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IESUS

Acidentes de TTrrabalho R eferidos por TTrrabalhadores


Referidos
Moradores em Área Urbana no Interior do Estado
de São P aulo em1994*
Paulo
Referred Work Related Accidents in Workers Resident in an
Urban Area of the Interior of the St
Staa te of São P aulo in 1994
Paulo

Rita de Cássia Barradas Barata


Departamento de Medicina Social FCM Santa Casa São Paulo

Manoel Carlos Sampaio de Almeida Ribeiro


Departamento de Medicina Social FCM Santa Casa São Paulo

José Cássio de Moraes


Departamento de Medicina Social FCM Santa Casa São Paulo

Resumo
O presente artigo apresenta alguns dos resultados de um inquérito domiciliar realizado
para estudo das condições de vida da população residente em áreas urbanas de
municípios com mais de 80.000 habitantes do interior do Estado de São Paulo. Os
resultados aqui apresentados referem-se à prevalência e a algumas características de
acidentes de trabalho ocorridos em um ano. Foram informados 41,20 acidentes de
trabalho por 1.000 trabalhadores ocupados. Destes, 34,93 foram acidentes típicos e
6,28 foram acidentes de trajeto. As taxas de prevalência são analisadas com relação
a características demográficas (sexo e idade) e socioeconômicas (renda, escolaridade
e posição na ocupação) dos trabalhadores e também a condições de trabalho
(atividade, vínculo, jornada, desgaste e estressores). Discute-se ainda a subnotificação
de acidentes de trabalho comparando-se as informações de acidentes para os quais
houve a emissão de CAT com os demais. Para os assalariados do setor formal a
subnotificação atinge 42% e para a população economicamente ativa, como um todo,
chega a 71%.
Palavras-Chave
Acidentes de Trabalho; Subnotificação; Caracteres Epidemiológicos.
Summary
The present article introduces some of the results of a domiciliary survey designed to study
the life conditions of the resident population of urban areas of São Paulo interior districts
with more than 80.000 inhabitants, in 1994. A prevalence rate of 41.2 work accidents per
1.000 employed workers was estimated. The prevalence rates for typical work accidents
and itinerary accidents were of 34.93 and 6.28 per 1.000 employed workers, respectively.
The prevalence rates were analyzed with relation to demographic (sex and age) and
socioeconomic (income, education and position in the occupation) characteristics of the
workers as well as, for work conditions (activity, entail, hours work per day, waste and
stressors). Under reporting of work accidents are discussed based on accident information
for which there was the emission of CAT, with other information sources. For formal
employees the under reporting reaches 42% and for the economically active population as
a whole, it reaches 71%.
Key Words
Work Accidents; Under Reporting; Epidemiological Characters.

* Trabalho apresentado e premiado com menção honrosa no IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia,


ABRASCO, Rio de Janeiro, 1998.
Endereço para correspondência: Departamento de Medicina Social - Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Casa de São Paulo - Rua Dr. Cesário Motta Jr., 61 - São Paulo - CEP: 01221-020.
E-mail: chmedsoc@santacasasp.org.br
Informe Epidemiológico do SUS 2000; 9(3) : 199-210
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Introdução características dos acidentes de trabalho


