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AVALIAÇÃO EXPERIMENTAL DE TIJOLOS DE SOLO-CIMENTO

Henrique de P. Santos (1); Rita de Cássia S. S. Alvarenga (1); Délio P. Fassoni (1);
Eduardo A. G. Marques (1); Lauro G. Couto (1); Márcio S. S. Moreira (1); Josef E. C.
Makkai (1); Rafael L. e Silva (1).
(1) Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa, Brasil – e-mail:
omeuehenrique@yahoo.com.br; ritadecassia@ufv.br

RESUMO
Proposta: As desigualdades sociais brasileiras e o conseqüente déficit habitacional têm forçado
pesquisadores a resgatarem técnicas e materiais que possam oferecer soluções apropriadas para
construção de habitações de interesse social. Sendo assim, devem-se buscar tecnologias que
possibilitem racionalização de recursos, diminuição dos custos e aproveitamento de materiais e mão-
de-obra locais. Este trabalho teve como objetivo resgatar a técnica de construção com solo-cimento,
através de uma análise experimental, de modo a permitir construção de edificações em regime de
ajuda-mútua. Método de pesquisa/Abordagens: Foram avaliados diferentes traços de solo e cimento
na confecção de tijolos, de forma a escolher aquele que atenda às prescrições normativas, com
economia e eficiência. Foram moldados tijolos nos traços 1:10; 1:12; 1:14; 1:16, 1:18, de cimento e
solo, em volume, respectivamente. O solo foi caracterizado por ensaios de análise granulométrica,
limite de liquidez (LL), limite de plasticidade (LP) e massa específica dos sólidos. A caracterização
mecânica dos tijolos foi realizada por meio de ensaios de resistência à compressão e absorção d’água.
Resultados: Esta pesquisa mostrou que é possível produzir tijolos de solo-cimento com elevada
resistência (4,7 MPa) ou com baixo teor de cimento (traço 1:18). Contribuições/Originalidade:
Espera-se que este trabalho possa contribuir para a divulgação da técnica de construção com solo-
cimento e permitir a construção de edificações em regime de ajuda-mútua.
Palavras-chave: Tijolo de solo-cimento; habitação; ajuda mútua.

ABSTRACT
Propose: The Brazilian social inequalities and the consequent housing deficit have forced researchers
to rescue techniques and materials that can offer appropriate solutions for construction of habitations
of social interest. Thus, technologies must be searched that make possible rationalization of resources,
reduction of the costs and exploitation of local materials and man power. The objective of this work is
to rescue the technique of construction with soil-cement through an experimental analysis and to allow
the construction of constructions in aid-mutual regimen. Methods: Different soil and cement traces
were evaluated in the confection of bricks, with the objective to choose the one that attended technical
standards, with economy and efficiency. Bricks were molded in traces 1:10; 1:12; 1:14; 1:16 and 1:18
(cement and soil, in volume). The soil was characterized by assays of grain sized analysis, limit of
liquidity (LL), limit of plasticity (LP) and specific mass of the solids. The mechanical characterization
of the bricks was carried through by assays of compression strength and absorption of water.
Findings: This research showed that it is possible to produce soil-cement bricks with high resistance
(4,7 MPa) or with low content of cement (trace 1:18). Originality/value: One expects that this article
can rescue the technique of construction with soil-cement and allow the construction of constructions
in aid-mutual regimen.

Keywords: soil-cement brick; habitation; mutual aid

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Alternativas para construções de interesse social

