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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

Licenciatura em Psicologia

1• Ano

4• Grupo

Benilde Rui Virgilio Figueredo Colaco

Lurdel Matias L. Caetano Agostinho

Manuela Candido M. Sangarote

Mildrete Stelyo Eduardo Macueia

Minda Lobo Gomes

Otília Dulce Gil

Pascoa Donzola

Karina de Brás Misseto

INTERACIONISMO, CONSTRUTIVISMO E TEORIA DO CONHECIMENTO

Quelimane

2021
2

4• Grupo

Benilde Rui V. Figueredo Colaço

Lurdel Matias L. Caetano Agostinho

Manuela Candido M. Sangarote

Mildrete Stelyo Eduardo Macueia

Minda Lobo Gomes

Otília Dulce Gil

Pascoa Donzola

Karina de Brás Misseto

INTERACIONISMO, CONSTRUTIVISMO E TEORIA DO CONHECIMENTO

Trabalho de pesquisa de caracter avaliativo a ser


apresentado a Faculdade de Educação , como
requesito cadeira de Ciencias Humanas.

Docente: Dr.Alexandre Oliveira

Quelimane
3

2021

INDIC

E
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................5
1.1. OBJECTIVOS............................................................................................................5
1.1.1. Geral:......................................................................................................................5
1.1.2. METODOLOGIA...................................................................................................5
2. INTERACIONISMO.........................................................................................................6
2.1. Os principais Teóricos do Interacionismo....................................................................6
2.1.1. Jean Piaget (1896 – 1980)...........................................................................................6
2.1.2. Lev Seminovitch Vygotsky (1896 – 1934).................................................................7
3. CONSTRUTIVISMO.........................................................................................................7
3.1. Abordagens Construtivistas...........................................................................................7
3.1.1. Construtivismo Kantiano...........................................................................................7
3.1.2. Construtivismo Piagetiano.........................................................................................8
3.1.3. Construtivismo Radical..............................................................................................8
3.1.4. Construtivismo Lógico...............................................................................................8
3.1.5. Construtivismo Social................................................................................................9
3.1.6. Socioconstrutivismo....................................................................................................9
3.1.7. Construtivismo Americano......................................................................................10
4. A TEORIA DO CONHECIMENTO...............................................................................10
5. I• fase do conhecimento: fase sensível (sensações, percepções e representações).........10
6. II• fase do conhecimento: fase conceptual. (Conceitos, juízos e deduções)..................12
7. Hipóteses científicas, leis e teorias científicas.................................................................13
8. Métodos científicos gerais do conhecimento...................................................................15
9. Verdade objetiva, absoluta e relativa..............................................................................16
10. Conclusão......................................................................................................................18
11. Referencias Bibliograficas...........................................................................................19
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1. INTRODUÇÃO

Em toda forma de interpretação da realidade que o homem produziu ao longo de sua


história, vemos o conhecimento como dilema representado pelo abismo que é correlação
entre o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível, entre a mente e as coisas, o que nos
leva a refletir se ser e saber não serão aspectos do mesmo problema. Não é por outra
razão que a Filosofia é uma só. Suas disciplinas são meros focos de estudo, jamais
divisões estanques. Metafísica, Teoria do Conhecimento, Ética são apenas focos,
perspectivas pelas quais se estuda o todo, já que saber é uma questão de método, e
método implica em uma concepção de mundo, onde não se pode olvidar a ideologia, e,
portanto, a neutralidade científica, tanto quanto uma questão epistemológica, é uma
questão política, ou mesmo ética... Daí porque a Metodologia continua sendo, mesmo
na era da superespecialização, um dos estudos de Filosofia, muito afim à Teoria do
Conhecimento, à Lógica e à Epistemologia, a despeito do recente desenvolvimento
independente desses três ramos do conhecimento filosófico.

1.1. OBJECTIVOS

1.1.1. Geral:

 Comprender as Teorias e correntes que abordam sobre a fundamentação


do conhecimento.

1.1.2. Específicos

 Descrever as abordagens interacionistas


 Identificar as abordagens construtivistas.
 Conhecer As Teorias Do Conhecimento
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1.1.3. METODOLOGIA

Para a elaboração do presente trabalho foi empregue a técnica de consulta bibliográfica


de manuais Fisicos e electrónicos, leitura e síntese das informações a sistematização e
sua respectiva compilação.
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2. INTERACIONISMO

Interacionismo é uma corrente que leva em consideração fator orgânico e ambiental,


isto é, aspectos objetivos e subjetivos na determinação do desenvolvimento do sujeito,
por outra é a interação entre o indivíduo e a cultura, onde, para "Vygotsky", é
fundamental que o indivíduo se insira em determinado meio cultural para que
aconteçam mudanças no seu desenvolvimento.