Os acidentes do trabalho são ocorridos entre os trabalhadores
aqueles ocorridos durante o exercício do moradores das cidades do interior do
trabalho e que provocam lesão corporal Estado de São Paulo, com população
ou perturbação funcional que podem acima de 80.000 habitantes. Serão
causar a morte ou a perda ou redução, apresentadas as taxas de prevalência de
permanente ou temporária, da capacidade acidentes típicos e de trajeto no último
para o trabalho (Lei no. 6.367,19/10/76). ano, a taxa de prevalência de acidentes
leves nos últimos 30 dias, as taxas de
As informações disponíveis nos
acidentes segundo características
registros de acidentes do trabalho e doenças
demográficas e socioeconômicas dos
profissionais são reconhecidamente
trabalhadores e segundo as condições de
subestimadas, uma vez que a CAT
trabalho.
(comunicação de acidente do trabalho), o
instrumento utilizado para a notificação, Método
nem sempre é preenchido no momento do A Fundação SEADE (Sistema
atendimento. Existem também acidentes Estadual de Análise de Dados
As informações
leves que não necessitam de atendimento Estatísticos) com a colaboração do
disponíveis nos
médico e não são registrados. Finalmente, Centro de Estudos Augusto Leopoldo
registros de
acidentes do todos os trabalhadores do sistema Ayrosa Galvão do Departamento de
trabalho e informal têm seus acidentes e doenças Medicina Social da Faculdade de
doenças profissionais não registrados. Ciências Médicas da Santa Casa de São
profissionais são A realização de um inquérito Paulo e com o financiamento da
reconhecidamente domiciliar em amostra representativa dos FUNDACENTRO, realizou inquérito
subestimadas, municípios com mais de 80.000 domiciliar em amostra probabilística de
uma vez que a habitantes no Estado de São Paulo deu 8.544 domicílios das cidades do interior
CAT ensejo à realização de inquérito relativo a do Estado com mais de 80.000 habitantes,
(comunicação de em 1994.
acidentes e doenças profissionais,
acidente do
trabalho), o possibilitando a oportunidade única Do inquérito constavam seis
instrumento d e obter dados diretamente dos questionários diferentes aplicados aos
utilizado para a trabalhadores. O Inquérito procurou, moradores desses domicílios, voltados
notificação, nem além da caracterização dos acidentes, para a caracterização das condições de
sempre é identificar a percepção dos trabalhadores moradia, emprego, renda, escolaridade e
preenchido no acerca de suas condições de higiene e acesso a serviços de saúde e condições
momento do segurança no trabalho e avaliar a de higiene e segurança no trabalho.
atendimento. prevalência dos acidentes de acordo Os entrevistadores foram
c o m atributos dos trabalhadores e selecionados e treinados pela equipe
características dos locais de trabalho. responsável pela condução da Pesquisa
As informações obtidas a partir de de Condições de Vida da Fundação
entrevistas com os próprios trabalhadores SEADE.
têm sido utilizadas por diferentes Neste artigo, serão utilizadas
técnicas de abordagem em saúde predominantemente, as informações
d o trabalhador c o m o i n s t r u m e n t o contidas no questionário F referente às
alternativo às visitas aos locais de condições de higiene e segurança no
trabalho que, habitualmente, dependem trabalho acrescidas de dados de
de autorização dos empregadores. Essas identificação, renda e emprego contidos
informações têm sido validadas por nos demais questionários. Foram
observações diretas ou através de confronto entrevistados 10.364 moradores com dez
com prontuários médicos e têm se anos e mais de idade e experiência prévia
mostrado confiáveis e válidas.1,2 de trabalho, dos quais 6.561 estavam
O objetivo deste artigo é descrever ocupados na época da entrevista, 1.119
a prevalência e algumas das estavam desempregados ou inativos há

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menos de 12 meses e 2.518 estavam • variáveis de condições de trabalho:


desempregados ou inativos há 12 meses ramo de atividade, tipo de vínculo,
ou mais. Para efeito desta avaliação, duração da jornada em horas, tipo da
foram considerados apenas os jornada (diurna ou outras), desgaste
trabalhadores ocupados residentes no (físico e mental, físico ou mental,
interior (6.561 trabalhadores). nenhum), grau de desgaste (baixo,
Evidentemente, ao obter as médio, alto e muito alto) e presença
informações de interesse diretamente com de estressores no ambiente de
os trabalhadores integrantes da amostra, trabalho (higiene, ergonomia,
o estudo não permitiu a inclusão dos iluminação, ventilação, umidade,
acidentes fatais ocorridos no período, poeiras, gases e fumaças, ruído, piso,
havendo, portanto, uma parcela de temperatura, substâncias químicas,
subnotificação inerente ao desenho do máquinas, animais, vibração,
estudo. Nesse sentido, optou-se por conforto).
utilizar a medida de prevalência, embora Os dados foram processados e as
os acidentes sejam eventos agudos com análises foram feitas utilizando-se o
resultados circunscritos no tempo. conjunto de programas EPI-INFO, versão
O questionário F continha 35 6.04, produzidos pelos Centers of
questões pré-codificadas distribuídas em Disease Control and Prevention, de
três blocos: informações relativas a Atlanta, EUA. A significância estatística
atributos dos trabalhadores e das associações foi analisada através
características dos locais de trabalho; do teste do χ 2 com nível de significância
condições de higiene e segurança no de 5% e a força das associações foi
avaliada pelo cálculo da razão dos
ambiente de trabalho e caracterização dos
produtos cruzados (OR) com limites de
acidentes.
confiança de 95% pelo método de
A informação acerca dos acidentes Cornfield.
ocorridos no último ano foi obtida
mediante pergunta aberta. Esperava-se Resultados
que os trabalhadores fossem capazes de A taxa de prevalência de acidentes do
recordar e relatar acidentes mais trabalho no último ano, ocorridos no interior
importantes do ponto de vista de do Estado, foi de 41,20 por 1.000
limitações e problemas deles decorrentes, integrantes da força de trabalho, isto é, os
razão da ampliação do período indivíduos maiores de dez anos com
recordatório para um ano. Com relação experiência anterior de trabalho. Na
aos acidentes nos últimos 30 dias, a composição dessa taxa participaram os
metodologia utilizada buscou apreender acidentes típicos com 34,93 acidentes por
acidentes leves que tendem a ser omitidos 1.000 integrantes da força de trabalho e os
quando se recorre a perguntas abertas acidentes de trajeto com 6,28 acidentes por
utilizando um "check list". Os resultados 1.000. Dos acidentes de trabalho ocorridos
demonstram que, assim como em no último ano, 38,8% não implicaram
inquéritos de morbidade em geral, também afastamento do trabalha enquanto 61,2%
para os acidentes do trabalho a resposta resultaram em algum afastamento, em que
estimulada fornece mais informações. 47,1% demandaram afastamentos
Como variáveis explanatórias foram inferiores a 15 dias e 14,1% afastamentos
iguais ou superiores a 15 dias.
selecionados três grupos:
Os acidentes leves ocorridos nos
• variáveis demográficas: sexo e idade;
últimos 30 dias apresentaram taxa de
• variáveis socioeconômicas: renda 122,60 episódios por 1.000 trabalhadores
média mensal em salários mínimos, ativos. Os problemas mais freqüentemente
escolaridade em número de anos referidos, isto é, aqueles que acometeram
cursados e posição na ocupação; mais de 10% da força de trabalho ocupada

