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1.

Introdução à segurança de processos químicos


a. Conceitos
• Segurança: prevenção de acidentes, recorrendo a tecnologias e metodologias para identificar
perigos associados a processos químicos e tentar eliminá-los antes que seja tarde de mais.
• Perigo: condição físico-química ou ação com potencial para causar danos pessoais, materiais e
ambientais.
• Risco: combinação da probabilidade de ocorrência de um acontecimento perigoso e da
gravidade de lesões ou afeções da saúde que dele resultem.
• Afeção da saúde: condição física ou mental adversa, identificável como decorrente de e/ou
agravada por atividades do trabalho.

b. Índices estatísticos de acidentes e perdas


• Índice de frequência:
𝑛º 𝑎𝑐𝑖𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑜
𝐼𝑓 = × 106
𝑛º 𝑑𝑒 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 − 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑜
Unidades: acidentes/106 horas-pessoa de trabalho.
Nº horas-pessoa de trabalho: número de horas que uma pessoa leva a completar um
determinado trabalho.
• Índice de incidência:
𝑛º 𝑎𝑐𝑖𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑜
𝐼𝑖 = × 103
𝑛º 𝑚é𝑑𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑎𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠
Unidades: acidentes/1000 trabalhadores
• Taxa de incidência (Eurostat):
𝑛º 𝑎𝑐𝑖𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑜
𝑇𝑖 = × 105
𝑛º 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑎𝑑𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑎𝑜 𝑟𝑖𝑠𝑐𝑜
Unidades: acidentes/105 trabalhadores
• Taxa de incidência (OSHA):
𝑛º 𝑙𝑒𝑠õ𝑒𝑠 𝑒 𝑏𝑎𝑖𝑥𝑎𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑑𝑜𝑒𝑛ç𝑎
𝑇𝑖 = × 200000
𝑁𝑇𝐻
Unidades: acidentes/(100 trabalhador·ano)
NTH – Número total de horas de todas as pessoas (ou seja quanto maior o número de pessoas
maior o número de horas total) expostas à atividade em causa durante o período de tempo
considerado, tendo como base de cálculo 100 trabalhador·ano (40 h/semana  50
semanas/ano  100 trabalhador·ano), ou seja, 100 trabalhadores envolvidos na atividade
durante um ano de trabalho.
Uma definição alternativa é:
𝑛º 𝑑𝑖𝑎𝑠 𝑑𝑒 𝑡𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑜 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑖𝑑𝑜𝑠
𝑇𝑖 = × 200000
𝑁𝑇𝐻
sendo o número de dias de trabalho perdidos o número de dias (dentro dos dias de trabalho
normais) durante os quais um trabalhador não conseguiu realizar as suas tarefas como
resultado de lesões ou doenças.
É um índice mais genérico, que inclui lesões e doenças e não apenas fatalidades, como os dois
índices seguintes. Contudo não contem informação sobre o tipo de acidente.
• Taxa de acidentes fatais (FAR):
𝑛º 𝑑𝑒 𝑓𝑎𝑡𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠
𝐹𝐴𝑅 = × 108
𝑁𝑇𝐻
Unidades: mortes/(108 horas de exposição).
NTH – Número total de horas de todas as pessoas (ou seja quanto maior o número de pessoas
maior o número de horas total) expostas à atividade em causa durante o período de tempo
considerado, tendo como base de cálculo 1000 trabalhadores a trabalhar durante 50 anos e
2000 h/ano (1000502000 = 108 h).
Para um conjunto de n atividades (i), cada uma com uma fração de tempo tfi o índice de FAR
global é:
𝑛

𝐹𝐴𝑅𝑔𝑙𝑜𝑏𝑎𝑙 = ∑ 𝐹𝐴𝑅𝑖 × 𝑡𝑓𝑖


𝑖=1
• Taxa de fatalidades (FR):
𝑛º 𝑑𝑒 𝑓𝑎𝑡𝑎𝑙𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑎𝑛𝑜
𝐹𝑅 =
𝑛º 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎𝑠 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑎𝑠 à 𝑎𝑐𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒
Unidades: mortes/(ano·pessoa).
Usado quando é difícil determinar o tempo total de exposição. Quando este é conhecido
podemos converter o FR em FAR (ou vice-versa) pela relação:
𝐹𝑅 = (𝐹𝐴𝑅 × 10−8 ) × 𝑁𝐻𝑃𝐴
em que NPHA é o nº de horas de exposição por ano e por pessoa.
O FR é usado para comparar o perigo de duas ou mais atividades: a que tiver o maior FR é a
mais perigosa.

c. Natureza dos acidentes na indústria química


• Tipos de acidentes mais comuns:

• Causas mais comuns: • Equipamentos onde mais acidentes ocorrem:

• Estágios de evolução de um acidente:

Estágio Efeito desejado Exemplo de Acão a tomar


Iniciação (evento que Diminuir/
Bom design, alertar operadores para perigos, …
desencadeia o acidente) impedir
Propagação (evento(s) que Diminuir/ Reduzir inventário de substancias perigosas,
expandem o acidente) impedir distanciar equipamentos, …
Terminação (evento que Aumentar/ Sistemas de combate a incêndios, válvulas de
para o acidente) promover segurança, …
d. Design inerentemente seguro
• É um projeto que recorre a princípios físico-químicos para tornar os processos seguros por si
sós, isto é, é um design que previne/reduz perigos em vez de os tentar controlar (como os
sistemas de controlo convencionais).
• Técnicas para designs inerentemente seguros:
 Minimizar (intensificação): reduzir volume de equipamentos, tempos mortos e
quantidade de inventário em armazém.
 Substituir (substituição): substituição de equipamento inadequado ou de compostos
perigosos (ex: usar água como fluido de transferência de calor em vez de óleo, usar
solventes menos tóxicos, etc.)
 Moderar (atenuação): usar condições de operação e construção da fábrica que diminuam
os perigos (ex: usar vácuo para reduzir o ponto de ebulição, dissolver materiais perigosos
em solventes seguros, isolar sala de controlo e unidades perigosas, etc.)
 Simplificar (tolerância a erros): tornar o processo simples para ser fácil de controlar e ser
fácil mitigar possíveis perigos (ex: desenhar painéis de controlo fáceis de entender, rotular
tubagens, instalar equipamentos com manutenção simples, etc.)

2. Toxicidade de contaminantes químicos


a. Estudos toxicológicos
• Toxicidade de um agente químico/físico: propriedade desse agente relacionada com o seu
efeito em organismos biológicos.
• Toxicologia: estudo quantitativo/qualitativo dos
efeitos de substâncias tóxicas em organismos
biológicos, e da forma como estas entram e
saem dos organismos.
• Vias de entrada de substâncias tóxicas no
organismo:
 Ingestão
 Inalação
 Injeção
 Absorção pela pele
• Num estudo de toxicologia deve-se identificar:
 O agente tóxico
 O organismo a estudar
 O efeito a medir
 A gama de dosagem (concentração) do agente
 O tempo do teste (tempo de exposição)
• Unidades comuns para as doses de agentes tóxicos:
 Para substâncias ingeridas/injetadas: mg/kg de massa do organismo
 Para substâncias gasosas inaladas: ppm, ppb ou mg/m3 de ar.
 Para partículas suspensas no ar: mg/m3 ou milhões de partículas por m3 de ar.
• Relação entre dose e resposta:
 Para diferentes indivíduos de um determinado tipo de organismo a resposta a um
agente tóxico pode ser diferente (em doses iguais), devido a fatores como idade, sexo,
peso, saúde, etc.
 Assim quando vários indivíduos de uma população são testados com a mesma dose,
obtêm-se diferentes respostas, sendo que a fração de indivíduos afetados (f(x)) em
cada resposta (x) segue uma distribuição normal ou gaussiana:
1 1 𝑥−𝜇 2
𝑓(𝑥) = 𝑒 −2(𝜎
)
𝜎√2𝜋
𝑁 𝑁

𝜇 = [∑ 𝑥𝑖 𝑓(𝑥𝑖 )]⁄∑ 𝑓(𝑥𝑖 )  média


𝑖=1 𝑖=1
𝑁 𝑁

𝜎 = [∑(𝑥𝑖 − 𝜇 𝑓(𝑥𝑖 )]⁄∑ 𝑓(𝑥𝑖 )  desvio padrão


)2
𝑖=1 𝑖=1

 Estes testes são realizados para diferentes doses, obtendo-se o gráfico da resposta
média (𝜇) em função da dose:

 De modo a se poder tratar os dados de forma mais conveniente constrói-se o gráfico


de reposta vs. logaritmo da dose:
 Caracterização dos perfis dose-resposta:
▪ Quando a resposta estudada é morte do individuo, então a dose designa-se dose
letal (LD). Frequentemente usam-se os valores que causam 50% de mortes ou
10% de mortes – LD50 e LD10 respetivamente. No caso de gases temos a
concentração letal (LC).
▪ Quando a resposta estudada é pequena
e reversível, então a dose designa-se
dose efetiva (ED). Frequentemente
usam-se os valores que causam 50% de
resposta ou 10% de resposta – ED50 e
ED10 respetivamente.
▪ Quando a resposta estudada é não letal
mas irreversível, então a dose designa-
se dose tóxica (TD). Frequentemente
usam-se os valores que causam 50% de
resposta ou 10% de resposta – TD50 e
TD10 respetivamente.

 A curva de reposta vs. logaritmo da dose


pode ser linearizada se a resposta
(probabilidade, P) for transformada na
variável probit, Y:

𝑌−5
1 1 2
𝑃= ∫ 𝑒 −2𝑢 𝑑𝑢
√2𝜋 −∞

Os valores de Y estão tabelados +ara vários


valores de P, existindo também a seguinte
expressão (erf – função tabelada):

𝑌−5 |𝑌 − 5|
𝑃 = 50 × [1 + 𝑒𝑟𝑓 ( )]
|𝑌 − 5| √2

Desta forma a variável Y pode ser correlacionada linearmente com a dose, ou outra
variável causativa V (válida para incêndios e explosões):

𝑌 = 𝑘1 + 𝑘2 ln 𝑉

Os valores de k1 e k2 estão tabelados para várias situações.


