Catedral e elas vieram Elíseos, disse que deixou de praça, mas que iria checar se
todas para cá. Faz mais de ano freqüentar a praça por causa a lavagem da praça estava
que ficou essa sujeira aqui na da sujeira e da presença dos incluindo no contrato de
praça. A partir das 17h, elas andarilhos. Vicente Moraes, prestação de serviço.“Essa
começam a chegar em bandos. 43, disse que já foi carimbado questão da lavagem diária não
Além das pombas, têm os pelas aves.“Quando elas resolve o problema da sujeira.”

tem uma árvore na praça que não dá para


passar perto por causa do cheiro de XiXi.
paulo sérgio alvarenga, 42, taXista do ponto da praça santo antÔnio.
Banco da Praça Santo Antônio: o cocô das pombas cobriu a estrutura
18 A cidAde Julho de 2008

elefante gelado
O Dumbo [elefante dos desenhos da Disney]
só gosta de sorvete se for Bimbo. Dumbosógosta
seforBimbo
o garoto da propaganda do sorvete Na década de 50, quando
os slides do ‘comercial’ dos sorvetes bimbo que passavam no cinema, nos anos 50, antes dos filmes. a família Sponchiado
adquiriu a fábrica, passou
a utilizar um elefantinho
mais de 100 anos na luta (o Dumbo, da Disney) em
sua propaganda.“Quem

‘Vamos levando no peito’


freqüentou cinemas
naquela época deve
lembrar. Antes do filmes,
passavam alguns slides
de propagandas. O nosso
tinha o Dumbo e um
família sponchiado conduz a fábrica de sorvetes bimbo desde os anos 50 garoto dizendo: O Dumbo
só gosta de sorvete se
letícia lovo/especial for Bimbo”, recorda o

A
proprietário. Taís Oliveira
fábrica Bimbo fica
Marques começou a
na rua Padre Eucli-
trabalhar na fábrica de
des, 877, nos Cam-
sorvetes Bimbo há um
pos Elíseos, e tem uma
ano e desde então se
produção de 5 mil sorve-
apaixonou pelo sorvete.
tes por semana.
“Eu não conhecia e hoje é
“Nossa empresa foi fun-
o meu preferido. O sabor é
dada em 1890 e estamos
muito bom”, diz.
na luta há 100 anos. Mui-
tas vezes temos que con-
correr com outras empre-
sas que para tirar o nosso
freezer dão até outro cheio
de sorvete de graça, mas le-
vamos tudo no peito e es-
tamos sobrevivendo”, diz o
proprietário José Roberto
Sponchiado, 61 anos.
Ele conta que muitas
pessoas que hoje são mé-
dicos, advogados e comer-
ciantes começaram a vida
profissional na modesta fá-
brica de sorvetes. “Muita
gente fez bico aqui e hoje
está bem de vida.” José Roberto Sponchiado, entre as máquinas de sorvete: ‘sobrevivendo’ em um mercado competitivo
Julho de 2008 A cidAde 19
20 A cidAde Julho de 2008

O sabor do sorvete é muito bom e fica pertinho de casa. Pelo


menos uma vez por semana tenho que trazer as meninas aqui.
daniela carla carreira, 30
mãe de paula, 15, gabriele, 13, e tainá, 8, que, toda a semana tomam sorvete pelo menos uma vez na sorveteria do geraldo .

letícia lovo/especial

mestre sorveteiro
0 sabores
Geraldo é Detomatecomsal
A lista de sorvetes

igual a sorvete
do Geraldo inclui 40
sabores, entre eles
gengibre, jabuticaba e
até tomate. “Já tentei
fazer sorvete com tudo.
no verão, duas mil pessoas por dia Esta semana recebi uma
encomenda para fazer
um sorvete de tomate.