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foram: irritação das mucosas (44%), formal. Entretanto, se for considerado o


contusões (24%), irritação da pele (18%), conjunto da população economicamente
ferimentos (15%), mordidas e picadas ativa, a subnotificação de acidentes de
(12%) e tonturas e náuseas (10%). Entre trabalho atinge a cifra de 71,1% (70,0 -
os problemas mais freqüentes, pode-se 72,2).
observar a existência de acidentes ou • Características demográficas e
conseqüências para a saúde dos socioeconômicas:
trabalhadores relacionadas com a presença
As taxas de prevalência de acidentes
de substâncias irritantes no processo de
de trabalho, típico e de trajeto segundo a
trabalho e condições inseguras relacionadas
idade dos trabalhadores é apresentada na
com a ocorrência de contusões e
Tabela 1 e na Figura 1. Os dados
ferimentos, além da exposição a animais
apresentados mostram, para os acidentes
resultando em mordidas e picadas.
típicos, um risco bastante alto para os
• Subnotificação menores de 14 anos, redução do risco no
Foram notificados através de CAT grupo seguinte (14 a 17 anos) novo
apenas 28,9% (27,8 - 30,0) dos acidentes aumento do risco entre 18 e 29 anos,
de trabalho ocorridos no último ano. Tendo estabilização em valores menores entre 30
em vista que, do ponto de vista legal, e 59 anos e outra redução na faixa de 60
apenas os acidentes ocorridos entre anos e mais. Para os acidentes de trajeto o
trabalhadores assalariados do setor formal risco é baixo nos menores de 14 anos,
são registrados e que 69% dos assalariados mantém-se praticamente constante entre
entrevistados pertenciam ao setor formal 14 e 59 anos e aumenta entre os maiores
(com registro em carteira), a proporção de 60 anos.
de notificações aumenta para 42,1% (39,9 Com relação ao sexo, os acidentes
- 44,2). Portanto, haveria, nos dados típicos foram 2,5 vezes mais prevalentes
oficiais, cerca de 57,9% (55,8 - 60,0) de no sexo masculino enquanto os acidentes
subnotificação de acidentes de trabalho, de trajeto apresentaram prevalências
mesmo que fossem considerados apenas praticamente idênticas. Para os acidentes
os trabalhadores assalariados do setor no último ano, a razão de riscos foi de

Tabela 1 - Taxas de Acidentes do Trabalho (1.000 trab.) segundo tipo e idade, interior do Estado de
São Paulo, 1994.

Idade Acidente Típico Acidente de Trajeto Total

10 – 13 60,80 2,96 63,76

14 – 17 34,46 6,10 40,56

18 – 24 42,48 5,37 47,85

25 – 29 45,41 7,43 52,84

30 – 39 33,44 6,30 39,74

40 – 49 30,35 5,83 36,18

50 – 59 32,90 5,03 37,92

60 e mais 22,53 8,26 30,79

Total 34,93 6,28 41,20

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Taxa p/1.000

70

60

50

40

30

20

10

0
10 14 18 25 30 40 50 60
Idade
ac.trajeto ac.típico
Ac. Trajeto Ac.Típico

Figura 1 - Taxas de Acidentes de Trabalho por tipo e idade, interior do Estado de São Paulo, 1994.