• Valores limite de exposição (Threshold Limit Values, TLV): são as concentrações do agente
tóxico para as quais não é expectável nenhum efeito adverso durante o tempo de vida de um
trabalhador com exposição constante, o que significa que é a concentração máxima que o
corpo pode eliminar normalmente, não se verificando resposta adversa. Corresponde ao
menor valor da curva resposta vs. logaritmo da dose. Existem 3 tipos de TLV:
 TLV-TWA (Time Weighted Average): concentração média ponderada para um dia normal
de 8 horas (ou semana de 40 horas) à qual grande parte dos trabalhadores podem ser
repetidamente expostos, dia após dia, sem efeitos adversos.
1 𝑡𝑤
𝑇𝐿𝑉 − 𝑇𝑊𝐴 = ∫ 𝐶 (𝑡)𝑑𝑡 (para medições de C contínuas no tempo)
8 0
sendo tw o tempo de trabalho diário (até 20 h)
𝑛
1
𝑇𝐿𝑉 − 𝑇𝑊𝐴 = ∑ 𝐶𝑘 𝑡𝑘 (para medições de C discretas no tempo)
8
𝑘=1
Os trabalhadores tiveram uma exposição superior à recomendada se C > TLV_TWA. No
caso de uma mistura com m agentes tóxicos o critério é (assumindo que estes agentes
têm efeito aditivo  assume-se quando nada é dito):
𝑚

∑ 𝐶𝑗 > 𝑇𝐿𝑉 − 𝑇𝑊𝐴𝑚𝑖𝑥


𝑗=1
𝑚 𝑚
𝐶𝑗
𝑇𝐿𝑉 − 𝑇𝑊𝐴𝑚𝑖𝑥 = (∑ 𝐶𝑗 )⁄[∑ ]
𝑇𝐿𝑉 − 𝑇𝑊𝐴𝑗
𝑗=1 𝑗=1
Caso seja dito que o efeito não é aditivo então os trabalhadores tiveram exposição
superior à recomendada se para qualquer um dos agentes j: 𝐶𝑗 > 𝑇𝐿𝑉 − 𝑇𝑊𝐴𝑗 .
Valores de TLV-TWA estão também definidos para partículas (partículas entre 0,2 e 0,5
m são perigosas para a saúde) em unidades de milhões de partículas por metro cúbico
de ar, e também para ruídos, em horas de exposição (que variam consoante a intensidade
do ruído, em decibéis).
 TLV-STEL (Short Term Exposure Limit): concentração máxima (sem exceder a TLV-TWA) a
que um trabalhador pode estar exposto durante 15 min (4 vezes ao dia com intervalos de
60 min) sem sofrer irritação intolerável, alterações crónicas/irreversíveis de tecidos e/ou
um nível de narcose incapacitante.
 TLV-C (Ceiling limit): concentração que nunca deve ser excedida em nenhum instante.
Usado para substâncias de ação rápida (ex: cianeto)
 IDLH (Imediately Dangerous to Life and Health): concentração máxima da qual um
trabalhador consegue escapar dentro de 30 min sem sofrer efeitos incapacitantes ou
irreversíveis na saúde.
• Fontes de informação relativas à toxicidade de compostos:
 MSDS (Material Safety Data Sheets): folhas que resume as
propriedades mais importantes dos compostos, reatividade,
os seus perigos de explosão e perigos para a saúde e forma
de manuseamento seguro.
 Bases de dados: NIOSH, ECHA, etc.
 REACH (Regulation on Registration, Evaluation,
Authorization and Restriction of Chemicals).

b. Higiene industrial
• Ciência dedicada à identificação, avaliação e controlo de
condições de trabalho que causam doenças e lesões.
• Fases de um projecto de higiene industrial:
 Antecipação: prever a exposição dos trabalhadores a perigos
 Identificação: determinação da presença de exposições (identificar fontes de perigo, modos
de entrada e potenciais danos)
 Avaliação: monitorização da exposição a substâncias tóxicas, poeiras e ruídos.
 Controlo: aplicação de tecnologias para reduzir exposição até níveis aceitáveis.

c. Exposição a vapores tóxicos num espaço limitado – cálculo da concentração do


vapor
Num espaço confinado de volume V com ventilação de caudal Qv (m3/s) e uma libertação
de um vapor tóxico (ou inflamável) com caudal mássico Qm (kg/s) o balanço à substância tóxica
i, em estado estacionário, permite calcular a concentração da substância, C:

𝑑𝐶𝑖 𝑄𝑚,𝑖
𝑉 = 𝑄𝑚,𝑖 − 𝑘𝑄v 𝐶𝑖 = 0  𝐶𝑖 =
𝑑𝑡 𝑘𝑄v
sendo k um factor de mistura não ideal, que varia entre 0,1 e 0,5, dependendo do tipo de
ventilação. Para mistura perfeita k = 1. Quando nada é dito fazem-se dois cenários com estes
dois valores. Caso contrário usa-se a seguinte tabela:

Para termos a concentração em ppm:


𝑉𝑖 (𝑚𝑖 ⁄𝜌𝑖 ) 𝑚𝑖 𝑅𝑇
𝐶𝑝𝑝𝑚 = × 106 = × 106 = ( ) × × 106
𝑉 𝑉 𝑉 𝑃𝑀𝑖
Por definição 𝐶𝑖 = 𝑚𝑖 ⁄𝑉 e assim:
𝑅𝑇 𝑄𝑚,𝑖 𝑅𝑇
𝐶𝑝𝑝𝑚 = 𝐶 × × 106 = × 106
𝑃𝑀𝑖 𝑘𝑄v 𝑃𝑀𝑖
Este modelo é aplicável a situações em que trabalhadores estão perto de tanques ou
contentores abertos com líquidos voláteis.
• Sistemas de ventilação e cálculo de 𝑄v : um dos sistemas de controlo de agentes tóxicos
dispersos no ar (vapores ou partículas) é o sistema de ventilação, podendo este funcionar
segundo dois princípios alternativos: ventilação local (remoção/sucção do ar contaminado,
antes que os trabalhadores sejam expostos a este) ou ventilação para diluição
(bombeamento de ar para um local de modo a baixar a concentração do agente tóxico para
níveis aceitáveis).
Os sistemas de ventilação são compostos de condutas e ventoinhas que geram uma
queda de pressão de modo a sugar o ar, expelindo-o para o exterior. Existem dois tipos de
sistemas: sistemas de pressão positiva, quando as ventoinhas estão colocadas á entrada
das condutas e sistemas de pressão negativa, com as ventoinhas colocadas à saída das
condutas (melhor, pois evita fugas para outros locais da fábrica).
Os sistemas de ventilação locais possuem também uma capota que
cobre a fonte do agente tóxico, encaminhando-o para as condutas.
Quando as dimensões da capota (W e L) ou a sua área de secção recta
(Ac) e a velocidade do ar (𝑢) são conhecidas, então o caudal de
ventilação é:
𝑄v = 𝑢𝐴𝑐 = 𝑢𝑊𝐿
Caso contrário é dado Qv diretamente.
 Restrições de um sistema de ventilação para diluição:
▪ Substância não deve ser muito tóxica
▪ Emissão da substância deve ocorrer uniformemente
▪ Os trabalhadores devem-se manter afastados da fonte de emissão
▪ Substância pode ser libertada na atmosfera
• Cálculo de 𝑄𝑚,𝑖 :
 Frequentemente os gases tóxicos presentes numa atmosfera de trabalho provêm de
líquidos voláteis, existentes em tanques, que se evaporam. O caudal mássico de líquido
evaporado/gás libertado é dado pela lei da convecção para transferência de massa:
(𝑃𝑠𝑎𝑡,𝑖 − 𝑃)
𝑄𝑚,𝑖 = 𝑀𝑖 𝑁̇𝑖 = 𝑀𝑖 𝐴𝐾𝑚𝑖
𝑅𝑇𝐿
𝐴: área de liquido exposta; 𝑃𝑠𝑎𝑡,𝑖 : pressão de vapor do líquido à temperatura do líquido
(𝑇𝐿 ); 𝐾𝑚 : coeficiente de transferência de massa, dado por:

𝑀0 1 3
𝐾𝑚𝑖 = 𝐾𝑚0 × ( )
𝑀𝑖
Sendo M0 a massa molar da água (18 g/mol) e Km0 = 0,83 cm/s.
Substituindo na expressão de Cppm (e admitindo que 𝑃𝑠𝑎𝑡,𝑖 ≫ 𝑃):
𝐴𝐾𝑚𝑖 𝑃𝑠𝑎𝑡,𝑖 𝑇
𝐶𝑝𝑝𝑚 = × 106
𝑘𝑄v 𝑃𝑇𝐿
Como geralmente T = TL:
𝐴𝐾𝑚𝑖 𝑃𝑠𝑎𝑡,𝑖
𝐶𝑝𝑝𝑚 = × 106
𝑘𝑄v 𝑃
 No caso de uma operação de enchimento de
um tanque o vapor tóxico provém de duas
fontes: (1) evaporação e (2) massa de vapor
que é empurrada pelo nível de líquido a subir
no tanque. Assim:
𝑄𝑚,𝑖 = 𝑄𝑚1 + 𝑄𝑚2

▪ O caudal evaporado (𝑄𝑚1 ) é dado pela expressão vista no ponto anterior:


𝑃𝑠𝑎𝑡,𝑖 𝑀𝑖
𝑄𝑚1 = 𝐴𝐾𝑚𝑖
𝑅𝑇
▪ O caudal de gás empurrado pelo líquido é igual ao caudal de líquido que entra no
tanque e assim (supondo que uma fração de gás  é vapor saturado):
𝑃𝑠𝑎𝑡,𝑖 𝑀𝑖 𝑃𝑠𝑎𝑡,𝑖 𝑀𝑖
𝑄𝑚2 = 𝜌v 𝑄𝐿 =  𝑄𝐿 = 𝑟𝑓 𝑉𝑇
𝑅𝑇 𝑅𝑇
𝑟𝑓 é a velocidade de enchimento do tanque (s-1) e VT o volume do tanque (m3).  =
1 para uma operação de enchimento com liquido em queda livre e  = 0,5 quando
o tubo de alimentação do liquido está abaixo da sua superfície.
Juntando as duas parcelas vem:
𝑃𝑠𝑎𝑡,𝑖 𝑀𝑖
𝑄𝑚,𝑖 = × (𝐴𝐾𝑚𝑖 + 𝑟𝑓 𝑉𝑇 )
𝑅𝑇

