Você está na página 1de 25

PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

[ver artigo online]

Ricardo Marques Rodrigues 1


José Eduardo Quaresma 2

RESUMO
Como objetivo, busco exemplificar, por revisão bibliográfica, um estudo de caso sobre uma patologia
de fundação, de um edifício do litoral do município de Santos – SP. Problemas de execução, utilização
ou de interpretação de projetos são indicados por diversos tipos de manifestações. Essas patologias
devem ser analisadas com o objetivo de identificar suas origens e causas para que se possa planejar e
executar a melhor solução possível para o problema. Nesse processo, é muito difícil analisar a fundação
porque ela se encontra enterrada no solo. Aspectos sobre a interação entre o solo e a estrutura, que
causam movimentos diferenciais e que são responsáveis por problemas diversos nas construções, serão
revisados neste trabalho. A identificação, prevenção e solução das manifestações patológicas,
provenientes dos recalques diferenciais, devem ser corretamente levantadas e estudadas. Será
apresentada uma análise dos procedimentos realizados em um edifício no litoral do Estado de São Paulo.
Serão demonstrados problemas observados, análise do que foi constatado e quais foram os reforços
empregados para a recuperação nesse caso.
Palavras-chave: recalque de fundação; patologia; interação solo-estrutura.

PATHOLOGY – DIFFERENTIAL PRESSURE IN FOUNDATION

ABSTRACT
As an objective, I seek to exemplify, by bibliographic review, a case study on a foundation pathology,
of a building on the coast of the municipality of Santos - SP. Problems in the execution, use or
interpretation of projects are indicated by different types of manifestations. These pathologies must be
analyzed in order to identify their origins and causes so that the best possible solution to the problem
can be planned and executed. In this process, it is very difficult to analyze the foundation because it is
buried in the ground. Aspects about the interaction between the soil and the structure, which cause
differential movements and which are responsible for different problems in the constructions, will be
reviewed in this work. The identification, prevention and solution of pathological manifestations, arising
from differential repressions, must be correctly raised and studied. An analysis of the procedures
performed in a building on the coast of the State of São Paulo will be presented. Observed problems will
be demonstrated, analysis of what was found and what were the reinforcements used for the recovery in
this case.
Keywords: settlement of foundation; pathology; soil-structure interaction.

1 Graduação em engenharia civil, Uniara - Universidade de Araraquara, Araraquara, São Paulo, Brasil;
ricardo.marquesrodrigues@outlook.com
2 Orientador. Docente Curso de Engenharia Civil da Universidade de UNIARA. Araraquara-SP.
jequaresma@uniara.edu.br

http://dx.doi.org/10.35265/2236-6717-202-9047
FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020.
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

INTRODUÇÃO

Diversos são os fatores que podem comprometer a transferência de carga da estrutura


de fundação ao solo.
Erros de projeto e/ou de interpretação, erros na mão-de-obra, de dimensionamento de
elementos estruturais e a ausência de investigação do solo são qualificadores de patologias.
Segundo Alonso (1991, p. 5) [1], característica em comum nas fundações é a dificuldade
de inspeção, porque não é como ocorre em outros elementos estruturais de mais fácil acesso.
Recentemente, muita atenção vem sendo dada para ocorrências de patologias em
construções no Brasil. Temos, pelo mundo, vários exemplos patológicos de fundação, em
prédios, torres diversas, residências e em outras estruturas. Estudiosos de vários países e de
várias épocas têm investigado para entender essas anomalias e suas causas.
Com a ausência do projeto correspondente à estrutura a ser investigada tem-se
dificultada a solução de qualquer patologia de fundação. A origem desse problema, como
possível causa da anomalia, tem sua investigação prejudicada devido ao difícil acesso aos
elementos de fundação.
As causas dessas patologias, suas origens e sinais diversos que indicam má relação entre
solo e estrutura favorecem a investigação para estudos diversos com o propósito de resolver
diversas situações e a obtenção conhecimentos importantes para prevenções em construções
ainda em planejamento e projeção.