2,12 em decorrência do peso que os acidentes leves nos últimos 30 dias, as taxas
acidentes típicos têm no conjunto de revelaram o mesmo comportamento
acidentes relatados. Os acidentes leves observado para os acidentes típicos no
registrados nos últimos 30 dias último ano.
apresentaram taxas de prevalência Com relação à renda familiar per
semelhantes para homens e mulheres, com capita observou-se que as taxas de
razão de riscos de 1,20. prevalência de acidentes no último ano
As Tabelas 2, 3 e 4 apresentam as apresentaram valores mais altos para as
taxas de acidentes do trabalho segundo três primeiras classes de renda, isto é,
algumas características socioeconômicas entre 0,0 e 2,0 salários mínimos. Entre 2,1
dos trabalhadores acidentados. e 5,0 salários mínimos, as taxas
Para os acidentes típicos, observou- observadas foram menores que as
se relação inversa entre a taxa de acidentes e anteriores, na classe entre 5,1 e 10,0 as
os anos de escolaridade. Tomando-se como taxas voltaram a subir e na classe de
referência a taxa observada para os rendimentos acima de dez salários
indivíduos com 12 anos ou mais de mínimos elas caíram pela metade. Para a
escolaridade, as razões de risco foram de ocorrência de acidentes nos últimos 30
4,40 para os indivíduos sem escolaridade dias, observaram-se taxas altas em todas
formal; 3,75 para aqueles com um a quatro as faixas de rendimento, com redução na
classe de mais de 10,0 salários mínimos.
anos de escolaridade ; 3,35 para aqueles com
Embora exista uma relação inversamente
cinco a oito anos e 2,33 para aqueles com
proporcional entre rendimentos e taxa de
nove a 11 anos de escolaridade. Podem-se
acidentes, ela não parece tão específica
distinguir três faixas de risco diferentes: alto
quanto, por exemplo, a observada com
nos indivíduos sem escolaridade formal ou
relação à escolaridade.
com escolaridade básica, intermediário nos
indivíduos com escolaridade secundária e Outra variável socioeconômica
baixo para aqueles com escolaridade considerada além da escolaridade e da renda
superior. Para os acidentes de trajeto não se foi a posição na ocupação (Tabela 4).
observou qualquer tendência. Quanto aos Chama a atenção a taxa de

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Tabela 2 - Taxas de Acidentes do Trabalho (1.000 trab.) segundo tipo de acidente e escolaridade, interior do
Estado de São Paulo, 1994.

Escolaridade Acidente Típico Acidente de Trajeto Total

Nenhuma 52,81 15,96 68,77

1-4 anos 45,06 4,51 49,57

5-8 anos 40,26 3,60 43,87

9-11 anos 28,03 8,15 36,18

12 anos e mais 12,02 8,20 20,02

Total 36,38 6,10 42,48

Tabela 3 - Taxas de Acidentes de Trabalho (1.000 trab.) no último ano segundo renda familiar per capita em
salários mínimos, interior do Estado de São Paulo, 1994.

Renda Familiar
Acidente no Último Ano
Per Capita (SM)
0,0 - 0,5 49,64

0,6 - 1,0 56,64

1,1 - 2,0 46,56

2,1 - 3,0 34,91

3,1 - 5,0 30,31

5,1 - 10,0 44,88

Mais de 10,0 19,49

prevalência extremamente alta para os de acidentes relativamente mais baixas, assim


agricultores. A grosso modo, as posições que como os trabalhadores familiares. Os
correspondem ao subproletariado e ao profissionais liberais apresentaram taxas
proletariado apresentam maiores taxas de maiores que a desses dois grupos porém
prevalência, destacando-se, nesses grupos, inferiores aos demais.
os assalariados e assalariados com contratos • Condições de trabalho
de autônomo com os maiores riscos. É
A principal variável relativa a
interessante notar a prevalência semelhante
entre trabalhadores domésticos mensalistas condições de trabalho é o ramo de atividade,
e empregadores sugerindo, assim, um certo uma vez que ela condiciona o tipo de
excesso de acidentes entre empregadores que, atividade desenvolvida e, portanto, o tipo e
por sua condição social, deveriam estar menos a quantidade de exposição a situações
sujeitos a situações de risco. Os donos de favorecedoras de acidentes de trabalho.
negócios familiares, correspondentes a uma As atividades produtivas que
parte da pequena burguesia, apresentam taxas apresentaram taxas de prevalência de

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Tabela 4 - Taxas de Acidentes de Trabalho (1.000 trab.) no último ano segundo posição na ocupação, interior
do Estado de São Paulo, 1994.
Ocupação* Acidentes no Último Ano

Agricultor 194,24
Doméstico mensalista 34,66
Doméstico diarista 36,11
Autônomo 31,58
Assalariado 48,07
Assalariado com contrato de autônomo 42,26
Dono negócio familiar 5,55
Trabalhador familiar 5,35
Profissional liberal 26,11
Empregador 32,62
Outros 0,00