3. Modelação da libertação de substâncias tóxicas ou inflamáveis


a. Passos num estudo de um incidente

1) Definir o incidente. Tipos de incidentes mais comuns: ruptura de tubos/pipelines, orifícios em


reservatórios ou condutas, runaway de reações químicas, incendio junto a um tanque de
material perigoso
2) Descrever a fonte (emissão) de substâncias perigosas por meio de modelos matemáticos
3) Descrever a dispersão dessas substâncias na atmosfera (se forem gasosas) por meio de
modelos matemáticos
4) Determinar as consequências para os operadores usando modelos matemáticos (p.ex. o
probit)

b. Modelos para fontes de emissão


• Possíveis fontes de emissão de
substâncias tóxicas/inflamáveis:
 Buracos ou rachas em tanques
 Buracos em tubos
 Tubos partidos numa
extremidade
 Fugas em válvulas, bombas e
junções
 Válvulas de alívio de pressão
• No caso de gases uma fuga dá
origem a um jacto de gás, enquanto
que para líquidos temos uma corrente de liquido derramada, formando uma poça. Se o
líquido estiver a uma temperatura acima da do seu ponto de ebulição normal então forma-se
também vapor.
• Escoamento de um líquido através de um
orifício num tanque
Quando há uma fuga de líquido num tanque
o nível de líquido varia de acordo com o
balanço mássico ao tanque:
𝑑𝑚 𝑑ℎ
= −𝑄𝑚  𝜌𝐴 = −𝑄𝑚
𝑑𝑡 𝑑𝑡
Aplicando a equação de conservação de
energia entre a superfície do líquido (1) e o
orifício (2) obtemos a velocidade á saída do
orifício:
𝑃1 𝑢1 2 𝑃2 𝑢2 2
+ 𝑧1 + = + 𝑧2 +
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔
2
𝑢2 𝑃1 − 𝑃2
+ 𝐶𝑑  + 𝑔ℎ
2𝑔 𝜌
𝑢2
= (1 + 𝐶𝑑 ) 
2
1 𝑃𝑔 𝑢2 1 𝑃𝑔 𝑃𝑔
 ( + 𝑔ℎ) =  𝑢 = √2 ( ) ( + 𝑔ℎ) = 𝐶𝑜 √2 ( + 𝑔ℎ)
1 + 𝐶𝑑 𝜌 2 1 + 𝐶𝑑 𝜌 𝜌
sendo 𝑃𝑔 a pressão relativa do liquido no tanque, h a altura de liquido no tanque, e 𝐶𝑜 o
coeficiente de descarga através do orifício (com valores entre 0,60 e 0,63). Sabendo a área de
seção recta do orifício (𝐴𝑜 ) é possível calcular o caudal mássico de saída:
𝑃𝑔
𝑄𝑚 = 𝜌𝐴𝑜 𝑢 = 𝜌𝐴𝑜 𝐶𝑜 √2 ( + 𝑔ℎ)
𝜌
Colocando esta expressão no balanço e integrando:
ℎ(𝑡) 𝑃 −1⁄2
𝑑ℎ 𝑃𝑔 𝑔 𝐴𝑜 𝑡
𝜌𝐴 = −𝜌𝐴𝑜 𝐶𝑜 √2 ( + 𝑔ℎ)  ∫ ( + 𝑔ℎ) 𝑑ℎ = −√2𝐶𝑜 ∫ 𝑑𝑡 
𝑑𝑡 𝜌 ℎ0 𝜌 𝐴 0

𝐴𝑜 𝑃𝑔 𝑔 𝐴𝑜 2
 ℎ (𝑡) = ℎ0 − 𝐶𝑜 √2 ( + 𝑔ℎ0 ) 𝑡 + (𝐶𝑜 𝑡)
𝐴 𝜌 2 𝐴
Para saber o tempo de descarga até ao nível do orifício basta substituir h(t) por 0 e resolver
em ordem a t.
• Escoamento de um líquido numa conduta (p.ex.
no caso de condutas partidas numa extremidade)
Aplica-se a equação de conservação de energia
entre o início do tubo (1) e o final (2):
𝑃1 𝑢1 2 𝑃2 𝑢2 2
+ 𝑧1 + = + 𝑧2 + + ℎ𝑓 + ℎ𝑎𝑐
𝜌𝑔 2𝑔 𝜌𝑔 2𝑔
 Cálculo das perdas de carga por atrito - ℎ𝑓
A partir da equação de Darcy:
𝐿 𝑢2
ℎ𝑓 = 4𝐶𝑓
𝐷 2𝑔
sendo L o comprimento do tubo, D o diâmetro interno e 𝐶𝑓 o coeficiente de atrito.
Procedimento para calcular 𝐶𝑓 :
I. Calcular o número de Reynolds com a velocidade do fluido (𝑢 = 𝑢1 = 𝑢2 =
𝑄⁄𝐴):
𝜌𝑢𝐷
𝑅𝑒 =
𝜇
II. Verificar o tipo de regime de escoamento:
▪ Re < 2000 – regime laminar
▪ 2000 < Re < 4000 – regime de transição
▪ Re > 4000 – regime turbulento
III. Calcular 𝐶𝑓 usando valor de 𝑅𝑒 e o método apropriado para cada regime:
▪ Regime laminar: 𝐶𝑓 = 16⁄𝑅𝑒
▪ Regime de transição: ver correlação dada neste caso
▪ Regime turbulento:
1 1 𝜀 1,255
= −4 log [ ×( )+ ]
√𝐶𝑓 3,7 𝐷 𝑅𝑒√𝐶𝑓
sendo 𝜀 a rugosidade do tubo.
Alternativamente existe um método gráfico – diagrama de Moody (ANEXO
1). Com os valores do número de Reynolds (abcissa) e da rugosidade
relativa (𝜀⁄𝐷 ) tiramos da ordenada do gráfico o valor de 4 × 𝐶𝑓 .

 Cálculo das perdas de carga em acidentes no tubo - ℎ𝑎𝑐 :


Acidentes são todas as seções de escoamento onde não há tubo recto, ou seja, curvas,
válvulas, T’s, etc. e também a entrada e saída do tubo. Para cada um destes acidentes i
o coeficiente de perda de carga, Kf,i é dado por:
𝐾1,𝑖 1
𝐾𝑓,𝑖 = + 𝐾∞,𝑖 (1 + )
𝑅𝑒 𝐷
sendo que 𝐾1,𝑖 e 𝐾∞,𝑖 estão tabelados (ANEXO 1) e D é usado em polegadas (in).
Para a entrada e saída do tubo a equação a usar é:
𝐾1
𝐾𝑓 = + 𝐾∞
𝑅𝑒
▪ Entrada: 𝐾1 = 160 e 𝐾∞ = 0,5
▪ Saída: 𝐾1 = 0 e 𝐾∞ = 1
ℎ𝑎𝑐 é então calculado com a contribuição de todas as perdas em acidentes, entrada e
saída:
𝑛
𝑢2
ℎ𝑎𝑐 = (∑ 𝐾𝑓,𝑖 + 𝐾𝑓,𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎 + 𝐾𝑓,𝑠𝑎𝑖𝑑𝑎 ) ×
2𝑔
𝑖=1
• Escoamento de um gás através de um orifício
Ao contrário dos líquidos os gases são compressíveis, ou
seja, a sua densidade varia com a pressão, geralmente por
uma lei do tipo:
𝑃
𝑃𝑉 𝛾 = 𝛾 = 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒
𝜌
onde 𝛾 = 𝐶𝑝 ⁄𝐶v . Gases que seguem esta lei têm um
comportamento dito isentrópico. Valores de 𝛾 (caso não
sejam dados):
 Gases monoatómicos: 1,67
 Gases diatómicos: 1,40
 Gases poliatómicos: 1,32
A descarga de gases através de um orifício pode ser de dois tipos: de estrangulamento
(quando há pouca conversão de pressão em energia cinética) ou expansão livre (quando toda
a pressão é convertida em energia cinética). Para o último caso, escrevendo a equação de
conservação de energia na forma diferencial e integrando (assumindo o comportamento
isentrópico e ausência de trabalho externo) obtemos a velocidade do gás à saída do orifício:
𝑃 𝛾 𝑃 (𝛾−1) ⁄𝛾 𝑅𝑇0 𝛾 𝑃 (𝛾−1)⁄𝛾
𝑢 = 𝐶𝑜 √2 [1 − ( ) ] = 𝐶𝑜 √2 [1 − ( ) ]
𝜌0 𝛾 − 1 𝑃0 𝑀 𝛾−1 𝑃0
Para calcular o caudal mássico basta usar a equação:
⁄𝛾 (𝛾+1) ⁄𝛾
𝑃 𝛾 2𝑀 𝛾 𝑃 2 𝑃
𝑄𝑚 = 𝜌𝑢𝐴𝑜 = 𝜌0 ( ) 𝑢𝐴𝑜 = 𝐶𝑜 𝐴𝑜 𝑃0 √ [( ) −( ) ]
𝑃0 𝑅𝑇0 𝛾 − 1 𝑃0 𝑃0
sendo P0, T0 e 𝜌0 referentes ao gás no interior do tanque. 𝐶𝑜 = 0,61.
Como se pode ver quando a pressão no exterior (𝑃) aumenta o caudal mássico aumenta
mas chega a um ponto em que atinge um máximo. A condição em que se atinge este limite
máximo designa-se choked, e o caudal máximo é obtido obtém-se fazendo a derivada da
expressão anterior em ordem a P/P0 igual a 0 e resolvendo a equação. A pressão nestas
condições é:
𝑃𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 2 𝛾 ⁄(𝛾−1)
=( )
𝑃0 𝛾+1
Em condições choked o fluido escoa-se a velocidade sónica (u = velocidade do som no
gás), e o caudal mássico é independente da pressão no exterior:
(𝛾+1) ⁄(𝛾−1)
𝛾𝑀 2
𝑄𝑚,𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 = 𝐶𝑜 𝐴𝑜 𝑃0 √ ( )
𝑅𝑇0 𝛾 + 1
Nestas condições assume-se que 𝐶𝑜 = 1.