É cada vez mais intensa a busca por alternativas que possam minimizar os custos na construção civil,
sobretudo nas construções de interesse social. A preocupação com a diminuição dos custos através de
melhorias nos sistemas construtivos e financiadores, bem como no desenvolvimento de novos
materiais vêm sendo estudados em diversas linhas de pesquisas. O resgate das técnicas tradicionais
aliadas à criatividade deverão ser as novas diretrizes.
Souza (2004) estudou a utilização de bambu na habitação de interesse social no Brasil. De todos os
materiais renováveis utilizados na construção ecológica, o bambu se destaca por ser de baixo custo,
pouco poluente, resistência comparada a do aço, de fácil plantio e de crescimento rápido, além de
atender diferentes características bioclimáticas e ser encontrado em todo o território nacional. Diante
disso, foi o material mais aplicado nos protótipos. Não foi aplicado na totalidade das unidades por
apresentar algumas restrições. A escolha do bambu leva em conta suas qualidades como um material
renovável, econômico, durável, de uma beleza estética incontestável; suas propriedades físicas e
mecânicas tornam esse material adequado para a construção civil. Além disso, o bambu também pode
ser utilizado na fabricação de adornos, mobiliário, utensílios domésticos etc. Neste trabalho o bambu
foi empregado em praticamente todos os elementos estruturais de uma construção.
Klein, et al. (2004), com o objetivo de produzir moradias com custo acessível para a população de
baixa renda, além de seguras e duráveis, estudaram aspectos relativos à construção de habitações de
interesse social. Neste trabalho foi discutida a necessidade de uma maior integração entre os três
setores envolvidos na questão habitacional: o público, o privado e a sociedade, na formulação de uma
política adequada para a questão habitacional brasileira. Também foi abordada a necessidade do
desenvolvimento de critérios apropriados para a análise de sistemas construtivos inovadores,
oferecidos pelos construtores/empreendedores, para diminuir o déficit habitacional no Brasil.
Rocha et al (2003) estudaram o reaproveitamento de resíduos na construção civil. Dentre as várias
alternativas encontradas, foi destacada a importância do reaproveitamento de resíduos para a habitação
de interesse social, devido à possibilidade de desenvolvimento de materiais de baixo custo a partir de
subprodutos industriais.
Resende et al (2002) estudaram barreiras e facilitadores da inovação tecnológica na produção de
habitações populares. Realizou-se uma pesquisa de campo de introdução de inovações tecnológicas na
cidade de Contagem, estado de Minas Gerais, executadas pela prefeitura da Cidade. Vale ressaltar que
a confrontação das teorias e dos dados obtidos a partir da bibliografia com os dados levantados levou
aos seguintes resultados: Uma inovação tecnológica foi o bloco com a utilização de escória de usinas
siderúrgicas em sua composição, o que lhe permite uma redução de custo sem perda de qualidade.
Além da escória, utiliza-se a argila e cimento como seus constituintes básicos. A empresa responsável
pela construção das casas adquiria os blocos necessários e executava a obra. O bloco utilizado pode
dispensar o revestimento da alvenaria, mas, para isso, deve ter um processo de assentamento mais
cuidadoso o que nem sempre foi observado, surgiram alguns problemas de infiltração atribuídos à não
capacitação dos funcionários. Outra inovação foi o uso de painéis auto-portantes de estrutura de aço e
miolo com concreto celular autoclavado, esses painéis, com largura variável, altura de 250 cm e
espessura de 5 cm, eram soldados entre si, e também à fundação. Devido à utilização de funcionários
experientes não houve maiores problemas durante a execução das habitações. Entretanto, a principal
patologia encontrada nas habitações foi a infiltração de água pelas juntas entre painéis. Outra inovação
tecnológica empregada é um bloco de solo-cimento prensado, de dimensões: 11 cm x 10 cm x 22 cm,
com um sistema de encaixe que permite uma grande economia de argamassa de assentamento. Em
pesquisa realizada em 1997, as casas produzidas com essa tecnologia foram consideradas pelos
usuários como as de melhor desempenho e as mais valorizadas, contribuindo para a opção da
prefeitura em construir mais unidades utilizando-se dessa tecnologia.

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1.2 O solo-cimento como alternativa para construções de interesse social

A utilização de solo-cimento, na forma de tijolos ou blocos prensados, constitui-se em uma alternativa


