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EXISTENCIAL-FENOMENOLÓGICA
ABSTRACT: The preparations of this article promote the theory discussion about
suicide. Study the death by suicide is an arduous and difficult task, because it is a topic
that generates indiscretions, speculations, expectations and, especially anxiety
researcher in contributing to the unveiling of this reality, for exposing it objectively
through clarification, via systematic and scientific studies to find solutions to mitigate
their impact or prevent their achievement. The suicide, from a psychological point of
view, is a challenging phenomenon for various theoretical perspectives. Let us count 10
to 15 ideas in mind, and no one has much more than that in thought; and rotate daily
1
Psicóloga; Pós Graduação em Gestão de Recursos Humanos - UNISUL. E-mail:
lenir.minghettipsi@gmail.com.
2
Doutora em Psicologia e professora do curso de Psicologia, da UNIPLAC. E-mail: lak@uniplac.net.
hours and hours, according to these 15 points. "What means that after five years to turn
around it, no one else bears to hear." So, the individual comes to a point not take any
more ideas, negative thoughts and ends with their pain, taking the life, so suicide is
attached confession that existence "not worth it". Therefore, this article will present
suicide understanding the vision of three psychological schools, psychoanalytic theory,
systems theory and existential - phenomenological how conclusion is imperative to
expose that psychology has technical resources that can minimize relapses and the
social impact caused by this demand.
Keywords: Life. Death. Finitude. Psychology. Existence.
Dentro de uma visão psicanalítica, o suicídio é uma situação psicótica, que pode ser
observada na dinâmica do sujeito suicida, aparecendo fantasias inconscientes primitivas que
corroboram com os fatores desencadeantes do ato suicida. Segundo D’Assumpção,
D’Assumpção, D’Assumpção, Bessa, (1984), nem toda a pessoa que tenha ou cometa o
suicídio é psicótica, mesmo com a sintomatologia carregada de internações, tentativas
anteriores, surtos, etc. A psicose atuaria no suicídio em determinados núcleos e componentes
psicóticos de personalidade, que podem permanecer inativos e neutralizados, porem em
determinados momentos emergem, de modo súbito, brusco e violento, como de modo mais
lento e gradual (D’ASSUMPÇÃO et.al, 1984).
Além das psicoses citadas, Freud, em seus estudos não se interessou com
profundidade pelo problema do suicídio: “ele se ocupou do tema por meio da análise de
alguns casos clínicos para compreender o processo doloroso do luto e os aspectos mais
destrutivos dualismo pulsional” (WERLANG, MACEDO e KRUGER, 2004, p.75).
Freud (1915, apud Werlang et.al, 2004), em seus achados clínicos de identificou
manifestações de desejo suicida em uma tentativa de compreendê-los em associação com os
sintomas dos seus pacientes. Salientou a forma patológica do luto e melancolia, expondo que
o que dá margem a doença, esta além de uma perda por morte, trazendo como co-vilão
sentimentos postos de amor e ódio. Expôs que junto à melancolia, etapas de sadismo estão
presentes, onde este sadismo tende a solucionar o enigma da tendência ao suicídio: “o
sadismo passa, então, a ser investido contra o próprio eu, identificado com o objeto perdido”
(WERLANG et.al, 2004, p.75).
Segundo Freud a pulsão de morte possui caráter demoníaco e não pode ser explicado
pelo principio do prazer. A pulsão é objeto da compulsão e repetição e, deste modo o
indivíduo é conduzindo se colocar de forma repetida em situações dolorosas reproduzindo
situações antigas. Laplanche (apud Werlang et.al., 2004, p.77), relata que “a pulsão de está
ligada não só a compulsão e repetição, mas também a noção de principio de Nirvana, ou seja,
a ausência de excitação destacando que a existência de uma pulsão de morte no nível mais
profundo do inconsciente”.
Em 1976, Freud (apud Werlang et.al., 2004) apresentou a idéia de uma instância
psíquica, para que pudesse explicar a culpa, auto-acusação no entendimento da depressão e
melancolia. Em 1923 formula o conceito de superego como funcionamento do inconsciente, e
suas relações com o ego, para melhor compreensão da dinâmica do suicídio.