U
m dos pontos mais aprendeu a fazer sorvetes, Já tinha feito antes,
movimentados dos em 1960, quando come- mas agora coloquei sal
Campos Elíseos é çou a trabalhar na antiga a pedido do cliente.”
a esquina da avenida da sorveteria Oscarino. A produção da
Saudade com a rua Ani- “Eu abri a minha sorve- sorveteria é artesanal.
ta Garibaldi, onde funcio- teria no Centro há 45 anos.
“É um sorvete que de
na há 33 anos a Sorveteria Eu cheguei a ter cinco lojas,
do Geraldo. mas depois ficou difícil de um dia para o outro fica
Nos fins de semana de ve- controlar e decidi ficar ape- duro. Por isso, fazemos
rão, o local chega a receber nas com a dos Campos Elí- sorvete todo dia a
duas mil pessoas por dia. seos. Aqui vem gente da ci- partir das 6h.”
“O sabor do sorvete é dade toda e até de municí-
muito bom e fica perti- pios vizinhos”, diz ele. letícia lovo/especial

nho de casa. Pelo menos O bom do bairro, afir-


uma vez por semana te- ma Geraldo, é que tem uma
nho que trazer as meni- população estável.
nas aqui”, diz a moradora “O pessoal já se acostu-
dos Campos Elíseos Da- mou com a gente. Eu mes-
niela Carla Carreira, 30, mo morei aqui 35 anos”, afir-
mãe das filhas Tainá, 8, ma Geraldo, o homem que
Gabriele, 13, e Paula, 15. dá nome a um dos mais fa-
Geraldo Caramori, 71, mosos sorvetes da cidade. Geraldo, na sorveteria nos Campos Elíseos: ele chegou a ter 5 lojas
Julho de 2008 A cidAde 21

êita, coisa boa!

Bala Chita não pode faltar


joão rucian ruiz fundou a fábrica da bala, uma das mais conhecidas do país, no campão
letícia lovo/especial

B
ala Chita não pode Ruiz projetou a indús-
faltar”. É assim que o tria porque, na época, não
comerciante José Tei- havia equipamento no país
xeira atende o freguês que para fazer o produto. Esco-
chega ao bar dele, nas ruas lheu como símbolo a Chita
Sergipe com Goiás, pedin- que acompanhava o então
do a tradicional bala que campeão olímpico de na-
nasceu nos Campos Elíseos tação Johnny Weissmüller
e ganhou o gosto do povo. nos filmes de Tarzan.
Segundo ele, a Chita é O fundador morreu em
uma das balas mais procu- 1985 e a empresa passou
radas pelos fregueses, prin- pelo controle dos herdei-
cipalmente a de sabor aba- ros, que em 2006 deu as In-
caxi. “Todo mundo conhe- dústrias Cory a licença pa-
ce, todo mundo quer”, diz. ra fabricar a bala.
A fábrica foi fundada
pelo espanhol João Rucian
Ruiz em 1945. Hoje, tem Os causos de Dito, garçom
blog na internet e duas co- no Bosque por 42 anos.
de bandeja na página 23
José Teixeira, em seu bar, na esquina da Sergipe com Goiás: ‘todo mundo quer, especialmente a de abacaxi’ munidades no Orkut.
22 A cidAde Julho de 2008

Faço treinos de manutenção na rua. A maior parte da preparação


tem que ser na pista. A cava é perto de casa.
sueli aparecida vieira, 37
líder do campeonato brasileiro de corrida de rua, ela freqüenta a pista da cava do bosque diariamente. reivindica mais atenção e manuntenção para o local.

matHeus urenHa

para todos

A nascente
do esporte
pelo menos três mil pessoas
participam das escolinhas na cava