bastante interessante, uma vez que possibilita a racionalização de recursos, a diminuição dos custos e o
aproveitamento de mão-de-obra local. Além disso, estes elementos não necessitam de combustível
para fabricação e dispensam a queima, não provocando agressões ao meio ambiente. Como não
exigem mão-de-obra especializada para sua confecção, são indicados para construção em regime de
ajuda-mútua. Estes elementos, após pequeno período de cura, garantem resistência à compressão
simples similar à dos tijolos cerâmicos de vedação, sendo a resistência tanto mais elevada quanto
maior for a quantidade de cimento e a energia de compactação empregadas. Deve-se limitar a
quantidade de cimento a um teor ótimo que confira ao tijolo curado a necessária qualidade sem
aumento do custo de fabricação.
As principais vantagens da utilização de solo-cimento são:
• Pode, em geral, ser produzido com o próprio solo local e no canteiro de obras,
reduzindo ou eliminando custo de transporte.
• A regularidade de suas formas, a planeza e a lisura de suas faces requerem argamassas
de assentamento e de revestimento de espessura mínima e uniforme.
• Por ter um bom acabamento, apresentando as arestas bem definidas, é recomendável
para paredes com tijolos à vista, podendo dispensar o uso de revestimento. Neste caso, deve ser
protegido da ação direta da água.
• Não necessita combustível na fabricação, e dispensa a queima.
• Não requer mão de obra especializada para fabricação dos tijolos.
Para fabricação de tijolos de solo-cimento usa-se basicamente uma mistura devidamente prensada,
constituída de solo, cimento e água. A prensagem é feita dentro de moldes, que possibilita produzir
diversos tipos de tijolos. Os tijolos fabricados são estocados em uma área para cura e mantidos úmidos,
porém não saturados, por um período não inferior a sete dias.
O processo de fabricação do tijolo de solo-cimento segue as recomendações da NBR 10832 - ABNT.
A caracterização desses tijolos é realizada por meio de ensaios de resistência à compressão e absorção
de água seguindo as prescrições da NBR 8492 – ABNT. Os tijolos produzidos devem atender às
especificações da NBR 8491 – ABNT.

2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
• Resgatar a técnica de construção com solo-cimento, através de análise experimental,
avaliando diferentes traços de solo e cimento na confecção de tijolos, de forma a escolher aquele que
atenda às prescrições normativas, com economia e eficiência.

2.2 Objetivos Específicos


• Caracterizar o solo empregado, por meio de ensaios de análise granulométrica, limite
de liquidez (LL), limite de plasticidade (LP) e massa específica dos sólidos.
• Avaliação da umidade a ser fixada para fabricação dos tijolos.
• Fabricar tijolos de solo-cimento em diferentes traços, utilizando prensa manual.
• Caracterizar os tijolos produzidos, por meio de ensaio de resistência à compressão e
absorção de água.

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3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Escolha do solo
O tijolo de solo-cimento é constituído, em maior quantidade, pelo solo. Sendo assim, a escolha de um
solo adequado influencia diretamente na qualidade do tijolo. A NBR 10832-ABNT recomenda que se
utilize um tipo de solo com as seguintes características:
• 100% passante na peneira de abertura de malha 4,8 mm;
• 10 a 50% passante na peneira de abertura de malha 0,075 mm;
• Limite de liquidez menor ou igual a 45%;
• Índice de plasticidade menor ou igual a 18%.
A análise do solo pode ser realizada em laboratório através dos seguintes ensaios:
• Determinação da massa específica (NBR 6508 – ABNT)
• Análise granulométrica (NBR 7181 – ABNT)
• Determinação do limite de liquidez (NBR 6459 – ABNT)
• Determinação do limite de plasticidade (NBR 7180 – ABNT)
Não havendo a possibilidade de realização destes ensaios de laboratório, existem métodos práticos
para determinar se um determinado solo é ou não adequado à fabricação de tijolos de solo-cimento,
como os ensaios do vidro e da caixa. O ensaio do vidro consiste em encher um recipiente de vidro até a
metade com o solo, completar o vidro com água e acrescentar uma colher de sal. Aguardar 24 horas
para que o sal possa dispersar as partículas do solo, e então agitar o vidro por um minuto e deixá-lo em
repouso por uma hora. Após este período, é possível visualizar a parcela arenosa do solo na parte
inferior e a parcela fina na parte superior do vidro. Deve-se medir com uma régua a altura referente à
parte arenosa, se esta altura, dividida pela altura da metade do vidro (que corresponde ao volume total
de solo), multiplicada por 100, estiver entre 50 e 90%, significa que é possível a utilização do solo para
fabricação de tijolos de solo-cimento. O ensaio da caixa consiste em tomar uma porção de solo
destorroado e peneirado (peneira de abertura de malha de 4,8 mm), misturar água aos poucos até que o
solo comece a grudar na colher de pedreiro. Colocar o solo umedecido numa caixa de madeira, com
dimensões internas de (60 x 8,5 x 3,5) cm, previamente lubrificada com óleo diesel ou similar. A caixa
deve ser guardada ao abrigo do sol e da chuva, durante 7 dias. Após este período deve-se fazer a leitura
da retração no sentido do comprimento da caixa. Se a retração total não ultrapassar 2 cm e não
aparecerem trincas nas amostras, o solo pode ser utilizado para fabricação de tijolos de solo-cimento.
Caso contrário, deve-se adicionar areia até obter um solo com as características desejadas.
É recomendável a utilização do solo local, o que possibilita reduzir gastos com transporte. Caso o solo
local não seja adequado à fabricação de tijolos de solo-cimento, ainda sim, este poderá ser utilizado,
desde que, devidamente corrigido. A correção se faz, acrescentando areia ao solo quando há pouca
porcentagem de areia. A retração no ensaio da caixa de mais de 2 cm indica que existe pouca areia.
Para esta pesquisa, foi escolhido um solo proveniente da jazida “Nô da Silva” da região de Viçosa –
MG, e então foram feitos os seguintes ensaios: Determinação da massa específica dos sólidos, análise
granulométrica, determinação do limite de liquidez, determinação do limite de plasticidade e também
foi realizado o Ensaio da Caixa.