Para viver, é preciso certa dose de auto-estima e apoio das forças protetoras do
superego. Assim, o medo da morte, na melancolia, acontece quando o ego de desespera,
porque se sente odiado e perseguido pelo superego. O suicídio é uma expressão de que a
terrível tensão, produzida pelo superego, tornou-se insuportável. A perda da auto-estima é tão
completa que toda esperança de recuperá-la e abandonada. O ego percebe-se desamparado
pelo superego e deixa-se morrer (WERLANG et.al. 2004, p.78).
et.al., 2004, p.78), tem duas origens: primeiramente exige-se uma renuncia as satisfações
pulsionais e, em segundo, ao mesmo tempo em que faz isto, requer também uma punição. “O
primeiro sentimento de culpa se expressa no complexo edipiano”.
Para Garma (apud Werlang et.al., 2004), o individuo que comete o suicídio tem seu
objeto de desejo perdido, e assim deseja desaparecer da vida, de igual forma que desapareceu
o seu objeto libidinoso, para direcionar sua agressividade contra si; porem na verdade queria
mesmo era atacar um objeto exterior que se encontra introjetado no seu ego.
Deste modo, Garma (apud Werlang et.al., 2004, p.79), expõe que o suicídio pode
estar relacionado às neuroses infantis e atuais: “na psicogênese do suicídio há motivos atuais
que estimulam o indivíduo a viver a vida como desagradável e motivos infantis que
ocasionaram uma formação masoquista da personalidade”. Menninger (2004, p. 74), destaca
que após a teoria clássica da depressão formulada Freud, tanto a depressão como o suicido
seriam expressões da hostilidade introjetado no inconsciente, vistas quando:
Suicídio
O desejo de morrer: existe diferença entre o desejo consciente de morrer (ou não morrer) e
o desejo inconsciente de morrer. No desejo inconsciente e não morrer ou ausência de desejo
de morrer naqueles indivíduos com freqüentes tentativas de suicídio frustrada. O desejo de
morrer está relacionado ao instinto de morte. O desejo consciente de morrer corresponde ao
desejo inconsciente de morrer, sugerindo em relação ao simbolismo comum entre ambos.
O desejo de ser morto: ser morto é a forma extrema da submissão, assim como matar é a
forma extrema de agressão, desejo de sofrer e de submeter-se à dor e mesmo à morte é
encontrado na natureza da consciência, psicológica. No suicídio o ego precisa sofrer na
proporção direta de sua destrutividade dirigida para fora, os melancólicos raramente matam
alguém além de si próprio, embora seu motivo impulsor seja o desejo de matar outra pessoa.
O suicídio para Freud e Menninger são explicações psicodinâmicas, que nos dias de
hoje, ainda são consideradas marcos para todas as formações de hipóteses acerca do motivo
pelo qual o indivíduo chega a finitude de sua vida (WERLANG et.al, 2004).
Shneidman (apud Werlang et.al., 2004, p.83), classificou a morte como: intencional,
subintencional e não-intencional:
[...] é uma crença muito difundida que o suicídio ocorre mais freqüentemente ao
A morte é vivenciada como outro lugar, bastante concreto até, para onde se pode
passar e onde as coisas continuarão de algum modo; Perspectiva de um reencontro,
de uma reunião com algum objeto que existiu para o sujeito e foi perdido, objeto
este vivenciado como bom, gratificante ou protetor; Agressão dirigida aos
sobreviventes, como uma punição pelo mal que foi feito aos que morrem.
Não há vida humana durável a não ser na medida em que esta mantém o respeito pela
morte, o que exige sua “banalização”, e eis aí, sem dúvida, o que distingue fundamentalmente,
no final das contas, o homem do animal, pois este não tem necessidade de domar a morte nem
de ajustar-se a ela, precisamente porque vive uma vida absolutamente vivente, pela qual o ser
humano pode experimentar nostalgia, mas que nela não saberia tomar parte (DASTUR, 2002,
p.77).
(apud D’Assumpção, 1984, p.183), mesmo sem estudar o suicídio afirmou que a família é o
agente psíquico da sociedade e, não considerou a destrutividade como expressão do instinto
de morte, porém pode estar ligado a ele, como pode ser “um desfio da adaptação sadia, uma
defesa, um meio de controlar o ambiente, de contrastar a frustrações e a ansiedade ou de
afirmar o ego nas situações interpessoais”.