* Segundo definição do DIEESE

acidentes no último ano mais altas foram provavelmente em função do pequeno


as extrativistas e de representação política, número de trabalhadores arrolados nesse
seguidas da construção civil e metalurgia, grupo (Tabela 5).
transformação industrial e agropecuária. Quanto ao tipo de vínculo, a taxa de
As atividades que apresentaram menor prevalência de acidente do trabalho, no último
prevalência de acidentes no último ano ano, foi de 51,79 entre os trabalhadores
foram comércio de mercadorias e assalariados registrados, 26,06 entre os
prestação de serviços. Não houve menção trabalhadores assalariados não registrados e
de acidentes nas outras atividades 38,87 entre os funcionários públicos.

Tabela 5 - Taxas de Acidentes de Trabalho (1.000 trab.) no último ano segundo o ramo de atividade produtiva,
interior do estado de São Paulo, 1994.
Atividade Produtiva Acidentes no Último Ano

Agropecuária 54,59
Extrativistas 490,47
Transformação industrial 54,41
Construção civil 70,09
Comércio de mercadorias 29,19
Administrativa, financeira, imobiliária 34,47
Prestação de serviços 29,64
Reparos e limpeza 46,72
Representação política 111,72 *
Outras 0,00

* Taxa elevada devido ao pequeno número de trabalhadores.

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Observou-se relação diretamente (39,64 por 1.000 trabalhadores), com


proporcional entre duração da jornada e razão de riscos de 1,37.
taxa de prevalência de acidentes de trabalho De acordo com o esperado, observou-
no último ano, exceção feita aos se relação diretamente proporcional entre a
trabalhadores cuja jornada era habitualmente prevalência de acidentes no último ano e o
inferior a 20 horas semanais e que desgaste referido pelos trabalhadores ao final
apresentaram risco semelhante ao daqueles da jornada de trabalho. Os trabalhadores que
que trabalharam entre 41 e 60 horas referiram sentir-se bem após o trabalho, ou
semanais, risco esse maior do que o seja, não referiram desgaste, apresentaram
registrado para os trabalhadores com taxas menores de acidentes (22,54/1.000
jornadas entre 20 e 40 horas semanais trabalhadores). Aqueles que referiram
(Tabela 6). cansaço físico ou mental e aqueles que
referiram cansaço físico e mental mostraram
Tabela 6 - Taxas de Acidentes de Trabalho (1.000 trab.) no
as maiores taxas de acidentes,
último ano segundo o número de horas trabalhadas por
respectivamente 46,81 e 46,63 (por 1.000
semana, interior do Estado de São Paulo, 1994.
trabalhadores).
Horas / Semana Acidentes no Último Ano As taxas de prevalência de acidentes
no último ano também mostraram relação
00 – 20 41,55
diretamente proporcional ao grau de
21 – 40 31,41 desgaste referido ao final da jornada. Para
41 – 60 48,58 os acidentes ocorridos no último ano,
tomando-se como referência a prevalência
Mais de 60 63,18 para os indivíduos que referiram baixo grau
de desgaste, a razão de riscos variou de
As jornadas de trabalho noturnas, 1,18 para o nível médio a 1,62 para o nível
por turnos ou irregulares, foram alto e 1,96 para o muito alto (Figura 2).
agrupadas para finalidade de análise. Foram considerados estressores uma
Comparativamente, as taxas de prevalência série de condições presentes nos locais
de acidentes no último ano foram maiores de trabalho que poderiam representar
para os trabalhadores com esse tipo de maior possibilidade de acidentalidade. As
jornadas (54,28 por 1.000 trabalhadores) taxas de prevalência de acidentes no último
do que para aqueles em jornadas diurnas ano foram mais altas entre os

Taxa p/1.000
300

250

T 200
a
150
x
a 100

50

0
b a ix o m é d io a lto m u ito a lto
Grau
ú ltim o ade
n oDesgaste
ú ltim o m ê s
Último ano Último mês Grau de desgaste
Figura 2 - Taxas de Acidentes de Trabalho (1.000 trab.) no último ano, segundo grau de desgaste, interior do
Estado de São Paulo, 1994.

