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Instalação de Recalque 9-1

9 INSTALAÇÃO DE RECALQUE

9.1 Conceitos gerais

Sistema de recalque é o conjunto de tubulações, acessórios, bombas e motores


necessários para transportar uma certa vazão de líquido de um reservatório inferior R 1 na
cota Z1, para outro superior R2, na cota Z2 > Z1.

-
- Figura 9.1 – Esquema de um sistema de recalque.

- Um sistema de recalque é composto, em geral, de três partes:


a) Tubulação de sucção, que é constituída pela canalização que liga o reservatório
inferior à bomba, incluindo os acessórios necessários como válvula de pé com crivo,
registro, curvas, redução excêntrica, etc.
b) Conjunto elevatório, que é constituído por uma ou mais bombas e respectivos
motores;
c) Tubulação de recalque, que é constituída pela canalização que liga a bomba ao
reservatório superior, incluindo registros, válvula de retenção, curvas, etc.

9.2 Altura manométrica

Figura 9.2
Instalação de Recalque 9-2

Altura manométrica ou altura total de elevação é a carga que a bomba deve fornecer
para que o líquido seja transportado de R 1 para R 2. A altura manométrica é expressa pela
equação abaixo:
Hm = H 0 + ∑∆H (9.1)
onde: H0 – altura geométrica total;
∑∆H – somatório das perdas de carga na sucção e recalque.

9.3 Dimensionamento econômico da tubulação

Para bombeamento de 24 horas, pode-se utilizar a Fórmula de Bresse, expressa por::

D=K Q (9.2)
onde:
K = f(custo material, mão-de-obra, operação e manutenção do sistema, local, tempo).
K = 0,9 a 1,3 (valores adotados para pré-dimensionamento).
D é o diâmetro em em m e Q é a vazão em m3/s
Nem sempre há necessidade de o sistema funcionar continuamente, basta que se
recalque o volume necessário de reservação, para consumo diário, em uma fração do dia.
É o caso do abastecimento de um prédio de apartamento, em que o aporte de água para
consumo é feito durante um certo número de horas por dia. Para estes casos, o
dimensionamento da tubulação de recalque é feita pela fórmula de Forchheimer,
representada pela seguinte equação:
D = 1,3 ⋅ 4 X ⋅ Q (9.3)
onde: Q = vazão (m3/s);
D = diâmetro (m);
X = relação entre o número de horas de funcionamento diário do conjunto
elevatório e 24 horas.

9.4 Ponto de funcionamento

• Curva característica de uma bomba


- É a representação gráfica das funções que relacionam os diversos parâmetros
envolvidos em funcionamento de uma bomba. Esta curva é obtida através de ensaios.
- Nos catálogos fornecidos pelos fabricantes de bombas, são apresentados, em geral,
três parâmetros em função da vazão: altura manométrica, H = f(Q), potência
necessária, Pot = f(Q), e rendimento, η = f(Q).
- Altura manométrica:
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40

30

Hm (m)
20

10

0
0 20 40 60 80 100
Figura 9.3 Q (l/s)

p S VS2
H S = zS + + (9.4)
γ 2g
pR VR2
H R = zR + + (9.5)
γ 2g
HR – HS = H m (9.6)

• Curva característica de instalação


- A curva característica de instalação pode ser representada pela seguinte equação:
Hm = H0 +α⋅Q2 (9.7)
onde H o é o desnível topográfico (altura geométrica) entre os reservatórios e α.Q2
engloba todas as perdas de carga, localizadas e distribuídas, nas canalizações de sucção e
recalque.
Lret V 2
∑ ∆H = f ⋅ ⋅
D 2g
+ ∑λ (9.8)

L V2
∑ ∆H = f ⋅ D ⋅ 2 g (9.9)

onde L = Lret + ∑Le q


8⋅ f ⋅ L ⋅Q2
∑ ∆H = π ⋅g⋅D
2 5
=α ⋅ Q2 (9.10)

Figura 9.4

Para cada vazão, o Hm que o


sistema exige da bomba
Instalação de Recalque 9-4

• Ponto de funcionamento
- Normalmente a solução é obtida por via gráfica sobrepondo-se a curva característica
de instalação à curva característica da bomba. O ponto de cruzamento é chamado de
ponto de operação ou ponto de funcionamento.

Figura 9.5

9.5 Potências envolvidas


P1 PB N
Líquido Bomba Motor

P 1 = γ.Hm .Q (Kgf.m/s) ⇒ potência que o líquido recebe da bomba = potência


hidráulica que a bomba fornece ao líquido.
P1
= ηB ⇒ rendimento da bomba.
PB
P B ⇒ potência da bomba.
γ ⋅Q ⋅ H m  m γ ⋅Q ⋅ H m
PB =  Kgf ⋅  ou PB = (CV ou HP)
ηB  s 75 ⋅ ηB
P
= ηM ⇒ rendimento do motor
N
N ⇒ potência do motor.
γ ⋅Q ⋅ Hm γ ⋅Q ⋅ H m
N= ( HP) ou N = ( KW )
75 ⋅ ηB ⋅ ηM 75 ⋅η B ⋅η M ⋅ 1,36
γ ⋅Q ⋅ Hm
N= ( KW )
102 ⋅ η
η = ηB × ηM = rendimento global.
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9.6 Verificação da Cavitação em bombas