Deste modo deve-se pensar em suicídio em uma perspectiva multicausal como expõe
D’Assumpção et.al (1984, p. 184), “a personalidade, a família e a estrutura social não seriam
sistemas fechados ou entidades separadas e independentes, porém componentes interatuantes
de um todo unificado”. Assim, o suicídio é o resultado de condicionamentos micossociais,
não somente a ocorrência das psiconeuroses e neuroses, pois estas se encontram vinculadas a
todos os tipos de desajustamentos subjetivos, inter-subjetivos e intra-subjetivo e trans-
subjetivo, ocorridas com as personalidades fracas atiradas a dificuldades externas.
Que a morte seja o destino inexorável de todos os seres vivos isto é inquestionável,
tanto quanto que apenas o homem tem a consciência desta como última instância. Para
Aranha e Martins (1986), um fenômeno diferente ocorreu nos últimos setenta anos, resultado
do processo de urbanização dos centros industrializados, onde a grande cidade cosmopolita
impiedosamente destruiu os antigos laços comunitários, para instaurar a fragmentação dos
indivíduos em núcleos dotados de extremo individualismo, com o qual escamoteiam a morte
em face de sua incapacidade em lidar com a vida.
Deste modo, para Freud, aquele “eu” consciente, que teoriza, racionaliza, classifica e
estrutura alguma coisa seria apenas uma expressão da nossa totalidade; é o ego. No entanto,
nesta pesquisa sobre o suicídio, entende-se um caminhar para além dele, na busca por um
universo de possibilidades que se encontra em aberto, às vezes em conflito, às vezes oculto,
na dimensão do tempo hodierno e de suas mazelas. Desta forma Monedero (1978), ratifica
Freud ao afirmar que:
La vida del hombre está dominada por dos instintos: el de vida, que le lleva a
caminar hacia adelante realizando cada vez formas vitales nuevas, y el de muerte,
que le lleva hacia trás, a la matéria inorgânica de donde salió; el instinto de
muerte se manifiesta también em la destruccuión de todo aquello que tiene vida
(g.m.) (MONEDERO, 1978, p. 36).
O suicídio para Freud (apud Solomon, Patch, 1975), pode estar relacionado com o
instinto de morte. Em seus estudos, Freud apresenta este instinto como destrutivo, seu
principal objetivo é destruir, reduzir, extinguir tudo o que é vivo em um estado inorgânico, à
morte propriamente dita. A finitude, nestes termos, é o clímax de um fenômeno irredutível e
antecedido por inúmeras outras formas de morte que permearam o tempo de vida; o próprio
nascimento é a primeira morte no sentido de ser a primeira perda, a primeira ruptura, a
primeira separação do seguro ventre da mãe para o enfrentamento de uma nova vida, tal que
3
Grifo do autor: Soloman & Patch, 1975, p.493.
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Grifo do autor: Soloman & Patch, 1975, p.493.
sucessivas mortes constituirão a maturação de uma vida como pontua Nietzsche: “O que se
tornou perfeito, inteiramente maduro, quer morrer” (apud ARANHA e MARTINS, 1986,
p.368).
Shneidman (1992) apresentou que o suicido está ligado a três componentes adjunto
ao suicídio: dor, pressão e perturbação, todos sobrecarregam o indivíduo e a única saída é
suicido, homicídio e a psicose. Todavia o suicida não pode ser considerado fora de seu
ambiente familiar e social, tal qual será apresentado no próximo item à visão psicológica para
o suicídio, dentro das correntes sistêmicas de Minuchin e McGoldrick (in WERLANG et.al.,
2004).
Toda pessoa está diretamente ligada aos outros membros de sua família, sociedade e,
deste modo, os problemas individuais não teriam um sentido apenas, mas sim, uma função no
contexto mais amplo de onde surgiram. “A perspectiva sistêmica entende o comportamento
suicida como uma manifestação de um problema familiar e não exclusivamente como
resultado de uma dificuldade individual” (WERLANG et.al., 2004, p.85).