T
rês mil pessoas par- tatame para as lutas mar- O ginásio poliesportivo da Cava do Bosque: local é o principal complexo esportivo da cidade
ticipam por mês das ciais e as atividades de gi-
escolinhas esportivas nástica artística e rítmica,
na Cava do Bosque, o prin-
cipal complexo esportivo
de RP e que foi inaugura-
uma quadra poliesportiva,
uma sala de musculação,
vestiários, além de ser sede
Na pista com Sueli
do nos Campos Elíseos, em da Secretaria de Esportes.
13 de outubro de 1952. A 1ª
estrutura do complexo foi
“É o principal comple-
xo esportivo de Ribeirão. A
A estrutura é boa, mas precisa de manutenção
o ginásio poliesportivo, pa- pista de atletismo e a pis- O complexo esportivo da atletas que freqüenta bom da Cava é que posso
ra que a cidade pudesse ser cina são muito freqüenta- Cava funciona diariamente a pista de atletismo da entrar qualquer hora e fica
sede dos Jogos Abertos do das pela população. Hoje, das 6h às 21h. A entrada é Cava do Bosque é Sueli perto da minha casa.” Sueli
Interior daquele ano. Ribei- a Cava está pequena pa- pela rua Camilo de Mattos, Aparecida Vieira, 37, atual é professora e começou
rão sagrou-se campeã. ra o tamanho de Ribeirão, 627. A Cava concentra o líder do Campeonato correr profissionalmente
Entre os destaques do mas o ginásio já teve ines- treinamento das equipes Brasileiro de Corrida de há três anos. Diz que o
complexo estão o Ginásio quecíveis jogos de vôlei da que representam Ribeirão Rua.“Faço alguns treinos de complexo esportivo da Cava
da Cava, com capacidade Recreativa, de basquete do nas competições oficiais manutenção na rua, mas a oferece boa estrutura para a
para 3.500 pessoas, a pis- COC e competições inter- como Jogos Regionais e maior parte da preparação população, mas que precisa
ta de atletismo e a piscina nacionais”, diz o secretário Jogos Abertos. Um dos tem que ser na pista. O uma melhor manutenção.
olímpica. A estrutura inclui de Esportes, Paulo Pícolo.
Julho de 2008 A cidAde 23

O prefeito Condeixa
letícia lovo/especial

dá saudade
foi meu padrinho. Brincadeira
benedito ferlim, 72, o dito garçom nasvaletas
ele conta que o prefeito condeixa despachava do restaurante. Orestaurantefechouem
1996. “Proibiramamúsica
aovivo paranãoestressaros
de bandeja animais.Dásaudade.”
DitonasceunosCampos

Dito Garçom
Elíseosesempremorouna
11deAgosto. “Quandonasci
tinhaumacasanomeiodo
terreno.Depois,aminha
irmãconstruiuumaatráse

B
minhamãecedeuaparteda
enedito Ferlim, 72, zendeiros da região eram
frenteparaergueraminha
o Dito, foi garçom clientes do restaurante. O
casa.Ficoutudoemfamília.
do restaurante do prefeito Condeixa (Alfre-
Lembroquandoaquiera
Bosque por 42 anos. “Co- do Condeixa Filho, pre-
tudoterra.Eubrinqueinas
mecei lavando pratos, aos feito entre 1952 e 1955 e
valetas,quandoopessoal
14, e cheguei a garçom. 1960 a 1964) saía do Palá-
estavacolocandoaredede
Me aposentei, em 1986, cio Rio Branco e vinha pa-
águaeesgoto”,diz.
mas trabalhei até 1992.” ra o restaurante. Sentava
O restaurante ficava numa cadeira de balan-
logo na entrada do bos- ço e despachava os docu-
que pela rua Liberdade. mentos da prefeitura. Era
Era freqüentado pela eli- um cliente tão ativo, que Bosque é ilha verde e fresca
te, inclusive por prefei- ele acabou sendo meu pa- no meio de Ribeirão.
vale um passeio na página 24
Dito foi garçom do restaurante do Bosque Municipal por 42 anos tos de RP. “Usineiros e fa- drinho de casamento.”
2 A cidAde Julho de 2008