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trabalhadores que referiram a presença de trabalhadores registrados.3 Para 1991, na


estressores nos locais de trabalho do que cidade de Barcelona, foram registrados
para aqueles que não referiram (63,71 e 89 acidentes por 1.000 trabalhadores,
23,32/1.000, respectivamente). A correspondendo, assim, a um risco cerca
prevalência foi 2,73 vezes maior entre os de duas vezes maior. 4
trabalhadores que afirmaram a presença Dado que a informação de
de estressores em seus locais de trabalho. ocorrência do acidente dependia do relato
Para os acidentes ocorridos no último do trabalhador e que o período de
mês, a prevalência foi 5,46 vezes maior investigação cobria os últimos 12 meses,
entre esse grupo de trabalhadores. era de se esperar que tivesse ocorrido
As taxas de prevalência dos acidentes maior registro de acidentes com maior
no último ano apresentam valores altos gravidade, isto é, os trabalhadores
para todos os estressores relatados. estariam mais propensos a recordar e
Entretanto, destacam-se por sua referir os acidentes que provocaram
magnitude as taxas observadas em locais afastamento do trabalho ou algum tipo de
de trabalho nos quais há presença de modificação na vida cotidiana.
ferramentas ou máquinas perigosas, Os dados relativos ao percentual de
vibrações, disposição inadequada de acidentes em que não ocorreu
móveis e equipamentos, manipulação de afastamento do trabalho bem como a taxa
substâncias químicas, presença de de prevalência de acidentes ocorridos
animais, iluminação inadequada e pisos nos últimos 30 dias parecem corroborar
irregulares ou escorregadios. Estes cinco a expectativa anteriormente expressa.
grupos de estressores corresponderam Dos acidentes referidos, apenas 40% não
também às maiores taxas de prevalência demandaram afastamento. Para o Brasil,
dos acidentes nos últimos 30 dias, embora no ano de 1991, apenas 13% dos
em ordem de importância diferente. acidentes notificados não demandaram
Para os acidentes ocorridos no último afastamento. 5 A pequena proporção de
ano, as menores taxas foram relacionadas acidentes mais leves sugere que há
a temperaturas inadequadas, ruído, subnotificação e subinformação importante,
posições antiergonômicas e poeira. Para os visto que os acidentes leves deveriam ser
acidentes ocorridos do último mês, as proporcionalmente mais freqüentes do que
menores taxas foram observadas para os moderados e graves.
temperatura inadequada, poeiras e ruído. A prevalência de acidentes nos
A razão de risco entre as taxas de últimos 30 dias foi três vezes maior do
acidentes ocorridos no último ano para as que a taxa de acidentes referidos no último
situações de presença dos estressores e a ano. Tal resultado decorre da técnica de
taxa total de acidentes na ausência deles check list empregada para aferição dos
apresenta valores acima de 2 para todas acidentes nos últimos 30 dias que fornece,
as situações, com valores variando de 3,0 em geral, um número maior de menções
para presença de poeiras a 6,94 para a do que o relato espontâneo obtido através
presença de ferramentas e máquinas de pergunta aberta.
perigosas. Quanto à subnotificação, as cifras
registradas foram altas tanto para os
Discussão trabalhadores inseridos no setor formal da
A taxa de prevalência de acidentes economia quanto para a população
de trabalho entre os trabalhadores economicamente ativa. Não há dados de
residentes no interior do Estado de São literatura que permitam a comparação com
Paulo, nas áreas urbanas de municípios os dados desse inquérito. A única
com mais de 80.000 habitantes, superou informação disponível refere-se à
a taxa registrada para o país como um comparação entre acidentes de trabalho
todo que, para o ano de 1990, fatais registrados no sistema de
correspondeu a 30 acidentes por 1.000 informações de mortalidade, cujo

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instrumento básico de registro são os Analisando a distribuição das taxas