Interaccionistas buscam entender cada indivíduo, e como eles agem dentro da


sociedade. Em casos extremos, eles negariam classe como um problema, e gostariam de
dizer que não podemos generalizar que toda a gente de uma classe social pensa da
mesma maneira. Em vez disso, eles acreditam que todos têm atitudes diferentes, valores,
culturas e crenças. Portanto, é dever do sociólogo realizar o estudo no seio da sociedade.
Eles devem partir para reunir dados qualitativos.

O ser humano não é compreendido como ser passivo, mas, ao contrário, assume um
papel ativo, utilizando-se dos objetos e de suas significações para conhecer, aprender e
consecutivamente, se desenvolver. Nesta abordagem, aprendizagem e desenvolvimento
se inter-relacionam, se misturam e se completam, proporcionando ao indivíduo a
responsabilidade de sua aprendizagem. Segundo Davis (1990, p. 36).
Os interacionistas acreditam numa complexa combinação de influências que podem
favorecer o processo de aprendizagem.

A concepção Interacionista de desenvolvimento apoia-se na ideia de interação entre


organismo e meio e vê a aquisição de conhecimento como um processo construído pelo
indivíduo durante toda a sua vida, não estando pronto ao nascer nem sendo adquirido
passivamente graças às pressões do meio.

2.1. Os principais Teóricos do Interacionismo


2.1.1. Jean Piaget (1896 – 1980)

Para ele a criança é ativa e age espontaneamente no meio. Ela é estruturalmente


diferente ao adulto, mas funcionalmente igual. Isso significa que suas estruturas mentais
são próprias ao seu nível de desenvolvimento, que é marcado por estágios. É pelo
contato com o mundo que seus conhecimentos são construídos. Dedicou-se à
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investigação e compreensão do desenvolvimento cognitivo e sua teoria ficou conhecida


como construtivismo.

2.1.2. Lev Seminovitch Vygotsky (1896 – 1934) 

Valoriza a mesma ação / interação de Piaget, porém situada em um contexto sócio-


histórico-cultural. É pela relação com os mais experientes e pela força da linguagem que
o sujeito se apropria ativamente do conhecimento social e cultural do meio em que está
inserido. As influências e mudanças são recíprocas ao sujeito e ao meio onde se
encontra.

3. CONSTRUTIVISMO

Construtivismo é uma tese epistemológica que defende o papel ativo do sujeito na


criação e modificação de suas representações do objeto do conhecimento. O termo
começou a ser utilizado na obra de Jean Piaget e desde então vem sendo apropriado por
abordagens com as mais diversas posições ontológicas e mesmo epistemológicas. Hoje
é atribuído a abordagens da filosofia, pedagogia, psicologia, matemática, cibernética,
biologia, sociologia e arte.

As teses comuns à maioria dessas abordagens (à exceção do construtivismo social) são


relativas à questão da origem do conhecimento: a rejeição ao objetivismo de matiz
empirista e a adoção do sentido kantiano da metáfora da construção.

3.1. Abordagens Construtivistas


3.1.1. Construtivismo Kantiano

A inversão kantiana do sentido da relação entre sujeito e objeto é


usualmente considerada a raiz do construtivismo contemporâneo. Tradicionalmente, a
filosofia ocidental pensava o conhecimento como uma determinação do sujeito
cognoscente pelo objeto conhecido. Kant apresenta o processo de conhecimento como a
organização ativa por parte do sujeito do material disperso e fragmentário que nos é
fornecido pelos sentidos, impondo a este as formas da sensibilidade e as categorias do
entendimento. Nossa mente tem uma estrutura dada, que enquadra os dados da
experiência em suas formas e categorias a priori. Ou seja, para Kant, o sujeito é
proativo, constrói suas representações dos objetos, e não recebe passivamente
impressões causadas por esses.
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3.1.2. Construtivismo Piagetiano

Jean Piaget foi aquele que introduziu o termo ‘construtivismo’ no século XX, em sua
obra Logique et connaissance scientifique, de 1967. Sua Epistemologia Genética[21] é
essencialmente uma tentativa de resposta à questão da origem do conhecimento através
da investigação, em parte empírica, do da gênese e desenvolvimento das estruturas
cognitivas do sujeito.