Para Minuchin (1982), o homem não é um ser isolado; ele é um membro ativo de
grupos sociais, tais como a família, o grupo principal, que possui uma organização e estrutura
própria, e qualifica e influencia as experiências dos seus membros. “A família é um sistema
aberto, auto-regulado, com sua história comum, normas e padrões transacionais próprios”
(WERLANG et.al., 2004, p.85).
Deste modo, Minuchin (apud Werlang et.al., 2004, p.85) destaca que;
simples no atendimento das necessidades básicas, como a alimentação e normas que vão se
tornando um conjunto complicado de relações com exigências complexas para quais nunca
estão completamente preparados. As famílias buscam alternativas para solução de seus
conflitos, que podem obter ou não a pleno sucesso na resolução dos mesmos, e desta forma
pode realizar as mudanças necessárias para enfrentas as crises do seu sistema (WERLANG
et.al., 2004).
Estudos nas diversas fases do ciclo da vida familiar, apontam que o maior estresse
familiar está relacionado com a expansão, a contração e o realinhamento do sistema do
sistema de relacionamentos, para lidar com a entrada, saída e mudanças dos membros da
família de maneira funcional. (CARTES e MCGOLDRICK apud WERLANG et.al., 2004),
estão intrinsecamente atrelados à dinâmica de apropriação dos valores familiares e que desta
forma o conhecimento desta interação é um requisito essencial para o tratamento preventivo
do indivíduo com comportamento suicida.
Para Henry, Stephenson, Hanson e Hargett (apud Werlang et.al, 2004, p.87), relatam
que as características das famílias que proporcionam menor oportunidade para um
desenvolvimento saudável e aumentam o risco de suicídio são: “rigidez de padrões
interativos, apego emocional insipiente, pobre manejo de conflitos e inefetivos padrões de
comunicação”
Para Werlang et.al (2004), a rigidez geralmente vem acompanhada de dois fatores: a
desesperança que envolve a falta de expectativa de que os desejos e objetivos futuros não
sejam concretizados, o que implica a desesperança e o pessimismo; e do desamparo, que
indica a deficiência de recursos internos para obter a confiança necessária à autonomia do
sujeito, tanto quanto indica a superdependência de pessoas outras não comprometidas com os
seus problemas, que o leva a admitir sua incapacidade em controlar o próprio futuro. Este
cenário conduz o sujeito ao medo, à ansiedade, à estagnação e principalmente à depressão.
A palavra existir origina-se de "ex-sistere", que significa sair de, estar fora de.
Existir, enquanto sair de, é próprio da pessoa em situação de chegar-a-ser, e este é o aspecto
dinâmico do homem. Para Heidegger (apud Tripicchio, 2010), a essência da existência
(Dasein) a sua maneira de existir. Segundo Tripicchio (2010, p.52-53), algumas das
características inatas do homem segundo o existencialismo, são:
7. A angústia leva a uma restrição da conduta, a uma evitação das relações, a qual
provoca a culpa. Assim, a culpa é uma resposta afetiva comum a todos os homens.
Nesta concepção, Angerami (1997, p.23), expõe que “o homem, tal como concebe o
existencialista, se não é definível, é porque primeiramente não é nada. Só depois será alguma
coisa, tal como a si próprio se fizer”. Os seres humanos são responsáveis pela destruição de
suas vidas de modo consciente e real, “o homem é, não apenas como ele se concebe, mas
como ele quer que seja como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após
este impulso para a existência; o homem não é mais do que ele faz”.
Angerami (1997, p.25), ao falar sobre morte afirma que: a existência humana sofre
perda de continuidade com o ato de morrer. A morte tem a condição de determinar à
existência o fim de seus devaneios, planos e ilusões. “E, apesar de todas as tentativas humanas
no sentido de nadificá-las, a morte é a ocorrência mais concreta da existência humana,
determinando, muitas vezes, a condição de absurdidade da vida”.
