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REVELAÇÃO DE UMA BENZEDEIRA

Mesmo em tempos atuais, com os avanços da tecnologia e com os


mais modernos recursos de que dispõe a medicina do século XXI, a
cultura das rezadeiras ou benzedeiras, ainda resiste. Em um número
menor do que antigamente, ainda há pessoas que rezam e acreditam
na cura por meio da palavra. Geralmente, a oração foi ensinada pelos
pais ou avós, mantendo assim a transmissão oral de conhecimentos
populares.

Em Getúlio Vargas, Itla Frizzo da Costa, mais conhecida por Dona Itla,
completar 84 anos hoje, viúva, aposentada, católica, zeladora de
capelinhas, tesoureira do grupo da terceira idade Alegria de Viver, é
benzedeira há 68 anos. Ela tem três filhos: Ilse, Vilson e Velci e seis
netos.

Numa casa simples, no Bairro Santo André, Dona Itla, em uma


entrevista exclusiva para a jornalista Agnes Wawrzonkiewiz, contou o
segredo que guardou por muitos anos.

Natural de Getúlio Vargas, Itla tinha 16 anos quando foi morar com o
marido na Linha 8, interior do município de Sertão. Segundo ela, o
dom de rezar e benzer veio quando ela havia acabado de se casar
com Belcino Pacheco da Costa, em novembro de 1949.

O segredo

A jovem Itla não havia gostado do lugar onde tinha ido morar, porque
era longe dos seus pais e sogros. Ela vivia triste, chorando
diariamente. Mas, por amar Belcino, permaneceu ao lado dele.
Itla trabalhava na roça e uma vez por semana ficava em casa, para
realizar a limpeza, lavar roupas e fazer pão. Dona Itla lembrou,
emocionada, do mês de abril de ano de 1950. Ela conta que eram
duas horas da tarde, quando tudo aconteceu. Já tinha feito o serviço
da casa e havia colocado o pão no forno, e estava muito cansada. Na
frente da casa havia uma pedra grande onde se sentou para
descansar. O dia estava um pouco frio, mas o sol brilhava. De
repente, se armou um temporal, com vento muito forte, começou a
chover e cair granizo, parecia noite. “Eu, ali sentada, e não caía
nenhuma gota de chuva em mim. Quando me dei por conta, que não
estava molhada e não havia nenhum coberto, comecei a chorar
desesperadamente, pensando no que estava acontecendo. Era um
mistério”, lembrou.

Naquele instante, parou de cair granizo. A chuva cessou e o sol


brilhou novamente, como se nada tivesse acontecido. Foi então que
ela ouviu uma música muito linda a tocar, parecia sair de um túnel
muito longe e vinha chegando bem perto dela. “Naquele momento, eu
senti uma mão bem pesada no meu ombro e uma voz me disse: não
tenha medo e pare de chorar. Eu olhei para os dois lados e não vi
ninguém. Daquele momento em diante, eu fiquei com uma força tão
grande, uma alegria em meu coração. Senti que havia sido tocada por
uma força divina, um verdadeiro milagre, a mão de Deus na minha
vida”, comenta Itla Costa.

Ela relatou ainda, com lágrimas nos olhos, que a voz dizia assim: “de
hoje em diante você vai mudar, vai fazer o bem sem olhar a quem e
não vai contar a ninguém”. Questionando como poderia ajudar se não
tinha nada, ouviu a resposta: “Na hora certa você vai saber, mas não
esqueça que só o caminho do bem acalma a dor. Semear a alegria,
sempre rezando a oração que Deus nos ensinou, não esqueça estas
palavras. Vai chegar um dia em que você vai precisar de ajuda, só aí
você pode contar todo o bem que você prestou às outras pessoas.”
Itla lembra que começou a tremer e a chorar, pedindo que Deus a
ajudasse. “Eu juro que vou fazer tudo que ouvi sem contar a ninguém”,
disse, lembrando que a música continuou tocando e a voz mais linda
do mundo disse: “Você se prepare. Durante a sua vida vai receber
muitos avisos. Não precisa ter medo.” Naquele dia ouviu as palavras
pela última vez.
Em junho do mesmo ano, quando ela estava fazendo as tarefas da
casa, aconteceu um mistério que nunca esqueceu. “Ouvi gritos,
chamando tia! tia! Eu olhei, era um guri que vinha gritando: o nenê da
minha mãe está morrendo; ela vem vindo aí, pelo amor de Deus, faça
alguma coisa para ele não morrer.” Itla saiu correndo ao encontro da
mãe e do filho, pegou a criança no colo e lembrou das palavras que
tinha recebido meses antes, quando estava sentada na pedra. Orou
pelo menino, que acabou abrindo os olhos instantes depois de estar
no seu colo. A família foi embora e a benzedeira ficou pensando quem
poderia ser aquela mulher e os filhos, pois, naquele lugar, todos se
conheciam e ninguém sabia do recado que ela havia recebido.

A mulher do milagre

Itla Frizzo conta que em junho de 1986, ela e o marido sofreram um


acidente. Eles estavam num Fusca, quando uma caminhonete voou
para cima do carro. Ela olhou para o lado e viu uma mulher que estava
com os braços abertos, protegendo o casal, que não se machucou. A
mulher sumiu logo em seguida.

Em 1999, quando já estava residindo em Getúlio Vargas, Itla lembra


que uma mulher, que ela há havia visto, chegou a sua casa. Segundo
Itla, a visitante disse: “Eu sou aquela mãe que buscou ajuda na tua
casa, com duas crianças. Lembra? Ou já esqueceu? Eu vim fazer uma
visita e trazer um aviso de alegria, por tudo o que você fez durante a
tua vida. Você e o Pacheco merecem.” Dona Itla comentou que a
mulher estava igual de quando a viu. “Eu já tinha 65 anos e ela não
aparentava ter idade.” No dia seguinte, Itla recebeu a notícia de que
ela e seu marido foram escolhidos para ser o rei e a rainha da terceira
idade daquele ano. E, segundo ela, “a mulher era uma enviada de
Deus”.

Os benzimentos

A vida da benzedeira foi seguindo, entre o trabalho da casa e da roça,


intercalando com os benzimentos. A rezadeira disse que não benze de
algo específico, mas é só alguém chegar pedindo ajuda, que ela já
sabe o que a pessoa tem. Se concentra e lembra das palavras
milagrosas.
Uma vez, sua filha Ilse, ainda bebê, ficou muito doente. Pela avaliação
médica, uma fraqueza havia tomado conta da menina e não poderia
ser salva. Ao retornar para casa, a benzedeira ouviu uma
recomendação: “Ouvi chamar meu nome duas vezes e a voz disse
para eu não ter medo e dar leite de cabrita para minha filha, que ela
ficaria curada de verdade. E o milagre aconteceu.”

Em outro momento, seu filho Vilson caiu da carroça e a roda passou


sobre a barriga dele. Itla aclamou a Deus com as palavras e o menino
nada sofreu.

Itla perdeu as contas de quantas pessoas já atendeu, mas um dos


benzimentos que mais chamou sua atenção foi de três jovens amigos
que estavam perdidos nas drogas e vieram pedir ajuda. Depois de
algum tempo, os jovens retornaram a casa de Itla para contar que
tinham se livrado do vício.

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