Assim deve-se primeiro que tudo verificar se estamos ou não em condições choked,
calculando 𝑃𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 e comparando com a pressão no exterior do tanque (𝑃):
 Caso 𝑃 ≤ 𝑃𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 : estamos em condições choked  calcula-se o caudal mássico pela
equação de 𝑄𝑚,𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 . Em geral verificam-se estas condições.
 Caso 𝑃 > 𝑃𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 : não estamos em condições choked  calcula-se o caudal mássico
pela equação de 𝑄𝑚 .

• Escoamento de um gás numa conduta


Existem dois modelos para o escoamento de gases numa conduta: adiabático e isotérmico. O
caso real está entre ambos.
 Modelo adiabático: considera que o calor trocado entre o interior e o exterior do tubo é
nulo. Aplicando a equação de conservação de energia diferencial temos:
𝑑𝑃 𝑢 𝛿𝑊
+ 𝑑𝑢 + 𝑔𝑑𝑧 + 𝑑𝐹 = −
𝜌 𝛼 𝑚
Uma vez que a temperatura do gás varia é
necessário ter em conta o balanço
entálpico:
𝑢 𝛿𝑊
𝐶𝑝 𝑑𝑇 + 𝑑𝑢 + 𝑔𝑑𝑧 = 𝛿𝑞 −
𝛼 𝑚
Pressupostos:
▪ 𝑔𝑑𝑧 = 0 (válido para gases)
▪ Escoamento é adiabático: 𝛿𝑞 = 0
▪ Não há elementos mecânicos a fornecer trabalho: 𝛿𝑊 = 0
▪ A fricção é dada pela equação de Darcy com 𝐶𝑓 constante:
𝑑𝐿
𝑑𝐹 = 2𝐶𝑓 𝑢2
𝐷
A velocidade do gás é normalizada recorrendo ao número de Mach:
𝑀𝑎 = 𝑢⁄𝑎
sendo 𝑎 a velocidade do som no gás. Para gases ideais:
𝑎 = √𝛾 𝑅𝑇⁄𝑀
Por fim os balanços são combinados e integrados entre um ponto inicial (1) e final (2)
para dar:
𝛾+1 𝑀𝑎2 2 𝑌1 1 1 𝐿
ln ( 2 )−( 2− 2 ) + 𝛾4𝐶𝑓 =0
2 𝑀𝑎1 𝑌2 𝑀𝑎1 𝑀𝑎2 𝐷

Energia cinética Compressibilidade Atrito

𝛾𝑀 𝛾𝑀
𝑄𝑚 = 𝜌𝑢𝐴 = 𝐴𝑀𝑎1 𝑃1 √ = 𝐴𝑀𝑎2 𝑃2 √
𝑅𝑇1 𝑅𝑇2
com as seguintes relações:
𝑇2 𝑌1 𝑃1 𝜌1 𝑀𝑎1 𝑌1 𝛾−1
= , = = √ , 𝑌= 1+ 𝑀𝑎2
𝑇1 𝑌2 𝑃2 𝜌2 𝑀𝑎2 𝑌2 2
Substituindo o número de Mach pela sua definição nas equações anteriores obtém-se as
expressões finais para calcular 𝐺𝑚 :
𝛾+1 𝑃1 𝑇2 𝛾 − 1 𝑃1 2 𝑇2 2 − 𝑃2 2 𝑇1 2 1 1 𝐿
ln ( )− ( ) ( 2 − 2 ) + 4𝐶𝑓 = 0
2 𝑃2 𝑇1 2𝛾 𝑇2 − 𝑇1 𝑃1 𝑇2 𝑃2 𝑇1 𝐷
2𝑀 𝛾 𝑇2 − 𝑇1
𝑄𝑚 = √ × ×[ ]
𝑅 𝛾−1 (𝑇1 ⁄𝑃1 )2 − (𝑇2 ⁄𝑃2 )2

A primeira destas equações é usada para calcular T2, calculando-se previamente 𝐶𝑓 pela
equação para escoamento turbulento desenvolvido:
1 𝐷
= 4 log (3,7 )
√𝐶𝑓 𝜀

Por fim sabendo T2 é possível calcular 𝑄𝑚 .


Uma vez que a pressão ao longo do tubo baixa o caudal mássico vai aumentando
até se atingir um máximo, correspondente às condições choked. A partir deste ponto, por
mais que a pressão P2 baixe a velocidade permanece constante e igual à velocidade do
som no gás. Assim nestas condições P2 = Pchoked, T2 = Tchoked e Ma2 = 1, e as equações
anteriores vêm:
𝑇𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 2𝑌1 𝑃𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 𝜌𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 2𝑌1 𝜌𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 𝛾+1
= , = = 𝑀𝑎1 √ , = 𝑀𝑎1 √
𝑇1 𝛾+1 𝑃1 𝜌1 𝛾+1 𝜌1 2𝑌1

𝛾𝑀
𝑄𝑚,𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 = 𝜌𝑢𝐴 = 𝐴𝑃𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 √
𝑅𝑇𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑
𝛾+1 2𝑌1 1 𝐿
ln ( 2) − ( 2 − 1) + 𝛾4𝐶𝑓 =0
2 (𝛾 + 1)𝑀𝑎1 𝑀𝑎1 𝐷
Desta forma é necessário, tal como nos problemas com orifício, calcular Pchoked e comparar
com a pressão ambiente (P) de modo a saber se estamos ou não em condições choked:
▪ Caso 𝑃 ≤ 𝑃𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 : estamos em condições choked  calcula-se o caudal mássico pela
equação de 𝑄𝑚,𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 . Em geral verificam-se estas condições.
▪ Caso 𝑃 > 𝑃𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 : não estamos em condições choked  calcula-se o caudal mássico
pela equação de 𝑄𝑚 .
 Modelo isotérmico:
Novamente escrevem-se as equações de
conservação de energia mecânica e
balanço entálpico:
𝑑𝑃 𝑢 𝛿𝑊
+ 𝑑𝑢 + 𝑔𝑑𝑧 + 𝑑𝐹 = −
𝜌 𝛼 𝑚
𝑢 𝛿𝑊
𝐶𝑝 𝑑𝑇 + 𝑑𝑢 + 𝑔𝑑𝑧 = 𝛿𝑞 −
𝛼 𝑚
Com os mesmos pressupostos que
anteriormente excepto o de 𝛿𝑞 = 0. O resultado da integração é:

𝑀𝑎2 1 1 1 𝐿
2 ln ( )− ( 2− 2 ) + 4𝐶𝑓 =0
𝑀𝑎1 𝛾 𝑀𝑎1 𝑀𝑎2 𝐷

Energia cinética Compressibilidade Atrito

𝛾𝑀
𝑄𝑚 = 𝜌𝑢𝐴 = 𝐴𝑀𝑎1 𝑃1 √
𝑅𝑇1
com as seguintes relações:
𝑇2 𝑃1 𝜌1 𝑀𝑎1
=1 , = =
𝑇1 𝑃2 𝜌2 𝑀𝑎2
Substituindo o número de Mach pela sua definição nas equações anteriores obtém-se a
equação final para calcular 𝑄𝑚 :
𝑃2 𝑄𝑚 −2 𝑀 𝐿
2 ln ( ) − ( ) (𝑃1 2 − 𝑃2 2 ) + 4𝐶𝑓 = 0
𝑃1 𝐴 𝑅𝑇1 𝐷
Em condições choked temos:
𝑇𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 𝑃𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 𝜌𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 𝑢1
=1 , = = = 𝑀𝑎1 √𝛾
𝑇1 𝑃1 𝜌1 𝑢𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑
𝛾𝑀
𝑄𝑚,𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 = 𝜌𝑢𝐴 = 𝐴𝑃𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑 √
𝑅𝑇𝑐ℎ𝑜𝑘𝑒𝑑
 O caudal mássico real é superior ao caudal isotérmico e inferior ao adiabático. Assim o
maior caudal possível é o previsto pelo modelo adiabático – pior cenário (design
conservador).

• Vaporização flash de um líquido


Esta situação é aplicável para substâncias armazenadas sob pressão na forma liquida, isto é,
com temperatura (To) superior à temperatura de ebulição normal (Tb) mas inferior à
temperatura de saturação à pressão de armazenamento (P = P > 1 atm). Quando ocorre uma
fuga o líquido verte para o exterior, baixando a sua pressão e temperatura até 1 atm e T b,
respetivamente, com consequente vaporização instantânea (flash) de uma parte do líquido.
Este processo de vaporização é adiabático, pelo que o calor libertado por abaixamento da
temperatura desde To até Tb é usado para vaporizar o líquido:
𝑄̇ = 𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝐶𝑝 (𝑇𝑜 − 𝑇𝑏 ) = 𝑚v ∆𝐻𝑣𝑎𝑝
A fração de líquido vaporizada, 𝑓v , é então:
𝑚v 𝐶𝑝 (𝑇𝑜 − 𝑇𝑏 )
𝑓v = =
𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 ∆𝐻𝑣𝑎𝑝
Nesta definição assume-se que 𝐶𝑝 e ∆𝐻𝑣𝑎𝑝 não variam muito com a temperatura. Caso não
seja assim usa-se a forma diferencial e integra-se:
𝑚𝐶𝑝 𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 −𝑚v 𝑇𝑏 𝐶
1 𝑝
𝑑𝑚 = 𝑑𝑇 ∫ 𝑑𝑚 = ∫ 𝑑𝑇 
∆𝐻𝑣𝑎𝑝 𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑚 𝑇𝑜 ∆𝐻𝑣𝑎𝑝
̅̅̅̅
𝐶
𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 − 𝑚v ̅̅̅
𝐶𝑝 −̅̅̅̅
𝑝
(𝑇𝑜 −𝑇𝑏 )
 ln ( ) = − ̅̅̅̅ (𝑇𝑜 − 𝑇𝑏 )  𝑓v = 1 − 𝑒 ∆𝐻𝑣𝑎𝑝
𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 ∆𝐻𝑣𝑎𝑝
Sendo ̅̅̅ ̅̅̅̅𝑣𝑎𝑝 propriedades médias no intervalo de temperatura considerado.
𝐶𝑝 e ∆𝐻
Quando várias substâncias estão presentes 𝑓v é calculado por um cálculo flash.