A temperatura interna no Bosque chega a ser Pipoca e doce


quatro graus menor do que na região central. A barraquinha
aleXandre gouvêa da Leila
chefe de divisão de planejamento e educação ambiental do bosque municipal fábio barreto. A comerciante Leila
Pelegrini, 52, trabalha
letícia lovo/especial
junto com a mãe
a bicharada tÁ solta Aparecida Pelegrini, 73,

É uma
há 38 anos vendendo
doces, amendoim,
pipocas e salgados no
Bosque. “Com 14 anos
comecei a ajudar a minha
mãe. Nossa barraquinha

ilha verde
ficava em frente das
araras. Lembro do tempo
que tinha a banda do
bosque e o trenzinho
para as crianças.” Leila
disse que o Bosque
mudou nos últimos
bosque municipal e zoolÓgico anos. “É uma área verde
muito boa para andar.
atraem 5 mil pessoas aos domingos Acho que falta um pouco
de divulgação para
transformar o bosque

A
em um ponto turístico
nimais soltos ou em central”, diz o chefe de Divi-
de Ribeirão.” Ela é uma
cativeiros, mais de são de Planejamento e Edu-
dos seis comerciantes
216 mil m² de área cação Ambiental do Bos-
autorizados a vender
verde e um trecho rema- que, Alexandre Gouvêa.
alimentos na área das
nescente de Mata Atlânti- Entre os atrativos estão
lanchonetes do bosque.
ca, marcam a paisagem do o Zoológico, o Jardim Japo-
Bosque Municipal Fábio nês e o Mirante.
Barreto, inaugurado nos Há também duas trilhas Bosque Fábio Barreto, inaugurado em 1937 nos Campos Elíseos letícia lovo/especial

Campos Elíseos, em 1937 – uma de Mata Atlântica e


– o zoológico, que funcio- outra de anjicos e aroeiras
na dentro do bosque, foi – que podem ser visitadas. rário das cobras e o setor símbolo do bosque.”
aberto, em 1942. (grupos de escolas ou por dos felinos. Também é O bosque recebeu o
“O bosque é um lugar agendamento). possível encontrar mui- nome do prefeito Fábio
seguro e agradável para os O zoológico do Bos- tos animais de vida livre. Barreto, que inaugurou
pais virem com os filhos. que tem 660 animais em Nas copas das árvores, o recinto e o zoológico.
A temperatura no bosque cativeiros, mais os ani- dá para ver sagüis, maca- Funciona de quarta a do-
chega a ser quatro graus mais soltos. “Um dos lo- cos, periquitos e há mui- mingo, das 9h às 15h30. A
menor do que na região cais mais visitados é o ter- tas cotias, animal que é o entrada é gratuita.
Julho de 2008 A cidAde 2
fotos letícia lovo/especial

As grandes capelas indicam a riqueza da


região durante o auge da cultura cafeeira.
maria elizia borges
pesquisadora diz que imagens sacras representam exaltação da morte e intolerância com a perda de pessoa querida.

um outro olhar

Da Saudade
O túmulo de Zezinho sempre cheio de oferendas: menino milagroso
e das artes
cemitério é considerado ‘museu a céu aberto’