3.2 Fabricação de tijolos de solo cimento


A quantidade de solo e cimento a ser misturada deverá ser um volume suficiente para fabricar tijolos
durante uma hora de funcionamento da prensa.
A mistura dos materiais geralmente é manual. Adiciona-se cimento ao solo destorroado e peneirado,
misturando-os até se obter coloração uniforme. Se necessário, deve-se colocar água aos poucos, até
que se atinja a umidade ideal.

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A verificação da umidade da mistura é feita com razoável precisão, da seguinte forma: toma-se um
punhado da mistura e aperta-se energeticamente entre os dedos e a palma da mão, caso saia água por
entre os dedos a mistura estará muito úmida. Ao abrir a mão, o bolo deve ter a marca deixada pelos
dedos, caso isto não aconteça, a mistura estará muito seca. Deixando-se o bolo cair de uma altura de
aproximadamente 1 m ele deverá esfarelar-se ao chocar-se com a superfície, se isto não ocorrer, a
mistura estará muito umida.
Após a adição da água, deve-se misturar bem, re-peneirar e misturar novamente para garantir a
homogeneidade da umidade da mistura.
A mistura é colocada na prensa que dará forma ao tijolo, devendo-se retirar o excesso antes da
prensagem. Logo após a prensagem, os tijolos produzidos são retirados da prensa e transportados em
bandeja para a área de cura. Os tijolos devem ser colocados à sombra sobre uma superficie plana e
empilhados até uma altura máxima de 1,5 m. Após 6 h de moldagem e durante os 7 primeiros dias, os
tijolos devem ser mantidos úmidos por meio de sucessivas molhagens com regador ou similar, munido
de chuveiro, a fim de garantir a cura necessária.
Nos casos em que não há condição de cura em local coberto, deve-se proteger a pilha com uma lona ou
material similar.
Quando o solo utilizado for muito arenoso e não houver possibilidade de empilhamento logo após a
comformação dos tijolos, costuma-se deixá-los no primeiro dia depositados na bandeja, fazendo-se o
empilhamento no segundo dia.
Durante o processo de fabricação dos tijolos, procurou-se trabalhar com o mínimo possível de
variáveis. As características dos tijolos variavam com a umidade da mistura, com o volume da fôrma
antes da compactação e com a energia necessária para a prensagem. Desta forma, estes fatores foram
mantidos constantes, variando apenas os teores de solo e cimento. Para isto, utilizaram-se os seguintes
procedimentos:
• a umidade de trabalho foi determinada conforme o método citado anteriormente.
Foram retiradas três cápsulas para cálculo da umidade pelo método da estufa. Mesmo tendo sido fixada
a umidade para a fabricação dos tijolos moldados ao longo desta pesquisa, houve variação da umidade
devidas às perdas de água por evaporação.
• para fabricação dos tijolos, utilizou-se prensa manual marca TECMOR, que possui
fôrma de largura e comprimento fixos, sendo possível variar a altura. Quanto maior a altura da fôrma,
maior a força que se deve fazer para a prensagem e melhor a qualidade dos tijolos. Por meio de
tentativas, foi encontrada uma altura em que o volume antes da prensagem é compativel com a força
aplicada por uma única pessoa e que proporciona tijolos de boa qualidade. Esta altura foi fixada, de
modo a manter constante o volume da prensa onde se coloca a mistura de solo-cimento, para todos os
tijolos feitos ao longo deste trabalho.
Foram moldadas séries de tijolos de solo-cimento nos traços: 1:10, 1:12, 1:14, 1:16 e 1:18 (cimento e
solo, medidos em volume). Estes tijolos foram submetidos a ensaios de resistência à compressão
simples, determinação da absorção de água aos 7, 21 e 28 dias e passaram por controle dimensional.
3.3 Ensaios de resistência à compressão, absorção de água e controle dimensional
Para procedimento de dosagem, a NBR 10832 – ABNT exige que sejam moldados, no mínimo, 6
tijolos (sendo três para ensaio de compressão e três para ensaio de absorção de água). O procedimento
de ensaio segue as recomendações da NBR 8492 – ABNT.
Antes de preparar os tijolos para o ensaio de resistência à compressão, estes devem ser medidos, com
precisão de 1 mm.
Para o ensaio de resistência a compressão, deve-se cortar o tijolo ao meio, perpendicularmente à sua
maior dimensão, superpor, por suas faces maiores, as duas metades obtidas e as superfícies cortadas
invertidas, de acordo com a figura 1. Estas partes devem ser ligadas por uma camada fina de pasta de
cimento, pré-contraída (repouso de aproximadamente 30 min), de 2 a 3 mm de espessura e deve-se
aguardar o endurecimento da pasta.