1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 Fundação com recalques

Segundo Rebello (2008, p. 57) [6], sérios danos estruturais podem ser provocados
quando há recalque de fundação. Isso pode acontecer quando a relação entre fundação e solo é
prejudicada pela falha de interação com uma camada rígida do solo em seu contato, em função
da carga a ser demandada.

1.2 Aspectos importantes sobre a patologia em estudo

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 2
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Suas causas e sinais manifestados que comprometem a edificação caracterizam os tipos


de patologias. Diversas são as edificações que estão sujeitas a um deslocamento vertical ou a
recalques diferenciais, após as suas conclusões ou até durante as suas execuções, por
determinado período, até que seja alcançado um equilíbrio entre seus carregamentos e o solo.
Essas patologias podem ocasionar falhas e são comprovadas quando pisos ficam desalinhados,
com o surgimento de trincos diversos e com algum desalinhamento da edificação (CAPUTO,
2012) [2].

Aqui serão demonstrados alguns prejuízos causados pela patologia em questão e de


consequências à segurança de todos e à integridade da construção. Segundo Teixeira e Godoy
(1998) [9], os danos causados por movimentação de fundação são organizados nas seguintes
categorias:

Arquitetônicos: são de fácil visibilidade, a construção fica sua aparência estética


prejudicada, paredes trincadas, pisos desalinhados, painéis rompidos e outros problemas ficam
cada vez mais prejudiciais aos envolvidos (TEIXEIRA e GODOY, 1998, p. 261) [9]. Um
reforço pode ser opção porque pode não envolver riscos à estabilidade da edificação
(GOTLIEB, 1998, p. 471) [3].

Funcionais: ocorre enquanto a edificação é utilizada. Rompimento ou mau


funcionamento de tubulações, comprometimento de trilhos de elevadores devido a um
desalinhamento e mau funcionamento de portas e janelas denunciam a patologia. Reforços
passam a ser necessários quando essas anomalias ultrapassam alguns limites, comprometendo
assim a utilização da edificação em questão (GOTLIEB, 1998) [3].

Estruturais: Para que seja evitado um possível colapso, quando ocorrer em pilares, vigas
ou lajes, reforços devem ser planejados para evitar instabilidade na construção (GOTLIEB,
1998) [3].

1.3 Fissuras

Conforme a norma ABNT NBR 6118 [13], sobre fissuração, o concreto tem baixa
resistência à tração, fissuras nas estruturas são inevitáveis devido à instabilidade exercida nos
elementos.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 3
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Mesmo sob as ações de utilização, valores críticos de tensões de tração são atingidos.
Essa norma aborda as máximas de fissuras na ordem de 0,2 mm a 0,4 mm, onde não há
importância significativa na corrosão das armaduras.

Essas fissuras, com suas manifestações diversas, denunciam os possíveis tipos


patológicos em estruturas de concreto, suas ocorrências têm gerado muito interesse de diversos
públicos para o fato de que alguma anormalidade esteja acontecendo (SOUZA e RIPPER,
1998, p. 57) [8].

1.4 Controle das fissuras


Existem várias formas de se controlar fissuras e várias outras de se acompanhar
anormalidades.

Deve-se identificar algum padrão de movimento no elemento estrutural, caracterizando


assim o tipo de fissura.

1.5 Selo de gesso ou de vidro

Podemos classificar as fissuras como sendo ativa ou passiva. Para identificar o tipo
dessa fissura, deve-se observar se há movimento contínuo dessa anormalidade. Um elemento
de gesso ou vidro pode ser fixado sobre a fissura e, ocorrendo movimento, com este percebe-
se alguma violação, tanto no vidro como no gesso.

Deve-se adotar algum formulário onde se possa anotar data, tipo da fissura e a situação
da placa por prazo mínimo três meses. Esse controle deve ser efetuado mesmo quando o
rompimento do selo ocorra antes desses três meses, outro selo deverá ser aplicado. Quando
ocorre ruptura do selo antes dos três meses deve-se deduzir que a anomalia não se estabilizou.
Observando os espaços de tempo entre os rompimentos dos selos, novos dispositivos
devem ser aplicados e observados as suas rupturas. Com essas manobras e observações pode-
se deduzir sobre a estabilização ou não do elemento analisado (REBELLO, 2008) [6].