O
cemitério da Sau- xo, pessoas que se assusta- No cemitério são en-
dade tem 116 anos ram com a quantidade de contradas imagens sacras,
e é considerado um escorpiões e até a história que segundo a pesquisa-
museu a céu aberto pelos de uma mulher que caiu em dora Maria Elizia Borges,
moradores de RP. No lo- um buraco do cemitério. representam “a exaltação
cal, estão sepultadas 120 O cemitério tem túmu- da morte, a intolerância de
mil pessoas. los de várias famílias tradi- perder um ente próximo
“Temos o cemitério mais cionais, mas o jazigo mais e também a imortalizarão
antigo da cidade e túmulos visitado é o do menino Ze- dos mesmos”. Segundo ela,
de pessoas famosas como zinho. “Ele é considerado nos túmulos do século 19
Veiga Miranda que foi o pri- milagroso e morreu aos 10 e início do século 20 predo-
meiro ministro civil da Ma- anos de idade, na década de minam símbolos cristãos.
rinha e era de Ribeirão”, diz 50”, diz o Antônio Schiave- As grandes capelas indicam
Abrão Calil Bitar, adminis- lato, taxista, que parou para a riqueza da região durante
trador do cemitério. olhar as oferendas levadas o auge da cultura cafeeira.
O local tem histórias pelos fiéis ao menino.
curiosas, como a de gru- Na última terça-feira,
pos de jovens da tribo gó- no local foram encontra- Devota conversa com Santo
tica que usavam as lápides dos bolo de chocolate, bala Antonio na igreja.
ela tem muita fé na página 27
Obras sacras no Cemitério da Saudade: esplendor dos tempos do café dos túmulos para fazer se- e refrigerantes.
26 A cidAde Julho de 2008

Dom Luís Périgo deu muitas voltas pelo país todo e quando veio a Ribeirão
achou que era o melhor lugar para a nossa obra.
dom hipólito tedeschi
pároco da igreja de santo antônio, contando como o local foi escolhido para a construção da única igreja da ordem dos beneditinos-olivetanos.

obra única

Foram 27 anos de construção


Uma conversa
com o santo
A senhora de
jeito simples vai
igreja de santo antônio é a única da ordem dos beneditinoolivetanos periodicamente na
igreja Santo Antônio
weber sian
conversar com o santo.

A
igreja Santo Antônio A intimidade entre
foi fundada em 1947 os dois é tão grande
pela comunidade que ela troca idéias,
dos Beneditinos e Oliveta- confidências e quem
nos que tinha à frente Dom
observa de longe
Luis Périgo. A construção
demorou 27 anos. tem certeza que ela
“Ele deu muitas voltas está tendo uma longa
pelo país todo e quando conversa com a imagem
veio a Ribeirão Preto achou e está ouvindo as
que aqui era o melhor lu- respostas dele.
gar para a nossa obra”, diz “Parece que ela tem
o padre Hipólito, Tedeschi, intimidade com o
78 anos, monge benediti- santo. Ela conversa
no-olivetano. com ele como se ele
A congregação possui
estivesse escutando.
igreja apenas em Ribeirão
Preto e uma paróquia em Ela tem uma fé muito
São Paulo. grande”, diz Margarida
Do lado da igreja, tam- Dom Hipólito na igreja de Santo Antônio, a única da ordem dos beneditinos-olivetanos no país Del Lama, 60 anos,
bém está instalado o mos- secretária da igreja. Ela
teiro onde estão abrigados não quis revelar o nome
os monges da congregação “Eles ficavam no Alto missas de segunda a sá- que são encaminhados pa- da devota. Margarida
e os Campos Elíseos conta do São Bento e desde que bado às 7h e 19h e aos do- ra entidades assistenciais trabalha na secretaria da
ainda com mais sete cape- diminuiu o número eles mingos às 7h, 8h30 e 19h. da cidade. “Nossa comu- igreja há 20 anos .
las instaladas em diferentes vieram para cá”, diz. Toda terça-feira, a igre- nidade é muito boa e cari-
pontos do bairro. Na igreja, são rezadas ja recebe doações de pães, dosa”, afirmou o padre.
Julho de 2008 A cidAde 2

comércio
letícia lovo/especial

Avenida da Saudade, o principal eixo comercial dos Campos Elíseos: comércio diversificado

De uma agulha
a um avião
são mais de 1,6 mil estabelecimentos, em uma
região que cresce economicamente