• Fenômeno
Quando um líquido em escoamento, em uma determinada temperatura, passa por
uma região de baixa pressão, chegando a atingir o nível correspondente à sua pressão de
vapor, formam-se bolhas que provocam a diminuição da massa específica do líquido.
Estas bolhas arrastadas no seio do escoamento atingem a região em que a pressão
reinante é bem maior. Esta brusca variação de pressão provoca o colapso das bolhas por
um processo de implosão. Este processo de criação e colapso das bolhas é chamado de
cavitação. O desaparecimento destas bolhas ocorrendo junto à parede das tubulações ou
rotores provoca um processo destrutivo de erosão do material. A cavitação, uma vez
estabelecida em uma instalação de recalque, acarreta queda de rendimento da bomba,
ruídos, vibrações e erosão, o que pode levar até o colapso do equipamento.

Figura 9.6

• NPSH (“Net Positive Suction Head”) disponível -NPSHd


(Carga líquida na sucção em termos de pressão absoluta)
É uma característica da instalação, definida como a energia que o líquido possui em
um ponto imediatamente antes do flange de sucção da bomba, acima da sua pressão de
vapor. É a disponibilidade de energia que faz com que o líquido consiga alcançar as pás
do rotor.
O NPSHd pode ser expresso pela seguinte equação:
pa pv
NPSH d = − − Z − ∆H S (9.11)
γ γ
onde:
pa
- pressão atmosférica local em m.c.a.;
γ
pv
- pressão de vapor do líquido em m.c.a.;
γ
Z – altura estática de sucção;
∆Hs – somatório de todas as perdas de carga até a entrada da bomba.
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Figura 9.7

- Se a bomba estiver afogada, ou seja, se seu eixo estiver abaixo do nível d’água do
reservatório inferior, a expressão de NPSH disponível fica:
-
pa p v
NPSH d = − + Z − ∆H S (9.12)
γ γ

Figura 9.8

• NPSH requerido
É uma característica da bomba, fornecida pelo fabricante, definida como a energia
requerida pelo líquido para chegar, a partir do flange de sucção e vencendo as perdas de
carga dentro da bomba, ao ponto onde ganhará energia e será recalcado.
O NPSH requerido depende dos elementos de projeto da bomba, diâmetro do rotor,
rotação específica, sendo em geral fornecido pelo fabricante através de uma curva em
função da vazão. Tal curva pode ser visualizada na figura 9.7 abaixo.

6,5
6
NPSHrequerido (m)

5,5
5
4,5
4
3,5
3
2,5
2
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Vazão (l/s)
Figura 9.9

• Condição de não-cavitação

Para que não ocorra cavitação em bombas, a seguinte condição deve ser satisfeita:
NPSHdisp > NPSHreq
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• Determinação da máxima altura estática de sucção


Impondo no caso limite que NPSHdisp = NPSHreq tem-se:
pa pv
Z max = − − NPSH req − ∆H S (9.13)
γ γ

9.7 Seleção de bombas

Em geral a escolha é feita utilizando-se os catálogos dos fabricantes. Para os


principais tipo de bombas, fixada uma determinada rotação, os catálogos apresentam os
mosaicos de utilização, que são gráficos de altura manométrica contra vazão, em uma
determinada unidade (m 3/h, l/s, m 3/s), em que é mostrada a faixa de utilização (H e Q) de
cada tipo de bomba.
Cada bomba da série é referenciada no mosaico por um código com dois números.
O primeiro representa o diâmetro nominal do flange de recalque (mm) e o segundo, o
diâmetro nominal do rotor (mm). (figura 9.10)
Em geral, os fabricantes apresentam, para cada bomba da série, curvas
características para diversos diâmetros de rotor (na mesma carcaça da bomba podem-se
instalar rotores de diversos tamanhos). (figura 9.11)
Uma vez conhecida a vazão necessária e a altura manométrica, e escolhida a
velocidade de rotação, o mosaico permite a pré-seleção da bomba pelo código. A escolha
definitiva, com a determinação do diâmetro do rotor, rendimento no ponto de
funcionamento, potência necessária e outros dados de interesse, é feita pela consulta, no
catálogo, ao diagrama em colina relativo à bomba pré-escolhida.

Figura 9.10 – Diagrama de escamas.


Instalação de Recalque 9-8

Figura 9.11 – curvas características para diversos diâmetros de rotor.

9.9 Associação de bombas


As bombas podem ser associadas em paralelo e em série.
Duas ou mais bombas em paralelo tem suas vazões somadas, para uma mesma
altura manométrica e duas ou mais em série tem as suas alturas manométricas somadas
para a mesma vazão.
As associações em paralelo são muito comuns quando se pretende ampliar uma
estação elevatória ao longo do tempo, acrescentando bombas.
A associação em série é feita nos casos de altura manométrica muito grande. Existe
no mercado bombas com mais de um rotor dispostos em série. São as bombas de múltiplo
estágio. Nas figuras 9.12 a 9.14, apresentam-se alguns exemplos de associação de
bombas.

Figura 9.12 – Três bombas de igual curva característica em paralelo.


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Figura 9.13 – Duas bombas em paralelo, com curvas características diferentes.

Figura 9.14 – Duas bombas em série com igual curva característica.

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