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“Mitos sobre a Tributação no Brasil “1

Rosa Chieza

“A prática e nossa teimosia de 10 anos NESTA ação, contribui para , além de


despertar PARA A CIDADANIA, Contribui para esclarecer vários MITOS, dos quais
irei deter-me apenas a dois,, largamente difundido pela imprensa, com a qual
muitas vezes a luta entre a pesquisa científica e o poder da mídia torna-se desleal
contribuindo assim, muitas vezes, para a manutenção de amarras do século XIX.

Quais são estes MITOS ?

1. Mito 1 _ A Carga tributária brasileira é a mais alta do mundo! E que


TODOS nós pagamos muitos tributos.

2. Mito 2 - O custo do Estado é bancado apenas por uma parcela dos


cidadãos que paga tributos, enquanto que os que recebem
benefícios do Estado não contribuem.

Pois bem, segundo dados de 2014, o Brasil possui a 14º carga tributária do mundo
com 33,47 %, ou seja, em média cada contribuinte brasileiro destina, 33 % da sua
riqueza anual para o Estado, nas suas 3 esferas UNIÃO, ESTADOS E MUNICÍPIOS.
Mais importante que esta média, é analisar, QUE TIPO DE TRIBUTOS se paga no
Brasil comparativamente com o resto do mundo e quem efetivamente paga estes
TRIBUTOS.
E assim, comparando o BRASIL COM países desenvolvidos e tb COM o “Iguais “,
ou seja, em desenvolvimento.

1
Extraído do discurso da Professora Doutora Rosa Chieza, do Departamento de Economia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na cerimônia de entrega do Diploma de Honra ao
Mérito na Câmara Municipal de Porto Alegre em 29/4/16 pelo seu trabalho com seus alunos
de participação nas audiências públicas de prestação de contas do município. Foram mantidos
os destaques da autora. Título atribuído de acordo com o segmento do texto, com caráter
meramente orientativo do conteúdo.
OBSERVA-SE QUE:
Enquanto nos países desenvolvidos, a maior parte da ARRECADAÇÃO PROVÉM
DE TRIBUTOS DIRETOS, que INCIDEM SOBRE RENDA/PROPRIEDADE E CAPITAL,
O BRASIL, daí sim é campeão do MUNDO NA TRIBUTAÇÃO INDIRETA! OU seja,
sobre BENS E SERVIÇOS (CONSUMO). E QUE NÃO LEVA EM COSNDIERAÇÃO A
CAPACIDADE DE PAGTO DO CONTRIBUINTE.
E ASSIM AQUELA CARGA TRIBUTÁRIA MÉDIA DE 33%, ao analisarmos por níveis
de renda observa-se, em função desta predominância de IMPOSTOS INDIRETOS,
Que :
i) Famílias que recebem até 02 Salários mínimos mensais: ou seja $
1.760,00
TEM UMA CARGA TRIBUTÁRIA DE 49%, ou seja, este cidadão, que gasta grande
parte da sua renda para o consumo, destina praticamente 50% da renda em
forma de tributos, TRABALHA 06 MESES POR ANO PARA pagar tributos.
Por outro lado, Famílias com renda superior a 30 SM.: 26.400,00, tem carga
tributária de 27%, ou seja, TRABALHAM EM TORNO DE 03 MESES POR ANO para
pagar tributos.
ESTES DADOS MOSTRAM QUE
Famílias com menor nível de renda tem uma carga tributária de
aproximadamente o dobro das famílias coma renda mais alta.
Ou em outras palavras,
Famílias com menor renda, destinam 6 meses do seu trabalho na forma de
tributos enquanto àquela com renda mais alta, destina o3 meses p/pagto de
tributos.

Este quadro de regressividade de tributos, com predominância em IMPOSTOS


INDIRETOS, fazendo com que aqueles que ganham menos pagam
proporcionalmente mais de sua renda na forma de tributos, não é um fenômeno
recente no Brasil.
Enquanto os países desenvolvidos já venceram esta etapa, e até mesmo a
Argentina e Chile cobram mais tributos de classes mais altas comparativamente
ao que é cobrado no Brasil, sobretudo no IRPF,
Esta característica do STB mantém-se, desde pelo menos, desde 1905, quando
Manuel Bonfim lançou o livro, “América Latina”, em que destacava a iniquidade
tributária vigente, pois naquela época
77% de TODA A RECEITA TRIBUTÁRIA ARRECADADA PROVINHA DEIMPOSTOS
INDIRETOS, aqueles que INCIDEM SOBRE CONSUMO e não levam em
consideração a capacidade de pagamento do contribuinte.
Pois bem, MAIS DE UM SECULO após a publicação do referido livro, O QUADRO
DE REGRESSIVIDADE DO STB SE MANTÉM: os dados de 2014, que de cada 100,00
reais arrecadados no Brasil, pelas 03 esferas, 76,00 são de IMPOSTOS INDIRETOS,
que INCIDEM SOBRE CONSUMO e que desconsideram a capacidade de
pagamento do contribuinte.
Para agravar este quadro de regressividade, em 1995, foi aprovada Lei i nº
9.249/1995, que isenta de IR a renda auferida de LUCROS E DIVIDENDOS.
Somente 2 países no mundo adotam mecanismo tão concentrador de RENDA: o
BRASIL e a ESTONIA ( ?).

Medida como esta contribuiu para a CONCENTRAÇÃO DE RENDA, no topo


da pirâmide no Brasil, a exemplo de outros países, como aponta Thomas Piketty
em seu livro “O capital”, publicado em 2014.

A recente publicação de dados abertos por parte da Receita Federal, do IRPF, de


2008 a 2014, graças a vigência da lei de Acesso a Informação, em vigor no Brasil
desde 2011, amplia a transparência e fortalece a democracia porque coloca “luz”
na distribuição de renda no Brasil. Neste sentido Sérgio Gobetti e Rodrigo Orair,
pesquisadores do Ipea _instituto de pesquisa Econômica Aplicada, apontam que:

“ os dividendos estão muito concentrados no topo da pirâmide social: dois


terços da renda dos brasileiros que ganham acima de R$ 1,3 milhão anuais
proveem de dividendos isentos e, por isso, eles pagam em média apenas
7% de imposto de renda. Não haveria problema se os microempresários
de baixos rendimentos fossem isentos do imposto como os assalariados
de baixa renda. Mas é no mínimo injusto que milionários arquem com
alíquotas inferiores a um assalariado de classe média. Algo que contribui
para a cristalização de uma das maiores senão a maior concentrações de
renda do mundo. As estimativas dos autores “indicam que o meio
milésimo (0,05%) mais rico da população bras concentra 8,5% da renda das
famílias, cifra superior a qualquer outro país”.

Diante disso, PARECE que o papel distributivo da política fiscal não deve ser
exercido apenas ATRAVÉS DO GASTO PÚBLICO. Os gastos sociais permitem
aumentar a renda dos mais pobres, “mas o sistema tributário regressivo corrói
a renda desses mesmos pobres e da classe média e preserva quase intacta a dos
muito ricos, que vivem de dividendos isentos e poupam a maior parte do que
ganham”.

Assim, a exemplo de outros países, “o país precisa construir um sistema tributário


que onere menos o consumo. É necessária uma REESTRUTURAÇÃO TRIBUTÁRIA
QUE, simultaneamente, reduza a tributação do lucro das empresas, retome a
taxação sobre dividendos de forma progressiva e reduza gradualmente os
impostos indiretos, sem alterar o tamanho da carga tributável. Tornando –se
assim, mais justo socialmente e mais eficiente do ponto de vista econômico.”

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