N
o comércio dos Campos para cá, havia umas cinco lojas na
Elíseos, é possível encon- avenida. Hoje, a Saudade pratica-
trar de uma agulha a um mente não tem mais espaço para
avião. A frase do diretor da dis- o comércio. Por isso, que as lojas
trital leste da ACI-RP (Associa- estão migrando para as ruas mais
ção Comercial e Industrial de Ri- próximas.”
beirão Preto), Waldomir Sandrin, A força do comércio dos Cam-
80, em tom de brincadeira, mos- pos Elíseos é tão grande que a
tra exatamente como é diversifi- avenida da Saudade é o único lo-
cado e completo o centro comer- cal da cidade que tem área azul
cial do bairro. fora da região central. “A área
São 1.680 estabelecimentos co- azul facilita o acesso do consumi-
merciais e prestadores de serviço dor ao comércio do bairro. Já está
cadastrados na ACI-RP. precisando expandir a área azul
“Hoje, o comércio local não es- para as ruas próximas da avenida
tá só na Saudade. Está também na da Saudade. Está cada vez mais
Luís Barreto e na São Paulo”, diz difícil conseguir uma vaga para
Sandrin. estacionar.”
Sandrin, que nasceu nos Cam-
pos Elíseos, é um dos primeiros
comerciantes da avenida da Sau- A receita da italianíssima e
dade. Ele abriu a Relojoaria San- tradicional ficassa baresa.
para fazer e comer na página 28
drin há 40 anos. “Quando eu vim
28 A cidAde Julho de 2008

Tem para todos


Meus irmãos e meus primos brigavam pelos frangos. Minha AReCeitA

avó sempre fazia um galeto para cada um para não dar briga. Ficassa baresa
Ingredientes:
irene camila matteoni
- Meio quilo de batata
é dela a ‘ficassa baresa’, cuja receita está nesta página. ela se lembra de uma casa com fartura e comida à vontade.
- Meio quilo de farinha de trigo
- Meio copo de requeijão de óleo
letícia lovo/especial
- Duas colheres de sopa de pó
Royal (colher cheia)
de lamber os beiços

A ficassa
- Uma colher de chá de sal
- Um copo de requeijão de leite

Modo de fazer
Cozinhe as batatas e
passe ainda quente pelo

baresa
espremedor. Deixe esfriar,
junte a farinha e os
ingredientes e amasse com
as mãos. Unte uma assadeira
com bastante margarina e
abra a massa com as mãos
em uma assadeira de 30 a 40
centímetros. A ficassa pode
ficassa, ou focaccia, é uma espécie ser recheada com tomate
fatiado, aliche, mozarela e
sardinha. “Por cima pode
de pão coberto com queijo colocar orégano”, diz. Deve
ficar no forno entre 15 e 20
minutos. “Coloque no forno

A
dona-de-casa Irene meu pai nasceu no meio do pré-aquecido e deixe ele alto.
Camila Matteoni mo- caminho. Eu me lembro de Para ver se está pronto basta
ra nos Campos Elí- uma casa com fartura e co- levantar a borda. Se tiver
seos há 55 anos e lembra mida à vontade”, diz Irene. dourada pode tirar”, diz.
com carinho da ficassa ba- Ela conta que a avó fazia
resa – uma espécie de pão todo o domingo um galeto letícia lovo/especial

com condimentos e cober- para cada neto, para que um


tura, também, chamado de não disputasse com o outro.
focaccia ou fogaça em por- “Meu irmão e meus pri-
tuguês – que a avó, Irene mos brigavam pelos fran-
Gallo produzia todo o do- gos e ela fazia sempre mais
mingo após trabalhar a se- de um para não dar confu-
mana no restaurante e sor- são”, conta. De todas as co-
veteria do Gallo, tradicional midas preparadas pela avó
nos Campos Elíseos. a que ficou no fundo da me-
“A família do meu pai mória de Irene foi a ficassa,
veio da Itália em 1915 e a verdadeira pizza italiana. Irene com a ficassa baresa: a verdadeira pizza italiana
Julho de 2008 A cidAde 29