Ao desenvolver sua teoria da epistemologia genética, buscou encontrar as relações entre


o biológico, o psicológico e o epistemológico. Piaget trata detalhadamente em suas
obras, do que ele acredita ser a continuidade entre o biológico e o intelectual, a partir de
dois tipos distintos de fatores hereditários para o ser humano. No entanto, Piaget não
fala de uma continuidade linear (Piaget (1967, p. 32).

Através do método clinico, Piaget buscou conhecer o desenvolvimento das formas de


interação do sujeito com a realidade (Delval, 2000), e a construção delas decorrente

3.1.3. Construtivismo Radical

Autores ligados ao construtivismo radical não só adotam o construtivismo como tese


epistemológica, mas também como tese ontológica, fazendo dele uma versão
contemporânea de idealismo. Um de seus mais representativos proponentes é Ernst von
Glasersfeld, que diz que o conhecimento é um processo cognitivo auto-organizado e
isolado do cérebro humano. Uma vez que o conhecimento é considerado uma
construção mental em vez de uma compilação de dados empíricos, não é possível saber
em que extensão ele reflete um mundo independente da mente.

Com alguma influência em psicoterapia e pedagogia, o construtivismo radical é uma


teoria que se apresenta como revolucionária e defende que o conhecimento nada mais é
que uma construção que fazemos com base nos dados subjetivos de nossa experiência.
No entanto, se radical, ele é uma forma contemporânea de solipsismo, ao tentar negá-lo,
cai num realismo piagetiano trivial.

3.1.4. Construtivismo Lógico

O construtivismo lógico foi fundado pelo matemático e filósofo Luitzen Egbertus Jan


Brouwer e é também conhecido pelo termo que designa sua corrente hegemônica,
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o intuicionismo. Ele é uma abordagem da lógica que surgiu na filosofia da


matemática do início do século XX, que se dedicava a buscar os fundamentos da
disciplina. Seus expoentes foram Arend Heyting e Michael Dummett. Brouwer ( 1983,
p.78) reconheceu em Kant a primeira forma de construtivismo matemático, na qual
tempo e espaço são tomados por formas de pensamento inerentes à razão humana.

Este ganhou força quando os dois principais programas filosóficos de fundamentação


da matemática colapsaramao se depararem com demonstrações de sua incompletude. O
primeiro, o logicismo de Frege, encontrou seu obstáculo intransponível no paradoxo de
Russell; o segundo, o formalismo de Hilbert, foi refutado com o segundo teorema da
incompletude de Gödel.

3.1.5. Construtivismo Social

O construtivismo social é uma abordagem filosófica sobre a sociologia que se apresenta


como programa de pesquisa empírica, e que tem como essência a tese de que as crenças
científicas têm causas sociais. Foi criada por um grupo de sociólogos da universidade de
Edimburgo, em meados dos anos setenta, liderados por Barry Barnes e David Bloor.
Também conhecida como strong programme, sua tese central é a que todo
conhecimento é, exclusivamente, uma construção social. 

3.1.6. Socioconstrutivismo

O socioconstrutivismo é uma abordagem da psicologia contemporânea gerada a partir


da obra de Lev Vygotsky, enfatizada em seus aspectos histórico-culturalistas e com
ênfase na psicologia do desenvolvimento. Ela tem recebido denominações variadas,
como ‘socioculturalismo’ ou ‘construtivismo social’, embora não tenha qualquer ligação
com o strong programme.

James Wertsch define como objetivo da abordagem socioconstrutivista da Psicologia a


explicação das relações entre o funcionamento da mente humana e as situações
culturais, institucionais e históricas nas quais este funcionamento ocorre. Rejeitando a
noção de que a origem da construção do conhecimento é o indivíduo, a corrente adota a
tese de que o conhecimento é uma construção social fruto de interação entre sujeitos.
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3.1.7. Construtivismo Americano

O construtivismo americano surgiu no século XX. Ao contrário do construtivismo


russo, o construtivismo americano está ligado ao capitalismo e não ao socialismo real. O
construtivismo americano adota o modernismo, a Pop Art e a liberdade de expressão
como forma de defender seus ideais, ao contrário do construtivismo russo.