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 4
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Figura 1 - Selo de gesso

Fonte: AUTOR

1.6 Fissurômetro

Com um lápis deve-se riscar, ao menos em dois sentidos, transpassando a fissura. Dados
como data, a distância horizontal e/ou vertical da origem do eixo até a fissura e a distância da
abertura da fissura devem ser apurados.

Com o propósito de alcançar o máximo possível de valores, o procedimento deve ser


repetido, mas rotacionando no eixo da fissura (Figura 2). Alonso (1991)[1]

Figura 2 - Controle de fissura

Fonte: (ALONSO, 1991) [1].

1.7 Classificação de fissura


Ativas se ainda estiverem se movimentando ou passivas de não houver movimento ou
se as fissuras estiverem em estabilidade.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 5
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

A abordagem no tipo de fissura deve ser aplicada em função da observação dessa


patologia, a participação de um especialista é fundamental devido ao nível técnico que o
problema demanda para a correta solução (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008) [4].

A abertura da fissura demonstra a sua denominação conforme a tabela 1 (OLIVARI,


2003) [5].

Tabela 1 – Nome da fissura

m
Denominaçã Abertura da fissura (mm)
o
Fissura Menos de 0,2 mm
capilar
Fissura 0,2 mm a 0,5 mm
Trinca 0,5 mm a 1,5 mm
Rachadura 1,5 mm a 5,0 mm
Fenda 5,0 mm a 10,0 mm
Brecha Mais de 10,0 mm

Fonte: adaptado (OLIVARI, 2003) [5].

1.8 Padrão de fissura em fundação

Em um recalque de fundação são evidentes fissuras em elementos de alvenaria de


fechamento ou em pilares e/ou vigas de concreto armado. Essas deformações podem ocorrer
em função de distorções em excesso nesses elementos. Recalques em fundações provocam
essas distorções, comprometendo a edificação.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 6
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Podemos analisar essas fissuras nas figuras 3 e 4, abaixo indicadas e conforme


Milititsky, Consoli e Schnaid (2008) [4]

Figura 3 – Fissura em pilar e viga de concreto por recalque de pilar central

Fonte: adaptado (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008) [4].

Figura 4 - Fissura de pilar e viga de concreto por recalque de pilar de extremidade

Fonte: adaptado (MILITITSKY, CONSOLI e SCHNAID, 2008) [4].

1.9 Desaprumo
Quando ocorre um recalque diferencial pode haver um desalinhamento horizontal da
edificação, modificando as cargas inicialmente dimensionadas nos elementos ligados à

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 7
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

fundação. O surgimento de fissuras indica a anomalia com esse desaprumo que, em alguns
casos, podem ser facilmente percebidos, o que sinaliza que a edificação está colapsando.

2 DESENVOLVIMENTO
Será abordado um estudo com o objetivo de exemplificar, com um caso real, os tipos
de anomalias ocorridas por recalque diferencial em fundação, qual foi a abordagem no controle
da movimentação estrutural e a análise da decisão adotada pelos envolvidos responsáveis no
processo.

2.1 Edifício Anêmona

Nesse caso ocorreu um rompimento de estacas em um dos blocos no condomínio


residencial Anêmona, localizado no litoral de Ubatuba/SP.

Com trinta centímetros de diâmetro, profundidade de vinte e cinco metros, a fundação


escolhida foi do tipo cravada pré-moldada de concreto armado.

Foi elevado em dois metros o nível do terreno para sanar futuros problemas com invasão
de um córrego ali existente.

3 DESCRIÇÃO DO PROBLEMA

A edificação desabou parcialmente em dois metros até sua acomodação sobre a laje
térrea e o solo, desalinhando por completo em dois metros e meio.