Ela é legal demais. Sempre pedi uma irmã. Quando meus ela se foi
pais me disseram que ela ia chegar quase chorei de emoção. Falta o tempero de
felipe eduardo fuzaro, 8 anos Maria Raimunda
a irmã ana luísa nasceu há 50 dias e ele diz que até já se acostumou com o choro dela durante as madrugadas.
Maria Raimunda Brás,
morreu com 102 anos de
idade. Filha de italiano
ela chegou com mineiro, ela nasceu

Ana Luísa é Docinho


em Belo Horizonte e
veio para Ribeirão Preto
há 39 anos. Teve cinco
filhos e sete bisnetos.
Gostava de cozinhar e
a comida que possuía
a menina é calma e tem no irmão felipe, 8 anos, seu maior fã um traço de mineirice e
toques italianos.“Minha
letícia lovo/especial avó sempre trabalhou na

F
elipe Eduardo Fuza- roça. Quando chegou a
ro, 8 anos, é o maior fã Ribeirão trabalhou como
da irmã Ana Luisa Fu- doméstica. Era cozinheira
zaro, que completou no dia de mão cheia”, diz Pedro
24 de julho, 50 dias. Carlos Lúcio Neto. Conta
“Quando meus pais me que quinze dias antes
disseram que ela ia che-
de morrer a avó ainda
gar quase chorei de emo-
ção”, diz Felipe. cuidava das finanças da
Ana Luisa nasceu com casa.“Ela fazia questão de
2,850 quilos e 47 centíme- administrar tudo.”
tros. A mãe a chama de Do-
cinho. “Ela é muito calma”, reprodução

diz Adriana Maria Teles Fu-


zaro, gerente de RH.
Felipe já se acostumou
com o choro da irmã e não
acorda mais à noite.
A mãe atribuiu o bom
relacionamento dos filhos
ao preparo das conversas
que ela e o marido Edu-
ardo de Souza Fuzaro ti-
veram com o menino du- Solidariedade no
rante a gravidez. “Explica- atendimento aos idosos.
asilo do padre euclides na página 30
mos tudo a ele.” Adriana com Ana Luísa e Felipe: preparado pelos pais durante a gravidez, Felipe se mostra apaixonado pela irmã
30 A cidAde Julho de 2008

A senhora desceu do táxi e pediu para eu pagar. Disse que


tinha vindo morar aqui. Está com a gente até hoje.
irmã maria ferreira de melo, 69
ela trabalha no asilo fundado pelo padre euclides há 33 anos

letícia lovo/especial

assistência

O asilo do
Padre Euclides
entidade fundada em 1919 atende
45 mulheres e 26 homens

O
Asilo Padre Eucli- siões especiais.
des foi fundado em O atendimento é gratui-
1919 pelo Padre Eu- to, mas quem tem benefí-
clides que estava incon- cio contribui com a quan-
formado com a quantida- tia que pode. “Sobrevive-
de de idosos que vivia pe- mos de aluguéis de casas e
rambulando pelas ruas de doações do povo em geral”,
Ribeirão Preto. diz a irmã Maria Ferreira de
Com as economias que Melo, 69 anos, que trabalha
tinha, 20 contos de réis, no local há 33 anos.
Padre Euclides comprou o Segundo ela, o asilo es-
terreno na avenida Sauda- tá cheio de histórias engra-
de e começou a construir o çadas. “Uma vez parou um
prédio. Hoje, a casa atende táxi na porta e uma senho-
45 mulheres e 26 homens. ra desceu e me chamou pa-
Eles recebem alimentação, ra pagar. Disse que tinha
assistência médica e odon- vindo morar aqui e que era
tológica. Também partici- para eu pagar o táxi. Eu pa-
pam de passeios periódi- guei e ela está aqui até hoje
cos e fazem festas em oca- com a gente”, conta. O asilo Padre Euclides, nos Campos Elíseos: solidariedade e atendimento aos idosos
Julho de 2008 A cidAde 31
32 A cidAde Julho de 2008

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