4. A TEORIA DO CONHECIMENTO

Encantados com a complexidade da realidade que nos cerca, e que se revela


minimamente a nossa consciência, quedamos desesperados quando compreendemos que
não temos o básico em nossa tão importante relação com o mundo: não temos qualquer
segurança com relação ao conhecimento das coisas. Não temos qualquer firmeza quanto
a verdade do conhecimento. Não temos meios indiscutíveis de superar o imenso abismo
que existe entre a consciência que conhece e as coisas que estão sendo alvo do processo
de apreensão pela consciência (estão sendo “conhecidas”). Temos imagens,
representações, conceitos que não sabemos se correspondem às coisas que
representamos em nossa consciência (mente). Temos alguns meios de nos aproximar da
verdade nessa relação consciência – mundo, como a lógica e a experimentação, muito
limitadas, por sinal.

E se definimos conhecimento como toda relação que se estabelece entre a consciência e


as coisas do mundo (e a relação entre elas conforme a consciência as capta – os
fenômenos), mediada por imagens, representações e conceitos, podemos aceitar que
existem tipos de conhecimento, que se relacionam de diferentes modos com a verdade.

E assim, como meio de delinear nosso rumo em direção à teoria da ciência e da


metodologia científica, tentaremos estabelecer uma linha divisória em relação aos tipos
de conhecimento, tal como fez Platão, há vinte e cinco séculos, chamando de
epistêmicos os conhecimentos considerados certos (Ciência), em oposição à mera
opinião, o saber não fundamentado (doxa).

5. I• fase do conhecimento: fase sensível (sensações, percepções e


representações).

As sensações resultam da ação do Mundo (os estímulos) sobre os órgãos (biológicos)


recetores. Já o filósofo grego Demócrito de Abdera (460-370 A. C.) referia que na base
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do nosso conhecimento estavam as sensações. Por exemplo, as sensações visuais e as


decorrentes imagens visuais (resultantes da síntese das sensações visuais) resultam da
transformação (nos olhos e, posteriormente, no cérebro humano) das ondas de luz
refletidas pela superfície dos objetos:

Superfície dos objetos → ondas de luz → olhos → cérebro humano → sensações


visuais → imagens visuais.

Os órgãos (biológicos) recetores dividem-se em três grupos: interceptores (localizados


nos órgãos internos do corpo humano: estômago, fígado, …); propriocetores
(localizados nos músculos, tendões e articulações); exterocetores, destinados a captar
os estímulos externos (associados aos “cinco sentidos”).

A perceção é a tomada de consciência de um objeto real, a qual resulta da síntese e


avaliação de múltiplas sensações. Portanto, distingue-se da sensação devido à sua maior
complexidade. Continuando com o exemplo das sensações e imagens visuais, a
perceção depende, não só (1) das características dos elementos do Mundo, exteriores à
nossa consciência (os estímulos) e (2) do nosso organismo (olho e cérebro) mas também
(3) da atividade social e da consequente experiência.

Este terceiro aspeto é fulcral. Por exemplo, o reflexo de um prédio de habitação na


retina do olho ocupa apenas alguns milímetros; e é o nosso cérebro que, ao criar a
imagem visual do prédio, o põe automaticamente em correspondência com os outros
objetos e, desta forma, nos dá uma informação correta das suas dimensões. Também
uma vara de madeira imersa na água nos parece partida, mas sabemos que isso é,
apenas, uma ilusão ótica. Ora, esta capacidade de captarmos a realidade não é inata - um
recém-nascido não a tem - mas sim derivada da atividade social do ser humano e da
consequente experiência.

Finalmente, um indivíduo nascido e criado em Moçambique não tem a capacidade de


detetar o percurso de um pequeno animal na selva amazónica; mas o indivíduo que lá
nasceu e foi criado tem essa capacidade. Uma perceção é, assim, uma imagem subjetiva
que reflete o Mundo, mas não de uma forma direta. Em vez disso, ela é mediatizada
pela experiência do Homem.

Esquematicamente:
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 Realidade objetiva (natural e social)  órgãos (biológicos) recetores  cérebro


humano + atividade social e experiência  perceção.

Fenómeno de um objeto real é aquilo que dele nos apercebemos através das sensações
(ou seja, é a perceção do mesmo) (1) diretas, obtidas por via dos nossos sentidos, ou (2)
obtidas com recurso a instrumentos de trabalho. Por exemplo, uma “maçã” é um
fenómeno resultante de sensações visuais, olfativas, táteis e gustativas.