O pavimento térreo foi destruído, mas como os outros pavimentos ficaram preservados
devido a pouquíssimas fissuras ou outras anomalias cogitou-se a possibilidade de recuperação.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 8
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Figura 5 – Deslocamento do edifício da esqueda

Fonte:(Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)[7].

Figura 6 – Apoio do edifício sobre a superfície

Fonte:(Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) [7].

Antes do desabamento percebeu-se movimentação de 30 centímetros no piso do


estacionamento. Houve correção do nível com terra até alcançar o nível de projeto, pois parecia
acomodação do solo em excesso.
Essa mesma movimentação também foi observada na edificação vizinha, porém em
menor intensidade como demonstrado na figura 7.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 9
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Com a compressão do solo houve movimentação e compressão lateral em seu entorno,


e percebeu-se um solo de constituição desfavorável à fundação existente.

Figura 7 – Piso recalcado

Fonte:(Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003)[7]

Figura 8 – Tombamento de pilar e parede

Fonte:(Maffei Engenharia apud SOUZA,2003)[7]

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 10
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Figura 9 – Deformação do solo

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) [7].

Figura 10 – Danos no muro do entorno

Fonte:(Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) [7].

4 DO SOLO

Quatro sondagens por SPT foram efetuadas no terreno para que se possa estudar a
patologia. Três sondagens na frente e outra no fundo da área.
Constatou-se um solo composto por uma camada arenosa variando de 10 metros na
frente do terreno à 2 metros no fundo. A partir desse nível foi encontrada argila mole siltosa
marinha com aparência de solo de composição orgânica.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 11
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Na profundidade de 25 metros observou-se areia siltosa, pouco argilosa, de


compactação média a muito compacta, de difícil penetração pela sondagem.

Figura 11 – Geologia do terreno

Fonte: (SOUZA, 2003) [7].

5 DO COLAPSO E SUA CAUSA


Sondagens demonstraram um solo muito compressível, pouco capaz de suportar as
cargas inicialmente consideradas. Ficou perceptível pisos desnivelados e deslocados em cerca
de 30 centímetros, havendo assim muitos incômodos de utilização do estacionamento pelos
usuários. Mais solo precisou ser adicionado e recompatado no local. Esse acréssimo e essa
recompactação de solo aumentou ainda mais as cargas, assim aumentou o adensamento que o
solo já tinha sofrido no processo.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 12
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Figura 12 - Perfil do solo

Fonte: (SOUZA, 2003) [7].

A geologia da área demonstrou camada de argila siltosa marinha, excessivamente mole


e de plasticidade elevada que, submetido a tensões, sofre adensamento gerando enormes
tensões horizontais. Essas tensões atuam lateralmente nos fustes das estacas, causando o
“Efeito Tschebotarioff”. Apesar dessas estacas pré-moldadas serem armadas, em seu
dimensionamento não foi considerada a necessidade de suportar esses esforços laterais
oriundos do carregamento sobre a camada de argila. Dessa forma, houve um rompimento das
estacas, cuja localização se dá no fundo do terreno dessa edificação, onde houve a incidência
de maior adensamento.

Figura 13 - Estaca com sobrecarca no fuste

Fonte: (SOUZA, 2003) [7].

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 13
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

6 SOLUÇÃO

A estabilização e o equilíbrio da edificação se demonstra imprescindível para a sua


recuperação. A decisão para a recuperação estrutural se deu após análise de sua viabilidade,
cujas etapas são demonstradas a seguir.

7 ESTABILIZAÇÃO DA EDIFICAÇÃO

Com o propósito de equilibrar diferenças de pressão, houve a necessidade de


recompactar o solo do entorno da edificação, favorecendo assim a estabilização estrutural e a
estabilização da movimentação do solo lateralmente.

Figura 14 - Solo adicionado à divisa do terreno

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) [7].

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 14
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Para reduzir a possibilidade de movimentação do solo, problemas com infiltração


devido à chuvas foram resolvidos. Com argamassa própria para esses problemas, foi realizada
a impermeabilização em local estratégico. E, para desvio do curso da água de chuva algumas
lonas foram estratégicamente aplicanas no terreno.