atestados de óbito, e as notificações pela de acidentes segundo a posição na
CAT. Em trabalho realizado por técnicos ocupação, observou-se que, quanto maior
do Ministério da Saúde observou-se cerca a autonomia na execução do trabalho
de 43,2% de subnotificação, isto é, apenas (dono de negócio familiar, trabalhadores
56,8% dos óbitos registrados como familiares e profissionais liberais), menor
decorrentes de acidentes de trabalho o risco de acidentar-se. Os dados
haviam sido notificados por CAT.6 parecem sugerir que o domínio, pelo
A distribuição dos acidentes por trabalhador, da execução de sua
idade e sexo foi semelhante à observada atividade, a definição dos ritmos, pausas,
para o país como um todo, no qual 60% etc., representam menor risco para
dos acidentes concentram-se no grupo acidentes.
de 18 a 35 anos e há cerca de três vezes Barreto 9, estudando a mortalidade
mais acidentes entre os homens. 3,7 por acidentes fatais e outras causas, em
Chama a atenção o risco alto, para os coorte de trabalhadores de siderurgia,
acidentes típicos, entre os menores de 14 encontrou taxas padronizadas de
anos, provavelmente relacionado com o mortalidade inversamente proporcionais
exercício de atividades agrícolas, à qualificação dos trabalhadores.
atividades estas que apresentam riscos A distribuição das taxas de acidentes
altos de acidentes.8 segundo ramo de atividade foi coerente
A relação observada entre com os processos de trabalho
escolaridade e taxa de acidentes de predominantes em cada grupo de
trabalho foi bastante semelhante à atividades consideradas. De maneira
registrada por Barreto 5 ao estudar os geral, as atividades agrícolas e industriais
acidentes fatais entre trabalhadores de apresentam, em seus processos de
uma siderúrgica brasileira. A relação produção, situações mais propícias à
inversamente proporcional entre ocorrência de acidentes enquanto as
prevalência de acidentes e escolaridade atividades comerciais e de prestação de
provavelmente reflete as atividades serviços apresentam condições mais
ocupacionais predominantes nos seguras. A mesma tendência foi
diferentes estratos de escolaridade, isto observada no estudo de acidentes fatais
é, há uma relação de dependência nos Estados Unidos,8 em Campinas10 e em
bastante estrita entre posição na Porto Alegre. 7
ocupação, ramo de atividade e As diferenças observadas na
escolaridade, e destas variáveis com as prevalência de acidentes de trabalho entre
situações de insalubridade e insegurança funcionários públicos e trabalhadores
no trabalho. A escolaridade também pode assalariados com ou sem registro
contribuir diretamente para a maior refletem também as características dos
percepção de perigo e condições atividades predominantes em cada grupo.
insalubres e para a construção de Os funcionários públicos desempenham
comportamentos de preservação. predominantemente atividades de
O risco de acidentes de trabalho foi prestação de serviços e administrativas,
significativamente mais alto para os havendo apenas um pequeno contingente
trabalhadores com renda familiar per em atividades de produção industrial, tais
capita inferior a dez salários mínimos. A como gráficas, usinas de asfalto,
renda per capita, assim como a concretagem, etc.
escolaridade, encontra-se estreitamente No Brasil, em 1990, 23% da
associada à ocupação e à inserção do população economicamente ativa estava
trabalhador no processo produtivo. envolvida em atividades agrícolas e cerca
Barreto5 encontrou diferenças ainda mais de 92% não tinha registro em carteira;
marcantes ao estudar os acidentes fatais. 23% estava inserida em atividades

Informe Epidemiológico
do SUS
2 0 8
Rita de Cássia Barradas Barata e cols. IESUS

industriais; na indústria de transformação referido e a taxa de acidentes de trabalho


e nos transportes, 70% dos trabalhadores apenas reforça as considerações
eram registrados enquanto na construção anteriores.
civil apenas 37% eram registrados; Uma das razões fundamentais para
finalmente 54% estavam envolvidos em o desgaste está na organização do trabalho,
atividades do setor terciário onde cerca na alienação e falta de autonomia. Outra,
de 30% dos trabalhadores eram está na presença de condições inseguras
registrados.3 ou insalubres. Foram consideradas como
Em São Paulo, entre os assalariados estressoras as condições de exposição a
sem registro, predominaram as atividades agentes físicos, químicos ou biológicos
comerciais e de prestação de serviços que presentes no ambiente de trabalho e
acarretam menor risco de acidentes aos percebidos como problemáticos por parte
trabalhadores. dos trabalhadores.
O comportamento das taxas de
Conclusões
prevalência segundo a duração da jornada
de trabalho foi o esperado na medida em Apesar da grande importância dos
que o maior risco correspondeu à maior acidentes de trabalho como causas de
exposição, exceção feita ao grupo com morbidade e mortalidade entre os
jornadas de menos de 20 horas semanais. trabalhadores, há relativamente poucas
Provavelmente, os trabalhadores com investigações epidemiológicas sobre o
jornadas menores do que 20 horas tema em nosso meio.
semanais têm inserções precárias no Muitos dos trabalhos referem-se a
mercado que poderiam estar associadas um local particular de trabalho ou utilizam
a situações de maior exposição, apesar dados dos atestados de óbitos para a
da menor quantidade. caracterização dos acidentes.
As jornadas noturnas, por turnos ou Um problema permanente nesse tipo
irregulares, apresentaram maior risco de de investigação tem sido o dos
acidentes, provavelmente pelo tipo de denominadores, isto é, a dificuldade em
desgaste que provocam no trabalhador. dispor de informações detalhadas sobre
O risco de acidentar-se foi 1,37 vezes a população exposta.
maior. Barreto5 encontrou risco 4,6 vezes Os inquéritos populacionais podem
maior em relação a acidentes fatais, vir a constituir uma forma alternativa de
sugerindo que além de maior risco de caracterizar melhor os acidentes de
acidentes há também maiores trabalho, possibilitando ao pesquisador ter
dificuldades para o atendimento aos acesso às informações do evento de
acidentados e/ou maior gravidade nos interesse e também da população exposta.
acidentes ocorridos em jornadas Como outros estudos de prevalência,
diferentes da diurna. entretanto, tais investigações estão
A associação entre prevalência de sujeitas ao viés de seleção (exclusão de
acidentes e desgaste referido pelo casos já falecidos e que porventura
trabalhador encontra explicação em estejam internados e, portanto, não
observações anteriores de maior presentes no momento do inquérito) e aos
desatenção, diminuição da capacidade de diferentes tipos de viés de informação
reflexo, diminuição da capacidade (recordatório, viés do entrevistador,
d e enfrentamento de situações instrumento, etc.).
potencialmente inseguras e, portanto, Apesar de todas as limitações
facilidade para a ocorrência de diferentes apontadas, o inquérito domiciliar mostrou-
agravos entre trabalhadores desgastados se um recurso válido para a obtenção de
física e/ou mentalmente. informações suficientes para traçar o
A observação de uma relação tipo perfil epidemiológico dos acidentes de
dose-resposta entre o grau de desgaste trabalho destacando a importância