Nestes termos, a maçã é um fenómeno de primeira ordem. Se olharmos para a maçã


através de um microscópio pouco sofisticado, teremos outra sensação pois já veremos a
sua estrutura celular; e, nestes termos, a maçã assimanalisada transformar-se-á num
fenómeno de segunda ordem. Se recorremos a um microscópio eletrónico, teremos já
uma outra perspetiva da maçã e, nestes termos, a maçã já constituirá um fenómeno de
terceira ordem. E assim por diante. À medida que vamos aumentando a ordem vamo-
nos apercebendo das propriedades e ligações mais íntimas (ou, últimas) dos objetos e
processos.

Para o filósofo empirista escocês David Hume (1711-1776) o conhecimento reduzia-se


à apreensão dos fenómenos. A montante destes (ou seja, no âmbito concreto da
Natureza, do ser humano e da sociedade) encontrar-nos-íamos no domínio da
incognoscibilidade.

A mesma atitude teve o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804): a razão pura (a
capacidade de conhecer) limitava-se à apreensão dos fenómenos, negando a
possibilidade de conhecer a “coisa em si”... embora reconhecendo a existência da “coisa
em si”. Por seu turno, os filósofos racionalistas excluem ou minimizam o papel da
experiência na formação do conhecimento. O conhecimento advém da razão: uma
faculdade mental inata e eterna que permite ao ser humano conhecer a verdade,
independentemente da atividade social presente e passada. O conhecimento tende,
assim, a tornar-se um conjunto de deduções efetuadas a partir de um conjunto de
apriorismos.

6. II• fase do conhecimento: fase conceptual. (Conceitos, juízos e deduções).

Para conhecer e transformar o Mundo, as sensações, as perceções e as representações


são insuficientes. Isto porque apenas permitem detetar fenómenos, mas não a respetiva
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essência. Além disso, elementos matemáticos, processo histórico, matéria, etc. não são
apreensíveis através de sensações. Para determinar a essência dos fenómenos e para
detetar realidades não apreensíveis sensorialmente necessitamos dos conceitos e dos
processos lógicos a eles ligados (juízos e deduções).

Os conceitos referem-se a objetos e a processos da realidade objetiva mas, tal como a


representação, estão mediatamente ligados a tais objetos e processos. Contudo, ao
contrário das representações, a criação dos conceitos exige um processo de
generalização e de abstração. Por exemplo, das características que o olho e o cérebro
retêm de uma alface, de um pepino e da relva de um jardim há uma que é comum: a cor
verde.

Trata-se de uma sensação comum que temos proveniente destes diferentes elementos,
independentemente do facto de o verde ser mais ou menos escuro. Esta sensação
comum implica uma idealização que é expressa na linguagem pela palavra “verde”.
“Verde” é, então, um conceito expresso pela linguagem.

Esquematicamente:

 Sensações  fenómenos  generalização e/ou abstração  conceitos;  Aspetos


não apreensíveis sensorialmente  generalização e/ou abstração  conceitos.

Os conceitos permitem perceber as relações existentes entre aspetos da realidade


objetiva (natural e social). Podem ser sistematicamente evidenciadas certas relações em
detrimento de outras que são consideradas, por um determinado ser humano e pela
sociedade, como menos relevantes.

Esquematicamente:

 Conceitos  juízos  deduções

7. Hipóteses científicas, leis e teorias científicas

A ciência tem por objetivo fundamentar e sistematizar o conhecimento. A ciência tem as


suas raízes na atividade social, especialmente no trabalho. Por exemplo, a astronomia
surgiu no antigo Egito devido à necessidade de prever as condições atmosféricas;
previsão que era fulcral para viabilizar a agricultura nas margens do rio Nilo. Outro
14

exemplo, ainda: nos séculos XIX e XX as necessidades da indústria foram a mais


poderosa força impulsionadora do desenvolvimento científico.

As leis científicas resultam, portanto, da realidade objetiva: existem independentemente


do sujeito/ser humano. Por exemplo, a Terra gira em torno do Sol e, para que tal
acontecesse, não teve necessidade de esperar pelo dia em que o astrónomo polaco
Nicolau Copérnico (1473-1543) referiu o facto.

Daí que o físico alemão Albert Einstein (1879-1955), personalidade notória também no
âmbito epistemológico, afirmasse que só pode haver ciência se existir a convicção de
que, com as construções teóricas (conceitos, juízos, deduções), é possível conhecer. Por
seu turno, um sistema de leis científicas denomina-se teoria científica.

