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Darcilia Simões
A propósito de iconicidade
A despeito da absoluta arbitrariedade apregoada pelos estruturalistas, as bases
funcionalistas vêm fortalecendo passo a passo a existência de iconicidade nas gramáticas das
línguas, demonstrando a existência de uma correlação um-a-um entre forma e interpretação
semântico-pragmática pautada numa motivação funcional imanente aos aspectos estruturais
observados.
Para melhor entender-se tal perspectiva, cumpre explicitar o que é iconicidade. Trata-
se de uma propriedade semiótica fundada na plasticidade — propriedade da matéria de adquirir
formas sensíveis por efeito de uma força exterior (Simões, 2003:42). Tal atributo pode ser
estendido ao plano abstrato, uma vez que a capacidade cognoscitiva humana confere à faculdade
da imaginação a condição de uma fábrica de imagens de entes e seres reais ou fictícios. Nesta
linha de raciocínio, torna-se possível aplicar a iconicidade em níveis concretos e abstratos. No
nível concreto, verificam-se as iconicidade diagramáticas — sintagmáticas e paradigmáticas;
no nível abstrato, observam-se as modalidades imagética e metafórica. As primeiras se nos
dizem concretas uma vez que tomam por baliza os sistemas sígnicos dos quais resultam. No
plano lingüístico, dicionários e gramáticas atuam como reguladores dessa relação concreta. Já
as últimas serão resultantes de operações subjetivas, uma vez que decorrem de interpretações
individuais (mesmo os interpretantes coletivos são individuados em função das culturas que
representam), seja no plano icônico-indicial da imagem seja no plano icônico-simbólico da
metáfora.
Em palavras simples, o ícone é uma representação plástica, modelar (por similaridade),
de uma idéia ou ideologia; ao passo que o índice é um signo vetorial que conduz o raciocínio
a uma interpretação por contigüidade. De sua parte, o símbolo é uma manifestação sígnica
que generaliza uma apreensão-interpretação, transformando o signo em referência ecossistêmica
Texto-corpus:
Na Estrada das Areias de Ouro: Lá dentro no fundo do sertão / Tem uma estrada / de
areias de ouro / Por onde andaram / Outrora senhores-de-engenho / E de muitas riquezas /
Escravos e Senhoras / Naquelas terras imensas / De Nosso Senhor. / Lá dentro no fundo do
sertão / Lá dentro no fundo do sertão / Tem uma estrada / de areias de ouro / E contam que em
noites / De lua pela estrada encantada / U’a linda sinhazinha / Vestida de princesa / Perdida
sozinha vagueia / Pelas areias / Guardando o ouro / De seu pai, seu senhor / Aquele fidalgo /
que o tempo levou / Pras bandas do mar de pó / E hoje que tudo passou / A linda sinhazinha /
Encantada ficou / Lá dentro no fundo do sertão / Na estrada / das areias de ouro. (CD Elomar...
das barrancas do Rio Gavião, 1973)
Referências bibliográficas:
GIVÓN, T. Functionalism and grammar. Philadelphia: John Benjamins, 1995.
OLIVEIRA, Solange Ribeiro (et al). Literatura e Música. São Paulo: Editora Senac SP/
Instituto Itaú Cultural, 2003.
SIMÕES, Darcilia. Semiótica & Ensino. Reflexões teórico-metodológicas sobre o livro-
sem-legenda e a redação. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2003.
_____. SIMÕES, Darcilia. “Estudos semânticos no 7 - Sobre produção de leitura”. Material
de apoio de aulas ministradas UERJ/ILE, em turmas de graduação e pós-graduação. 2003b.