Para Tripicchio (2010, p.26), o suicídio, seja ele uma origem do individual ou
familiar e/ou coletivo, na psicoterapia, deve-se ficar mais atento ao fato de que não adianta
investir somente no Dasein (o estar aí disponível de qualquer coisa), “o ser-aí, no aqui e
agora, fluido e transformista em busca da realização de sua autenticidade, para não cair na
angústia existencial”. É preciso lembrar que o Dasein circule, necessariamente, em três
mundos:
A ameaça e o perigo não estão em parte alguma, pois fazem parte da própria
estrutura do mundo no que tem ele de inóspito, inefável, inapreensível, ameaçador. É como se
o Dasein apreendesse um mundo destruído, soçobrado, em perigo iminente de destruição, de
desmoronamento. O Dasein imerge dentro de si mesmo em uma imanência quase absoluta,
em um solipsismo existencial, regredindo ao "sentimento de situação originária" em que foi
atirado ao mundo em situação de intenso abandono e desamparo (TRIPICCHIO, 2010, p.91).
seu projeto ôntico e ontológico de existir. Para corroborar na descoberta do sentido da vida,
nasce a análise existencial, ou daseinsanalyse: “é um desenvolvimento da psiquiatria européia
que tenta combinar a filosofia existencial com o método fenomenológico para alcançar uma
compreensão e um tratamento mais efetivo de caráter psicoterápico aos seus analisandos”
(TRIPICCHIO, 2010, p.26).
[...] Há menos histéricos clássicos, mas em troca surge uma imensidão de indivíduos
que se queixam de solidão, despersonalização, alienação, tristeza, angústia fóbica,
angústia pânica, isolamento, separação e de não poder relacionar-se com os outros,
sensação de morte iminente, etc. O clamor de nossa época seria: “Nossas vidas estão
vazias e sem sentido” (TRIPICCHIO, 2010, p.31).
Neste entendimento, Tripicchio (2010), expõe que é exatamente aqui, neste ponto,
onde, terminam os relatórios e as classificações dos tipos de suicídio, que começa o problema
analítico-existencial, pois a morte pode ser uma escolha. O significado dessa escolha é
diferente, de acordo com as circunstâncias e com o indivíduo (experiências subjetivas), e
muda de acordo com o movimento existencial, pois este não é estático. “Um analista
preocupa-se com o significado individual de um suicídio, que não faz parte das classificações.
A conclusão ampla que o analista pode tirar desses relatos variados é a seguinte: o suicídio é
uma das grandes possibilidades humanas” (TRIPICCHIO, 2010, p.122).
simplesmente a Morte. Sempre parece igual e pode ser definida exatamente pela medicina e
pelo direito. O indivíduo que escolheu essa morte tornou-se um suicida. “Quando o suicídio é
uma descrição do comportamento e definido como autodestruição ou o início de um ato cujo
resultado o agente acredita que resultará em autodestruição, todos os suicídios são o Suicídio”
(TRIPICCHIO, 2010, p.123).
[...] o que uma pessoa traz para a hora analítica são os sofrimentos da alma,
enquanto que os significados descobertos, as experiências compartilhadas e a
intencional idade do processo terapêutico são todos expressões de uma realidade
viva que não pode ser melhor apreendida do que pela metáfora básica da psicologia
existencial: psique, alma ou Dasein. Os termos "psique" e "alma" são
intercambiáveis, embora haja uma tendência de se escapar da ambigüidade da
palavra "alma" recorrendo-se ao termo "psique” mais moderna e mais biológica.
"Psique" é usada mais como concomitante natural da vida física, talvez a ela
redutível. "Alma", por outro lado, tem matizes metafísicos e românticos.
Compartilha fronteiras com a religião (TRIPICCHIO, 2010, p.129).
As indagações sobre o suicídio voltam-se cada vez mais para a necropsia psicológica,
isto é, estudos de casos individuais, que nos aproximem de uma perspectiva psicológica. “O
exame de bilhetes de suicidas, as entrevistas com pessoas que tentaram se suicidar e os
estudos de caso da sociologia, todos tentam aproximar o pesquisador do significado da morte,
levá-lo a uma compreensão do evento pelo lado de dentro”. O conhecimento sobre o suicídio
que deriva de fontes contemporâneas, entretanto, tende a não servir à compreensão porque
prejulgam a questão (TRIPICCHIO, 2010, p.130).