• Vaporização de um líquido derramado no solo (formando uma poça):


A taxa de evaporação (caudal mássico de vapor formado) é dada pela equação de transferência
de massa por convecção, podendo também ser calculado pela entalpia de vaporização do
líquido:
𝑃𝑠𝑎𝑡 𝑀 𝑄̇
𝑄𝑚 = 𝐴𝐿 𝐾𝑚 =
𝑅𝑇 ∆𝐻𝑣𝑎𝑝
sendo 𝐴𝐿 a área da poça de liquido e 𝑄̇ o calor transferido para o liquido a partir do chão:
𝐴𝐿 𝑘𝑆 (𝑇𝑆 − 𝑇)
𝑄̇ =
√𝜋𝛼𝑆 𝑡𝑆
𝑘𝑆 : condutividade térmica do solo (W/mK), 𝑇𝑆 : temperatura do solo, 𝛼𝑆 = 𝑘𝑆 ⁄(𝜌𝑆 𝐶𝑝𝑆 ):
difusividade térmica do solo (m2/s) e 𝑡𝑆 o tempo após o derrame (s).

c. Modelos para dispersão


• A libertação de gases tóxicos/inflamáveis no ar ocorre de duas formas: na forma de uma pluma
– “plume” (para libertação contínua de gás com caudal Qm) ou de uma nuvem – “puff” (para
libertação instantânea de todo o gás, com massa total Qm*).
• Modelos de dispersão são equações matemáticas que descrevem a distribuição espacial e/ou
temporal (no caso de uma nuvem a concentração varia também com o tempo) da
concentração de um agente tóxico no ar a partir do ponto onde este é emitido.
• A dispersão de uma substância tóxica é afectada
por diversos factores:
 Velocidade do vento (quanto maior for mais
rapidamente a substância é arrastada mas
mais diluída fica)
 Estabilidade atmosférica: existência de
turbulência devido a movimentos verticais de
massas de ar graças a correntes de convecção
desenvolvidas por diferenças de temperatura
(classificada como estável, neutral e instável)
 Condições do solo: existência de obstáculos
no solo promove turbulência enquanto que áreas abertas diminuem-na.
 Altura da emissão relativamente ao solo: quanto maior for menor a concentração junto
ao solo pois a nuvem/pluma tem de percorrer uma distância maior.
 Momento linear e tendência para flutuação: gás emitido a uma grande velocidade e com
tendência para ascender (devido a densidade menor que a do ar) tende a subir no ponto
de emissão, tornando a altura de emissão efectivamente maior.
• Equações dos modelos de dispersão

A equação geral de difusão com convecção (movimento do ar por ação do vento) é:

𝜕 〈𝐶 〉 𝜕〈𝐶 〉 𝜕〈𝐶 〉 𝜕 〈𝐶 〉 𝜕〈𝐶 〉 𝜕 〈𝐶 〉 𝜕 〈𝐶 〉 𝜕〈𝐶 〉 𝜕 〈𝐶 〉 𝜕〈𝐶 〉


= − [〈𝑢𝑥 〉 + 〈𝑢𝑦 〉 + 〈𝑢𝑧 〉 ]+ (𝐾𝑥 )+ (𝐾𝑦 )+ (𝐾𝑧 )
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑧

A origem do referencial é o ponto de emissão, de coordenadas (0,0,0). A solução desta


equação, com as respectivas condições iniciais e condições fronteira dá a expressão da
concentração média em função das coordenadas espaciais e do tempo: 〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡).
Geralemente quer-se a concentração junto ao solo e assim faz-se z = 0. Para simplificar pode-se
ainda estudar apenas a concentração no eixo da direção do vento (x) fazendo y = 0.
A expressão da concentração média é depois integrada no tempo para se obter a dose
total integrada, 𝐷𝑡𝑖𝑑 (𝑥, 𝑦, 𝑧), que é a dose total a que um individuo nas coordenadas (𝑥, 𝑦, 𝑧)
está exposto (esta dose pode depois ser comparada com a TLV de modo a retirar conclusões):

𝐷𝑡𝑖𝑑 (𝑥, 𝑦, 𝑧) = ∫ 〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡)𝑑𝑡
0
Os modelos de dispersão admitem então uma série de hipóteses simplificativas de modo a se
conseguir resolver a equação diferencial acima.

 Caso de uma nuvem sem vento (u = 0):


Admitindo que as difusividades em todas as direções são iguais (𝐾𝑥 = 𝐾𝑦 = 𝐾𝑧 = 𝐾 ∗ ) e
fazendo 𝑢𝑥 = 𝑢𝑦 = 𝑢𝑧 = 0, a equação pode ser resolvida com auxilio de coordenadas
esféricas, obtendo-se:

𝑄𝑚 ∗ (𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 )
〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) = 𝑒𝑥𝑝 [− ]
8(𝜋𝐾 ∗ 𝑡)3⁄2 4𝐾 ∗ 𝑡

 Caso de uma pluma sem vento (u = 0):


Admitindo que as difusividades em todas as direções são iguais (𝐾𝑥 = 𝐾𝑦 = 𝐾𝑧 = 𝐾 ∗ ) e
fazendo 𝑢𝑥 = 𝑢𝑦 = 𝑢𝑧 = 0, a equação pode ser resolvida com auxilio de coordenadas
esféricas, obtendo-se:
𝑄𝑚
〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 𝑧) =
4𝜋𝐾 ∗ √(𝑥 2 + 𝑦 2 + 𝑧 2 )
• Modelo de dispersão de Pasquill-Guifford
Este modelo foi construído de modo a substituir as difusividades (𝐾𝑥 , 𝐾𝑦 e 𝐾𝑧 ) por coeficientes
de dispersão (𝜎𝑥 , 𝜎𝑦 e 𝜎𝑧 ) de determinação experimental mais simples. Este modelo é aplicável
tanto a plumas como a nuvens, usando as equações apropriadas. Primeiro deve-se determinar
os coeficientes de dispersão usando o ANEXO 2, da seguinte forma:
I. Determinar a classe de estabilidade atmosférica (de A a F) a partir da velocidade do vento
dada (u) e das condições diurnas/nocturnas descritas no enunciado.
II. Sabendo a classe de estabilidade obtemos imediatamente as equações dos coeficientes
de dispersão pelas tabelas 5-2 (para plumas) ou 5-3 (para nuvens). 𝜎𝑥 não aparece mas
considera-se que 𝜎𝑥 = 𝜎𝑦

Equações do modelo de Pasquill-Guifford:

 Caso de uma nuvem, com emissão ao nível do solo e velocidade do vento constante, na
direção do eixo dos x:
2
𝑄𝑚 ∗ 1 𝑥 − 𝑢𝑡 2 𝑦 𝑧 2
〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) = 𝑒𝑥𝑝 [− (( ) + ( ) + ( ) )]
√2𝜋 3⁄2 𝜎𝑥 𝜎𝑦 𝜎𝑧 2 𝜎𝑥 𝜎𝑦 𝜎𝑧

Numa nuvem a concentração varia à medida que nos afastamos do seu


centro a concentração diminui, mas para a mesma distância do centro a
concertação é a mesma, definindo assim uma linha de contorno com
composição toda igual. As coordenadas de uma linha de contorno podem
ser obtidas pela seguinte metodologia:
I. Especificar o valor de concentração que se quer para traçar a
curva – C* – e o instante de tempo – t.
II. Calcular 〈𝐶 〉(𝑥, 0,0, 𝑡), definindo a fronteira da nuvem em cada x
(yC* marca o raio da curva)
III. Calcular yC* pela seguinte equação, fazendo 〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 0, 𝑡) = 𝐶 ∗ :
〈𝐶 〉(𝑥, 0,0, 𝑡)
𝑦𝐶 ∗ = 𝜎𝑦 √2 ln ( )
〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 0, 𝑡)
yC* representa a distância a partir do centro da nuvem (marcado em x) para a qual a
concentração é C*.
 Caso de uma pluma, com emissão ao nível do solo e velocidade do vento constante, na
direção do eixo dos x:
2
𝑄𝑚 1 𝑦 𝑧 2
〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑒𝑥𝑝 [− (( ) + ( ) )]
𝜋𝜎𝑦 𝜎𝑧 𝑢 2 𝜎𝑦 𝜎𝑧
 Caso de uma nuvem, com emissão a uma altura Hr em relação ao solo, sistema de
coordenadas com origem no solo mas acompanhando o centro da nuvem (móvel) e
velocidade do vento constante, na direção do eixo dos x:

2
𝑄𝑚 ∗ 1 𝑦 1 𝑧 − 𝐻𝑟 2 1 𝑧 + 𝐻𝑟 2
〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) = 𝑒𝑥𝑝 [− ( ) ] × {𝑒𝑥𝑝 [− ( ) ] + 𝑒𝑥𝑝 [− ( ) ]}
(2𝜋)3⁄2 𝜎𝑥 𝜎𝑦 𝜎𝑧 2 𝜎𝑦 2 𝜎𝑧 2 𝜎𝑧

 Caso de uma nuvem, com emissão a uma altura Hr em relação ao solo, sistema de
coordenadas fixo no ponto de emissão mas ao nível do solo, e velocidade do vento
constante, na direção do eixo dos x:

2
𝑄𝑚 ∗ 1 𝑥 − 𝑢𝑡 2 𝑦
〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) = 𝑒𝑥𝑝 [− (( ) + ( ) )] ×
(2𝜋)3⁄2 𝜎𝑥 𝜎𝑦 𝜎𝑧 2 𝜎𝑥 𝜎𝑦
1 𝑧 − 𝐻𝑟 2 1 𝑧 + 𝐻𝑟 2
× {𝑒𝑥𝑝 [− ( ) ] + 𝑒𝑥𝑝 [− ( ) ]}
2 𝜎𝑧 2 𝜎𝑧

 Caso de uma pluma, com emissão a uma altura Hr em relação ao solo, e velocidade do vento
constante, na direção do eixo dos x:
2
𝑄𝑚 1 𝑦 1 𝑧 − 𝐻𝑟 2 1 𝑧 + 𝐻𝑟 2
〈𝐶 〉(𝑥, 𝑦, 𝑧) = 𝑒𝑥𝑝 [− ( ) ] × {𝑒𝑥𝑝 [− ( ) ] + 𝑒𝑥𝑝 [− ( ) ]}
2𝜋𝜎𝑦 𝜎𝑧 𝑢 2 𝜎𝑦 2 𝜎𝑧 2 𝜎𝑧

• Análise do pior cenário: para a dispersão de agentes tóxicos no ar é evidente que a maior
concentração, em qualquer ponto e qualquer instante, é na fonte de emissão. No caso de uma
emissão acima do nível do solo a maior concentração junto ao solo ocorre na direção do vento
(𝐷𝑡𝑖𝑑 (𝑥, 0,0)). Quando as condições meteorológicas não são conhecidas assumem-se
condições F como pior cenário possível para efeitos de cálculo dos coeficientes de dispersão.
• Sabendo qual a distribuição espacial de concentração resta saber se esta é ou não perigosa.
No contexto de um plano de emergência não são usados valores de TLV-TWA, devendo ser
usados valores de referência designados de ERPG’s (Emergency Response Planning Guideline):
 ERPG-1: concentração máxima a que os indivíduos podem estar expostos durante 1h
verificando apenas efeitos ligeiros reversíveis na saúde ou mau odor.
 ERPG-2: concentração máxima a que os indivíduos podem estar expostos durante 1h
sem verificarem efeitos irreversíveis e/ou incapacitantes na saúde.
 ERPG-3: concentração máxima a que os indivíduos podem estar expostos durante 1h
sem se verificarem efeitos que ameacem a vida desses indivíduos.

4. Incêndios e explosões

• Incêndios e explosões são reações de combustão (oxidação) de compostos combustíveis na


presença de ar e uma fonte de ignição, acompanhadas por libertação de energia. No caso dos
incêndios estas reações são lentas e no caso das explosões são rápidas, formando-se uma onda
de choque.
• Tanto um caso como o outro estão dependentes da
presença simultânea de 3 elementos chave: composto
combustível (ex: parafinas, olefinas, plásticos, madeira,
monóxido de carbono, hidrogénio, etc.) o comburente
(geralmente oxigénio/ar mas também pode ser
peróxidos, certos ácidos ou gás de cloro ou fluor) e a
fonte de ignição (faíscas, chamas, eletricidade estática ou
calor). Caso o combustível ou o comburente não estejam
presentes, ou estejam em quantidades insuficientes ou
caso a fonte de ignição tenha energia insuficiente então
a combustão não ocorre.

a. Explosões e os seus efeitos


• Explosões: expansão rápida de gases, formando uma onda de choque (onda de pressão),
causada por uma reação de combustão rápida ou uma falha catastrófica num equipamento.
 Se a onda de choque viajar a uma velocidade menor que a velocidade do som no meio
reaccional então a explosão é uma deflagração.
 Se a onda de choque viajar a uma velocidade maior que a velocidade do som no meio
reaccional então a explosão é uma detonação.

• Classificação das explosões quanto ao espaço em que ocorrem:


 Explosões confinadas: ocorrem dentro de um espaço fechada, como um edifício ou
equipamento. São as mais comuns e destrutivas.
 Explosões não confinadas: ocorrem em espaços abertos sendo menos frequentes mas
ainda assim destrutivas.
• Classificação das explosões quanto à natureza:
 Explosões químicas: ocorrem por combustão rápida de um material combustível.
 Explosões mecânicas: ocorrem não por reação química mas por libertação súbita de
um gás sob pressão devido à falha catastrófica (ruptura) de um tanque ou válvula.
 Explosões BLEVE (Boiling Liquid Expanding Vapor Explosion): ocorre quando um
tanque, cheio de liquido pressurizado a T > Tb, é aquecido devido a um incêndio junto
a ele. Isto provoca vaporização do líquido e aumento de pressão, ao mesmo tempo
que o aquecimento do tanque enfraquece as suas paredes. A certo ponto ocorre uma
falha catastrófica do tanque (ruptura) que leva à despressurização do líquido, sendo
que este se vaporiza instantaneamente, dando origem a um vapor altamente
inflamável que explode por contacto com as chamas. No caso de a ruptura não ter sido
gerada por um incendio próximo os vapores podem ainda ser inflamados por outras
fontes de ignição (ou mesmo sofrer autoignição) ao se dispersarem no ar.
 Explosões de pós: ocorrem para substâncias sólidas (especialmente metais) quando
estas estão dispersas em partículas de pequenas dimensões e entram em contacto
com ar.
• Danos provocados por uma explosão: os danos caudas por uma explosão devem-se ao
impacto da onda de choque (pico de pressão máxima – sobrepressão) em objectos ou
pessoas. Existem 3 formas de uma explosão danificar propriedade ou ferir pessoas:
 Impacto da onda de choque (pico de sobrepressão).
 Projecção de estilhaços.
 Queimaduras devido à radiação térmica.
Sabendo o valor do pico de pressão da onda de choque é possível estimar os efeitos de uma
explosão em pessoas (p.ex: hemorragias pulmonares, ruptura de tímpanos, etc.) pelo
modelo probit, usando as equações apropriadas para este caso (ver secção de toxicidade).

b. Parâmetros de inflamabilidade de compostos químicos


• Temperatura de autoignição: temperatura
a partir da qual existe energia suficiente no
ambiente para provocar a reação de
combustão (mesmo na ausência de fontes
de ignição externas).
• Flash point: temperatura mínima a partir
da qual um líquido volátil liberta vapor
suficiente para formar uma mistura
inflamável com ar.
• Ponto de chama: temperatura mínima a
partir da qual um vapor de um líquido
saturado consegue arder em combustão
sustentada.
• Limites de inflamabilidade: é a gama de concentrações de combustível (em % v/v) dentro
da qual a mistura combustível/ar pode ser considerada inflamável e entra em combustão
na presença de uma fonte de ignição. A gama é definida pelo limite inferior de
inflamabilidade (LFL) e o limite superior de inflamabilidade (UFL). Misturas com
concentrações de combustível inferiores a LFL ou superiores a UFL não são inflamáveis.
Estes valores são os mesmos para explosões, chamando-se nesse caso limites de
explosividade (LEL – Lower Explosion Limit e UEL – Upper Explosion Limit).
Os valores de LFL e UFL estão tabelados para vários compostos a 25 C e 1 atm. No caso
de misturas de compostos usam-se as seguintes fórmulas:
𝑛𝑐𝑜𝑚𝑏 𝑛𝑐𝑜𝑚𝑏

𝐿𝐹𝐿𝑚𝑖𝑥 = 1⁄ ∑ 𝐿𝐹𝐿𝑖 /𝑦𝑖 , 𝑈𝐹𝐿𝑚𝑖𝑥 = 1⁄ ∑ 𝑈𝐹𝐿𝑖 /𝑦𝑖


𝑖=1 𝑖=1
onde o índice i e as composições yi se referem somente aos compostos combustíveis da
mistura.
Os valores de LFL e UFL de um composto combustível podem ser estimados pelas seguintes
fórmulas (para hidrocarbonetos):
𝐿𝐹𝐿 = 0,55𝐶𝑠𝑡 , 𝑈𝐹𝐿 = 3,50𝐶𝑠𝑡
Sendo Cst a concentração estequiométrica de combustível (em %v/v):
moles de combustível
𝐶𝑠𝑡 = × 100 % =
moles de combustível + moles de ar
1
= × 100 % =
moles de ar
1 + moles de combustível
1
= × 100 %
1 moles de O2
1 + 0,21 moles de combustível

Resta então saber qual a razão moles de O2/moles de combustível e para isso usa-se a
reação de combustão do hidrocarboneto:
𝑥
𝐶𝑚 𝐻𝑥 𝑂𝑦 + 𝑧𝑂2 → 𝑚𝐶𝑂2 + 𝐻2 𝑂
2
sendo que:
moles de O2 𝑥 𝑦
𝑧= =𝑚+ −
moles de combustível 4 2

1
𝐶𝑠𝑡 = 𝑧 × 100 %
1 + 0,21
• Tal como a inflamabilidade de uma mistura combustível/ar depende da concentração de
combustível, também depende da concentração de oxigénio, pois se esta for muito baixa a
reação de combustão nunca ocorre, independentemente da concentração de combustível.
A concentração mínima (em % v/v) para ocorra uma combustão autossustentada da
mistura designa-se por concentração de oxigénio limitante (LOC), estando também
tabelada ou caso contrario, podendo ser estima por:
𝐿𝑂𝐶 = 𝑧 × 𝐿𝐹𝐿
A concentração de oxigénio pode ser baixada até ser inferior a LOC por simples adição de
agentes inertes à mistura (como N2 ou CO2).
• Diagramas de inflamabilidade: diagramas ternários, representando a concentração de
combustível, oxigénio e inerte (N2), nos quais é possível identificar a zona de
inflamabilidade (zona de concentrações onde a mistura entra em combustão sustentada na
presença de uma fonte de ignição). Neste diagrama são também marcadas duas linhas:
 Linha do ar: une o ponto de concentração de combustível 100% ao ponto de
concentração de combustível 0%, concentração de O2 21% e concentração de N2
79%.
 Linha estequiométrica: une o ponto de concentração de inerte 100% ao ponto de
concentração de inerte 0%, concentração de combustível igual a 100/(1+z) e
concentração de O2 igual a 100z/(1+z).
Leitura de diagramas ternários:

LFL e UFL são os pontos onde a linha do ar intersecta a zona de inflamabilidade. O valor de LOC
é a concentração de O2 no vértice desta zona, que é o ponto onde a linha estequiométrica
intersecta a recta horizontal que passa em LFL.
O diagrama de inflamabilidade obedece às seguintes regras para misturas:
 Se duas misturas R e S forem combinadas então a composição da mistura final está na
linha que une os pontos R e S, mais próximo de R ou S conforme as proporções de
mistura (regra da alavanca)
 Se uma mistura R é diluída com outra mistura S então a composição da mistura R+S é
dada pela recta que une os dois pontos,
movendo-se na direcção de S á medida que este
é adicionado.
A zona de inflamabilidade pode ser determinada
experimentalmente, com ensaios ponto a ponto, ou
estimada pelo seguinte procedimento (sendo
conhecidos os valores de LFL e UFL em ar e em O2 puro
e o valor de LOC):
I. Desenhar a linha do ar.
II. Marcar LFL e UFL em ar nessa recta.
III. Marcar LFL e UFL em O2 puro na escala do
oxigénio.
IV. Calcular as coordenadas do ponto inicial da linha
estequiométrica e traça-la.
V. Marcar LOC na escala do oxigénio e a partir desse
ponto traçar uma recta paralela ao eixo do
combustível. Marcar o ponto de intersecção
desta recta com a linha estequiométrica.
VI. Unir esse ponto ao UFL e LFL no ar, e estes
pontos ao UFL e LFL no O2 puro, respectivamente.
Caso LFL e UFL em O2 puro não sejam conhecidos apenas
se pode estimar a ponta da zona de inflamabilidade (para
lá da linha do ar).

c. Reações químicas
• A principal causa de explosões em reactores é o runaway destes, ou seja, o descontrolo da
temperatura devido a remoção ineficiente de calor. Isto leva a que a temperatura da mistura
reaccional aumente, aumentando a velocidade de reação e aumentando a velocidade de
libertação de calor (reações exotérmicas). Uma vez que a razão entre área de transferência de
calor e volume do reactor, para cilindros, diminui com o diâmetro do reactor (𝐴⁄𝑉 =
𝜋
(𝜋𝐷𝐿)⁄( 𝐷2 𝐿) = 4⁄𝐷 ), deve-se ter cuidado com o scale-up de certas reações.
4
• Outra causa de explosões em reações são reacções acidentais causadas por perturbações nas
condições de operação ou falta de isolamento de compostos perigosos.

d. Prevenção de fogos e explosões


Estratégias mais comuns para evitar incêndios e explosões:

• Adição de compostos inertes: a purga do sistema usando N2 ou CO2 (ou vapor de água)
permite baixar a concentração de O2 para valores abaixo de LOC, tornando a mistura não
inflamável.
• Evitar a zona de inflamabilidade do diagrama durante operações de enchimento e
esvaziamento de tanques:
 Esvaziamento de tanques: quando os tanques cheios de material combustível (ponto A)
são desactivados, todo o material combustível é removido, ficando no final ar (ponto R).
Contudo nesta operação atravessa-se a zona de inflamabilidade. Assim a estratégia para
evitar esta zona consiste em bombear combustível para fora do tanque (introduzindo
N2 em vez de ar) até um ponto S. A partir deste ponto introduz-se então o ar ao mesmo
tempo que se remove o combustível, até se obter ar puro (R).

As coordenadas do ponto S podem ser estimadas pela recta que une R ao vértice da
zona de inflamabilidade. A concentração de combustível no ponto S designa-se Out of
Service Fuel Concentration (OSFC), e é calculada por:
𝐿𝑂𝐶 𝐿𝐹𝐿
𝑂𝑆𝐹𝐶 = =
𝐿𝑂𝐶 𝐿𝐹𝐿
𝑧 (1 − 21 ) 1 − 𝑧 ( 21 )

 Enchimento de tanques: a mesma situação


ocorre, de forma reversa, quando se quer encher
um tanque, cheio de ar, com combustível. O
procedimento para evitar a zona de
inflamabilidade consiste em primeiro bombear
N2 até um ponto S e a partir daí bombear o
combustível até 100% (R). A concentração de
oxigénio neste ponto é desginada de In Service
Oxygen Concentration (ISOC) e é dada por:
𝑧 × 𝐿𝑂𝐶 𝑧 × 𝐿𝐹𝐿
𝐼𝑆𝑂𝐶 = =
𝐿𝑂𝐶 𝐿𝐹𝐿
𝑧 − 100 1 − 100
• Eliminar fontes de ignição: existem várias fontes de ignição possíveis, entre as quais
descargas elétricas, ou de aparelhos elétricos (como motores) ou de electricidade estática;
fontes de calor (materiais sobreaquecidos), chamas e outros materiais em combustão (ex:
cigarros, maçaricos, etc.), fricção, faíscas, etc. Para além das inúmeras fontes de ignição, os
combustíveis têm geralmente energias mínimas de ignição muito baixas (da ordem do mJ).
Esta energia diminui com a pressão e aumenta com o aumento de concentração de N 2 (mais
uma vantagem da adição de inertes).
Muitas destas fontes de ignição podem ser removidas usando equipamento especial ou
implementando regras de segurança entre os operadores. A electricidade estática (descargas
elétricas resultantes do contacto/proximidade de superfícies que acumularam carga elétrica)
é das fontes mais difíceis de controlar, podendo isto ser feito das seguintes formas:
 Ligação à terra e ligação de partes metálicas entre si para evitar faíscas.
 Manter a espessura de materiais não condutores baixa ou a sua condutividade alta
para evitar descargas em pente.
• Instalar sistemas de ventilação para remover ou diluir vapores inflamáveis (ou de preferência
colocar os equipamentos ao ar livre – espaço não confinado).
• Usar equipamentos e instrumentos à prova de fogo/explosão.
• Instalar aspersores no tecto da fábrica para conter fogos.

5. Avaliação de riscos
a. Procedimento para identificação de
perigos e avaliação de riscos
I. Identificar perigos inerentes ao
processo
II. Identificar possíveis cenários de
situações de risco
III. Calcular a probabilidade de estas
situações ocorrerem
IV. Determinar as consequências
dessas situações
V. Concluir se essas consequências
são ou não aceitáveis e agir em
conformidade

b. Métodos de identificação de perigos


• Checklists de segurança: lista extensiva de possíveis problemas e áreas a investigar.

• Levantamento/inventário de perigos: inventários de materiais perigosos na fábrica ou então


estudos mais completos como o do Índice de Incêndio e Explosão da Dow Chemical. Este é
calculado a partir de um formulário que a empresa preenche, listando possíveis perigos no
armazenamento, manuseamento e processamento de materiais explosivos/inflamáveis,
atribuindo uma pontuação a cada um deles, que permite
calcular o índice. Este indicie é então uma medida da
magnitude do perigo de ocorrência de incêndios ou
explosões numa fábrica. Procedimento para
determinação do índice (NÃO SAEM CONTAS COM ISTO!):
I. Identificar unidades processuais a estudar
II. Determinar o factor material (MF) conforme o
material processado
III. Calcular o factor geral de perigo do processo (F1) e o factor especial de perigo do
processo (F2) usando correlações com penalidades derivadas de certas situações de
risco.
IV. Multiplicar F1 e F2 para dar o factor de perigo da unidade (F3)
V. Multiplicar F3 por MF para dar o índice de incendio e explosão.
O índice pode depois ser usado para determinar as consequências de acidentes,
nomeadamente o provável máximo dano material (MPPD) e o provável máximo número de
dias fora de serviço (MPDO), usando correlações.
• Estudo de perigo e operacionalidade, HAZOP (HAZards and OPerability study): procedimento
sistemático para examinar a operacionalidade de um processo, isto é, as consequências que
advém de possíveis desvios às condições de operação projectadas.
Passos da metodologia:
a) A partir do diagrama do processo selecionar uma das suas unidades processuais para
estudo
b) Identificar o objectivo/propósito dessa unidade, ou seja, o que é suposto ela fazer em
condições normais – intenção.
c) Escolher um parâmetro operacional (ex: caudal, nível, temperatura, potência elétrica,
etc.)
d) Aplicar-lhe uma das seguintes palavras-chave para determinar possíveis desvios das
intenções definidas:

e) Determinar possíveis causas e consequências do desvio.


f) Recomendar ações a tomar (O quê? Por quem? Onde? Quando?).
g) Registar toda a informação
h) Repetir passos d) a g) até que todas as palavras-chave tenham sido aplicadas ao
parâmetro escolhido em c).
i) Repetir passos c) a h) até que todos os parâmetros da unidade tenham sido estudados
(e passa-se à próxima unidade).

