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No meu relógio, três ponteiros marcam vinte e uma horas, cinquenta e nove minutos e mais
quarenta segundos. É nesta altura do dia que os temíveis "mahindras" prosseguem recolhendo
o cidadão que se fizer a rua sem motivo de força maior. Falo dos doentes e dos trabalhadores
da área da restauração, não falo de mim, que me meti nesta encruzilhada quando ia a casa da
Elisa, mulher que desde menino mostro amar.
Decidi vestir o meu corpo com as melhores peças de tecido de algodão, trajei uma calça jeans,
sapatos castanhos e uma camiseta branca, sim, todas as condições estavam criadas para pisar a
estrada com classe e confiança. Antes de sair, entrei num relacionamento com o meu espelho
o objetivo era único, ouvir um elogio de mim para mim. E para findar a minha arrumação,
borrifei o perfume em mim enquanto lançava um sorriso desigual, em voz baixa disse ao meu
íntimo—"aquela gaja vai me sentir".
Sai do quarto cheio de mim, afinal, ia fazer uma das loucuras que deixaria qualquer mulher
boquiaberta, quem não ficaria? Ia despedir do meu irmão mais velho, Mano Djangue, que
estava sentado na sala de ouvidos apurados no noticiário sobre a nova mutação da Covid-19.
Suspirei e indaguei:
— Tome cuidado, não deves sair a esta hora, é perigoso— disse Djangue, preocupado.
— Não sabes que estamos sob decreto de recolhimento obrigatório? A partir das vinte e uma
horas, na cidade de Maputo, Matola, distrito de Boane e na vila de Marracuene?
— Relaxa Mano, isso é NKOBE, essa cena só funciona na cidade de Maputo, não viste os
vídeos a circularem no whatsapp’s do Edu?
Em passos leves e despercebidos, vou caminhando nas urbes de NKOBE, onde reside escassez
de luz e diversos recursos indispensáveis. Pontapeei o decreto presidencial e projectei o meu
corpo á casa da Elisa. As ruas já estavam solitárias, barracas adormecidas e sem nenhuma
circulação de viatura, consequências no recolhimento obrigatório. O medo me abraçou, o
coração não parava de palpitar, batia tão forte que quase rasgava-me o peito, entretanto, a soma
do desejo de impressionar a Elisa era maior que o medo de me relacionar com as celas.
Cerca de trinta minutos depois de ter saído de casa, já me encontrava na zona da Elisa. Uma
jovem de vinte anos de idade, com altura totalmente em acerto com a sua idade. Cara lisa e
divorciada de gotículas de borbulhas, fruto de óleo de amêndoas, com pele clara como as águas
cristalinas do oceano atlântico, olhos como a cor de chocolate. Que mulher!
Vestido de ansiedade e louco para fazer valer o dia, procurei o contacto da Elisa no meu
telemóvel, e o mesmo havia gravado, rainha da babilónia, então, decidi ligar…
— Thumm, Thumm— chamava o telemóvel da Elisa.
— Boa noite— atendeu Elisa, distante da paciência.
— Ola, tudo bem? — Respondi num tom excitante e mesclado de sorriso.
— Sim, estou!
— Também estou bem, advinha onde estou agora?
— Não sei, não sou boa em adivinhas, diga logo— Respostou Elisa, impaciente.
— Estou fora da sua casa, vim te ver, prova de amor que tanto sinto por você!
— Elton! O que se passa contigo? Estas a faltar-me o respeito! Disse furiosa, Elisa.
— Mas Elisa….Fui interrompido.
— Mas Elisa o quê? São horas de ligar essas, e me convidar para sair?
— Não faças isso comigo, Elisa. Por favor! — Implorava.
— Não me diga que comprei á borla o presente que trago em minhas mãos para ti!
CONTINUA….