Sartre (apud Tripicchio, 2010), relata que, a pessoa que está mais aparelhada para
compreender a morte é a pessoa que está morta. Isto significa que o suicídio é
incompreensível, porque aquela pessoa que poderia dar uma explicação não mais o pode. Isto
é um dilema que requisita examinar mais detidamente a posição interior extrema.
Devemos ver se é ou não verdadeiro que cada indivíduo é o único que pode compre-
ender e articular sua própria vida e sua morte.“Estar ao mesmo tempo "dentro" e "fora"
significa que um analista está em uma posição melhor para compreender e articular a
psicologia de outra pessoa” (Tripicchio, 2010, p.133). Ele poderá seguir porque está ao
mesmo tempo dentro e fora como observador, ao passo que a outra pessoa normalmente está
somente dentro e presa em seu padrão avaliativo.
Segundo Tripicchio (2010, p.6), “o psyché do grego pode ser entendido como mente,
alma, espírito, ato de pensar etc. Podemos completar chamando o tédio também, de tédio
existencial ou essencial”. O tédio, nesta perspectiva, é um mal do espírito, no sentido de uma
instância mais nobre do psiquismo humano. “Lócus que envolve o ser como um todo
alojando, especialmente, a esfera dos valores e do sentido de vida do ser humano” (p.6).
Angerami (1997, p. 19), expõe que além do tédio existencial e da angústia, outras
formas de desespero da existência humana corroem um sem-número de pessoas. “Por isso, a
pessoa que envereda pelos caminhos do suicídio, não mais é vista como portadora de uma
patologia ou distúrbio mental, mas é considerada em seus aspectos existenciais prementes”.
Não obstante, o autor apresenta a necessidade de se repensar à visão atual sobre o suicídio em
presença do desespero transmitido através da miséria econômica que assola diversos países.
Segundo Tripicchio (2010, p. 17), certas formas de tédio existiram desde o início dos
tempos; existe escritos de Sêneca que, apresenta o conceito de tedium vitae (cansaço da vida),
entretanto, o tédio existencial apresenta-se como um fenômeno atual. Quando a vida não é
vivida na sua plenitude, harmoniosa com as potencialidades de cada indivíduo, a “própria
discórdia íntima e pessoal do Homem, esmaga-o sob a incapacidade trágica de se relacionar
com outros em uma aura de amor e mútua comunicabilidade”.
Angerami (1997, p.21) cita que o “suicida é um condenado à morte que executa a
sentença fatal com suas próprias mãos, então é evidente que seus juízes e verdugos indiretos
só podem estar "por trás" do gesto aparentemente autônomo que lhe tira a vida”. O indivíduo
com o comportamento suicida não é prescindível; não é jamais o mero executor subserviente
de uma ordem exterior a suas necessidades, todavia, ele também é o co-produtor dessa ordem.
“Matar-se é uma forma, a sua forma de rebelião e submissão. Pelo suicídio agride enquanto
Angerami (1997) assevera que nada ameaça tão gravemente a vida do homem como
o próprio homem, adjunto as expectativas, anseios, planos e projetos de vida, inclui-se de
forma camuflada um projeto de morte. Concebida, no fundo, como um projeto de destruição
interna, de múltiplas maneiras, uma vontade autodestrutiva, um não querer viver, uma crise
entre a realidade que se apresenta e a realidade que se projeta interiormente; o tédio.
O tédio flagela a maioria dos pacientes que, em um desespero nem sempre mudo,
buscam alcançar algo de substancial a que se vincular algo dotado de forma e sig-
nificado, talvez até a sensação de uma resposta humana sincera e afetuosa. De forma
sutil e simbólica, essas necessidades emergem como temas importantes que são co-
municados, em outro nível, pelas expressões mais abertas de frustração, de tragédia
pessoal, e de um sentimento de existência malograda (TRIPICCHIO, 2010, p. 21).
“Todos nós, em várias circunstâncias, vivenciamos o tédio. São horas ou mesmo dias
tediosos. Mas quando o tédio domina e escraviza o ser humano em sua totalidade, aí, então,
entramos na problemática da Noose do Tédio” (TRIPICCHIO, 2010, p. 78).