A existência de leis científicas não significa que o Homem seja um ser passivo perante
elas, mas sim que (1) é capaz de conhecer estas leis e, com base nelas, proceder a
mudanças na Natureza e na sociedade – ou seja, agir sobre a realidade objetiva; (2) e
que pode apoiar-se em determinadas leis, com vista a contrariar o efeito de outras.
Exemplo de (1): com base nas teorias da biologia molecular o ser humano pode criar
novas espécies biológicas. Exemplo de (2): o ser humano pode utilizar leis da mecânica
e da aerodinâmica para contrariar a lei da gravidade e, deste modo, possibilitar o voo de
aviões e de naves espaciais.

Portanto, não há nada mais prático do que uma boa teoria. A hipótese é a forma mais
importante de aparecimento das leis e das teorias científicas. A hipótese pode surgir:

 A partir de observações acumuladas que não tiveram explicação com base nas
teorias anteriores - e temos, então, uma generalização empírica;
 Como conjetura criativa do cientista, que tem em conta outras leis e teorias
firmemente estabelecidas.

A hipótese é posteriormente sujeita a validação por via da experimentação (forma


científica da prática). Não uma experimentação qualquer, mas sim uma experimentação
efetuada: (1) com base num dado conhecimento científico de quem experimenta; (2)
com a ajuda de instrumentos adequados; (3) regra geral, com base num plano prévio; (4)
com um objetivo rigorosamente definido; (5) com base numa metodologia adequada.
15

Temos, assim, a observação científica da realidade objetiva (natural e social). Atenção à


possibilidade de a experimentação ser mal efetuada, levando-nos a concluir erradamente
que a hipótese é verdadeira ou falsa. O cientista italiano Galileu Galilei (1564-1642) é, a
este respeito, uma figura incontornável. Com ele, surgiu na cultura europeia alguém de
nomeada a afirmar que raciocínios apriorísticos não desvendam os segredos da
Natureza. Pelo contrário, é necessário observar, colocar hipóteses e experimentar.

A experimentação científica pode ser de vários tipos, eventualmente todos eles


entrelaçados numa mesma experimentação concreta:

 De investigação, visando detetar novos fenómenos, novas propriedades ou laços


anteriormente desconhecidos entre os fenómenos;
 De verificação, cujo objetivo é a confirmação ou a refutação de hipóteses e a
avaliação da sua exatidão;
 De construção, durante as quais se criam novas substâncias14, antes
inexistentes na Natureza;
 De controlo, cujo objetivo consiste em verificar ou afinar os aparelhos e
instrumentos de medição.

Portanto, também aqui a atividade social e a decorrente experiência se encarrega de


selecionar as hipóteses válidas - que passam à categoria de leis ou teorias científicas -
anulando as restantes. Por exemplo, a criação de novas espécies biológicas validou
inequivocamente as teorias científicas da biologia molecular.

Esquematicamente:

 Observação ou conjetura  hipótese  experimentação (observação científica


da realidade)  leis e teorias científicas.

8. Métodos científicos gerais do conhecimento.

 Método dedutivo - do teórico para o empírico.


 Método indutivo - do empírico para o teórico.

No primeiro caso, a partir do nível teórico do conhecimento - no caso das ciências


naturais, frequentemente consubstanciado em fórmulas matemáticas e lógicas - é
16

possível verificar a sua veracidade e intervir sobre a realidade objetiva. Há, portanto, um
ponto de partida consubstanciado numa base teórica que se assume, à partida, como
válida.

No segundo caso, por via do adequado tratamento dos fenómenos da Natureza, do ser
humano e da vida social (a estatística e a teoria das probabilidades são, aqui,
frequentemente utilizadas), é possível elaborar leis e teorias científicas. Neste caso, o
ponto de partida é o fenómeno, ou seja, a perceção de um objeto real; e, por via da
generalização, procura firmar-se as leis e as teorias científicas.