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Figura 1 – Posição do tijolo para o ensaio de resistência à compressão
Quando o tijolo apresentar rebaixo, as duas metades devem ser superpostas de modo que as
reentrâncias fiquem localizadas nas faces de trabalho do corpo de prova. Estas reentrâncias devem ser
preenchidas com pasta de cimento, aguardando aproximadamente 24 horas antes de proceder à etapa
seguinte, que é a regularização das faces de trabalho. Após o endurecimento do material utilizado, os
corpos-de-prova são identificados e imersos em água durante 24 horas. Os corpos de provas devem ser
retirados da água logo antes do ensaio e enxugados superficialmente. As dimensões das faces de
trabalho devem ser determinadas com precisão de 1 mm. O corpo de prova deve ser colocado
diretamente sobre o prato inferior da máquina de ensaio, de maneira a ficar centrado em relação a ele.
A aplicação da carga deve ser uniforme e à razão de 0,5 kN/s. A carga deve ser crescente até ocorrer a
ruptura do corpo de prova.
Para o ensaio de absorção de água, o corpo de prova deve ser imerso em um tanque durante 24 horas.
Após a retirada do corpo-de-prova, enxugá-lo superficialmente com um pano úmido e pesá-lo (antes de
decorridos três minutos), obtendo-se assim a massa do tijolo saturado, em gramas. O corpo de prova
deve ser seco em estufa, entre 105 e 110 °C, até constância de massa. As pesagens devem ser feitas
depois dos tijolos atingirem a temperatura ambiente, obtendo-se assim a massa do tijolo seco, em
gramas.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Características do solo utilizado


O solo escolhido apresenta massa específica dos sólidos igual a 2,71 g/cm³ e sua distribuição
granulométrica apresenta 11% de argila, 13% de silte, 49% de areia e 27% de pedregulho, ou seja,
100% passado na peneira de abertura de malha 4,8 mm, e 24 % passado na peneira 0,075 mm. Quanto
à distribuição granulométrica (Gráfico 1), o solo atende aos requisitos da NBR 10832 – ABNT.
O solo apresentou limite de liquidez (LL) de 29% e limite de plasticidade (LP) de 14%, portanto seu
índice de plasticidade (IP) é 15%. Estes valores atendem à NBR 10832 – ABNT que exige LL ≤ 45% e
IP ≤ 18%.
Pelo teste da caixa a retração medida foi de 0,7 cm, portanto, inferior ao limite máximo permitido (2
cm). Desta forma, não foi preciso corrigir o solo.

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Análise granulométrica

Porcentagem que passa


100 Argila 11 %
90
80 Silte 13 %
70
60 Areia 49 %
50
40 Pedregulho 27 %
30
20
10
0
0,0001 0,0010 0,0100 0,1000 1,0000 10,0000
Argila Silte Areia Pedregulho
Diâmetro das partículas (mm)