Resta a possibilidade de que esta angústia seja seguida por uma opacidade do ser ao
meio, resultante de sua incapacidade em comunicar-se, levando a um inevitável isolamento, o
que equivale à negação das potencialidades plenas da humanidade do homem. Em Heidegger,
(apud Tripicchio, 2010, p. 90), “o sentimento de angústia está em relação com uma situação
indeterminada, uma ameaça diante da própria vida, da própria existência. Há sensação de fi-
nitude, de inacabamento, de desamparo, de abandono, de estar-lançado-aí”.
É o "ser para a morte" (Sein zum Tode) de Heidegger, fazendo parte tal sensação e
consciência de morte de sua própria estrutura (autêntica). A angústia levanta o
Dasein do descaimento (Verfallen), obrigando-o a seguir o seu destino através do
uso de sua liberdade em um dinâmico processo de devir, de vir-a-ser. Dentro da
consciência de autenticidade, a angústia não é vivenciada como destruição do
existente, mas apenas é destruída a inteligibilidade, a ordem e estrutura dos entes do
ser (TRIPICCHIO, 2010, p. 91).
O homem é lançado ao mundo sem que tenha usado sua liberdade ou capacidade de
opção. Há toda uma situação originária de desvalimento do estado afetivo. Fundamenta o
medo diante da vida. “Experiência como o tédio, o desespero, angústia, culpa, desperta o
Dasein, dando-lhe consciência de sua finitude e desamparo, tomando-se, sendo: evolvendo
para seu destino inevitável: a morte” (TRIPICCHIO, 2010, p. 91).
Também aqui a ameaça é desconhecida, onde terminada, sofrendo o Dasein por algo
inefável, inóspito, ameaçador que faz a parte da própria estrutura do existente mundo. “Tem a
culpa também sentido de despertar o Dasein para os grandes problemas de sua existência e de
seu destino”. Diante dela foge o Dasein para a inautenticidade da vida cotidiana. Angústia
aqui não é captada nem vivida como algo negativo, patológico, mas como algo positivo,
“fazendo parte da estrutura do Dasein, mercê de sua finitude, inacabamento, impotência, mas
despertando-o à consciência autêntica do seu próprio existir, do seu próprio viver, do seu
próprio morrer” (TRIPICCHIO, 2010, p. 91-92).
CONCLUSÃO
Conforme Cassorla et. al. (1991, p.22) “o suicida não quer morrer; na verdade ele
não sabe o que é a morte, aliás, ninguém sabe. O que ele deseja é fugir do sofrimento”. E, a
função do psicólogo que atende um paciente em risco de suicídio é antes de tudo,
compreender, ouvir e intervir no contexto individual e ou grupal. Precisa atuar na promoção e
manutenção da saúde, na prevenção e no tratamento da doença, na identificação da etiologia e
no diagnóstico relacionado à saúde, à doença e às disfunções, bem como no aperfeiçoamento
do sistema de política da Saúde (RAMOS et.al, 2010).
Deve-se ter cuidado ainda, ao avaliar o paciente suicida, com algumas pessoas que
fazem ascensões sociais e econômicas muito rápidas, pois podem não dar conta das mudanças
em suas vidas e se sentirem sob pressão. “Melhoras súbitas, sem explicação aparente, ou
pioras abruptas nos sintomas de uma doença psiquiátrica também devem deixar o examinador
em estado de alerta” (SERRANO, 2008, p.122).
Botega e Werlang (2004, p.126) relatam que, para ter uma compreensão abrangente
das razões psicológicas que impulsionam o indivíduo para realizar o suicídio, é necessário
levantar aspectos da história do indivíduo para assim poder reconhecer fatores predisponentes
não-imediatos. “A história sem sentido amplo permite identificar os motivos que, ao longo da
vida, auxiliam a estruturar a escolher uma saída suicida, efetivando um ato autodestrutivo
intencional”.
Para Botega e Werlang (2004, p.126), o psicólogo deve lembrar o sigilo profissional,
O contrato verbal na situação que envolve o risco de suicídio, não é, porém, uma
garantia. Serrano (2008, p.166) relata que o contrato só vai funcionar se estabelecida a
empatia e o vínculo afetivo terapêutico, mesmo que este vínculo seja provisório e de ordem
profissional. “O conteúdo do contrato, por si mesmo, não substituiu um vínculo empático e
uma avaliação bem feita”.
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