8 INSTRUMENTAÇÃO

Durante dez dias e duas vezes por dia foi analisada a movimentação estrutural com a
utilização de um teodolito. Com mangueiras de marcação e acompanhamento de nível em todos
os lados do edifício foram obtidos valores de desníveis de 0,5 cm, cuja precisão demonstrou
que recalque diferencial ainda estava ativo (SOUZA, 2003) [7].

Figura 15 - Localização dos pinos

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) [7].

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 15
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Figura 16 - Controle de recalque

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) [7].

Com um pêndulo posicionado no parapeito do último pavimento, constatou-se


inclinação estrutural de dois metros e meio na edificação. Na Figura 17, demonstrada a seguir,
essa inclinação se demonstra evidente (SOUZA, 2003) [7].

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 16
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Figura 17 – Aplicação de pêndulo

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) [7].

Para a comprovação da movimentação, foram posicionados e fixados abaixo da


edificação, de forma estratégica, pedaços de vidros que, ao menor movimento, quebraria com
a anomalia provocada por recalque diferencial. Souza (2003) [7].

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 17
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Figura 18 - Vidro para detecção de deslocamentos

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) [7].

Várias fissuras foram acompanhadas, com a aplicação de uma camada fina de massa
corrida sobre algumas áreas delas, foi possível, em havendo a menor movimentação, detectar
se essas fissuras estavam ativas ou passivas, devido a identificação sobre a ocorrência ou não
de um rompimento dessa camada. Souza (2003) [7]. (Figura 19).

Figura 19 – Fissura parcialmente coberta com massa corrida

Fonte: (Maffei Engenharia apud SOUZA, 2003) [7].

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 18
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

9 DA RECUPERAÇÃO DA EDIFICAÇÃO

Com fundação de estaca raiz, provisóriamente executada, sem a utilização de água e


sem movimentar o solo, a recuperação da edificação foi possível, correspondendo à conclusão
do laudo técnico anteriormente apurado. Assim, foi alcançado o objetivo de estabilizar e
reposicionar o edifício.

Nas sondagens prévias, foi indicada, numa profundidade de trinta e cinco metros,
camada impenetrável, no entanto, o solo se demonstrou impenetrável na perfuração das estacas
de re recuperação nos vinte e cinco metros de profundidade.

Figura 20 – Fundação provisória

Fonte:(Maffei Engenharia apud SOUZA,2003) [7].

Sistemas de protensão foram aplicados em várias paredes do primeiro pavimento,


estratégicamente em função do maior índice das flexões a serem demandadas pelas cargas.
Dessa forma, antes que a estrutura fosse reposicionada, houve um fortalecimento dessas
paredes para inibir o aparecimento de novas fissuras.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 19
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Figura 21 - Flexão sem protensão

Fonte: (SOUZA, 2003) [7].

Figura 22 – Paredes com protensão

Fonte: (SOUZA, 2003) [7].

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 20
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Por um perído de dois meses foi realizado gradualmente o içamento da edificação até
os seus níveis originais. Nas extremidades da construção, quatorze macacos hidráulicos,
capazes de içar até 200 toneladas cada, foram instalados. Para auxiliar no içamento, sete treliças
com suas vigas metálicas e cabos de aço de alta resistência, foram estratégicamente aplicadas
na edificação. Souza (2003) [7].

Figura 23 – Auxílio com treliças

Fonte: (SOUZA, 2003) [7].

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 21
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Figura 24 - Posicionamento provisório

Fonte: (SOUZA, 2003) [7].

Figura 25 - Edifício reposicionado

Fonte: (SOUZA, 2003) [7].

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 22
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Após o edifício ter sido reposicionado com sucesso e segurança, foi reconstruída uma
nova fundação e novas vigas e pilares foram redimensionados.