Gráfico 1 – Curva granulométrica do solo

4.2 Características dos tijolos produzidos


O controle dimensional (Tabela 1) mostrou que todos os traços atenderam as prescrições da NBR 8491
– ABNT, pois não variaram mais que 3 mm. Quanto às dimensões, os tijolos não se enquadram no tipo
I (20 x 9,5 x 5 cm, comprimento largura e altura, respectivamente) nem no tipo II (23 x 11 x 5 cm),
devendo ser classificados como especiais.
Tabela 1 – controle dimensional
Controle dimensional
Dimensões reais médias Variação
Traço Largura Altura Comprimento maior
(mm) (mm) (mm) que 3 mm
1:10 110,3 57,9 230,2 não
1:12 110,7 58,1 230,5 não
1:14 110,5 58,1 230,4 não
1:16 110,5 57,3 230,2 não
1:18 110,5 58,4 230,2 não

De acordo com a NBR 8491 – ABNT, a amostra ensaiada não deve apresentar média dos valores de
resistência à compressão menor que 2,0 MPa, nem valor individual inferior a 1,7 MPa. As resistências
à compressão aos 28 dias (Gráfico 2) estão acima do estabelecido, portanto, há possibilidade de
fabricação de todos os traços testados, sendo que o traço 1:18 conduz a uma maior economia de
cimento.
A evolução da resistência à compressão com a idade do tijolo (Gráficos 3 e 4) seguem uma mesma
tendência, por isso são apresentados apenas os valores referentes ao traço 1:12. Observa-se que nos
primeiros dias há um acréscimo da resistência, tendendo a estabilizar. Considera-se a resistência final
do tijolo como sendo a resistência referente à idade de 28 dias.
Quanto aos valores de absorção de água dos tijolos (Gráfico 5), não houve grandes variações de
absorção de um traço para outro, sendo que há um leve aumento de absorção com a diminuição dos
teores de cimento. Segundo a NBR 8491 – ABNT, o valor médio para absorção não deve ser maior
que 20%, nem os valores individuais devem ser superiores a 22%. Tanto os valores individuais como a
média atenderam tais requisitos, para todos os traços.

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Com base nos dados de resistência à compressão e absorção de água, pode-se afirmar que há
possibilidade de fabricação em todos os traços testados, sendo que o traço 1:18 conduz a uma maior
economia de cimento e, portanto, a um menor custo.

Resistência à compressão aos 28 dias

Tensão (MPa)
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
1:10 1:12 1:14 1:16 1:18
Resistência à 4,7 4,1 3,4 3,5 3,1
compressão
Traço

Gráfico 2 – Resistência à compressão aos 28 dias

Evolução da resistência à compressão x idade

120
compressão (% )
R esistência à

100
80
60
40
20
0
7 21 28
69 93 100
Idade (dias)

Gráfico 3 – Evolução da resistência com o tempo

Evolução da Resistência à compressão x idade

5
com pressão (Mpa)
R esistência à

4
3

2
1
0
0 7 21 28
0 2,8 3,8 4,1

Idade (dias)

Gráfico 4 – Evolução da resistência com o tempo

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Ensaio de absorção de água

20

A b so rçã o (% )
15
10
5
0
1:10 1:12 1:14 1:16 1:18
Absorção 15,32 16,38 16,3 16,96 17,33
Traço

Gráfico 5 – Absorção de água

5 CONCLUSÃO

A utilização de tijolos de solo-cimento é uma alternativa para construção de alvenaria de baixo custo,
em que se pode utilizar o próprio solo local, evitando gastos de transporte. Além disso, por não exigir
mão-de-obra especializada, pode ser produzido em regime de ajuda-mútua, o que evita custos de mão-
de-obra. Os resultados obtidos mostraram que é possível fabricar tijolos com elevadas resistências,
como a do traço 1:10 (4,7 MPa), que corresponde a um valor superior ao mínimo exigido para blocos
de concreto utilizados para alvenaria estrutural (4,5 MPa). Para o solo analisado, dentre os traços
testados, é recomendável a fabricação de tijolos no traço 1:18, que conduz a uma maior economia de
cimento e ainda, pode ser utilizado como alvenaria portante. Deste modo, a técnica de construção
utilizando o tijolo de solo-cimento é uma excelente alternativa para construções de habitações de
interesse social.

6 BIBLIOGRAFIA

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Arquitetura e Urbanismo, v. 11, n. 12, p. 217-245, Belo Horizonte, MG.

7 AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Universidade Federal de Viçosa, aos funcionários do Laboratório de
Engenharia Civil, pelo apoio nos trabalhos de laboratório, à empresa Guarany Embalagens e à Caixa
econômica Federal, pelo apoio financeiro.

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