 Análise - processo de desintegração de um sistema em subsistemas e elementos


simples, a fim de proceder ao estudo desses subsistemas e elementos simples;
 Síntese - processo de integração dos elementos simples e subsistemas num
sistema, o qual é agora objeto de um conhecimento que permite a sua utilização
prática.
 Método lógico - o objeto do conhecimento é estudado como algo já formado,
procurando descobrir os seus aspetos fundamentais, de modo a obter um
conhecimento mais profundo sobre o mesmo.
 Método histórico - o objeto do conhecimento é estudado na perspetiva da sua
formação, procurando descobrir as leis do seu desenvolvimento. Exemplo típico,
no âmbito das ciências naturais, é o da atividade do médico investigador.
Confrontado com uma determinada doença, ele começará por estudar as suas
características: mudança de temperatura do doente; presença de microrganismos
no sangue; alterações anatómicas e fisiológicas; etc. Estamos, assim, no domínio
do método lógico. Seguidamente, ele procurará perceber por que motivo foi
contraída a doença e qual o desenvolvimento que ela teve até atingir o estado
com o qual ele, médico investigador, foi confrontado. Estamos, agora, no
domínio do método histórico.

9. Verdade objetiva, absoluta e relativa.

A afirmação que reflete a realidade objetiva denomina-se verdade objetiva. Não é,


portanto, um “acordo da consciência com ela própria”, como diriam os racionalistas; ou
um “acordo da consciência com as sensações”, como diriam os empiristas. Por exemplo,
a afirmação “o Sol e os planetas giram em torno da Terra” contém uma verdade
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objetiva: os planetas movem-se. A afirmação em apreço, globalmente considerada,


constitui uma verdade relativa; ou seja, é a parcela de verdade objetiva que corresponde
a um dado nível conhecimento - o conhecimento vigente na Europa antes da descoberta
do astrónomo polaco Nicolau Copérnico. A teoria atomística do filósofo grego
Demócrito de Abdera constitui outro exemplo de verdade relativa.

Quando já não é possível avançar mais em termos de verdade objetiva, deixamos de ter
verdade relativa e passamos a ter verdade absoluta. Face a realidades relativamente
simples é possível formular verdades absolutas. Por exemplo, “A Figueira da Foz é um
aglomerado urbano com menos habitantes do que o Porto” ou, “Napoleão Bonaparte
faleceu na ilha de Santa Helena” constituem verdades absolutas.
18

10. Conclusão

É uma situação difícil a de quem se depara com a necessidade de utilizarse de um


método para a obtenção de um conhecimento fundamentado na área social e,
evidentemente, busca a metodologia na expectativa de encontrar uma teoria do método,
como indica a denominação, mas, na verdade, o que encontra é uma profusão de teorias
em conflito, geralmente separadas em dois grandes grupos: as linhas de pensamento
metodológico que permitem ao pesquisador obter um saber muito grande e rigoroso
sobre quase nada e as linhas que permitem a obtenção de um pequeno saber, quase nada
rigoroso e com mínimas possibilidades de generalização, sobre os mais complexos e
mais profundamente humanos fenômenos que exigem explicação.

Entretanto, a objetividade é a própria faina do pensamento filosóficometodológico ao


longo da história do ocidente, e a cumulatividade, principalmente para a filosofia, é
bastante discutível. Não situamos aqui a previsibilidade e o controle como traços
fundamentais do conhecimento científico, apesar de inerentes ao trabalho dos cientistas,
porquanto ocorrem como conseqüência (não necessária) dos requisitos fundamentais.
Teríamos, por fim, a arte como forma de interpretação da realidade, portanto,
conhecimento.
19

11. Referencias Bibliograficas

MINAYO, M. C. O Desafio do Conhecimento, São Paulo, HUCITEC-ABRASCO,


1993.

BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. S.Paulo: Hucitec, 1981.

FREITAS, M. T., JOBIM E SOUZA, S., KRAMER, S. (og.) Ciências Humanas e


Pesquisa: leituras de Mikhail Bakhtin. São Paulo, cortez, 2007.

CASTAÑON, G. (2015). O que é construtivismo? Cadernos de História e Filosofia da


Ciência, Campinas, Série 4, v. 1, n. 2, p. 209-242, jul.-dez.

POPPER, K. (1975b). Conhecimento Objetivo. São Paulo: Editora da Universidade de


São Paulo.

PIAGET, J. (1975). Epistemologia Genética. São Paulo: Abril Cultural.


PIAGET, J. (1979). A Construção do Real na Criança. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
PIAGET, J. (1987). A Psicogênese dos Conhecimentos e a sua Significação
Epistemológica. In: Piatelli-Palmarini, M. (Org.). Teorias da Linguagem, Teorias da
Aprendizagem. Lisboa: Edições 70. p. 51-62.

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