volume 9, nº 3
julho/setembro 2000
209
IESUS Acidentes de Trabalho em Áreas Urbanas

d e características demográficas e Velhos e novos males da saúde no


socioeconômicas dos trabalhadores e Brasil. São Paulo: HUCITEC; 1995.
condições de higiene e segurança no 4. Sampaio RF, Martin MM, Artazcoz
trabalho em sua produção. LL. Acidentes de trabalho em
Finalmente, por meio do inquérito, Barcelona no período de 1992-1993.
foi possível avaliar a magnitude da Revista de Saúde Pública 1998; 32
subnotificação que afeta os dados oficiais (4) : 00-00. (falta nº páginas).
dos acidentes registrados nas CATs e 5. Barreto S, Swerdlow AJ, Smith PG,
ultrapassar as limitações impostas pela Higgins CD. A nested case-control
legislação analisando a ocorrência de study of fatal work related injuries
acidentes na população economicamente among brazilian steel workers.
ativa, independentemente de sua forma Occupational and Environmental
de inserção no processo produtivo, isto Medicine 1997; 54 : 599-604.
é, sem restringir-se aos acidentes em
6. Beraldo PSS, Medina MG, Borba EA,
trabalhadores assalariados do setor formal
Silva LP. Mortalidade por acidentes
da economia.
do trabalho no Brasil - uma análise
Agradecimentos das declarações de óbito, 1979-1988.
À equipe de pesquisadores da Informe Epidemiológico do SUS
Fundação SEADE responsáveis pela 1993 jan/fev; II (1) : 41-54.
realização da Pesquisa de Condições de Vida 7. Oliveira PAB, Mendes JM. Acidentes
94: Annez Andraus Troyano, Olavo Viana de trabalho: violência urbana e morte
Costa, Sandra Márcia Chagas Brandão, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
Wilton de Oliveira Bussab; à equipe técnica Brasil. Cadernos de Saúde Pública
e aos entrevistadores, e ao diretor executivo 1997; 13 (supl. 2 ) : 73-83.
da Fundação SEADE, Pedro Paulo Martoni 8. Bailer AJ, Stayner LT, Stout NA,
Branco, pela autorização de utilização do Reed LD, Gilbert SJ. Trends in rates
banco de dados. of occupational fatal injuries in the
US (1983-1992) Occuaptional and
Referências bibliográficas Environmental Medicine 1998; 55 :
1. Laurell, AC, Noriega, M. Processo 485-489.
de produção e saúde, trabalho e 9. Barreto S, Swerdlow AJ, Smith PG,
desgaste operário. São Paulo: Higgins CD, Andrade A. Mortality
HUCITEC; 1989. from injuries and ohter causes in a
2. Facchini LA. Uma contribuição da cohort of 21.800 Brazilian steel
epidemiologia: o modelo de workers. Occupational and
determinação social aplicado à saúde Environmental Medicine 1996; 53 :
do trabalhador. In: Buschinelli JTP, 343-350.
Rocha LE, Rigotto RM. Isto é trabalho 10. Lucca S de, Mendes R.
de gente? Vida, doença e trabalho no Epidemiologia dos acidentes do
Brasil. São Paulo: Vozes; 1994. trabalho fatais em área metropolitana
3. Wünsch Filho V. Variações e da região sudeste do Brasil, 1979-
tendências na morbimortalidade dos 1989. Revista de Saúde Pública
trabalhadores. In: Monteiro CA (org). 1993; 27 (3) : 168-176.

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do SUS
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