CONCLUSÃO
O solo instável verticalmente, em função do aterro, causou as rupturas nas estacas da
fundação original. A camada desse solo instável foi atravessada por estacas, cujos fustes
estavam com tensões horizontais.
Um tempo considerável foi necessário para aquisição do material necessário para a
recuperação da edificação.
Com sinais, ainda evidentes, de recalque diferencial e com alguns imprevistos, o
cronograma de recuperação foi considerado dentro do planejado.
Em dezembro de 2002, o técnico responsável por recuperar a edificação deduziu
inviável a continuação das obras com a possibilidade de colapsar a estrutura.
O controle de recalque diferencial comprovou que a solução adotada para estabilização
e movimento estrutural no solo foi ineficaz. A recuperação, inicialmente realizada, não
correspondeu ao cronograma planejado. Outro método, como congelamento de solo, deveria
ter sido considerado.
Conclui-se imprescindível a realização de investigação geotécnica com análise das
camadas de solo envolvidas, seguindo normas e acompanhada por profissional da área,
analisando os parâmetros do local e atento a erro de sondagem. Investigação complementar ou
sondagem adicional devem ser articuladas com o propósito de reduzir riscos de falsos
resultados. Informações sobre edificações vizinhas, com o objetivo de evitar possíveis
interferências, devem ser pesquisadas.
A execução da recuperação deve seguir o projeto, para que os esforços da estrutura
sejam atuantes no solo dentro dos parâmetros de segurança exigidos.
Esse processo de recuperação da patologia apresentada deve ser executado após a
análise das movimentações e investigações do solo. A decisão sobre qual tipo de reforço ou
recuperação deva ser incorporado depende desses estudos.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 23
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

Foi estudada a necessidade de controlar e estabilizar recalques diferenciais, causados


por um solo inadequado à profundidade das estacas de fundação. Erro ou ausência de estudo
de solo com sondagens demonstrou ser o principal motivo para o mau dimensionamento dessa
fundação. A sondagem correta permite a escolha correta do tipo de fundação, bem como o seu
dimensionamento dentro das normas para que haja estabilidade da estrutura ao solo, garantindo
os mínimos de segurança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ALONSO, U. R. Previsão e Controle das Fundações. S.P.: Edgard Blucher, 1991.

[2] CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6. ed. R.J.: LTC, v. 2, 2012.

[3] GOTLIEB, M. Reforço de fundações. In: AUTORES, V. Fundações: Teoria e Prática.


2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 12.

[4] MILITITSKY, J.; CONSOLI, C.; SCHNAID, F. Patologia das fundações. São Paulo:
Oficina de Textos, 2008.

[5] OLIVARI, G. Patologia em edificação. Trabalho de Conclusão de Curso. São Paulo:


Universidade Anhembi Morumbi. 2003.

[6] REBELLO, Y. C. P. Fundações: guia prático de projeto, execução e dimensionamento. 4.


ed. São Paulo: Zigurate, 2008.

[7] SOUZA, E. G. Colapso de edifício por ruptura das estacas: estudo das causas e da
recuperação. Tese de Mestrado. São Carlos: Universidade de São Paulo. 2003. p. 107.

[8] SOUZA, V. C. D.; RIPPER, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de


concreto. São Paulo: Pini, 1998.

[9] TEIXEIRA, A. H.; GODOY, N. S. D. Análise, projeto e execução de fundações rasas.


In:____ AUTORES, V. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 7.

[10] VELLOSO, D. A.; LOPES, D. R. Fundações. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, v. I,
2011.

[11] VELLOSO, D. A.; LOPES, F. D. R. Fundações: fundações profundas. Nova. ed. São
Paulo: Oficina de Textos, v. 2, 2010.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 24
PATOLOGIA – RECALQUE DIFERENCIAL EM FUNDAÇÃO

[12] VELLOSO, D.; LOPES, F. D. R. Concepção de obras de fundações. In: ______


Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 6.

[13] ABNT - ASSICIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto


de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT. 2007. p. 221.

REVISTA CIENTÍFICA SEMANA ACADÊMICA. FORTALEZA-CE. EDIÇÃO 202. V.8. ANO 2020. 25

Você também pode gostar