Exemplo dos slides:


A vantagem do procedimento HAZOP é uma identificação muito completa dos perigos e sua
relação com condições operacionais. Contudo é uma metodologia morosa e que pode
identificar perigos independentes dos riscos.
• Revisões de segurança: são revisões a projectos (formais ou informais) feitas por um painel
independente de pessoas, no sentido de identificar e eliminar perigos nesses projectos.

c. Avaliação de riscos associados a falhas de equipamentos


• Conceitos de teoria de probabilidades aplicados a falhas de componentes
 Equipamentos avariam como resultado de falhas de um ou vários dos seus
componentes. Se realizarmos um estudo estatístico às falhas de um certo
componente podemos obter o número médio de vezes que este falha num
intervalo de tempo. Este número é a taxa de falhas média, , dada
geralmente em nº falhas/ano, e é um dado estatístico de um determinado
componente.
 Supondo que esta taxa de mantém constante ao longo do tempo então a
fiabilidade do componente, R(t), definida como a probabilidade de este não
falhar, é dada pela distribuição de Poisson:
𝑅(𝑡) = 𝑒 −𝜇𝑡
 A probabilidade de falha, P(t), será o complementar da fiabilidade
(probabilidade de não falha):
𝑃(𝑡) = 1 − 𝑅 (𝑡) = 1 − 𝑒 −𝜇𝑡
 A função densidade de falha é:
𝑑𝑃(𝑡)
𝑓(𝑡) = = 𝜇𝑒 −𝜇𝑡
𝑑𝑡
 Esta função permite determinar a probabilidade de ocorrer pelo menos uma
falha num intervalo de tempo [t0,t1]:
𝑡1 𝑡1
𝑃(𝑡0 → 𝑡1 ) = ∫ 𝑓 (𝑡)𝑑𝑡 = ∫ 𝜇𝑒 −𝜇𝑡 𝑑𝑡 = 𝑒 −𝜇𝑡0 − 𝑒 −𝜇𝑡1
𝑡0 𝑡0

 A função densidade de falha permite também calcular o tempo médio entre


falhas (MTBF):
∞ ∞
1
𝑀𝑇𝐵𝐹 = ∫ 𝑡𝑓 𝑡 𝑑𝑡 = ∫ 𝑡𝜇𝑒 −𝜇𝑡 𝑑𝑡 =
( )
0 0 𝜇
Quando as falhas são descobertas este tempo é
a soma de duas parcelas: o tempo de operação
normal, 𝜏𝑂 (que termina aquando da falha) e o
tempo de reparação, 𝜏𝑅 (que termina quando a
operação é resumida):
𝑀𝑇𝐵𝐹 = 𝜏𝑂 + 𝜏𝑅
 Nem todas as falhas são imediatamente
descobertas e reparadas e quando este é o caso as falhas dizem-se não reveladas. Assim
elas só são reveladas após uma inspeção regular, de
período 𝜏𝐼 (período de inspeção). Dentro desse
tempo há um tempo, 𝜏𝑈 , em que o equipamento,
após falha, não está disponível. Este tempo é obtido
sabendo a probabilidade de falha:
𝜏𝐼
𝜏𝑈 = ∫ 𝑃 (𝑡)𝑑𝑡
0

 A hipótese de  constante é válida


apenas num intervalo a meio do tempo de
vida do componente.

• Interações entre componentes: os componentes de um processo/equipamento organizam-se


e interagem de duas formas:
 Em paralelo: representa-se pela função lógica AND (“e”), ou seja para que haja uma
falha do processo/unidade têm de falhar todos os componentes em simultâneo (um e
outro e outro e outro…).
 Em série: representa-se pela função lógica OR (“ou”), ou seja, para que haja uma falha
do processo/unidade basta falhar um dos componentes (um ou outro ou outro ou
outro…).
O cálculo da fiabilidade global, probabilidade de falha global e taxa de falhas global é feito pela
tabela seguinte:
• Árvore de eventos: método de representação de eventos de falha (ou não falha) de
componentes de um processo e suas consequências, começando num evento iniciador e seus
efeitos até se chegar a uma série de resultados finais – estratégia indutiva.

Cada ramo representa um evento, como resultado de um sistema de segurança que falha ou
não falha (dois eventos diferentes). Começa-se no evento iniciador e conforme as
consequências que dele advêm vai-se percorrendo a ordem lógica de atuação dos sistemas de
segurança ao longo da árvore, dividindo ramos conforme esses sistemas falhem ou não. As
probabilidades de falha de cada sistema são dadas e assim pode-se calcular as probabilidades
dos eventos finais. A metodologia de construção de uma árvore de eventos é:
1) Identificar um evento iniciador de interesse
2) Identificar as medidas/sistemas de segurança desenhados para lidarem com esse evento
3) Construir árvore de eventos, seguindo a ordem de actuação dos sistemas, com base nos
eventos de falha ou não falha desses sistemas.
4) Descrever o resultado final – calcular as probabilidades. Em cada nodo (sistema de
segurança) a probabilidade de ocorrência de um evento que dele resulta é obtida
multiplicando a probabilidade de ocorrência do evento precedente a esse nodo pela
probabilidade de falha (ou não falha conforme o caso) do sistema do nodo:

Vantagens Desvantagens
Árvores de eventos na prática são enormes
Se se pretende estudar um acidente/
Úteis para descrever diferentes cenários consequência em particular não há
resultantes de um evento garantias que o evento iniciador
considerado seja de facto a causa que levou
a essa consequência.
• Árvore de falhas: são representações de falhas alternativas às árvores de eventos, em que
neste caso se começa de um evento final (acidente) e se deduzem possíveis causas alternativas
(eventos iniciadores) – estratégia dedutiva.

Metodologia:
1) Definir o evento final (topo)
2) Definir os eventos que contribuem para esse evento final, num esquema de
desconstrução, passando por eventos intermediários até aos eventos básicos. Eventos
externos (na fronteira física do sistema em estudo) podem também estar presentes, bem
como eventos que não podem ser desenvolvidos. Eventos que ocorrem em paralelo são
ligados pela função lógica AND e eventos em série são ligados pela função lógica OR.
3) Desenvolver a árvore até que só exitam eventos básicos, não desenvolvidos ou externos.

A probabilidade do evento de topo pode ser calculada sabendo as probabilidades dos eventos
básicos e aplicando as regras de associação em série e em paralelo.
 Determinação do número mínimo de conjuntos de eventos: número mínimo de conjuntos
de eventos base que pode levar ao evento de topo.
I. Rotular as portas lógicas com letras (A,B,C…) e os eventos base com números
(1,2,3,4…).
II. Começa-se pelo evento de topo e percorre-se a árvore na direção dos eventos
base, registando as portas lógicas que se encontram pelo caminho numa linha.
III. Se se encontrar uma porta lógica AND esta pode ser substituída na mesma linha
pelos eventos/portas dos quais ela depende. (no caso do exemplo abaixo a porta
A é substituída pelas portas B e C).
IV. Se se encontrar uma porta OR esta é substituída pelos eventos/portas de que ela
depende em linhas diferentes – cada evento/porta fica numa linha. As portas (ou
eventos) que vinham da linha original e que ainda não foram divididas passam
para as linhas novas. (no exemplo abaixo pega-se na porta B, que tem os eventos
1 e 2. B é substituído na linha original por 1 e cria-se uma nova linha com 2. C, que
ainda não foi substituído, fica nas duas linhas).
V. Proceder desta forma até todas as portas terem sido divididas e só existirem
números. O número de linhas no final é o número mínimo de conjuntos de
eventos. Se um conjunto for idêntico a outro mas com um número repetido (ex:
1,2 e 1,2,2) então o do número repetido elimina-se.
Vantagens Desvantagens
Na prática são enormes
Começam num evento final que se
Não há garantias de que foram representados todos
deseja estudar
os eventos possíveis
Nem sempre se conhecem as probabilidades de
Permitem calcular o número mínimo
todos os eventos
de conjuntos
Assume que todas as falhas são completas
Permite o uso de computadores São subjectivas (dependem do individuo que as fez)

d. Avaliação quantitativa de riscos (QRA – Quantitative Risk Analysis)


• Ferramenta de avaliação de risco para avaliar potenciais intervenções em
processos/projectos de modo a reduzir esses riscos. É um método extremamente complexo
(dependendo do grau de detalhe que se queira).
• Passos do método QRA:
1) Definir as potenciais sequências de eventos e
potenciais incidentes (ex: por um estudo HAZOP).
2) Avaliar as consequências de cada incidente (usar
modelos matemáticos como modelos de
dispersão, modelos probit, modelos de incêndios
e explosões, etc.)
3) Estimar a frequência de ocorrência dos potenciais
incidentes usando árvores de eventos e falhas
4) Estimar os impactos do incidente nas pessoas,
ambiente e instalações
5) Estimar o risco usando um gráfico que relacione
os impactos dos incidentes com a sua frequência.

e. Análise de camadas de proteção (LOPA – Layer Of Protection Analysis)


• É um método de avaliação de risco semi-quantitiativo, análogo ao QRA mas com
metodologias mais simplificadas (e mais conservadoras) para estimar consequências e
frequências de incidentes. A base deste método são as camadas de proteção (IPL –
Independent Protection Layer): cada camada é mais genérica que a anterior (ordem
hirerarquica), introduzindo novos sistemas de proteção. As camadas vão desde o nível mais
básico, de projecto do processo (design inerentemente seguro) passando instrumentação de
controlo e segurança e proteção física até
níveis de proteção mais globais envolvendo
sistemas de emergência da comunidade
local. O objectivo de um estudo LOPA é
determinar quantas camadas de protecção
são necessárias para tornar os riscos
aceitáveis.
• Passos do método LOPA (NÃO SE FAZEM
CONTAS COM ISTO!):
1) Identificar uma consequência e
determinar a sua categoria: existe uma
tabela (ANEXO 3) onde o tamanho da
consequência – por exemplo o caudal
de derrame de um químico estimado
por modelos de fontes – e as suas
características permitem estimar esta
categoria. Geralmente como
consequência escolhe-se o derrame de
material perigoso.
2) Identificar um cenário de acidente e a
causa associada à consequência.
3) Identificar o evento iniciador do cenário e a sua frequência de ocorrência (usando
tabelas no ANEXO 3).
4) Identificar as camadas de proteção necessárias para esta consequência e a respectiva
probabiblidade de falha, PFD (Probabilty of Failure on Demand) – ANEXO 3
5) Combinar a frequência dos eventos iniciadores com a PFD das camadas de proteção
escolhidas para obter a frequência mitigada da consequência (𝑓 𝐶 ). Para cada evento
iniciador i (com frequência 𝑓𝑖 𝐼 ), com j = 1,2,…, NPL camadas de protecção temos:
𝑁𝑃𝐿
𝐶 𝐼
𝑓𝑖 = 𝑓𝑖 × ∏ 𝑃𝐹𝐷𝑖𝑗
𝑗=1

𝑛𝐼

𝑓 = ∑ 𝑓𝑖 𝐶
𝐶

𝑖=1

6) Desenhar o gráfico de consequência vs. frequência e


decidir se o risco é ou não admissível:
 Se sim: a análise do cenário está concluída e
passa-se para outro cenário
 Se não: voltar ao ponto 4 e adicionar mais
camadas de protecção, repetir 5 e 6 até o risco
ser aceitável.
ANEXO 1
ANEXO 2
ANEXO 3

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